Edição número 2042 sexta-feira, 11 de maio de 2012 Fechamento: 08h55 Veículos Pesquisados: Clipping CUT é um trabalho diário de captação de notícias realizado pela equipe da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT. Críticas e sugestões com Leonardo Severo ([email protected]) Isaías Dalle ([email protected]) Paula Brandão ([email protected]) Luiz Carvalho ([email protected]) William Pedreira ([email protected]) Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti ([email protected]) Estadão.com __________________________________________________________________ Governo anuncia integrantes da Comissão da Verdade Cerimônia de posse, em 16 de maio, terá a presença dos ex-presidentes Sarney, Collor, FHC e Lula Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura (Política) A presidente Dilma Rousseff escolheu os sete integrantes da Comissão da Verdade. São eles: José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, Gilson Dipp, ministro Superior Tribunal de Justiça, Rosa Maria Cardoso da Costa, ex-advogada da presidente Dilma, Cláudio Fonteles, diplomata e ex-secretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça Paulo Sérgio Pinheiro, a psicanalista Maria Rita Kehl e o advogado e jurista José Paulo Cavalcanti Filho. A posse está marcada para o dia 16 de maio e os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva participarão da cerimônia. O porta-voz do Planalto, Thomas Traumann, informou que os convites foram feitos todos na tarde desta quinta-feira, pessoalmente, "Todos os ex-presidentes já confirmaram suas presenças em uma demonstração de que esta comissão não é de governo, é de Estado", afirmou o porta-voz. A Comissão da Verdade gerou uma grande polêmica desde quando foi anunciada por causa de questionamentos da área militar. Em todas as manifestações os militares da reserva, principalmente do Exército, afirmar que a comissão será revanchista e tentará reescrever a história à sua maneira. Mas o governo rebate esta tese e insiste que a comissão será de Estado e agirá com imparcialidade. Em seu discurso, quando sancionou a lei, a presidente Dilma afirmou que a Comissão da Verdade consolida o processo democrático e salientou que "o silêncio e o esquecimento são sempre uma grande ameaça. Não podemos deixar que no Brasil a verdade se corrompa com o silêncio". Dilma acrescentou ainda que "a verdade interessa muito às novas gerações que tiveram a oportunidade de nascer e viver sob regime democrático. Interessa, sobretudo, aos jovens que hoje têm o direito à liberdade e devem saber que essa liberdade é preciosa e que, muitos, por ela lutaram e pereceram. As gerações brasileiras se encontram hoje em torno da verdade. O Brasil inteiro se encontra, enfim, consigo mesmo sem revanchismo, mas sem a cumplicidade do silêncio", concluiu. Entre os objetivos da comissão estão "esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos" entre 1946 e 1988 e "promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior". A partir da sua instalação, a comissão terá um prazo de dois anos para conclui os trabalhos. Não está estabelecido como será o rito de funcionamento da comissão. Cada integrante da comissão receberá um salário mensal de R$ 11.179,36. A lei prevê que a comissão requisite documentos de órgãos públicos, convoque para entrevistas "pessoas que possam guardar qualquer relação com os fatos e circunstâncias examinados", promova audiências públicas e peça proteção para indivíduos que eventualmente se encontrem "em situação de ameaça" por conta da colaboração com a comissão. A legislação ainda estabelece que as atividades não terão "caráter jurisdicional ou persecutório" e que "é dever dos servidores públicos e dos militares colaborar" com a comissão. A legislação ainda estabelece que as atividades não terão "caráter jurisdicional ou persecutório" e que "é dever dos servidores públicos e dos militares colaborar" com a comissão. Está prevista ainda que a comissão poder firmar parcerias com instituições de ensino superior e organismos internacionais. __________________________________________________________________ Dilma dá caráter técnico à Comissão da Verdade Ex-advogada da presidente durante regime militar; ex-procurador e ex-ministro estão entre os 7 nomes escolhidos; posse será 4.ª-feira Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura (Política) A presidente Dilma Rousseff concluiu ontem a escolha dos sete nomes que comporão a Comissão da Verdade. O anúncio foi feito no início da noite pelo portavoz da Presidência, Thomas Traumann. Os escolhidos são José Carlos Dias, Gilson Dipp, Rosa Maria Cardoso da Cunha, Cláudio Fonteles, Paulo Sérgio Pinheiro, Maria Rita Kehl e José Paulo Cavalcanti Filho. De acordo com o porta-voz, os nomes devem ser publicados hoje no Diário Oficial da União. A posse está prevista para quarta-feira, em cerimônia que deve contar com as presenças dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. "Todos já confirmaram presença, numa demonstração de que essa comissão não é de governo, é de Estado", disse Traumann. A Comissão da Verdade, destinada a esclarecer casos de violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, foi criada em novembro. Para começar a funcionar, depende da nomeação dos integrantes, que dois anos para realizar o trabalho e apresentar um relatório. Remunerados. Não está estabelecido como será o rito de funcionamento da comissão. Cada integrante receberá um salário mensal de R$ 11.179,36. Desde a sanção da lei, a escolha dos nomes foi cercada de cuidados por parte do governo. Na área militar, há grupos resistentes à própria criação da Comissão da Verdade, temendo "revanchismo" e vendo no trabalho uma tática para rever a Lei da Anistia, aprovada em 1979. Organizações ligadas aos direitos humanos, por sua vez, fazem pressão para que o trabalho do colegiado revele nomes de integrantes da ditadura militar que praticaram tortura. Em seu discurso, ao sancionar a lei, a presidente afirmou que a Comissão da Verdade consolida o processo democrático e salientou que "o silêncio e o esquecimento são sempre uma grande ameaça". "Não podemos deixar que no Brasil a verdade se corrompa com o silêncio", disse Dilma. "A verdade interessa muito, às novas gerações, que tiveram a oportunidade de nascer e viver sob regime democrático. Interessa, sobretudo, aos jovens que hoje têm o direito à liberdade e devem saber que essa liberdade é preciosa e que muitos por ela lutaram e pereceram." Um dos escolhidos para a comissão, o ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles, disse ao Estado que o grupo "busca a reconstituição da história, sem nenhum tipo de revanchismo ou perseguição", até porque "existe a Lei da Anistia, que está em vigor e foi endossada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal", disse. "Existe uma lei que reconhece que o Estado brasileiro violou os direitos humanos e é aí que vamos reconstituir a história, aproveitando já o trabalho da comissão de mortos e desaparecidos políticos do Ministério da Justiça", concluiu o ex-procurador-geral. Favorito. Entre os sete nomes escolhidos por Dilma, o de Paulo Sérgio Pinheiro surge como favorito para presidir o colegiado, pois o sociólogo tem bom trânsito tanto entre petistas como tucanos, já atuou em colegiados semelhantes em outros países e sua indicação era dada como certa desde a sanção da lei. Ainda não está definido, porém, se a comissão terá um presidente e se ele será mesmo escolhido por Dilma. Na avaliação de assessores da Presidência, seria melhor, nos momentos de ataque aos trabalhos do grupo, se fosse tratado como um colegiado. A advogada Rosa Maria da Cunha foi a defensora de Dilma e de seu ex-marido, Carlos Araújo, quando os dois foram presos pela ditadura militar, nos anos 1970. Outro advogado que defendeu opositores do regime militar é o ex-ministro José Carlos Dias. __________________________________________________________________ Tática nacional leva PT a intervir em candidaturas Daiene Cardoso (Política) Em reunião da Executiva Nacional, o PT anunciou nesta quarta que a escolha dos candidatos à prefeitura das cidades com mais de 200 mil habitantes e polos econômicos regionais terá de ser homologada pela direção nacional do partido. A resolução aprovada será submetida à votação na reunião do Diretório Nacional no próximo dia 18, em Porto Alegre (RS). O objetivo, segundo o presidente nacional da legenda, deputado estadual Rui Falcão (SP), é evitar a intervenção direta da cúpula petista nos diretórios regionais. "(A resolução) é justamente para que, se você tiver de fazer cumprir o regimento e a tática nacional, não ter de provocar a intervenção", explicou o dirigente. De acordo com Falcão, uma intervenção direta nos diretórios onde a escolha for contrária à orientação nacional causaria "confusão do ponto de vista político e organizativo". A resolução da Executiva Nacional atinge diretamente cidades como Mossoró (RN) e Duque de Caxias (RJ), onde o PT quer obrigar seus líderes locais a desistir de candidaturas próprias para apoiar o PSB. O acordo serviria como moeda de troca para que os socialistas apoiem Fernando Haddad (PT) em São Paulo. "Nós avocamos para a direção nacional tanto Mossoró quanto Duque de Caxias", avisou Falcão. "No momento devido podemos eventualmente formalizar uma coligação com o PSB", emendou. No encontro de hoje, além de Mossoró e Duque de Caxias, os petistas discutiram a situação de capitais como Fortaleza (CE) e Recife (PE), onde o PT submeterá a escolha ao processo de prévia. Em São Paulo, Falcão revelou que ontem (09) o partido voltou a conversar com a direção nacional do PCdoB sobre a possibilidade de uma aliança já no primeiro turno. "Há possibilidades (de acordo)", sinalizou o cacique petista. De acordo com ele, a direção do PCdoB deixou claro que não abre mão da candidatura da deputada federal Manuela D''Ávila em Porto Alegre. Rui Falcão afirmou ainda que, além do PCdoB e do PSB, as conversas com o PR estão avançando e que o partido quer apresentar os aliados da chapa de Haddad no encontro do dia 2 de junho. Questionado sobre a pesquisa Ibope que apontou Haddad com apenas 3% das intenções de voto, Falcão argumentou que mais de 30% do eleitorado paulistano ainda não conhece o petista, mas que ele tende a crescer nas pesquisas quando for associado ao PT, à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A despeito das pesquisas de recall hoje, nosso candidato tem amplo potencial de crescimento", concluiu. __________________________________________________________________ Supremo blinda procurador-geral convocação por CPI e ministros criticam ‘Está descambando para o lado pessoal. Não é bom’, alerta Marco Aurélio Mello Felipe Recondo (Política) Alvo de integrantes da CPI do Cachoeira - que querem convocá-lo a depor e dar explicações sobre suposta prevaricação nas investigações que revelaram as primeiras ramificações políticas do esquema criminoso comandado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira -, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi “blindado” nesta quinta-feira, 10, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ministros deixaram claro que o procurador-geral não deve ir à CPI para explicar por que não abriu, em 2009, durante a Operação Vegas, da Polícia Federal, um inquérito para investigar o envolvimento de políticos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Sob ameaça de ser convocado, Gurgel relacionou a pressão que sofre ao julgamento do mensalão - disse que parlamentares da CPI defendem interesses de réus - e afirmou que sua estratégia foi aguardar mais indícios contra políticos para instaurar o inquérito. A controvérsia sobre a possibilidade de convocar o procurador-geral, em última instância, pode chegar ao STF, a quem caberá a palavra final se Gurgel deve ou não ir à CPI. O ministro Gilmar Mendes afirmou que é “evidente” que o procurador-geral não deve ir à Comissão Parlamentar de Inquérito para explicar sua atuação. “Claro que não”, respondeu ele. O ministro Joaquim Barbosa afirmou não haver razões para convocar o Gurgel. “Não há por que convocá-lo para explicar suas atribuições, que são constitucionais”, afirmou Barbosa. “Está descambando para o lado pessoal. Não é bom”, emendou o ministro Marco Aurélio Mello. “Convocar o procurador-geral da República para falar à CPI poderia criar nulidades ao processo. Como acusador, o procurador não poderia falar como testemunha ou antecipar algum juízo de valor antes de concluídas as investigações”, acrescentou, sob reserva, outro ministro. Gilmar Mendes afirmou que o procurador pode retardar a abertura de uma investigação se considerar esta a melhor estratégia. Gurgel afirma que não começou a investigar o senador Demóstenes Torres (exDEM, sem partido-GO) em 2009 porque não teria indícios suficientes de sua vinculação ao esquema de Cachoeira. O inquérito só foi aberto neste ano, depois de os fatos se tornarem públicos. “Evidente que a Procuradoria-Geral da República pode ter sua estratégia em relação a isso”, afirmou Gilmar Mendes. “Eu tenho a impressão de que há uma certa excitação até mesmo da imprensa e plantação notória. Grupos políticos manipulando as próprias notícias”, acrescentou. Pressão. Integrantes do PT consultaram advogados constitucionalistas para saber se seria legalmente possível convocar Gurgel para falar à CPI. A resposta foi negativa. Como investigador, o procurador não poderia falar como testemunha. Os ministros do Supremo, além de se manifestarem sobre a possibilidade de convocação de Gurgel, saíram em defesa de sua atuação. “É um servidor do Estado inatacável”, disse Joaquim Barbosa. Na quarta-feira, o presidente do tribunal, ministro Carlos Ayres Britto, disse que Gurgel é uma “pessoa que nós temos a mais alta e sincera admiração”. Na quarta-feira, Gurgel atribuiu a réus do mensalão as críticas que têm recebido. “Eu tenho dito que são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão.” “É compreensível que pessoas ligadas a mensaleiros queiram atacar o procuradorgeral. Eu acho que, se não réus, protetores de réus do mensalão estão como mentores (das críticas)”, disse. Gurgel não quis nominar os responsáveis pelas críticas que têm sido feitas a ele. Disse apenas, ao ser questionado se seria o ex-ministro José Dirceu, que é “notório quem está por trás”. Gilmar Mendes concordou que as críticas podem ter relação com o mensalão. Tenho a impressão de que sim (que há relação)”, afirmou. “Há uma expectativa em torno disso, são pescadores em águas turvas, pessoas que querem misturar estações e tirar proveito, inibir as ações de órgãos que estão funcionando.” __________________________________________________________________ MP flagra trabalho análogo à escravidão em obra do 'Minha Casa, Minha Vida' Inquérito foi instaurado para investigar o caso e a obra, em Fernandópolis (SP), está embargada até que todas as irregularidades sejam solucionadas Ricardo Valota e Gheisa Lessa (Política) Cerca de 90 operários de uma obra do 'Minha Casa, Minha Vida' foram encontrados em condições de trabalho análogas à escravidão por agentes do Ministério Público do Trabalho de Campinas, na última sexta-feira, 4. De acordo com o MP, um inquérito foi instaurado para investigar o caso e a obra está embargada até que todas as irregularidades sejam solucionadas. Na última sexta, trabalhadores da obra em questão realizaram uma denúncia no Ministério Público do Trabalho de São José do Rio Preto, pasta que atende a região de Fernandópolis, onde a construção é realizada. De acordo com informações da assessoria de imprensa do MPT, fiscais foram enviados ao local e constaram diversas irregularidades, entre elas trabalho análogo à escravidão, péssimas condições do canteiro de obra e do alojamento. A pasta informa que o projeto 'Minha Casa, Minha Vida' é sustentado com verbas do Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal. Neste caso, assim que a verba destinada é aplicada, cabe ao município ou cidade contratar uma empresa terceirizada capaz de fornecer mão de obra para as construções. A assessoria de imprensa do MPT, afirma que no entendimento da pasta, cabe à Caixa Econômica Federal fiscalizar a regularidade do trabalho antes de liberar a verba. O trabalho análogo à escravidão foi apurado quando os trabalhadores afirmaram trabalhar 15 horas por dia na obra, sem o pagamento salarial - segundo informações do MPT, o pagamento estava sendo feito aos poucos, por meio de vales de R$ 100, R$200 e R$300, nunca no valor integral do salário. Outra denúncia investigada é a condição dos alojamento nos quais os operários moravam. "As questões sanitárias destes alojamentos são lamentáveis, os banheiros devem ser usados por, no máximo, 20 trabalhadores, e não foi isso que a perícia presenciou", conta a assessoria da pasta. Os agentes do Ministério Público do Trabalho de Campinas, órgão que conduz as investigações do caso, efetuaram o resgate dos 90 trabalhadores no início desta semana e determinou a rescisão do contrato de todos os operários. "Conforme determina a lei", informa a assessoria de imprensa, "os homens têm direito a receber as verbas rescisórias: o seguro desemprego, salário e 13º salário, férias e fundo de garantia". "Todos os operários são migrantes do nordeste do País, a maioria deles veio do Piauí e do Maranhão para trabalhar nesta construção", afirma o MPT. A pasta esclarece que, na maioria dos casos, há irregularidades inclusive na busca dessa mão de obra. "Esses operários são buscados por meio de empreiteiras terceirizadas, contratadas pela construtora", explica a assessoria de imprensa do MPT. "Essa empreiteira busca os trabalhadores no nordeste que, geralmente, chegam ao destino de forma clandestina, em ônibus clandestinos, em ocasiões que eles mesmos chegam a pagar a passagem", diz. Muitos operários são aliciados e chegam a trabalhar sem registro de trabalho ou carteira assinada. "Encontramos indícios de aliciamento de trabalho e a fiscalização provou que houve irregularidades na vinda destes 90 homens para São Paulo", segundo a assessoria. A pasta informa que a mão de obra deve ser contratada perante o Ministério do Trabalho da cidade do contratado. O registro de trabalho é feito e o pagamento das passagens aprovado pelo Ministério. Assim que a documentação é tida como regular, a pasta libera a saída do trabalhador. O Ministério Público do Trabalho de Campinas, que conduz as investigações e está à frente do inquérito informou que irá notificar a Caixa Econômica Federal solicitando esclarecimentos sobre a situação dos trabalhadores e a solução do caso. O estadão.com.br procurou o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal e a assessoria de imprensa de ambos os órgãos informou que a posição oficial será enviada por e-mail. Por telefone, a assessoria do Ministério das Cidades informou que, na maioria dos casos, cabe à Caixa Econômica Federal fiscalizar as verbas do projeto "Minha Casa, Minha Vida". "O papel do Ministério é liberar a verba para a Caixa Econômica, que a repassa para os Estados e Municípios", informa a assessoria de imprensa do Ministério das Cidades. "Cabe aos Estados e Municípios contratar as empresas responsáveis pelas obras do projeto. O Ministério das Cidades não tem nenhuma responsabilidade com a contratação das empresas", explica a assessoria que também solicitou poder posicionar-se oficialmente por e-mail. Óbito. Depois de resgatados, os operários do "Minha Casa, Minha Vida" deveriam receber a verba da rescisão do contrato de trabalho. Conforme informações do Ministério do Trabalho de Campinas, a empresa construtora que os contratou iria transportá-los até o Ministério. A empresa não apareceu com o transporte e os homens decidiram seguir caminho a pé. Durante a caminhada, um dos operários sofreu um ataque cardíaco e morreu. O Ministério Público do Trabalho vai investigar se a empresa realmente tinha a responsabilidade de efetuar o transporte dos operários. PEC do Trabalho Escravo. A votação da chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Trabalho Escravo, tramita no Congresso Nacional há dez anos. Caso aprovada, a PEC permite a expropriação de terras nas quais seja constatado o uso de mão de obra escrava. Desde março deste ano, funciona na Câmara a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Trabalho Escravo, criada para investigar denúncias sobre essa prática com base em lista elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Atualmente, 292 empregadores estão na relação, acusados de explorar mão de obra de forma análoga à escravidão. De acordo com o Ministério, entre 1995 e março deste ano, 42.116 trabalhadores submetidos a trabalho escravo foram resgatados e mais de R$ 70 milhões de verbas rescisórias foram pagas. __________________________________________________________________ Dilma pede nova rodada de redução de impostos Crescimento mais lento reforça a necessidade de novas desonerações tributárias para estimular a economia Adriana Fernandes (Economia) A presidente Dilma Rousseff pediu à equipe econômica que procure espaço para novas desonerações tributárias. O crescimento mais lento da economia brasileira renovou no governo a discussão em torno da necessidade de adoção, o mais rápido possível, de uma nova rodada de corte de impostos. A expansão da atividade econômica no segundo trimestre deste ano continua surpreendendo negativamente o governo e já se projeta internamente o risco real de um crescimento anual inferior aos 3,5% previstos pelo Banco Central (BC) no relatório trimestral de inflação. Um mês depois do lançamento da segunda fase do Plano Brasil Maior, a presidente Dilma voltou a insistir que é preciso avançar na redução da carga tributária. Segundo o Estado apurou, à medida que novos indicadores econômicos são divulgados, ganha espaço a percepção de que as ações já tomadas nestes últimos meses para estimular a indústria e, mesmo os efeitos da queda mais forte da taxa básica de juros (Selic), não serão suficientes para colocar a atividade econômica na velocidade desejada no segundo semestre. A desvalorização do real em relação ao dólar, com a política de intervenção do BC, ajuda a reduzir as importações e fortalece o produto nacional, mas por outro lado o crédito não reage. Os dados da economia no primeiro trimestre vieram muito aquém do esperado e os sinais neste início do segundo trimestre revelam um quadro também de dificuldades. A "conta" do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2012 já não é mais a projetada no início do ano pelo governo, quando se esperava alta em torno de 4,5%, com a economia ao final do segundo semestre girando a uma velocidade de 5% a 5,5%. Agora, todos os esforços do ministro da Fazenda, Guido Mantega, são no sentido de tentar mexer nas expectativas e garantir pelo menos um crescimento entre 3,5% e 4% neste ano. As perspectivas ruins para o cenário externo, com desaceleração econômica na Europa, reforçam o debate de que é preciso reduzir a carga tributária. Setores que não foram beneficiados na segunda fase do Brasil Maior poderão ser atendidos. Os ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do Planejamento, Miriam Belchior, já vêm defendendo o avanço no corte de tributos, reverberando o discurso da presidente. Inicialmente, a ideia da equipe econômica era deixar novas desonerações somente para o ano que vem, mas o quadro, segundo fontes, deve exigir uma ação mais rápida. Técnicos do Ministério da Fazenda dizem que o problema será encontrar espaço fiscal, pois num cenário de crescimento econômico lento o desempenho da arrecadação também enfraquece. Mas, com as despesas com juros menores e a dívida líquida do setor público em trajetória de queda, há quem defenda uma flexibilização da política fiscal para estimular o crescimento. __________________________________________________________________ Desemprego na Grécia não chega nem perto do pior momento brasileiro (Economia) Brasil registrou taxa de desocupação de 13,1% em abril de 2004, a maior da série do IBGE, enquanto a Grécia bateu o recorde no último mês de fevereiro, com o índice de 21,7% O problema do desemprego na Grécia é muito maior que o índice registrado no Brasil, no pior momento do País. O fato é que os gregos procuram emprego, mas não acham. A taxa de desemprego na Grécia atingiu um novo recorde histórico e estava no patamar de 21,7% em fevereiro, o maior desde 2004, quando o indicador começou a ser acompanhado. O dado foi divulgado nesta quinta-feira pela Elstat, a agência de estatísticas do país, após o ajuste sazonal da taxa de desemprego. Esse ajuste corrige as distorções das temporadas. Por exemplo, no verão a Grécia tende a ter mais empregos em função do turismo, o que muda em outras épocas. São 1,07 milhão de gregos desempregados hoje. Brasil Em abril de 2004, o Brasil registrou taxa de desocupação de 13,1%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A série histórica foi iniciada em 2002, com metodologia revisada de acordo com as recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT). São oito pontos percentuais de diferença entre o mês que o Brasil teve mais pessoas desempregadas e a situação da Grécia hoje. Sem trabalho Na comparação anual, os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelam situação parecida. Considerando a última década, desde 2009 a Grécia apresenta taxas de desemprego superiores à brasileira. Em 2011, o Brasil fechou o ano com taxa média de desempregados de 5,9%, enquanto os gregos com 17,3%. Folha de S.Paulo __________________________________________________________________ Vale-tudo na CPI (Poder) Investigação corre perigo de descarrilar ao desviar foco de Cachoeira e Demóstenes Torres para jornalistas e o procurador Roberto Gurgel Começou mal a CPI mista para investigar o caso Cachoeira, com a já conhecida aposta na confusão por parte dos setores mais aloprados do Congresso. O que mais se deveria esperar de uma comissão em que personagens da estatura de um Fernando Collor de Mello e de um Protógenes Queiroz se aliam na tentativa de cercear a imprensa? Doses crescentes de desatino, por certo. A CPI foi criada para investigar, com os amplos poderes que lhe dá o artigo 58 da Constituição, a comprometedora teia de relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de explorar jogos ilegais, com figuras públicas. Por exemplo, com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF) -além de uma das maiores empreiteiras do país, a Delta, campeã em obras do PAC. Foi o pretexto para a ala do PT mais afetada pelo processo do mensalão tentar fazer da CPI um antídoto para o julgamento por iniciar-se no Supremo Tribunal Federal. Em seu afã vindicativo, abriu até uma frente de conflito institucional com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O chefe do Ministério Público Federal ganhou a hostilidade do lulo-petismo por ter pedido a condenação de mensaleiros. De forma maliciosa, com o indisfarçável propósito de intimidá-lo, essa facção o acusa agora de ter protegido Demóstenes ao apontar a insuficiência dos elementos colhidos pela primeira operação da Polícia Federal (Vegas) contra Cachoeira. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), parece inclinado a seguir em frente com a ideia extravagante de chamar Gurgel a se explicar perante a comissão. O procurador-geral já deu sinais de que se recusará, em manifestação de independência. É no mínimo duvidoso que o Supremo reconheça entre os poderes da CPI o de forçá-lo a comparecer. Tampouco surgiu até agora qualquer indício de má conduta que justifique a intimação de jornalistas da revista "Veja" para depor, como almejam setores do PT -que, aliás, não contam com o apoio do Planalto para essa revanche pelos sucessivos escândalos revelados. Igualmente descabido é o sigilo extremo adotado pelo presidente da CPI e seu relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). Não só já se mostrou ineficaz, pois não cessam de vazar os depoimentos supostamente secretos, como ainda contraria o escopo de toda CPI, que é expor ao público fatos e condutas de agentes oficiais sob suspeita. É comum ouvir que CPIs têm tendência a degenerar em circo. As sessões iniciais sugerem que os piores prognósticos caminham para confirmar-se, e bem cedo. __________________________________________________________________ Painel Vera Magalhães (Poder) Saindo das cordas O Supremo Tribunal Federal recebeu da Procuradoria-Geral da República novos indícios do envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com o esquema de Carlinhos Cachoeira. Segundo membros da CPI, o material está sendo periciado pela Polícia Federal e depois será enviado pelo Supremo à comissão. Desde janeiro, quando foi retomado o monitoramento dos acusados de pertencer ao grupo de Cachoeira, a PF interceptou 260 mil ligações e 5.000 emails. Ao municiar o STF e a CPI com novas informações, o procurador-geral, Roberto Gurgel, tenta se livrar da acusação de omissão que setores do PT lhe fazem. Reação Gurgel tem se aproximado de alguns ministros do STF e integrantes da CPI para tentar se blindar. "Alianças começaram a ser feitas entre membros dos Três Poderes para impedir a impunidade da quadrilha'', afirma um parlamentar. Infiltrado Aliados do procurador-geral temem os desdobramentos de eventual representação do PT ao Conselho Nacional do Ministério Público. Luiz Moreira, conselheiro indicado pela Câmara, é ligado a José Genoino, réu no processo do mensalão. Intimidade O delegado Matheus Mella Rodrigues, que comandou a Monte Carlo, contou aos membros da CPI que o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) ligou no celular pessoal de Cachoeira para dar parabéns no seu aniversário, e não no Nextel. Sorte grande Rodrigues relatou também que o prefeito de Águas Lindas (GO), Geraldo Messias (PP), ganhou de Cachoeira uma viagem à meca da jogatina, Las Vegas, com direito a cartão de crédito com gastos liberados. Zen Com a CPI chegando a cenas de quase pugilato, foi comemorada no Congresso a sanção da presidente Dilma Rousseff ao Dia de Buda, a ser celebrado junto com o Dia das Mães, sempre no segundo domingo de maio. Surpresa O PR afirma que foi o último a saber da indicação de César Borges (BA) para uma vice-presidência do Banco do Brasil. Foi o ex-senador que informou os caciques Alfredo Nascimento e Valdemar da Costa Neto do convite da presidente. Vias tortas Apesar do desejo do PT, congressistas do PR negam que a nomeação vá levar o partido imediatamente para a campanha de Fernando Haddad em São Paulo. "Gesto do avesso, né?", ironiza um senador. Biodiversidade Com a adesão formal do DEM à coalizão de José Serra, o secretário Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Social) será incorporado à coordenação da campanha tucana. Aliados já oficializados, PV e PSD também terão assentos no QG serrista. Preventivo Com a antecipação da convenção que lançará Serra para 17 de junho, tucanos pretendem sobretudo assegurar base legal para eventuais recursos à Justiça com pedido de direito de resposta em caso de ataques ao ex-governador. Novos ares Mozart Vianna, que foi secretário-geral da Câmara por 20 anos, deixou a chefia de gabinete do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para assumir a gerência de relações institucionais da TV Globo em Brasília. Chão de fábrica Róbson Andrade, presidente da CNI, conhecerá hoje projeto que cria acordos coletivos especiais para trabalhadores no Sindicato dos Metalúrgicos e numa montadora do ABC. Força Sindical e UGT são contra a ideia, enviada à Secretaria-Geral da Presidência. __________________________________________________________________ Por Haddad, direção do PT terá poder de forçar aliança Partido abre caminho para impor apoio a outras siglas fora de SP Com apenas 3% das intenções de voto em nova pesquisa, petista diz que eleitor segue campanha 'de longe' Paulo Gama (Poder) Para impulsionar a candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo, a Executiva Nacional do PT editou ontem resolução que exige que as candidaturas em cidades com mais de 200 mil eleitores sejam homologadas pela cúpula do partido. Na prática, isso abre espaço para vetar candidaturas próprias e impor alianças com outras siglas sem a necessidade de intervir formalmente em diretórios petistas. A medida atinge ao menos duas cidades importantes na negociação para atrair o PSB à chapa de Haddad: Mossoró (RN) e Duque de Caxias (RJ). Nesses municípios, os petistas locais querem candidatura própria, e a direção nacional é favorável a uma aliança com os socialistas. Outras cidades em que o PT negocia alianças com partidos diferentes -como Porto Alegre, em que há tratativas com o PDT- também são abarcadas pela medida. Para entrar em vigor, a resolução tem de ser aprovada pelo Diretório Nacional do PT, que faz sua próxima reunião no dia 18, em Porto Alegre. O presidente do partido, Rui Falcão justificou a medida como um instrumento para evitar intervenções. "Nas cidades com mais de 200 mil eleitores, ou em polos regionais, as chapas deverão ser antes dos registros homologadas pela Executiva Nacional, justamente para não ter que provocar intervenção." O PT tem histórico de intervir em diretórios em nome de planos nacionais. Um exemplo foi o veto à candidatura de Vladimir Palmeira a governador do Rio em 1998 em troca do apoio do PDT à candidatura presidencial de Lula. Até aqui, nenhum partido declarou apoio a Haddad. "Esperamos já no encontro municipal [em 2 de junho] ter alguma aliança firmada", disse. PESQUISA Em visita ontem a Itaquera, o pré-candidato do PT disse que a nova pesquisa Ibope -em que aparece com 3% das intenções de voto contra 31% de José Serra (PSDB)mostra que "a população ainda acompanha de longe" a campanha. Falcão disse não estar preocupado e que viu o resultado de "forma serena". __________________________________________________________________ Delegado reforça ligação de Perillo com Cachoeira Em depoimento à CPI, ele diz que governador vendeu casa diretamente a empresário Tucano sempre negou negociação de imóvel com Cachoeira, com quem diz ter apenas uma relação superficial Andreza Matais, Leandro Colon e Rubens Valente (Poder) O delegado da Polícia Federal Matheus Mela, que coordenou a Operação Monte Carlo, afirmou ontem haver "indícios veementes" de que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), vendeu uma casa diretamente a Carlinhos Cachoeira. A declaração, dada em depoimento sigiloso ontem à CPI, em Brasília, contradiz a versão do tucano, que sempre negou ter vendido o imóvel a Cachoeira. De acordo com o delegado da PF, a casa do governador, que fica em um condomínio de luxo em Goiânia, custou R$ 1,4 milhão. Os cheques para o pagamento, afirma, foram assinados por um sobrinho de Cachoeira, nos valores de R$ 400 mil (dois) e R$ 600 mil. O delegado contou ainda que o nome do governador foi citado em 237 conversas telefônicas entre Cachoeira e pessoas do seu grupo, que são suspeitos de corrupção e de explorarem jogo ilegal. Perillo vem sustentando que a casa "foi vendida para a empresa do senhor Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão, de Goiânia" e que nunca fez negócios com Cachoeira, com quem diz manter apenas uma relação superficial. Diante das declarações do delegado, afirmou ontem, porém, que "não observou o nome do emitente [dos cheques] pois a casa só seria escriturada após a devida quitação". A Folha teve acesso à íntegra do áudio da sessão sigilosa na qual depôs o delegado. Perguntado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), sobre se a casa na qual Cachoeira foi preso pertencia ao governador, o delegado respondeu: "Sim, pertencia ao governador". E complementou: "Há indícios veementes de que o senhor Carlos Cachoeira adquiriu provavelmente essa casa. Foi feita uma interligação usando intermediário que seria o sobrinho do senhor Carlos, que teria dado cheques para pagar essa casa", contou. Mela diz que é preciso investigação no Superior Tribunal de Justiça, corte que apura casos de governadores. A Folha revelou em abril que diálogos interceptados pela PF mostram Cachoeira orientando um de seus auxiliares, o ex-vereador Wladimir Garcez, a entregar dinheiro na sede do governo goiano. O delegado contou ainda que o governador teve dois encontros pessoais com Cachoeira e que o empresário tinha uma "cota" de cargos no governo de Goiás. Perillo já confirmou que encontrou Cachoeira, quando teriam falado de incentivos fiscais a um laboratório do empresário. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que Perillo deveria ser ouvido "imediatamente". O delegado citou ainda lista com 82 nomes que tiveram relações ou foram apenas citados em conversas de Cachoeira. A lista inclui os nomes de ministros do Supremo Tribunal Federal, de governadores, senadores, deputados federais, prefeitos e até mesmo da presidente Dilma Rousseff. O delegado reforçou que o fato de estarem citados não significa que tenham envolvimento com o grupo de Cachoeira. Valor Econômico __________________________________________________________________ Argentina fracassa em conter salários César Felício A disputa pelo controle da máquina sindical na Argentina comprometeu a estratégia que o governo havia traçado com a elite empresarial no fim do ano passado, que moderaria o reajuste de preços em troca da pressão governista por reajustes salariais abaixo da inflação. Ontem, fizeram greve no país os metalúrgicos e os operadores do porto de Rosário, e pode haver paralisação nos setores bancário e de saúde na próxima semana. As reivindicações dos sindicatos oscilam entre 25% e 40% de reajuste. A inflação extra-oficial no país ficou em cerca de 23% em 2011. No meio patronal, nem o Estado conseguiu impor perdas em relação à inflação passada. O governo fechou um acordo com parte dos sindicatos do funcionalismo para reajuste de 21%, mas os servidores da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE) não aceitaram a proposta e fecharam ontem por algumas horas um acesso à capital. Os metalúrgicos pedem 24% de reajuste, mas exigem a incorporação ao salário de um abono de 300 pesos, o que, conforme a empresa, implicaria aumento de até 33%. O governo deverá mediar a negociação e pende para os trabalhadores. O acirramento das negociações está ligado à eleição em julho para a direção da CGT, a central sindical que tem 2,5 milhões de filiados. O líder sindical metalúrgico Antonio Caló desafiou a reeleição do líder caminhoneiro Hugo Moyano, que está se distanciado do kirchnerismo e procura mostrar autonomia em relação à Casa Rosada. "Uma vitória clara de Caló permite pensar em uma moderação no segundo semestre, em que os acordos que estão sendo feitos agora serão revistos. A fragmentação de agora leva à radicalização. Mas parece certo que a margem para negociar reajustes que diminuam a pressão sobre preços será muito pequena", comentou Julio Burdman, da consultoria Analytica. Caló tem o apoio dos sindicatos mais poderosos, como eletricitários, construção civil, saúde e do setor automotivo. Moyano ganha força nas estruturas menores. A radicalização é ainda maior nos sindicatos em que há disputa interna, como o da indústria da alimentação, que escolheria ontem sua nova direção. As chapas em disputa prometiam pedir reajuste de até 40%, os mais altos entre os principais sindicatos argentinos. Segundo levantamento do escritório de advocacia De Diego, especializado no atendimento à área patronal, os aumentos salariais pactuados pelos sindicatos vinculados à CGT superaram a inflação real em todos os anos desde 2003. Pelos cálculos do escritório, um trabalhador no setor metal-mecânico necessitava de dezesseis salários brutos para comprar um automóvel de médio padrão em 2002. Dez anos depois, adquire um carro com seis salários. Com as indústrias operando no limite da capacidade, o desemprego recuou no país de 23% para 9,9% entre 2003 e 2011, segundo levantamento da consultoria OJF. Os aumentos salariais se descolaram da variação cambial desde 2007, quadro que se acentuou no ano passado, com a pequena variação do dólar em relação ao peso. Segundo estudo da empresa de consultoria Econométrica, entre 2009 e este ano o custo médio do empregado no setor privado passou de US$ 1.074 para US$ 1.748, uma variação de 63%. Sem âncora nos salários, o governo tende a aumentar o controle sobre o câmbio para evitar uma explosão inflacionária. "A chave para manter a inflação real estabilizada entre 20% e 30% é a conter a formação de ativos no exterior, ou seja, evitar a fuga de dólares. É absolutamente fundamental que a política atual restritiva seja mantida", afirmou o economista Carlos Melconian, vinculado à oposição ao kirchnerismo. _________________________________________________________________ Cliente desaparece e carros encalham Aline Lima, Eduardo Laguna e Marli Olmos Munir Faraj e o filho Fábio, que trabalham com compra e venda de automóveis, sentem calafrios só de lembrar que o Vectra preto 2009 já passou dois natais com eles. Quase um "membro da família", o veículo que chegou na loja em 22 de dezembro de 2010, só deu despesa. Ganhou pneus novos e rodas de liga leve para chamar a atenção dos clientes. Há poucos dias, apareceram dois interessados. Mas em ambos os casos, os bancos negaram crédito para o financiamento. E o Vectra permaneceu com a família Faraj. "Tivemos que refazer a pintura de tanto que os vendedores passaram o pano no capô para dar brilho", conta Munir. A cena da devolução de ficha se tornou comum desde que os bancos, assustados com o aumento da inadimplência, se tornaram mais seletivos. A taxa de inadimplência acima de 90 dias em veículos está em 5,7%, o maior patamar da série histórica do Banco Central. Em março, a inadimplência entre 15 e 90 dias chegou a 8,5%, a mais alta desde outubro de 2011 se o resultado for analisado mês a mês. Na comparação com os meses de março, que tira efeitos sazonais, o índice é o mais elevado desde 2009, pico da crise internacional. "As financeiras diminuíram significativamente os juros, mas nem assim o consumidor tem aparecido", afirma Paulo Pacito, outro empresário do comércio de veículos. Ele lembra que o crédito só é aprovado para o cliente que oferece baixo risco. O financiamento sem entrada praticamente não existe mais. "Somente para aquele cliente com 'score' bem alto e garantias substâncias, risco zero", diz Pacito, proprietário de loja de veículos que leva o mesmo nome. "O crédito só está sendo liberado para quem não precisa dele", destaca o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. O aumento do nível dos estoques de veículos novos o maior dos últimos três anos - levou algumas montadoras de veículos a reduzir o ritmo nos últimos dias, por meio de licenças não remuneradas. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Volkswagen e Ford adotaram a semana de quatro dias. As horas extras foram cortadas em alguns casos e o recurso do banco de horas tem sido utilizado com frequência. A produção da indústria automobilística caiu 7,5% em abril na comparação com igual mês em 2011. Já no setor de motocicletas, mais sensível às condições de crédito, o efeito já aparece na redução de número de postos de trabalho nas fábricas de Manaus. Segundo o sindicato local, 1,06 mil empregados foram desligados entre janeiro e abril, quase o dobro das demissões de um ano antes (583 pessoas). A Honda, a maior do segmento, com quase 80% do mercado, informa que 591 operários deixaram a fábrica nos quatro primeiros meses do ano e que, devido ao cenário de crédito mais seletivo, só irá repor "eventuais desligamentos voluntários" em momento oportuno. Já a Kasinski realizou um corte de 20% de seu efetivo, o que corresponde a eliminação de 250 vagas, diz o diretor comercial, Rogério Scialo. "Ainda vemos um cenário ruim no segundo semestre", prevê. Segundo ele, apesar do corte nas taxas de juros, os bancos aumentaram os filtros da análise de crédito, agregando informações como endereço de parentes. Segundo a Abraciclo, entidade que representa as montadoras de motos, o financiamento pelas linhas de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) representa 52% das vendas. Apenas 21% dos negócios são fechados à vista e o restante - 27% - é feito por consórcio. "O parcelamento, portanto, é fundamental. Sem ele, o setor emperra", diz José Eduardo Ramos Gonçalves, diretor-executivo da entidade. Só em abril, a produção de motos recuou 18,4% em relação ao mesmo período de 2011, para 145,69 mil unidades. Na mesma base de comparação, as vendas de motos no atacado - do fabricante para a concessionária - caíram 20,2%, totalizando 138,6 mil unidades. Os bancos de montadoras seguiram o rastro das demais instituições financeiras, tanto estatais como privadas, e reduziram, há poucos dias, as taxas de financiamento. Há expectativa no setor de que esse movimento não só estimule as vendas como também traga de volta consumidores com melhor perfil de risco, que ao longo de 2011 tendeu a postergar a compra do carro novo. A maioria dos revendedores, porém, está pessimista em relação aos próximos meses por conta da rigidez que os bancos vêm demonstrando na hora de conceder financiamento. O Valor conversou com cinco concessionárias de diferentes capitais e todos afirmaram que os financiamentos em 60 meses estão cada vez mais escassos. A preferência é por 48 meses. A exigência de 20% de entrada - no mínimo - é também terminante. O corte promovido pelos bancos nas taxas para financiamento de veículos girou em torno de 15% a 20%. Se antes o juro mensal variava entre 1,10% e 1,40%, em média, agora está entre 0,90% e 1,20%. "Houve uma explosão de demanda nos últimos anos mesmo com taxas altas. Não é esse o problema", avalia Marcos Goldstein, da revendedora Saganor, de Fortaleza. Para Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef), as novas taxas deverão cativar clientes de maior renda que, no ano passado, por conta das medidas tomadas pelo governo para "segurar" a inflação, adiaram a troca do veículo. "O inadimplente não será atraído por juro baixo", diz. Até 2009, 60% das propostas aprovadas pelos bancos de montadoras eram de clientes das classes A e B, segundo Carbonari. Atualmente, a participação desse público caiu para 50%. As políticas de concessão de crédito dos bancos permanecerão rigorosas. Segundo Carbonari, também presidente do Banco Volkswagen, apenas 15% das propostas de financiamento para o prazo de 60 meses foram aprovadas, enquanto um ano atrás esse percentual era o dobro (30%). "Por enquanto, [a política de crédito] segue como está. Se a inadimplência diminuir poderemos financiar mais em 60 vezes", diz Carbonari. Quem trabalha no varejo percebe que o poder de compra do consumidor ficou comprometido com financiamentos e crediários tomados em 2011 e inicio de 2012. "A facilidade na aprovação de financiamentos e o incentivo ao consumo passou a ideia de que o Brasil passaria incólume pela a crise", afirma Paulo Pacito. A psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia econômica, lembra que, por falta de experiência, muitos consumidores que compram "para satisfazer o desejo imediato" desconhecem o peso das taxas de cartão de crédito e cheque especial. "Nosso cérebro tende a lidar melhor com o curto prazo. Os milhares de anos em que prevaleceu a cultura da sobrevivência deixaram marcas profundas", destaca. Para ela, o consumidor brasileiro terá de aprender a poupar, uma prática que ganha importância diante do aumento da expectativa de vida. Para a psicanalista, também favorece o consumo exacerbado "o fato de o brasileiro estar em lua de mel com o país que está acontecendo". O resultado é um acúmulo de despesas que antes não faziam parte do orçamento doméstico. Talvez seja por isso que os clientes que hoje passam pelas lojas de veículos estejam mais interessados em se desfazer de uma dívida do que em comprar. O professor e auxiliar de enfermagem Eduardo Morais Pereira vai aproveitar esse fim de semana para continuar procurando uma loja que aceite comprar o seu veículo em troca de um mais velho, mais barato. No ano passado, Eduardo comprou um Audi A3 seminovo em 36 meses. Pagou só sete prestações. Faltam, portanto, mais 29 parcelas de R$ 1,3 mil. A dívida que ele acumula hoje - R$ 38,5 mil - é maior do que vale o carro (R$ 30 mil). Esse não é o primeiro financiamento de carro que ele faz. "Mas antes era muito mais fácil fazer a troca de um carro alienado; não sei porque tudo agora ficou mais difícil", diz. __________________________________________________________________ Para mercado, discurso de Tombini sugere corte maior na Selic Claudia Safatle Mensagens importantes foram transmitidas pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em discurso de abertura do Seminário Anual de Metas para a Inflação, ontem, no Rio. Ele chamou a atenção sobre as várias mudanças produzidas no pós-crise global para os Bancos Centrais, na condução da política monetária, e a avaliação dessa nova fase alertou alguns agentes do mercado. Ressaltou a necessidade de maior transparência na comunicação dos Banco Centrais, para evitar interpretações extremas e mencionou a "grande variância no cenário internacional", que piorou substancialmente nas últimas semanas. Trechos do pronunciamento foram interpretados como um sinal de que o Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 30, pode deixar de lado a "parcimônia" que está na última ata, e baixar a Selic em mais 0,75 ponto percentual, para 8,25% ao ano. Tombini disse que a crise deixou clara a necessidade de os Bancos Centrais serem menos herméticos, mais transparentes, na sua comunicação. Alguns BCs, antes mesmo da crise, já haviam migrado para uma comunicação mais explícita sobre a evolução quantitativa projetada de suas taxas básicas de juros. "Não se trata apenas de fortalecer os mecanismos de formação de expectativas dos agentes, mas também de evitar que interpretações com variância excessiva possam afetar o funcionamento dos mercados", explicou. O agravamento mais recente das condições da economia global está no centro das preocupações do BC. "Basta observar a rapidez com a qual se modificou nas últimas semanas a perspectiva de crescimento nos EUA, a probabilidade de resolução da crise na zona do euro ou até os dados, por vezes contraditórios, sobre o pouso suave na China", disse ele. Diante de grandes incertezas, os Bancos Centrais têm procurado ser mais explícitos em suas comunicações, reiterou o presidente do BC, salientando que essas vêm "acompanhadas com uma repetida mensagem de que esses indicativos sempre estão condicionados ao conjunto de informações disponível a cada momento". Ocorre que atualmente essas informações estão mais voláteis, o que resulta na necessidade da autoridade monetária ajustar-se com maior frequência aos desdobramentos do cenário existente, ponderou. "Ou seja, ao benefício de uma maior transparência na comunicação se contrapõem mudanças mais frequentes nas sinalizações. Mas não penso que por conta disso vamos ou devemos retornar ao hermetismo do passado ou a um estilo de comunicação que permanece em generalidades e perde em precisão. Nesse momento de transição, esse 'trade-off' apenas tende a acarretar um custo reputacional um pouco maior para os Bancos Centrais." Essas declarações levaram agentes do mercado à leitura de que o Copom pode prosseguir no corte maior da Selic, de 0,75 ponto percentual e não 0,5 ponto percentual como induzia a última ata. A Europa voltou para a beira do abismo; a perda de dinamismo da economia chinesa ameaça o crescimento daquele país e os últimos dados de comércio exterior, com queda pronunciada da taxa de crescimento das exportações e das importações, foram especialmente ruins. Os Estados Unidos não reagem e ontem o presidente do Banco Central da Holanda, Klaas Knot, falou em "década perdida" para a Europa. Tombini discorreu, também, sobre a complexa relação entre estabilidade de preços e estabilidade financeira e da revisão sobre a caixa de ferramentas dos bancos centrais no debate pós- crise. Disse que o regime de metas para a inflação continua sendo o melhor arcabouço de política monetária, mas que isso não impede aperfeiçoamentos a partir das lições da crise. "Como, por exemplo, incorporando nos modelos macroeconômicos informações sobre o segmento financeiro, inclusive sobre preços de ativos, bem como sobre política fiscal", completou. Dos debates surge "um pragmatismo", dois instrumentos para dois objetivos. A política monetária deve assegurar a estabilidade de preços e as políticas micro e macroprudenciais devem assegurar a estabilidade financeira. "Contudo, não podemos ignorar que suas ações, seus objetivos e seus impactos apresentam fortes interconexões." __________________________________________________________________ Relator da CPI, petista diz que não se pauta pelo Planalto Fernando Exman O relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), dará início na quinta-feira aos pedidos de quebra dos sigilos fiscais, bancários e telefônicos de pessoas físicas e jurídicas envolvidas no suposto esquema chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos. Além do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), estão na mira do parlamentar a construtora Delta, subempreiteiras citadas nas operações Vegas e Monte Carlo e a indústria farmacêutica Vitapan. Para Odair Cunha, nada muda com a venda da Delta para a holding J&F Participações, controladora da processadora de carne JBS. Os novos donos da construtora não deverão ser convocados à CPI, previu. Mas poderão ajudá-la enviando documentos e o resultado da auditoria que será feita na empresa. Odair Cunha diz ainda não ter como "adjetivar" condutas de jornalistas, e indica que buscará "individualizar" o eventual envolvimento de governadores com o empresário investigado. Segundo o relator, a sessão administrativa da quinta-feira também poderá ser decisiva para a CPI decidir como cobrará explicações do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Mineiro de fala pausada, integrado à ala do partido liderada pelos ex-ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci, do governo Lula, Odair Cunha destaca que uma pergunta central que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito deve responder é qual foi o papel da Delta Construções na organização comandada por Ramos. Conhecido como Carlinhos Cachoeira, o empresário goiano foi preso pela Polícia Federal sob a acusação de chefiar um esquema ilegal de jogos de azar com conexões no setor público e na iniciativa privada. "Precisamos ter os dados dessas pessoas [físicas e jurídicas] para fazer uma análise mais segura do envolvimento delas ou não com a organização", justificou Odair Cunha ao Valor. "Estamos investigando fatos pretéritos, ações criminosas praticadas no passado e qual o papel que a Delta tinha na organização criminosa. A questão central é: qual o papel da Delta na organização criminosa? Ela lavava dinheiro? Ela era instrumento para cooptar agentes públicos e corrompê-los para os fins específicos da organização?" No entanto, o relator se esquiva quando perguntado se há motivos para o governo Dilma Rousseff se preocupar com os desdobramentos das apurações em relação à atuação da Delta. Uma das apostas da oposição é justamente explorar eventuais irregularidades em contratos executados pela Delta no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conjunto de obras prioritárias do governo federal. Cunha assegura que não mantém articulações com o Palácio do Planalto em relação à CPI. "Eu, não." Ele acrescentou que se preocupava integralmente com os interesses do Executivo quando ocupava a vice-liderança do governo na Câmara. Agora, concluiu, quer descobrir qual o nível de influência dessa organização em governos municipais, governos estaduais e junto a órgãos do governo federal. "Como relator, não tenho que me preocupar com a repercussão da investigação sobre o governo. O governo responde por si, pelos seus atos e suas relações", destacou o petista. A Delta nega o envolvimento com irregularidades. Mesmo assim, a empresa estará no centro das investigações relativas ao eventual envolvimento de governadores com o grupo de Cachoeira. Por enquanto, os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), ocupam o centro das atenções na CPI. No entanto, outros governadores que contrataram a Delta também foram citados nas operações da Polícia Federal. Todos negam a prática de crimes. "Tem que ver se o núcleo da organização criminosa usou a Delta para chegar a Estados e corrompeu pessoas", sublinhou o relator, que integra a ala de parlamentares governistas contrária à paralisação imediata das obras do governo federal tocadas pela Delta. A empreiteira é investigada pela Controladoria-Geral da União (CGU). Se considerada culpada, será proibida de fechar contratos com a administração pública federal. "Vamos investigar todas as pessoas e instituições que se envolveram com a organização criminosa. Vamos individualizar condutas. Não há generalização", destacou o petista. "Porque um governador foi citado necessariamente ele não precisa vir depor na CPI. É preciso fazer uma análise específica da conduta de cada governador em relação à organização criminosa." Na entrevista concedida em seu gabinete, cuja entrada é decorada com fotos de sua atuação parlamentar e na companhia da presidente Dilma Rousseff e aliados, como o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Luiz Dulci, Odair Cunha também reforçou a cobrança de integrantes da CPI por explicações do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A comissão quer saber se Gurgel atrasou deliberadamente investigações da Polícia Federal que atingiriam o senador Demóstenes Torres, que antes do escândalo era um dos mais ativos oposicionistas do DEM. Cunha lembrou que a Operação Vegas foi enviada à Procuradoria-Geral da República e lá permaneceu durante três anos sem que Gurgel requisitasse à PF novas diligências, arquivasse ou pedisse a abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal. O petista disse que é preciso saber qual o procedimento foi tomado pelo procurador-geral. "Essa pergunta precisa ser respondida. A forma da resposta nós vamos discutir até o dia 17, na próxima reunião administrativa", sublinhou o relator. "O que eu estou preocupado é com a resposta. Estou menos preocupado se convoca, se convida ou se ele manda uma carta. A forma não muda o resultado." Perguntado qual seria uma resposta aceitável, Cunha citou o instituto da "ação controlada", medida que permitiria o retardamento da ação policial para que a obtenção de provas fosse mais eficaz. "Ele pode se valer desse instituto, que requer decisão judicial, e ter esperado mais provas. É uma resposta. Ele tem que agir nos ditames da lei, ele tem instrumento legal para suspender ou sobrestar um processo de investigação. Ele precisa mostrar qual o instrumento legal ele utilizou", afirmou o petista. Na quarta-feira, o procurador-geral da República afirmou que integrantes da CPI buscam fragilizá-lo a fim de prejudicar sua atuação no julgamento do mensalão, que deve ser pautado em breve pelo Supremo. Assim como nega já ter encontrado indícios de que o grupo de Cachoeira financiou campanhas eleitorais, Odair Cunha diz que até agora não tem como concluir se há alguma conduta ilegal no contato de jornalistas com integrantes do esquema. "Nessa altura das investigações, nós não temos elementos para adjetivar o comportamento deste ou daquele jornalista", resumiu. "Eu não estou investigando a imprensa nem a mídia, os meios de comunicação como um todo. Estou investigando condutas individuais que podem ter sido criminosas. Não posso criar adjetivos agora para dizer se foram ou se não foram." Odair acrescentou que ainda não decidiu se irá requerer já no dia 17 quebra de sigilos de jornalistas e dos deputados federais citados nas investigações, como Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Rubens Otoni (PT-GO). "Estamos avaliando." __________________________________________________________________ Ruralistas lançam ofensiva contra vetos Daniela Martins Apoiada por 13 partidos na Câmara, a bancada ruralista apresentou ontem um projeto que restabelece as Áreas de Preservação Permanente (APPs) no Código Florestal, amplia as situações de "anistia" a quem derrubou florestas além do permitido e prevê indenização aos produtores familiares obrigados a recompor matas ciliares à beira de cursos d'água. O texto é uma tentativa de restabelecer pontos retirados do novo Código Florestal, aprovado na Câmara há duas semanas, mas ainda não sancionado pela presidente Dilma Rousseff. E também de evitar vetos. O projeto dos ruralistas, costurado pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), também apresenta um pedido de urgência para sua votação. O texto é apoiado por PMDB, PP, PSD, PSDB, PDT, PTB e do bloco PR-PTdoB-PRP-PHS-PTC-PSL-PRTB. Candidato a comandar a Câmara em 2013, Henrique Alves disse que pretende preencher as "lacunas" do texto enviado à Dilma. "Algumas questões não podiam ser aperfeiçoadas. Não era ideal o texto da Câmara ou a proposta integral do Senado", disse, em referência ao novo Código aprovado na Câmara. Alves estimou que o texto teria hoje 306 votos, mas que chegará a 350 se PMN, PSC e PHS apoiarem a proposta. Assim, o novo texto teria suporte superior aos 274 votos recebidos pelo relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) no fim de abril. O novo texto prevê ampliação da "anistia" a desmatamentos ilegais ao propor que valeria a partir da publicação da lei o benefício aos produtores que derrubaram além do permitido até julho de 2008. A bancada ruralista argumenta que o texto do novo Código Florestal só anistia o produtor depois do registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR) - o que poderia abrir brechas para multas antes dessa etapa. O texto também estabelece indenização do governo federal aos produtores de imóveis rurais de até quatro módulos fiscais (de 20 a 400 hectares, segundo a região do país) que tenham atividades produtivas em Áreas de Preservação Permanente (APPs). São os polêmicos benefícios às chamadas áreas consolidadas. Além disso, o projeto fixa as faixas de recomposição obrigatória da vegetação em margens de rios, também consideradas como APPs. Pelo novo projeto, cursos d'água com largura de até cinco metros terão área de preservação mínima de cinco metros em cada margem. Para rios com largura entre cinco e dez metros, a APP mínima será de 7,5 metros. A recuperação obrigatória em rios de 10 a 30 metros deverá ser de dez metros. Além disso, cursos d'água com largura superior a 30 metros, a recomposição terá que ser igual à metade da largura do rio até o limite máximo de 100 metros de cada lado da margem. A única regra de recomposição para imóveis com áreas consolidadas em APPs nas margens de rios que está no texto aprovado pelo Congresso é mais dura que a prevista no projeto: prevê APP de 15 metros para rios de até dez metros de largura. A nova proposta dos ruralistas fixa também que a recuperação de nascentes em APPs "somente poderá ser exigida" após avaliação do órgão ambiental local. A recomposição nessas áreas não deverá ultrapassar o limite de 30 metros de raio. O texto prevê, ainda, que o limite máximo de recomposição nas pequenas propriedades com áreas consolidadas em APPs será de 50% na Amazônia Legal e de 20% nas demais regiões do país. O Globo __________________________________________________________________ Tentativa mensaleira de manipular a CPI (Editorial) Fariam melhor se ajudassem a CPI a mapear o crime organizado Continuam as manobras de facções radicais do PT, ligadas aos mensaleiros, para usar a CPI do Cachoeira com objetivos sem qualquer relação com o escândalo da montagem de uma rede de influência em todos os poderes da República pelo bicheiro goiano. Uma das intenções é constranger o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por ser ele o responsável pelo encaminhamento da denúncia do Ministério Público Federal contra os envolvidos no esquema de troca de dinheiro sujo — inclusive público — por apoio parlamentar ao governo, na primeira gestão de Lula. Estes grupos começaram a pressionar Gurgel quando, no estouro do escândalo, com a descoberta da proximidade entre Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), foi noticiado que o procurador-geral recebera em 2009 o inquérito da Operação Las Vegas, da PF, e nada fizera. Nele já havia registros da afinidade da dupla. Instalada a CPI, as facções partiram para tentar uma convocação de Gurgel ou convite. Não importava, contanto que o procurador-geral da República comparecesse perante os holofotes da comissão, para certamente ouvir toda sorte de provocações de representantes dos mensaleiros. O procurador já explicara ter mantido o primeiro inquérito no gabinete, para que seu conhecimento público não prejudicasse as novas investigações da PF, na sequência da Operação Las Vegas. Além disso, afirmou, não havia bases sólidas para o indiciamento de Demóstenes. Não há por que rejeitar a explicação lógica de Gurgel, pois, de fato, a operação seguinte, a Monte Carlo, foi um sucesso. A CPI e o início do processo de cassação do senador são a prova. No primeiro depoimento tomado pela comissão, o delegado da PF Raul Alexandre Marques Souza confirmou o envio do inquérito ao procurador e a decisão dele de nada fazer naquele momento. E, com isso, as pressões sobre Gurgel voltaram. Na quarta-feira, o procurador-geral foi claro: “Há protetores de réus (do mensalão) como mentores disso”. Ou seja, da campanha para levá-lo à CPI. Como o objetivo é político e de constrangimento pessoal, não adiantou, também, Gurgel explicar que, por lei, não pode falar sobre inquéritos sobre os quais se pronunciará como procurador da República. Também é de fundo político-ideológico a definição por esta facção radical, minoritária no PT, de um segundo alvo na CPI: a imprensa independente. O fato de Cachoeira ter sido fonte de denúncias publicadas pela revista “Veja” contrárias a interesses do grupo leva à tentativa de conversão da comissão num exótico tribunal de julgamento do jornalismo profissional. Parece uma forma de buscar alguma vantagem no “tapetão” político depois que as tentativas institucionais de manietar a imprensa se frustaram. Dilma, como Lula, se mantém distante dessas aventuras, numa demonstração de maturidade. Acima de tudo, o Brasil já demonstrou que tem instituições em pleno funcionamento, capazes de defender a Constituição, na qual é estabelecido como cláusula pétrea o direito à liberdade de imprensa e expressão, entendimento reafirmado não faz muito tempo pelo Supremo. Fariam melhor os radicais se gastassem seu tempo fazendo a CPI funcionar para de fato mapear as conexões do crime organizado dentro do Estado brasileiro. Agência Brasil __________________________________________________________________ Indústria registra queda na produção em cinco das 14 regiões pesquisadas em março pelo IBGE Paulo Virgilio Brasília - A produção industrial brasileira registrou em março queda em cinco dos 14 locais pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com três estados apresentando uma queda acima da média nacional para o período (-0,5%). De acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal Produção FísicaRegional, divulgados ontem (10), a queda na comparação com fevereiro foi de 1,3% na Bahia, 0,7% em Minas Gerais e 0,7% em Santa Catarina. No maior parque fabril do país, São Paulo, a taxa negativa foi 0,3%, inferior, portanto, à média nacional. Já no confronto com março de 2011, as perdas mais intensas foram verificadas em São Paulo (-6,2%) e Santa Catarina (-6%). Rio de Janeiro e Espírito Santo, ambos com uma queda de 2,4%, também registraram recuos maiores que a média nacional nesse tipo de comparação (-2,1%). De fevereiro para março, os indicadores regionais da produção industrial assinalam resultados positivos no Paraná (9,8%), em Goiás (6,7%) e no Amazonas (6,5%). Os três estados haviam apresentado quedas expressivas de produção no mês anterior, chegando a 8% no Amazonas e a 7,4% no Paraná. Rio Grande do Sul (2,6%) e Rio de Janeiro (2,5%) também tiveram desempenho positivo mais acentuado em março. Na comparação com março de 2011, Goiás, com 24%, e Paraná (15%) apresentaram as expansões mais acentuadas. De acordo com o IBGE, esse crescimento ocorreu devido à maior produção do setor de produtos químicos, no primeiro estado, e de edição e impressão, no segundo. No indicador acumulado para o primeiro trimestre de 2012, a queda na produção industrial ocorreu em oito dos 14 locais pesquisados pelo IBGE. Na média nacional, houve uma perda de 3%, mas quatro estados ficaram acima dessa taxa: Rio de Janeiro (-6,8%); São Paulo (-6,2%); Santa Catarina (-5,9%) e Ceará (-4,3%). Segundo o IBGE, o desempenho da indústria nos oito estados que registraram taxas negativas reflete a redução na fabricação de bens de consumo duráveis (automóveis, motos, aparelhos de ar condicionado, telefones celulares) e bens de capital (caminhões), além de uma menor produção também nos setores extrativo (minério de ferro), têxtil, vestuário e metalurgia básica. Já os resultados positivos mais acentuados no trimestre foram registrados em Goiás (18,8%), na Bahia (8%) e no Paraná (7,4%). De acordo com o IBGE, isso ocorreu devido, respectivamente, à maior produção de medicamentos, resinas termoplásticas e livros e impressos didáticos. __________________________________________________________________ Acidentes de trabalho mataram 464 pessoas no estado de São Paulo em 2011 Daniel Mello São Paulo – Os acidentes de trabalho mataram 464 pessoas no estado de São Paulo ao longo de 2011, em uma média de mais de um caso por dia. Segundo balanço da Divisão de Saúde do Trabalhador da Vigilância Sanitária Estadual, foram notificados 55,4 mil acidentes ocupacionais durante todo o ano passado. As principais causas das mortes durante o trabalho foram os acidentes de trânsito, as quedas de edifícios, a exposição à corrente elétrica e o impacto causado por objetos lançados, projetados ou em queda. Do total de acidentes notificados, 48% foram classificados como graves, fatais ou em menores de 18 anos. Cerca de 25,5% das intoxicações têm causas externas e 20,1% foram provocadas por materiais biológicos. Há ainda registros de câncer relacionado ao trabalho, transtorno mental e perda auditiva induzida por ruído. Ocorrências de menor gravidade não precisam ser notificadas aos gestores municipais de saúde. Para a diretora da Divisão de Saúde do Trabalhador, Simone Alves dos Santos, a maior parte das fatalidades poderia ter sido evitada. “Praticamente todos os acidentes aconteceram em situações previsíveis e preveníveis”, ressaltou. Simone considera o número de mortes em acidente ocupacionais preocupante. Desde 2006 foram registradas 1,75 mil ocorrências desse tipo. De acordo com ela, a partir das notificações, são realizadas investigações, com inspeções nos locais de trabalho para averiguar as condições de segurança. “É no processo de investigação que são caracterizadas as situações de risco”, ressalta. Com a identificação dos problemas, a divisão atua com o objetivo de prevenir novos casos. “A busca é sempre pela modificação da situação de trabalho”, destaca a diretora. Além disso, Simone diz que as estatísticas envolvendo os acidentes estão sendo aprimoradas para nortear políticas públicas que diminuam essas ocorrências. __________________________________________________________________ Conselho pede fim da reserva de leitos em hospitais públicos para planos de saúde Carolina Pimentel Brasília – Resolução do Conselho Nacional de Saúde, aprovada ontem (10), pede à Justiça de São Paulo que considere ilegal lei estadual que reserva 25% dos leitos dos hospitais públicos, administrados por organizações sociais, a usuários de planos de saúde. Na próxima terça-feira (15), o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) irá julgar mérito de recurso apresentado pelo governo de São Paulo para manutenção da lei, contestada pelo Ministério Público estadual na justiça. Nas primeira e segunda instâncias, os juízes concederam liminares suspendendo os efeitos do decreto. Para o conselheiro Jorge Venâncio, os pacientes irão aguardar ainda mais tempo por atendimento na rede pública se o decreto vigorar. Atualmente, a espera por uma consulta básica na cidade de São Paulo é, em média, de 4 meses, e para serviço especializado, cerca de 1 ano, conforme o conselheiro. “Retirar 25% desse espaço público para ceder aos planos de saúde só pode piorar a situação, não tem como melhorar. Essa medida é prejuízo grave para o usuário do SUS se implantada. Esperamos que a justiça mantenha o bom senso que teve até agora”, disse Venâncio, representante do segmento dos usuários do SUS no conselho. O conselho argumenta ainda que a lei favorece a prática de “dupla porta” de entrada, “selecionando beneficiários de planos de saúde privados para atendimento nos hospitais públicos, promovendo, assim, a institucionalização da atenção diferenciada com preferência na marcação e no agendamento de consultas, exames e internação e melhor conforto de hotelaria”. A lei foi aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo e regulamentada por decreto assinado pelo governador Geraldo Alckmin, em julho do ano passado. O decreto diz que as entidades não devem dar preferência aos clientes dos planos privados em detrimento de outros usuários. E prevê que as instituições devem cobrar dos planos ressarcimento pelo atendimento de seus segurados “para serem aplicados na melhoria e na oferta de serviços do Sistema SUS, observadas as diretrizes fixadas pela Secretaria da Saúde”. __________________________________________________________________ Empresas paulistas fornecem dados falsos sobre autorizações judiciais para trabalho infantil, diz auditora Alex Rodrigues Brasília – A Superintendência do Ministério do Trabalho e Emprego em São Paulo decidiu, no mês passado, checar todos os casos das empresas paulistas que informaram ter contratado funcionários com menos de 16 anos de idade graças à obtenção de autorizações judiciais. Segundo a coordenadora do projeto de combate ao trabalho infantil da superintendência paulista, Carolina Vanderlei Castro de Almeida, só em 2010, as empresas paulistas informaram a existência de 2.597 autorizações judiciais. Desse total, 329 envolviam jovens da capital do estado, por onde os auditores começaram o trabalho de inspeção por amostragem. De acordo com Carolina, dos 100 registros de permissões já checados, nenhum foi confirmado. “Ficamos um pouco surpresos com o número de alvarás judiciais existentes informados pelas empresas. É um número tão grande que decidimos estabelecer um percentual de amostragem que pretendemos fiscalizar até setembro. Ainda estamos no início dos trabalhos, mas das 100 autorizações que já inspecionamos, nenhuma existe de fato”, adiantou Carolina, sugerindo que o resultado inicial indica que o número total de autorizações com que o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho vêm lidando pode não corresponder à realidade. Em outubro do ano passado, a Agência Brasil noticiou a existência de 33 mil autorizações judiciais de trabalho infantil. São Paulo ocupava o primeiro lugar no ranking de estados. Os dados fazem parte da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) fornecidos por empresas de todo o país entre os anos de 2005 e 2010. De acordo com a coordenadora, isso ocorre porque muitas das empresas forneceram informações erradas sobre seus empregados. “Uma empresa declarou ter contratado um motorista de apenas 11 anos com a autorização de um juiz. Também encontramos vários casos de pessoas cuja data de nascimento foi registrada errada. É um erro de digitação. O problema é que, quando isso acontece, o sistema [de preenchimento da Rais] pergunta se há o alvará judicial. O responsável então simplesmente diz que sim e envia a Rais”, disse Carolina à Agência Brasil. “O erro de digitação pode ser displicência, mas responder que tem uma autorização judicial em vez de corrigir o erro é fornecer informação falsa, uma infração passível de ser multada”, ponderou a coordenadora, acrescentando que os auditores identificaram um menor de idade trabalhando sem autorização judicial. “Já autuamos 26 empresas que informaram ter um alvará e que não tinham e esse auto de infração podem se tornar uma multa do Ministério do Trabalho”. A Constituição Federal proíbe a contratação de menores de 16 anos (salvo na condição de menor aprendiz, a partir de 14 anos) e veda a presença de menores de 18 anos em ambientes perigosos ou insalubres, incluindo o trabalho noturno. Carta Maior __________________________________________________________________ Os encontros entre Policarpo, da Veja, e os homens de Cachoeira Levantamento feito a partir de documentos da Operação Monte Carlo indicam que o editor da revista Veja esteve, pelo menos, 10 vezes com o contraventor Cachoeira e membros de sua organização. Em geral, os temas dessas conversas acabaram se transformando em matérias da revista. Operação no Hotel Nahoum, que envolveu tentativa de invasão do quarto de José Dirceu, também foi tema dessas conversas. Vinicius Mansur Brasília - Um levantamento do inquérito 3430, resultado da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), indica que o editor da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e a quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira se encontraram presencialmente, pelo menos, 10 vezes. Só com Cachoeira foram 4 encontros. O número pode ser maior, uma vez que a reportagem de Carta Maior teve acesso apenas ao apenso 1 do inquérito, com 7 volumes. Entretanto, existem mais dois apensos que, juntos, tem 8 volumes. O primeiro destes encontros foi marcado para o dia 10 março de 2011. Em ligação telefônica no dia 9 daquele mês, às 22:59, Cachoeira diz ao senador Demóstenes Torres (então do DEM, hoje sem partido): “É o seguinte: eu vou lá no Policarpo amanhã, que ele me ligou de novo, aí na hora que eu chegar eu te procuro.” No dia 27 de abril, Cachoeira anunciou ao diretor da construtora Delta no CentroOeste, Cláudio Abreu, outro encontro com o jornalista. Sobre a ligação, interceptada às 07:19, o inquérito da PF relata: “Carlinhos diz que vai almoçar com a prefeita de Valparaíso e com Policarpo da revista Veja”. Às 09:02, o contraventor avisa a Demóstenes do almoço com Policarpo: “Eu vou almoçar com o Policarpo aí. Se terminar o almoço e você estiver lá no apartamento eu passo lá.” O senador respondeu: “Ok... o Policarpo me ligou, tava procurando um trem aí. Queria que eu olhasse pra ele algumas coisas. Pediu até pra eu ligar para ele mais tarde, não quis falar pelo telefone”. Nesta mesma conversa, Demóstenes pediu conselhos a Cachoeira sobre sua mudança de partido. Cachoeira afirmou que “esse DEM já naufragou” e disse: “Tem que ir pro PMDB, até pra virar do STF né?” O terceiro encontro: o alvo é Zé Dirceu, não a Delta A partir do dia 7 de maio de 2011, aparecem conversas da quadrilha de Cachoeira sobre a reportagem “O segredo do sucesso”, assinada por Hugo Marques e publicada pela revista Veja na edição 2216, daquele mesmo fim de semana. A matéria relaciona o crescimento da empresa Delta com os serviços de consultoria de José Dirceu. Em ligação do dia 8 de maio, às 19:58, Cachoeira diz a Cláudio Abreu que Demóstenes vai trabalhar nos bastidores do Senado para abafar a reportagem. No dia 9, às 23:07, Cláudio pergunta ao bicheiro se ele irá “no almoço com aquele Policarpo” no dia seguinte. Cachoeira responde: “Ah o Policarpo eu encontro com ele em vinte minutos lá no prédio, é rapidinho”. No dia 10, às 14:43, Cachoeira conversa com Cláudio. O resumo da ligação feito pela PF diz: ”Carlinhos conta a Cláudio sobre a conversa que teve com Policarpo, da Veja, a respeito da reportagem que saiu na revista no último final de semana”. Em outra ligação, no dia 11, às 09:59, Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, tido pela PF como braço direito de Cachoeira, conta ao bicheiro que conversou com o repórter da Veja, Hugo Marques, que lhe revelou que o alvo de sua reportagem era “Zé Dirceu e não a Delta”. O quarto encontro foi com Cláudio Abreu. No dia 29 de junho de 2011, às 19:43, Cláudio disse a Cachoeira que esteve com Policarpo e passou informações sobre licitação da BR 280. As informações foram parar na reportagem “O mensalão do PR” , publicada na edição 2224 da revista Veja, dando origem as demissões no Ministério dos Transportes. No dia 7 de julho, às 09:12, Cláudio conta a Cachoeira que “o JR” quer falar com ele. Cachoeira: “Que que é JR?” Cláudio: “PJ, né amigo.” Cachoeira: “PJ?” Cláudio: “Pole.” Cachoeira: “O que?”. Cláudio: “Engraçado lá, Carlinhos. Policarpo, porra.” No dia 26 de julho de 2011, Policarpo perguntou a Cachoeira, em telefonema às 19:07, como fazer para levantar umas ligações entre o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) e “gente da Conab”. No dia 28, às 17:19, uma ligação interceptada pela PF entre Jairo Martins, o araponga de Cachoeira, e uma pessoa identificada apenas como “Editora Abril” é sucintamente resumida pela palavra “encontro”. No fim de semana seguinte a revista é publicada com a reportagem “Dinheiro por fora”, trazendo informações sobre o financiamento de campanha de Jovair e de outros políticos de Goiás por empresa favorecida pela Conab. Invadindo o hotel Naoum No dia 2 de agosto de 2011, às 10:46, Jairo Martins, marca encontro por telefone “no Gibão do Parque da Cidade” com “Caneta”, identificado inicialmente pela PF como alguém da Editora Abril. Às 12:04, Jairo informa a Cachoeira que irá almoçar com “Caneta” às “15 pra uma” para tratar “daquela matéria lá (...) que ta pronta”. Às 14:30, o araponga informa ao bicheiro que “Caneta” quer usar imagens do hotel “pra daqui a duas semanas, que naquele período que ele me pediu, o cara recebeu 25 pessoas lá, sendo que 5 pessoas assim importantíssimas” (sic). Ele também se mostra preocupado e diz que o combinado era não usar as imagens. Cachoeira diz: “Põe ele pra pedir pra mim”. Às 21:03, Cachoeira revela a identidade de “Caneta”. O contraventor conta a Demóstenes: “...o Policarpo vai estourar aí, o Jairo arrumou uma fita pra ele lá do hotel lá, onde o Dirceu, Dirceu, é, recebia o pessoal na época do tombo do Palocci”. Segundo Cachoeira, Policarpo pediu para “por a fita na Veja online”. No dia 4, às 17:18, Cachoeira fala com Policarpo ao telefone e pede para ele ir encontrar Cláudio Abreu, da Delta, que está esperando. Às 17:31, Cachoeira diz para Claudio mandar Policarpo soltar nota de Carlos Costa. Às 17:47, Cláudio pergunta onde a nota deve ser publicada. Cachoeira diz que no “on-line já ta bom”, mas “se for na revista melhor”. Às 18:37, o bicheiro informa ao diretor da Delta que Policarpo “está com um problema sério na revista”, pediu para desmarcar o encontro e receber a nota por email. No dia 10 de agosto, às 19:11, Cláudio conta ao chefe da quadrilha que estará em Brasília no dia seguinte para falar com “PJ”. No mesmo dia, às 19:22, Jairo e Policarpo combinam por telefone um “encontro no churrasquinho”. Às 20:41, Jairo e Cachoeira falam sobre liberação das imagens. No dia 11, às 08:58, Carlinhos fala a Demóstenes que almoçará com Policarpo. O resumo de uma ligação às 14:09, entre Cachoeira e Cláudio, afirma que “Carlinhos está no Churchill, possivelmente com Policarpo Júnior”. Às 20:05, em conversa com Demóstenes, Cachoeira conta que encontro com Policarpo foi para ele “pedir permissão para o trem lá do Zé”. No dia 15, às 10:12, Cachoeira orienta Jairo para “matar a conversa com Policarpo”: “Nós temos que pedir aquele assunto para ele.” Às 19:04, Policarpo marca encontro com Jairo “em 10 minutos no espetinho”. O resumo de uma ligação entre os dois às 19:26 diz “encontro”. O resumo de uma ligação às 12:45 do dia 16 descreve: “Carlinhos diz que liberou, que só falta ele liberar. Jairo diz que falta pouca coisa. Acha que hoje ele libera.” No fim de semana de 27 e 28 de agosto de 2011, a revista Veja deu uma capa com o título “O Poderoso Chefão”, em alusão a influência que o ex-ministro José Dirceu ainda tinha sobre o PT e o governo de Dilma Rousseff. A reportagem trouxe imagens de vários políticos visitando Dirceu dentro do Hotel Naoum, onde ele se hospedava em Brasília, afirmando que Dirceu articulou a queda do então ministro da Casa Civil, Antônio Palloci. O repórter da Veja, Gustavo Ribeiro, foi acusado de tentar invadir o apartamento de Dirceu. A polícia também investiga como as imagens do circuito interno do hotel foram capturadas. __________________________________________________________________ Jornalista expõe vínculos entre grupo Murdoch e governo de David Cameron O depoimento do jornalista Andy Coulson perante a Comissão Leveson, que investiga a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, desnudou nesta quinta-feira os vínculos entre o grupo multimidiático Murdoch e o governo do primeiro ministro David Cameron. O ex-chefe de imprensa de Cameron e ex-editor da extinta publicação sensacionalista “News of the World” expôs conflitos de interesse que mostram que governo foi, no mínimo, negligente. O artigo é de Marcelo Justo. Marcelo Justo - De Londres A Comissão Leveson, que investiga a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, desnudou nesta quinta-feira os vínculos entre o grupo multimidiático Murdoch e o primeiro ministro David Cameron. O ex-chefe de imprensa de Cameron e o ex-editor da extinta publicação dominical sensacionalista “News of the World”, Andy Coulson, reconheceu ante a Comissão que tinha cerca de 70 mil dólares em ações na companhia dos Murdoch, News International, e que assistiu a reuniões dos organismos máximos de segurança do governo, sem se submeter à checagem de segurança estabelecida para os funcionários de alto nível. “Nunca me perguntaram se eu tinha ações e como eu sabia que não estava envolvido em nenhuma atividade comercial, nem na oferta pela BSkyB, nunca me ocorreu que poderia haver aí um conflito de interesse”, justificou-se Coulson. O conflito de interesse era óbvio. Em junho de 2010, um mês depois de formada a coalizão conservadora-liberal democrata, o grupo Murdoch, que controlava 39,1% das ações da BSkiB, realizou uma oferta pelo resto do pacote acionário da cadeia televisiva. A oferta gerou uma intensa polêmica pelo impacto que podia trazer sobre a liberdade de imprensa e obrigou o governo a pedir a intervenção da agência regulador dos meios de comunicação, OFCOM. Naquele momento, Coulson era responsável pela elaboração da agenda midiática governamental. Segundo as regras ministeriais, Coulson deveria ter informado ao secretário de gabinete Gus O’Donnel sobre seu vínculo com a News Corp, mas o fato de não fazê-lo não é um mero problema individual. O governo, que tem uma série de códigos e mecanismos para intervir nestes temas, aparece, no mínimo, como negligente. A Comissão Leveson encontrou uma segunda instância em que não se aplicou a Coulson o rigoroso sistema de verificação pessoal e financeira ao qual são submetidos todos os funcionários de alto nível governamental antes que assumam seus postos. Coulson reconheceu ante a Comissão que teve acesso a segredos de estado durante o período em que trabalhou como chefe de imprensa de Cameron. Os ministros e funcionários com acesso a este tipo de informação têm que ser autorizados por um sistema interno de checagem que procura esclarecer se tem algum “esqueleto no armário”, seja em nível ideológico, de conexões suspeitas ou que os torne passíveis de extorsão. Até o momento, Downing Street (residência oficial do governo) insistia que Coulson tinha recebido o nível apropriado de autorização para seu cargo. Segundo o próprio Coulson admitiu à Comissão nesta quinta, ele tinha na verdade, um nível muito mais baixo e genérico que o requerido para ter acesso a operações antiterroristas ou a segredos militares sobre o Afeganistão. Esse relaxamento é mais surpreendente se se leva em conta sua história prévia. O hoje ex-chefe de imprensa de Cameron renunciou como editor do “News of the World” em 2007, logo depois de a justiça ter condenado um jornalista e um detetive privado que trabalhavam para a publicação dominical, por sua participação no escândalo das escutas telefônicas. Como editor de um jornal que se caracterizou durante anos por expor a roupa suja ou trivialidades da monarquia, dos políticos, artistas e celebridades, Coulson tinha potencialmente vários “esqueletos no armário”. Apesar disso, foi nomeado por Cameron logo depois de sua renúncia como chefe de imprensa do Partido Conservador. Em seu testemunho ante a Comissão, Coulson negou que isso tenha tido algum vínculo com a política da News Corp que, até então, apoiava o Novo Trabalhismo, mas que dois anos depois de sua nomeação declarou seu apoio a Cameron. É difícil determinar se, neste momento, Coulson era representante de Murdoch ante Cameron ou de Cameron ante Murdcoh, mas se suspeita que, por seus contatos com a New Corp era, no mínimo, uma peça essencial para azeitar os vasos comunicantes entre ambos. Suas declarações abrem cada vez mais interrogações sobre o primeiro ministro que, nesta sexta-feira, ficará exposto outra vez quando Rebekah Brooks, ex-executiva da News International, o braço britânico da News Corp, comparecerá ante a Comissão. Opovo.com.br __________________________________________________________________ MP reage à demolição O Ministério Público Estadual informa para esta Vertical que, por meio do promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Controle Urbano, Raimundo Batista de Oliveira, está apurando a responsabilidade de quem determinou a demolição da Chácara Flora, situada na rua Marechal Deodoro (Bairro Benfica). Essa chácara passava por um processo de tombamento e estava sob proteção do município de Fortaleza. A Construtora e Imobiliária Douglas demoliu a Chácara Flora em 30 de dezembro de 2011 e acabou multada pela Seman em R$ 844.200,00. Raimundo Batista cobra principalmente explicações da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). Segundo o promotor, a própria Secultfor havia participado do processo de tombamento da Chácara Flora e teria comunicado os representantes da Regional IV a respeito da situação. Mesmo assim, a construtora foi autorizada a executar a obra. LIÇÃO DE PROTESTO Professores da UFC e Unilab vão paralisar atividades na próxima terça-feira. Hora de protestar contra a União, que não promoveu ainda a reestruturação de carreiras, o que gera também perdas salariais. Pode vir greve em junho. MARCHA DA POLÊMICA Fortaleza terá amanhã uma “Marcha pela Legalização da Maconha”. A concentração ocorrerá a partir das 14 horas, no aterro da Praia de Iracema, de onde manifestantes sairão com destino ao calçadão da Beira Mar. BÚSSOLA Problemão na sinalização turística da rua Antônio Pompeu, Centro (foto). Indica rota para a B-222, mas troca o “Litoral Oeste” pelo “Litoral Leste”. Quem não conhece a cidade acaba mais perdido do que turista de primeira viagem. NERVOSOS Vereadores do PMDB estão desesperados com a possibilidade de rompimento do PT com o PSB. Isso, porque o PMDB acompanharia o PSB de Cid Gomes e essa turma acabaria tendo que ser infiel ou entregar cargos que lhe dão respaldo eleitoral. A FILA ANDA Os juízes Luiz Evaldo Gonçalves Leite e Francisco Gomes de Moura tomam posse hoje, às 17 horas, como desembargadores - critérios de merecimento e antiguidade respectivamente. Mas já surgiu nova vaga: a do desembargador José Maria dos Martins Coelho vai para a compulsória. DILMA DA CUT O presidente nacional da CUT, Artur Emílio, participará hoje do congresso estadual da entidade, que ocorrerá até sábado, em Beberibe. Joana Almeida, líder rural de Crateús, pode ser eleita a presidente da CUT/Ceará. BARRADO NO BAILE O deputado federal Danilo Forte lamenta que a pesquisa do Ibope, encomendada pelo PSB, sobre sucessão em Fortaleza, não tenha incluido o seu PMDB. HORIZONTAIS A Ceasa realiza a Feira Flor, com espécies variadas, que podem servir de presente para as mães. O encontro estadual de amanhã do PDT, na Câmara Municipal, terá sabor especial para o presidente municipal Papito de Oliveira. Ele vai comemorar 26 anos de filiado e se define como “brizolista” de primeiro costado. Só lembrando: “Bom não deixar pra última hora a compra do presente da mamãe!” SOBE CÂMARA Municipal de Fortaleza, que estende o “Ficha Limpa” para cargos comissionados DESCE CIDADÃOS que não permitem acesso a sua casa dos agentes de saúde que combatem a dengue Rádio Web – Jornal Brasil Atual __________________________________________________________________ Artur Henrique, presidente da CUT será homenageado por metalúrgicos do ABC nesta sexta-feira O presidente da CUT Nacional, Artur Henrique, será homenageado com o prêmio João Ferrador neste ano, personagem-símbolo dos metalúrgicos do ABC. A premiação foi criada em 2009 para, segundo o sindicato, homenagear personalidades e entidades que contribuem para a promoção da cidadania, dos direitos humanos e sociais, da Justiça e da democracia http://www.redebrasilatual.com.br/radio/programas/jornal-brasilatual/artur-henrique-presidente-da-cut-sera-homenageado-pormetalurgicos-do-abc-nesta-sexta-feira/view Giro pelos blogs Blogcidadania.com.br __________________________________________________________________ O cheiro fétido das instituições Ontem foi um dia duro para a democracia brasileira. Descobrimos o que fundamenta a ousadia e a arrogância desmedidas dessas máfias da comunicação e a razão do estado de miséria em que se encontram as nossas instituições. Sabemos agora por que gangsteres empresariais, políticos, jurídicos e midiáticos ousam tanto. Apesar de Roberto Gurgel ter sido acusado por dois delegados da Polícia Federal de ter engavetado denúncias contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes Torres, o procurador-geral da República aparece na tevê, banhado de arrogância, negando explicações e acusando os parlamentares do governo e da oposição que as pediram. Aí vem a mídia e sustenta a desfaçatez e a arrogância de Gurgel mesmo após ele ter permitido a Carlinhos Cachoeira que continuasse corrompendo a República por quase três anos além do necessário. Em seguida, dois juízes do Supremo Tribunal Federal se mostram em sintonia com o poder midiático. Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa dizem o impensável, que Gurgel é inatacável, fazendo-nos refletir sobre como é possível que um cidadão seja colocado acima da lei por… Juízes! Mesmo que outro juiz, Marco Aurélio Mello, tenha surpreendido a todos ao reconhecer a “extravagância” que foi Gurgel atribuir a envolvidos no escândalo do mensalão a culpa por estar sendo cobrado por sua inação pretérita, note-se que a opinião pública foi manipulada porque os telejornais esconderam o fato. Legislativo e Judiciário, portanto, foram arrastados para o jogo político por meia dúzia de impérios de comunicação pertencentes a meia dúzia de famílias. E como o PT e aliados têm o Executivo e a maioria do Legislativo, além de seu quinhão no Judiciário, vemos os dois lados mobilizando as instituições para uma guerra política. Em jogo, o poder dessas empresas de comunicação de inocentarem e acusarem a quem bem entendem enquanto se concedem licença para o que lhes der na telha, num simulacro da mesma ascendência que outro empresário tinha sobre as instituições e que considerava inesgotável. Um empresário, no entanto, que hoje está vendo o sol nascer quadrado. A mídia, portanto, engana-se. Mesmo com Gilmar Dantas – ou Mendes, tanto faz –, com o chefe do Ministério Público Federal e com boa parte de seu corporativismo nas mãos, não deve se esquecer, repito, de como Cachoeira já se considerou “inatacável”, de como superestimou o próprio poder. A mídia que acha que tem ainda menos explicações a dar do que Roberto Gurgel, contudo, é a mesma que antes elegia presidentes e que há 9 anos perdeu esse poder. E é a mesma que, agora, corre o risco de ver outra grande manipulação sua virar pó. Lembram-se de que a máfia midiática dizia que havia mais evidências de envolvimento do governo Agnelo Queiróz com Cachoeira do que deste com o governador Marconi Perilo? Lembram-se dos diagnósticos de Reinaldo Azevedo ou de Merval Pereira, entre outros calunistas do PIG, nesse sentido? Agora, a cada minuto que passa Perillo se enrola mais e vai ficando cada vez mais claro que Agnelo não tem nada de mais grave pesando contra si. De que adiantou, então, a mídia manipular os fatos? A verdade vai aparecendo. Quer queira, quer não. E não irá parar de aparecer, pois, ainda que muitos não creiam, ela é uma força da natureza como o vento ou a chuva. O que preocupa, entretanto, é ver as instituições se digladiando e até membros do STF estarem dando declarações a favor de Gurgel mesmo a despeito de que, amanhã, esses mesmos membros poderão ter que julgá-lo. Como Joaquim Barbosa julgaria o mesmo Gurgel que hoje diz “inatacável”? Como Gilmar Mendes poderia julgá-lo após ter endossado sua acusação indigna de que os questionamentos contra si derivam de “medo de envolvidos no mensalão”? E mais: como dois juízes, sem conhecer a fundo um caso, sem estudá-lo, sem analisar provas ou meras evidências, podem emitir sentença tão séria? Mesmo que a verdade triunfe, vamos descobrindo quão podres ainda são as instituições no Brasil, infestadas que estão de despachantes de interesses menores que podem vir a se revelar apenas versões menos toscas de um Carlinhos Cachoeira, mas que, nem por isso, são menos danosos à nossa combalida democracia. Altamiroborges.blogspot.com __________________________________________________________________ Noblat enterra o colunista Demóstenes Altamiro Borges Ricardo Noblat já decretou: “Cassação de Demóstenes será de goleada”. Ele só não sabe se ela será antes ou depois do recesso do Congresso Nacional. “São necessários 41 votos (metade mais um do total) para que se casse um senador. Poucos se espantarão no Senado se Demóstenes acabar cassado por algo em torno de 70 votos”, aposta o jornalista das Organizações Globo. No artigo publicado hoje no sítio do jornal, Noblat alega que “a imagem do Senado foi emporcalhada muitas vezes por senadores metidos em falcatruas, senadores suspeitos de sustentarem a amante com dinheiro de empreiteira, senadores que violaram o sigilo de votações e senadores que mentiram descaradamente para seus pares. Ainda não se tinha ouvido falar em senador sócio de bicheiro e honorável integrante de uma quadrilha”. Noblat está certo. Realmente, o caso é grave e exige punição exemplar. Emporcalhou a imagem da mídia Noblat só não diz que Demóstenes – que ele rotula de senador “sem-partido”, deixando de enfatizar que ele foi o líder do DEM no Senado, cogitado inclusive para disputar a eleição presidencial de 2014 pela legenda – também “emporcalhou a imagem” de setores da mídia. Afinal, o ex-demo era a principal fonte de factóides da chamada grande imprensa, que o bajulava com arauto da ética. Ricardo Noblat inclusive não informa os seus leitores que Demóstenes Torres foi, durante muito tempo, colunista do seu blog! Ele também utilizava este "nobre espaço" para defender os interesses da quadrilha de Carlinhos Cachoeira e para se projetar como líder da oposição de direita no país. Osamigosdopresidentelula.blogspot __________________________________________________________________ Agora é oficial: documento derruba Gurgel Um ofício divulgado pela Procuradoria-Geral de Justiça de Goiás derruba a versão de Gurgel. Em 8 de março deste ano, o Ministério Público de Goiás, para afastar suspeitas sobre o chefe do órgão, Benedito Torres, irmão do senador Demóstes Torres (exDEM-GO), divulgou nota comprovando que a Operação Monte Carlo surgiu a partir de 10 de setembro de 2010, através de um ofício à Polícia Federal pedido pela Promotoria de Justiça na cidade de Valparaíso. Com este documento fica comprovado que, do lado dos agentes da lei, não houve continuidade da Operação Vegas como alegou o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, e que entre 15 de setembro de 2009 até 10 de setembro de 2010, a organização criminosa atuou sem ser importunada por investigações federais, enquanto o relatório da Operação Vegas dormia na gaveta da Procuradoria. Eis a íntegra do documento: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/1/docs/informe_operacao_monte_carlo.pdf