Conceitos de civilização, conceitos de trabalho: algumas comparações entre as concepções de trabalho, e do seu papel educador, nos projetos políticos de Teófilo Otoni e João da Mata Machado Júnior (1847-1885). Cláudio Henrique Pessoa Brandão. Carla Simone Chamon. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. RESUMO A presente comunicação é um resultado parcial de uma pesquisa sobre a história do Liceu de Artes e Ofícios do Serro. Objetivamos apresentar, de modo bastante preliminar, algumas comparações entre os projetos políticos de Teófilo Otoni (1807-1869) e de João da Mata Machado Júnior (1850-1901), com vistas a iluminar o papel da educação no escopo dos seus pensamentos e projetos de colonização, urbanização e industrialização do norte mineiro. O serrano Otoni e o diamantinense Mata Machado, pertencentes a uma tradição política liberal, tributária de uma filosofia política norte-americana, foram políticos e empresários que se engajaram em planos de modernização das relações de trabalho do norte de Minas Gerais. Enquanto o primeiro acreditava na imigração como fator civilizatório, o segundo defendia a formação escolarizada do “trabalhador nacional”. Não temos a pretensão de analisar profundamente uma possível “cultura política do norte mineiro”, mas procuramos indiciar que, pelo menos acerca das concepções sobre o trabalho e do seu papel educador, Otoni e Mata Machado tiveram aproximações nos termos dos valores que balizaram seus projetos, nomeadamente: a condenação do ócio e o elogio ao trabalho como meio de emancipação dos indivíduos; a formação do self made man; as dicotomias barbárie-civilização e esclarecimento-ignorância; a liberdade como valor fundamental da política; a condenação do uso da violência no processo civilizador e educador. Palavras-chave: Civilização, educação, norte-mineiro. Irmãos! Exultemos; no solo Serrano, Mais rico de gênios, que d'ouro e diamantes, D'um templo das artes, da paz protetoras, Agora se abrirão as portas brilhantes. Melhor que os tambores, e as salvas ruidosas, Que, em campo sangrento, festivas ecoam, O fumo das forjas, o arado e o martelo Ao gênio da pátria louvores entoam. Si outr'ora na imprensa fecundas ideias Audaz sentinela caçou-se em plantar, Agora na escola, nós filhos do povo, Faremos o gérmen feliz desabrochar (...) Esse é um trecho de um hino composto pelo Dr. Cândido Sena para o Liceu de Artes e Ofícios do Serro, que foi apresentado pelo então presidente da câmara municipal, Dr. Mares Guia, na ocasião de instalação dessa escola. Ao exultar o Serro por ser berço de gênios, o hino indica que mais do que “tambores em campo sangrento” passava-se a recorrer ao arado e ao martelo para difundir, por meio da escola, o germe de fecundas ideias que no passado teriam sido divulgadas pela “audaz sentinela”. Referindo-se ao periódico Sentinela do Serro, editado por Teófilo Otoni entre 1830 e 1832, as referências a este liberal serrano não eram somente indiretas. A notícia sobre a instalação do Liceu divulgada pelo jornal A Actualidade, órgão do partido liberal, finalizava a descrição da festividade do seguinte modo: “E assim festejou o povo, festejou o Serro a instalação do Liceu de Artes e Ofícios, que uma assembleia patriótica criou para os meninos desvalidos na terra e berço do ínclito patriota mineiro, Teófilo Otoni”. Valdei Lopes de Araújo e Weder Ferreira da Silva chamam atenção para o objetivo que a Sentinela do Serro colocava para si, que era o de “ilustrar o povo, torná-lo melhor” (2011, p 87). Para esses historiadores, o programa deste periódico voltou-se para um liberalismo moderado, de modo a defender os princípios da liberdade e combater qualquer forma de violência e jacobinismo. Não seria admitido, nesse sentido, “o despotismo das turbas ou a tirania de um só” (OTONI apud ARAÚJO; SILVA, 2011, p. 84). Essa “pedagogia moderada” que não dava espaço para qualquer tipo de liberalismo exaltado, associando sempre virtude privada e pública, objetivava “trabalhar na reforma dos costumes, encaminhar, e instruir a Opinião Pública” (OTONI apud ARAÚJO; SILVA, 2011, p. 88). Mesmo com essa postura, em apoio aos conflitos da Noite das Garrafadas a Sentinela conseguiu mobilizar entre as autoridades do Serro uma arrecadação de cerca de 11 contos de réis para compor um arsenal de armas, pólvora e salitre para um possível confronto com as forças do imperador. Em outra ocasião, a Sentinela chegou a descrever uma reunião no Serro de 500 pessoas de diversos setores da população, incluindo homens bons e pobres, em protesto ao despotismo de D. Pedro I (ARAÚJO; SILVA, 2011, p. 94). Com forte atuação na Abdicação e defensor dos ideais descentralizadores do período regencial, Teófilo Otoni é caracterizado por Regina Horta Duarte como “uma das principais figuras do liberalismo brasileiro no século XIX” (2002, p. 14). O supracitado trecho do hino do Liceu – principalmente: “melhor que os tambores, e as salvas ruidosas, que, em campo sangrento, festivas ecoam” - parecia se referir também à Revolta Armada de 1842, a “Revolução Liberal”, que teve Otoni como um dos principais personagens. Tal episódio, segundo Alexandre Mansur Barata (2012), representou a radicalização de setores mineiros e paulistas em reação a perda progressiva de sua autonomia por meio de reformas políticas centralizadoras por parte da Côrte, que transferia poderes antes delegados e ligados à Assembleia Provincial para a Presidência da Província, nomeada pelo imperador. Araújo e Silva (2011, p. 78) caracterizam essa política liberal de Otoni, as vezes radical, como um “liberalismo republicano mineiro”, sendo influenciado fortemente pelos ideais estadunidenses de Thomas Jefferson – liberdade, espírito empresarial, participação política, desejo de mudança. Tais valores pareciam ser reavivados simbolicamente no hino do Liceu, que em troca das armas teria no livro e no trabalho o meio para a conquista da liberdade: “Da sã liberdade marchando à conquista,/ As armas teremos no livro e no malho,/ Só pode ser livre quem pensa e reflete,/ Quem ama a virtude, quem dá-se ao trabalho”. A festividade de instalação do Liceu de Artes e Ofícios do Serro nos parece, pois, a reafirmação de uma cultura política, que teria Teófilo Otoni como um dos principais expoentes e mitos. Em 1878, João da Mata Machado Júnior enquanto Deputado Provincial, no mesmo mandato em que apresentou o projeto de lei para a criação do Liceu de Artes e Ofícios do Serro, apresentou um projeto para a criação do município de Filadélfia, que de freguesia passaria a ser cidade; fato que nos parece uma reafirmação política e simbólica do seu alinhamento a uma cultura política herdada de Otoni. Segundo Fernando da Mata Machado, tal ato justificou-se pelo motivo de Teófilo Otoni ter dito em um discurso – quando a região ainda era matas – que aquele pequeno núcleo de povoação, aquela pequena aldeia haveria de se erguer a cidade sem ter sido vila. Tratava-se, portanto, de a Assembleia Provincial realizar em 1878 a profecia de Teófilo Otoni (2006, p. 178) Dessa forma, deu condições para que no mesmo ano o deputado Câmara apresentasse uma emenda para o mesmo projeto, em que sugeria que a cidade passasse a se chamar Teófilo Otoni. Mata Machado rememorava e comemorava Otoni, ademais, dando prosseguimento ao legado desse serrano, parecia ter um alinhamento com o seu horizonte de expectativas, principalmente no que tangia aos planos de desenvolvimento do norte mineiro. Segundo José Moreira de Souza (1991), Filadélfia foi o primeiro elogio concreto ao trabalho no norte mineiro. A antiga Colônia do Mucuri idealizada por Teófilo Otoni era o símbolo e síntese de uma utopia, era a construção da revolução industrial pelo trabalho, que antes considerada pena para os ociosos transmutaria em valor dignificante para a construção da nação. Esse projeto pretendia atacar frontalmente a oligarquia escravista, que carregava o legado das concessões reais. Os componentes do projeto liberal de Teófilo Otoni – federalismo, colonização, industrialização, desenvolvimento técnico e desenvolvimento de mercados autônomos – se alinhavam para a construção do Estado Nacional, onde a propriedade privada estabelecia a ordem espacial fundamental; propriedade seria condição de cidadania. Segundo Fernando Afonso Pereira Junior (2009, p. 115), Otoni chegou até a cogitar a possibilidade de criação de uma nova circunscrição para o norte mineiro, a província do Rio São Francisco. Afirmava que seu projeto não era provincial, mas nacional, pois se tratava de fazer a junção de unidades difusas, unificando a nação. A sua Companhia do Comércio e Navegação do Mucuri tinha nos meios de comunicação – seja rodoviário, ferroviário ou hidroviário -, os principais vetores de propagação da civilização no país. O pensamento político de Otoni, inspirado diretamente pela filosofia política norte-americana, buscava civilizar o sertão de Minas Gerais aos moldes da “marcha para o oeste”. Mata Machado parecia dar continuidade aos planos político-empresariais de Otoni. Defendendo a “escola liberal”, termos de sua propaganda política publicada em um jornal da região, em 1878 como Deputado Provincial voltou-se a favor da descentralização econômica, no sentido do desligamento das estruturas econômicas do passado colonial, incentivando o desenvolvimento de mercados regionais e a industrialização do norte-nordeste mineiro. Pertencendo a uma “vanguarda com mentalidade empresarial capitalista”, de acordo com Marcos Lobato Martins (2004, p.278), sabendo valorizar os espaços da política para moldar um ambiente de negócios, João da Matta Machado Júnior, ao procurar saídas para a crise internacional dos diamantes que abatia o norte mineiro, se engajou em projetos que subvencionaram a Navegação à Vapor do Rio São Francisco e do Rio das Velhas e também Estradas de Ferro – tudo em função de proporcionar maior escoamento das mercadorias do norte de minas para o litoral, abrindo as possibilidades de exportação. Empresário abrangente, atuando em diversos ramos industriais, destacamos a sua participação em 1886 na fundação, como principal sócio, da Companhia de Santa Bárbara, uma das primeiras indústrias têxteis de Minas Gerais, que se localizou próxima à Diamantina. Essa indústria voltada para a exploração do algodão do norte mineiro, contava com um fundo de beneficência para inválidos e velhos, co-participação dos trabalhadores nos lucros da empresa e com uma vila operária. Um aspecto fundamental difere os planos de Otoni e Mata Machado para o desenvolvimento do norte mineiro: a escolarização do trabalhador. Otoni, tal como dizia em uma circular, mesmo admitindo que o governo deveria cuidar “da instrução com grande desvelo, pois ela é o arrimo principal da liberdade (OTONI apud ARAÚJO; SILVA, 2011, p. 93) não teve a escola como vetor de difusão da civilização nos planos de Filadélfia. A ideia era trazer imigrantes que já fossem moralizados e diligentes, capazes de se autogerirem - no sentido do self made man - para constituir uma massa trabalhadora. Ressaltava a diferença de comportamento dos colonos que foram recrutados aleatoriamente - “mendigos a quem na Europa se enganou torpemente, e que vem fascinados com a esperança de vida regalada à custa dos palpavos, que os importam.” - e dos que eram escolhidos entre os mais diligentes - “entre os indivíduos que vem da sua terra resolvidos a regar com o suor do seu rosto a nova pátria que adotaram, e a criar uma posição pelo trabalho” (OTONI, 2007, p. 40). Ademais, narrava a diferença em produtividade dos colonos que emigraram sabendo das dificuldades que encontrariam no Brasil, que acabavam “melhorando pela sobriedade e pelo trabalho assíduo e pela economia”, e dos colonos que enganados pelos agentes de imigração que acabavam por se entregar à preguiça, pois teriam viajado “na doce ilusão de que a terra lhes dará a sua benção sem que seja necessário embebê-la com o suor de seu rosto” (OTONI, 2007, p. 51). Ao contrário de imigrantes que não lhe “mereciam confiança”, havia de “prosperar sempre os colonos de bom comportamento, e que não sejam preguiçosos, e turbulentos” (OTONI, 2007, p. 56). Ao defender na Assembleia Legislativa Provincial o projeto de lei do Liceu de Artes e Ofícios, Mata Machado ressaltava que sendo arte ou ofício o que o estudante fosse aprender, o Liceu teria como filosofia oferecer um ensino utilitário, uma “instrução útil”, equipando os “desvalidos” da capacidade de serem lucrativos para si mesmos; a escola deveria dar-lhes os meios para ganharem a sua vida. Aqui está implícito o conceito de self-government, de modo próximo aos ideais de Otoni. Os estudantes deveriam ser educados para se auto-governarem moralmente e economicamente, porém, a partir de valores heteronômicos, tais quais os valores da estética, do trabalho, da higiene e da ciência, que a escola deveria incutir. O valor do self made man buscado por Otoni muito se aproximava do que Mata Machado visava difundir por meio da escolarização. Outra diferença fundamental é que o plano de colonização de Otoni, no início, voltava-se não para o “socorro” dos habitantes do norte mineiro, mas para o desenvolvimento de uma economia que teria como cerne empreendedores, ou seja, habitantes que tivessem capital necessário para se auto-custearem: Em 1854 pareceu-me que o terreno já estava preparado para principiar a receber alguns colonos europeus. Da escolha muito me havia eu preocupado. Nos colonos procurava associados, e não proletários para com quem exercesse a caridade cristã. Se em vez de uma empresa mercantil eu tratasse da fundação de asilos de mendicidade ou casas de misericórdia, era natural que considerasse primeiramente os brasileiros necessitados, porque a caridade bem-ordenada principia por casa. Pareceu-me pois racional pretender colonos que não trouxessem só suas pessoas, mas também indústria e capital. (OTONI, 2007, p.4) Porém, os planos saíram dos trilhos a partir do momento em que passaram a ser enviados ao Mucuri imigrantes degredados de seus países de origem. Em um relatório de 1857 em que informava sobre os colonos, acerca da quantidade de membros de suas famílias, seus víveres, ferramentas e adiantamentos, dizia que: “a grande maioria destes colonos vive sobre si, colhe para sua subsistência e também já vende gêneros de sua lavoura” (OTONI, 2007, p. 12), ou seja, estava em caminho a realização do projeto de uma colônia constituída do self made man. Dizia que até 1857, a colônia tinha como objetivo “atrair para o Mucurí colonos que contribuíssem de sua algibeira com uma quota ao menos das despesas de sua passagem e estabelecimento” (OTONI, 2007, p. 15). Dizia que não era uma utopia, pois, fazer uma colonização em que os imigrantes viessem espontaneamente, uma “colonização verdadeira” nos seus termos. Dessa forma, o objetivo não era educar o trabalhador, mas colonizar com trabalhadores já moralizados. Até que em 1858 imigraram cerca de 162 proletários em que, nas palavras de Otoni, “fantasiei transformar em verdadeiros colonos, proletários tomados ao acaso” (OTONI, 2007, p. 18). Tais proletários “tinham sido recrutados nas tavernas e praças públicas de diversas cidades da Europa, - haviam entre eles meretrizes com patente, ex-marinheiros e ex-soldados, tais quais eram tinham direito de levantar a voz e declarar que haviam sido atraiçoados e enganados”. Continuava dizendo que “eram alheios pela maior parte à vida do campo, assustaram-se diante do mato virgem, e comparando o pouco que a companhia dá com o muito que se lhes havia prometido na Europa, a decepção produziu a princípio recriminações e depois o desanimo e o desespero” (OTONI, 2007, p. 19). Lamentava que em vez de colonos foram enviados ao Mucurí “comediantes e proletários”, ou ainda se referia a eles como “refugo de diversas expedições”. Percebendo essa situação desde o envio dos primeiros imigrantes de “má qualidade”, Otoni chegou a sugerir para o Delegado da Repartição das Terras Públicas que a colonização deveria se expandir por meio de agricultores do Jequitinhonha: V.S. sabe que em nossa província há em muitos lugares, e assim sucede na comarca do Jequitinhonha, um excesso de população que não podendo exportar os produtos do seu trabalho vive na maior miséria – quando nas matas de leste poderia tirar grandes vantagens de sua aptidão para a agricultura. Tenho notado com pesar que da Europa não nos vem por ora colonização verdadeiramente útil, isto é, a emigração espontânea de indivíduos industriosos que podendo viver na sua terra sem recorrer a caridade pública, no entanto querem mudar-se na esperança de melhoramento. Porém os sacrifícios que estamos fazendo para atrair emigração, não tem muitas vezes outro resultado se não a aquisição de vadios que os Governos da Europa dariam um prêmio a quem os livrasse deles. (…) A maioria dos colonos que vem para o Brasil mediante o adiantamento integral de suas passagens em nada é superior, se é que não é inferior aos Brasileiros de muitos lugares do centro que se limitam a plantar para comer. Remover essa população pobre para matas produtivas de onde a exportação seja fácil para os mercados do litoral seria uma vantajosa colonização que havia de contribuir para aumentar a produção dos cereais, e ocorrer a esse grande mal que a falta de braços Africanos está fazendo sentir no litoral – a carestia de gêneros alimentícios (OTONI, 2007, p. 25-26). Surgia no horizonte de expectativas de Otoni uma colonização por meio do trabalhador nacional, pois malgrada a estratégia de trazer imigrantes europeus que fossem moralizados, diligentes e industriosos, não fora possível suprir a falta de braços escravos que já se fazia sentir. Passava a recorrer, assim, a possibilidade do uso de trabalhadores pobres do Jequitinhonha para a formação da massa trabalhadora. Essa observação sobre uma mão de obra disponível no norte de minas e que estaria sendo mal aproveitada, era repetida por João da Mata Machado em 1886, em seus planos para a instalação da Companhia de Santa Bárbara: Nesta época de transição quando tudo vacila, nenhum emprego de capital se nos figura mais seguro, e lucrativo, nenhum mais a salvo das consequências possíveis da substituição do braço escravo, do que este que propomos: - a lavoura do algodão em Minas é feita por pequenos lavradores, que não possuem, em geral, escravos; superabundam no norte de Minas os braços livres, que não podem encontrar trabalho lucrativo (...) (2006, p. 61) Não poderiam encontrar “trabalho lucrativo” esses lavradores, por que eles não teriam condições de efetivarem uma produção voltada para a exportação, devido, principalmente, a inexistência de estradas para o escoamento das mercadorias, ou ainda, fortes mercados locais onde poderiam comerciar seus produtos. Mata Machado chamava atenção, tal como tinha feito Otoni, para a disponibilidade de uma razoável mão de obra no norte de Minas que poderia ser aproveitada em projetos de industrialização mais extensos. O que estava em questão era justamente a utilização e a formação do “trabalhador nacional”, em que a escola passou a ser o lugar da formação física, moral e intelectual desse futuro proletariado – lugar que acreditamos ser ocupado pelo Liceu de Artes e Ofícios do Serro no bojo dos planos de desenvolvimento do norte mineiro de Mata Machado; a escola nos parece ser uma dimensão ausente nos planos de Otoni. Com vistas a formação de indivíduos industriosos, Mata Machado, em sua tese médica, condenava veementemente o ócio, a “mão de todos os vícios” nas suas palavras. Para isso propunha toda uma série de cuidados e exercícios físicos que deveriam ser praticados nas escolas com vistas a formação de corpos, corações e mentes saudáveis. Enaltecendo o trabalho, Otoni ressaltava um dos códigos morais de certa tribo, na sua “Notícia sobre os selvagens do Mucuri”: “quem não trabalha não come”. Por consequência, condenava a ociosidade, mesmo sendo os brancos os ociosos, como em certa ocasião observou quando os indígenas foram “obrigados a fazer todo o serviço de roça enquanto os soldados estavam em criminosa ociosidade” (OTONI, 2002, p. 58). Na “A colonização do Mucuri”, o enaltecimento do trabalhador diligente e moralizado e a condenação da ociosidade aparece de modo mais matizado. Como medida de segurança contra imigrantes que estavam a participar de motins e desordens na Colônia do Mucuri, Otoni tomou a iniciativa para transferência de 50 praças com o fim de assegurar a ordem, não tolerando “que os colonos se entreguem à vadiação e a embriaguez” (OTONI, 2007, p. 16). Condenando as atividades de imigrantes que preferiram trabalhar como músicos em uma taverna, dizia: (…) aí estão desde 1857 gozando todos de perfeita saúde, mas em vez de trabalharem na roça, acharam mais divertido estabelecer uma espécie de café cantante que era o rendez-vous agradável de muitos viajantes, e colonos desocupados. Mais de uma vez advertir a Her Muller que passado o ano do contrato, se ele se achasse em dificuldade para manter-se, e recorresse à companhia, eu havia de dizer-lhe como a formiga à cigarra. Cantaste? Pois dança agora. (OTONI, 2007, p.40) De forma parecida, a condenar o ócio e os vícios, Mata Machado, na ocasião de defesa do projeto do Liceu de Artes e Ofícios do Serro, dizia que os indivíduos que desdenhavam das carreiras das indústrias, dos comércios e das lavouras seriam um dos fatores de atraso da nação. Em troca de um “pernicioso sistema de educação”, que em vez de oferecer uma educação física e moral adequada acabava por educar para os vícios - “que enerva a nossa mocidade, que incauta vai beber o tóxico que lhe oferecemos” - era necessário uma verdadeira educação que oferecesse aos estudantes o “salutar pão do espírito”. Nos seus argumentos, o trabalho passa a ser condição de elevação moral. Essa crítica que Mata Machado lançava ao sistema de educação estabelecido no Império, era acerca principalmente da educação oferecida pelos estabelecimentos clericais. A Igreja, nos seus dizeres, ao declarar-se como inimiga do “espírito do século”, ou seja, dos “tempos modernos”, não poderia educar “um jovem que no futuro seja cidadão ativo, independente e, sobretudo, entusiasta do progresso moral e material da sociedade em que vive” (MACHADO, 1875, p. 8) – em outros termos, a Igreja não seria capaz de formar a sensibilidade moderna. Os colégios regidos pelos padres lazaristas que, segundo Mata Machado, seriam os mais difundidos pelo Brasil, ofereciam uma degradante educação moral, que se fazia por meio da educação para o medo das penas eternas e de um Deus tirano, em troca do desenvolvimento da independência e do livre-arbítrio dos educandos; esses colégios clericais não ofereceriam uma educação física razoável devido ao desprezo para com o corpo por relacioná-lo às tentações da carne. A educação clerical ao colocar o espiritual em detrimento do corporal impedia um desenvolvimento “higiênico” do corpo. Ao desprezar o “contato com o mundo” e com as “lições da experiência” em troca de uma educação de gabinete – aqui está seu protesto a favor da forja de uma sensibilidade que deveria partir sobretudo do contato experimental para com a natureza –, admitia que, incluindo a educação religiosa de meninas, a “educação clerical não satisfaz as exigências de um Estado democrático e que aspire colocar-se na vanguarda da civilização”. Porém, matizava a questão a dizer que “um plano de educação que não considerasse o ensino religioso seria inteiramente falso e prejudicial” (MACHADO, 1875, p. 10). Criticava os excessos aplicados aos alunos em relação a ordem e a disciplina, que além de prejudicar os seus desenvolvimentos físicos, morais e intelectuais, acabavam por prejudicar também o desenvolvimento de suas autonomias, de suas liberdades individuais. Criticando a rotina dos internatos - “os pobres meninos caminham em ordem militar até o lugar destinado às recreações” -, condenava os castigos excessivos: “a iníqua sentença fulmina aquelas pobres criancinhas, cujo crime fora entregarem-se as expansões próprias da idade” (MACHADO, 1875, p. 29). Nos internatos, Matta Machado continuava a criticar, “o menino habitua-se à obediência, que degenera em servilismo, à hipocrisia e à astúcia; aprende a ocultar as suas más qualidades, a reprimir as paixões pelo medo dos castigos, e não por motivos nobres e desinteressados” (MACHADO, 1875, p. 62). A despeito de todas essas críticas aos internatos religiosos, Matta Machado matizava: “disto não se infira que preferimos os internatos leitos aos religiosos”. Preferindo os padres seculares aos regulares – estes que seriam “quase sempre egoístas” cuidando “somente de si e dos interesses da ordem; encerrados em mosteiros, onde não lhes falta o confortável, ignoram o que se passa pelo mundo” (1875, p. 64, grifo do autor) -, afirmava que “o amor de Deus e do próximo é a base de toda a moral”. O problema, segundo ele, residiria sobre como a moral cristã era ensinada, sendo deturpada, e produzindo “resultados inteiramente negativos, quando não perniciosos”; essa educação clerical ensinava aos jovens que a primeira das virtudes seria o temor a Deus e que a razão seria uma “perniciosa dadiva do espírito maligno”. Assim os internatos religiosos acabavam por não dar a chance de que os meninos não pudessem pensar por si mesmo. Defendendo a liberdade e o livre-arbítrio, Matta Machado era contrário ao sistema educativo que tinha como meio disciplinarizador os castigos corporais, que para ele só faziam “germinar nos jovens corações o medo, a astucia, o ódio e o servilismo”. Da mesma forma, era contrário aos jejuns e privações que acabariam por prejudicar o desenvolvimento físico dos estudantes. Dizia que a disciplina escolástica, bela em teoria e absurda na prática, não era capaz de plantar a ordem e uma legitima subordinação nos internatos, pois a verdadeira ordem deveria ser aquela que “se firma no livre arbítrio dos governados”. Caso fossem necessárias punições em casos mais extremos, isso se deveria fazer por meio da punição da consciência, traçando para aquele que delinquir “os inconvenientes que resultam do mal procedimento, a sua ingratidão para com ele, o mal exemplo ou a imagem do seu crime”. As punições não deveriam gerar humilhações muito grandes, mas somente algo que fizesse com que a própria consciência do aluno o punisse cruelmente. No último caso, admitia ele, caso o rebelde não se impressionar com tais advertências, poderia se recorrer à prisão celular, isolando-o dos demais trabalhos coletivos – tudo isso, frisava, poderia se aplicar ao caso dos internatos femininos. Todo esse pensamento de Mata Machado, ao discordar dos modelos tradicionais da educação católica efetivada pelos internatos, volta-se não para uma educação leiga, mas para uma educação “mais cristã”, por meio da qual os alunos seriam tratados com mais racionalidade, com mais cuidados, e não somente por meio de castigos físicos que acabavam por revelar a brutalidade dos meios de civilizar. Sendo natural do Serro, a dizer que desde a infância ouvira narrações acerca dos índios, Teófilo Otoni condenava a barbárie do conquistador, afirmando que a violência à qual os indígenas recorriam contra os cristãos eram reações contra a tirania desses últimos – em outras duas passagens da “A colonização do Mucuri” observava: “eu tinha adquirido a convicção de que os selvagens nas suas agressões contra os cristãos eram quase sempre incitados por violências e provocações destes” (OTONI, 2002, p. 51); “as violências e depredações em que figurou dessa época em diante o nome dos selvagens, tem sido, ou reação contra extraordinárias violências, ou as mais das vezes filhas de instigações dos línguas” (OTONI, 2002, p.70). “Triste declaração de guerra aos botocudos” tinham feito os exploradores, lamentava o serrano. Dizia que “pólvora e bala” era o método o qual o explorador utilizava para “matar uma aldeia”, observava atônito, a frisar a presença de dois “línguas” – indígenas tradutores – que participavam dos genocídios ao lado dos conquistadores: Matar uma aldeia! Não passe a linguagem desapercebida. Por mais horrorosa que pareça nada tem de hiperbólica. É uma frase técnica na gíria da caçada dos selvagens. Os Srs. Cró e Crahy entendem perfeitamente a metonímia, e recebido o convite tratam de fazer a empreitada à satisfação de que lha encomenda. (OTONI, 2002, p. 47, grifo do autor). Narrou o seu contato com os nativos a dizer que ele próprio os tinha recebido como um pai, ao contrário do explorador que ao utilizar métodos tão bárbaros quanto aqueles do selvagem acabava por se tornar “vergonha da civilização” (OTONI, 2002, p. 56); no caso das guerras entre tribos, dizia que “faz compaixão ver como essa gente mutuamente se extermina” (OTONI, 2002, p. 85). Para Otoni, o método de “tratar com bondade, meio infalível de conquistar a amizade” (OTONI, 2002, p. 57), era o meio mais adequado para promover uma “catequese mais cristã” (OTONI, 2002, p. 58) – lamentava que o chicote, a palmatória e o tronco ainda eram instrumentos civilizadores para os cristãos (OTONI, 2002, p.73) –, acreditava que um “sistema de generosidade, moderação e brandura não podia deixar de captar-lhes a benevolência” (OTONI, 2002, p. 51): A principal dificuldade para a execução, ou ao menos ensaio deste sistema, estava em chamar à prática e convivência os filhos das selvas, e em convencê-los de que havia com efeito um novo processo de catequese que não empregava a pólvora e bala, nem tinha por fim roubar-lhes os filhos. (p. 51). Mais à frente na “A colonização do Mucuri”, narrando os fatos acontecidos por volta de 1852, mais precisamente sobre um encontro com uma tribo ainda desconhecida, dizia: “continuei a ter fé no programa humanitário de moderação e generosidade, que desde 1847 eu apregoava como a melhor das catequeses” (OTONI, 2002, p. 61). A generosidade consistia em demonstrar atitudes pacíficas e presentear os indígenas de modo a despertar-lhes o “sentimento do maravilhoso” (OTONI, 2002, p. 61). O processo de educação das sensibilidades pela generosidade teve êxito logo nas primeiras tentativas e Otoni alimentou esperanças que por meio da educação pudesse transformar um indígena, que tinha se afeiçoado a ele, em “instrumento de civilização”: Trouxe-o para o Rio de Janeiro fantasiando que o poderia pela educação transformar em instrumento de civilização dos seus patrícios e parentes. Infelizmente admitido entre os aprendizes do Arsenal de Guerra faleceu em pouco tempo. (OTONI, 2002, p. 54) A inteligência dos indígenas tinha limites para Otoni, um cacique foi descrito por ele do seguinte modo: “era um índio bravo, e inteligente, quanto eles o podem ser” (OTONI, 2002, p. 55). Sobre outra tribo que “fingiram-se mais ignorantes do que são na realidade” ao não estabelecerem um entendimento satisfatório no diálogo, permaneceram “entrincheirados na sua estupidez e meias palavras”, protestava Otoni. Elogiava os machacalis, reconhecendo seus dotes “industriosos”: São industriosos; a olaria é um dos ramos da sua indústria, e em tal escala, que nas povoações das margens do Jequitinhonha cozinha-se exclusivamente em panelas de fábrica dos machacalis. Também fazem canoas e remos para fornecimento dos canoeiros do Jequitinhonha. São eles mesmos excelentes canoeiros, e como tais são procurados para a condução do sal do Salto para o Calhau. Moram em casas regulares, cobertas de telha. O capitão Silva, um dos principais machacalis, é homem inteligente, sabe ler, e já fez uma viagem ao Rio de Janeiro. (OTONI, 2002, p.92) Porém, não via os indígenas de modo homogêneo; ao referir-se a uma misteriosa tribo que ainda não tinha conhecimento, descartando a possibilidade de serem os já conhecidos aimorés, afirmava: “Mas essa barbaridade, essa estupidez, essa inaptidão para civilizar-se que admito no botocudo não a posso admitir nos aimorés, e seus confederados” (OTONI, 2002, p. 60). Admitia, dessa forma, uma progressão de civilização, admitindo que os aimorés teriam uma “civilização mais avantajada” em relação aos botocudos, tal como afirmou também ao passar por uma localidade onde se achavam vestígios de uma civilização indígena “mais adiantada”, ou ainda quando referindo-se a uma “melhora da civilização” de uma tribo que poderia ter desenvolvido “um espírito de nacionalidade e energia d'alma” ao mover uma guerra contra usurpadores de sua terra. Chega a reconhecer a riqueza da medicina indígena, a dizer que um médico “acharia muitas provas para a sua asserção de que a matéria médica brasileira oferecia antídotos contra todas as moléstias” (OTONI, 2002, p. 74). Comparava os ditos botocudos aos tártaros, sendo aqueles menos adiantados: “mais infelizes, e menos industriosos que os tártaros, não têm para conduzir em suas excursões nem tendas nem rebanhos” (OTONI, 2002, p. 88). Ainda falava sobre outra tribo que, em decadência, seria “uma raça onde mal germina a sociedade” (OTONI, 2002, p. 66). A dicotomia civilização-barbárie presente nas observações de Otoni é análoga a dicotomia esclarecimento-ignorância presente no pensamento de Mata Machado. Na apresentação e na introdução de sua tese médica, ao discursar sobre a história da Revolução Francesa, faz um verdadeiro manifesto político em favor da educação popular. O passado pré-revolução é significado como um tempo em que o povo estaria submetido às trevas da ignorância e que somente após a Revolução ele passou a vislumbrar as possibilidades de esclarecimento. A educação popular representaria assim o horizonte de expectativas para a liberdade e emancipação dos povos. Afirmava que: “as multidões sepultadas nas trevas densas da ignorância, sem noções claras e precisas dos direitos e deveres que lhes assistem, não podem entender a sublimidade das ideias novas”. Caso o povo não se educasse o resultado seria sempre “a opressão e a tirania para as massas ignorantes e embrutecidas” (MACHADO, 1875, p. 3). “Está na consciência de todos que é impossível fazer parar a onda popular”; assumindo essa marcha do tempo, reafirmava que “é urgente que o povo se eduque, já que hoje, proclamada a sua maioridade, pela força das circunstancias, não pode mais se entregar em mãos alheias, dormindo na indiferença”. A educação popular, que seria a educação própria dos tempos modernos, deveria concorrer para difundir o ensino para a mocidade, que para ele seria “o coração do povo”. Com estas sumárias análises, esperamos ter demonstrado que Otoni e Mata Machado levaram os valores iluministas para a prática, visando a intervenção política na sociedade. O Liceu de Artes e Ofícios do Serro parecia ser a síntese e fruto de uma cultura política gestada no norte mineiro, cujos valores foram os da indústria e do indivíduo laborioso/industrioso; da descentralização política e econômica, a “liberdade” reivindicada. Valores que poderíamos afirmar como constituintes de uma modernidade, uma cultura ou um conjunto de sensibilidades que balizaram as concepções de Otoni e Mata Machado sobre o trabalho e o seu papel educativo. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Valdei Lopes de; SILVA, Weder Ferreira da. Fragmentos de um periódico perdido: a Sentinela do Serro e o sentido da “republicanização” (1830-1832). In: VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol 27, nº 45: p.75-95, jan/jun 2011. BARATA, Alexandre Mansur. A revolta armada de 1842 em Minas Gerais. In: RESENDE, Maria Efugênia Lage de; VILLALTA, Luiz Carlos. Belo Horizonte: Autêntica Editora; Companhia do Tempo, Vol. 2, 2013. BERNSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX & SIRINELLI (org.). Para uma história cultural Lisboa: Estampa, 1998, p. 349-363. MACHADO, Fernando da Matta. A Companhia de Santa Bárbara: um caso da indústria têxtil em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Topbooks Editora. 2006. MACHADO, João da Matta. Educação physica, moral e intelectual da mocidade no Rio de Janeiro e da sua influencia sobre a saúde. Rio de Janeiro. Typographia de G. Leuzinger, 1875. Disponível no fundo “Teses Médicas” do Arquivo Público Mineiro. MARTINS, Marcos Lobato. Os Mata Machado de Diamantina: Negócios e política na virada do século XIX para o século XX. In: XIII Seminário sobre a Economia Mineira: Economia, História, Demografia e Políticas Públicas Diamantina, MG. 2008. MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Desafios e possibilidades na apropriação de cultura política pela historiografia. In: MOTTA, R. P. S. Culturas Políticas na História: Novos Estudos. Belo Horizonte: Argumentum, 2009. JUNIOR, Fernando Afonso Pereira. “Nonada” – O Sertão no Processo de Formação do Estado Nacional (1822-1862). Tese de doutorado em História econômica (USP). 2009. OTONI, Teófilo Benedito. A colonização do Mucuri: Memória justificativa, em que se explica o estado atual dos colonos estabelecidos no Mucuri e as causas dos recentes acontecimentos naquela colônia. Pelo diretor da Companhia do Mucuri Teófilo Benedito Ottoni. In: ARAUJO, Valdei Lopes de (org). Teófilo Ottoni e a Companhia do Mucuri: a modernidade possível. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, Arquivo Público Mineiro, 2007. OTONI, Teófilo Benedito. Notícia sobre os selvagens do Mucuri em uma carta dirigida pelo Sr. Teófilo Benedito Otoni ao Sr. Joaquim Manuel de Macedo. In: DUARTE, Regina Horta (org.). Notícia sobre os selvagens do Mucuri. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. 184p. SILVA, Weder Ferreira. Colonização, política e negócios: Teófilo Benedito Ottoni e a trajetória da companhia do Mucuri (1847-1863). Mestrado em História (UFOP). 2009. SOUZA, José Moreira. Cidade: momentos e processos: Serro e Diamantina na formação do Norte Mineiro no século XIX. Coleção Anpocs – Marco Zero. Ed: Marco Zero. 1993.