Pronta para viver. Terrenos a partir de 3 mil m2. s www.quintadabaroneza.com.br www.brasileconomico.com.br mobile.brasileconomico.com.br SEXTA-FEIRA E FIM DE SEMANA, 10, 11 E 12 DE SETEMBRO, 2010 | ANO 2 | Nº 264 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR ADJUNTO COSTÁBILE NICOLETTA R$ 3,00 Murillo Constantino Inovação Até vazamentos em edifícios será possível detectar com novo sistema da Autodesk. ➥ P20 Limpeza urbana Vega fecha contrato de R$ 480 milhões com Prefeitura de Salvador. ➥ P26 Carreiras Sergio Vieira extrai da música componente essencial para ser bem-sucedido nos negócios. ➥ P34 Bolsa tenta recuperar valor dois anos após quebra do Lehman Brothers Mercado de dívida e capital de risco ganham força para reviver auge do pré-crise Prestes a completar dois anos, a crise financeira global deflagrada pelos bancos americanos ainda não teve todas as suas feridas curadas no Brasil. Para re- cuperar o brilho até o estouro da bolha, os investidores apostam em novos produtos que garantam a sustentabilidade do mercado de capitais. ➥ P4 Com resistência em avançar em transparência, empresas rejeitam pontos de reforma do Novo Mercado. ➥ P40 Celso Junior/AE Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, fala sobre escrever e editar livros no Brasil INDICADORES ▲ ▼ ▼ ▼ ▲ ■ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ ▲ TAXAS DE CÂMBIO Dólar Ptax (R$/US$) Dólar comercial (R$/US$) Euro (R$/€) Euro (US$/€) Peso argentino (R$/$) JUROS Selic (a.a.) BOLSAS Bovespa - São Paulo Dow Jones - Nova York Nasdaq - Nova York S&P 500 - Nova York FTSE 100 - Londres Hang Seng - Hong Kong 9.9.2010 COMPRA VENDA 1,7238 1,7230 1,7230 1,7210 2,1904 2,1891 1,2707 1,2705 0,4370 0,4367 META EFETIVA 10,66% 10,75% VAR. % ÍNDICES 0,33 66.624,10 0,27 10.415,24 0,33 2.236,20 1.104,18 0,48 5.494,16 1,19 0,37 21.167,27 Indústria mostra fôlego renovado no semestre Segundo pesquisa da CNI, após um período de acomodação, os índices relativos a faturamento, horas trabalhadas, emprego e salário exibem novo vigor em julho. ➥ P18 Crédito da Caixa para imóveis deve chegar a R$ 70 bi A nova previsão para o ano — revisada pela segunda vez — foi anunciada por Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente do banco, que mantém forte o ritmo de concessão de empréstimos para a compra da casa própria. ➥ P42 Imobiliárias acirram disputa no mercado de usados Lopes, Lello, Brasil Brokers e Coelho da Fonseca buscam aquisições e parcerias para crescer. ➥ P24 Fusões e aquisições podem ser recorde este ano Devem chegar a 800 as operações entre empresas brasileiras no país e no exterior, segundo a Price. ➥ P38 2 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 NESTA EDIÇÃO Marcela Beltrão Em alta Filtros solares são lançados mais cedo Antecipação dos fabricantes foi motivada pela onda de calor em pleno inverno e o Carnaval em março de 2011 — e não fevereiro — permitindo o chamado “verão estendido”. ➥ P30 Marcela Beltrão Motorola enfrenta o iPhone e o iPad Antes de se tornar uma empresa dentro do grupo, Motorola Solutions tenta conter o avanço dos smartphones como instrumentos de uso corporativo. ➥ P32 A reconstrução do Cultura Artística Imóveis usados voltam à carteira das imobiliárias A Lopes lançou, há dois anos, a Pronto! para atender o segmento e agora volta a adotar como estratégia a incorporação de pequenas companhias à sua carteira, mesmo caminho seguido pela concorrente Brasil Brokers, que também procura efetuar incorporações em São Paulo, o principal mercado da Lopes. “O mercado secundário é mais sustentável se pensarmos que daqui a dez anos os lançamentos podem diminuir de ritmo”, diz Álvaro Soares, diretor de relações com investidores da Brasil Brokers, que, no somente no primeiro semestre vendeu R$ 1,03 bilhão em imóveis usados. ➥ P24 Faturamento da indústria aumenta 3,6% em julho Relatório sobre Ecossistemas na AL Leonel Marques Pavan Sukdhev, economista do Pnuma, é um dos responsáveis pelo documento que tenta dar valor aos benefícios econômicos da preservação da natureza. ➥ P28 Como escolher um MBA de qualidade Armando Dal Colletto, da Business School São Paulo recomenda checar se a instituição responsável pelo curso é recomendada pela Associação Nacional de MBA (Anamba). ➥ P11 Reajuste de policiais pode ser nacional Câmara pode aprovar este ano a PEC 300/2008 que fixa piso nacional para servidores da segurança com grande impacto na folha de pagamento dos estados. ➥ P13 Os dados da CNI confirmam a retomada da atividade no início do segundo semestre, depois de um período de acomodação no segundo trimestre. Pelas previsões de Marcelo Ávila, economista da CNI, todos os indicadores da atividade industrial devem ultrapassar os níveis pré-crise ainda neste semestre, seguindo a tendência do item faturamento, que apresentou a maior elevação na comparação com o período pré-crise, subindo, em julho, 4,2% sobre setembro de 2008. Pelas suas previsões, se a produção voltar a crescer um pouco acima dos 0,4% que cresceu em julho, segundo o IBGE, os índices de setembro de 2008 serão superados em dois meses. ➥ P18 Mais conhecido pela sua marca tradicional, a Vega Engenharia Ambiental, grupo lidera o consórcio que cuidará da limpeza pública de Salvador pelos próximos cinco anos, período em que prevê receita bruta de R$ 480 milhões. O contrato, segundo Carlos Alberto Almeida Júnior, diretor, abrange a coleta de resíduos sólidos urbanos, varrição, limpeza das praias e operações especiais, como a coleta de lixo durante o Carnaval. O executivo lembra que, apesar de ser este um dos principais contratos conquistados este ano, a estratégia do grupo para os próximos dois anos continua dirigida mais para o tratamento de resíduos sólidos que para limpeza. ➥ P26 Caixa revisa desembolsos para R$ 70 bi Murillo Constantino O Minha Casa, Minha Vida e o aumento da renda são, segundo Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente, os fatores que mais contribuíram para ampliar o crédito. ➥ P42 País pode chegar a 800 fusões este ano Expectativa é do sócio da PricewaterhouseCoopers, Alexandre Pierantoni, baseado nos 502 negócios de janeiro a agosto, mais 31% sobre o mesmo período de 2009. ➥ P38 Valor de fraudes em seguros sobe 5,1% De um total de R$ 18,9 bilhões de pedidos de indenizações no ano passado, apenas R$ 230 milhões não foram pagos por fraude comprovada. ➥ P41 Henrique Manreza Grupo Solvi vai cuidar da limpeza da capital baiana Obras no teatro da rua Nestor Pestana começam neste sábado e inicialmente serão centralizadas na recuperação do painel de Di Cavalcanti e da fachada original do imóvel. ➥ P36 Construções monitoradas pelo celular Cresce interesse por fundos imobiliários Jay Bhatt, vice-presidente da Autodesk, anuncia para breve a possibilidade de, pela tela do celular, escanear edifícios inteiros construídos pelo sistema BIM. ➥ P20 Volume de ofertas registrado este ano através deste tio de captação chega a R$ 2,2 bilhões, perto de superar os R$ 2,9 bilhões registrados durante todo o ano passado. ➥ P44 Kodak estuda ampliar fábrica de Manaus Pastor cancela queima do Alcorão Expectativa é de grande demanda por câmaras fotográficas digitais em função da Copa e Olimpíada. Também é avaliada a produção de itens para a indústria gráfica. ➥ P22 O presidente Barack Obama havia manifestado a preocupação com o fato de que atitude do religioso poderia estimular ataques suicidas da Al Qaeda. ➥ P46 Adrian Moser/Bloomberg A FRASE “Podemos ir direto para os pênaltis” Joseph Blatter, presidente da Fifa, sobre a possibilidade de acabar com a prorrogação nos jogos de mata-mata que terminarem empatados na Copa do Mundo. Outra hipótese é restabelecer o golden goal (gol de ouro), conhecido como morte súbita, em que ganha quem marcar primeiro na prorrogação. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 3 EDITORIAL Murillo Constantino ARNALDO ROSA, DIRETOR COMERCIAL DA TOTAL ON DEMAND (TOD) Dois anos depois da quebra do Lehman Brothers Dois anos se passaram depois do fatídico fim de semana, em que executivos do Lehman Brothers se desesperavam por saberem que a quebra da instituição financeira era inevitável e o Federal Reserve, em uma controvertida omissão, não o salvou da bancarrota. Ben Bernanke terá de conviver com este, para muitos, erro fundamental de avaliação. Não se tratou de um default isolado, mas do início da maior recessão desde a crise de 1929. Como que por encanto, todas as falcatruas do crédito subprime começaram a transbordar dos balanços dos bancos e surpreender os incautos investidores. Os preços dos imóveis sofreram quedas vertiginosas e os mutuários se viram obrigados a pagar hipotecas de valor altíssimo, tendo como moradia residências que chegaram a valer pouco mais de 20% do valor de suas dívidas. Nos Estados Unidos houve avanço na regulação, mas a Europa ainda apresenta uma grande fragilidade “Para mim é uma válvula de escape”, diz Arnaldo Rosa, diretor da Total On Demand, agência de marketing, que faz parte do grupo de executivos que se dedicam a um hobby ou atividade cultural. Ele é contrabaixista da banda cover Warriors, de rock dos anos 60 a 90. ➥ P34 Presidente do Conselho de Administração Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos Diretor-Presidente José Mascarenhas Diretor-Vice-Presidente Ronaldo Carneiro Diretores Executivos Alexandre Freeland e Ricardo Galuppo [email protected] BRASIL ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A. Redação, Administração e Publicidade Avenida das Nações Unidas, 11.633 - 8º andar, CEP 04578-901, Brooklin, São Paulo (SP), Tel. (11) 3320-2000. Fax (11) 3320-2158 Diretor de Redação Ricardo Galuppo Diretor Adjunto Costábile Nicoletta mone Cavalcanti, Sílvio Ribas Rio de Janeiro Daniel Haidar, Ricardo Rego Monteiro Editores Executivos Arnaldo Comin, Gabriel de Sales, Jiane Carvalho, Thaís Costa, Phydia de Athayde (Outlook e FS) Produção Editorial Clara Ywata Editores Fabiana Parajara e Rita Karam (Empresas), Carla Jimenez (Brasil), Cristina Ramalho (Outlook e FS), Laura Knapp (Destaque), Marcel Salim (On-line), Márcia Pinheiro (Finanças) Subeditores Marcelo Cabral (Brasil), Estela Silva, Isabelle Moreira Lima (Empresas), Luciano Feltrin (Finanças), Maeli Prado (Projetos Especiais) Repórteres Amanda Vidigal, Ana Paula Machado, Ana Paula Ribeiro, Bárbara Ladeia, Carlos Eduardo Valim, Carolina Alves, Carolina Pereira, Cintia Esteves, Claudia Bredarioli, Conrado Mazzoni, Daniela Paiva, Denise Barra, Domingos Zaparolli, Dubes Sônego, Elaine Cotta, Fabiana Monte, Fábio Suzuki, Felipe Peroni, Françoise Terzian, Gabriel Penna, João Paulo Freitas, Juliana Elias, Karen Busic, Luiz Henrique Ligabue, Luiz Silveira, Lurdete Ertel, Maria Luiza Filgueiras, Mariana Celle, Mariana Segala, Marina Gomara, Martha S. J. França, Michele Loureiro, Micheli Rueda, Natália Flach, Natália Mazzoni, Nivaldo Souza, Paulo Justus, Pedro Venceslau, Priscila Machado, Regiane de Oliveira, Ruy Barata Neto, Thais Folego, Vanessa Correia Brasília Si- Arte Pena Placeres (Diretor), Betto Vaz (Editor), Cassiano de O. Araujo, Evandro Moura, Letícia Alves, Maicon Silva, Paulo Argento, Renata Rodrigues, Renato B. Gaspar, Tania Aquino, (Paginadores) Infografia Alex Silva (Chefe), Anderson Cattai, Monica Sobral Fotografia Antonio Milena (Editor), Marcela Beltrão (Subeditora), Evandro Monteiro, Henrique Manreza, Murillo Constantino, Rafael Neddermeyer (Fotógrafos), Angélica Breseghello Bueno, Carlos Henrique, Fabiana Nogueira, Thais Moreira (Pesquisa) Webdesigner Rodrigo Alves Tratamento de imagem Henrique Peixoto, Luiz Carlos Costa Secretaria/Produção Shizuka Matsuno O Brasil passou até muito bem pela temporada de furacões financeiros. Cresceu menos, como seria previsível, mas recuperou-se com uma energia de dar inveja. Segundo reportagem a partir da página 4, a tendência do mercado doméstico agora é buscar produtos mais sofisticados, sobretudo os que alonguem as operações, ainda o calcanhar de Aquiles do sistema financeiro brasileiro. Nos Estados Unidos, é indubitável que houve avanços na regulação do mercado. Mas as feridas ainda estão abertas porque, por mais que Barack Obama incentive a retomada de projetos de infraestrutura, o crédito ainda não voltou a fluir para todos os segmentos da economia,. À margem da crise americana, começou a ser germinada a derrocada da economia europeia. Não foram poucos os analistas que previram o fim da Zona do Euro, em função das estripulias fiscais dos países da região. Por ora, e por sorte, estas profecias não se concretizaram, mas o continente padece de um marasmo na atividade econômica, que é puxada somente pela guerreira Alemanha. As experiências americana e europeia devem servir de lição de casa para o resto do mundo. Inclusive o Brasil, que não é muito afeito a cuidar das contas públicas, confiando que a arrecadação sempre vai curar tudo. Nem sempre. ■ (Coordenadores), Daiana Silva Faganelli (Analista), Renato Frioli (Gerente Mercados), Solange Santos (Assistente Executiva) Publicidade Legal Marco Panza (Diretor de Publicidade Legal e Financeira), Marco Aleixo , Carlos Flores, Ana Alves e Adriana Araújo (Executivos de Negócios), Alcione Santos (Assistente Comercial) Departamento de Marketing Evanise Santos (Diretora de Marketing Institucional), Simone Botto (Diretora de Marketing de Produtos), Carlos Madio e Rodrigo Louro (Gerentes de Marketing), Alexandre Costa, Giselle Leme e Roberta Baraúna (Coordenadores de Marketing). Operações Cristiane Perin (Diretora) Departamento Comercial Paulo Fraga (Diretor Executivo Comercial), Mauricio Toni (Diretor Comercial), Júlio César Ferreira (Diretor de Publicidade), Ana Carolina Corrêa, Valéria Guerra, Valquiria Rezende, Wilson Haddad (Gerentes Executivos), Paulo Fonseca (Gerente Comercial), Alisson Castro, Celeste Viveiros, Edson Ramão e Vinícius Rabello (Executivos de Negócios), Andréia Luiz (Assistente Comercial) Projetos Especiais Heitor Pontes (Diretor Executivo), Márcia Abreu (Gerente), João Felippe Macerou Barbosa e Samara Ramos Departamento de Mercado Leitor Nido Meireles (Diretor), Nancy Socegan Geraldi (Assistente Diretoria), Alexandre Rodrigues (Gerente de Processos), Denes Miranda (Coordenador de Planejamento) Central de Assinantes e Venda de Assinaturas Janete Russowsky (Gerente de Assinaturas), Vanessa Rezende (Supervisão de Atendimento), Conceição Alves (Supervisão) São Paulo e demais localidades 0800 021 0118 Rio de Janeiro (Capital) (21) 3878-9100 De segunda a sexta-feira - das 6h30 às 18h30. Sábados, domingos e feriados - das 7h às 14h. [email protected] Central de Atendimento ao Jornaleiro (11) 3320-2112 Jornalista Responsável Ricardo Galuppo TABELA DE PREÇOS Assinatura Nacional Semestral Anual Trimestral R$ 147,50 R$ 288,00 R$ 548,00 Condições especiais para pacotes e projetos corporativos (circulação de segunda a sexta, exceto nos feriados nacionais) Impressão: Editora O Dia S.A. (RJ) Oceano Ind. Gráfica e Editora Ltda. (SP/MG/PR/RJ) FCâmara Gráfica e Editora Ltda. (DF/GO) RBS - Zero Hora Editora Jornalística S.A. (RS/SC) 4 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira,e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS Bolsa busca saída para voltar a níveis pré-crise A imponente sede do Lehman Brothers na Sexta Avenida, em Nova York, em fotografia tirada em 14 de setembro de 2008, um dia antes de o banco quebrar Dois anos após a quebra do Lehman Brothers, mercado aposta em papéis de dívida e capital de risco como solução de longo prazo Vanessa Correia [email protected] Às vésperas de completar dois anos que o Lehman Brothers anunciou concordata e mudou curso dos mercados em todo o mundo, o Brasil — que avançou em termos macroeconômicos — ainda tenta recuperar os níveis pré-crise na bolsa brasileira. Ao mesmo tempo, busca alternativas de instrumentos de longo prazo, tais como mercado secundário de dívida, securitização e investimento em capital de risco. “O mercado financeiro brasileiro tem uma característica interessante. Tudo o que é relacionado à proteção de inflação é extremamente desenvolvido. Já em instrumentos relacionados ao longo prazo, o Brasil está atrasadíssimo”, diz Ricardo Amorim, ex-diretor do WestLB em Nova York e diretor da Ricam Consultoria. “Isso é reflexo do longo período de hiperinflação que vivemos.” O professor de finanças da Brazilian Businesse School (BBS), Ricardo Torres, lembra que o Brasil se adaptou a condição de não depender de fonte externa de captação. “Se, por um lado, o excesso de regulação fez com que criássemos uma série de travas, por outro nos beneficiou já que não seguimos a euforia de bancos de investimento americanos”, pondera. O mesmo não aconteceu com alguns bancos europeus, que seguiram as instituições americanas e acabaram agravando a Se a discussão atual nos países em desenvolvimento é como avançar daqui para a frente, as economias desenvolvidas ainda patinam para recuperar os níveis pré-crise situação mundial. “A crise fez com que problemas repetidos e contumazes, e que não eram resolvidos, recebessem atenção especial, tais como excesso de produtos de securitização”, afirma o professor da BBS. Caso o Brasil queira sofisticar seus produtos financeiros, terá que fazer com cautela a fim de não cometer os mesmos erros. “Há um enorme espaço para avançarmos em instrumentos que vão desde venture capital, private equity, títulos de longo prazo até a securitização. Acredito que o processo será lento, mas torço também para que não seja exagerado. Caso contrário, sabemos as consequências”, brinca o diretor da Ricam Consultoria. Se a discussão nos países em desenvolvimento é como avançar, algumas economias desenvolvidas ainda patinam para recuperar os níveis pré-crise. Os Estados Unidos, por exemplo, ainda apresentam taxa de desemprego elevada. Alguns países da Zona do Euro ainda não afastaram os tomores de um possível calote. Mais recentemente, a França iniciou discussão de como reduzir gastos e recuperar as finanças públicas. Economistas acreditam que os efeitos da crise foram muito sérios e que países desenvolvidos devem demorar a se recuperar. Caminho sem volta Após a turbulência financeira mundial, a tendência de fortalecimento dos países em desenvolvimento – vista desde 2001 com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) – ganhou força. “Tudo o que os países desenvolvidos produzem começou a ficar barato por conta da China. Em contrapartida, tudo o que os ricos importam ficou caro. E a quebra do Lehman Brothers acelerou esse processo”, explica Amorim “Hoje os países desenvolvidos estão sem dinheiro, sem crédito, endividados e sem emprego. Em contrapartida nós produzimos e consumimos. Ou seja, se temos as melhores oportunidades de in- vestimento, o mercado de capitais tende a crescer mais em países em desenvolvimento”, completa. O melhor exemplo disso é que a China ultrapassou o Japão e se tornou a segunda maior economia global. “Quem percebeu que as condições brasileiras eram diferentes das apresentadas pelo resto do mundo ganhou muito dinheiro. O difícil era convencer os investidores, no auge da crise financeira mundial, que o Brasil estava bem posicionado”, lembra Catarina Pedrosa, coordenadora da gestora de recursos (asset Management) do Banif. ■ Infografia: Anderson Cattai 20 DE MAIO Standard & Poor’s eleva Brasil a grau de investimento; Bovespa atinge recorde de 73.516 pontos Principais acontecimentos desde que o Brasil foi elevado a grau de investimento 29 DE MAIO Fitch Rating também eleva Brasil a grau de investimento 14 DE SETEMBRO — O DIA “D” Lehman Brothers anuncia concordata 15 DE SETEMBRO 8 DE OUTUBRO 27 DE OUTUBRO Bolsas de valores mundo afora despencam; Bovespa cai 7,59%; Bank of America (BofA) anuncia aquisição do Merrill Lynch; seguradora AIG solicita ao Federal Reserve (Fed) empréstimo de US$ 40 bilhões BCs implementam cortes extraordinários nas taxas básicas de juros, com participação do Federal Reserve (Fed), BCE, BoE, entre outras autoridades monetárias Bovespa atinge mínima de 29.435 pontos 2009 2008 SOBE E DESCE GLOBAL 22 DE SETEMBRO 6 DE NOVEMBRO Moody’s eleva Brasil a grau de investimento Taxa de desemprego nos Estados Unidos atinge recorde de 10,2% Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 5 LEIA MAIS Turbulência fez as siderúrgicas com ações na Bolsa — CNS, Gerdau e Usiminas — perderem R$ 20,9 bilhões em valor de mercado entre 2008 e agora. Recuperação da economia americana, que sofreu o maior colapso desde 1945, ainda é incógnita entre principais especialistas; desemprego demora para cair no país. Uma das consequências da crise foi a maior intervenção do estado no setor financeiro, movimento que aconteceu nos EUA e Brasil, entre outros países. Jeremy Bales/Bloomberg Petrobras puxou Bovespa para baixo Incertezas com capitalização da estatal e queda do preço do petróleo afetaram o índice André Penner A FRASE “Tudo o que os países desenvolvidos produzem começou a ficar barato por conta da China. Em contrapartida, tudo o que os ricos importam ficou caro. A quebra do Lehman acelerou esse processo” 2010 —Ricardo Amorim, ex-diretor do banco WestLB em Nova York e presidente da consultoria Ricam 4 DE FEVEREIRO 8 DE ABRIL 1º DE SETEMBRO 7 DE SETEMBRO Início dos rumores quanto ao possível calote da Grécia Bovespa atinge 71.784 pontos, máxima do ano Imbróglio no processo de capitalização da Petrobras começa a se desenrolar com a divulgação do preço do barril de petróleo na cessão onerosa Greves contra reformas do presidente Nicolas Sarkozy paralisam França. Sarkozy quer elevar a idade de aposentadoria de 60 para 62 anos para diminuir gastos e recuperar finanças públicas. Além disso, em 20 de agosto, Sarkozy anunciou corte de € 10 bilhões em deduções fiscais e gastos sociais 16 DE AGOSTO China ultrapassa Japão e se tona segunda maior economia do Mundo O imbróglio envolvendo a capitalização da Petrobras, que perdurou por mais de um ano, também contribuiu para que o Ibovespa, principal índice acionário da BM&FBovespa, não renovasse seu recorde histórico de pontuação. Em abril, a bolsa brasileira atingiu os 71.784 pontos, na máxima do ano. Passado um mês, quando as incertezas quanto à saúde financeira de alguns países da Europa afastaram os investidores de ativos de maior risco, o Ibovespa voltou aos 58.192 pontos. “A Petrobras tem grande representatividade no índice [12,3%]. Isso ajuda a impulsionar o Ibovespa quando a estatal está bem. Em contrapartida, atrapalha quando está mal”, ressalta Ricardo Torres, professor de finanças do Brazilian Business School (BBS). “Uma empresa do tamanho da Petrobras não pode deixar o mercado financeiro com dúvidas. Passou a impressão que o processo de capitalização da estatal petrolífera foi feito de maneira amadora.” Mas não foi só o longo processo decisório de capitalização da Petrobras que atrapalhou o andamento do papel. “Queda do preço do barril de petróleo ao longo dos últimos dois anos, vazamento de petróleo em plataforma da British Petroleum (BP) e aumento do preço de seguro de riscos de petróleo também foram deixando os investidores receosos quanto ao futuro da Petrobras”, explica Torres. Aversão ao risco levou investidores a apostar em ativos reais, como imóveis, o que beneficiou os papéis de incorporadoras como a Rossi, cujo valor de mercado aumentou 160% de setembro de 2008 até agora A crise financeira mundial assustou e afastou muitos investidores de bolsa, que acabaram migrando seus investimentos para ativos reais, como imó- veis. “Isso é sinal de medo”, pondera o professor de finanças da BBS. Tanto é que a elevada demanda por imóveis comerciais e residenciais gerou uma disparada nos preços. Algumas empresas do setor se beneficiaram com o movimento. Foi o caso da Rossi, cujo valor de mercado saltou de R$ 1,63 bilhão, em 15 de setembro de 2008, para R$ 4,23 bilhão ao final do pregão de ontem. ■ V.C. IBOVESPA IMOBILIÁRIO 71.784 Pontuação atingida pela bolsa 159% foi quanto o valor de mercado da brasileira em abril, a máxima do ano. Essa recuperação do desempenho neste ano foi afetada, em maio, pelas incertezas do mercado em relação à saúde financeira de alguns países da Europa, que afastaram os investidores de ativos de maior risco. Rossi Residencial avançou entre 15 de setembro de 2008 e ontem. O valor absoluto saltou de R$ 1,63 bilhão para R$ 4,23 bilhões no período em análise. Dentre as empresas que faziam parte do Ibovespa no dia em que o Lehman Brothers quebrou, a Rossi foi a que mais se destacou. Setores beneficiados semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 6 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS Siderúrgicas derretem R$ 21 bi em valor de mercado com crise Marolinha vira tsunami sobre a avaliação dos fabricantes de aço CSN, Gerdau e Usiminas na BM&FBovespa Antonio Milena Nivaldo Souza [email protected] O desempenho positivo alcançado pelas empresas brasileiras listadas no Ibovespa dois anos após a ruína do Lehman Brothers não foi experimentado pelas siderúrgicas. Apesar de as companhias inscritas na BM&FBovespa terem se valorizado 10,78% desde o estopim da crise iniciada com a falência do Lehman, CSN, Gerdau e Usiminas não conseguiram recuperar o valor de mercado anterior à crise financeira. Em 1° de setembro de 2008, quando os rumores da falência do Lehman ganharam os holofotes, as 60 empresas listadas no Ibovespa — entre elas, a Petrobras, Bradesco e TAM — valiam R$ 1,427 trilhão. Ontem, as mesmas companhias foram avaliadas em R$ 1,578 — diferença entre os períodos é de R$ 151,2 bilhões. No caso das siderúrgicas, o período representou a perda de R$ 21,12 bilhões. CNS, Gerdau e Usiminas valiam R$ 128,34 bilhões. Passados 24 meses, atingiram ontem o patamar de R$ 107,22 bilhões, ou 16,5% menos — conforme levantamento realizado pelo B RASIL ECONÔMICO, com base no cruzamento do valor por ação com o volume de papeis negociados. Os números indicam que para os produtores de aço, a “marolinha” da crise se transformou em tsunami. Segundo Leonardo Alves, analista da Link Corretora, a onda foi turbinada pelo recuo de 30% no preço médio da tonelada de aço no mercado global. “O preço foi impactado pela crise, principalmente por causa da sobra do produto na Europa. A sobra vem para cá, reduzindo os preços o internos”, avalia. A Gerdau teve a maior queda. Perdeu 23,33% de valor de mercado entre setembro de 2008 e 2010. A variação chegou a R$ 13,25 bilhões, de R$ 56,79 bilhões a R$ 43,54 bilhões. A Usiminas está logo atrás, com 17,45% de desvalorização ante os R$ 27,69 bilhões que o mercado lhe creditava em 2008. A diferença atual é de R$ 4,83 bilhões, levando a uma avaliação de R$ 22,86 bilhões. A CSN apresentou queda menor, de 6,92%. A empresa perdeu R$ 3 bilhões e m valor, indo a R$ 40,82 bilhões ontem, contra R$ 43,86 bilhões. O recuo moderado se deve à investida maior sobre a produção de minério de ferro que, em alta no mercado, compensa a perda com a venda de aço. ■ Queda de 30% no preço do aço durante a crise foi fatal para as siderúrgicas brasileiras B2W e Brasil Telecom caem por sócios e concorrência Entrada de competidores e questões societárias reduziram valor de mercado das empresas Cintia Esteves e Fabiana Monte [email protected] A B2W, formada por Americanas.com e Submarino, foi a companhia que registrou a segunda maior desvalorização entre as empresas listadas na BM&FBovespa desde a quebra do Lehman Brothers. Com uma queda de 49,3% em seu valor de mercado, a varejista ficou atrás apenas da Brasil Telecom, cuja baixa foi de 57,3%, considerando-se o valor das ações em 9 de setembro deste ano. Para analistas, a explicação está na entrada de novos competidores no comércio eletrônico brasileiro. “Quando foi criada, em 2006, Concorrência acirrada obrigou varejista on-line a reduzir suas margens. Incorporação pela Oi afetou papéis da operadora a B2W era praticamente a única grande empresa do segmento, mas a partir de 2008 houve um acirramento da concorrência”, diz Marcelo Varejão, da corretora Socopa. “A chegada de novos competidores obrigou a B2W a reduzir margens”. Procurada, a B2W preferiu não se manifestar. Incertezas na Oi Por outro lado, as ações da Oi e da Brasil Telecom (TNLP, TMAR e BRT), adquirida pela operado- ra em 2008, estão aquém do valor de mercado que tinham antes da crise por causa de questões societárias. Um dos fatores é o tumultuado processo de incorporação da Brasil Telecom, interrompido em março, quando acionistas minoritários recusaram a relação de troca proposta pela Oi. “Como os minoritários não aceitaram, as ações sentiram o reflexo. Não é efeito da atividade operacional e financeira ”, diz a analista da SLW Corretora Rosângela Ribeiro. Outra questão no setor é a complexa operação anunciada em julho para a entrada da Portugal Telecom (PT) no capital da Oi. “O aumento de capital para a entrada da PT também derrubou o preço das ações”, avalia o analista de telecomunicações do Banif, Alex Pardellas. ■ AS 10 MENOS Crise leva empresas a perder valor de mercado, em bilhões R$ 1/SET/08 9/SET/10 BrasilTelecom 17,52 B2W Varejo 6,29 7,47 -57,36% 3,19 -49,26% Telemar 36,67 22,71 Klabin 6,28 4,71 -24,97% Eletrobras 32,75 24,62 -24,83% 1,78 1,36 -23,49% Celesc Gerdau -38,07% 56,79 43,54 -23,33% 338,72 260,68 -23,04% Comgas 5,00 4,02 -19,51% Embraer 10,07 8,18 -18,76% Petrobras -60 -50 Fontes: Brasil Econômico, Economatica, BM&FBovespa -40 -30 -20 -10 0 Sexta-feira e fim de semana, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 7 Sexta-feira, 8 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira,e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS Larry Downing/Reuters Após apresentar um pacote de US$ 50 bilhões em obras de infraestrutura, Obama anunciou um plano de desonerações na faixa de US$ 200 bilhões voltado para empresas Socorro estatal perde eficiência Prestes a cumprir dois anos da fase mais crítica da crise, economia americana atravessa fase de incógnita Conrado Mazzoni [email protected] Naquele turbulento quarto trimestre de 2008, cujo epicentro foi a quebra da centenária Lehman Brothers, a economia dos Estados Unidos sofreu o colapso mais pesado desde 1945. Perto de completar o aniversário de dois anos da deflagração do momento mais severo da crise mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) americano literalmente pouco avançou. No segundo trimestre de 2010, o indicador desacelerou para 1,60%. A situação delicada tem tirado o sono do governo Barack Obama que, passados os esforços fiscais e monetários — juro básico perto de zero — já realizados, voltou a anunciar novos pacotes de auxílio econômico, uma ameaça para a saúde das contas públicas: a expectativa é que a dívida federal em relação ao PIB ultrapasse os 100% a partir de 2012. Injetar recursos na economia visa formar um fator multiplicador, nesse caso, de dinheiro em obras de infraestrutura para salários, elevando propensão a consumir. O problema, notam economistas, é a baixa eficácia do plano. Por estar focado em construção pesada de estradas, por exemplo, há pouca mão de obra alocada, dada a existência, atualmente, da incorporação de muita tecnologia no processo. Ou seja, o efeito multiplicador acabaria não tendo a eficiência esperada, além de ser caro. “Mesmo que as propostas de Obama passem no Congresso, o que nossos analistas consideram difícil, acreditamos que o impacto no crescimento será modesto, sem quase alterar nossas projeções”, diz Michael Feroli, do JPMorgan Chase. A maior parte das estimativas apontam para um panorama de expansão fraca da economia dos Estados Unidos nos próximos anos. A ala mais pessimista chega a projetar alta de, no máximo, 1%. “Olhando o histórico de crises bancárias, a regra é que o crescimento volta para perto do potencial, hoje em torno de 2%, 2,5%. Deve retomar esse nível no segundo semestre”, opina Fausto Vieira, economista da gestora de recursos da Rio Bravo Investimentos. O americano precisa sanar dívidas, mas, sem emprego, não tem fluxo de caixa. Até que voltem a ser criados postos de trabalho, o consumidor não pode reparar seu patrimônio. E, dessa forma, os bancos, que temem o ocorrido há cerca de dois anos, ficam menos dispostos a conceder crédito. Os balanços tri- Efeito multiplicador dos gastos em obras de infraestrutura é considerado má ideia por economistas, que veem efeito reduzido na geração de empregos mestrais das instituições financeiras revelaram que elas estão aplicando em instrumentos financeiros, e o crédito segue encurralado. Reside aí um dos argumentos contra o avanço das rédeas no setor, para que o consumidor americano tenha, finalmente, acesso à alavancagem. Para Vieira, ainda não dá para culpar a regulação pela retomada fraca da atividade. Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo, vê as coisas sob uma ótica mais estrutural. “Tivemos um período de euforia muito longo, artificial, que permitiu aos países crescerem bastante. Agora, vamos ter que passar por ajustes”, comenta. Na Europa, se propagam as dificuldades fiscais enfrentadas por diversos países da zona do euro. “Estamos longe de uma solução definitiva”, conclui Luiz Cezar Fernandes, co-fundador dos bancos Pactual e Garantia. ■ INDICADORES DOS ESTADOS UNIDOS Juros em mínimas históricas, perto de zero; PIB cresceu a uma taxa anualizada de 1,6% no 2º trimestre; desemprego ficou em 9,6% em agosto JUROS NOS EUA, EM % AO ANO 2,5 Redesconto PIB - EUA, EM % SOBRE TRIMESTRE ANTERIOR) EUA - DESEMPREGO, EM % DA PEA* 8 10 9,60% Fed funds 2,25% 2,0 5,0% 3,7% 4 1,6% 1,5 0 1,6% 7 -0,7% 0,50% 0,5 0,25% 0,0 SET/09 Fontes: Federal Reserve e Brasil Econômico SET/10 6,10% -4 -4,0% -8 8 0,6% 1,0 SET/08 9 6 -4,9% -6,8% 2º 3º 4º 1º 2º 2008 2009 5 3º 4º 1º 2º 2010 Fontes: Bureau de Análises Econômicas (EUA) e Brasil Econômico AGO/08 JAN/09 DEZ/09 AGO/10 Fontes: Departamento do Trabalho (EUA) e Brasil Econômico * População Economicamente Ativa Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 9 INTERFERÊNCIA Turbulência eleva peso do estado no setor financeiro nos EUA e Brasil Bem ou mal, a crise é uma justificativa infalível para o governo aumentar a intervenção na economia. O gigantesco baque sofrido pelo capitalismo reacendeu este debate. Nos EUA, o governo Obama aprovou uma ampla reforma no sistema financeiro. A título de prevenir futuras crises, há uma série de medidas para elevar a supervisão, entre elas a regulação do mercado de derivativos e a imposição de limites às remunerações de altos diretores. As críticas partem de diversos lados entre os economistas, com boa parte deles constatando reflexos negativos na recuperação da economia. “É preciso tomar cuidado para não se perder a liberdade dos mercados e a criatividade atrelada a isso”, comenta André Gordon, sócio-fundador e gestor das carteiras da GTI Investimentos. Para ele, é preciso tomar cuidado para não confundir falha no parâmetro com problema no modelo. Em outras palavras, o mau funcionamento foi mais derivado de práticas inadequadas de análise de crédito do que de pouca fiscalização das autoridades. “Regulação não é o problema. A grande diferença é uma fiscalização presente, como o que ocorre aqui no Brasil, onde os reguladores acompanham tudo que acontece online”, analisa o banqueiro Luiz Cezar Fernandes, co-fundador dos bancos Pactual e Garantia. Falando em Brasil, especialistas começam a notar com ressalvas uma interferência muito grande do estado no setor financeiro, via avanço nas concessões de créditos dos veículos estatais, como BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Fernandes minimiza: “Como houve uma consolidação muito voraz, nossos defeitos viraram nossas virtudes. Eles evitam a formação de monopólio”. Ao mesmo tempo, o volume de liquidez do recibo de ações (ADR) do Itaú ganha corpo em Nova York. “O Itaú virou quase que uma referência do que é um banco global. É o primeiro nome que vem à cabeça quando alguém pensa em se expor ao plano macro do Brasil via setor financeiro”, analisa Gordon. C.M. 10 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 OPINIÃO Carlos Pio Cristopher Vlavianos Carlos Cordeiro Professor de Economia Política Internacional da Universidade de Brasília Economista da FAAP-SP, presidente da Comerc consultora, gestora e trader no mercado de energia livre Presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) Venezuela estagnada Livres e competitivos Outro banco é preciso A retomada das relações políticas e econômicas entre Venezuela e Colômbia reabre a discussão sobre a integração regional na América Latina. O aprofundamento das relações com o país de Hugo Chávez, que provavelmente se tornará o quinto integrante do Mercosul — ao lado de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — traz uma série de riscos para empresas devido à instabilidade jurídica. O desempenho econômico do país vizinho tem se deteriorado visivelmente nos últimos anos, com a queda de 3% do PIB em 2009, além de inflação de 16% no primeiro semestre deste ano, número que deve superar os 25% do ano passado, segundo estimativas da Comissão Econômica Para América Latina (CEPAL). As incertezas jurídicas na Venezuela estão levando o país rumo a um estrangulamento no campo econômico. Nos últimos anos, o governo realizou uma série de nacionalizações de empresas e setores inteiros da economia. Entre 2005 e 2009, foram realizadas 762 apreensões em áreas rurais e urbanas do país. Grandes bancos estrangeiros foram ameaçados e muitos decidiram encerrar suas atividades no país. No varejo e agronegócio, o governo ditou o que deve ser produzido e estabeleceu tetos para preços dos produtos. As nacionalizações causaram vítimas como o agricultor Franklin Brito, morto no último dia 30 após realizar greve de fome contra a perda de suas terras. O governo da Venezuela afrontou drasticamente os direitos de propriedade expressos em contratos de exploração firmados com empresas privadas. A legislação foi alterada para impor maior participação da PDVSA nos contratos e determinou a ocupação de plataformas de perfuração, docas e embarcações de empresas privadas, domésticas e estrangeiras, contratadas pela estatal. Os resultados macroeconômicos mostram que as nacionalizações prejudicaram o país. Pesquisa mostrou que 74% dos venezuelanos não concordam com este tipo de iniciativa do governo. Os participantes destacaram que as empresas não são compensadas de modo justo — algumas chegam a ter compensação zero — e que não há gestão de qualidade, o que tem provocado queda no rendimento das empresas. A própria estatal PDVSA, maior empresa do país, ilustra bem o resultado, pois teve redução de 52% no seu lucro líquido em 2009. Após quase oito anos de espera, os consumidores livres e especiais de energia elétrica poderão comercializar os seus excedentes no mercado livre. Com isso, o industrial ou grupo de serviços no mercado livre conseguiria reduzir o custo de um contrato superdimensionado para adequá-lo ao seu real consumo e ganhar competitividade. Isso seria uma vitória, não fossem as restrições impostas a essa operação. A Portaria 73 do Ministério das Minas e Energia, que aguarda publicação de decreto presidencial e é responsável por regularizar a venda de excedentes de energia, apresenta algumas restrições: para o consumidor comercializar 100% do seu contrato, este tem que ter prazo de vigência superior a 10 anos, 50% com prazo superior a 5 anos, 20% com prazo superior a 2 anos e apenas 10% da comercialização do contrato de energia elétrica está sem restrição de prazo. As empresas ficarão restritas às regras de comercialização baseadas em cessão de contratos. O ideal seria permitir a venda da energia elétrica registrada no ponto de carga do consumidor livre até o limite do montante e prazo estipulados no contrato. O Brasil vive o mais vigoroso crescimento da sua economia das últimas décadas, transformando-se em referência mundial pós-crise. As previsões indicam que pode chegar aos 7% do PIB este ano, gerando mais de dois milhões de novos postos de trabalho em 2010. O sistema financeiro nacional, como já se tornou comum, vai ainda melhor. Os cinco maiores bancos (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander) tiveram juntos R$ 21,3 bilhões de lucro líquido só no primeiro semestre deste ano. Os bancos, no entanto, comparados com os outros segmentos da economia e com o tamanho da lucratividade, criaram 9.048 empregos no período, o que é pouco e insuficiente. E continuam demitindo muitos bancários, usando a rotatividade como estratégia de redução dos salários. Nesses primeiros seis meses, o salário médio dos contratados foi 38,04% menor do que os dos desligados, achatando a massa salarial para reduzir custos e elevar ainda mais os lucros. A astronômica rentabilidade das instituições financeiras chega a 26% na média. Ou seja, os bancos duplicam de tamanho a cada três anos. Esse ganho sem paralelo no mundo é obtido com as mais altas taxas de juros e de spread do planeta, com a cobrança de tarifas escorchantes e com o massacre do assédio moral a que os bancários são submetidos nas dependências para cumprirem metas inatingíveis. O papel do Brasil, por sua proximidade com a Venezuela, é acompanhar a evolução dos processos democráticos no país A Venezuela realizará eleições parlamentares no dia 26 de setembro. A oposição busca aumentar sua participação na Assembleia Nacional para se organizar para as eleições presidenciais de 2012 e resgatar a democracia plena. É importante que esse processo de redemocratização ocorra e que traga novamente a liberdade de expressão e a liberdade de negócios. O papel do Brasil nesse cenário, por sua proximidade e relações comerciais com a Venezuela, é acompanhar a evolução dos processos democráticos no país vizinho e a recuperação da estabilidade jurídica. Sem a garantia destes direitos, os riscos da integração regional do ponto de vista comercial ainda são muito altos e o preço a ser pago pode ser maior ainda. ■ A regulamentação da venda de excedentes de energia é um começo, significando ganho de competitividade para as empresas Essa regulação excessiva pode resultar em um efeito vazio, ou seja, o agente que não se adequar e precisar de flexibilização acima dos limites estabelecidos buscará outro mecanismo que permita negociar os excedentes livremente. Entre 2002 e 2004, o consumidor livre não era obrigado a se tornar um agente de mercado e a maioria optava por manter o ponto de consumo sob a responsabilidade de um agente comercializador. Essa sistemática permitia ao industrial no ambiente livre a comercialização das sobras por seu agente, tanto no curto, quanto no médio e no longo prazo, ou seja, não havia problemas em relação aos excedentes. A publicação do Decreto 5.163, de 30 de julho de 2004, tornou obrigatório que o consumidor livre se torne agente de mercado, ficando responsável pelo registro do consumo e dos contratos de energia elétrica. Foi vetada a venda de suas sobras contratuais, passando os eventuais excedentes a serem liquidados ao Preço de Liquidação de Diferenças (PLD). Isso restringiu a comercialização do excedente a preço de mercado. Essa restrição obrigou os consumidores livres a celebrarem seus novos contratos criando cláusulas de transferência de energia para outras unidades, outros agentes e até mesmo prevendo a cessão parcial ou total do contrato em certas situações. Alguns estão constituindo suas próprias comercializadoras, onde serão registradas suas contratações futuras e a transferência dos contratos atuais, como forma de retomar a liberdade na comercialização da energia elétrica. A discussão da Portaria 73 já demonstra um amadurecimento do mercado livre de energia elétrica. Essa regulamentação pode não ser uma vitória, mas significa um início para corroborar o ganho de competitividade aos agentes industriais que são consumidores livres. ■ Os bancos, que se vangloriam de constituir um dos sistemas mais avançados do mundo, precisam respeitar seus trabalhadores Dois mil municípios não têm sequer uma agência bancária. O crédito é escasso e caro. Esse modelo só é benéfico aos bancos e não serve ao povo brasileiro. O país precisa de um outro sistema financeiro, que dê sua contrapartida ao desenvolvimento econômico e social, ofertando mais crédito a um custo menos penoso para a sociedade. Os bancos, que se vangloriam de constituir um dos sistemas mais avançados do mundo, precisam respeitar as pessoas, tanto seus trabalhadores quanto os clientes. Devem aos bancários uma remuneração digna, valorização dos pisos, garantia de emprego e melhor qualidade de vida, sem metas abusivas e assédio moral, garantindo igualdade de oportunidades a todos, sem nenhum tipo de discriminação e preconceito. Eles também devem melhores serviços aos clientes e à população, com a eliminação das filas e o fim dos correspondentes bancários, mediante a abertura de agências e postos com qualidade de atendimento e segurança. Os bancos públicos precisam assumir o seu papel de indutores, dando o exemplo não apenas na oferta de crédito barato, mas também nas relações de trabalho com seus funcionários. Por isso, a regulamentação do sistema financeiro é um dos principais temas da Campanha Nacional dos Bancários 2010. A pauta de reivindicações já foi entregue para a Federação Nacional dos Bancos. Os resultados dos bancos mostram que é possível atender às demandas, como forma de contrapartida aos trabalhadores e também à sociedade. Outro banco é preciso, com as pessoas em primeiro lugar. ■ Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 11 Daniela Souza/AE De cortiço a parque O edifício São Vito, no centro de São Paulo, virou símbolo da degradação da área. Depois de uma batalha judicial que durou mais de um ano, ele começou a ser demolido, assim com outros dois, o Mercúrio e o Francisco Herrerias. A demolição está sendo feita manualmente. Uma implosão poderia danificar os 32 vitrais, trazidos da Alemanha, que adornam o Mercado Municipal, um símbolo de como edifícios históricos podem ser resguardados. O São Vito dará lugar a um parque. Dominique Faget/AFP FÚRIA TRABALHISTA Primeiro foram os franceses, agora os espanhóis. Trabalhadores protestaram ontem, em encontro organizado por sindicatos na arena para touradas Vistalegre, em Madri, contra a aprovação de reformas laborais. Calorosamente debatidas, as reformas são consideradas essenciais tanto para reduzir o desemprego quanto para ressuscitar a frágil economia do país. Entre elas estão medidas, propostas pelo governo do primeiro ministro socialista Jose Luiz Rodriguez Zapatero, que tornam mais fácil despedir funcionários. Negociações feitas entre o governo, empresas e sindicatos fracassaram. Os duas principais centrais sindicais espanholas agora pedem uma greve geral, marcada para 29 de setembro. ENTREVISTA ARMANDO DAL COLLETTO Diretor acadêmico da Business School São Paulo Escolha do MBA requer muita cautela A multiplicação de cursos não preocupa especialista, que aposta na seleção natural Márcia Pinheiro [email protected] A proliferação de MBAs no país, muitos sem padrões mínimos de qualidade, é uma realidade difícil de ser mudada. A saída para a escolha certa? Checar as instituições recomendadas pela Associação Nacional de MBA (Anamba). Há uma proliferação indiscriminada de cursos de MBA no Brasil? Como separar o joio do trigo? O mercado é muito grande. É natural o surgimento de muitos cursos. Cabe a nós e à imprensa alertar os alunos que os cursos sérios de MBA têm de se enquadrar em uma série de padrões reconhecidos pela Anamba e por instituições internacionais similares. Ou seja, não basta cursar Murillo Constantino “Cabe a nós e à imprensa alertar os alunos que os cursos sérios têm padrões a ser seguidos” qualquer MBA. Não. Nossos cursos têm 500 horas-aula e são abrangentes. Infelizmente, o Brasil é campeão em fazer proliferar produtos e serviços não adequados às demandas do mercado. O que motiva o profissional a procurar especialização? Todos têm consciência da necessidade de se preparar e competir. O mercado, mais e mais, está em busca de profissionais com conhecimentos gerais, mas com habilidades específicas. Qual é o público alvo da Business School São Paulo? Desde jovens com dois ou três anos de experiência até profissionais mais seniores, com dez anos de estrada. O importante é oferecer cursos que sejam adequados a cada perfil, segundo sua vida profissional pregressa e suas expectativas. ■ Leia versão completa em www.brasileconomico.com.br 12 Brasil Econômico Sexta-feira, Sexta-feira e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BRASIL O presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Administração (Consad), Sérgio Ruy Barbosa, é contra piso nacional para policiais e diz que assunto compete aos estados Salário da União puxa aumento Reajustes concedidos a servidores federais pautam negociações nos governos estaduais. As duas esferas Paulo Justus [email protected] O crescimento da despesa com funcionários do Executivo federal superou o dos estados nos dois últimos anos. No acumulado dos 12 meses encerrado em abril, o dispêndio da União com servidores do Executivo , exceto militares, teve um aumento de 7,52%, já descontada a inflação do período, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Na mesma comparação, os gastos dos estados e Distrito Federal com pessoal cresceram 4,45%. Em 2009, a evolução das despesas foi de 13,15% para a União e de 9,09% para os estados. Com salários em geral mais baixos que os da União, os estados sofrem uma pressão constante para equiparação salarial “ Não posso competir em salários com a União, mas tento propor uma remuneração condicionada a desempenho, que é uma coisa que está acontecendo em todo o Brasil Sérgio Ruy Barbosa, secretário de planejamento do Rio de Janeiro com a esfera federal. O secretário de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro e presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Administração (Consad), Sérgio Ruy Barbosa, diz que é comum perder funcionários para a União. “Não posso competir em salários, mas tento propor uma remuneração condicionada a desempenho, que é uma coisa que está acontecendo em todo o Brasil”, diz. O descompasso entre as esferas de governo se deve às maiores amarras que os estados têm para elevar gastos com folha de pagamento. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) limita essas despesas a 49% da arrecadação estadual. “Os estados também estão comprometidos com acordos de renegociação de dívida. Já a União tem apenas o limite do superá- vit primário, mas isso não é problema quando a arrecadação se aumenta muito, como ocorreu recentemente”, afirma o economista Raul Velloso. Para fugir dessas limitações, parte dos estados recorre à terceirização de pessoal, de acordo com o especialista em contas públicas Amir Khair. “Muitos terceirizam serviços e retiram da conta despesa com pessoal os reajustes para serviços de consultoria, de pessoa física e jurídica”, diz. Além de escapar do limite da LRF, a terceirização também permite dar aumentos mais generosos sem comprometer tanto o orçamento dos estados, de acordo com Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. “Em São Paulo, por exemplo, as organizações sociais de saúde são regidas pela mesma legislação do setor privado, o que permite que os reajustes salariais não sejam carregados para os inativos, como ocorre com os demais servidores”, diz. Discrepâncias Dentro do próprio governo federal, as diferenças salariais também favorecem os aumentos de salário de determinadas categorias. De acordo com levantamento do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eneuton Pessoa, considerando a remuneração de cargos que requerem nível superior de ensino, o maior vencimento concedido representa 17,5 vezes o menor. Essa era a diferença, em 2008, dos vencimentos em início de carreira do procurador do Banco Central, de R$ 14.049, e dos Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 13 Andre Dusek/AE Governo fecha acordo para agência de garantia O Ministério da Fazenda anunciou ontem um acordo com as empresas seguradoras para a criação da Agência Brasileira de Garantias (ABG). A agência vai substituir a proposta que criaria a Empresa Brasileira de Seguros, que sofreu resistência do setor privado. Segundo o secretário-adjunto de Política Econômica, Dyogo Oliveira, ainda não há definição sobre se a proposta será submetida ao Congresso por meio de projeto de lei ou de Medida Provisória. Ele ressaltou que a proposta será enviada ainda em 2010. AGENDA DO DIA ● IBGE informa os resultados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário de julho. ● Fipe e FGV publicam prévia da inflação pelo IPC de setembro e IGP-DI de agosto, respectivamente. ● ABCR divulga fluxo de veículos nas estradas sob concessão. NOVAS NORMAS CONTÁBEIS E SEUS IMPACTOS TRIBUTÁRIOS Adequação e capacitação para sua empresa (11) 3138-5314 [email protected] www.bdobrazil.com.br Carlo Wrede/Ag. O Dia Policiais fazem pressão por reajuste nacional Projetos impactam a folha de pagamento nos estados ao fixar pisos nacionais para servidores Sílvio Ribas, de Brasília [email protected] nos estados competem por funcionários técnicos administrativos nível A, das Instituições Federais de Ensino, que ganhavam R$ 802. “O anseio por isonomia salarial é maior quando se trata do mesmo cargo público em esferas governamentais diferentes ou então em órgãos da mesma esfera, sobretudo, quando são categorias pequenas que gozam de elevado prestígio social e poder de barganha”, diz Pessoa. Nos estados, as discrepâncias salariais podem ser notadas pela diferença entre os aumentos concedidos às categorias. De acordo com levantamento feito com oito estados pelo B RASIL ECONÔMICO, os reajustes concedidos em 2010 variaram de 4,4%, para os servidores de segurança e educação de São Paulo, a 248%, referentes ao reajuste de servidores da administração direta do Rio de Janeiro. ■ Mais do que multiplicar ônibus lotados de servidores na direção de Brasília para acompanhar votações no Congresso, as propostas de emenda constitucional (PEC) que criam pisos nacionais de salários para diferentes categorias tornam o Legislativo federal um problema para os orçamentos dos estados. Aprovado em 2008, o salário mínimo do professor, reajustado todo ano (R$ 1.024,67), foi regulamentado em julho pelo Senado e está sob análise da Câmara. Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba e Rio Grande do Norte ainda não conseguiram cumprir a nova legislação para vencimentos da educação. Mas o maior impacto de um projeto de lei sobre a folha de pagamento dos estados está sendo esperado para servidores da segurança. A PEC 300/2008, que fixa piso nacional para bombeiros e policiais civis e militares tendo por base o Distrito Federal (R$ 4,5 mil), pode ser aprovada este ano pela Câmara. Sob a pressão do calendário eleitoral e de centenas de manifestantes nos corredores da Casa, incluindo recentes cenas de pancadaria, a proposta foi votada pelo plenário em primeiro turno. Líderes do governo federal e ligados a governadores Despesa da União com servidores nos 12 meses encerrados em abril de 2010 95 bi Dispêndio dos estados e Distrito Federal com pessoal, no mesmo período R$ trabalham para concluir a votação da “bondade eleitoral” só depois dos resultados das urnas. Para agravar esse quadro, questões administrativas, como plano de carreiras, estão sendo contornadas via emenda constitucional. A Câmara está pronta para votar a PEC 308/2004, que transforma os 100 mil agentes penitenciários de todo o país em “policiais penais”, com poderes para realizar investigações e captura de foragidos. Na prática, eles esperam receber vencimentos iguais aos dos policiais. Governadores alertam para o risco de ficarem impedidos de cumprir a lei de responsabilidade fiscal, caso a PEC 300 e outras do tipo sejam aprovadas. Cada estado tem realidade financeira diferente, mas muitos avisam que não suportariam o novo ônus com servidores. A alternativa é transferir a conta para a União, que teria de criar um fundo para socorrer unidades da Federação que não tenham recursos suficientes para pagar os novos vencimentos. Os líderes parlamentares estão preocupados. “Os deputados não votarão essas matérias na marra”, reagiu Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara. Com o adiamento das votações, policiais prometem greve nacional a partir da véspera das eleições. “O governo vacilou nessa questão. Receio que tenhamos perdido o controle e aberto a porteira para mais despesas estaduais com funcionalismo”, disse o líder do PSDB, João Almeida (BA). ■ José Cruz ■ GASTOS R$ Para pressionar pela votação de emenda constitucional, manifestantes têm rotina de protestos em Brasília e avisam que ainda podem deflagrar greve 169 bi Aumento real dos gastos com folha da União em 2010 7,52 % Protesto de policiais: categoria quer piso nacional de R$ 4,5 mil 14 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira,e10 fim dede setembro, semana, 2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BRASIL MOSAICO ELEITORAL Vote em um, eleja dois PLANO B Suplência ao Senado é a moeda de troca mais valorizada nas articulações políticas Pedro Venceslau [email protected] A primeira providência de Orestes Quércia depois de decidir abandonar a disputa ELEIÇÕES para o Senado foi garantir que seu segundo suplente, Aírton Sandoval, não ficasse ao relento. Ainda no quarto do hospital onde está internado, o ex–governador recebeu uma comitiva de tucanos para definir que Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB, herdaria o tempo de TV, a estrutura de campanha e seria o candidato único da coligação. Em troca, só fez um pedido: que Sandoval ocupasse o lugar do tucano Sidney Beraldo como primeiro suplente da candidatura única. Ao saber da movimentação, o primeiro suplente de Quércia, o vereador paulistano Antonio Goulart, tentou barrar o acordo. Mas foi demovido da ideia ao receber um telefonema do próprio Quércia. A insistência foi estratégica. Sandoval é mais articulado com a máquina do PMDB antilulista no interior. Tem, portanto, mais condições de cumprir o papel que era de Quércia: barrar o assédio do paulista Michel Temer, da ala governista do PMDB, sobre os prefeitos do partido. “Existe um movimento forte em São Paulo chamado ‘quercismo’. O avanço de Temer sobre a nossa base não ocorrerá”, diz Sandoval. A pergunta que fica no ar é por que um posto secundário como a suplência tem tanto valor nas composições políticas. A resposta na maioria dos casos exige um exercício de futurologia. O caso de Marta Suplicy é emblemático. Ela é candidata natural para disputar a prefeitura da capital em 2012, cotada para assumir um ministério em caso de vitória de Dilma ou ainda disputar o governo paulista em 2014. Ou seja, há uma chance real que saia do Senado. Marta tentou emplacar como seu suplente o ex-ministro Antonio Palocci. Acabou tendo que aceitar o vereador Antonio Carlos Rodrigues, do PR. Ex- secretário 2010 A atual legislatura do Senado chegou a ter 20 suplentes empossados, um quarto do total da casa de Paulo Maluf, ele chegou a ter seu mandato cassado pelo TRE. Ao todo, sete senadores no meio do mandato concorrem a governador e aparecem bem colocados nas pesquisas. Se vencerem, darão lugar a uma bancada de políticos “sem votos”. A atual legislatura chegou a ter 20 suplentes empossados. “A reforma política precisa acabar com os suplentes. Eles seriam substituídos pelo segundo colocado”, diz o deputado Edson Aparecido, da executiva nacional do PSDB. Nestas eleições, o TSE obrigou pela primeira vez que o titular inclua o nome do suplente no materiais. Ainda que em letras minúsculas. ■ BOCA DE URNA Divulgação GERALDO BIASOTO Economista e integrante da coordenação de campanha de José Serra “A culpa institucional dessa bagunça é do governo Lula” Integrante da coordenação da campanha presidencial do PSDB, o economista Geraldo Biasoto, tem se mostrado um crítico feroz do atual governo e de algumas estratégias adotadas pelo presidente Lula. Ele apresentou alguns desses pontos, com destaque para os que têm relação com o desenvolvimento industrial: O senhor afirma que há verba disponível para investimento em política industrial. De onde sairia esse dinheiro? O Orçamento Geral da União pode ser direcionado para investimento em política industrial. Há muitos setores que precisam desse aporte, dentre os quais eu destacaria a indústria de componentes, a química e a petroquímica. É preciso haver uma trajetória para recolocar a indústria no centro da atividade econômica brasileira. O governo Lula passará para a história como uma gestão que fez muita coisa, mas a economia vai se desfazer. Há desindustrialização crescente. Há áreas que estão sumindo ou virando importadoras. Isso só se reverte com muito trabalho no parque produtivo. Do contrário, seremos exportadores de commodities para sempre. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 15 Filipe Araujo/AE FUNDO DO BAÚ A brasileira que abalou Nova York No programa eleitoral do Espírito Santo, a candidata à Assembleia Legislativa pelo PRP Andréia Schwartz se declara defensora da “luta diária contra o preconceito e a discriminação”. Para quem não lembra, Andréia é aquela que em 2008 ajudou a derrubar o governador de Nova York, Eliot Spitzer. FALTAM Segundo jornais americanos na época, Andréia era a cafetina que agenciava modelos para o político a US$ 1 mil a hora. Deportada dos EUA, Andréia negou as acusações ao voltar ao Brasil e chegou a cobrar por entrevistas. Na época, ela dizia que pensava em abrir um “negócio de importação e exportação”. DIAS PARA O 1º TURNO DAS ELEIÇÕES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 BRANCO CORRIGE CONFIRMA Divulgação NANICAS Apoio partidário Cotada para disputar a prefeitura de São Paulo em 2012 ou assumir um ministério no caso de vitória de Dilma, Marta Suplicy tentou emplacar Antonio Palocci como seu suplente. Por pressão do aliado PR, teve que aceitar como “companheiro” de chapa o vereador Antonio Carlos Rodrigues. ● Celso Russomanno, candidato ao governo de São Paulo pelo PP, afirmou que não está negociando apoio para um possível segundo turno, caso esteja fora da disputa. “Já conversei com os dois lados, mas por enquanto estou fazendo a minha campanha. Se eu tiver de apoiar alguém, vou declarar”, disse, ressaltando que não recebeu ainda convites. “Eu sempre tive bom relacionamento com todos. Inclusive, o Geraldo Alckmin (PSDB) foi meu padrinho de casamento”. Russomanno possui cerca de 10% das intenções de voto, ocupando o terceiro lugar. Rafael Neddermeyer Fim da linha ● O Supremo Tribunal Federal (STF) negou registro do primeiro candidato barrado, por meio da Lei Ficha Limpa, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Francisco das Chagas (PSB), que concorre à vaga de deputado estadual no Ceará, havia sido impedido de se candidatar em 25 de agosto. Ontem, inclusive, o presidente do STF, Cezar Peluso, declarou que o processo do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PSC) deve ser julgado antes de uma eventual posse. “Sem dúvida é bem possível que se julgue antes das eleições”, disse. Roriz recorreu ao STF contra a Ficha Limpa, alegando inconstitucionalidade. Sua candidatura à reeleição no governo do DF foi barrada pelo TRE e, depois, pelo TSE. Vassourinha Os indicadores do pós-crise são trágicos. O governo Lula fez política industrial de maneira genérica. É preciso fazer política industrial efetiva e, para isso, é preciso colocar muito dinheiro em muitos setores. Tem dinheiro no Orçamento para isso. Outro ponto que o senhor destaca é que a parceria entre empresas e universidades não tem funcionado em prol da inovação tecnológica. O que poderia ser feito neste sentido? Universidade não é só um local de formação e hoje só se investe em ensino. Universidade é também aparelho de produção de ciência. Hoje no Brasil gastamos milhões e milhões para fazer campus em tudo que é canto, mas não se pensa no perfil dos fomandos. No programa do PSDB deixamos claro que queremos mudar esse perfil de oferta de vagas com destaque para ciência e tecnologia. E, além disso, vamos ampliar o ensino técnico, porque ProUni para fazer curso de letras não dá, né? Só para ter curso superior? A faculdade oferece curso de letras porque não tem que construir laboratório. Só que este é um problema microeconômico do setor educacional com o qual o governo não pode ser conivente. E quanto à questão das agências reguladoras e a relação do Estado com as empresas? As agências não conseguem estabelecer diálogo entre Estado e instituições privadas. Têm ótica distorcida de sua função e se pretendem produtoras de linhas de política, mas precisariam trabalhar normas para agir como intermediadoras entre o mercado e governo. No governo Lula há aparelhamento das instâncias regulatórias. O Brasil não constituiu ainda a relação público- privado que se quer. E há outros pontos que dificultam essa relação para estabelecer a confiança das empresas. O formato macroeconômico atual é quase endeusado, mas a dinâmica da economia e da sociedade vai muito além disso. A taxa de juro é alta, o câmbio vai derretendo e não há política de preços básicos. O do petróleo é a Petrobras quem faz, temos uma das energias mais caras do mundo, não temos preço de gás (só para a indústria, mas é mais de duas vezes o praticado nos Estados Unidos). O culpado institucional dessa bagunça é o governo Lula. Cláudia Bredarioli ● O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que terá um sistema capaz de identificar possíveis irregularidades em financiamentos de campanhas. A varredura, contudo, será feita apenas em casos fundamentados. “Quando for e se for necessário, se houver suspeita de que alguma conta foi objeto de lavagem de dinheiro, nós usaremos o conjunto de softwares”, disse o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski. Segundo ele, somente os técnicos da corte farão a gestão dos dados. Para facilitar a troca de informações, o TSE assinou acordo com o Ministério da Justiça ontem. 16 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BRASIL MOSAICO ELEITORAL Roberto Stuckert Filho GABRIEL GANHA ESPAÇO NA CAMPANHA VUVUZELA “Entre nós foi um bom debate. Agora, a ausência da moça (Dilma) é uma falta de respeito. Ela pisou no tomate e tem que levar paulada... e tomou paulada” Plínio de Arruda, candidato à presidência da República pelo Psol “Bom dia, Dona Dilma! Pra quem foi guerrilheira, um debate anda assustando demais, hein? Vamos comparecer às batalhas?” HugoGloss, humorista “Qual a razão de dar audiência a um ditador que quer fazer a bomba atômica e riscar Israel do mapa?” Marina Silva, candidata à presidência da República pelo PV, sobre política externa brasileira em relação ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad “O governador Cabral e o seu PMDB têm inúmeras evidências na história recente de uma aliança política com as milícias” Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio, partindo para o ataque contra Sergio Cabral “No atual governo foram presos 436 milicianos” Resposta da assessoria de Cabral “Ele [Lula] age como cabo eleitoral daqueles que fingem desconhecer a legislação” Luiz Carlos Hauly, deputado federal (PSDB-PR) Nasceu na manhã de ontem o primeiro neto da candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff. Paula, filha única da petista, deu à luz Gabriel em Porto Alegre (RS), no Hospital Moinhos de Vento. O menino nasceu de cesariana, com 50 centímetros e 3,95 kg. Por conta disso, a candidata cancelou a participação no debate com candidatos à Presidência e em um comício em Ribeirão Preto, interior de SP. 1 ponto no Ibope foi o pico de audiência conquistado pelo debate entre os presidenciáveis na última quarta-feira (8). Participaram do evento na TV Gazeta José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda (Psol). Dilma Rousseff (PT) não compareceu. Igo Estrela/ObritoNews Marina aconselha contribuinte a procurar Receita A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, defendeu que a população procure a Receita Federal para saber se sofreu violação de seus dados fiscais, após os relatos de que pessoas ligadas ao candidato José Serra tiveram seus sigilos quebrados. Para a candidata, o tratamento dado pelo governo ao episódio cria um sentimento de desamparo e impotência à população. “O ministro (da Fazenda, Guido) Mantega em grande tempo de omissão banalizou um crime. No caso do presidente Lula, o que se criou foi um desamparo, porque os milhares de brasileiros que foram violados em seus sigilos querem uma atitude do Estado, uma atitude de firmeza”, afirmou ontem a candidata. Marina disse ainda que as denúncias colocam sob suspeita uma das mais tradicionais instituições de carreira do Estado. “Acho que os brasileiros deveriam começar a peticionar à Receita Federal para saber se ele (o contribuinte) foi violado também”. Luiz Alves/Ag. Camara Wilton Junior/AE Chapa de Serra diverge quanto ataque à Lula O candidato a vice de José Serra (PSDB), Indio da Costa (DEM), acredita que o tucano não deve responder em horário eleitoral a comentários feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em defesa à petista Dilma Rousseff. “Não deve responder, pois Lula não é o candidato. No dia 1º ele vai para casa”, disse. Já para o senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, e o marqueteiro da campanha, Luiz Gonzalez, o ataque direto deve ser feito. Seguindo o conselho da cúpula tucana, Serra disse em seu horário eleitoral de ontem que “quem deve explicações ao Brasil se esconde atrás de ministros e do presidente da República”. Sexta-feira e fim de semana, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 17 Sexta-feira, 18 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira,e 10 2010 fimdedesetembro, semana, 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BRASIL Marcela Beltrão SEM DÍVIDAS MERCADO INTERNO Consumidor aproveita restituição do IR para regulalizar dívidas em agosto Lojistas já esperam crescimento de 10% nas vendas do comércio no ano A restituição do IR tem ajudado a regularizar as dívidas de consumidores. Nos últimos 12 meses (agosto/09 agosto/10) aumentou em 11,31% o número de pessoas que regularizaram seus débitos, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Na comparação com o mês anterior, agosto teve alta de 9,13%. A previsão é que em setembro a inadimplência caia ainda mais com mais regularizações. O presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, disse que as vendas do comércio deverão crescer mais de 10% neste ano. Segundo ele, essa já é a terceira estimativa feita pela associação para o aumento das vendas. “No início do ano, era 6,5%, reajustamos para 8,5% após o Dia das Mães e já podemos imaginar um crescimento de dois dígitos, superior a 10%”, disse. Marcela Beltrão Todos os indicadores de atividade industrial devem ultrapassar níveis pré-crise ainda em 2010 Indústria brasileira mostra novo fôlego no início do semestre Após período de acomodação, índices de faturamento, emprego e salário recuperam patamares elevados Cláudia Bredarioli [email protected] O faturamento real da indústria cresceu 3,6% em julho em relação a junho, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostram retomada da atividade no setor no início deste semestre, depois um período de acomodação registrado no segundo trimestre. Em relação a julho de 2009, o aumento foi de 8,9%. Segundo a CNI, o faturamento foi o indicador que teve a maior elevação frente ao período pré-crise: 4,2% em julho sobre setembro de 2008, antes da turbulência. A previsão do economista da CNI Marcelo Ávila, porém, é de que todos os indicadores da atividade industrial ultrapassem os níveis pré-crise ainda neste trimestre. Segundo ele, se a produção voltar a aumentar um pouco acima dos 0,4% que cresceu em julho, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) os índices de setembro de 2008 serão superados nos próximos dois meses. Acompanhado da recuperação da atividade industrial, o nível de emprego no setor também cresceu no início do segundo semestre, segundo os dados da CNI. O emprego industrial apresentou expansão de 0,5% em julho ante junho, também em dados dessazonalizados, e registrou alta de 7,3% em relação a julho de 2009. O aumento foi de 1,6% na média de horas de trabalhadas em relação a junho e de 8,1% em relação a julho de 2009. Segundo Ávila, na análise setorial, o em prego é a variável que mostra maior aceleração no ritmo de crescimento. Registrou alta em 14 dos 19 setores analisados na pesquisa. O crescimento do emprego também impulsionou os salários, que registraram 3,6% de aumento em julho ante junho. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a massa salarial se expandiu 8% em julho. A estabilidade dos preços VEÍCULOS 15,9% foi a alta de faturamento no setor — a maior dentre os pesquisados. ELETRÔNICOS 9,3% foi o aumento de faturamento em relação a julho de 2009. gerou ganhos no rendimento médio real do trabalhador, com crescimento de 3,1% em julho na comparação com junho. De acordo com Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria, os indicadores estão dentro do esperado e devem se manter positivos, já que a demanda vai sustentar o desempenho da indústria nos próximos meses. Da mesma forma, segundo ele, o emprego irá manter a trajetória enquanto o cenário da produção se mantiver no azul. Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), destaca também que alguns setores ainda não retomaram o nível de atividade pré-crise e poderão crescer mais nos próximos meses, contribuindo para sustentar o desempenho industrial como um todo. ■ UTILIZAÇÃO FABRIL Uso da capacidade instalada tem terceira queda consecutiva A utilização da capacidade instalada (UCI) foi o único dentre os indicadores da CNI a registrar queda em julho, de 0,2 ponto porcentual em relação ao mês anterior. Essa foi a terceira queda seguida do indicador que, em junho, estava em 82,5% e passou para 80,5 em agosto. De acordo com a CNI, na comparação com julho de 2009, o UCI cresceu 2,3 pontos porcentuais. O economista da CNI, Marcelo de Ávila, explica que essa queda se deve aos investimentos no parque industrial feitos logo após a acentuada expansão da produção no primeiro trimestre. Segundo o economista Rogério Cesar de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), há dois pontos que podem ser considerados como causas desse resultado: o primeiro é que as empresas tenham passado por um ajuste de sua capacidade ao estritamente necessário após o período de crise; o segundo, não excludente, é que produtos importados estejam substituindo em parte os itens brasileiros no processo produtivos — reduzindo, assim, a necessidade de uso das fábricas, sem prejuízo para o faturamento, cujo desempenho direto decorre das vendas. C.B. Sexta-feira, Sexta-feira e fim de semana, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 19 Evandro Monteiro EFICIÊNCIA ECONÔMICA AGRICULTURA Brasil recua para 58º lugar em ranking global de competitividade IBGE projeta safra recorde de 148 milhões de toneladas em 2010 O Brasil caiu duas posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial e agora ocupa o 58º lugar entre 139 países. O país segue atrás de outras nações da América Latina, além dos emergentes China e Índia. Os EUA também recuaram dois postos e figuram em quarto lugar. O país foi superado novamente pela Suíça, primeira colocada pelo segundo ano seguido, e também por Suécia (2º) e Cingapura (3º). A estimativa de agosto do IBGE para a safra 2010 aponta uma produção de 148 milhões de toneladas. O volume é 1,1% maior que o registrado na previsão de julho, quando a projeção era de 146,4 milhões de toneladas. Se confirmada, a safra deste ano será 10,5% superior à de 2009 e 1,4% maior que a safra recorde anterior apurada no Brasil, em 2008, quando o total de grãos chegou a 146 milhões de toneladas. Retomada traz pressão sobre preços De janeiro a agosto o IPCA acumula alta de 3,14% e em 12 meses alta de 4,49% Eva Rodrigues [email protected] A leve alta de 0,04% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto encerrou a temporada de três meses de inflação praticamente zerada — no acumulado entre junho e agosto o IPCA subiu apenas 0,05%. Daqui em diante, a demanda aquecida e novas pressões do grupo Alimentos vão levar o IPCA a registrar altas médias entre 0,3% e 0,4%, segundo analistas. A deflação de 0,24% em Alimentos, menor que a queda de 0,76% verificada em julho, pe- sou para o resultado mês. “Tivemos algum susto vindo de fora por conta de problemas climáticos que afetaram os preços de grãos no mercado internacional, além de altas sazonais nos itens vestuário e educação que já eram esperados”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Para o item alimentos, vale lembrar tendências opostas já vistas neste ano: uma alta que chegou a 1,6% em março, que depois se reverteu em deflação de 0,9% em junho. Entre julho e agosto, o índice de difusão (porcentagem de itens que aumentaram preço) passou de 48,7% para 52,6%, mas ainda está abaixo da média de 60%observada durante o primeiro semestre do ano. ■ JUNHO-AGOSTO A inflação acumulada nos últimos três meses ficou em 0,05 % ■ ATÉ DEZEMBRO Nos próximos meses, analistas projetam IPCA de 0,3 % Além disso, a média dos núcleos do IPCA em 12 meses caiu de 4,94% em julho para 4,92% em agosto. “Diante disso, acredito que a inflação vai acelerar para uma média mensal entre 0,3% e 0,4%, mas não tira o IPCA da meta”, afirma Gonçalves, que projeta IPCA em 5% no ano. O banco Santander é menos otimista com as pressões de preços e projeta IPCA em 5,5% em 2010. A alta de commodities é um dos fatores vistos pelo banco como fator de pressão em alimentos nos próximos meses. Além disso, os estímulos à demanda vindo pelas vias do crédito, da renda e do mercado de trabalho devem continuar, diz o economista Cristiano Souza. “O Banco Central suavizou demais os perigos que ainda podem vir, já não fala em descompasso entre oferta e demanda, mas há algum descompasso.” De qualquer forma, Souza observa que o quadro geral é de uma inflação corrente tranquila. “Se olharmos para as diferentes medidas de núcleos em agosto, eles estão entre 0,12% e 0,33%. No começo do segundo trimestre esses núcleos rodavam entre 0,5% e 0,6%. E se olharmos para a inflação acumulada em 12 meses, saímos de 5,26% lá em abril para 4,49% em agosto”, diz. No Santander a projeção média para os próximos meses também está entre 0,3% e 0,4%, com menor intensidade em setembro e subindo gradativamente nos meses seguintes. ■ 20 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 INOVAÇÃO & TECNOLOGIA SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORISMO ENTREVISTA JAY BHATT Vice-presidente de Arquitetura, Engenharia e Construção Autodesk tem solução capaz de Com o celular será possível escanear a estrutura de um edifício e descobrir, por exemplo, vazamentos. O sistema Natália Flach [email protected] Durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, deste ano, Jay Bhatt, vice-presidente sênior da divisão de Arquitetura, Engenharia e Construção da Autodesk, encontrou-se com o diretor James Cameron. “Queria cumprimentá-lo por Avatar e dizer que foi uma honra poder participar do projeto.” No momento em que ele entregou o seu cartão de visitas, Cameron interrompeu a sessão de autógrafos e encaminhou o executivo para uma sala reservada. “Ele começou a descrever o que precisávamos melhorar nos nossos softwares, aqueles mesmos que tornaram possível filmar Avatar”, conta Bhatt. A Autodesk é líder no desenvolvimento de softwares para a criação de projetos de arquitetura, engenharia e construção civil em 2D e 3D. Os programas mais conhecidos da companhia são o Autocad e o Revit. “Temos cerca de 9 milhões de usuários em todo o mundo e o número de programas piratas ultrapassa 25 milhões”, afirma. Mas a menina dos olhos da companhia é o Building Information Modeling (BIM), que reúne um conjunto de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de vida de um edifício. Abrange geometria, relações espaciais e as propriedades que compõem a construção, como noticiou o BRASIL ECONÔMICO, na edição de 1° de setembro. O próximo passo será colocar na tela do celular a possibilidade de escanear edifícios inteiros — construídos pelo sistema BIM — e detectar vazamentos ou desenhar projetos de renovação das fachadas, conhecidos como retrofit. O que a Autodesk está desenvolvendo no momento? Estamos entrando na era da computação em nuvem. Vamos oferecer aos nossos clientes uma senha que permitirá acessar vários programas alocados em um único servidor. Já estamos testando isso em nossos laboratórios. Em breve, também vai ser possível tirar uma foto de um prédio e fazer análise de sua estrutura, o que permitirá fazer retrofits (revitalização) do imóvel mais rapidamente. Além disso, será possível apontar o iPhone para uma parede e na tela irá aparecer a estrutura de encanamento, permitindo detectar possíveis vazamentos, por exemplo. Mas como isso será possível? Para isso, os edifícios precisam “ No Brasil, poucas construtoras usam o BIM, como a Método Engenharia, e o escritório de arquitetura Athié Wohnrath Nenhum país está preparado para inúmeras obras de infraestrutura. Nunca há engenheiros ou arquitetos suficientes ter sido projetados por meio do Building Information Modeling (BIM). O BIM é um sistema que funciona como um banco de dados, que permite que se evite erros, a partir do desenho de todas as estruturas integradas em 3D. Com isso, é possível mensurar, inclusive, a emissão de carbono durante as obras e reunir informações sobre acústica do ambiente. O BIM já é uma realidade no Brasil? No Brasil, poucas construtoras o utilizam, como a Método Engenharia, e o escritório de arquitetura Athié Wohnrath. Mas, nos Estados Unidos, todos os edifícios administrativos são construídos obrigatoriamente com o BIM. Lá, o que impede uso mais amplo do sistema é o preço, devido à recente crise econômica. Mas no Brasil a barreira não é o custo e sim os prazos, principalmente porque, daqui a poucos anos, o país vai ser sede de eventos esportivos como Copa do Mundo e Olimpíada. Na sua opinião, o país está preparado para colocar de pé as inúmeras obras de infraestrutura que esses eventos requerem? Nenhum país está preparado para isso. Nunca há engenheiros ou arquitetos suficientes. Mas o governo vai ter de coordenar as construções e evitar desperdícios. Em um estudo recente, foi detectado que a cada três prédios comerciais que são construídos poderia ser levantado um terceiro só com o produto desperdiçado. Ou seja, cerca de Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 21 QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA GESTÃO SUSTENTABILIDADE ADILSON MUNIN radiografar obra Técnico responsável pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento na Unidade de Asfaltos da Viapol também permite visualizar possíveis atualizações da construção Murillo Constantino São 9 milhões de usuários e mais de 25 milhões de programas piratas pelo mundo “ A tecnologia de visualização analítica permite que as pessoas entendam por meio de vídeos como será a interação entre a obra e o entorno 20% a 25% de tudo que é usado nas obras são jogados fora. De alguma forma, o BIM contribui para a aprovação de projetos? Sim. A tecnologia de visualização analítica permite que as pessoas entendam por meio de vídeos como será a interação entre a obra e o entorno. Por exemplo, na construção de uma estrada, o software pode incluir carros passando por ela, o que ajuda na comunicação com os moradores da região e pode até auxiliar na aceitação da construção. Muitas vezes, uma imagem vale mais que mil palavras. Existe outra aplicação para essas projeções? No caso de um porto, por exemplo. Como a precisão do BIM é muito alta, é possível, inclusive, calcular a velocidade dos guindastes e o que isso implica na movimentação das cargas. O tempo de embarque e desembarque pode também influenciar no fechamento de negócios. ■ Produtos e impactos ambientais gerados O mercado industrial brasileiro está passando por uma ampla e saudável corrida pelo desenvolvimento de produtos. Seja pela necessidade de adequação com relação à concorrência, seja pelas claras perspectivas de crescimento devido à Copa do Mundo, Olimpíada, obras do PAC e exploração da camada do pré-sal, há uma preocupação natural em se oferecer produtos e serviços cada vez melhores, mais baratos e principalmente com um apelo ecológico e social agregado ao bem ou serviço. Um fato interessante que nos tem chamado atenção é que, atualmente, para o desenvolvimento de um produto, um dos primeiros pontos a serem tratados está ligado ao meio ambiente, sendo que, em um passado recente, os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento eram sustentados basicamente por três pilares: especificação, qualidade e preço. As demais etapas eram consequências naturais e o produto final era concebido a partir desta base. Nos dias de hoje, um quarto pilar passa a ter uma importância fundamental na elaboração de um novo produto, que é o da sustentabilidade, o qual deve fazer parte da etapa inicial de pesquisa, pois é preciso saber quais impactos ambientais este determinado produto irá gerar. Num raciocínio lógico, o fator custo passa a ter um peso menor, pois, a partir de agora, quando pensamos em custo, devemos pensar no ciclo de vida integral deste produto O mundo está e não somente no preconvergindo para ço de venda. Para muitos empresários pode uma diferente ser difícil enxergar esta tendência de questão de imediato, aceitação do novo porém, é notório que o mundo de uma forma e a empresa que geral está convergindo não estiver atenta para uma diferente a isso estará fadada tendência de aceitação do novo e a empresa ao fracasso ou que não estiver atenta à estagnação a isso estará fadada ao fracasso ou, no mínimo, à estagnação. Assim, quando pensamos em sistemas que visam garantir que um produto seja adequadamente produzido, com base na visão de sustentabilidade, em que, desde o desenvolvimento em laboratório já se tenha uma preocupação ecológica, passando pelas etapas do processo de produção, colocação no mercado consumidor até a preocupação com o ciclo final de vida do produto, estamos falando em ecoeficiência. Segundo o conceito elaborado pelo World Business Council for Sustainable Development, em 1992, “ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduzam progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra”. Portanto, será considerada uma empresa ecoeficiente aquela que adotar políticas na qual o compromisso com a preservação ambiental seja uma realidade e não somente uma política. Uma empresa realmente preocupada com o futuro terá as maiores e melhores chances de penetração nos diversos setores de consumo, pois as companhias, de uma forma geral, serão cada vez mais observadas de acordo com a sua ecoeficiência. Aos empresários e empreendedores é fundamental conciliar a continuidade de investimentos, considerando-se valores de preservação do patrimônio ecológico e ampliação da melhoria de qualidade de vida. ■ 22 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 ENCONTRO DE CONTAS LURDETE ERTEL Fotos: divulgação Zoom nos flashes La dolce vita de Brangelina A mídia europeia se refestelou com a divulgação das imagens da milionária propriedade comprada pelo casal Angelina Jolie e Brad Pitt na Itália. A dupla de astros de Hollywood pagou US$ 40 milhões pela Villa Costanza (fotos), uma clássica vinícola de 18 mil metros quadrados na região de Valpollicella, perto de Verona – cidade de Romeo e Julieta. Além dos vinhedos, a propriedade tem duas piscinas, mansão com 15 dormitórios, sete banheiros, sala de cinema e uma academia de ginástica. Com o investimento, o casal mais badalado do cinema americano encorpa o time de celebridades que estão fincando raízes na Itália, a exemplo de Francis Ford Coppola, Gérard Depardieu e George Clooney. Estão na mesa do comando da gigante Eastman Kodak estudos para ampliar operações no polo industrial de Manaus (AM). De olho na demanda por câmaras fotográficas digitais a ser gerada pela Copa do Mundo de 2014 e pelos Jogos Olímpicos de 2016, a empresa avalia a possibilidade de expandir sua fábrica do equipamento na cidade – a única do gênero que a marca tem fora da China. O projeto de longo prazo também analisa a ampliação dos investimentos na produção de bens de capital (maquinários) e produtos (software) para a indústria gráfica. Outra frente de expansão da Kodak em Manaus pode ser a de programas de computador: a empresa estuda o desenvolvimento desses aplicativos no Brasil. Stan Honda/AFP A Braskem prepara grande festa para o próximo dia 24 de setembro, no polo petroquímico de Triunfo (RS). A data foi escolhida para a inauguração oficial da fábrica do chamado “plástico verde”, que já está em operação. Quem vai cortar a fita é o presidente Lula. Lugar ao sol Com quatro meses de atraso, devem ser deflagradas nos próximos dias em Horizonte (CE) as obras de construção da primeira fábrica de painéis e células fotovoltaicos para energia solar da América do Sul. O empreendimento da Esbra (Energia Solar Brasileira) estava parado à espera de licenciamento ambiental. O projeto receberá investimento de R$ 73 milhões. Na primeira fase, as peças para os painéis fotovoltaicos virão da Alemanha e dos Estados Unidos. “Deu trabalho para transformar os servidores da Receita em carreira típica de estado para dar segurança. E a gente descobre que a funcionária que violou o sigilo de mais de 2 mil pessoas não é nem carreira típica de estado, é do Serpro, geneticamente modificada dentro da Receita Federal” Marina Silva, presidenciável, em entrevista ao jornal O Globo. ▲ Agenda presidencial Lombada de grife Marc Jacobs (D) acaba de abrir mais uma loja em Nova York. Mas, desta vez, o estilista trocou roupas e acessórios por livros, discos de vinil e cds. A Bookmarcs é uma livraria de luxo que não segue um modelo tradicional: best-sellers e livros convencionais não entram no local sem que o autor seja amigo de Jacobs ou passe por sua seleção pessoal. A novo espaço do estilista também oferece itens de papelaria de sua autoria. Jacobs, que terminou recentemente o relacionamento com o brasileiro Lorenzo Martone (E), também comanda a criação artística da marca Louis Vuitton. Além de cuidar, é claro, de sua própria grife, que dispensa apresentações. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 23 Divulgação MARCADO Copa virtual ● Vai acontecer entre os dias 14 e 17, a 1ªI Semana de eCommerce de São Paulo. Uma das inovações é a apresentação de palestras pela internet. Os debates poderão ser acompanhados por todo o Brasil ao vivo através do twitcam. São Paulo, Cruzeiro, Internacional, Flamengo e Corinthians estão entre os 40 times selecionados para a Copa Libertadores virtual do game de futebol Pro evolution soccer 2011. Apesar de nunca ter conquistado um título da competição, o alvinegro paulista está entre os selecionados porque o game irá retratar a edição 2010 do campeonato. Também por esse motivo, times brasileiros campeões da Libertadores como Grêmio, Palmeiras, Santos e Vasco ficaram de fora. [email protected] Carl De Souza/AFP No ritmo das ondas A última coleção Mais uma atração musical se prepara para subir a bordo dos navios de cruzeiro da CVC. A operadora de turismo acaba de bater martelo para mais um tour temático, o CVC Elétrico. A viagem terá como isca as bandas Chiclete com Banana e Cheiro de Amor, além do cantor Nando Reis. Esta chegando ao fim uma das parceiras de maior sucesso da moda. Depois de três anos e 13 coleções, a top Kate Moss vai lançar em outubro sua 14º e última linha de roupas com a rede britânica Topshop. Há rumores de que a top decidiu parar com suas criações porque as últimas coleções não venderam tanto quanto as primeiras. E que Kate estaria perdendo o trono para Chloe Green, filha de Sir Philip Green, diretor da Topshop. A jovem de 19 anos está determinada a lançar sua própria linha de roupas. Mas Moss atribui sua decisão à falta de tempo para se dedicar aos modelitos. A modelo disse que vai continuar desenhando para a marca, mas a partir de agora só em ocasiões muito especiais. O todo poderoso Philip Green declarou ao jornal britânico Sunday Times que a parceria com a Kate foi “fantástica para ambas as partes” e lamentou o fato de Moss não poder mais se dedicar full-time à marca. Doce mordida Maior produtora de cacau do país, a cidade de Medicilândia (PA) acaba de ganhar sua primeira fábrica de chocolates. Na unidade, serão processadas 360 toneladas de amêndoas por ano, para a produção de 400 toneladas de chocolate. Parte do volume vai abastecer a indústria paulista. Localizada na Amazônia, Medicilândia tem 69 mil hectares de área plantada com cacau. Curvas perigosas O tribunal de Justiça de São Paulo manteve nesta semana sentença que fixa indenização de R$ 1,6 milhão à Editora Abril por danos a uma Ferrari. O veículo foi alugado da Super Par para um test-drive em Interlagos, em 2006. Mas a Ferrari 360 Modena foi a nocaute por uma batida em um muro de proteção. Realeza à mesa O príncipe Joachim, da Família Real da Dinamarca, desembarca em São Paulo na próxima semana. Na segunda, será recebido por Anette e Soren Pris Gade, donos da Scandinavia Designs, para um almoço na concept store. Yoshikazu Tsuno/AFP Brinquedo de gente grande A fabricante de dispositivos móveis Parrot está rodando o mundo para fazer decolar uma nova função para os badalados iPhones ou iPads: a empresa criou um brinquedo em forma de helicóptero que pode ser controlado pelos dois equipamentos da Apple. Fabricado em fibra de carbono e plástico de alta resistência, o AR.Drone tem quatro rotores e funciona como um videogame de realidade ampliada. O brinquedo consegue manter estabilidade mesmo em ventos de 15 quilômetros por hora. A novidade está chegando ao mercado europeu por preço sugerido de € 299. GIRO RÁPIDO Geladinho paulista A rede de frozen yogurt carioca Bendita Fruta inaugura neste mês um quiosque no Shopping Paulista. O investimento foi de R$ 150 mil. Presenteando A loja de presentes temáticos Fitá abre sua quarta loja, no centro da capital fluminense, dia 14. Localizada no Shopping Vertical, o novo espaço terá 87metros quadrados e contou com investimento de R$ 180 mil. Pós de qualidade A Estácio ampliou a grade de pós-graduação e entre os cursos novos que serão oferecidos, a partir do dia 11, estão Políticas e Gestão em Segurança Pública e Gestão de Qualidade em Gastronomia. Mais verde A Construtora Camargo Corrêa e o consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsáveis pelas obras da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, doaram área de infraestrutura para instalação da sede administrativa do Parque Nacional Mapinguari, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O parque está localizado na divisa do estado de Rondônia com o Amazonas e tem cerca de 1,5 milhão de hectares. Com Karen Busic [email protected] 24 Brasil Econômico Sexta-feira, Sexta-feira e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 EMPRESAS Usados são atração do mercado imobiliário Lopes, Lello, Brasil Brokers e Coelho da Fonseca buscam expansão, aquisição e parcerias Natália Flach [email protected] Aos poucos, as grandes imobiliárias brasileiras estão se voltando para a comercialização de imóveis usados. Ontem, a Lopes fechou a compra de 51% da paulista Maber Empreendimentos Imobiliários por R$ 17,2 milhões, podendo vir a adquirir os 49% restantes no futuro. Segundo Maurício Mith, ex-proprietário e agora sócio da Maber, a companhia tinha planos de expansão. “Chegamos a conversar com fundos de investimento, mas percebemos que teríamos na mesa apenas o dinheiro. Optamos por fechar negócio com a Lopes por ela agregar conhecimento”, afirma o executivo, acrescentando que as negociações estavam em curso há seis meses. Em 2008, a Lopes lançou a Pronto! para atender o segmento secundário e este ano já incorporou à sua carteira outras cinco empresas, além da Maber: Vila Nova Conceição e Plus, de São Paulo, Self Imóveis de Niterói (RJ) e a também fluminense Patrimóvel, que vinha sendo negociada há mais de dois anos. Outra empresa que segue a mesma cartilha de aquisições é a Brasil Brokers. Segundo Álvaro Soares, diretor de relações com investidores, a empresa está de olho no principal mercado da Lopes, o paulista. “O mercado secundário é mais sustentável se pensarmos que daqui a dez anos os lançamentos podem diminuir o ritmo”, afirma Soares. De acordo com o executivo, a companhia vendeu, em 2008, R$ 1,8 bilhão de imóveis secundários. No ano seguinte, o montante atingiu R$ 1,83 bilhão e só no primeiro semestre deste ano o valor geral de vendas (VGV) desse tipo de imóvel chegou a R$ 1 bilhão. “Disputamos a compra da Plus com a Lopes, mas acabamos perdendo o interesse e ela foi incorporada pela outra companhia. Mas mantemos a nossa meta de aquisições”, garante Soares. A Coelho da Fonseca optou por outra estratégia. A imobiliária fechou uma joint venture com a BCF Administradora de Imóveis e juntas vão atuar no “ O setor secundário é mais sustentável se pensarmos que daqui a dez anos os lançamentos podem diminuir o ritmo Álvaro Soares Rio de Janeiro sob o nome Coelho da Fonseca Rio de Janeiro. Luis Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca, diretor-executivo da nova empresa, não vê futuro muito promissor para imobiliárias focadas apenas na venda de lançamentos. “Acabamos de passar por uma crise mundial e as construtoras reduziram os lançamentos, o que levou as empresas a um mau momento. Nós não queremos passar por esse aperto”, afirma. “Sem falar que as grandes incorporadoras estão investindo cada vez mais em centrais de vendas próprias, que oferecem desde lançamentos até estoques.” Até agora, foi investido R$ 1 milhão para a montagem da sede da nova companhia. Mas, segundo Fonseca, ainda podem ser alocados outros R$ 3 milhões. “Estamos acertando parcerias com administradoras de condomínios, que muitas vezes não contam com lojas próprias de revendas. Com isso, esperamos contar com uma carteira de até 400 mil imóveis usados”, calcula. Filiais A Lello, por sua vez, escolheu um caminho totalmente diferente: o crescimento orgânico. De acordo com Roseli Fernandes, diretora da imobiliária, a companhia vai abrir uma filial no bairro de Pinheiros, São Paulo, ainda este ano. Com isso, serão 15 lojas espalhadas pela cidade. “No passado, compramos imobiliárias e continuamos dispostos a seguir essa estratégia, como também pensamos na possibilidade de abrir o capital da companhia. De qualquer forma, a meta é abrir esta filial e expandir a atuação da imobiliária de Moema, com a contratação de corretores”, diz Roseli. Segundo a executiva, no primeiro semestre do ano houve um crescimento de 20% no faturamento da empresa em relação ao mesmo período de 2009. “Esperamos crescimento para o ano todo”, diz. “Acreditamos que o mercado secundário vai se modernizar, com acesso à internet e com profissionais que conhecem a região onde atuam.” ■ BALANÇO Lopes e Brasil Brokers dobram valor de mercado O patrimônio líquido da Brasil Brokers aumentou 19,82% no primeiro semestre deste ano, quando atingiu R$ 464,37 milhões ante R$ 387,57 milhões do mesmo período do ano passado. Já o valor de mercado da empresa mais que dobrou, passando de R$ 463,70 milhões, para R$ 941,14 milhões. No caso da Lopes, o patrimônio líquido passou de R$ 13,97 milhões para R$ 51,65 milhões neste ano, um crescimento de 269,64%. E o valor de mercado também aumentou mais de 100%, passando de R$ 526,62 milhões para R$ 1,13 bilhão. Já a receita da Brasil Brokers cresceu 39,67%, saindo de R$ 108,12 milhões para R$ 151,01 milhões, enquanto a da Lopes aumentou 61,31%, saindo de R$ 88,54 milhões para R$ 142,82 milhões. A margem Ebitda da Brasil Brokers subiu de 13,10% para 33,92%, enquanto da Lopes saiu de 28,34% negativos para 42,84% positivos. O lucro líquido das duas companhias também registrou aumento. O da Lopes passou de R$ 11,02 milhões para R$ 34,80 milhões, e o da Brasil Brokers foi de R$ 17,82 milhões para R$ 31,33 milhões. Com isso, as margens líquidas da Lopes passaram de 44,8% negativos para 26,4% e a da Brasil Brokers de 1,5% negativo para 20%. N.F. LANÇAMENTOS EM SP ● No primeiro semestre do ano, foram lançados 17 mil imóveis na cidade, segundo o Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário (Secovi). ● O número só é menor do que o registrado no mesmo período em 2008, quando foram lançadas 19 mil unidades. VALOR DA MABERL VALOR DA PATRIMÓVEL R$ 17,3 mi É o montante que será pago R$ 10 mi É o valor pago por 10,01% da pela Lopes por 51% da Maber. A entrada será de R$ 6 milhões e o restante, dividido em parcelas. imobiliária. A Lopes já tinha 10% da empresa e possui a opção de compra de mais 30,99%. VALOR DA SELF VALOR DA PLUS R$ 2,6 mi R$ 11,7 mi A entrada paga pela Lopes por 51% da Plus será de R$ 900 mil e o restante dividido em parcelas. A Lopes deterá 51% da imobiliária. A entrada foi de R$ 4,7 milhões. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 25 R. Donask Vendas de material de construção sobem 3,7% O crescimento foi registrado em agosto em comparação a julho, de acordo com estudo do Ibope Inteligência a pedido da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Na comparação com agosto de 2009, o indicador mostra acréscimo de 9,5%. O resultado, conforme a entidade, confirma tendência de alta do setor, que deve crescer 11% neste ano. Segundo o estudo, o segmento de tintas apresentou o melhor desempenho, com alta de 7,3%. Felipe O’Neill/O Dia Álvaro Soares, diretor de relações com investidores da Brasil Brokers: planos para crescer em São Paulo Fila de espera por imóveis de alto padrão leva Coelho da Fonseca ao Rio Parceria com a BCF, no Rio de Janeiro, concentra atenção em imóveis em torno de R$ 1,5 milhão A parceria entre a Coelho da Fonseca e a BCF Administradora de Imóveis, do Rio de Janeiro, se deu porque uma não queria ser vendida e a outra não queria comprar, conta Luís Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca, diretor-executivo da Coelho da Fonseca do Rio de Janeiro. “A Coelho sempre teve o Rio em seus planos de expansão. E com a chegada de imobiliárias estrangeiras ao país e o crescimento das empresas nacionais, resolvemos nos unir”, afirma. O foco da nova companhia serão imóveis de alto padrão com valor médio de R$ 1,5 milhão. “Para cada unidade à venda há uma fila de espera com cinco a seis compradores. E agora, todo canto da cidade está valorizado”, afirma. A expectativa para este ano é atingir um faturamento de R$ 800 mil e um volume geral de vendas (VGV) de R$ 150 milhões. “Ainda não temos os números para o próximo ano, porque depende do fechamento de parcerias com as administradoras ainda este mês.”Mas o executivo adianta que a próxima parada da companhia pode ser Vitória. “Estamos estudando entrar em outros estados, mas nada certo ainda. O que está definido é que existe muito mercado para a compa- “ Para cada unidade à venda há uma fila de espera com cinco a seis compradores. E agora, todo canto da cidade está valorizado Luís Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca, Diretor-executivo da Coelho da Fonseca Rio de Janeiro nhia em Búzios e na Costa Verde (RJ)”, diz. Imobiliárias tradicionalmente de lançamentos, como Fernandez Mera e Abyara Brokers — que pertence à Brasil Brokers —, têm passado por reposicionamento de mercado. Elas passaram a vender imóveis usados. União de marcas A Brasil Brokers está estudando unir as suas marcas depois que a integração de sistemas de vendas estiver concluída, movimento que deve ocorrer ainda neste ano. “A companhia surgiu da aquisição de diferentes imobiliárias e, até hoje, usamos o nome delas com a logomarca da holding, porque carregam valor regional. Mas estamos revendo isso”, afirma Álvaro Soares, diretor de relações com investidores da Brasil Brokers. O executivo acredita que os números deste semestre serão melhores do que os do primeiro. “A minha única preocupação para os próximos anos é a dificuldade de aprovação de projetos nas prefeituras, que acabam postergando muitos lançamentos. Além disso, as construtoras têm enfrentado gargalos de mão de obra e de insumos. São os mesmos problemas de 2008, quando o setor viveu o seu melhor momento, mas nada foi feito para resolvêlos. E a consequência mais imediata é atraso nos lançamentos e nas entregas das chaves”, analisa Soares. ■ N.F. 26 Brasil Econômico Sexta-feira, Sexta-feira e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 EMPRESAS R. Donask INDÚSTRIA FARMACÊUTICA CONSTRUÇÃO Reckitt Benckiser investe R$ 20 milhões para lançar Gaviscon no mercado brasileiro Vendas de cimento crescem 14,6% até agosto e atingem 5,425 milhões de toneladas Medicamento indicado para aliviar a azia, a indigestão e evitar o refluxo é o primeiro produto farmacêutico da companhia lançado no país, o Gaviscon será importado da Inglaterra. No Brasil, a Reckitt é conhecida por sua atuação no mercado de produtos de limpeza, onde mantém marcas tradicionais como Poliflor, Vanish e Harpic. Globalmente, o mercado farmacêutico responde por 25% do faturamento da companhia. O volume é 17,6% maior que o comercializado no mesmo período de 2009. Na comparação de oito meses do ano, houve crescimento de 14,6%, para 38,241 milhões de toneladas, informou o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). A maior expansão ocorreu na região Norte, com alta de 52,9% na venda de cimento em agosto na comparação anual, para 306 mil toneladas. Vega vence contrato que pode atingir R$ 480 milhões Companhia lidera consórcio que fará limpeza pública em Salvador. Acordo para um ano prevê renovações Dubes Sônego [email protected] A Solví Resíduos Públicos, conhecida no mercado por sua marca e empresa mais conhecida, a Vega Engenharia Ambiental, fechou contrato para fazer a limpeza pública de Salvador pelos próximos cinco anos. Segundo Carlos Alberto Almeida Júnior, diretor da empresa, o contrato tem duração de um ano, renovável por mais quatro, e poderá garantir receita bruta de R$ 480 milhões ao fim do período de cinco anos. Outras três empresas locais fazem parte do consórcio vencedor, mas a Vega é a dona de maior fatia do negócio. Mensalmente, são quase R$ 8 milhões de faturamento, diz o executivo. De certa forma, a vitória representa a continuidade da prestação do serviço pelo grupo na cidade. Almeida Júnior diz que, até a atual licitação, quem prestava o serviço em Salvador era outra empresa da Solví Resíduos Públicos, chamada Revita. O contrato inclui da coleta de resíduos sólidos urbanos e a varrição até a limpeza das praias e operações especiais, como a coleta de lixo durante o agitado Carnaval na cidade. Mais aterros Apesar dos contratos de serviços de limpeza como este serem importantes para a Solvi Resíduos Públicos, sua estratégia de crescimento para os próximos dois anos está mais focada no tratamento de resíduos sólidos. Neste ano, a área deverá representar 32% dos R$ 730 milhões previstos de faturamento. Em dois anos, a expectativa é ser responsável por 50% de uma receita de R$ 1 bilhão. O tratamento de resíduos sólidos é uma das áreas de destaque na companhia e deverá responder por 32% do faturamento de R$ 730 milhões previsto para este ano. A expectativa é em 2012 representar metade da receita estimada em R$ 1 bilhão Carlos Alberto Almeida Junior, diretor da Solví Resíduos Públicos: contrato em Salvador garante cerca de R$ 8 milhões mensais Para isso ser possível, a companhia investe forte na construção de aterros sanitários. Tem atualmente quatro em funcionamento, nas cidades de Rio Grande (RS), Santa Maria (RS), Salvador e São Paulo. E prepara outros dezesseis. Em 2011, deverão entrar em operação unidades em São Leopoldo (RS), Giruá (RS), São Gabriel (RS), Barra Mansa (RJ), além de uma nova na capital paulista e outra em uma cidade da região central do estado (o nome da cidade é mantido em sigilo pela empresa). No ano seguinte, faz parte do planejamento estratégico da empresa a implantação de outras oito unidades, sendo quatro em Minas CONTRATO E ESTRATÉGIA ● A Solví Resíduos Públicos, conhecida como Vega Engenharia Ambiental, acaba de fechar contrato de limpeza pública urbana com a Prefeitura de Salvador. ● Com duração de cinco anos, o contrato vale R$ 480 milhões. ● A estratégia de expansão da companhia para os próximos anos, no entanto, foi traçada com base na área de resíduos sólidos. A empresa espera que o segmento represente 50% do faturamento em dois anos. Gerais, duas nas regiões Norte e Nordeste do país, uma em Santa Catarina, uma no Paraná, uma no Rio de Janeiro e outra no litoral de São Paulo, onde o problema de falta de aterros sanitários é crítico — o lixo produzido na Baixada Santista sobe a serra de caminhão para ser depositado em lixões de cidades da região metropolitana de São Paulo. Segundo Almeida Júnior, de modo geral, a escolha das cidades é determinada pelo critério de potencial de tamanho. A companhia se interessa por aglomerações urbanas com mais de 250 mil habitantes, ou municípios menores, mas que sejam o polo de regiões reunindo igual número de habitantes. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 27 Divulgação PETRÓLEO AGRONEGÓCIOS Opep prevê que demanda por petróleo será afetada por desaceleração da economia Americana da área de saúde assume presidência da alemã Bayer CropScience Em seu relatório mensal, a Opep afirmou que a demanda por petróleo em 2010 deve continuar crescendo em 1 milhão de barris ao dia e repetiu as preocupações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de que a desaceleração na economia pode ser mais profunda do que o antecipado. Segundo a Opep “a condição econômica presente na maior parte dos países desenvolvidos não é encorajadora”. A divisão agrícola do conglomerado passará a ser comandada, a partir do dia 1º de outubro, pela executiva americana Sandra Peterson, substituindo o alemão Friedrich Berschauer. Sandra é a primeira mulher a presidir a CropScience e está no grupo Bayer há cinco anos, mas sempre na área de saúde, onde liderava os negócios de diabetes. Antes de entrar na Bayer, a executiva foi vice-presidente sênior da Merck Medco Health Businesses. Henrique Manreza NOVAS TECNOLOGIAS Companhia estuda formas de queimar lixo O Grupo Solví, por meio da Solví Resíduos Públicos, vem estudando a queima de resíduos para a geração de energia como forma de lidar com o lixo. Segundo Carlos Alberto Almeida Júnior, diretor da empresa, uma das tecnologias que mais agradam ao grupo é a que combina compostagem, reciclagem e incineração para reduzir o volume de dejetos destinado aos aterros. Pelo modelo, é feita uma triagem para separar resíduos orgânicos, que podem ser usados como adubo e materiais reaproveitáveis, do que serve apenas para combustível. Há quem defenda a queima de todo o lixo antes de qualquer triagem. De uma forma ou de outra, a estratégia permite aumentar a vida útil dos aterros e os ganhos marginais com a venda de energia. A Solví também investe em pesquisa de equipamentos que facilitem a coleta de resíduos. Almeida Júnior conta que recentemente foram implantados no Rio Grande do Sul caminhões com abertura lateral para o recolhimento de contêineres de lixo, em vez do tradicional de porta traseira. Máquinas sopradoras vêm sendo usadas no lugar de vassouras, em outras localidades, para empurrar lixo das ruas. “Parte do nosso trabalho é mostrar para as cidades que existem novas tecnologias para atendê-las”, diz. D.S. Infografia: Monica Sobral O GRUPO Gestão é dividida em seis áreas de negócios Resíduos públicos Resíduos industriais Saneamento Produção energética (empresa terá usina para queima de lixo) Engenharia Internacional VEGA Cidades atendidas (serviço de limpeza pública) NÚMEROS GERAIS COBERTURA GEOGRÁFICA FUNCIONÁRIOS RECEITA BRUTA PARTICIPAÇÃO SETOR PRIVADO NA RECEITA BRUTA PARTICIPAÇÃO DO SETOR PÚBLICO NA RECEITA BRUTA EBITDA LUCRO LÍQUIDO ATIVOS TOTAIS PATRIMÔNIO LÍQUIDO INVESTIMENTOS 86 cidades 13 mil R$ 1,23 bilhão 39% 61% R$ 178,8 milhões R$ 42,8 milhões População atendida com coleta domiciliar Receita bruta 19 10,3 mihões R$ 670 mihões Aterros em operação 4 R$ 1,29 bilhão R$ 282,4 milhões R$ 282,4 milhões Aterros em implantação 16 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 Fonte: Solví, relatório anual 2009 Apesar de o grupo Solví ter em Salvador e São Paulo tanto aterros quanto contratos de limpeza urbana, este não é um critério usado para definição do local de construção dos depósitos, afirma Almeida Júnior. Mais importante para a empresa, diz, são contratos de longo prazo, que garantam o retorno de grandes investimentos, como o fechado recentemente com São Carlos, no interior de São Paulo, por 20 anos, onde serão colocados R$ 18 milhões. Os aportes anuais previstos na expansão do número de aterros, neste ano e nos próximos dois, são de cerca de R$ 100 milhões, diz o executivo. ■ CONTA CORRENTE MAIOR FATIA R$ 8 mi R$ 1 bilhão é o faturamento a ser computado É a previsão de faturamento por mês pela Solví Resíduos Sólidos com o contrato de limpeza fechado com a Prefeitura de Salvador. O acordo vale por cinco anos. da empresa para 2012. A expectativa da companhia é que 50% dessa receita resulte da área de tratamento de resíduos sólidos. PLANEJAMENTO CALENDÁRIO 250 mil habitantes é o tamanho dos 20 anos Foi o prazo do contrato firmado municípios que são alvo para a instalação de aterros sanitários pela companhia. Até 2012, a ideia é implantar 14 unidades, em diferentes regiões do país. com a Prefeitura de São Carlos (SP) no valor de R$ 180 milhões, para limpeza urbana. Este tipo de contrato de longo prazo é o mais interessante para a Solví. SOB INVESTIGAÇÃO Contrato em São Paulo é questionado Um dos principais negócios do grupo Solví na área pública é a Logística Ambiental de São Paulo (Loga), na qual detém 62% de participação e é sócia do grupo Camargo Corrêa, dono do restante das ações. Criada para cuidar da limpeza urbana de 174 bairros paulistanos, reunidos sob 13 subprefeituras, a companhia passou a ser investigada pelo Ministério Público Estadual logo após vencer a concorrência pelo contrato, em 2004, por suspeita de direcionamento da disputa. Na época, a prefeitura estava sob o comando de Marta Suplicy (PT). As investigações correm até hoje e a Solví não deu retorno às ligações nem se posicionou a respeito do assunto. O contrato inicial da empresa era de 20 anos, dos quais ainda restam 15 a serem cumpridos. Ele prevê o pagamento de parcelas fixas mensais à companhia, em vez de valor variável, por volume de lixo coletado. Em parecer dos auditores (LBDO) sobre o balanço do grupo Solví de 2009, é citada a opinião de um advogado da companhia, que considera “provável”o êxito da defesa no caso . D.S. 28 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 EMPRESAS Ciete Silvério SUSTENTABILIDADE PESQUISA MCT e CNPq investem R$ 5,5 milhões em projetos na inclusão digital e social Instituto Agronômico de Campinas terá novo laboratório e variedades de cana O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT) lançam edital conjunto para selecionar projetos inovadores que contribuam com a inclusão digital e social para o desenvolvimento sustentável local. A iniciativa investirá R$ 5.5 milhões nas propostas aprovadas. O Instituto Agronômico de Campinas, órgão ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, vai inaugurará, no dia 14 de setembro, em Ribeirão Preto (SP), o Laboratório de Biotecnologia e a primeira câmara de fotoperíodo do Brasil. Além disso, serão apresentadas três novas variedades de cana-de-açúcar. A câmara permitirá reproduzir as condições ideais de temperatura e luz para floração da cana-de-açúcar. ONU mostra que biodiversidade e negócios andam juntos Novo capítulo do TEEB tenta atrair poderes locais para o debate, mostrando os benefícios econômicos da preservação Martha San Juan França [email protected] A biodiversidade e a conservação dos ecossistemas começa a ganhar visibilidade econômica. Um novo capítulo do relatório sobre Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB em inglês), voltado para políticas regionais, foi apresentado ontem em Curitiba e, simultaneamente, em Nova Délhi, Cidade do Cabo e Ghent, na Bélgica. Elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), ele tem o objetivo de convidar os decisores políticos locais a compreender os benefícios da natureza em áreas de política local como o gerenciamento urbano, ordenamento territorial e gestão de áreas protegidas e, consequen- temente, seu impacto sobre a economia e os negócios. Segundo o estudo, a inclusão de serviços normalmente não considerados, como água, qualidade do ar, solo e vegetação em decisões políticas pode ajudar cidades e autoridades regionais a economizar dinheiro e, ao mesmo tempo, impulsionar a economia, melhorar a qualidade de vida, garantir meios de subsistência e gerar empregos. Experiências “Os valores múltiplos e complexos da natureza exercem impactos econômicos diretos no bem-estar humano e nas despesas públicas a nível local e nacional”, afirma o responsável pelo estudo TEEB, o economista indiano Pavan Sukdhev. O relatório aponta experiências reali- Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e Walmart estão integradas ao debate sobre a destruição dos ecossistemas e o impacto que deve causar aos negócios zadas em várias cidades, como a própria Curitiba, que conseguiu aumentar a área verde ao oferecer incentivos fiscais para a criação de projetos de plantio de árvores e assim conseguiu reduzir o número de enchentes. O TEEB para Políticas Locais e Regionais é um de uma série de cinco relatórios interligados, que incluem o Relatório sobre Fundamentos Ecológicos e Econômicos, o TEEB para Tomadores de Decisão e o TEEB para o Setor de Negócios. O relatório final será apresentado durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP 10) , em Nagoia, no Japão. Seu objetivo é traduzir em termos econômicos a perda da biodiversidade, da mesma forma que o chamado Relatório Stern fez com o clima. O estudo mostra que a perda anual com a degradação dos ecossistemas é de US$ 2,5 trilhões a US$ 4,5 trilhões. O cálculo foi feito com base no valor atual dos serviços que esses recursos naturais prestam ao homem, como ar puro, água limpa, produtos florestais, turismo ecológico, potencial biológico das espécies, prevenção de inundações e controle de secas. Empresas engajadas Outro objetivo é integrar as empresas ao debate sobre a destruição dos ecossistemas e o impacto que deve causar aos negócios. No Brasil, Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e Walmart lançaram o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, sob a liderança do Instituto Ethos. Também o Con- Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 29 Chris Ratcliffe/Bloomberg INOVAÇÃO TECNOLOGIA Santa Catarina recebe centro de inovação para incentivar empresas Apple irá rever restrições para criação de aplicativos do iPhone e iPad O estado de Santa Catarina é o segundo a criar um núcleo de inovação, lançado hoje em Florianópolis. O primeiro a receber a iniciativa foi o Rio Grande do Sul. Vinculados às federações de indústrias dos estados, o objetivo é incentivar e ampliar o número de empresas inovadoras no Brasil. Cada núcleo estadual receberá entre R$ 1 milhão e R$ 2,5 milhões para atender até 80 empresas. A Apple anunciou ontem, em comunicado, que pretende dar mais liberdade aos desenvolvedores de aplicativos para iPhone e iPad. Pela primeira vez a companhia irá rever as regras de sua loja online Apple Store e descartará restrições sobre as ferramentas usadas para criação de aplicativos que rodam em seu sistema operacional IOS. A decisão deve beneficiar a Adobe, cujos softwares passarão a rodar nos aparelhos Apple. Marcela Beltrão Brasil cumpre meta, mas investe pouco Levantamento mostra empenho do país na criação de áreas de proteção, mas ainda faltam recursos para mantê-las Nagoia “Como no caso do clima, as metas de biodiversidade previstas para 2010 não foram cumpridas” O Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) prepara um diagnóstico das oportunidades econômicas que as áreas de preservação, aliadas à conservação dos ecossistemas, oferecem para o país. Em seminário patrocinado pela organização ambientalista WWF-Brasil, Fábio França, diretor do Departamento de Áreas Protegidas da pasta, lembrou que o Brasil foi responsável por mais de 70%do esforço mundial de criação de novas áreas protegidas uma das metas da Convenção sobre Diversidade Biológica. No entanto, o orçamento para as unidades de conservação é praticamente o mesmo desde 2000. Para ele, é fundamental que haja um reconhecimento — interno e externo — sobre a importância da preservação dessas áreas para a política nacional de contenção do desmatamento. França ainda aponta estudo semelhante realizado nos Estados Unidos mostrando que o turismo nos parques nacionais americanos promove um aporte de mais de US$ 15 bilhões anuais à economia e gera mais de 250 mil empregos. Outro es- O VALOR DA NATUREZA DIAGNÓSTICO Brasil defende repartição de royalties e outros benefícios Pavan Sukdhev, economista do Pnuma, afirma que bens naturais têm impacto econômico direto sobre o bem-estar humano e sobre as despesas públicas selho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) promete levar à COP 10 uma publicação com experiências das empresas brasileiras. Essa publicação trará registrado o compromisso empresarial em buscar uma ferramenta para medir seus impactos na biodiversidade. “A importância econômica dos ecossistemas está ganhando visibilidade, o que ajuda as empresas a perceber que não investir em cuidados e preservação significará um prejuízo ainda maior no futuro”, diz a presidente-executiva do Cebds, Marina Grossi. Ela cita como exemplo a ação da Alcoa com a implementação de unidades de conservação para conter o desmatamento e da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para a conservação dos peixes dos rios onde atua. ■ O Brasil deve apoiar a definição de metas concretas na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), marcada para 18 a 29 de outubro, em Nagoia, no Japão. O objetivo é discutir propostas para o uso sustentável da biodiversidade, assim como a convenção de Copenhague (COP-15) discutiu o aquecimento global, em 2009. Como no caso do clima, as metas da biodiversidade, previstas para 2010, não foram cumpridas de modo geral. Segundo Paulino de Carvalho Neto, chefe da divisão de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil deverá exigir a regulamentação da transferência de recursos para países em desenvolvimento para investir no cumprimento das metas e a assinatura de protocolo que garanta a repartição justa de benefícios com as comunidades, além acesso aos recursos genéticos, o que interessa ao país. ● O estudo Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb) pretende dar valor aos benefícios econômicos da preservação da natureza e aos prejuízos pela sua má utilização. ● O relatório final será apresentado na conferência da ONU sobre biodiversidade, no Japão, mas foi apresentado em Curitiba uma versão para políticas locais e regionais. ● Dados da ONU constatam que mais da metade da população mundial está nas cidades e já é responsável pelo consumo de 70% de todos os recursos que o homem retira da natureza. Estudo realizado nos Estados Unidos mostra que o turismo nos parques nacionais americanos promove um aporte de mais de US$ 15 bilhões anuais à economia e gera mais de 250 mil empregos tudo, realizado no Peru, indica um retorno de US$ 10 bilhões em dez anos, caso o sistema de áreas protegidas daquele país seja adequadamente mantido e usado em prol do desenvolvimento do setor turístico. Bráulio Dias, diretor de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente reforçou, no seminário, a necessidade de valoração dos serviços prestados pelas áreas protegidas. Segundo explicou, sabe-se muito pouco sobre as riquezas da fauna e da flora brasileiras e menos ainda se faz para conhecê-las e preservá-las. “O tema é muito recente na agenda política e econômica brasileira e, em certos círculos, a preservação é vista como um empecilho ao desenvolvimento”, afirma. Mudanças climáticas O papel das áreas protegidas da Amazônia na mitigação de mudanças climáticas já foi levantado. Segundo estudo que será apresentado também na Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), que ocorre em outubro, em Nagoia, a conservação de florestas na região poderá evitar a emissão de oito toneladas de carbono por ano até 2050. As unidades de conservação foram responsáveis por 37% da redução, entre 2004 e 2006, do desmatamento e correspondem a 27% do território ocupado pelo bioma. ■ M.F. Pesquisa aponta os desafios para a preservação ambiental em todo o mundo DADOS LEVANTADOS SOBRE A BIODIVERSIDADE Atualmente, mais de 60% de todos os ecossistemas do planeta estão ameaçados Desse total, 35% são mangues e 40% florestas A demanda por recursos naturais excede em 35% a capacidade do planeta Terra Em 2000 e 2005, a devastação das florestas na América do Sul foi de 4,3 milhões de hectares Do total de hectares devastados, 3,5 milhões foram registrados no Brasil O prejuízo anual com o desmatamento é de US$ 2,5 trilhões a US$4,5 trilhões de dólares à economia global – o equivalente a jogar no lixo todo o PIB do Japão, o segundo maior do mundo Metade das espécies nativas está esgotada e outras 25% já foram superexploradas. O prejuízo para o setor é de US$ 80 bilhões a US$ 100 bilhões Fontes: TEEB e Ministério do Meio Ambiente/2009 INVESTIMENTO NA MANUTENÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS EM US$ MILHÕES US$ INVESTIMENTO NA MANUTENÇÃO DAS ÁREAS PROTEGIDAS EM US$/HECTARE COSTA RICA 21,53 BRASIL 4 ARGENTINA 38,30 ARGENTINA 7 AUSTRÁLIA 58,72 COSTA RICA ÁFRICA DO SUL 124,47 NOVA ZELÂNDIA 220,78 MÉXICO 27 28 BRASIL 301,18 MÉXICO 450,90 ÁFRICA DO SUL 600,00 ESTADOS UNIDOS 0 2.653,96 500 1000 1500 2000 2500 3000 20 CANADÁ AUSTRÁLIA CANADÁ 18 NOVA ZELÂNDIA 34 55 ESTADOS UNIDOS 78 0 10 20 30 40 50 60 70 80 8 O Brasil tem um dos maiores índices de área protegida, mas o investimento por hectare é um dos menores entre os países analisados. O orçamento para unidades de conservação é praticamente o mesmo desde 2000 30 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 EMPRESAS Divulgação AVIAÇÃO CARNE Singapore Airlines obtém autorização espanhola para rota Barcelona-São Paulo JBS demite 400 funcionários da unidade de Cáceres (MT), após férias coletivas A companhia aérea de Cingapura divulgou ontem por meio de um comunicado que obteve autorização da Autoridade de Aviação Civil da Espanha para iniciar voos entre as cidades de Barcelona e São Paulo. A Singapore Airlines mantém voos de passageiros para 66 destinos em 35 países. No Brasil, a companhia opera apenas voos de carga para o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). A medida surpreendeu os empregados do JBS, que deveriam retornar ontem ao trabalho, após férias coletivas de 30 dias desde o início de agosto. A dispensa em massa foi confirmada pela presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Cárceres, Gláucia Maria Andrade Gonzaga, que acompanhou o processo de demissão dos empregados. O JBS não se pronunciou até o fechamento desta edição. Sundown, Nivea e L’Oréal antecipam produção Temporada de calor mais longa e Carnaval em março levam as fabricantes de filtro solar a programar crescimento de 40% nas vendas do próximo verão Françoise Terzian [email protected] Embora ainda faltem 11 dias para a chegada da primavera e pouco mais de três meses para o início da temporada mais quente do ano, a indústria de protetores e bloqueadores solares já se encontra em pleno aquecimento para o verão. Na expectativa de vender até 40% a mais no verão 2010/2011 em relação à temporada 2009/2010, alguns fabricantes anteciparam o início da produção e mandaram suas equipes comerciais mais cedo para as ruas, a fim de repassar ao varejo seus lançamentos e boas expectativas de vendas. Historicamente, o mercado de filtros solares costuma se movimentar entre o final de outubro e o início de novembro. Neste ano, contudo, a onda de calor que surgiu em pleno inverno e o Carnaval programado para acontecer em março — e não em fevereiro como em 2009 —, estão levando a indústria a trabalhar com a ideia de “verão estendido” e com perspectivas financeiras em alta. Embora os Estados Unidos sejam o maior mercado consumidor de filtro solar do mundo, é no Brasil que os fabricantes esperam obter as melhores taxas de crescimento no próximo verão. Na última temporada, estima-se que as vendas de filtro solar cresceram por volta de 30%. De acordo com a Nielsen, no acumulado de 2009, o giro de filtro solar foi 17% superior ao ano anterior, atingindo um montante de R$ 727 milhões, sem contar as vendas na modalidade porta a porta. Para este ano, a expectativa é o mercado brasileiro avançar dois dígitos, podendo elevar o montante movimentado pelo varejo para R$ 872 milhões (se as vendas aumentarem 20%) ou até ultrapassar R$ 1 bilhão (no caso de 40%). “Com a extensão do verão em cerca de 15%, o aumento do poder aquisitivo do brasileiro e também uma maior conscientização para a importância do uso do filtro solar, Cerca de 30% dos brasileiros usam filtro solar. A baixa adoção do produto representa, ao mesmo tempo, riscos e oportunidades para as marcas que brigam por uma gorda participação de mercado. pretendemos crescer acima do mercado nesta temporada”, diz Marcelo Scatolini, gerente de mercado da Johnson & Johnson, dona de Sundown, líder com com 51,1% em volume de litros no verão 2009/2010 (setembro a abril), segundo a Nielsen. No período, a empresa ampliou sua participação em cinco pontos percentuais e se prepara para nova guinada nesta próxima temporada, a mais importante do ano para a Sundown. A meta de Scatolini é clara: aumentar ainda mais a presença da marca criada em 1984 no total de vendas Brasil. “Sundown não entrará no próximo verão para ser coadjuvante”, garante. Concretizar esta meta será uma tarefa árdua, uma vez que a concorrência tem crescido agressivamente. A Nivea, forte em pele, e a L´Oréal, com uma gama de produtos enorme e distribuição robusta, são as duas principais rivais da marca. Cenoura & Bronze, da Hypermarcas, também é outra adversária nas gôndolas do varejo. É bem verdade que a diferença entre Sundown e as outras marcas é grande (veja arte ao lado). Contudo, é preciso lembrar que o uso do filtro solar entre os brasileiros ainda é baixo entre 27% e 37%, de acordo com as empresas —, o que abre espaço para que todas cresçam, incluindo as mais fracas. O que explica a aposta de novas marcas na categoria de filtro solar é a forma como os brasileiros têm aderido a itens que antes não usavam, afirma Maria Laura Santos, diretora de marketing da Nivea Brasil. Desodorante, por exemplo, chega a 90% do mercado. O sonho da indústria de filtro solar é fazer o mesmo com o seu produto. “Apenas três em cada dez brasileiros usam o filtro solar”, diz Maria Laura. Diante do avanço da concorrência, a J&J tem investido constantemente em tecnologia, embalagem e marketing. Sundown entra no verão com cerca de 30 itens para corpo, rosto, lábios e cabelo, além dos produtos pós-sol. ■ MERCADO AQUECIDO Participação das empresas nas vendas de protetores e bloqueadores* EM VALOR 41,6% SUNDOWN NIVEA 12,8% L´ORÉAL 5,7% CENOURA & BRONZE 4% 0 10 20 30 40 50 EM VOLUME 51% SUNDOWN 16,4% NIVEA CENOURA & BRONZE 6,1% L´ORÉAL 5,4% 0 10 20 30 40 50 60 0 R$ 727milhões foi o total de vendas em 2009 Fontes: Empresas/Nielsen, referente ao período de *setembro de 2009 a abril de 2010 O CALOR DO MERCADO ● Historicamente, o mercado de filtros solares se aquece entre outubro e novembro. ● Neste ano, no entanto, com semanas quentes em pleno inverno, a movimentação começou antes. ● As perspectivas de um verão mais longo e o potencial de crescimento do mercado brasileiro levam a uma concorrência mais acirrada entre os fabricantes. Marcelo Scatolini, gerente de mercado da J&J, que pretende aumentar a participação de mercado da marca Sundown Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 31 Marcela Beltrão MINERAÇÃO LOGÍSTICA Gold Fields South America investirá mais US$ 70 milhões no Peru Fila de navios em Santos chega ao recorde de 29 dias com chuva e embarque de açúcar A mineradora aperfeiçoará a produção de cobre nos próximos 12 meses. A empresa de origem sul-africana ressalta, contudo, que maiores aportes dependerão da manutenção das regras peruanas, alteradas em agosto por uma nova lei de royalties que modificou a base de cálculo fiscal. “Se as regras do jogo não estiverem claras, o Peru perderá a capacidade de atrair capitais”, declarou o gerente-geral Juan Luis Kruger. Navios que chegam neste mês ao porto de Santos vão esperar 29 dias até atracar, segundo a consultoria Santos Associados. “Nenhum porto do mundo está preparado para picos de demanda como este”, disse a administração do porto, em nota, referindo-se à busca por açúcar. “Países que precisam de açúcar devem rezar por tempo bom”, já que a chuva interrompe os embarques, disse o corretor Ricardo Scaff, do Rabobank. Henrique Manreza Brasil já é o 1º mercado para a francesa Embora esteja abaixo da J&J e da Nivea no Brasil, subsidiária destaca-se no grupo francês O segundo lugar do mercado brasileiro de filtros solares é da alemã Nivea que, para ultrapassar os 12,8% de participação de mercado em valor entre setembro de 2009 e abril de 2010, está investindo em produtos como o spray Nivea Sun Invisible Protection, com fórmula transparente e garantia de proteção imediata contra os raios UV, e o Nivea Sun Kids Loção Solar Bloqueadora Swim & Play, com filtro de resistência extra à água. A L´Oréal, por sua vez, que conquistou 5,7% de valor de mercado no período, anda satisfeita com a posição, embora pequena. O motivo é simples: o país onde o grupo francês mais vende Solar Expertise no mundo é o Brasil. “Tem cliente este ano comprando 200% a mais em relação ao mesmo período de 2009”, conta Bianca Pi, diretora de marketing de L´Oréal Paris. Na temporada de verão 2009/2010, ela conta que a L´Oréal cresceu 45% contra os quase 18% de aumento registrados pelo mercado brasileiro. Produção do grupo europeu no Rio de Janeiro vai aumentar 40% na temporada de verão 2010/2011 Todos os produtos da marca são fabricados no Brasil, na fábrica do Rio de Janeiro. Para o verão 2010/2011, a produção dos protetores já teve início e deve crescer 40%. Com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro, a expectativa de Bianca é as classes C e D adquirirem filtro solar Solar Expertise, é claro. ■ F.T. 32 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 EMPRESAS Bloomberg AUDIÊNCIA EMERGENTES 60% dos americanos adultos reparam em anúncios cujo celular é canal de resposta Nokia prevê que Brasil, Rússia, Índia e China vão ganhar relevância em seus negócios Uma pesquisa realizada pela Mobile Marketing Association identificou que 60% dos americanos adultos reparam em anúncios que incluem o celular como canal de resposta. O levantamento mostra também que proprietários do iPhone, da Apple, e jovens com idade entre 18 anos e 24 anos são os consumidores com maior probabilidade de ter visto anúncios que permitem essa interação. A Nokia, maior fabricante mundial de telefones celulares, espera que Brasil, Rússia, Índia e China ganhem mais relevância para os negócios da companhia, informou a agência Reuters. O diretor financeiro da empresa, Timo Ihamuotila, declarou, em conferência em Helsinque, na Finlândia, que a demanda doméstica deve impulsionar o crescimento da economia dos quatro países, que compõem o chamado grupo dos Bric. Henrique Manreza NOVAS MOTOROLAS Mark Moon, vice-presidente sênior da Motorola Solutions tem a missão de desenvolver estratégias para empresas ● No primeiro trimestre de 2011, a Motorola será dividida em duas empresas abertas. ● A Motorola Solutions venderá produtos para empresas e governos. A Motorola Mobility foca no consumidor final. ● Do faturamento de US$ 10,5 bilhões no primeiro semestre deste ano, o que será a Motorola Mobility contribuiu com US$ 5,1 bilhões. A Motorola Solutions faturou US$ 3,5 bilhões. A área de redes, que está sendo vendida à Nokia Siemens, representou US$ 1,9 bilhão. Antes de divisão, Motorola enfrenta ameaça de smartphones e tablets Fabricante muda estratégia em função do avanço dos produtos para consumidores dentro das corporações Carlos Eduardo Valim [email protected] A poucos meses de tornar-se uma empresa independente, a Motorola Solutions, divisão de produtos de mobilidade (como telefones celulares e rádios) para empresas e órgãos públicos da fabricante americana, luta para evitar o avanço dos aparelhos originalmente voltados ao consumidor final. Esses equipamentos, como telefones com acesso à internet e os computadores tablets, a exemplo do iPhone e do iPad, da Apple, caíram no gosto corporativo, concorrendo diretamente com aqueles voltados para uso empresarial - o que ameaça os negócios da Motorola Solutions. A divisão deverá ser elevada à categoria de empresa para poder focar no seu nicho, sem ser prejudicada pelos resulta- dos das vendas para consumo do grupo, que sofrem quedas seguidas nos últimos anos. A Motorola Mobility ficará com esse negócio, produzindo telefones celulares e conversores de TV digital para consumidores finais. Ambas se tornarão empresas independentes no início do ano que vem e terão ações negociadas em bolsa. O movimento anunciado no começo deste ano previa que a unidade corporativa iria compor uma empresa, junto com a divisão de equipamentos de redes de telecomunicações, a Motorola Network, que deixaria de ser contaminada pelos maus resultados que a empresa vinha tendo com os aparelhos para usuários finais. Mas os planos foram alterados quando o negócio de redes acabou adquirido pela Nokia Siemens, em julho passado, por US$ 1,2 bilhão. O dinheiro da negociação veio em boa hora, dando um fôlego de capacidade de investimentos à fabricante, para colocar de pé as estratégias para as duas novas empresas. Por outro lado, a Motorola Solutions pode tornar-se mais fraca, sem a integração com os equipamentos de redes. No último trimestre fiscal, ela faturou US$ 1,9 bilhão, com crescimento de 10% em relação ao mesmo período do último ano. A área de redes registrou faturamento de US$ 967 milhões. Uma das apostas para conter os concorrentes será o aparelho ES400, um híbrido de telefone móvel e computador de mão, com capacidade para acessar sistemas empresariais e que vem com proteção resistente a quedas, que a empresa trará ao Brasil este ano. O objetivo é atingir as equipes de vendas. Aparelho ES400 é a aposta da Motorola Solutions para oferecer soluções específicas para o mercado corporativo e vencer a concorrência O produto aguarda homologação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e chegará no Brasil no quarto trimestre e há avaliação de produção local, na fábrica da empresa em Jaguariúna, no interior de São Paulo, onde são produzidos rádios digitais e celulares. Mais dispositivos Além dos smartphones que ganham mercado cada vez maior, uma série de computadores tablet deve chegar às lojas até o início do próximo ano, aproveitando o interesse despertado pelo iPad. A Cisco Systems prometeu lançar um equipamento adaptado para usuários corporativos, mesmo caminho que deve seguir a HP. “Há muitos dispositivos de consumo tentando entrar nas empresas”, afirma o vice-presidente sênior de Motorola Solutions, Mark Moon. ■ Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 33 Scott Olson/AFP CONSUMO FRANQUIAS Pesquisa aponta que 81% das mulheres querem adquirir algum produto tecnológico Burger King é processado por acionista que não concorda com o valor da venda Pesquisa realizada com 712 mulheres no Brasil com idades entre 18 e 60 anos pela Sophia Mind, empresa do grupo Bolsa de Mulher, aponta que 81% das entrevistadas pensam em adquirir algum produto tecnológico nos próximos seis meses. A TV de alta definição está no topo da lista de intenção de compra de 45% delas, seguida por notebooks (29%), máquinas fotográficas digitais (25%), netbooks (16%), videogames (13%). O Burger King, que foi comprado pela 3G Capital por US$ 3,3 bilhões no início deste mês, foi processado por um acionista que afirma que o acordo subestima o valor das ações. Na negociação, ficou acertado que a 3G Capital pagará US$ 24 por cada papel. O preço “é injusto e repulsivamente inadequado ”, disse o acionista Roberto Queiroz em um processo movido no tribunal de justiça de Delaware, nos Estados Unidos. Nova Casas Bahia tem potencial de até R$ 7 bilhões em sinergias Constituição da empresa será concluída em novembro deste ano, mas absorção de todo potencial de sinergia ficará para 2013 Henrique Manreza Regiane de Oliveira Enéas Pestana (à esq.), presidente do Pão de Açúcar, e Raphael Klein, presidente da Globex: faturamento deste ano deve ser superior a R$ 18 bilhões. Meta para o próximo ano é de R$ 20 bilhões [email protected] A celebração do acordo de associação entre Casas Bahia e Grupo Pão de Açúcar (proprietário do Ponto Frio) é de 4 de dezembro do ano passado. E está previsto para novembro deste ano a conclusão do processo de criação da Nova Casas Bahia. As sinergias desse processo levarão ainda de 12 a 18 meses para serem concluídas, porém, os valores de economia previstos superam em muito as expectativas iniciais. No final de 2009, levantamentos mostravam economia na ordem de R$ 2 bilhões com a união entre as duas empresas. “Hoje trabalhamos com um valor de R$ 4 bilhões até R$ 7 bilhões em sinergias”, afirma o presidente do Pão de Açúcar, Enéas Pestana. O levantamento da empresa mostra que, a partir de um ano modelo — quando o processo de integração estiver concluído —, as principais áreas com potencial de economia são a gestão operacional e comercial (entre R$ 170 milhões a R$ 340 milhões por ano); gestão de infraestrutura e administração (de R$ 255 milhões a R$ 340 milhões/ano); e gestão financeira e de capital (de R$ 85 milhões a R$ 170 milhões/ano). “No último trimestre começamos a capturar sinergias e até 2012 devemos chegar a 50% do valor total”, afirma Pestana. Se 2012 será o ano modelo, o executivo afirma que é possível. “Em 2011, vamos investir na integração de processos”, diz. Pestana garante que a unificação das operações está adequada em relação ao perfil das duas empresas. “Quando adquirimos o Ponto Frio, falamos em oito meses, mas após quatro meses de trabalho, estávamos com tudo praticamente concluído”, afirma. “Isso porque a empresa não tinha cultura, não tinha dono, e passou por muita transformações nos últimos cinco anos”. O momento é de aprendizagem para ambas as redes. “A Casas Bahia chama o cliente de freguês e isso faz parte da cultura do Samuel Klein. Nós estamos aprendendo”, afirma Pestana. A Nova Casas Bahia, que começa a operação com 1.023 lojas e 67 SUPOSIÇÃO Diniz nega rumores e demonstra decepção Abilio Diniz, presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, negou ontem, durante teleconferência com analistas, que esteja movimentando-se para comprar os 50% do capital votante do grupo pertencente à rede francesa Casino. Ele afirmou que a especulação causou desconforto nos sócios franceses, que teriam ficado “machucados e tristes”, uma vez que têm 11 anos de parceria com o Pão de Açúcar. mil funcionários, nasce com um DNA forte de vendas e operações da Casas Bahia, mas com o modelo de gestão financeira do Grupo Pão de Açúcar. Os bancos terão de disputar a carteira de crédito da empresa, que conta com 9,2 milhões de clientes e R$ 16 bilhões em crédito. Hoje, os cartões de marca própria (private label) da empresa estão sob gestão de Bradesco e FIC (Financeira Itaú-CBD). E os acionistas parecem não ter dúvida quanto ao assunto: quem oferecer condições melhores levará a carteira. “Os grandes bancos já demonstraram interesse em conversar com a gente”, afirma Klein, destacando que teve conversas com Banco do Brasil Itaú e Bradesco. ■ Leia versão completa em www.brasileconomico.com.br EVOLUÇÃO NOS NEGÓCIOS Principais indicadores do grupo para a nova Casas Bahia PROJEÇÕES Vendas brutas Margem bruta Margem Ebtida* Resultado financeiro Investimentos 2011 R$ 20 bilhões + de 25,5% 4,5% a 6,0% -3,5% a -4,5% R$ 100 milhões a R$ 120 milhões METAS A PARTIR DE 2012 Crescimento acima do mercado + de 26,5% + 7,5% até -4,0% – * percentual sobre vendas líquidas CARTÃO PRÓPRIO JUNTO COM BRADESCO E FIC TEM R$ 16 BI EM CRÉDITO Casas Bahia Ponto Frio/Grupo Pão de Açúcar NÚMERO 4,7 milhões 4,5 milhões PARTICIPAÇÃO NAS VENDAS 17% a 20% das vendas 27% a 35% INVESTIMENTOS DE R$ 33,4 MILHÕES EM ABERTURAS EM 2011 Lojas Rua Shopping Total Aberturas 2011 Casas Bahia 429 90 519 10 Ponto Frio 397 107 504 5 Fonte: Empresa 34 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 CARREIRAS Nem só de planos de negócios vivem os executivos 1 Segundo consultor de recursos humanos, dedicar tempo a outras atividades ajuda a enfrentar desafios corporativos João Paulo Freitas [email protected] Uma vez por mês, a agenda de Sergio Vieira, diretor de desenvolvimento de negócios do Espírito Santo Property Brasil (ESPB), braço imobiliário brasileiro do Grupo Espírito Santo de Portugal, é fechada para uma apresentação que nada tem a ver com planos de negócios. Na última dessas reuniões, diante de uma plateia de 30 pessoas, microfone em mãos, o executivo conduziu o grupo Sophisticated Swing em uma noite dedicada ao músico Francis Hime, cujas composições tornaram-se célebres na voz de Chico Buarque e outros nomes da MPB. A banda também é formada pelo psicólogo André Growald (saxofone), o baterista profissional Edson Ghilardi e os empresários Rogério Guilger (contrabaixo) e Clério Sant’Anna (piano), e se reúne para tocar e cantar as músicas preferidas do quinteto. Há três anos, esse ritual tem se repetido, sempre no All of Jazz, bar paulistano voltado aos apreciadores do jazz e estilos musicais afins. Vieira conta que os momentos de descontração proporcionados pela música o ajudam a ser um profissional mais atento aos aspectos humanos de sua carreira. Altos escalões Segundo Alfredo Assumpção, presidente e sócio da empresa de recrutamento de executivos Fesa, a dedicação a um hobby ou a alguma atividade cultural é algo cada vez mais comum nos altos escalões do mundo corporativo. Segundo ele, essa postura só traz benefícios para os líderes empresariais, porque alivia as pressões do dia a dia e também faz com que os gestores sejam profissionais mais completos, capazes de lidar com mais eficácia com os aspectos racionais e emocionais dos negócios. Formado em engenharia de produção, Vieira tem uma traje- “ Nasci tímido. Cantar foi um treino contra essa característica, além de trazer compensações Sérgio Vieira, diretor de desenvolvimento de negócios da Espírito Santo Property Brasil tória de sucesso no mercado de empreendimentos imobiliários. Antes de ingressar na Espírito Santo Property Brasil (ESPB), em 2008, foi sócio da Local Imóveis e executivo por 15 anos na Coelho da Fonseca. Segundo ele, a ESPB conta com um portfólio de empreendimentos de R$ 5,6 bilhões. A empresa foi criada no final de 2008, fruto de uma parceria entre Oscar Americano, ex-proprietário da CBPO — hoje parte do grupo Odebrecht —, e do Banco Espírito Santo, de origem portuguesa. “Nasci tímido. Cantar foi um treino contra essa característica, além de trazer outras compensações”, diz Vieira, que também possui em seu currículo o longo tempo de atuação no Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo, o Secovi-SP, integrando hoje o conselho consultivo da entidade. “Quando comecei no Secovi, ser solicitado a falar durante algum encontro me fazia gaguejar, ficar vermelho e transpirar”, relembra. Dedicação diária Arnaldo Rosa, diretor superintendente comercial da Total On Demand (TOD), agência de marketing integrada do Grupo Totalcom, também dedica parte do seu dia à música. Mais especificamente uma hora. Ele e seu baixo elétrico integram os Warriors desde 2008, banda de covers cujo repertório é formado por grandes sucessos do rock dos anos 1960 a 1990. Rosa, que começou a tocar com 15 anos, diz que enquanto toca um instrumento consegue deixar todos os problemas de lado. “Para mim é uma válvula de escape, algo que me dá muito prazer.” Para ele, essa dedicação o ajuda a ter uma vida profissional mais equilibrada, pois controla a ansiedade e desenvolve a determinação, a disciplina e a concentração. ■ 1 Sergio Vieira, da Espírito Santo Property Brasil, com André Growald (saxofone), Rogério Guilger (contrabaixo), durante apresentação do grupo Sophisticated Swing; 2 Arnaldo Rosa, da Total On Demand: uma hora de estudo musical por dia; 3 Para Alfredo Assumpção, da Fesa, atividades como dedicação à música podem ajudar a equilibrar o lado racional e emocional da vida pessoal e corporativa. 3 Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 35 Yuri Arcurs/Dreamstime Brasil investe R$ 200 mi em treinamentos Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC) no Brasil, a área de treinamento de executivos movimenta em torno de R$ 200 milhões. Nos Estados Unidos, esse número pode chegar a US$ 2,4 bilhões. A grande diferença de valores entre os dois países se explica pela falta de uma cultura do assunto, segundo o presidente da SBC, Villela da Matta. “Infelizmente, no Brasil, muitas empresas ainda não sabem o que é treinamento executivo e a sua importância para o negócio.“ Fotos: Murillo Constantino 2 Divulgação A IMPORTÂNCIA DE SE TER UM HOBBY 1 2 3 4 O exemplo de Antônio Ermírio de Moraes Um momento para aliviar a pressão Racionalidade e emoção em equilíbrio Relacionamentos e atitudes fortalecidos Alfredo Assumpção, presidente e sócio da empresa de recrutamento de executivos Fesa, considera que a dedicação a um hobby ou a alguma atividade cultural com regularidade é algo cada vez mais comum nos altos escalões do mundo corporativo. “Costumamos saber pouco sobre o que essas pessoas fazem, mas há muitos executivos que escrevem poesia ou que tocam em bandas nos finais de semana”, diz o consultor. Ele cita Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, autor de três peças de teatro, como exemplo de que o trabalho não deveria ser a única área de interesse do profissional. “Quem se dedica só ao emprego é, de certa forma, doente. É um workaholic”, diz. “Felizmente, hoje as pessoas prezam muito a qualidade de vida”, acrescenta. Para o presidente da Fesa, o hobby é o momento que o executivo tem para se distanciar das pressões, cobranças e preocupações do trabalho. A pausa facilita a posterior organização das ideias e também pode ajudar a preservar a saúde e a estabilidade emocional em épocas de tensão excessiva. “Quando é possível atuar naquilo de que se gosta, o trabalho torna-se uma diversão. Isso permite ter uma vida mais saudável e com qualidade”, afirma o consultor. “Agora, quem odeia o que faz pode desenvolver rapidamente algum tipo de problema. Nem todo mundo consegue trabalhar no que gosta. Alguns se sentem oprimidos em seus empregos. Por isso é preciso ter uma válvula de escape, como um hobby”, diz. Dedicar-se a um projeto pessoal não é útil apenas para aliviar o estresse da vida corporativa. Envolver-se com música, gastronomia, escrever livros ou mesmo praticar esportes são atividades que ajudam o executivo a desenvolver habilidades que podem melhorar o desempenho profissional. “Quem se dedica a esse tipo de atividade acaba se tornando mais humano, flexível e sociável. Quem se preocupa apenas com a rotina e com o trabalho ou adoece ou leva os outros à loucura”, afirma Assumpção, da Fesa. “Há atividades que são altamente inspiradoras e que fazem com que a pessoa veja o mundo de modo diferente. Nosso cérebro tem um lado racional, mas também tem um emocional. É preciso equilibrá-los”, afirma. Outra vantagem do lazer é o fortalecimento das relações pessoais. “Uma música própria poderá ser tocada para a roda de amigos, que muitas vezes são outros executivos. Isso é legal, porque a pessoa passa a ser vista com mais empatia”, diz Assumpção. O consultor observa ainda que experiência e qualificação continuam sendo os principais quesitos analisados para se avaliar um candidato, mas aspectos comportamentais também são analisados. “As empresas buscam hoje menos tecnicismos. Elas procuram quem saiba servir e tenha atitudes diferenciadas”, afirma. “Há realidades que extrapolam os domínios da empresa, mas que contam muito. Por isso, sensibilidade e visão ampla de mundo pesam na hora da seleção.” 36 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BASTIDORES CULTURAIS CESAR GIOBBI Este palco renascerá das cinzas do Cultura Artística. Literalmente Uma conversa com a cúpula da Sociedade de Cultura Artística, para saber como anda o projeto de reconstrução do teatro ELES COMANDAM A SOCIEDADE DE CULTURA ARTÍSTICA Claudio Sonder é presidente do Conselho. Além disso, dirige sua empresa, a Panorama Consult e é membro do Conselho de Administração da Suzano Papel e Celulose. Pedro Herz é presidente da diretoria executiva, e é dono da rede de Livrarias Cultura. Os cargos do conselho e direção da SCA são voluntários. Gerald Perret é superintendente da SCA há 30 anos. As imagens de agosto de 2008, que mostravam o Teatro de Cultura Artística queimando até hoje me emocionam. Para mim, era um templo que ruía. Um ambiente onde eu tinha experimentado, durante pelo menos trê décadas de minha vida, as melhores sensações, entregue ao som quase divino saído de instrumentos de grandes virtuoses da música, ou aplaudindo espetáculos teatrais de qualidade nacionais e estrangeiros. O TCA fazia parte da história da cidade, da minha história pessoal, como jornalista e como cidadão. Por isso, tenho acompanhado com o maior interesse os esforços e os planos da direção e do conselho da Sociedade de Cultura Artística, não só na manutenção de uma programação excelente, ampliada por uma preocupação social, mas no projeto de reconstrução do teatro. Uma reunião com a cúpula da SCA, esta semana, exatos dois anos depois do incêndio, me colocou a par dos progressos. Estavam presentes Claudio Sonder, presidente do Conselho, Pedro Herz, presidente da Diretoria e Gerald Perret, superintendente do Cultura Artística há 30 anos. “Resolvemos transformar uma fatalidade numa oportunidade”. Com isso, Sonder resume e define a personalidade guerreira de uma instituição que será centenária em 2012, e que já era elogiada nos anos 30, por Mário de Andrade, pelo serviço que prestava a São Paulo trazendo e promovendo música e cultura da melhor qualidade. “Construiremos o mais bonito teatro da cidade no melhor entorno cultural”, prossegue ele, lembrando que a Prefeitura está empenhada na reforma da Praça Roosevelt e da própria Rua Nestor Pestana, onde fica o Cultura Artística, demolindo casas lindeiras e fronteiras, alargando a rua, criando áreas verdes. “Dependemos da reforma da Praça, devido à garagem. Eles farão uma garagem para mil vagas, o que é imprescindível para o teatro. A saída será quase em frente à Nestor Pestana. Não temos nem espaço nem verba para construir uma garagem subterrânea”, lembra Perret. “ Resolvemos transformar uma fatalidade numa oportunidade. Construiremos o mais bonito teatro da cidade no melhor entorno cultural Claudio Sonder, presidente do Conselho da Sociedade de Cultura Artística No momento, a fachada desenhada por Rino Levi, com o mural de Di Cavalcanti, que escaparam do incêndio praticamente incólumes, estão sendo restaurados, e o público pode acompanhar os trabalhos. A demolição do que sobrou do prédio começa até o fim do ano. “Já temos todas as permissões. Mas tudo anda muito devagar. Às vezes, por causa dos ramos de uma árvore na calçada, que atrapalham os trabalhos, temos de esperar semanas por uma aprovação de poda. Mas é preciso de ter paciência, porque o Cultura Artistica tem de fazer tudo by the book”, conta Perret. O projeto de Paulo Bruna, herdeiro intelectual de Rino Levi, prevê um teatro que será o triplo do anterior, em tamanho, numa construção de cerca de 12 mil m², abrangendo também o terreno lateral que servia de estacionamento. O teatro terá uma sala só, para 1.400 lugares, com uma platéia de cerca de 760 lugares, dois mezzaninos de cerca de 300 cada, e camarotes laterais. E um palco muito mais profundo do que o anterior, que atenderá a todas as artes cênicas. “Poderemos finalmente ter balé”, diz Perret. A platéia terá a mesma profundidade, de 24 metros, por sugestão de atores. “O Antonio Fagundes pediu isso. Ele disse que no Cultura antigo, apesar da sala grande, ele conseguia ver o olho do espectador da última fila. Essa intimidade é muito importante para o ator”, conta o superintendente. Por isso, também, a acústica foi estudada para atender tanto a música quanto o teatro falado. É claro que o palco terá todos os equipamentos mais sofisticados, e o prédio terá camarins e salas de ensaio, e um imenso lounge no térreo, com bar, para o conforto do público. “Não sabemos se poderemos concluir a obra para as comemorações do centenário. Mas certamente em 2013 ele estará pronto”, diz Sonder. Herz mantém a esperança: “Se ficar pronto até 31 de dezembro de 2012, ainda vale para a festa do centenário”. Nada grave. A família Mesquita, que ajudou a fundar o Cultura Artística, festejou o centenário de Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 37 Fotos: divulgação Uma Bienal pronta a tempo A 29ª Bienal Internacional de São Paulo está para abrir. A montagem fica pronta no dia 17. No sábado 19 haverá brunch para o Conselho, direção e funcionários. Antes disso entrarão os fotógrafos e os professores credenciados. Os dias 20 e 21 serão só da imprensa. Na noite do 21, grande festa para convidados, meio artístico, visitantes internacionais. De 22 a 24, a Bienal só abre para patrocinadores. E no dia 25 abre para o público, com discurso de autoridades, e a possível presença do presidente Lula. AGENDA ● Fica cartaz até o dia 5 de dezembro, a mostra cultural Robert Wilson — Video Portraits, no Santander Cultural de Porto Alegre (RS). ● De 15 a 19 de setembro acontece a 6ª edição do festival Paraty em Foco, em Paraty (RJ). [email protected] No projeto de Paulo Bruna, um palco muito maior e uma plateia com 300 lugares a mais Henrique Manreza Da esquerda para a direita, Pedro Herz, Gerald Perret e Claudio Sonder seu jornal, O Estadão, nas obras do prédio novo, nos anos 70. A SCA pode fazer o mesmo. O importante é que tudo caminha para o sucesso. O orçamento da obra, que começou em R$ 75/80 milhões, já está por volta de R$ 90/100 milhões. “A subida dos preços na área da construção civil tem determinado uma revisão de valores”, diz Sonder. Mas os diretores contam que já conseguiram levantar cerca de um terço do total, o que dá para erguer o prédio. “A relação entre construção e recheio está em cerca de 40% e 60%. A parte mais cara vem depois” prossegue o presidente do Conselho. Mas ninguém parece desanimado com isso. Pelo contrário. Até a campanha de doações de pessoas físicas teve sucesso ao ser lançada no ano passado. Levantou cerca de R$ 2 milhões, com doações de R$ 10,00 a R$ 250 mil. E pode ser retomada a qualquer hora. “A reação das pessoas é surpreendente. Meus funcionários vieram me dizer que cada um queria contribuir com um tijolo”, conta Herz, dono da rede de Livrarias Cultura. É claro que os doadores terão contrapartidas, com os nomes expostos, como se faz no mundo todo, mas a direção ainda não planejou como isso será feito. É importante contar que a gestão do Cultura Artística sempre foi exemplar. O teatro sempre se sustento sem dívidas. Durante uma década, seu aluguel para a TV Excelsior ajudou a financiar as temporadas artísticas. Mas a partir de 1970, quando foi devolvido, alternava sua programação em geral no começo da semana, com o aluguel do espaço para funções teatrais no fim de semana. Isso e mais a bilheteria sempre garantiram sua manutenção. A temporada artística é que precisa de patrocínios, que a SCA sempre consegue, graças ao nome sólido que conquistou. “Temos de agradecer esta solidez da instituição e o valor de sua marca, muito, à gestão de José Mindlin, que acumulou os cargos de presidente do Conselho e presidente da diretoria durante muitos anos, até morrer, no começo deste ano”, diz Sonder. “Depois do incêndio, fizemos um planejamento estratégico de longo prazo com cálculos de retorno. Que indicava não só a reconstrução do teatro, como está projetado, como a disseminação desta marca, como fizemos agora com o teatro Cultura Artística Itaim, que acaba de festejar um ano. Pretendemos fazer o mesmo em vários pontos do país”, diz Sonder. Herz acrescenta que a idéia é manter o teatro do Itaim, já que o novo terá apenas um palco. “Além disso, ficou claro que temos de abrir o leque para um público maior. Temos um compromisso de educação com a sociedade. Por isso, criamos o projeto Ouvir para Crescer” continua Sonder. Peret explica: “Temos feito de dois a três concertos por ano, gratuitos, de apelo mais popular, mas de qualidade, na cidade e no interior, em espaços cedidos por clubes, velhos cinemas, galpões, adaptados para a ocasião”. Essa é, segundo todos, uma vocação do Cultura Artística: manter e ampliar as platéias. Atrair os jovens, o que não tem sido fácil. A temporada de 2010 está quase no fim. Só faltam três concertos. “Mas tem sido maravilhosa”, diz Sonder. Perret, que cuida da programação, garante que a de 2011 já está fechada, e será lançada em novembro. E que a de 2012, que celebra o centenário, está bem alinhavada, mas não fechada. Se recusa a adiantar qualquer atração de uma ou outra. Mas garante a mesma qualidade conhecida. E, para 2012, atrações inéditas e a volta de importantes orquestras européias. “Mas tudo depende também das reformas da Lei Rouanet, que é importante para nós, embora não dependamos só dela. Temos conseguido manter os preços das assinaturas inalterados nos últimos seis a sete anos, com o aumento dos patrocinadores”, diz Perret. A Cultura Artística vai continuar a usar a Sala São Paulo para seus concertos, enquanto espera por seu teatro. Sua platéia cativa irá para onde a SCA for. Por mais quantos séculos? ■ BREVES A foto em foco na quarta edição do SP-Arte/Foto Foto do italiano Massimo Vitali Foto de Kitty Paranaguá Está em cartaz até domingo, no espaço do nono andar do Shopping Iguatemi, em São Paulo, a quarta edição do SP-Arte/Foto, hoje a mais importante feira de fotografia do país. Fernanda Feitosa, a organizadora, reuniu 18 galerias, que expõem cerca de 500 obras de 170 feras do click, vivos e mortos, brasileiros e estrangeiros. Para não perder. Desculpem a informação errada Na edição da semana passada eu cometi um erro de informação no texto da entrevista com Heitor Martins. Quando citei Luiz Terepins, o descrevi como presidente da AACC. Terepins já foi da AACC. Hoje o presidente voluntário é Eduardo de Almeida Carneiro. Peço desculpas aos interessados e ao leitor. Stephane Danna/AFP Paris sem Lagerfeld O estilista alemão Karl Lagerfeld cancelou esta semana o desfile da grife que leva o seu no me na Semana de Moda de Paris, agendada para 3 de outubro. Lagerfeld prefere se ocupar com o lançamento da nova linha Masstige, junção das palavras masse e prestige, mais barata, em showrooms em Paris e Milao e na internet. 38 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 FINANÇAS Fusões crescem 31% e se aproximam de recorde de 2007 Segundo cálculos da Price, operações envolvendo empresas brasileiras devem chegar a 800, superando marca anterior à crise Luciano Feltrin [email protected] O processo de internacionalização de empresas brasileiras e o consistente retorno dos investidores estrangeiros às compras foram os principais indutores de fusões e aquisições entre janeiro e agosto. No acumulado desses meses, foram anunciados 502 negócios, volume 31% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Considerado isoladamente, o mês de agosto teve 65 operações, recorde para o período, segundo dados da PricewaterhouseCoopers. E as perspectivas são otimistas para daqui até o final do ano. Caso o ritmo de negócios fechados seja mantido — como tem ocorrido nos primeiros dias deste mês — será possível finalizar o ano com 800 transações, superando 2007, quando aconteceram 721 , contabiliza o sócio de finanças corporativas da empresa, Alexandre Pierantoni. “Começamos o ano conservadores, mas a essa altura já é natural afirmar que isso vai acontecer”, estima o especialista. O setor de química e petroquímica, um dos que movimentaram a maior parte das aquisições — 36 no ano —, deve continuar agitado. A oferta de ações da Petrobras e a necessidade que toda a cadeia de fornecedores terá de acompanhar a petrolífera no processo de exploração do pré-sal são alguns dos motivos para isso. De qualquer forma, o movimento de compras continuará a contar com empresas de diversos setores e regiões do país, aponta Pierantoni. O capital nacional foi responsável por 62% das operações. A internacionalização de companhias locais movimentou 17% das transações anunciadas no acumulado entre janeiro e agosto. Alguns dos destaques foram os grupos JBS e Marfrig, que compraram empresas em diferentes mercados como Estados Unidos, Bélgica, Uruguai e Austrália, e a Gerdau, que foi às compras na Colômbia e no Canadá. “ O país se tornou uma espécie de segunda matriz de empresas estrangeiras para levar à frente aquisições na América Latina Mário Nogueira, Sócio do Demarest Os fundos de private equity, habituados a comprar participações de empresas para levar à frente consolidações, são o principal indicador do retorno dos estrangeiros. Eles participaram ativamente de 42% do volume total de negócios no ano. No entanto, fundos capitaneados por gestores brasileiros também têm se destacado nessa modalidade. É o caso de BTG e 3G, que compraram, já em setembro, o Hospital São Luiz e a rede de alimentos Burger King. Outra demonstração da aposta da confiança na economia brasileira foi a aquisição, pela Starbucks, das operações de sua franqueada no país. Além de ter se tornado destino certo do dinheiro de estrangeiros, o crescimento do número de fusões também deu ao Brasil um outro status, na avaliação de Mário Nogueira, sócio do Demarest. “O país se tornou uma espécie de segunda matriz de empresas estrangeiras para indicar e levar à frente aquisições na América Latina.” O aumento da importância do mercado brasileiro também tem reflexos no interesse de alguns fundos em investir em empresas em recuperação judicial. “Esse investidor procura empresas frágeis e entram com dinheiro e gestão para obter ganhos maiores do que em empresas sem essas falhas”, diz Marcos Fontes, do Porto Advogados. Risco calculado Também chama a atenção do levantamento da Price o fato de que, mesmo em meio a um processo eleitoral, investidores não tenham reduzido o apetite por Brasil. Ao contrário. Algo muito diferente do que ocorreu em 2002, às vésperas da primeira vitória de Lula. “A conclusão é de que a possibilidade de rupturas no cenário político é muito pequena. O mercado não considera a eleição um risco adicional aos inerentes a um processo desse tipo”, pondera Pierantoni. ■ PRINCIPAIS OPERAÇÕES ENTRE EMPRESAS ANUNCIADAS NO MÊS Fusão das operações da TAM e da LAN, formando a LATAM Hypermarcas adquiriu a Mabesa por R$ 350 milhões BTG Pactual adquiriu a Coomex por cerca de R$ 100 milhões Quickfood, subsidiária da Marfrig, adquiriu a fábrica de legumes e vegetais congelados da Arcor por US$ 3,4 milhões Petrobras Biocombustível adquiriu 50% da Bióleo por R$ 15,5 milhões Ernst & Young e Terco anunciaram a união de suas operações no Brasil Carlyle adquiriu as operações da TriFill por cerca de R$ 400 milhões Starbucks adquiriu as operações de sua licenciada no Brasil (Cafés Sereia) BR Investimentos anunciou aporte de R$ 226,2 milhões na Abril Educação Grupo Multi adquiriu a rede Bit Company e a escola Quatrum Mastersaf, DGF Investimentos, adquiriu a Lalur Informática Totvs adquiriu a totalidade do capital social da SRC Serviços em Informática e franquias da Datasul Casa do Pão de Queijo adquiriu a rede de confeitarias O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo; Gerdau adquiriu 49,1% da Cleary Holdings Corp, na Colômbia, por US$ 57 milhões e participação que não detinha na Ameristeel por US$ 1,7 bilhão Fonte: PricewaterhouseCoopers Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 39 Andrew Harrer/Bloomberg Iuane precisa flutuar, diz Geithner O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse ontem que a China deve permitir que o iuane suba mais aceleradamente, para mostrar aos parceiros comerciais que está cumprindo suas promessas. “Honestamente, eles não deixaram a moeda se mover muito até agora”, disse. “Eles sabem que estão apenas no começo deste processo e gostaríamos que eles agissem mais rapidamente”, disse o secretário em entrevista à TV Bloomberg. AGENDA DO DIA ● Às 7h, a Fipe divulga a primeira prévia do IPC de setembro. ● Às 8h, a FGV divulga o IGP-DI de agosto. ● Às 9h, o IBGE divulga emprego e salário industriais de julho. ● A China divulga a balança comercial de agosto. Bloomberg Fundição da Ameristell, adquirida pela Gerdau, em mais um passo de sua estratégia de internacionalização de negócios ■ CONSISTÊNCIA Média mensal de operações entre janeiro e agosto foi de 63 ■ PRIVATE EQUITY Participação desse tipo de investidor no ano é de 42 % ■ TENDÊNCIA Internacionalização responde por boa fatia dos negócios 17 % Transações cada vez mais sofisticadas Advogados e estruturadores de negócios buscam modelo mais adequado para contentar envolvidos A consolidação setorial pela qual passa a economia brasileira fez surgir um curioso comportamento, repetido à exaustão a cada vez que um negócio envolvendo grandes empresas é anunciado. Nesse tipo de operação, a companhia adquirida faz questão de dizer que não foi vendida. E a compradora, em um gesto calculado e ensaiado com a outra parte, se esquiva do natural direito de sair falando ao mercado de que é a nova dona do pedaço. Mescla de tentativa de domar a vaidade de alguns fundadores, que temem assumir que deixaram uma companhia após décadas à frente do negócio, com a necessidade de ajustar as operações para reguladores e o órgão antitruste, o comportamento também tem forte lógica financeira, explicam advogados que montaram o modelo societário de algumas das maiores fusões e aquisições ocorridas no mercado brasileiro. “Um caso clássico foi a vinda de um alto executivo da Mittal ao Brasil em 2006 para tentar convencer o mercado de que a compra da Arcellor Brasil era uma fusão entre iguais”, lembra um advogado que acompanhou a operação de perto. A Comissão de Valores Mobiliários entendeu à época, porém, que a operação era uma simples aquisição. A decisão custou US$ 5 bilhões a mais para a empresa, que teve de estender a oferta aos minoritários. Caso mais recente, o negócio envolvendo Pão de Açúcar e Casas Bahia é tido como emblemático. “Ainda que a operação se caracterize pelo controle majo- Estratégias são planejadas para acomodar vaidades e montar a melhor estratégia de comunicação entre fornecedores e funcionários ritário do Pão de Açúcar e tê-lo seja algo muito relevante, o nome da família fundadora da Casas Bahia vale tanto no varejo (para fornecedores e clientes) que não se sai alardeando isso”, comenta um advogado especializado no segmento. Não é apenas no comércio varejista que a troca de comando de empresas deixa o mercado confuso. “Clientes e fornecedores querem saber se algo muda na política comercial sob novo comando e funcionários querem entender qual será a cultura dominante”, afirma Fernando Luzio consultor especializado em montar projetos para dar conta dessas situações. A questão da vaidade também pesa. E aí uma curiosidade: fusões legítimas — aquelas nas quais há junção de duas empresas e o surgimento de uma terceira — são muito comuns no Japão. Cul- turalmente, nenhuma das envolvidas quer sair do negócio menor do que entrou. No Brasil, no entanto, elas são mais raras. Até entre empresas que têm atividades complementares, caso de BM&F e Bovespa, que anunciaram o casamento em 2008, exemplifica Eliseu Martins, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “Pelas novas normas contábeis, sempre há um comprador, que tem de consolidar os números das duas empresas.” Se a lógica contábil é pragmática, a de gestão é um pouco mais complexa, diz Felipe Borlido, sócio da boutique de negócios Araújo Fontes. “Ainda que haja sempre um comprador, é preciso construir um discurso para não fazer estragos. É como uma guerra: o invasor nunca é bemvindo, ainda que demonstre muita força”, compara. ■ L.F. 40 Brasil Econômico Sexta-feira, Sexta-feira e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 FINANÇAS POLÍTICA MONETÁRIA Banco Central britânico mantém taxa de juros pelo 18º mês consecutivo O Banco da Inglaterra manteve as taxas de juros em 0,5% pelo 18º mês consecutivo e não anunciou novas compras de ativos para estimular a economia, em uma decisão amplamente esperada feita ontem. Nenhum dos 60 economistas ouvidos pela Reuters na semana passada previa mudanças na política monetária britânica, e a maioria não vê alta nos juros até ao menos o segundo trimestre do próximo ano. Reforma do Novo Mercado se esquiva de pontos polêmicos Empresas vencem briga para deixar de fora comitê de auditoria e mudança na definição de controle Rafael Neddermeyer Maria Luíza Filgueiras Para Fraga, alguns pontos rejeitados poderão voltar à pauta no futuro [email protected] Chegou ao fim, e sem grandes surpresas, a revisão de normas de governança corporativa para as empresas listadas na BM&FBovespa. Após dois anos de consulta ao mercado, discussões e revisões, os acionistas ganham em relação ao direito de voto e, paradoxalmente, também ganham as empresas que resistiam a mais custos na conta de transparência. Três pontos foram reprovados, justamente os considerados mais polêmicos e que provocariam maior mudança nos segmentos Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2. O primeiro deles era a aproximação ao modelo europeu de definição de controle, em que o acionista que atingir 30% do capital teria que fazer oferta pública aos demais. Segundo Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da bolsa, a resistência a esta regra se deve ao fato que de ainda são poucas as empresas no país com capital pulverizado e esbarrou na visão das empresas que têm acionista controlador definido. “Essa oferta faria a vez de um mecanismo simplificado de tag along, mas foi reprovado por um número bastante significativo de companhias”, destaca Fraga, sobre os 60 votos que rechaçaram a ideia. “O que um grupo de empresas ponderou com a bolsa é que ainda é cedo para essa mudança”. Os outros dois pontos rejeitados foram a exigência de um comitê de auditoria e o aumento no número de conselheiros independentes nas empresas. Sobre ambos Fraga acredita que voltarão à pauta, mesmo que dependam de uma coordenação regulatória, no primeiro caso. Ele pondera que houve uma preocupação das companhias com aumento de custos — algumas empresas vêem sobreposição entre o comitê de auditoria e o conselho fiscal já existente, bem como o aumento de orçamento para conselheiros independentes. Na avaliação do executivo, Das sete alterações aprovadas, destaque para a proibição de acumulação de cargos de presidente do Conselho de Administração e diretor-presidente entretanto, não há sobreposição, já que o conselho fiscal faz uma avaliação de passado e não de prevenção para o futuro, e que merece discussão a definição do que é um conselheiro independente. “Toda regra de governança, de certa forma, aumenta custo. Talvez as companhias não tenham visto o benefício, mas os investidores estivessem dispostos a pagar mais por isso”, pondera Viviane Prado, professora da Direito GV. Já entre as sete alterações aprovadas, Fraga destaca a proibição de acumulação de cargos de presidente do Conselho de Administração e diretor presidente ou principal executivo, válida para todos os níveis de governança. “O segundo ponto é a vedação, para companhias do Novo Mercado e Nível 2, de cláusula pétrea, que impede ou impõe ônus não razoáveis ao acionista e que é soberana à assembleia. Na nossa visão, é a assembleia quem manda, e por isso essa regra não deve existir”, destaca Fraga. Também fica vedada a inclusão das chamadas “poison pills” — em ambos os casos, para as companhias que ingressarem na bolsa a partir de agora, e não aplicável às que já estão listadas. Aliadas a essas duas alterações, também favorecem o acionista minoritário as definições de que não pode haver previsão em estatuto de limitação de número de votos de acionistas em percentuais inferiores a 5% do capital social, exceto em casos de desestatização, e de que passa a ser vedado, para Novo Mercado e Nível 2, o estabelecimento de quórum qualificado para decisões em assembleia. ■ AVALIAÇÃO ✽ Ele não ficou 100% satisfeito Fraga foi ponderado, mas não escondeu sua frustração com a resistência do mercado em avançar mais no quesito governança corporativa. Ele destacou o engajamento das empresas no processo, mas viu características de “Brasil velho” em algumas definições, comparando ao Congresso, em que prevalece a mentalidade de grupos pequenos sobre interesses coletivos. “Ficamos satisfeitos com o resultado final, embora não tenha sido exatamente o que nós sonhamos”, conclui. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 41 Kirill Iordansky/Reuters CRISE MERCADOS Mais estímulos podem ser necessários para combater a desaceleração, segundo OCDE Bolsas europeias atingem maior patamar em quatro meses Os bancos centrais podem ter de fornecer estímulos adicionais e, em alguns casos, os governos podem ter de adiar os planos de corte de déficits para combater uma desaceleração na economia global durante o segundo semestre deste ano. A afirmação foi feita ontem Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em relatório divulgado ontem. O principal índice de ações europeias atingiu ontem o maior nível em mais de quatro meses, com a melhora da confiança após dados econômicos encorajadores nos Estados Unidos e valorização dos bancos pela expectativa de que as exigências de Basileia não serão tão rígidas. O FTSEurofirst 300 encerrou em alta de 0,86%, para 1.081 pontos, após alcançar 1.083 pontos, o maior patamar desde o fim de abril. Carlos Eduardo Rodrigues/O Dia Fraudes mais frequentes em seguros de carros são a simulação de roubo ou furto e o “empréstimo” de seguro Seguros de vida e auto têm mais fraudes Os dois ramos representam grande parte dos R$ 230 milhões em indenizações negadas por irregularidades comprovadas Thais Folego [email protected] O nível de fraudes no mercado segurador tem se mostrado estável nos últimos anos. É o que mostram dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada, Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), divulgados ontem. No ano passado, dos R$ 18,9 bilhões de pedidos de indenizações, R$ 230 milhões não foram pagos pelas seguradoras por fraudes comprovadas. Isso representa 1,2% do total de sinistros avisados, um crescimento de 5,1% sobre as fraudes registradas em 2008. Os ramos que mais sofrem com ações fraudulentas são os de vida, automóvel e transportes (apólice corporativa que cobre riscos a que estão expostas mercadorias), que responderam por 88% das fraudes comprovadas no ano passado (R$ 198 milhões). O levantamento não inclui os ramos de saúde e previdência privada. No segmento de auto, as fraudes mais frequentes são de simulação de roubo ou furto e o de “empréstimo de seguro”, quando um segurado simula uma colisão com o veículo batido de um conhecido que não tem seguro, conta Lene Araújo, diretor jurídico da Porto Seguro. Segundo ele, na maioria dos casos, a ação não é de fraudadores, mas de pessoas que por problemas financeiros têm a oportunidade de fraudar o seguro. “Já em vida, por incrível que pareça, as fraudes mais comuns são de auto-lesão”, comenta Araújo. Ainda maior Os R$ 230 milhões de fraudes comprovadas representam 0,7% das receitas de prêmios de seguros, que totalizaram R$ 31,2 bilhões no ano passado, segundo a CNSeg. A percepção, porém, é de que as ações fraudulentas são maiores, diz o superintendente da Central de Serviços e Proteção ao Segurado da CNSeg, Renato Pita. “O combate a fraudes tem várias etapas: a suspeita, a detecção e a comprovação. Muitas vezes a seguradora detecta a fraude, mas não consegue comprová-la. Nesse caso, o pagamento da indenização é feito mesmo assim”, explica o superintendente. Para se ter ideia, os sinistros com suspeita de fraude totalizaram R$ 2,10 bilhões em 2009 — equivalente a 11,1% dos sinistros reclamados —, 9,9% acima do volume de 2008. Araújo, da Porto Seguro, explica que as seguradoras utilizam mecanismos e ferramentas para tentar identificar as fraudes já na entrada do sinistro. Além disso, também há empresas especializadas e perícia técnica que as ajudam a levantar informações. “Para auto, por exemplo, há perícias que avaliam a dinâmica do acidente. Há ocorrências que desafiam as leis da física”, conta Araújo. As seguradoras têm a obrigação legal de combater fraudes, lembra Pita, da CNSeg. A Circular 344 da Superintendência de Seguros Privados (Susep) diz que “as sociedades deverão desenvolver estudos sobre o risco de serem objeto de fraudes, principalmente com relação aos produtos comercializados e suas práticas operacionais”. “Quando a seguradora procura identificar um sinistro ela tenta proteger a massa segurada, o princípio de mutualidade”, diz o diretor da Porto. As s fraudes entram na conta do sinistro que compõe o preço do seguro. “Quem acaba pagando é o bom segurado”, diz Pita. ■ ■ INDENIZAÇÕES ■ BARRADAS Volume de sinistros avisados durante o ano passado, segundo a CNSeg Indenizações não pagas pelas seguradoras em 2009 por comprovação de fraude R$ 18,9 bi R$ 230 mi FRAUDES EM SEGUROS Indicadores e série histórica DOS R$ 18,9 BILHÕES DE SINISTROS AVISADOS... 11,1% 1,5% 1,2% Tiveram suspeita de fraudes Tiveram fraude detectada Tiveram fraude comprovada VALOR DE SINISTRO EM % Suspeita de fraude 12 11,6 Fraude comprovada 11,1 10,8 9,9 10 Fraude detectada 7,6 8 6 4 2 0 1,9 2005 Fonte: CNSeg 1,6 1,4 2006 1,2 1,6 2007 1,4 1,9 2008 1,2 1,5 2009 1,2 42 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 FINANÇAS Divulgação CAPTAÇÃO BNDES obtém € 750 milhões com bônus de sete anos O BNDES levantou € 750 milhões por meio da venda de bônus de sete anos que ofereceram yield (retorno ao investidor) de 4,243% e cupom (juro nominal) de 4,125%, de acordo com uma pessoa próxima ao assunto. Os títulos foram colocados a 99,298% do valor de face. O spread (prêmio) é de 200 pontos-base sobre as mid-swaps (referência para juro em euros). BNP Paribas, Deutsche Bank e Credit Suisse coordenam a operação. Henrique Manreza Ritmo de crescimento das contratações na Caixa supera os 80%, enquanto nos concorrentes está em torno de 50% RECORDE R$ 47,6 bi é o total financiado pela Caixa em 2010 (até 3 de setembro). O valor é recorde histórico e já supera todas as contratações realizadas no ano passado. LIDERANÇA 70% é a participação da Caixa nos financiamentos imobiliários em 2010 até junho, incluindo recursos da poupança e FGTS. A fatia era de 71% em 2009 e de 50% em 2008. Caixa eleva para R$ 70 bi projeção de financiamentos imobiliários Elevação é a segunda no ano. Se estimativa se concretizar, crescimento será de 70% em relação a 2009 Ana Paula Ribeiro [email protected] O forte ritmo de contratações de financiamentos fez a Caixa Econômica Federal elevar suas projeções para os desembolsos nessa modalidade de crédito para R$ 70 bilhões em 2010. É a segunda revisão no ano. Inicialmente, o banco público trabalhava com uma projeção de R$ 55 bilhões, que subiu para R$ 60 bilhões no primeiro semestre. De janeiro até o dia 3 de setembro, os desembolsos para compra da casa própria chegaram a R$ 47,6 bilhões, cifra 87,6% superior à realizada em igual período de 2010 e acima dos R$ 47,05 bilhões feitos durante os 12 meses de 2009. Caso a projeção de R$ 70 bilhões seja comprida, as contratações em 2010 ficarão 70% acima do registrado no ano passado. O número total de contratos chegou a 773.247, o equivalente a 86,2% do total atingido em 2009. Na avaliação da presidente da instituição, Maria Fernanda Ramos Coelho, o estabelecimento de uma política para o setor habitacional (o programa Minha Casa, Minha Vida) e o aumento do nível de emprego e renda são os fatores que mais contribuíram para a elevação dos desembolsos e o consequente aumento da projeção para o crédito imobiliário. “Contamos ainda com a ajuda do setor privado, que passou a ofertar imóveis adequados ao programa”, diz a executiva. O programa foi lançado em abril do ano passado, quando o setor da construção civil enfrentava forte desaquecimento devido à crise financeira que eclodiu em setembro de 2008, que dificultou o acesso ao crédito. Nesse cenário, a Caixa Econômica elevou ainda mais sua participação nos financiamentos imobiliários, passando de uma fatia de 50% do mercado em 2008 para 71% em 2009. Leonel Marques Maria Fernanda Ramos Coelho Presidente da Caixa “Conseguimos deixar o processo mais fácil e simplificado para as contratações” Mesmo com as condições de liquidez reestabelecidas, o banco federal manteve a agressividade nas concessões e detém uma fatia de 70% em 2010 (até junho). Essa participação leva em conta tanto as operações que utilizam os recursos da caderneta de poupança como aquelas feitas com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). “Imaginávamos que ficaríamos mais perto do patamar de 2008, mas isso não aconteceu”, diz o vice-presidente de governo da Caixa, Jorge Hereda. O executivo garantiu ainda que o banco, com o atual nível de crescimento, conseguirá cumprir as contratações do “Minha Casa Minha Vida”. Desde a criação do programa, foram contratadas 630.886 de unidades habitacionais no valor de R$ 35,85 bilhões. A meta é chegar a 1 milhão de unidades. Dentro da faixa de menor renda (zero a três salários mínimos), já foram contratados 292.229 unidades. Na de três a seis, 261.840 e naquela que vai até dez salários mínimos o número de contratos chega a 76.817. Hereda reforçou que no caso da faixa inferior, as unidades habitacionais só começam a ser entregues nos últimos meses do ano, uma vez que as obras tiveram início após a assinatura dos contratos, que se deu a partir de setembro do ano passado. Com a demanda futura por financiamento, a Caixa começa a testar fontes alternativas de recursos. Até o final do ano, fará a emissão de R$ 500 milhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que devem ser distribuídos inclusive na rede de varejo do banco. “Vamos testar agora e depois entrar mais forte no ano que vem”, diz. Hereda conta que a Caixa possui R$ 20 bilhões em sua carteira que já estariam prontos para a securitização. ■ (ver mais à pagina 24) Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 43 Sufi Nawaz/SXC CRÉDITO CÂMBIO Banco Mundial concede US$ 40 milhões para pequenos produtores da Argentina Dólar fecha em queda pelo sétimo dia consecutivo A Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês), braço do Banco Mundial, liberou US$ 40 milhões para que o Banco de Galícia e Buenos Aires fomente um programa de empréstimos a pequenos e médios produtores da Argentina. Metade dos recursos será fornecida diretamente pela IFC, enquanto o restante sairá dos cofres do Fundo para Desenvolvimento Internacional da Opep. O dólar engatou a sétima queda seguida ante o real ontem, diante das contínuas perspectivas de ingressos da moeda no país, em mais uma sessão com atuação dupla do Banco Central. A moeda americana fechou em baixa de 0,12%, cotada a R$ 1,723 na venda, oscilando entre alta de 0,12% e queda de 0,17% ao longo da jornada. A divisa teve a maior série de baixas desde o início de junho de 2009. Banco investe em estrutura para evitar gargalo no atendimento Instituição aposta em canais alternativos para elevar o número de novos contratos de crédito imobiliário no Brasil A Caixa Econômica Federal tem reforçado a sua estrutura para dar conta do crescimento do volume dos financiamentos habitacionais. Além da contratação de mais funcionários para a área de análise, o banco público tem apostado em canais alternativos, como os correspondentes bancários dedicados ao crédito imobiliário. “Atualizamos os nossos processos tecnológicos para receber as propostas dos correspondentes, mas isso não quer dizer que delegamos a ele o processo de análise”, explica o vice-presidente de governo da Caixa, Jorge Hereda. Na plataforma desenvolvida, os correspondentes dessa modalidade de crédito, como imobiliárias, podem enviar por um sistema na internet as propostas de seus clientes e acompanhar a evolução da análise. Dos 5866 correspondentes de crédito imobiliário ativos da Caixa, 203 já fazem o processo via web. De acordo com Hereda, no futuro será possível reduzir o número de dias para a aprovação dos Murillo Constantino Jorge Hereda Vice-presidente de governo da Caixa “Queremos conceder o financiamento em um período mais curto e ampliar a capacidade de originação (realizar novos contratos)” contratos para menos de uma semana. “Queremos ampliar a nossa capacidade de originação (realizar novos contratos).” Os parceiros da Caixa já respondem por uma parcela significativa das contratações. Dos R$ 47,6 bilhões desembolsados para financiamentos imobiliários em 2010 (até 3 de setembro), R$ 15 bilhões foram contratos gerados em agentes parceiros, ou o equivalente a 31,5% do total. Os correspondentes dedicados a crédito imobiliário são, muitas vezes, imobiliárias. Outra iniciativa da Caixa para evitar um gargalo no principal produto de crédito do banco é o reforço nas regionais, que possuem profissionais especializados na análise do crédito imobiliário não só para pessoas físicas, mas também para as construtoras que tomam recursos para realizar um empreendimento imobiliário (crédito para produção). Além disso, foi criada uma mesa “corporate” (grandes empresas) em Brasília para o atendimento das construtoras de maior porte. ■ A economia brasileira, o setor supermercadista e PRINCIPALMENTE VOCÊ, CONSUMIDOR. Inspiração é o que não falta para o nosso trabalho. Compartilhar conquistas e inovações faz parte da história da APAS – Associação Paulista de Supermercados. Com a posse da diretoria para o biênio 2010-2012 não podia ser diferente. Muito mais do que uma transição, esse momento representa o início de uma grande jornada, com a implementação de 50 projetos prioritários, para atender às novas demandas dos supermercadistas associados, do Poder Público e dos consumidores. Atualmente, nossa instituição representa 1.500 empresas que faturam em torno de R$ 54,7 bilhões por ano e são responsáveis por cerca de 300 mil empregos diretos. As novas iniciativas vão nos ajudar a fazer muito mais. Acompanhe tudo bem de perto: www.portalapas.org.br Conheça os novos representantes da APAS para o biênio 2010-2012: Presidente João Carlos Galassi Supermercados Galassi - Campinas Vice-presidentes e membros do conselho Amauri Gouveia Andorinha Supermercado - São Paulo Anderson Molina Supermercado Molina - Sorocaba Antônio Gandra Couto Ferreira Vip Supermercado - São Paulo Antônio Massami Nagai Supermercados Irmãos Nagai Presidente Prudente Aparecido Massanori Omote Supermercado Neto - Presidente Epitácio Armando Figueiredo Bezerra de Almeida Grupo Carrefour - São Paulo Armando Jorge Peralta Santos Aurélio José Mialich Mialich Supermercados - Ribeirão Preto Gilberto Antoniolli Supermercados Barão - Campinas Martinho Paiva Moreira Supermercados D’Avó - São Paulo Pedro Celso Gonçalves Enxuto Supermercados - Campinas Barnabé da Silva Almeida Supermercados Joia - Guarujá Hermes Kinshoku Ricoy Supermercados - São Paulo Omar Abdul Assaf Supermercado Pirâmide - São Vicente Pedro Lopes Brandão Supermercados Irmãos Lopes - Guarulhos Carlos Alberto Binato Casa Avenida Supermercados - Assis Jad Zogheib Supermercados Confiança - Bauru Omar Ahmad Assaf Central Supermercados - Santos Roberti José Catricala Supermercados Laranjão São José do Rio Preto Carlos Ernesto Topal Ely Walmart Brasil - Barueri João Sanzovo Neto Supermercados Jaú Serve - Jaú Dinis Dias Supermercados Pastorinho - São Paulo José Carlos Novellini Supermercado G Novellini - São Paulo Orlando Morando (licenciado) Supermercado Orlando Morando São Bernardo do Campo Ronaldo dos Santos Covabra Supermercados - Itatiba Domingos Felipe Bergamini Supermercado Bergamais - São Paulo José Flávio Cabrera Fernandes Supermercados Superbom - Bauru Palimércio de Luccas Supermercado Luccas - Monte Mor Sebastião Edson Savegnago Savegnago Supermercados - Sertãozinho Edivaldo Bronzeri Supermercado Ki Legal - Jundiaí Lúcia Morita Supermercado Portal - São Paulo Paulo Tadao Yokoi Ricoy Supermercados - São Paulo Suzana Sanzovo Supermercados Jaú Serve - Jaú Eduardo Kyoshi Kawakami Supermercados Kawakami - Marília Márcio Milan Grupo Pão de Açucar - São Paulo Paulo Tadayuki Hissatugu Supermercado Camilópolis - São Paulo Sussumu Honda Ricoy Supermercados - São Paulo Orides Russi Russi Supermercados - Jundiaí Roberto Longo Pinho Moreno Sonda Supermercados - São Paulo Rua Pio XI, 1200 Alto da Lapa São Paulo www.portalapas.org.br siga-nos: twitter.com/infoapas 44 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 INVESTIMENTOS Mariana Segala [email protected] Com fundos, emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários bate recorde Os ativos financeiros lastreados no mercado imobiliário se consolidam, a cada mês, como um sucesso entre os investidores. Do lado dos fundos imobiliários, o volume de ofertas registradas no ano — de R$ 2,2 bilhões — está perto de bater o verificado durante 2009, de R$ 2,9 bilhões. Já no mês passado, os papéis que concentraram atenção foram os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), títulos de renda fixa compostos por créditos do setor (fluxos de pagamentos de aluguéis ou prestações de compra de imóveis). Foram emitidos, em agosto, R$ 2,02 bilhões em CRIs, recorde mensal histórico apurado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Somente a Brazilian Securities, do grupo Brazilian Finance & Real Estate, levantou R$ 1,2 bilhões com a emissão desses papéis. Os números, na avaliação da Anbima, refletem o forte desempenho do setor de construção civil — esse segmento, sozinho, foi o responsável por quase 15% do volume total levantado pelo mercado neste ano com a emissão de ações e debêntures. “O CRI é uma alternativa viável, o setor imobiliário demanda muito investimento”, afirma o vice-presidente da entidade Alberto Kiraly. O estoque de CRIs em circulação no mercado hoje é de aproximadamente R$ 15,3 bilhões. Embora vantajoso para o investidor do ponto de vista tributário, os certificados não são um instrumento facilmente acessível aos pequenos investidores. Os rendimentos obtidos nos CRIs são isentos do recolhimento de Imposto de Renda. No entanto, o produto é destinado, por regulação, somente aos investidores ditos “qualificados” — que detenham pelo menos R$ 300 mil para aplicar em ativos financeiros. Nas ofertas públicas, cada CRI deve sair, justamente, por R$ 300 mil ou mais. Por isso, o que tem ajudado na distribuição desses títulos entre os investidores de varejo são os fundos imobiliários, aos quais é permitida compra de CRIs desde novembro de 2008. E assim deve continuar sendo ainda por um bom tempo. “Não estamos trabalhando em nenhuma iniciativa no sentido da popularização do CRI, mas os fundos podem auxiliar na divulgação do instrumento”, diz Kiraly. Fundos Justamente o crescimento do mercado de fundos imobiliários promete impulsionar ainda mais a oferta de CRIs neste ano, principalmente porque há cerca de R$ 6,5 bilhões em ofertas de cotas sendo analisadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Desse total, parte é formada por fundos dedicados, prioritariamente, ao investimento em CRIs — caso dos fundos BTG Pactual Recebíveis Imobiliários I e II que, juntos, se propõem a captar R$ 2 bilhões. Em ambos os casos, cada cota da carteira deve sair por R$ 1 mil, valor muito mais acessível que os R$ 300 mil de um CRI. O primeiro fundo dedicado aos certificados (Fundo de Investimento Imobiliário Excellence) encerrou a distribuição das cotas, a R$ 100 cada, em março. Para os investidores endinheirados e dispostos a desembolsar ao menos R$ 310 mil, a carteira recomendada de renda fixa da corretora XP para setembro sugere a compra dos CRIs da Brazilian Securites com vencimento em 2039, que pagam juros de 7% anuais mais variação do IGP-M. ■ Divulgação Kiraly, da Anbima: setor imobiliário demanda investimentos, o que estimula emissão de CRIs Ecorodovias Energia Com número do tráfego, Itaú reforça visão positiva Ativa considera negativo reajuste para geradoras A Itaú Corretora reafirmou, nesta semana, a recomendação de “outperform” (desempenho acima da média do mercado) para as ações da Ecorodovias, com um valor justo estimado de R$ 14 por papel para o fim de 2011. Em relatório distribuído aos clientes em que comentam os dados de tráfego entre janeiro e agosto, os analistas Fernando Abdalla e Renata Faber afirmam que continuam a acreditar “que o mercado não está pagando pelos ativos logísticos e que a aquisição da Columbia, além do recente anúncio de investimentos no Ecopátio Campinas, representam eventos que deverão possivelmente ajudar a melhorar a precificação do segmento de logística”. Os analistas destacam que, excluindo os dados específicos da Ecopistas (em uma base pró-forma) e observando apenas o mês de agosto, houve um aumento de 17,3%, em termos anuais no tráfego mensal. “Esta expansão no tráfego representa 2,3 vezes o nosso crescimento esperado para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2010, o que está acima da elasticidade histórica de 1,5 vez”, avaliam. De janeiro a agosto, o tráfego aumentou 12,2% em termos anuais (sem considerar a Ecopistas), em relação ao mesmo período de 2009. “Caso esta tendência persista em setembro, provavelmente deveremos revisar para cima as nossas estimativas para a companhia”, acrescentam os especialistas. O analista da corretora Ativa, Ricardo Corrêa, considerou negativos os resultados de audiência pública realizada na quarta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A audiência discutiu, entre outros assuntos, a metodologia de cálculo de uma norma regulatória — componente importante da composição da tarifa de energia elétrica cobrada pelas distribuidoras — a ser aplicada no terceiro ciclo de revisão de tarifas, que será iniciado no quarto trimestre. A nova taxa proposta pela agência é de 7,15% ao ano. A audiência, no entanto, não é definitiva e ainda passa por revisão e processo homologatório da autoridade regulatória. “A revisão dos termos e métodos de cálculo regulatórios implica em perda objetiva e imediata de valor para todas as distribuidoras”, afirma Corrêa. “O novo número proposto pela Aneel está 1,35 pontos porcentuais abaixo de nossa estimativa inicial de 8,5% ao ano.” O analista ressaltou que, além disso, a revisão do método de calculo da taxa de remuneração regulatória implica em um “retrocesso no amadurecimento do arcabouço regulatório”. Na visão da Ativa, as distribuidoras impactadas são Coelce, Eletropaulo, Equatorial Energia e Celesc. Entre as empresas mistas, a corretora destaca Copel, Cemig, CPFL Energia, Energias do Brasil e Light. MARFRIG VAREJO Debêntures Ações Termina na segunda-feira o prazo de preferência para subscrição das sobras das debêntures de emissão da empresa, com valor nominal unitário de R$ 10 mil. O prazo para integralização das sobras será de até três dias úteis contados do final do prazo. No caso de acionista representado, o procurador deverá portar a documentação que comprove os poderes de representação. O acionista que desejar as sobras de debêntures deverá comparecer exclusivamente nas agências do banco Itaú Unibanco. Estudo da Spinelli Corretora aponta as ações de Lojas Americanas (LAME4) e Lojas Renner (LREN3) como boas opções para setembro. Além da alta do consumo, num bom momento da economia brasileira, a Spinelli avalia que a cotação de Lojas Americanas tende a evoluir por conta do agressivo plano de investimento da companhia, de R$ 1 bilhão para três anos. Já no caso da Renner, a perspectiva favorável se fundamenta na reestruturação logística da companhia. Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 45 BOLSA JURO Giro financeiro Contrato futuro R$ 4,9 bilhões 11,29% foi o volume financeiro registrado ontem no segmento acionário da BM&FBovespa. O principal índice encerrou a sessão com variação positiva de 0,33%, aos 66.624 pontos. foi a taxa de fechamento do contrato futuro de DI com vencimento em janeiro de 2012, o de maior liquidez ontem. O volume financeiro atingiu R$ 36,37 bilhões neste contrato, em 418.330 negócios. IBOVESPA RENDA FIXA Ação Código Mínima ALL AMER LAT UNT N2 AMBEV PN B2W VAREJO ON BMF BOVESPA ON BRADESCO PN BRADESPAR PN BRASIL ON BRASIL TELEC PN BRASKEM PNA BRF FOODS ON BROOKFIELD ON CCR RODOVIAS ON CEMIG PN CESP PNB CIELO ON COPEL PNB COSAN ON CPFL ENERGIA ON CYRELA REALTY ON DURATEX ON ECODIESEL ON ELETROBRAS ON ELETROBRAS PNB ELETROPAULO PNB EMBRAER ON FIBRIA ON GAFISA ON GERDAU PN GERDAU MET PN GOL PN ITAUSA PN ITAUUNIBANCO PN JBS ON KLABIN S/A PN LIGHT S/A ON LLX LOG ON LOJAS AMERIC PN LOJAS RENNER ON MARFRIG ON MMX MINER ON MRV ON NATURA ON NET PN OGX PETROLEO ON P.ACUCAR-CBD PNA PDG REALT ON PETROBRAS ON PETROBRAS PN REDECARD ON ROSSI RESID ON SABESP ON SANTANDER BR UNT N2 SID NACIONAL ON SOUZA CRUZ ON TAM S/A PN TELEMAR ON TELEMAR PN TELEMAR N L PNA TELESP PN TIM PART S/A ON TIM PART S/A PN TRAN PAULIST PN ULTRAPAR PN USIMINAS ON USIMINAS PNA VALE ON VALE PNA VIVO PN IBOVESPA ALLL11 AMBV4 BTOW3 BVMF3 BBDC4 BRAP4 BBAS3 BRTO4 BRKM5 BRFS3 BISA3 CCRO3 CMIG4 CESP6 CIEL3 CPLE6 CSAN3 CPFE3 CYRE3 DTEX3 ECOD3 ELET3 ELET6 ELPL6 EMBR3 FIBR3 GFSA3 GGBR4 GOAU4 GOLL4 ITSA4 ITUB4 JBSS3 KLBN4 LIGT3 LLXL3 LAME4 LREN3 MRFG3 MMXM3 MRVE3 NATU3 NETC4 OGXP3 PCAR5 PDGR3 PETR3 PETR4 RDCD3 RSID3 SBSP3 SANB11 CSNA3 CRUZ3 TAMM4 TNLP3 TNLP4 TMAR5 TLPP4 TCSL3 TCSL4 TRPL4 UGPA4 USIM3 USIM5 VALE3 VALE5 VIVO4 IBOV *Ajustada por proventos, inclusive dividendos. 15,89 194,10 28,44 13,68 30,73 36,76 28,19 11,03 14,80 23,12 8,73 41,28 26,47 25,00 15,04 37,05 22,91 39,05 22,36 17,19 0,87 21,00 24,66 30,16 11,30 29,45 12,32 24,53 29,24 23,83 12,02 37,08 7,26 4,96 21,60 9,65 14,07 54,00 16,73 12,95 15,19 42,45 22,02 19,88 61,40 18,66 30,83 27,19 24,56 15,40 33,74 21,74 27,95 82,50 37,02 30,20 23,90 45,72 40,50 6,91 5,08 48,70 93,55 47,33 45,00 47 41,73 43,56 66352 Cotação (R$) Máxima Fechamento 16,44 195,59 29,25 14,00 31,08 37,39 28,48 11,19 15,40 23,52 9,04 41,95 27,00 25,48 15,20 37,83 23,83 39,97 23,20 17,66 0,89 21,29 25,00 30,88 11,64 29,95 12,65 24,98 30,35 24,30 12,27 37,78 7,40 5,08 22,14 10,00 14,27 54,76 17,08 13,28 15,60 43,05 22,29 20,63 63,18 19,00 32,03 28,14 24,75 15,96 34,30 22,00 28,42 85,30 37,97 30,60 24,21 47,49 41,80 7,03 5,14 49,38 94,93 48,28 45,67 48 42,28 45,00 66806 15,99 195,00 28,96 13,88 30,98 36,90 28,27 11,19 15,40 23,49 8,94 41,95 27,00 25,40 15,17 37,83 23,70 39,70 23,20 17,38 0,89 21,00 24,67 30,41 11,30 29,50 12,65 24,72 30,29 24,25 12,09 37,27 7,26 5,08 22,05 10,00 14,16 54,20 16,95 13,27 15,46 42,52 22,10 19,88 61,90 19,00 31,25 27,60 24,68 15,88 33,90 21,80 28,00 82,78 37,87 30,30 24,14 47,49 40,65 7,00 5,13 48,89 94,93 47,33 45,26 47 41,77 44,34 66624 -1,36 -0,28 2,15 1,68 0,78 0,03 0,04 0,72 3,70 0,95 1,25 0,99 1,31 2,42 0,26 1,39 3,95 1,28 4,13 -0,52 1,14 -1,27 -0,72 -1,78 -2,16 -0,67 2,02 -0,48 0,83 1,68 -0,58 -0,48 0,00 1,40 0,46 3,73 0,07 0,37 -0,24 2,79 1,98 0,05 -0,67 -1,78 1,29 2,26 -1,91 -0,83 0,73 3,25 0,18 -0,55 -0,39 -2,17 2,35 0,00 0,58 1,50 -1,81 0,29 0,79 -1,07 1,75 -0,98 0,22 0,23 0,14 1,12 0,33 -1,84 12,87 -39,25 16,77 4,14 -2,99 -0,55 -33,19 9,38 3,79 16,26 5,79 -1,31 6,63 2,53 3,88 -5,57 21,10 -3,14 8,13 -18,35 -17,91 -17,22 10,74 20,28 -24,53 -9,49 -14,28 -12,17 -4,00 5,06 -1,30 -21,85 -2,02 -7,90 -1,09 -8,46 40,58 -11,14 32,43 11,52 21,91 -7,92 16,26 -3,87 10,99 -23,51 -23,10 -8,29 5,39 -0,91 -7,17 3,29 51,49 4,29 -26,04 -27,99 -23,66 0,82 -2,10 3,11 2,06 21,86 -5,28 -8,11 -3,77 -0,20 -15,06 -2,86 Fonte: Economatica IBOVESPA (Em pontos) 66.800 66.650 66.500 Máxima 66.806,50 Mínima 66.352,84 Fechamento 66.624,10 66.350 Rentabilidade* (%) No dia No ano 66.200 Fonte: BM&FBovespa 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h Data ITAU PERS MAXIME RF FICFI BB RENDA FIXA LP 50 MIL FICFI BB RENDA FIXA LP ESTILO FICFI CAIXA FIC EXEC RF LONGO PRAZO CAIXA FIC IDEAL RF LONGO PRAZO BB RENDA FIXA 5 MIL FIC FI BB RENDA FIXA 200 FIC FI BB RENDA FIXA 50 FIC FI ITAU PREMIO RENDA FIXA FICFI BB RENDA FIXA LP 100 FICFI Rent. (%) 12 meses No ano 9/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 9/SET 9/SET 9/SET 9/SET 8/SET 8,67 8,60 8,59 8,03 7,51 7,40 6,25 5,75 5,36 5,26 Fundo Data BB REFERENCIADO DI ESTILO FICFI ITAU PERS MAXIME REF DI FICFI CAIXA FIC DI LONGO PRAZO BB REFERENCIADO DI 5 MIL FIC FI BB NC REF DI LP PRINCIPAL FIC FI BB REFERENCIADO DI 200 FIC FI HSBC FIC REF DI LP POUPMAIS ITAU PREMIO REF DI FICFI BRADESCO FIC DE FI REF DI HIPER SANTANDER FIC FI CLAS REF DI Rent. (%) 12 meses No ano 9/SET 9/SET 8/SET 9/SET 8/SET 9/SET 9/SET 9/SET 9/SET 9/SET 8,37 8,35 6,93 6,74 6,41 6,14 5,67 5,09 4,69 4,33 Fundo Data 5,83 5,78 4,87 4,72 4,50 4,31 4,06 3,59 3,25 3,06 BB ACOES VALE DO RIO DOCE FI CAIXA FMP FGTS VALE I BRADESCO FIC DE FIA BRADESCO BA FIC DE FIA BRADESCO FIC DE FIA IV BRADESCO FIC DE FIA MAXI UNIBANCO BLUE FI ACOES ITAU ACOES FI ALFA FIC DE FI EM ACOES BB ACOES PETROBRAS FIA Rent. (%) 12 meses No ano 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 23,14 22,95 11,64 11,48 11,18 10,92 5,61 5,15 0,26 (16,86) 80.000 50.000 30.000 5.000 5.000 200 50 300 100 Taxa Aplic. mín. adm. (%) (R$) 1,00 1,00 2,00 2,50 2,47 3,00 3,00 4,00 4,50 5,00 ND 80.000 100 5.000 100 200 30 1.000 100 100 (4,10) (5,10) (4,90) (4,99) (5,04) (5,02) (8,63) (10,28) (11,93) (23,05) Taxa Aplic. mín. adm. (%) (R$) 2,00 1,90 4,00 4,00 ND 4,00 5,00 4,00 8,50 2,00 200 200 1.000 200 MULTIMERCADOS Fundo Data REAL CAP PROT VGOGH 4 FI MULTIM BB MULTIM TRADE LP ESTILO FICFI ITAU PERS K2 MULTIMERCADO FICFI CAPITAL PERF FIX IB MULT FIC ITAU PERS MULTIE MULT FICFI REAL CAP PROT VGOGH 3 FI MULTIM ITAU PERS MULT MODERADO FICFI ITAU PERS MULT ARROJADO FICFI ITAU PERS MULT AGRESSIVO FICFI SANTANDER FIC FI ESTRAT MULTIM Rent. (%) 12 meses No ano 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 8/SET 9,64 8,75 8,59 8,58 8,35 7,99 6,92 6,87 6,70 6,37 7,01 5,92 5,41 5,99 5,53 3,09 3,04 2,23 0,43 3,42 Taxa Aplic. mín. adm. (%) (R$) 2,30 1,50 1,50 1,50 1,25 2,50 2,00 2,00 2,00 2,00 5.000 50.000 20.000 5.000 10.000 5.000 5.000 5.000 50.000 *Taxa de performance. Ranking por número de cotistas. Fonte: Anbima. Elaboração: Brasil Econômico SMALL CAP - SMLL 1.305 918 20.800 1.295 916 20.750 1.285 914 20.700 1.275 912 MIDLARGE CAP - MLCX 1.265 17h 1,00 1,00 1,00 1,10 1,50 2,00 3,00 3,50 4,00 4,00 AÇÕES 20.850 10h 6,09 5,97 5,96 5,60 5,24 5,19 4,40 4,07 3,73 3,72 Taxa Aplic. mín. adm. (%) (R$) DI IBRX-100 20.650 10h Fundo 910 10h 17h 10h 17h 46 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 MUNDO Pastor cancela plano de queimar cópias do alcorão Presidente Barack Obama alertou ontem que queima do livro sagrado islâmico poderia provocar ataques da Al Qaeda O pastor cristão fundamentalista norte-americano, Terry Jones, cancelou ontem seu plano de queimar cópias do Alcorão no sábado, aniversário dos ataques de 2001 nos Estados Unidos. A decisão ocorreu após forte pressão internacional contra o ato que pretendia protestar contra o radicalismo islâmico. Ontem, o governo Barack Obama chegou a discutir a convocação do pastor para que desistisse da ação. Terry Jones, líder de uma igreja protestante em Gainesville, na Flórida, disse ter feito um acordo com líderes muçulmanos para alterar a polêmica localização de um centro cultural islâmico e uma mesquita em Nova York próximo ao local dos ataques de 11 de setembro. Os responsáveis pela construção do centro negaram, no entanto, que tenha havido qualquer acordo com o pastor. Ataques suicidas O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, havia alertado ontem que o plano do pastor da Flórida de queimar cópias do Alcorão no dia 11 de setembro poderia provocar ataques suicidas da Al Qaeda. Países asiáticos fizeram um apelo a Washington para que impedisse a queima das cópias. “Isto é um incentivo para o recrutamento pela Al Qaeda”, disse Obama em uma entrevista ao programa de televisão “Good Morning America”, da TV ABC. “Pode haver grave violência em lugares como Paquistão e Afeganistão. Isto pode ampliar o recrutamento de pessoas que desejariam se explodir em cidades americanas ou cidades europeias.” Terry Jones, líder de uma igreja protestante de aproximadamente 30 membros em Gainesville, Flórida, estava planejando queimar cópias do livro sagrado do Islã no sábado, no nono aniversário dos ataques de 11 de setembro contra Nova York e Washington. Terry Jones estava planejando queimar cópias do livro no sábado, nono aniversário dos atentados de 11 de setembro Sua ameaça assustou o mundo e aumentou as tensões sobre o aniversário de 11 de setembro, que neste ano coincide com o festival muçulmano de Eid al-Fitr, que encerra o mês de jejum, o Ramadã. Além disso, os Estados Unidos também estão ultimamente envolvidos no polêmico debate sobre a construção de um centro islâmico próximo ao local dos ataques em Manhattan. Clamor global A Índia, país que sofre com conflitos sectários, havia pedido ontem ao governo norte-americano que impedisse o pastor Terry Jones de realizar seu plano. O presidente da Indonésia, nação com a maior população muçulmana do mundo, solicitou uma intervenção pessoal do presidente Barack Obama. “Esperamos que as autoridades dos EUA tomem ações decisivas para impedir que um escândalo seja cometido”, disse em comunicado o ministro de Assuntos Domésticos da Índia, Palaniappan Chidambaram. Ele pediu à mídia que não publicasse fotos da queima dos livros. Em Jacarta, um assessor do presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, disse que havia escrito para Barack Obama pedindo sua intervenção. Limitação Mas o presidente dos EUA disse que pouco poderia ser feito, segundo a lei norte-americana, para confrontar o pastor, além de colocá-lo sob leis locais contra queimadas em público. Para Terry Jones, a queima do Alcorão seria uma forma de confrontar o terrorismo islâmico. Seus planos, no entanto, receberam ampla condenação por parte de líderes religiosos, políticos e militares dos EUA, que afirmaram que a decisão ameaçaria a segurança de soldados norte-americanos no exterior. ■ Reuters Sexta-feira e fim de semana, Sexta-feira, 10, 11 e 10 12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 47 Elza Fiúza/ABr Mercosul quer integrar produção de autopeças O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, reafirmaram ontem interesse dos dois países em aumentar a produção de autopeças. Na abertura de seminário sobre integração produtiva no Mercosul, os ministros disseram que diferentes estratégias de integração já estão em estudo. Miguel Jorge citou como exemplo as novas linhas de crédito de US$ 200 milhões oferecidas pelo BNDES e pelo Banco de La Nación para empresas no setor. Hannelore Foerster/Bloomberg Scott Audette/Reuters Pressão internacional levou pastor Terry Jones a desistir da queima de cópias do alcorão SUSPENSÃO DE VOTO PARA QUEM VIOLAR META FISCAL O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse em entrevista ao Financial Times que os países da zona do euro que violarem as normas do grupo para finanças públicas deveriam ter seu direito de voto temporariamente revogado. Trichet também destacou a necessidade de um “salto quântico” na supervisão fiscal. Ele rejeitou, porém, sugestões de que um país da zona do euro que não cumpra as normas ficais seja excluído. “Eu não defendo a exclusão de membros, mas a suspensão temporária dos direitos de voto é algo que deveria ser explorado”, afirmou. OCDE prevê mais estímulos ao G7 Em relatório o órgão prevê que o ritmo de crescimento no segundo semestre será mais lento Os bancos centrais podem ter de fornecer estímulos adicionais e, em alguns casos, os governos podem precisar adiar os planos de corte de déficits para combater uma desaceleração na economia global durante o segundo semestre deste ano. A afirmação foi feita pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em relatório divulgado ontem. Ao publicar novas estimativas de curto prazo para o grupo dos sete maiores países industriais do mundo, o G-7, a OCDE afirmou que o ritmo do crescimento econômico global no segundo semestre deste ano será mais lento do que o previsto anteriormente. Segundo a OCDE, o crescimento anualizado do Produto Interno Bruto (PIB) do G-7 vai se desacelerar para 1,4% no terceiro trimestre e 1% nos três últimos meses deste ano. Isso vai se seguir a uma expansão de 3,2% e 2,5% no primeiro e no segundo trimestres, respectivamente. Os números não são diretamente comparáveis com as avaliações divulgadas pela OCDE em junho, já que são baseados em informações diferentes. De todo modo, eles mostram uma Segundo a OCDE, o crescimento anualizado do PIB do G7 vai se desacelerar para 1,4% no terceiro trimestre e 1% nos três últimos meses do ano marcada redução nas expectativas. A nova avaliação da OCDE prevê o crescimento anualizado do PIB dos EUA em 2% e 1,2% no terceiro e no quarto trimestres deste ano, menos do que a previsão de 2,8% e 2,7%, respectivamente, publicada pela OCDE em junho. “Não está claro se a perda de ritmo na recuperação é temporária (...) ou se é sinal de uma maior fraqueza subjacente no gasto privado em um momento em que o suporte político está sendo removido”, disse a OCDE no relatório. Cada um desses cenários exigiria respostas monetárias e fiscais diferentes, segundo a entidade. Se as razões para a desaceleração na recuperação da economia global forem duradouras, estímulos monetários extras serão justificados e a consolidação fiscal poderá ser adiada. No cenário mais otimista - em que a desaceleração seria temporária - a retirada do suporte monetário deverá ser adiada por alguns meses, enquanto a consolidação fiscal planejada deverá será mantida, de acordo com o relatório elaborado pela OCDE. ■ Agência Estado 48 Brasil Econômico Sexta-feira Sexta-feira, e10fim dede setembro, semana,2010 10, 11 e 12 de setembro, 2010 BRASIL ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A, com sede à Avenida das Nações Unidas, 11.633, 8º andar - CEP 04578-901 - Brooklin - São Paulo (SP) - Fone (11) 3320-2000 Central de atendimento e venda de assinaturas: 4007 1127 (capitais), 0800 6001127 (demais localidades) [email protected] É proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da Empresa Jornalística Econômico S.A. ÚLTIMA HORA Distribuidoras de energia terão que instalar postos nas cidades onde atuam Jiane Carvalho [email protected] Editora executiva Valter Campanato/ABr A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou o novo código do consumidor relativo à distribuição de energia. As novas normas, que passam a valer em dezembro, substituem o regulamento atual, de 2000, e apertam as obrigações das concessionárias em relação às áreas a que atendem. Uma das principais mudanças é a exigência de que as distribuidoras instalem postos de atendimento físico em todos os municípios em que atuam. Os locais não poderão ter espera superior a 45 minutos, e devem ser instalados até setembro de 2011. A resolução também reduz os prazos para ligação e religação da eletricidade, que, hoje, é de três dias para consumidores residenciais, e até dez dias no caso dos grandes consumidores, como indústrias e grandes comércios. Os novos prazos passam a ser, respectivamente, de dois e sete dias. No caso de corte do fornecimento por falta de pagamento, a Aneel criou um prazo máximo de 90 dias para que o boleto não pago gere o desligamento. Caso o consumidor não seja notificado, neste prazo, o corte não pode mais ser feito. O limite para o corte após a notificação se mantém em 15 dias. BC joga alta dos juros para próximo governo Segundo o diretor-geral da Aneel, Nelson Hübner, as decisões foram tomadas com base em pareceres de órgãos de defesa do consumidor, Ministério Público e outras instituições. ■ Redação e agências Rafael Neddermeyer Governo pode agir para conter a alta do real O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em Pernambuco que o governo irá tomar medidas para conter a excessiva alta do real frente ao dólar. Ele não adiantou, porém, quais seriam essas medidas. Segundo Mantega, o processo de capitalização da Petrobras, que atrai grande volume de investimento externo, pode ser o maior responsável pela valorização da moeda nacional. ■ AE Shell e Basf revertem condenação bilionária A Shell e a Basf conseguiram ontem no TST reverter, provisoriamente, uma condenação bilionária pela Justiça do Trabalho de Paulínia (SP). O presidente do TST, ministro Milton de Moura França, reduziu de R$ 1,1 bilhão para R$ 100 milhões o valor a ser pago pelas duas empresas em tratamentos médicos e indenizações a ex-funcionários de uma fábrica de agrotóxicos no município. A fábrica, inaugurada na década de 1970 pela Shell, foi vendida em 2000 para a Cyanamid, que em 2000 foi comprada pela Basf. A unidade em Paulínia foi fechada em 2002. ■ AE Murillo Constantino Accenture e Microsoft juntas, de novo A Avanade, empresa de serviços formada por Accenture e Microsoft, volta ao país depois de 8 anos. Cem pessoas ligadas à Accenture serão transferidas para a nova operação, focada em serviços que envolvem tecnologia da Microsoft para clientes corporativos. No mundo, a Avanade deve faturar US$ 1 bilhão ao fim deste ano fiscal, encerrado em agosto. A joint venture funcionou no Brasil por dois anos, entre 2000 e 2002. Segundo o presidente da Microsoft Brasil, Michel Levy, a maior fabricante de software do mundo não competirá, por meio da Avanade, com os seus 18 mil parceiros de serviços no Brasil. “Não vendemos uma agulha no Brasil que não seja por parceiros”, diz. ■ Carlos Eduardo Valim São raros os episódios em que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) — ao explicar a definição da taxa básica de juros da economia — surpreende. Ainda assim, o documento é fundamental para conduzir as expectativas do mercado, uma das funções do Banco Central (BC) em seu papel de gestor da política monetária. Ontem, não foi diferente. Ao divulgar os motivos para a manutenção da Selic em 10,75% ao ano na reunião da semana passada, o colegiado lembrou sinais de arrefecimento da inflação, de expansão mais moderada da oferta de crédito, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, e também o fato de a confiança de consumidores e de empresários se encontrar em níveis historicamente elevados, mas com alguma acomodação na margem. Mais importante do que explicar uma decisão já tomada, é sinalizar adequadamente os próximos passos do BC. Neste caso, o documento foi entendido como indicador de juros estáveis, ao menos no curto prazo. A ata do Copom, divulgada ontem, sinaliza que a Selic não deve subir este ano. O mercado entendeu que a taxa volta a subir em 2011 Ao sugerir que já havia atingido a taxa de juro neutra da economia, o Copom informa que permanecendo a dinâmica de crescimento moderado e arrefecimento inflacionário, por ora a política contracionista está descartada. Como não poderia deixar de ser, o colegiado faz o alerta de que o juro pode voltar a subir, caso haja mudanças no cenário. É o tipo de obviedade necessária. A perspectiva de alta da Selic, com o documento divulgado ontem, foi jogada para 2011, já sob as ordens de um novo presidente e, possivelmente, de um novo comandante no Banco Central. A política monetária coordenada por Henrique Meirelles, ao longo dos últimos anos, é considerada um sucesso. O próximo governo, seja ele qual for, já assume em janeiro tendo que administrar uma expectativa de juros mais elevados. No entanto, usando o mesmo expediente do BC, é bom lembrar que as expectativas altistas do mercado também podem mudar, acompanhando alterações de cenário. ■ www.brasileconomico.com.br DESTAQUE MAIS LIDAS ONTEM Embraer garante linha de crédito de US$ 1 bi com bancos ● Começa era do acesso direto no pregão da BM&FBovespa A fabricante de aviões acertou uma operação de crédito de US$ 1 bilhão com 25 instituições financeiras internacionais, assegurando recursos financeiros de curto prazo a taxas pré-negociadas. O acordo envolve a renovação da operação de crédito sindicalizado de US$ 500 milhões já anunciada em agosto de 2006. ● Trabalhador sem qualificação vira artigo de luxo no Brasil ● Toyota disputará espaço no mercado de carros populares ● Banco Central destaca melhora da dinâmica inflacionária ● Sinergias da Nova Casas Bahia podem atingir R$ 7 bi Acompanhe em tempo real www.brasileconomico.com.br Leia versão completa em www.brasileconomico.com.br ENQUETE Os ativos da Petrobras devem se recuperar após a oferta de ações da companhia? Sim 77% Fonte: BrasilEconomico.com.br Vote em www.brasileconomico.com.br Não 23% Outlook SUPLEMENTO DE FIM DE SEMANA BRASIL ECONÔMICO 10/SETEMBRO/2010 49 “A lista de bestsellers brasileiros está menos intelectualizada do que antes. Não é mau sinal” Luiz Schwarcz, FOTO MURILLO CONSTANTINO escritor e editor da Companhia das Letras 2 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 PROGRAME-SE O melhor da semana Dez sugestões imperdíveis em cultura, gastronomia, esporte, moda e viagens FOTO DIVULGAÇÃO FOTO DIVULGAÇÃO FOTO DIVULGAÇÃO FOTO ANA CRISTINA CESAR FOTO NANA MORAES TEXTO E EDIÇÃO D E N I S E B A R R A O JAZZ BRASILEIRO DE DIANA KRALL PETER FRAMPTON EM QUATRO CAPITAIS ZÉ GERALDO GRAVA DVD EM SÃO PAULO Um festival de teatro pequeno e notável. É o mais antigo do Rio e traz um mosaico da produção nacional de qualidade. Serão apresentadas, gratuitamente, sete das cem peças inscritas: O Avarento (RS), Cru (DF), A Metamorfose (PE), Rosa de Cabriúna (SP), Orire (RJ), Trapa Rasa (RJ) e Hay Amor (SP). O júri é composto por Pedro Sayad, Sergio Fonta e Sura Berditchevsky. Este ano, a homenageada é a atriz Marieta Severo. De 14 a 23/9, na Casa de Cultura Laura Alvim, Rio. O POA em cena, um dos maiores festivais do Brasil, traz ao país a exposição Voom Portraits, de Bob Wilson, em que Brad Pitt toma chuva de cueca. São 25 atrações internacionais. O lituano Eimuntas Nekrosius apresenta a peça O Idiota, de Dostoiévski. Da Argentina, Antígonas, com a diva Ingrid Pelicori. Federico Luppi (ator do filme O Labirinto do Fauno) está na peça Por tu Padre. O ator e diretor Paulo José (foto) leva Um navio no espaço. Até 27/9, em Porto Alegre. A admiração da canadense Diana Krall pela bossa nova começou na infância, quando ela se encantou por um disco de Sergio Mendes da coleção de seu pai. No último trabalho, Quiet Nights, de 2009, Diana teve como arranjador o alemão Claus Ogerman, que trabalhou com Tom Jobim e João Gilberto. Para a formação dessa sofisticada cantora e pianista, a música brasileira é tão importante quanto o jazz. Dias 13 e 14/9, em São Paulo, 18/9 em Brasília, 20/9 no Rio. O cantor dos sucessos Breaking All The Rules e Show Me The Way foi um dos primeiros a fazer a guitarra “falar”. Ele serviu de inspiração, anos depois, para Slash (Guns n’ Roses), Richie Sambora (Bon Jovi) e David Grohl (Foo Fighters). Frampton é um dos grandes roqueiros dos anos 70, mas seu primeiro Grammy só veio décadas depois, com o instrumental Fingerprints. Dia 11/9 no Rio, 14/9 em Porto Alegre, 17/9 em SP, 18/9 em BH. O cantor e compositor Zé Geraldo gravará um novo DVD ao vivo, o segundo da carreira de mais de 30 anos. Ele contará com a participação de sua filha, a também cantora Nô Stopa e do músico Chico Teixeira, filho de Renato Teixeira. No show de domingo, Zé Geraldo também receberá os parceiros Xangai, Landau e Geraldo Azevedo. O repertório resgata músicas consagradas da trajetória do artista mineiro, além de duas canções inéditas. De hoje a domingo, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. FOTO DIVULGAÇÃO FOTO PRISCILA PRADE FOTO DIVULGAÇÃO FOTO DIVULGAÇÃO EM POA, TEATRO EM LARGA ESCALA FOTO DIVULGAÇÃO TEATRO INTIMISTA NO RIO DE JANEIRO GRUPO DE DANÇA DO JAPÃO SANKAI JUKU CORPO VIVO, DE IVALDO BERTAZZO BIENAL DE DESIGN EM CURITIBA NOVO RESTAURANTE NA CONSOLAÇÃO VERRINES NO CANTALOUP Esqueça tudo o que você já viu sobre dança. O butô nasceu no Japão no pós-guerra e ficou conhecido como a dança das trevas. O estilo ganhou o mundo com temas polêmicos e uma estética impactante. Com o tempo, a arte do grupo Sankai Juku tornou-se mais meditativa. No palco, oito homens de cabeças raspadas e corpos totalmente cobertos de pó branco. O espetáculo Tobari celebra o ciclo da vida. Lento, lento... lindo, lindo. De 14 a 16/9, no Teatro Alfa, em SP. Como seria se o homem tivesse a capacidade de regeneração dos répteis ou a velocidade do leopardo? E se a visão humana fosse como a de uma coruja? O que fazer quando a mente está livre, mas o corpo envelhece? Nossas limitações e os pontos fortes estão no espetáculo de dança Corpo Vivo, de Ivaldo, que tem também pitadas de humor. A nova produção do autor de Milágrimas tem 17 bailarinos, um ator e uma cantora lírica. De hoje a 17/10, no Sesc Pinheiros, em SP. Como projetar, produzir, consumir e satisfazer a demanda do mundo contemporâneo sem comprometer o futuro do planeta? Esse é o principal questionamento da Bienal Brasileira de Design 2010, que ganhará corpo na capital paranaense. Mostras, seminários, fóruns, workshops e ações educativas estão no evento, que tem curadoria de Adélia Borges. Devem passar por lá mais de 250 mil visitantes, entre profissionais de design e público leigo. De 14/9 a 31/10, em Curitiba. Os proprietários aproveitaram a experiência em restaurantes nos Estados Unidos e na Itália para abrir, no bairro da Consolação, o Becco 388. Com jeitão de Manhattan, o sobrado oferece cozinha contemporânea. Para abrir o apetite, atum com tomate, abacate e chips de batata (foto). Experimente também o divertido “raviolão do dia”. A influência americana está, entre outros pratos, no steak alto de filé mignon na grelha com fritas e molho béarnaise. R. Mato Grosso, 388, em São Paulo. Pequenos copos de vidro servem de suporte para as delícias que o restaurateur Daniel Rolim Sahagoff trouxe de suas viagens pela Europa. Geralmente doces, as verrines do Cantaloup aparecem também salgadas. Prove a mousse de avocado com cubos de truta defumada ao pesto de dill (foto), por R$ 28. Outra boa surpresa é o novo menu de sobremesas, criado pelo pâtissier francês Bertrand Busquet. Peça a goiaba e coco com tapioca cremosa, goiabada e limão, por R$ 26. R. Manuel Guedes, 474, SP. Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 3 Cardápio 10.9.10 No jornalismo, estar perto demais de algo precioso é sempre meio delicado. Muitas vezes a gente deixa de noticiar para não parecer tirar vantagem. Noutras, a notícia simplesmente nos atropela. Isso acontece esta semana, em que não posso deixar de destacar a honra de ter uma colunista do naipe da Lilia Moritz Schwarcz 4, de novo finalista do prêmio Jabuti, conquistado outras vezes. Desta vez, concorre com o muito conveniente Um Enigma Chamado Brasil, com André Botelho, editado pela Cia. das Letras. E aí a situação se repete, pois também não deu para deixar de entrevistar o escritor Luiz Schwarcz (26) que, tirando o fato de ser marido da Lilia, é o homem que lidera um dos maiores sucessos editoriais do país, a Companhia das Letras. E, para me apertar de vez, os dois ainda vêm a ser sogros do Luiz Henrique Ligabue, um repórter que como poucos é capaz de transformar meras alcachofras (26) em história e poesia (e receita). Mas isso fica só entre nós, OK? Phydia de Athayde 4 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 IDEIAS FORTES Lilia Moritz Schwarcz Ouviram do Ipiranga às margens plácidas... REPRODUÇÃO Com o objetivo de elevar o herói, o artista castiga a geografia, cria uma espécie de colina improvisada — em região conhecidamente plana —, e ainda desloca um tímido “riacho” do Ipiranga, onde os cavalos pisoteiam a água. Já Pedro I surge imóvel, tal qual estátua equestre, fazendo jus ao cânone da pintura acadêmica de história. A observá-lo apenas um caipira, que faz as vezes do povo e, passivo, anota a movimentação Sete de setembro é data que não se esquece. Ainda mais quando implica desfrutar de feriado em plena terça-feira, garantir uma ponte fácil na segunda e, de quebra, ganhar uma semana mais curta, já que a sexta-feira chega logo. Mas confesso que nunca engoli essa data. Diferente de outros países, onde o ato de independência é celebrado de maneira cívica, por aqui apresentamos uma reação meio ambivalente, culpada até, com relação ao famoso evento. Em primeiro lugar, somos uma República estranha, já que nosso hino nacional não é o da República, mas sim aquele criado durante a Monarquia. O famoso “Ouviram do Ipiranga”, que durante muitos anos eu pensava tratar-se de um samba chamado Virandú, foi melodiado e escrito durante o Império, e, dizem, pelo próprio Pedro I. Por outro lado, causa certo estranhamento o próprio ato de fundação. Sabemos que nosso príncipe não estava em missão oficial, e nem acompanhado por tropas de elite; ninguém devidamente uniformizado. Ao contrário, voltava de Santos, local onde havia visitado a Marquesa, e ao que tudo indica não andava bem de suas funções estomacais. Mito ou não, o fato é que as águas do Ipiranga podem ter sido providenciais. Além do mais, não se viajava naquela época à cavalo, e sim de burro; animal mais apropriado para longas distâncias e estradas pouco cuidadas. Por fim, não havia povo algum para escutar a famosa frase do futuro imperador. “Independência ou morte” é brado de impacto, mas não tanto na ausência de público. Fico me perguntando, assim, por que tanto cenário se tudo não passava de simulacro. Como diz o historiador Sérgio Buarque de Holanda, temos aí “muito lastro para pouca vela”, o que talvez explique o parco efeito que esse episódio produz entre nós. É certo que, nas escolas, tanto o evento como a conhecida tela de Pedro Américo são ainda motivo para muita retórica e exercício de moral e cívica. Não há livro didático que não use a obra como ilustração, e por isso mesmo vale a pena entender como até mesmo um quadro é passível de desconfiança. Longe de ser produzido no calor da hora, o Grito do Ipiranga foi terminado apenas em 14 de julho de 1888; pouco antes do final do Império. Além do mais, a tela é resultado de encomenda expressa, feita pelo governo de Pedro II nos idos de 1886. Naquelas alturas, o monarca ainda pouco preocupado com sua própria sorte (que estava para mudar) andava mais empenhado em reabilitar a imagem de seu pai, muito castigada por conta de seus humores autoritários, e por ter buscado tolher a participação de políticos nacionais dos rumos do país recém-independente. Numa clara citação das telas do artista francês Ernest Meissonier, um dos cultores do mito de Napoleão, nesse caso é Pedro I que surge na mesma posição ereta e altiva; imortalizado pelo exemplo do general corso. Mais ainda: com o objetivo de elevar o herói, o artista castiga a geografia, cria uma espécie de colina improvisada — em região conhecidamente plana —, e ainda desloca um tímido “riacho” do Ipiranga, onde os cavalos pisoteiam a água. Já Pedro I surge imóvel, tal qual estátua equestre, fazendo jus ao cânone da pintura acadêmica de história, que imortaliza seus personagens dando a eles aspectos etéreos. A observá-lo apenas um caipira, que faz as vezes do povo e, passivo, anota a movimentação. Como se vê, a tela tinha tudo para agradar: grandiosidade, técnica, impacto, tamanho e autoria. Afinal, a essas alturas, Pedro Américo era um dos queridinhos do Imperador, e devia a ele sua especialização e viagens ao exterior. Mas o destino de vez em quando prega poucas e boas. A tela seria apresentada ao público apenas em 1889, momento em que d. Pedro II pretendia afirmar a força do sistema imperial, a partir da exposição da figura recuperada do pai. Porém, e como todos sabem, esse seria o ano final da monarquia, e a vida da bela paisagem patriótica parecia consagrada ao fracasso. O quadro acabou embrulhado em uma sala da Faculdade de Direito, e assim permaneceu até os idos de 1895, quando foi finalmente inaugurado no Museu do Ipiranga; onde se encontra até hoje. Mas a obra ganharia, em tempos republicanos, nova roupagem e tradução. Quando reaberta ao público, foi inaugurada como um monumento em homenagem a São Paulo. D. Pedro I virava “cultor” da brava gente paulistana, e o caipira aparecia como bandeirante; esse grande desbravador de nossos sertões, um aventureiro intrépido, sempre pronto a novas conquistas. Sabemos que nem Pedro I era tudo isso, e muito menos a figura do bandeirante, que tem passado por grande revisão histórica. Mudando um pouco o sentido do ditado, é possível dizer que “todo tradutor é um traidor”. Cada época constrói suas próprias verdades e revê velhos fatos com lentes atuais. Ao concordar com a nova versão, teríamos que apostar que o “brado retumbante” foi um ato da estirpe desbravadora paulistana, e que Pedro I, se não fosse português, escolheria ficar por aqui e ganhar novos ares. Si non é vero... Lilia Moritz Schwarcz é professora titular do Departamento de Antropologia da USP. É autora de O Sol do Brasil (Companhia das Letras, Prêmio Jabuti 2009), entre outros. Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 5 CRÔNICA Humberto Werneck Minha amiga heavy metal — Ah, meu querido, desta eu não escapo... Hilda Hilst era mesmo bem dramática, punha um peso excessivo nos pequenos infortúnios, e eu a conhecia o bastante para não tomá-la tão ao pé da letra. Mas agora a situação parecia ser de fato muito preocupante: ela me ligava do hospital, aonde fora parar com problemas no coração. — E o pior de tudo, meu querido, é que eu vou perder para esse padre! “Esse padre” era o cardeal Paulo Evaristo Arns, com quem a escritora concorria ao Juca Pato, o troféu que a União Brasileira de Escritores concede a quem seja eleito por seus membros como Intelectual do Ano. Na reta final, em 1989, estavam Canto do Povo pela Paz, do cardeal, e os belos poemas de Amavisse, de Hilda Hilst. — Não me deixe perder para esse padre! — choramingava ela, naquilo que poderia ser o seu leito de morte. Pedia a minha ajuda para evitar a derrota. Que eu não apenas lhe desse meu voto como também, convertido em cabo eleitoral, saísse em busca de outros em seu favor. O problema, ponderei, é que eu não era sequer filiado à UBE. — Pois se inscreva, meu querido — cortou ela com voz mansa, persuasiva —, porque eu não vou aguentar a humilhação de perder para esse padre... O que a gente eventualmente não faz por alguém em apuros? Cidadão de temperamento nada gremial, lá fui eu me filiar à UBE, ao mesmo tempo em que me punha a cabalar votos para Hilda Hilst. Não tardei a perceber que já largava em desvantagem, pois no campo adversário o cabo eleitoral era ninguém menos que meu amigo Frei Betto, influente não apenas nas Alturas como na massa terrena dos votantes. Não me lembro quantos votos teve Hilda, mas duvido que eu tenha conquistado para ela mais de dois ou três. Previsivelmente, venceu “esse padre” — e foi temendo pelas coronárias de minha amiga que em seguida lhe telefonei. Menos mal que já não estivesse hospitalizada. De volta à sua Casa do Sol, nos arredores de Campinas, atendeu com voz fagueira, e a meu tom desolado reagiu com uma exuberância que beirava a euforia: — Não tem a menor importância, meu querido, não fique triste assim, eu estou cagando para essa palhaçada... E, depois de me consolar pela derrota, àquela altura exclusivamente minha, enveredou serelepe por outros assuntos, como se nada houvesse acontecido, a internação, o padre, o Juca Pato, nada. Eu deveria estar preparado, pois quando a conheci mais de uma pessoa me alertou para a montanha russa de seu comportamento imprevisível. Ela é heavy metal, preveniu alguém, referindo-se à contundência que não raro entremeava as delicadezas de sua alma de poeta, e da qual é uma ilustração em muitas o calão acima. Me lembro de estar almoçando em sua casa e de elogiar a comida, elogio endereçado também à empregada que naquele momento nos servia à mesa, uma senhora de ar severo e idade incerta, grisalha mas sem rugas, maquiagem nenhuma, saia de freira à paisana, blusa de mangas compridas fechada no alto por um camafeu de bisavó. — Ah, são artes da fulana! — derreteu-se a patroa, tomando entre as suas a mão hirta da criatura, em cujo rosto não se esboçou a menor ameaça de sorriso ou desagrado. — Eu adoro tudo que ela faz. Pena que não somos lésbicas, não é, querida? — É sim, dona Hilda — ecoou querida, com uma voz que parecia se estreitar para transpor o pescoço longo e fino à la Modigliani. Coisas de Hilda Hilst. Nos começos de noite, sentava-se na sala de teto alto em companhia do ex-marido, que depois da separação curiosamente refluíra à Casa do Sol, e, sem muita conversa, com ele tomava um uísque, um apenas, após o qual o cônjuge deposto se mandava em direção a novas doses em outro canto, e ela ali permanecia, no sofá de couro, com sua garrafa, seu copo e sua provisão de gelo. Certa vez, Hilda tentou me convencer a ir visitá-la no domingo, com sua amicíssima Lygia Fagundes Telles. Boa ideia, disse eu, animado com uma viagem que acabaria não acontecendo. — Venham vocês três — insistia ela. — Como, nós três? — estranhei. — Sim, meu querido — disse ela, com a condescendência de quem explica algo elementar a uma criança. — Você, a Lygia e o uísque que os dois vão trazer para mim... Humberto Werneck é jornalista e escritor. É autor, entre outros, de O Espalhador de Passarinhos & Outras Crônicas (Dubolsinho), O Pai dos Burros (Arquipélago Editorial) e O Santo Sujo (Cosac Naify). Coisas de Hilda Hilst. Nos começos de noite, sentava-se na sala de teto alto em companhia do ex-marido, que depois da separação curiosamente refluíra à Casa do Sol, e, sem muita conversa, com ele tomava um uísque, um apenas, após o qual o cônjuge deposto se mandava em direção a novas doses em outro canto, e ela ali permanecia, no sofá de couro, com sua garrafa, seu copo e sua provisão de gelo 6 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 BASTIDORES Cirque du Brésil Em seu 25º ano de vida, o Circo Spacial é um daqueles, valentes e melancólicos, a enfrentar sem patrocínio a concorrência dos shopping centers e games — ladrões de uma infância de sonho TEXTO D A N I E L A P A I V A FOTOS M A R C E L A B E L T R Ã O Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 7 Gilmar, ex-bancário, no ritual quase diário que o transforma no palhaço Pingolé 8 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 BASTIDORES 1 2 4 5 aniela? E cadê o cravo e a canela? O palhaço Pingolé, do Circo Spacial, me recepciona com este clássico. Uma rima que ouvi tantas vezes na infância e, agora, nos meus 30 e poucos, escondia-se na memória esmagada pelos impactos em escala Cirque du Soleil. Quantas vezes você se depara com o encanto infantil num espetáculo gigantesco e frenético que é a cara da modernidade? Poucas, aposto! Mas basta se deparar com a fachada do Circo Spacial, que recebeu a visita do Outlook em pleno feriadão chuvoso de 7 de setembro, que essa nostalgia salta, como coelho guardado na cartola, e o convida para ir ao circo! Estamos falando de um circo de verdade, com toda a “mambembice” que lhe é de direito. Chegue perto e verá estranhos D reparos, feitos por gente que não fez curso de corte e costura. Mas quem repara nisso? Nós, adultos. Para as crianças, remendos não fazem diferença quando se tem palhaços que arrancam gargalhadas com um humor clássico, homens e mulheres que desafiam a gravidade, artistas que parecem querer levar ao máximo os limites do corpo. Numeros tradicionais já vistos e revistos, mas sempre mágicos, lúdicos. Belos. Dessa vez, desvendamos o que há por trás da maquiagem, do figurino, das acrobacias e do letreiro em que uma das letras anda meio apagada. Uma cidade com 76 habitantes: sendo cerca de 36 artistas e 40 funcionários daequipe técnica. Cidade transportada em 22 carretas e 35 trailers, onde moram famílias que nascem, crescem, trabalham e se divertem juntas. Não 6 são tão hippongas como se poderia imaginar. Têm fogão, máquina de lavar, ar-condicionado, bicicleta ergométrica. Sim, bicicleta ergométrica! Para ficar “bunito” no picadeiro! Há, sim, um exercício mais delicado da rotina em comunidade. Coisas do tipo: melhor abaixar o som para não tirar o sono de quem ralou duas vezes em cena, no trapézio e numa perigosa dança sobre uma pilha de cadeiras. Ali não tem essa de fazer de conta de que não conhece o vizinho. Sabe-se tudo sobre ele. Onde ele trabalha, com quem namora... Fernando Prendin, 24 anos, é o trapezista aí de cima que dá saltos mortais e equilibra o corpo bem torneado empilhando cadeiras de madeira. Sua rotina é: circo, Exército, malhação. Longe da lona, é soldado. Os ensaios ocupam cerca de duas É um circo de verdade, com toda a ‘mambembice’ que lhe é de direito. Chegue perto e verá estranhos reparos, feitos por gente que não fez curso de corte e costura. Mas quem repara nisso? Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 9 1. Pingolé, o palhaço cara de chulé, leva uma bitoca da filha Carolina, de 20 anos. A maquiagem é feita com tinta óleo há 24 anos 3 2. A luz apagada no letreiro dá aquela sensação de circo artesanal, que sobrevive apesar de todas as dificuldades 3. Aqui, contorcionismo no ar sem proteção. Coragem não falta à essa trupe, que conta com 36 artistas e 40 técnicos 4. Um clássico que nunca perde a graça: palhaços vestidos de mulher 5. Marlene Querubim, a fundadora, na varanda de seu trailer que tem fogão, ar-condicionado, cama e closet para trocar de roupa 6. Simplicidade no hall de entrada e praça de alimentação: pipoca, cachorro-quente, algodão doce, maçã do amor e... balas Chita. Lembra delas? 7. O número de mágica assusta até adultos. E aí, adivinhou qual é o truque? É que a moça... er... Deixa pra lá 7 horas, três vezes por semana, sem contar as apresentações, e ainda faz musculação. Mas o que dói mesmo não é o desgaste físico. É o hematoma na alma. Sim, ufa, havia uma rede protetora no escorregão de terça-feira. “Você fica chateado porque não quer errar, tem muita gente assistindo”, lamentou no dia seguinte. Sabe aquela história de que artista de circo vive do aplauso? Que faz aquilo por amor? É isso mesmo. Uma paixão que vem de berço para alguns, e que brota em outros. Fernando experimentou uma vez, trouxe o irmão e foi ficando, ficando... Nessa, já foram sete anos. E aquele clichê da garota que fugiu com a trupe? Pois esta é a história de Marlene Querubim, 50 anos, fundadora do Circo Spacial, que acaba de completar 25 anos. Em 1978, ela largou Cascavel (PR), para se- guir com o Circo Vostok. “Me apaixonei pelo estilo de vida, pela liberdade de estar um dia aqui, noutro acolá.” Atriz, compositora, diretora de espetáculo, produtora, Marlene sempre atuou nos bastidores da lona, na concepção de espetáculos. Teve dois filhos. Um fez a carreira no circo e está nos EUA. O outro desviou do picadeiro. Quando montou o Spacial, Marlene queria fazer um circo à moda dos Jetsons. Até os personagens-símbolo se parecem com a família que instalou o futuro na cabeça das criancinhas nos anos 80. Quem vê graça nisso hoje? Os papais, claro. Em se tratando de futuro, Marlene é mestre. Ela mudou a vida do irmão, Gilmar Querubim, ex-bancário, que virou Pingolé, “o palhaço cara de chulé”. Até então, ele era só um boa praça, piadista. Certa vez, há 24 anos, um palhaço faltou . Gilmar Quando montou o Spacial, em 1985, Marlene queria fazer um circo do futuro, numa estética que hoje dá saudade. Seus personagens-símbolo lembram os Jetsons. Nulos para as crianças, mas lembrança afetiva certeira para os papais pintou o rosto com tinta a óleo (que usa até hoje), subiu no picadeiro e não desceu mais. Ali conheceu a esposa, a acrobata Elaine. Tem uma filha, Carolina, de 20 anos, que se desdobra em números de malabares até mágica. E assim vai a vida, cheia de risos sob a lona para 3 mil lugares. Mesmo quando a maioria deles está vazio. Visionária por acaso, desde o começo Marlene preferiu números com artistas àqueles com animais — prática hoje proibida por leis municipais e estaduais. Sem grandes patrocínios, o Spacial varou 25 anos de planos econômicos, dificuldade de encontrar terrenos vazios (por isso, está na Zona Leste paulistana) e disputa com a modernidade — shopping centers e games robotizadores de crianças. Uma briga dura, duríssima. Mas, que vale a lembrança de uma infância mais poética. 10 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 PROVOCAÇÃO Seriam os hormônios a razão de nosso descalabro? FOTOS DREAMSTIME/FOTOMONTAGEM HENRIQUE PEIXOTO Bem que Evo Morales avisou. Dar hormônios de crescimento aos frangos não havia de ser boa coisa Se estamos tão sujeitos a desequilíbrios hormonais, quem garante que uma alteração irremediável não esteja em curso dentro de mim, no exato momento em que escrevo sobre isso? TEXTO CH I CO M A T T OS O á alguns meses, o presidente boliviano Evo Morales surpreendeu o planeta ao afirmar que a ingestão de frango com hormônios leva à homossexualidade e à calvície. A declaração suscitou reações indignadas da comunidade científica e de grupos gays — e não é improvável que também tenha irritado alguns carecas vegetarianos, subitamente acusados de mentir a respeito de sua dieta. O presidente pediu desculpas, o mundo se acalmou, mas ninguém deu muita atenção ao verdadeiro protagonista de seu discurso: o hormônio. Eu sei, essa história de frangos vitaminados é considerada um mito, mas a indignação de Evo é um sinal inequívoco de que os tempos mudaram. Até uns anos atrás, todos os problemas da humanidade — ou ao menos aqueles que cabiam no noticiário científico — pareciam ligados ao colesterol. Era o tempo da condenação do ovo, da expiação da manteiga, do exílio forçado dos açúcares. Estávamos diante de uma nova potência religiosa: a igreja coronariana. Não havia gordura saturada que escapasse à sanha dos inquisidores, que a cada semana escolhiam um novo vilão para atirar à fogueira. Pois bem. De uns tempos para cá, a obsessão midiática parece ter migrado do colesterol para os hormônios. É um assunto bem mais complexo, sem dúvida. Estamos falando de glândulas. De secreções. De substâncias enigmáticas, que trazem nomes como dopamina, tiroxina,progesteronaecortisol.Hormôniossãoproduzidos H quando rimos, quando fazemos exercício, quando nos apaixonamos. Eles regulam o metabolismo. Controlam o crescimento. Uma interrupção repentina na produção deumadessassubstânciaspodegeraralteraçõesradicais de comportamento e levar à degeneração física e, quem sabe, à morte. Por conta de tudo isso, não existe acontecimento nos últimos tempos que não seja explicado por desequilíbrios hormonais. A infidelidade. A crise nas bolsas. O vício em internet. A magreza do Steve Jobs. O.k., talvez a novidade não seja tão grande. Sou um leigo no assunto. Há, porém, um certo sabor na ignorância, e é assim que me surpreendo ao descobrir que, de acordo com uma universidade americana, mulheres barrigudas tendem — por motivos glandulares, é claro — a ter problemas de memória. Ou que os homens produzem certos hormônios com o nascimento dos filhos, o que os auxilia a desenvolver habilidades paternas. Ou, ainda, que mulheres que fazem aplicação de testosterona tendem a ser mais responsáveis em movimentações financeiras que os homens. Diante de minha natural hipocondria, é inevitável que, aos poucos, o assunto saia das páginas científicas e comece a tomar conta dos meus pensamentos. Se estamos tão sujeitos a desequilíbrios hormonais, quem garante que uma alteração irremediável não esteja em curso dentro de mim? Como minhas glândulas reagirão, por exemplo, ao fato de eu estar escrevendo um texto sobre o assunto? Sinto uma coceira estranha no pescoço, um aquecimento repentino na palma das Até uns anos atrás, todos os problemas da humanidade pareciam ligados ao colesterol. Era a inquisição da igreja coronariana. Agora o assunto é bem mais complexo. Estamos falando de glândulas. De secreções que trazem nomes como dopaminha, tiroxina, progesterona e cortisol mãos. Resolvo sair de casa. Nas ruas, o que vejo é uma multidão de reservatórios hormonais, todos transportando suas secreções para lá e para cá. Observo com atenção. Tento discernir, em algum dos seus gestos, a revelação de que está tudo bem, que não há motivo para me preocupar. Mas como saber se esses gestos não são resultado de alguma metamorfose endocrinológica? Talvez o segredo do mundo seja esse. Nossos problemas não são de ordem econômica, política ou social. Não, o homem não é mau por natureza, nem é nosso destino padecer sobre a terra. Esqueçam a psicanálise, a astrologia, a conversa mole dos filósofos e economistas. Deus voltará, não sob a forma de um homem, mas de uma glândula salvadora, que expelirá nos escolhidos os hormônios da redenção. Só nos resta esperar. E, em silêncio, secretar. O escritor Chico Mattoso é autor de Longe de Ramiro (Editora 34). Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 11 OLHA O PASSARINHO Grandes twittadas da semana Pérolas, achados e picaretagens. O melhor da filosofia em até 140 caracteres “ FOTO DIVULGAÇÃO Ivete precisava ir até Nova York para fazer show para brasileiros? (Artur Xexéo). @djzepedro “ Bom dia pra você que comemora a independência, mas não estende a própria cama. @deercy “ A gente se acha o país + fodão da América Latina, mas daí a Argentina vai lá e libera casamento gay e o Chile já legisla sobre Neutralidade da Net... @biagranja FOTO DIVULGAÇÃO “ Felipe Massa feliz pela Ferrari escapar de punição. ‘Ainda bem que isso já passou. Eu sempre disse que passaria sem problemas’.@mauro_beting “ “ “ Militante é igual vinho. Tem o espumante (a maioria), o de mesa (redonda) e o fortificado (força um flood). Mas no fim é tudo um porre. @aomirante Homens ganham 80% dos salários mais altos. O macho adulto e branco sempre no comando. @ninalemos Aliás, o prêmio da Mega-Sena é 0,3% da fortuna do Eike. Pfff seus pobre. @svartman playboy da Larissa Riquelme vem com óculos “3D.ACom uma das mãos o cara segura os óculos, “ “ Bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa. @caiofabreu Digo ao povo que me retiro do tuíter após 2 meses de divertimento. Meu amor a todos vocês q ue entenderam minhas loucuras e pau no cu dos babacas. @LitaRee_real, teria caído na real? FOTO ALEXANDRE BRUM/AG. O DIA com a outra, a revista. É o fim da punheta! @lapena 12 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 ZOOM J.R.Duran As quatro leis do viajante A Companhia Holandesa das Índias Orientais foi a primeira multinacional a operar no mundo (1). Em 1692 assinou, com os Países Baixos, um contrato que lhe dava a exclusividade para explorar as colônias existentes — e futuras — na Ásia. Um contrato dos sonhos impossíveis de qualquer CEO nos dias de hoje. No período de duzentos anos a Companhia das Índias despachou, a bordo de pouco menos de cinco mil navios, quase um milhão de cidadãos europeus para administrar seus negócios no continente asiático. A recomendação a todos esses viajantes para evitar problemas digestivos ao entrarem em contato com novos, e curiosos, hábitos alimentares era uma só: “Cook it, boil it, peel it or forget it” (2). Em uma frase estavam simplificadas as precauções a serem tomadas para conseguir se alimentar em países de costumes diferentes sem que o estômago reclamasse. Desde que comecei a viajar para lugares distantes, especialmente os que não estão no mapa das agências de turismo, tenho seguido essa premissa. Se a comida não estiver cozinhada, fervida ou — no caso das frutas — descascada, está proibida de se apresentar no meu prato. Isto quer dizer que, mesmo em momentos de apetite descomunal, nunca escolhi carne mal passada, ovos, sushi, sashimi, ostras ou mariscos. Apenas uma vez vacilei. Foi em Taroudant, no Marrocos. Taroudant é uma das poucas cidades dentro de muralhas que ainda não foram invadidas por ônibus de turistas. O melhor palácio da cidade, bem no meio da kasbah, foi convertido em hotel, o Salam Palace Hotel. Um verdadeiro oásis, com jardins exuberantes e uma impecável piscina azul. Em um fim de tarde agradável, sentado à sombra de palmeiras, pedi para o garçom um suco de laranja sem gelo (3). O serviço é eficiente e em poucos segundos uma jarra de suco se materializou na minha frente. Suco com gelo. Reforcei para o rapaz vestido com uma djellaba impecável que meu pedido era sem gelo. Ele não vacilou. Retirou-se e voltou instantes depois. Achei a rapidez considerável mas, com o tamanho da sede que sentia, meu cérebro não processou a informação. Bebi o suco de laranja que estava no copo quase de uma vez só. E foi aí, no último gole, que meus dentes trincaram um pedacinho, minúsculo, de gelo. Entendi no mesmo instante o que tinha acontecido. O garçom simplesmente tirara o gelo da primeira jarra. Na cabeça dele, uma operação simples e lógica. Já na minha, a certeza de que estava me expondo a qualquer tipo de água. E foi o que aconteceu. A foto ao lado foi a última que fiz antes de cair de cama por 48 horas, vítima de um desarranjo no fígado que, por sorte, foi curado por não sei quantas gotas de um dos remédios que meu assistente levava na mala. (1) O monograma (hoje seria logotipo) era formado pelas letras VOC, iniciais de Vereenigde Oost-Indische Compagnie. Foi a primeira companhia a emitir ações. Durante muitos anos, seus dividendos foram de 18%. Fundada em 1602, quebrou em 1796. (2) Cozinhe, ferva, descasque ou esqueça. (3) A tendência das pessoas é, na hora de gelar, colocar água sem filtro. J.R.Duran é fotógrafo, autor, entre outros, de Cadernos Etíopes (Cosac Naify). No Twitter: @jotaerreduran. J.R.DURAN /FILE INC. Desde que comecei a partir para lugares distantes, especialmente os que não estão no mapa das agências de turismo, tenho seguido essa premissa. Mesmo em momentos de apetite descomunal, nunca escolhi carne mal passada, ovos, sushi, sashimi, ostras ou mariscos. Apenas uma vez vacilei Eleitos Cinquentona style | Verner Panton desenhou em “s” a cadeira que leva seu nome há 50 primaveras, inspirado na psicodelia daqueles tempos. Produzida em escala, tornou-se um sucesso instantâneo, e pode ser sua por R$ 1.654, na Hetty Goldberg 14 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 ELEITOS IMAGENS DIVULGAÇÃO O horror, o humor Com Dias Felizes, completa-se no Brasil a publicação da trilogia de peças de Samuel Beckett que articulam, através do nonsense e do absurdo, o terror nosso de cada dia TEXTO R O N A L D O B R E S S A N E Beckett dirige Karl Raddatz em Esperando Godot, no Schiller Theater ois vagabundos esperam um sujeito que não chega nunca. Quatro sobreviventes de alguma hecatombe trocam impressões num abrigo. Uma perua semi-enterrada na areia conversa futilidades com o maridinho. Com sua trilogia formada por Esperando Godot, Fim de Partida e a recém-lançada Dias Felizes (Cosac Naify, trad. Fábio de Souza Andrade), Samuel Beckett diverte-se narrando os espasmos de um mundo em decomposição. Escritas entre 1952 e 1961, as peças refletem — e foram criadas sob o impacto de — o ponto mais baixo conhecido pela humanidade: a Segunda Guerra, o Holocausto, Hiroshima. Lidas hoje sob a euforia tecnológica dos anos 10, sua incomunicabilidade disfarçada de monólogo pode muito bem refletir características de nosso tempo. “Deu o Godot” é uma gíria gaúcha para dedurar alguém que deu o cano, disse que viria mas não apareceu. A expressão regional indica a peculiar presença beckettiana na cultura pop — como Kafka, Beckett está entre os raros autores adjetivados: sua mera menção esboça uma sensação que combina humor nonsense e profundo horror. Com Godot, o escritor irlandês criou uma alegoria ao mesmo tempo acessível mas de complexa interpretação. Quem seria Godot? Por que Vladimir e Estragon teimam em acreditar, dia após dia, na sua improvável chegada? Se perderem essa esperança, sua existência teria algum sentido? Em Fim de Partida, a dupla de protagonistas é bisada por Hamm e Clov, simetricamente espelhados pelos silenciosos Nagg e Nell. Paralisados em um abrigo, os dois criam um tragicômico jogo sadomasoquista dialogando sobre uma catástrofe a que o espectador nunca tem acesso: são sobreviventes de algum desastre que jamais saberemos — mas cujo horror podemos compreender nos cacos de linguagem, de gestualidade, ou, melhor D ‘Deu o Godot’ é uma gíria gaúcha para dedurar alguém que deu o cano. A expressão regional indica a peculiar presença beckettiana na cultura pop — como Kafka, Beckett está entre os raros autores adjetivados: sua mera menção esboça uma sensação que combina humor e horror dizendo, de humanifica confuso. (Sorri.) Não dade, que nos legaram agora. (Sorriso mais laresses personagens go.) Não não. (Desfaz o imobilizados contra sorriso. Fecha os olhos. A um cenário “preto campainha toca alto. claro” (conforme deAbre os olhos. Pausa.) terminado pelo severo Vejo olhos que parecem dramaturgo). se fechar em paz... para Tratando de um caver... em paz. (Pausa.) sal de meia-idade, a Não os meus. (Sorri.) loquaz Winnie e o taciNão agora. (Sorriso mais turno Willie, Dias Felargo.) Não não. (Desfaz lizes aproxima o apoo sorriso. Pausa longa.) calipse genérico das Willie. (Pausa.) Você peças anteriores de acha que a terra perdeu a um juízo final domés- O autor, na Berlim de 1967 atmosfera, Willie? (Pautico. O nome da peça sa.) Acha, Willie? (Pauremete a um pretérito maravilhoso — e o sa.) Não tem uma opinião a respeito? (Paumesmo se aplica à linguagem entrecortada sa.) Tudo bem, é a sua cara, nunca teve uma de Winnie, a cinquentona que passa o pri- opinião sobre nada. (Pausa.)” meiro ato brincando com os objetos de sua Talvez seja só impressão; mas essas ruíbolsa, semi-imersa na areia, e o segundo nas de uma linguagem que já foi comum ato com somente a cabeça de fora, feito um emulam hoje os monólogos fragmentados locutor de TV. Aqui, Beckett intensifica sua no Twitter, buscando desesperadamente estética de ruína, fragmentando a fala e o um eco que nunca vem. Outro sinal de que gestual em tiques mínimos. Impressiona a o apocalipse de Beckett não ficou no sécugeométrica e rigorosa partitura do texto: lo 20: prossegue nos mínimos movimentos “Há tão pouco a dizer. (Pausa.) E dizemos de um mundo que, sem saber o que falar, tudo. (Pausa.) Tudo que é possível. (Pausa.) insiste em falar assim mesmo, somente E nem uma palavra de verdade em parte al- para provar a sua existência. guma. (Pausa.) Que braços? (Pausa.) Que seios? (Pausa.) Willie. (Pausa.) Que Willie? (Assertiva e veemente.) O meu Willie! (Olhos para a direita, chamando.) Willie! (Pausa. Mais alto.) Willie! (Pausa. Olhos para a frente.) Tudo bem, não saber, não saber ao certo, é uma grande bênção, tudo que peço. (Pausa.) Ah, é... naquele tempo... agora... a sombra das árvores... este aqui... Charlie... beijos... tudo aquilo... confunde o espírito. (Pausa.) Mas o meu não Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 15 IMAGENS DICULGAÇÃO A edição comemorativa de 35 anos reproduz 15 capas (algumas ao lado) de edições anteriores do livro, traduzido em vários países Trinta e cinco vezes Zero Proibido pela ditadura em 1975, o romance de Ignácio de Loyola Brandão comprova-se de uma atualidade desconcertante FOTO DIVULGAÇÃO SARAIVA arece bizarro, mas houve uma época no Brasil em que liberdade de expressão era somente uma expressão. Reportagens, livros, filmes e discos eram censurados a torto e a direito — o sinistro mecanismo da proibição fazia com que os próprios artistas e produtores de cultura acabassem por introjetar a censura. A ficção de então cavava subterfúgios fantasiosos para driblar a realidade, e muitas vezes a prosa realista era empurrada para baixo do tapete da repressão. Ignácio de Loyola Brandão era um jornalista pasmo com esse procedimento: secretário gráfico do jornal Última Hora , acostumou-se a guardar as matérias que o censor vetava para publicação. Logo tinha muitas caixas com estranhos fragmentos da realidade brasileira do início dos anos 70 soterrando seu apartamento. Em crise criativa, abriu seu fantástico acervo e se deparou com aquelas narrativas em esqueleto e subitamente teve um estalo: ali estava o romance. “E então me deu uma louca. Amontoei no apartamento todas as matérias censuradas. As velhas e as novas, que a cada dia tinha mais, e mais, e mais. E a cada dia pegava um papel e escrevia alguma coisa em cima. Uma ficção-realidade. Montava uma historinha a partir do grupo que vai atrás do menino com música na barriga. Veio-me à cabeça uma lembrança da infância, um livro sobre um menino que tinha o rei na barriga. Assim escrevi por meses”, conta P Secretário gráfico do jornal Última Hora, se acostumou a guardar as matérias que o censor vetava. Logo tinha muitas caixas com estranhos fragmentos da realidade brasileira do início dos anos 70 soterrando seu apartamento. Teve um estalo: ali estava o romance Brandão na rica edição comemorativa dos 35 anos do romance Zero (Global Editora), que contém 100 páginas de aparatos, reunindo memórias do autor, cronologia da censura ao romance, críticas e capas que o livro teve pelo mundo. Ambientado numa certa América Latíndia, usando como fio condutor a história de um humilde José que trabalhava como exterminador de ratos — enquanto fugia da polícia e da sinistria crise econômica, que acossavam em invisíveis ratoeiras —, Brandão costurou um romance radicalmente experimental, uma aventura formal que deslumbrou crítica e público mas provocou a ira dos censores: ao esgotar a primeira edição, teve sua reimpressão proibida. Ao mesmo tempo, o romance era traduzido em vários países — sucesso internacional poucas vezes repetido pela literatura brasileira. Sua censura em 1976, ao lado dos também violentamente realistas Araceli, Meu Amor, de José Louzeiro, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, provocou uma reação por parte dos intelectuais que estremeceu os baluartes da ditadura. “José mata ratos num cinema poeira. É um homem comum, 28 anos, que come, dorme, mija, anda, corre, ri, chora, se diverte, se entristece, trepa, enxerga bem dos dois olhos, toma Melhoral, lê regularmente livros e jornais, vai ao cinema sempre, não usa relógio nem sapato de amarrar, é solteiro e manca um pouco, quando tem emoção forte, boa ou ruim.” A clareza da linguagem é dos raros eixos na narrativa concebida Brandão costurou romance radicalmente experimental como uma sinfonia cubista, com fragmentos que se sucedem sem hierarquia, colagens de ações, pensamentos, leituras de jornal, pensamentos, slogans, comerciais de TV, lembranças desconexas — refletindo o desconcerto de Brandão para com a realidade proibida. A ousadia técnica (cujo solitário antecedente é o Memórias Sentimentais de João Ribamar, de Oswald de Andrade) influenciou toda a literatura brasileira: estilhaços dessa bomba literária podem ser captados em romances fragmentários como Eles Eram Muitos Cavalos, de Luiz Ruffato, ou textos inclassificáveis como Minotauro, de Valêncio Xavier. Estranhamente, a ousadia estrutural parece algo datada hoje, uma época que busca uma literatura confortavelmente linear. Mas a angústia desse grito que se perde no vazio permanece intacta. R.B. 16 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 FOTO MAURA PARODI Ele veio para confundir, não para explicar Antonio Dias, um dos maiores artistas brasileiros, mostra 50 obras na Pinacoteca do Estado, em São Paulo: ironia e originalidade que desestabilizam a gente The Place, do artista que se diz de nenhum lugar TEXTO C R I S T I N A R A M A L H O FOTO PAULO SCHEUENSTUHL Vísceras em Aqui Uma Mala, uma das 50 obras presentes na exposição FOTO UTE SCHENDEL O nome da exposição de Antonio Dias, Anywhere is my land, é um slogan da sua vida. Abre amanhã na Pinacoteza do Estado, em São Paulo Antonio Dias rodou o mundo para expressar sua arte aquele sol de rachar a moringa do Nordeste, os meninos de cabeças castanhas se viravam para vender algo, caçar passarinho, ajudar a família. Antonio desenhava com o avô, enquanto as paisagens iam se alterando: saíram de Campina Grande, deram num algodoal na Alagoas, gritaram no mar e no sertão de Pernambuco. Os desenhos até que ajudaram: vendidos para rótulos de garrafa de pinga, rendiam uns trocados e matavam uma vontade de fazer as coisas, sei lá, de um jeito diferente. E Antonio anteviu, bidu, que esse negócio de rodar o mundo e N se expressar iria lhe ajudar a ser outro. Anywhere is my land (Não sou de lugar nenhum), o nome da exposição de Antonio Dias que abre amanhã na Pinacoteca do Estado, é então um slogan da sua vida. Adolescente, no Rio dourado, ele aprimorou a vocação estudando gravura com Oswaldo Goeldi. Não demorou a ir mais longe: garoto sério, que só estudava com gente mais velha, um dia olhou no espelho e enxergou sua geração. E em 1965 olha lá Antonio em Paris, botando em telas uns homens em raio X, as vísceras tão expostas quanto as ideias engajadas. Ganhou logo um prêmio na IV Bienal. Falava de política, da falta de perspectiva, da censura, da falta de pão. Da morte. Do sexo. Tudo isso aí com lirismo e sensualidade. Também na técnica era outro: misturava massa, colagem, grafite, pigmentos diferentes. Não se repetia. Nem no habitat: de Paris foi para Milão. De Milão mudou-se para Colônia, e é na Alemanha que vive com a mulher, a cantora brasileira Lica Cecatto. Quando batia a angústia de outras paragens, ele seguia para Índia, Nepal. Se não parou na geografia, muito menos nos formatos. Aprendeu técnicas de papel e produziu um álbum, Trama . Brincou cada vez mais com tridimensionalidade. E assim foi traduzindo histórias de homens de todas as terras e ganhando prêmios em diversas fronteiras: expôs no Guggenheim em Nova York, no Taipei Fine Arts em Taiwan, na Finlândia, em Berlim, no MIT, o centro da inteligência artificial e da altíssima tecnologia. No Brasil, já em 2000 e 2001, rodou pelos Museus de Arte Moderna da Bahia, São Paulo e Rio com uma grande mostra de 30 anos de carreira, O País Inventado. Seu jeito pop e profundo de ser também exibiu o Brasil na famosa exposição da Tropicália no Barbican, em Londres, em 2006. Agora na Pinacoteca você pode ver sua arte vigorosa, dos anos 60/70, quando Antonio Dias explodia para o mundo. Escreveu a frase Anywhere is my land de provocação numa tela de 1968, pintada de negro com tinta branca, pontos desordenados de todos os tamanhos, e outras telas com frases emblemáticas estão nesta mostra. “É de uma fase que ninguém comprava minhas obras”, brinca o artista, que fala pouco, sempre com ironia. O conjunto destas peças, 50 obras, desenhos, pinturas, instalações e filmes, revelam a transição de Antonio Dias da fase Opinião , aqui no Brasil, para a efervescência política que também tomava a Europa. Uma das obras, História, de 1968, é um compartimento de plástico que dentro traz restos e uma poeira do que foram as barricadas estudantis nas ruas de Paris. Outra obra, Nota sobre a Morte Imprevista (1965), três de quatro quadrados trazem imagens que parecem deslizar para fora. No quadrado que resta, as imagens ganham volume. Nada é o que parece. Boa parte das obras faz parte da coleção Daros Latinamérica, e da coleção do casal Genevieve e Jean Boghici, do acervo da Pinacoteca e do próprio acervo pessoal do artista. Em todas, o humor do artista mexe com nossos sentidos de proporção e certezas: ângulos evidenciam a falta de pedaços, os filmes super-8 (the Ilustration of Art) focam os materiais, como um machucado saltando da gaze, as brincadeiras com neon. Antonio Dias, o refinado homem de nenhum lugar, tem no fundo um Chacrinha no espírito: veio para confundir, não para explicar. ANYWHERE IS MY LAND – PINACOTECA DO ESTADO DE 11/9 A 7/11 PRAÇA DA LUZ, 2, SP Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 17 Quem pintou por aqui O Museu de Arte Brasileira da FAAP faz cinquenta anos e celebra com duas exposições e três livros: teatro, memórias e muita arte moderna que se misturam à história de São Paulo Textos de Angelica de Moraes e Fernanda Lopes, a cronologia do museu e as peças em cartaz: livros serão distribuídos pela CosacNaify IMAGENS DIVULGAÇÃO aulistanos, e se forem amantes da arte tanto melhor, passaram pela FAAP alguma vez na vida. Cinquenta anos de aniversário, e o museu da Fundação Armando Álvares Penteado em Higienópolis mistura-se com a história da cidade, como o Parque Ibirapuera e o Masp, todos de um período dourado, ali pelos anos 1950/60, o modernismo no ar. Do Masp o Museu FAAP herdou os cursos de arte e parte do acervo reunido por Assis Chateaubriand. Foi o próprio Pietro Maria Bardi, o italiano irascível que virou sinônimo do Masp, quem convidou os artistas de então para criarem o vitral do prédio. Junto vieram os professores — e começava uma história que renderia a faculdade de artes plásticas e uma sucessão de movimentos para mudar a ordem das coisas. P Caboclas Montadas, de Lasar Segall As luzes coloridas de Le Parc ao lado de poemas de Augusto de Campos, instalações de Julio Plaza, os computadores de Waldemar Cordeiro: décadas depois, ainda sacodem o nosso jeito de pensar O lado histórico é só o pontapé inicial para entender a importância da FAAP, que comemora seu cinquentenário, a partir do dia 14, com um pacote completo: duas exposições e três livros. Vai ter um olho carinhoso no passado (a mostra Memórias Reveladas) e outro na postura futurista que sempre pintou nos salões daquele prédio imponente (a exposição Tékhne). Os livros completam a documentação: Arte Brasileira: 50 Exposições do MAB-FAAP traz textos das críticas de arteAngélica de Moraes e Fernanda Lopes; Teatro FAAP, a História em Cena, apresenta as montagens teatrais arroladas pelo crítico Valmir Santos; e Memórias Reveladas - A Atuação Cultural da FAAP vem com a cronologia desde a criação do museu, década de 1950. “Quando começamos a juntar os nomes e as obras fomos nos dar conta do tamanho da nossa missão”, fala a curadora convidada a dar forma a todo o material, Denise Mattar. A primeira coisa a fazer foi modernizar a apresentação. Para não ficar chata, Memórias Reveladas brinca com recursos visuais. Traz, por exemplo, imagens holográficas das principais peças encenadas ali no teatro. A maioria é teatrão, clássico, de qualidade. Sucessos como De Braços Abertos, com Irene Ravache, ou Madame Chanel, com Marilia Pera, são a cara do teatro FAAP. Isso, aliás, vem mudando: com In On It e agora, Inverno da Luz Vermelha (em cartaz), a FAAP quer público mais jovem nas cadeiras. Já nas artes visuais a FAAP primou pelo oposto. Regina Silveira, Leda Catunda, Walter Zanini, Julio Plaza, Jac Leirner, Carmela Gross botaram a arte paulistana no mapa. Vários deles dão depoimentos dos seus primeiros tempos. O filé de tudo isso está na mostra Tékhne (maestria aem grego, amarrando arte e tecnologia. É uma homenagem ao Obra da exposição futurista Tékhne crítico Walter Zanini, com o fino da multimídia. Terá, por exemplo, a instalação Lumiére en Mouvement, de Julio Le Parc, com luzes que dançam conforme os visitantes. Le Parc virá para a abertura. Suas ideias coloridas ao lado de poemas de Augusto de Campos, instalações de Julio Plaza, os computadores de Waldemar Cordeiro: décadas depois, quem pintou por aqui ainda sacode nosso jeito de pensar. TÉKHNE: DE 14/9 A 14/11 MEMÓRIAS REVELADAS: DE 14/9 A 12/12 MAB-FAAP RUA ALAGOAS, 903, SP (11) 3662-7198 18 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 ELEITOS Allan Poe versão 2010. Estranhíssimo Instinto de Vingança inspira-se em conto macabro do escritor TEXTO D A N I E L A P A IV A FOTOS DIVULGAÇÃO Lana Headey: linda como a médica que guarda um segredo ding , 2006. Mas o destaque no currículo é a direção de episódios das séries Dexter (sobre um especialista forense assassino), True Blood (vampiros enlouquecidos) e A Sete Palmos (rotina de uma funerária). Mundo macabro? Sim. É com ele mesmo. No conto original de Poe, um homem O novo coração de Terry Bernard está vivo. Vivo até demais para o personagem, atormentado pelo seu doador confessa ter matado um velho depois de esde que o cinema é cinema, Na história original, ser atormentado pelas supostas batidas do diretores, roteiristas e proum homem confessa coração do cadáver. A trama de Instinto de Vingança não é exatamente essa. O tordutores adoram tirar a nafter matado um mento de Terry Bernard (Josh Lucas, de talina de um personagem, velho depois de ser Poseidon e Estrada para a Glória), pai solconto, ou livro inteiro de atormentado pelas teiro que “renasceu” ao receber um coraEdgar Allan Poe. Aí é aquela supostas batidas do ção transplantado, começa quando mecoisa que você já viu algumas vezes na telona. Climão pesado, luz baixa. Tudo meio coração do cadáver. mórias do doador surgem como flashes reveladores. O órgão passa a comandar o siniiistro. Assim, seguem-se fazendo filNa versão que homem aparentemente pacato, que se enmes que não têm medo de assustar crianestreia dia 15, volve com a médica Elizabeth Clemson (a cinhas. Ou adultos, não é? o órgão é Instinto de Vingança é mais um filhote lindíssima Lena Headey, que viveu Sarah transplantado do escritor norte-americano adaptado Connor na série Terminator: The Sarah e passa a comandar Connor Chronicles). Ela guarda um segrepara o cinema. Aliás, é impressionante o seu aparentemente do prontinho para agradar aqueles que quanto a sétima arte busca a literatura de gostam de finais de tirar o fôlego — ainda Poe como fonte de inspiração. Mais de 200 pacato receptor que fique meio óbvio e bobinho. produções relacionam-se de alguma forma com a obra do escritor, conforme cataloga o site The Internet Movie Database (IMDB), referência do cinema mundial. Desta vez, a fonte é o conto The Tell-Tale Heart , de 1843. E não pense que é novidade. A história já foi filmada em outras ocasiões. Porém, nenhuma delas se tornou relevante. Com estreia marcada para 15 de setembro, Instinto de Vingança tem como público certo os amantes da literatura de Poe. Lado a lado na sessão devem comparecer os fãs de algumas das séries mais bizarras da TV norte-americana por conta do diretor, Michael Cuesta. Ele fez dois longas, Sem Saída , 2001, e 12 and HolA fofa Beatrice Miller é uma garota com doença rara D Cuesta desvia sem receios da narrativa original. Aborda temas, digamos, mais modernos como tráfico de órgãos e preconceito (a filha de Terry, vivida pela ótima Beatrice Miller, de Toy Story 3, sofre de uma doença rara). Só que o escritor está ali, rondando. Seja pela fotografia escura do filme (muito bem feita), ou pelo ritmo tenso. Para tanto, Cuesta usa artifícios como flashes confusos e jarras de sangue nas cenas violentas. Até a descoberta sobre o que, afinal, aconteceu com aquele treco que parece ter vida própria no peito de Terry, o espectador não vai roer as unhas apavorado, nem sair correndo da sessão. Mas, em certo momento, a impressão é de que o filme pode descambar para um Jogos Mortais. O diretor nos poupa dessa. Ufa! Depois de uma hora e meia, a sensação é de que se viu um filme estranho. E agora? Será que John Cusack ficará estranho o suficiente para interpretar Poe no filme sobre os últimos dias do escritor, que finalmente deverá sair do papel? Dá para imaginar o ótimo ator de filmes como Quero Ser John Malkovich, Alta Fidelidade e Adaptação , e que andou entrando em frias como o água com açúcar Escrito nas Estrelas, na pele do ícone da literatura dark? Sabe como se chamará o filme? Raven (Corvo), alusão a um determinado poeminha. MEDO! Jarras de sangue nas cenas mais violentas Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 19 A sofisticação maiúscula de k.d. lang Barulhinho bom FOTO FABRICE COFFRINI/AFP Uma das maiores vozes femininas do Canadá divide o palco com a Orquestra da BBC, em Londres FEMININA, JOYCE Joyce está relançando esse disco de 1980 que pode soar um pouco datado, já que é um tributo feminista. A começar pela própria independência da cantora e compositora, foi a partir deste disco que ela teve o controle do seu trabalho. Tem coisas que já enjoaram como Clareana, que quem passou dos 40 lembra como canção do Festival da Globo, mas há letras lindas, como a própria feminina e Dar Cor Brasileira, famosa na voz de Maria Bethânia. C.R. O terno é peça obrigatória no figurino da cantora athryn Dawn Lang não gosta de letras maiúsculas. A cantora canadense abreviou os dois primeiros nomes. Baixou todas as consoantes. Fez da assinatura apenas um exemplo de seu trabalho versátil, porém marcante no quesito personalidade. Não, não é toda artista que tem guts para vestir terninhos mas- Laureada com culinos e assumir o quatro Grammys, amor por uma ela é uma diva country music que discreta e elegante às vezes é taxada no classudo de brega. Live in Londres, Foi dessa ma- DVD que acaba neira que lang de chegar conquistou respeito no conservador às prateleiras mercado da indús- brasileiras tria norte-americana. Laureada com quatro Grammys — um deles ao lado de Tony Bennett no belíssimo A Wonderful World , em 2003 —, lang é uma diva discreta e elegante em Live in London, DVD que acaba de chegar às prateleira brasileiras pela Coqueiro Verde, e no qual divide o palco com a Orquestra da BBC. K O encontro aconteceu na Igreja de St. Luke, Londres, em 2008. À época, lang estava no início da turnê de divulgação do seu recém-lançado álbum de inéditas, Watershed. Depois disso, a cantora soltou lá fora Recollection, uma coleção de canções que comemora 25 anos de gravações. Live in London é um daqueles DVDs perfeitos para dar um toque de classe a um jantar com amigos. Baseado em Watershed, o registro contempla também fases conhecidas da cantora, como faixas do CD Drag, de 1997, o sucesso Constant Craving e a reverência às raízes country em Pay Dirt , de Angel With a Lariat (1987). Tudo é impecável. Da voz afinadíssima de lang (sem dúvida uma das mais bem cuidadas do mercado) à sofisticada combinação com a orquestra em arranjos elegantes. E o áudio, bendito seja, é um fiel companheiro para que o ouvinte note a beleza da performance de lang. Um detalhe mais do que garboso para nós, brasileiros, é a presença do guitarrista Grecco Buratto. Um luxo. TEENAGE DREAM, KATY PERRY Katy Perry é uma típica in between. Ela queria ser ou Lady Gaga, ou Lily Allen. Mas, não tem coragem para chegar ao extremo de uma ou de outra. Teenage Dream, segundo álbum oficial de estúdio, reforça essa falta de personalidade da cantora que despontou com o hit lésbico I Kissed a Girl. Aqui, faz o tipo adolescente sacaninha (Peacock) que o público gay friendly ama — nenhuma novidade. De supresa, só a esperta participação de Snoop Dog, em California Gurls. É como a música que a levou ao sucesso: tudo parece de mentirinha. D.P. Gigante na voz, gigante na luta Show, de 1985, da cantora e ativista sul-africana Miriam Makeba chega às lojas N ós, brasileiros, queremos esquecer rápido o desastre da seleção na Copa do Mundo da África do Sul. Mas a competição fez bem à saúde cultural do planeta. É muito bem-vinda a chegada deste DVD que traz show da cantora e ativista sul-africana Miriam Makeba no Lugano Jazz Festival suíço, em 1985. Makeba, a Mama África, ficou quase 30 anos exilada por conta da luta contra o apartheid. É uma lenda (morreu em 2008), quase um Bono para os sul-africanos. A cantora, que ganhou Grammy em 1966, levou o hit Pata Pata a tamanho sucesso mundial que até hoje é lembrada por artistas. Daúde, por exemplo, gravou uma versão em 1997. A canção, claro, não faltou na abertura da Copa este ano. Este DVD de 37 minutos revela simplicidade comovente. Makeba veste o repertório com um jazz gostoso, alegre, para cima. Uma diva sem pose, sem esforço. Sua voz era naturalmente bela e rara. Em todos os sentidos. D . P. DO AMOR, DO AMOR Como é gostoso colocar o fone e ter a sensação de estar ouvindo uma coisa verdadeiramente nova. Ainda melhor é quando a novidade, perdoe-me o contrassenso, soa deliciosamente familiar. É que a banda Do Amor, em seu disco de estreia, mistura de tudo um pouco para fazer um som original, bem-humorado, sedutor. Pegue rock, dub, funk, carimbó, até axé (pois é...) e despeje tudo no microprocessador. Só um quarteto musical de alto nível pra fazer suco de tamanha miscelânea. Instrumental impecável dessa turma que toca com feras como Caetano Veloso, Los Hermanos e Lucas Santtana. GABRIEL PENNA 20 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 ELEITOS FOTOS DIVULGAÇÃO No bafo da Garganta do Diabo Do mesmo grupo do Copacabana Palace, o Hotel das Cataratas é o mais exclusivo da região. A poucos metros das famosas quedas d’água, dentro do Parque Nacional do Iguaçu TEXTO L UI Z H E N R I Q U E LI GABU E As refeições podem acontecer próximas às quedas nariz está ressacado? A garganta pegando? O pediatra recomendou inalação para a família toda duas vezes ao dia? Esqueça as maravilhas do consumo, os vaporizadores de farmácia, e volte para a natureza. O vapor d’água é realmente um santo remédio, porém, se vier da Garganta do Diabo, naturalmente será melhor. Mas não se assuste, esse “Diabo” é apenas como é conhecida a queda d’água mais famosa dentre as centenas presentes nas Cataratas do Iguaçu, no Paraná. Estar perto da natureza é um desejo recorrente do homem urbano. Melhor ainda, nesse caso, desfrutar disso tudo com o luxo e conforto oferecidos pelo Hotel das Cataratas, um monumento de arquitetura colonial a poucos metros das famosas quedas d’água. Rodeado de Parque Nacional do Iguaçu por todos os lados, o hotel começou a ser construído em 1939, foi concluído apenas em 1958 e, hoje, funciona cumprindo as exigências ambientais por estar dentro de um Parque Nacional. Essa peculiaridade proporciona a exclusividade que é o grande diferencial do lugar. O Hotel das Cataratas possui 191 quartos, piscina, restaurante, spa, quadra de tênis e jardim — tudo grandioso e suntuoso. Completamente remodelado, é administrado desde 2007 pela Orient-Express, a mesma O Para os amantes do golfe, há um campo oficial de 18 buracos não muito longe, a 5 quilômetros do Parque. Dentro dele, o visitante terá a rara oportunidade de testemunhar, em noite de lua-cheia, um arco-íris em plena madrugada empresa que é proprietária de outro patrimônio nacional, o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Luxo é com eles. Os quartos são imensos e bem providos do mais clássico luxo — nada daquela moda arquitetônica fria, minimalista e clean. Aqui as acomodações recebem bem desde casais enamorados até famílias completas para aquele programão de clã. Na opção “família”, vale reservar uma das Suítes Cataratas. Com 95 metros quadrados, tem sala, dois quartos privados e hidromassagem no banheiro. Além de muito espaço, esses quartos guardam atrás das janelas algo especial: a vista direta para as quedas, e uma oportunidade única de dormir e acordar ao som das águas. Dois restaurantes, um deles com vista privilegiada — adivinhe para onde? —, oferecem um cardápio internacional recheado de peixes da região. O spa, que oferece produtos de beauté da Natura, a quadra de tênis e a piscina completam a aérea de lazer e descanso. Isso dentro do hotel, pois fora dele é possível praticar diversos esportes de aventura, tais como rafting, rapel, escalada e arvorismo. Também há a opção de passeios e trilhas pelas redondezas. Para os amantes do golfe Nos quartos espaçosos, inspiração colonial Aconchegante e clássico, o banheiro é quase um spa existe, ainda, um campo oficial de 18 buracos não muito longe dali, fora do Parque. Como nessa vida tudo tem o seu preço, o conforto e a exclusividade do Hotel das Cataratas partem de diárias de R$ 685, por casal, com café da manhã incluso. Vale lembrar que, aqui, exclusividade não é retórica, já que o hóspede tem à disposição todo o Parque Nacional. Fora dos horários oficias de visitação (das 9h às 17h), ele pode usar à vontade as trilhas e passarelas. Isso permite ao nobre visitante a rara oportunidade de testemunhar, em noite de lua-cheia, um arco-íris em plena madrugada. Exclusividade é pouco. HOTE L D A S CA TA R A TA S O hotel tem o privilégio de estar localizado no Parque, bem perto das águas WWW.HOTELDASCATARATAS.COM.BR IGU A SSU R E SOR T ( GOL F CL U B ) INFORMAÇÕES E RESERVAS: (45) 3521-3400 Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 21 FOTO VALÉRIA GONÇALVEZ/AE Despedaçando corações A alcachofra é uma flor. Mas o que nós comemos, lambendo os beiços, é o miolo de seus saborosos botões Apesar de grande e rústica, ainda é um botãozinho FOTO DIVULGAÇÃO Esta não se come. Passou do ponto e virou flor quase primavera no hemisfério Sul. Nessa época do ano em que o sol não está nem lá, nem cá — o que astrônomos, geógrafos e demais estudiosos costumam chamar de equinócio—, o mundo verde fica mais colorido. É um tal florescer que não acaba mais, e que invade também as cozinhas. É época de colheita da alcachofra, uma das principais flores da gastronomia, talvez a mais famosa, que abre espaço entre panelas e pratos para provar que o amargo também é gostoso. Sim, elas estão chegando. Não são discretas e têm um público fiel — seja de detratores ou adoradores. Sendo uma flor, exige paixão e não há indiferença possível, ama-se ou odeia-se. A alcachofra é assim. Originária da região mediterrânea, ela é “prima” das margaridas e dos girassóis, e chegou à mesa na época dos banquetes romanos. Tinha fama de ser um alimento com poderes medicinais — de fato é altamente digestiva, rica em vitaminas e um potente depurador do sangue, entre outras tantas benesses — destinado aos nobres. Propriedades afrodisíacas também foram atribuídas a ela. Lá pelos 1500, a italiana Catarina de Médici, casada com o rei francês Henrique II, nutria certa fidelidade alimentar com as alcachofras. Dada a alta reprodutividade da consorte (que teve 10 filhos), o consumo dessas flores por damas da sociedade francesa acabou não sendo bem visto. Deu no que deu, e a Belle Époque veio para comprovar que, com ou sem alcachofras, o cancã, os cabarés e o fino das artes nada têm a ver com a ingestão dessas flores levemente amargas. A alcachofra chegou ao Brasil com os imigrantes europeus e criou raízes no cardápio dos outrora comedores de mandioca. As receitas com a flor podem É ser as clássicas, que variam pouco, ou as gastronômicas, que assumem as mais diversas formas, como a de um ravióli de pasta de alcachofra com camarões. Para contemplar ao máximo o desejo de extravagância culinária, existe um tipo chiquérrimo de alcachofra, as chamadas castraures, servidas no restaurante Fasano, em São Paulo. São, na verdade, o broto central da planta que é cortado (“castrado”) para favorecer o florescimento de brotos laterais. Verdadeiras vitelas do mundo verde, dão as caras no Fasano sempre ao lado de uma boa massa. Comme il faut. Mas só aparecem por aqui em maio, pois nascem no hemisfério Norte, na ilha Sant’Erasmo, no arquipélago de Veneza. Mas, cá para nós, simplesmente cozida, uma reles alcachofra já é alimento repleto de virtudes. José Baratino, chef do Emiliano, que também vê a flor com o olhar gastronômico — ela é completamente descascada crua e, depois, cozida para virar sabe-se lá o quê —, ao ouvir a palavra “alcachofra” tem de imediato uma reminiscência saborosíssima. A imagem, e o gosto, de uma receita familiar, bem simples, invadem sua alma de cozinheiro. Algo que pode ser alcançado por qualquer um. Para transformar essa imagem em gosto basta reproduzir os passos do chef: As receitas podem ser clássicas ou gastronômicas, assumindo as mais diversas formas. Mas, cá para nós, simplesmente cozida, a alcachofra já é um alimento cheio de virtudes 1) Corta-se o talo bem próximo à base. Uma rodela de limão é amarrada ao fundo da alcachofra com a ajuda de um barbante, para não oxidar. Assim elas devem seguir para uma panela com água fervente e salgada. Saem de lá cozidas (confira se estão macias com a ajuda da ponta de uma faca), depois de cerca de 30 minutos, e vão para um banho d’água com gelo, para brecar o cozimento. 2) Miolo de pão amanhecido, alho, cebola, bacon, anchovas e azeite, tudo salteado em uma frigideira, fazem um guisado que irá cobrir as alcachofras já cozidas, que devem estar “descansando” em uma assadeira. 3) Daí, seguem para o forno a 180°C por mais uns minutinhos (cerca de 30), recebem uma boa regada de azeite extravirgem e pronto. As flores já podem ir à mesa fazer bonito. L . H. L . 22 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 MOTOR Centenário prazer de pisar fundo Qual é o segredo para chegar bem aos 100 anos? No caso do Alfa Romeo, o apelo esportivo e emocional, combinação realçada pelo novo Giulietta TEXTO F A B I A N O P E R E I R A FOTOS DIVULGAÇÃO O novo Giuletta: história de 56 anos e corpinho de 20 primeiro nome vem de fábrica. Mais precisamente, da Anonima Lombarda Fabbrica Automobili (Alfa), instalada há 100 anos no número 95 da Strada del Portello, nos arredores de Milão. Embrião de uma das mais prestigiadas fabricantes italianas de carros, dela saíram o primogênito 24 HP e o 40/60 HP, primeiro esportivo autêntico da família. Em 1915, a marca ganhou sobrenome ao ser comprada pelo industrial Nicola Romeo. Cinco anos mais tarde, uma vitória no tradicional circuito de Mugello lançaria as bases de um mito das competições. Até o concorrente Enzo Ferrari correu de Alfa-Romeo. Esse caráter esportivo e emocional dos Alfa, batizado de cuore sportivo (coração esportivo), sobrevive até hoje, como se vê no novo Giulietta. O modelo, que marca o centenário desse ícone automotivo, resgata o nome de um dos clássicos da marca, lançado em 1954. Hatch, compacto, de cinco portas, o novo e o antigo se assemelham nas dimensões e elementos do design, como a inconfundível grade triangular. Mas na versão atual, o motor pode ser 1.4 a gasolina, com 120 ou 170 cv (ganhador do prêmio Motor do Ano), ou 1.7, de 235 cv. Com motor a diesel, consta o 1.6, O Cinco anos mais tarde, uma vitória no tradicional circuito de Mugello lançaria as bases de um mito das competições. Até o concorrente Enzo Ferrari correu de Alfa Romeu de 105 cv, e o 2.0, de 170 cv. O dono decide quando quer o carro mais prático ou mais arisco. Através de um seletor, ele pode ajustar eletronicamente as funções dinâmicas do veículo, como controle de estabilidade, do diferencial, motor e direção. O lançamento, porém, não revela quanto o padrão dos Alfa mudou ao longo deste século. A evolução da marca tem na Segunda Guerra Mundial um claro divisor de águas. Até então, seus mais aclamados modelos usavam motores de seis ou oito cilindros. Eram grandes e exclusivos, produzidos em pequenas quantidades, de maneira artesanal, muitas vezes com carrocerias ao gosto do cliente. No pós-guerra, esse preciosismo deu lugar a uma produção em escala de modelos menores com design padronizado. O grande marco dessa nova fase foi o primeiro Giulietta. Pequeno, belo, esperto ao volante, tinha motor de quatro cilindros e refletia a ten- 4 3 2 dência do que predominaria nos Alfa-Romos modernos. Outras marcas de alto padrão também já passaram dos 100 anos. As trajetórias de Rolls-Royce e Cadillac, por exemplo, destoam entre si. Se a Rolls, surgida em 1904, consegue até hoje produzir os carros da realeza, com o máximo de luxo e tecnologia, de maneira quase artística, é porque atende a nata da sociedade. Já a Cadillac, de 1902, perdeu muito de sua fama com o ocaso do estilo opulento daqueles clássicos dos anos 50 — enormes, rebuscados e beberrões. Desde os anos 70, seus carros ganharam racionalidade e hoje ela tenta seguir os moldes mais esportivos da BMW, como o elogiado CTS. A Alfa Romeo, por outro lado, não abandonou sua essência. Mudou, racionalizou fórmulas e formatos, mas seu principal produto continua sendo a beleza de suas máquinas e o prazer de acelerar fundo. 1 5 6 Linha do tempo: 1 24 HP 1910: atingia 100 km/h, feito notável à época 2 8C 2900 Lungo Touring Berlinetta 1937: ícone de elegância sob encomenda 3 Giulietta Sprint 1954: sonho de consumo de uma geração 4 Spider Fastback 1962: estrela do clássico A Primeira Noite de um Homem. 5 Alfasud 1.2 1971: pequeno hatch, tornou-se obrigatório 6 164 1987: sedã médio, no encalço dos BMW Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 23 ESPORTES FOTO MARCELO RÉGUA/AG. O DIA FOTO DA SEMANA OPINIÃO Phydia de Athayde Se sesse, assim seria O que vale é bola na rede. O que conta são os 3 pontos. Bom de verdade é a faixa de campeão no peito. Quero saber é do placar, pois à história não interessam os quases de sua escrita. Isso tudo é verdade. Mas só em parte. Porque se o ser humano é um bicho essencialmente inconformado e insatisfeito, o futebol é uma arte (ou doença) escandalosamente rica em “quases”, em “já pensous”, em “ses”. É aí, no terreno fecundo do “e se”, que descansam viradas épicas, gols de perder o fôlego, decisões redentoras, massacres inenarráveis, lavações de alma e rios de lágrimas que nunca, nunquinha, deixarão o purgatório gigantesco que é a cabeça do torcedor. BATE-BOLA Elias, meia do Atlético-GO e artilheiro do Brasileirão FOTO DIVULGAÇÃO Com rara categoria, Washington marca o primeiro de seus dois gols na vitória por 3 a 1 sobre o Ceará, na quarta. O Fluminense voltou a vencer após três jogos, espantou um esboço de crise e se manteve isolado na liderança. Já o Ceará demitiu o treinador. Nos últimos cinco jogos do Atlético-GO, você marcou sete gols e deu passe para três. Uma andorinha faz verão? Não, é difícil fazer sozinho, tem de ter ajuda dos companheiros. No momento, estou me sobressaindo, mas depois vem outro. Dois meias estão na artilharia hoje. Tá faltando atacante? É que eles são muito marcados e os meias chegam de surpresa. Além disso, você joga quase como um atacante, não? Sou um meia-armador que chega na área pra finalizar. No Bahia fiz 18 gols em 2008. Dizem que pareço com o Alex, ex-Cruzeiro. Você tem 27 anos. Demorou um pouco para aparecer... É, tem gente que desponta mais cedo. Quando passei por Vasco e Fluminense não tive muitas chances de jogar. Mas não estou novo nem velho e quero aproveitar o bom momento. Dizem que você tem mais chance de jogar na primeirona do ano que vem do que o próprio Atlético-GO... Todo mundo sabe que time pequeno é pouco respeitado, mas quem falava que íamos chegar à semifinal da Copa do Brasil? Quero continuar na primeira sim, mas o Atlético também vem fazendo um trabalho muito bom para subir e já cair novamente. Seu contrato termina no fim do ano. Está na hora do Elias voltar para um time grande? Qual? Meu pensamento é esse e tenho um carinho especial pelo São Paulo, onde joguei por dois anos na categoria de base. Mas antes quero ajudar o Atlético com gols e a permanência na série A. MUSEU DO FUTURO A camisa 10 de Robinho no Manchester City O frustrado torcedor do Manchester City deve estar se perguntando o que fazer com a camisa do Robinho após sua transferência para o Milan — onde o brasileiro deve estrear neste fim de semana. Fabricada então pela francesa Le Coq Sportif (o fornecedor hoje é a Umbro), a veste azul-clara, com faixas branca e azul-escura nas mangas e o número 10 estampado nas costas, vendeu como água em 2008 após a chegada do craque. Hoje, porém, é símbolo de uma das maiores desilusões na história do clube. Contratado por estelares €$ 40 milhões, Robinho esquentou o banco em boa parte do tempo e marcou míseros 16 gols em 53 jogos. Cada tento custou ao clube mais de €$ 2 milhões. Pior foi ter que vender o jogador por menos da metade do valor da compra. Esse, sim, um rombo difícil de esconder. A camisa, ao menos, vai para o fundo da última gaveta. Parece um pijama, né não? FRASE DA SEMANA “ Se quisesse ser milionário, teria ido para o Chelsea Neymar, atacante santista, em resposta à acusação de que, além de dar chapéu com a bola parada, tira onda do dinheirão que já tem É no terreno fecundo do “e se” que descansam viradas épicas, gols de perder o fôlego, decisões redentoras, massacres inenarráveis... Não vou dizer que o juiz deveria ter mantido a cegueira de um lado só, e dado apenas o pênalti fantasma para o Corinthians quarta-feira. Mas, vejamos, “se” isso tivesse acontecido e, “já pensou?”, o Flu perde pro Ceará, ai ai ai, aí o Timão seria líder do campeonato, praticamente o campeão antecipado. Mas não o faço porque aquele 1 a 1 com o Atlético Paranaense nada mais foi do que o reflexo de um justo 0 a 0. A fantasia do “quase” ganha mais cores quando é (desculpaí, Gordo) fenomenal de verdade. Por exemplo, no jogaço desta semana, no qual a Argentina de Messi e Carlito Tévez massacrou, aniquilou, humilhou e sapateou sobre a faixa amarrotada da atual campeã do mundo, a Espanha. “E se” os latino-americanos, nós ou os hermanos, tivéssemos brilhado tudo o que outrora acreditamos na Copa deste ano, hein? “E se” tivéssemos a glória de testemunhar a final dos sonhos — a pulsar eternamente no limbo dos acontecimentos não acontecidos — entre Brasil e Argentina? Ou, quisesse o cosmo que Dunga não fosse mesmo muito longe com sua ira, “e se” Espanha e Argentina se encontrassem na semifinal, com vitória dos vizinhos? “E se” o destino nos tirasse a alegria de curtir o ídolo Maradona na África do Sul e em troca oferecesse a sensalzice do atual (quem mesmo?) técnico da Argentina? Aí a frase malandrinha dita por Messi essa semana, “Seria lindo ganhar a Copa no Brasil”, saltaria da bacia dos sonhos proferidos em botecos para a frequência gelada dos pesadelos que, feito monstros, moram embaixo da cama de todos nós. 24 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 ECONOMIA DE PALAVRAS Paulo Lima Soraggi O cyberbullying no Planeta dos Macacos O filme Entre os Muros da Escola foi o tapa que ganhou Cannes em 2008. Entregou ao mundo uma França que não pertence a Carla Bruni. Uma Paris além das periferias que queimam carros. A obra mostra a cratera que separa Marin, professor de francês, de seus alunos que compõem um belo matagal étnico de africanos, orientais, árabes e latinos. Opiniões constroem no professor a figura do colonizador que deseja moldar os ímpios na cultura da metrópole. Se os estudantes estão na França e ascendem de outros países, não seriam eles os neocolonizadores? Marin é devastado pela indisciplina dos alunos, que parecem não caber na sala de aula. O filme resulta em uma radiografia da escola como o mais mala dos espaços. E quem paga o pterodátilo é o povo do giz. Ao final do período letivo, depois de ver companheiros se carpindo de pavor pelas turmas, Marin indaga os alunos sobre o que eles teriam aprendido de mais importante naquele ano. “Nada”, respondem alguns com cara de mingau. É claro que Entre os Muros da Escola belisca a retrocolonização da Europa, processo que rola a despeito de fascistóides gratinados como partidos políticos. Mas o que fica decantada é a cordilheira que separa o professor do aluno, acidente que vai derrubando países no dominó das esperanças. Sinto essa náusea por aqui. Helena, minha irmã, ainda não conseguiu aplicar na veia o êxtase da aposentadoria. Foram vidas como professora de Geografia da rede estadual e de uma universidade particular. Numa turma de ensino fundamental, Helena mandava um rap composto por ela sobre o relevo brasileiro. Mesmo sem ganhar para isso, educador tem de ser entertainer , tem de conquistar o aluno. Ora, existe absurdo maior do que professor que só ensina? Helena pediu que uma jovem fizesse silêncio. O retorno: “Cala a boca, biscate! Você não me manda”. Numa aula sobre bacias hidrográficas, um rapazote não parava de petiscar uma mocinha. Helena o admoestou. Ele exibiu um estilete. Outro dia, na purgante reunião de pais, a mãe do elemento: “Hoje eu tomei uma faca dele. Ele ia chuchar na senhora”. Minha irmã aposentada. Entre os rendimentos, hérnia de disco, vesícula inflamada, cordas vocais arranhadas, varizes complicadas. Gripe a toda hora. Já esquematizei para levá-la no centro da Dona Ica. Acho que só Oxóssi e trabalhos de descarrego darão conta. Saravá, meu Pai, porque os fariseus só pensam na capitalização da Petrobras. A internet, que integra todos e desintegra outros, é o portal para a dimensão dos estudantes que infestam organizações para o martírio dos operários da educação. Nesse cyberbullying, profissionais são escalpelados em seus atributos físicos e morais. É o divertimento doentio dessas comunidades covardes, protegidas por uma adolescência bonachã que se permite qualquer aberração na era da transmídia. Há comunidades que organizam manifestações reais, dentro da sala de aula. Não basta achincalhar on-line. Há de se destruir o professor em seu pleno palco. Minha amiga Ceiça, professora de História, enfrenta a rede particular. Ela estava na explosão da verve mágica que o professor sente quando está dando seu melhor espetáculo. Revolução Russa. Um aluno levanta o braço. Ela fareja uma pergunta que vai maravilhar a aula de vez. “A senhora tem um descaroçador de azeitona?” Não, ela responde suspensa. Oito ruminantes respondem em berro: “Eu tenho”. E cada um ergue, sob trombetas, um exemplar do bagulho. É claro que não imagino uma sala de aula com alunos de focinheira. A guerrilha entre mestre e discípulo torna saudável a emboscada do conhecimento. Mas camuflar na rotina e transformar em rede social a humilhação do educador é taxar como normal o holocausto da educação. Quanto aos pulhas cibernéticos, a maioria não tem pais. Só fornecedores. Não conheço ser que quer ser professor. Existe um seriado chamado O Mundo sem Ninguém. Vejo outro: O Planeta sem Professor. Ou seria “dos Macacos”? Paulo Lima Soraggi é escritor, músico e graduado em letras. Minha amiga Ceiça, professora de História, enfrenta a rede particular. Ela estava na explosão da verve mágica que o professor sente quando está dando seu melhor espetáculo. Revolução Russa. Um aluno levanta o braço. Ela fareja uma pergunta que vai maravilhar a aula de vez. “A senhora tem um descaroçador de azeitona? ” Não, ela responde suspensa. Oito ruminantes respondem em berro: “Eu tenho”. E cada um ergue, sob trombetas, um exemplar do bagulho Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 25 PEQUENOS ABSURDOS Luís Colombini Até provar que não era trambiqueiro... Em 1937, o inventor alemão Gerhard Fischer patenteou o primeiro detector de metais. Em 1966, o americano Thomas Pace se valeu de uma porta rotatória para criar um sistema de segurança. Na semana passada, fui vítima da reunião dessas duas invenções. Ao entrar no banco para abrir uma conta, a porta giratória travou. Com um apito, o detector de metais acusava que havia uma suposta ameaça em minha mochila. O escritor irlandês Oscar Wilde dizia que só os tolos não julgam pela aparência — e confesso que estava mal vestido, com moletom velho e barba por fazer. Imediatamente, dois guardas armados, com expressão ameaçadora, postaram-se ao lado e exigiram que eu “esvaziasse o conteúdo” da mochila. Coloquei celular, chaves do carro e porta-óculos com fecho de metal no recipiente plástico indicado pelos vigilantes. O incriminador apito ainda soava na porta travada. Por mais absoluta que fosse a certeza de que não portava nenhum tipo de arma, e que minha única intenção era me tornar cliente do banco, não há ser humano normal que não se abale numa situação dessas. Diante da expressão severa dos guardas e do olhar de curiosidade, talvez de temeridade, das pessoas que estavam no banco, fui ficando envergonhado por ter me tornado suspeito de uma hora para outra. Revirei o fundo da mochila, mas não encontrava nada além de papéis. A situação durou intermináveis minutos — até que descobri um pequeno frasco metálico de desodorante esquecido numa repartição interna da mochila. Fui, enfim, liberado. Entrei no banco, peguei uma senha e aguardei minha vez. Os guardas continuavam me olhando de soslaio, como se eu ainda representasse alguma ameaça. Clientes, caixas, gerentes também me observavam, desconfiados. Por mais que meu único crime fosse carregar um desodorante na mochila, fui ficando ainda mais constrangido. Meu embaraço era tão visível que, quando fui atendido, o gerente soltou um “é assim com todo mundo...”, como se o fato de todos serem constrangidos por aquela arapuca pudesse minimizar o meu desconforto. “Pode ser, mas é muito desagradável ser tratado como suspeito”, respondi. Pragmático, o gerente deu um sorriso sem graça e emendou: “É que se não for assim a gente não consegue trabalhar. Todo dia tem assalto por aqui”. Outra história de mesmo teor: um amigo foi passar o final de semana numa pousada na serra, cujo único acesso se dá por estrada de terra. Sem prática nesse tipo de terreno, dirigia devagar. Mas era noite e ele não viu a famosa pedra no meio do caminho. Resultado: uma roda dianteira, a bandeja, parte da suspensão e o final de semana foram para o beleléu. Para voltar a São Paulo e ser levado a uma oficina, o carro teve de ser guinchado. Ao acionar o seguro, bastou falar que estava numa “estrada de terra” para imediatamente virar um potencial suspeito de fraude e, assim, ser submetido a um interminável interrogatório. Para o mundo dos seguros, estrada de terra não é um lugar sem asfalto que as pessoas usam para chegar a lugares ermos e sossegados no final de semana. É sinônimo de um terreno perigoso que só é trilhado por irresponsáveis que se arriscam em alta velocidade em ralis alucinantes — e, sendo assim, o seguro não cobriria acidentes, pois o condutor do veículo teria se colocado deliberadamente numa situação de risco. Está lá no contrato, numa cláusula que ninguém lê. Findo o interrogatório, meu amigo comentou com seu corretor: “Rapaz, fui tratado como suspeito do começo ao final. Perguntaram as mesmas coisas umas dez vezes para ver se eu caía em contradição”. A observação do corretor: “É um absurdo mesmo, mas, se não for assim, as seguradoras quebram. Você não imagina a quantidade de gente que tenta fraudar o seguro”. Parece que o cidadão médio deixou de existir. A julgar por esses dois episódios, o do banco e o do seguro, parece que algumas empresas passaram a classificar os brasileiros em apenas dois tipos: os trambiqueiros e as pessoas honestas que, até prova em contrário, devem ser tratadas como suspeitos de crimes que jamais pensaram cometer. Luís Colombini é jornalista e editor. Fui, enfim, liberado. Entrei no banco, peguei uma senha e aguardei minha vez. Os guardas continuavam me olhando de soslaio, como se eu ainda representasse alguma ameaça. Clientes, caixas, gerentes também me observavam, desconfiados. Por mais que meu único crime fosse carregar um desodorante na mochila, fui ficando ainda mais constrangido. Meu embaraço era tão visível que, quando fui atendido, o gerente soltou um “é assim com todo mundo...” 26 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 VIDA “Gosto de quem respeita o silêncio. De autores que se expressam com linguagem enxuta” Luiz Schwarcz TEXTO C R I S T I N A R A M A L H O FOTOS M U R I L L O C O N S T A N T I N O No dia que Luiz Schwarcz juntou coragem para dizer ao seu então chefe, o editor Caio Graco, da Brasiliense, que queria ir cuidar da própria vida, a sensação foi tão boa que ele correu para casa, botou o Dirty Work dos Stones para tocar e saiu dançando pelado no quintal. Não era só aquele sonho bem familiar a todos nós, o de dar uma banana para o patrão. Luiz, mal saído dos 30 anos, se sentia quase caindo do galho de tão amadurecido. Era o salto: de ex-pupilo para a carreira solo. Não deu dois meses e ele fundaria a Companhia das Letras, entre as editoras mais importantes do país. Dali em diante você, eu, boa parte dos leitores brasileiros nos debruçaríamos em algum livro editado pelo Luiz: de um romance do estreante Chico Buarque (Estorvo, que Luiz leu antes de todo mundo e recebeu das mãos de Chico citando frase do pai, Sergio Buarque de Hollanda: “Literatura é coisa séria, meu filho”) aos ensaios de Edmund Wilson, Eric Hobsbawn, ou as biografias maravilhosas de Carmen Miranda, Assis Chateaubriand, Jorge Caldeira. As tramas de Rubem Fonseca. As histórias do Saramago. Uma lista impossível de enumerar aqui, de tantas as obras. Luiz também resolveu escrever as suas. Começou com uma de menino, Minha Vida de Goleiro, inspirada numa viagem que o fez entender melhor os silêncios apertados do pai, homem duro que saiu de Budapeste Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 27 carregando a incerteza e a intimidade com as mágoas, e que nas festas da sinagoga matava as saudades de casa cantando alto as músicas típicas. Único filho, bom aluno, Luiz andou bem nos trilhos, mas soube dar outras bananas e outras partidas: entregou o diploma de administração de empresas para a família e rodopiou em direção oposta à gráfica do avô, para uma carreira com um pé nas artes. Mostrou um romance a outro paizão de coração, o escritor Tomás Eloy Martinez, ganhou elogios, mas desmanchou tudo e resolveu transformá-lo em livro de contos. As coisas que ele não soube dizer viraram histórias bonitas tiradas dos pequenos e grandes instantes de sua vida. Estão no recém-lançado Linguagem de Sinais. O lado certinho veste blazer, articula grandes negócios e segue a frase do pai do Chico. A Companhia das Letras é coisa séria, meu filho. Agora está em sociedade com a maior editora do mundo, a Penguin, e publica neste ano 270 livros, quase um por dia. O lado do avesso continua disposto a ficar pelado: para driblar a depressão, Luiz anda a cavalo, vento no rosto. Ultimamente também se revela num blog, Imprima-se, com casos deliciosos da sua carreira. Em cada linha, a alma livre como um Garrincha em campo. É como se Luiz passasse de terno e visse na rua uma bola dando sopa, e chutasse forte para o gol. Voltando a ser menino. 28 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 VIDA D De onde vem essa vontade de se expressar? Você que sempre foi reservado agora está lançando livro de contos (Linguagem de Sinais), e tem um blog tão pessoal (Imprima-se, no site da Companhia das Letras). A decisão de escrever na minha vida surgiu de maneira bem espontânea. Antes do Minha Vida de Goleiro (infantil, seu primeiro livro, de 1998), acho que já tinha tido ideia de escrever com certeza, em 89, 90. Uma delas até conto no meu blog, sobre quando o (livro de Ana Miranda) Boca do Inferno foi publicado, que fala da minha relação com o mundo editorial. Na época, tentei fazer um romance em que o personagem era um editor, era uma catarse talvez do que eu estava sentindo naquela ocasião com a profissão. Depois quis escrever sobre o meu pai, ele era muito quieto, mais quieto do que eu, e eu fui ficando cada vez mais quieto. Ele me contou muito pouco da vida dele, até que fui a Budapeste, vi o lugar onde ele morou, fiquei impressionado, emocionado, tentei contar essa história e não consegui como romance, então escrevi o Goleiro. Você, como editor, figura conhecida, teve medo de se expor? No começo não, era uma vontade. De alguma forma, precisava me expressar. O primeiro livro escrevi para os meus filhos, por conta de uma situação familiar complicada que meus pais estavam vivendo. Fiz com muita leveza, demorei seis meses para escrever, gostei muito de escrever. Essa comunicação com a criança é para mim mais natural do que com o adulto. Minha dicção é mais infantil. Tenho uma afetividade que não sei explicar. O novo livro dele, Linguagem de Sinais O que parece curioso, você sempre passa a imagem de homem sério. Sou sério, quando criança sempre fui adulto perante meus pais. Na (editora) Brasiliense eu era o mais velho da dupla, o Caio (Graco) era o garotão. Mesmo aqui tenho muitas responsabilidades, mas na hora de me expressar você vê que no meu livro tem muitas situações juvenis. O seu trabalho é avaliar a escrita dos outros. E a sua autocrítica, como é? Com você há mais rigor? Sem dúvida. Demorei cinco anos para escrever cada um dos livros de contos. O que faço fica grande, aí corto, então tento um romance, aí não consigo. O primeiro (Discurso Sobre o Capim, 2005) era um romance de 100 páginas das quais aproveitei 11 linhas. Esse já aproveitei um pouco mais: cheguei a finalizar um romance de 120 páginas e transformei em contos, aproveitei umas 30, 40 páginas. O leitor vai encontrar essas partes lá, mas foram muito modificadas. Quando entreguei o livro, achei que era mais fraco, que tomei o partido errado, mas pensei: “Bom, é o que eu posso fazer”. Talvez eu esteja errado, mas sempre tenho a sensação de que o que escrevo está pior do que o anterior, que o meu melhor livro é o Goleiro. Quando é a hora de parar de mexer no texto? Se eu não tivesse ajuda de fora, não parava. O primeiro livro parei quando dois escritores argentinos que admiro muito, o Tomás Eloy (Martinez, já falecido) e o Alberto Manguel, elogiaram. O Alberto falou: “Quero publicar na minha coleção” e o Tomás disse: “Se você não publicar eu vou publicar de alguma forma”. Eu já estava decidido a não publicar. Este último, quando fiz ainda em formato de romance, quem falou que estava bom foi a Lilia (Schwarcz, sua mulher, colunista do Outlook), ela foi a única pessoa que gostou. Os editores aqui fizeram uma critica severa, achei que eles tinham razão, quatro ou cinco que leram falaram “Luiz, não tá bom”. Fui para casa, não fiquei muito abatido. Um lado meu até ficou contente, do tipo “Tá vendo? Falei que não era bom, sou um bom leitor, não um escritor”. Chegou a desistir? Depois de um tempo fui para Nova York com a Lilia, ela ia dar aula em Princeton e eu teria um escritório na (editora) Penguin, trabalhando (a Penguin fez recentemente uma fusão com a Companhia das Letras), me senti como um estagiário, como no começo da minha vida na Brasiliense. Imaginei chegar lá para trabalhar de manhã, à tarde iria escrever meu livro. Cheguei e desanimei. Aí, no segundo dia me avisaram que o Tomás Eloy tinha morrido. Fiquei muito tocado, ele tinha sido a única pessoa a quem eu tinha entregue meu livro como romance. Escrevi para o (jornal) O Globo sobre o Tomás, o papel dele na minha vida, contei de quando ele me levou ao (museu) Metropolitan e falou: “Você é um escritor”. Meu pai também tinha morrido há pouco tempo, então resolvi reescrever o livro em forma de contos, para ele e para o meu pai. Eu não me comunicava com o meu pai. Na verdade queria escrever para mim e estava precisando de uma desculpa. O trabalho de editor tem um glamour que não corresponde à realidade. Muitos dos melhores livros que publiquei, não li porque estava ocupado com outro original Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 29 FOTO MURILLO CONSTANTINO E seus dois livros de contos falam da incomunicabilidade. Admirava muito o meu pai e peguei muito o jeito dele, você vê as fotos e percebe como fui ficando parecido com ele. Mas, no fim da vida, ele morreu com 83 anos, estava abatido, infeliz, ele me cobrava muito, como se eu fosse responsável pela felicidade dele. Sou filho único, não sei se vem daí. Gosto muito do silêncio, de quem respeita o silêncio na literatura. Os autores que gosto se expressam com o silêncio, têm a linguagem enxuta, mesmo na música, gosto do silêncio. Você adora música clássica, isso vem de família? Meu pai gostava muito de ópera, ele me levava para ver, eu detestava. Simulava que estava com febre e botava o termômetro na lâmpada para esquentar, para não ir. Mas sempre gostei de música, viajo para assistir concertos. Vi o (maestro) Claudio Abbado regendo em Lucerna, quando terminou a 9ª Sinfonia (de Beethoven), é uma sinfonia sobre a morte, e aquele homem que está lutando com a morte (Abbado está doente) botou as mãos sobre o peito, e os músicos mantiveram os instrumentos na mesma posição. Foram três a quatro minutos em silêncio, ninguém aplaudiu, era o respeito pelo silêncio da música. (Luiz se emociona.) Então os músicos abaixaram os instrumentos, e foi a hora de aplaudir. As pessoas choraram. Fiquei emocionado. E o seu lado roqueiro? Fui um roqueiro fanático. O primeiro disco comprei numa papelaria do Bom Retiro, o LP Please Please Me (o primeiro álbum) dos Beatles. Já que enveredamos pelo passado, vamos falar um pouco da Brasiliense. Eu fazia administração na GV (Fundação Getúlio Vargas) e militava no movimento estudantil. Não gostava de administração, fiz porque fui criado para isso, tinha prestado (vestibular para) história na USP e entrado, já era de esquerda mas não conseguia ir contra a minha família. Era muito bom aluno, mas já sabia que não queria assumir a gráfica do meu avô. Então fui procurar um estágio na Brasiliense. Gostava de literatura, pensei em trabalhar com isso. Entrei e fiquei. Fui entrevistado lá no dia que estavam fundando o Leia Livros (jornal de literatura criado por Caio Graco, que influenciaria uma geração). Sou filho único e meu pai me cobrava muito, como se eu fosse responsável pela felicidade dele. No fim da vida ele era muito infeliz 30 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 VIDA Isso então foi final dos anos 1970. Como foi sua participação nas coleções que marcaram época lá, tipo Primeiros Passos, ou os beatniks, o livro do Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho), o Porcos com Asas (de Marco L. Radice e Lidia Rivera)? Minha história se juntou com a do Leia, talvez minha presença tenha ajudado a editora a caminhar para o lado que foi. O Caio era um cara com a cabeça muito aberta, eu era estagiário mas ele me chamava para dar palpites, participar nas reuniões. Ele me passou um trabalho com os contos de Lima Barreto, essa história está no Em Busca do Thesouro da Juventude (segundo livro infantil de Luiz, de 2003). A coleção Primeiros Passos foi ideia dele, ia sair como tradução de uma coleção espanhola, e ele me passou a versão brasileira. Porcos com Asas ele que escolheu. A gente dividia. Fiquei nove anos lá. Tivemos acesso ao Harry Potter antes dos outros editores e alguém aqui deu um parecer contrário. Foi um erro nosso e ponto final Tanto na Brasiliense e muito mais na Companhia das Letras as edições sempre chamaram atenção também pelo cuidado estético, pelas capas originais. É coisa sua? Minha mãe sempre foi muito ligada em arte, até num dos contos que escrevi o personagem era um menino que ficava assistindo aulas de história da arte, isso acontecia na casa da minha mãe. O contato com os artistas jovens, a mudança visual nos livros, isso foi sempre uma das minhas responsabilidades na editora. Gosto muito de estética, de arte. Em casa tenho uma pequena coleção de arte brasileira. Modernistas. quadros do Volpi, Pancetti, Guignard, Milton da Costa, Antonio Bandeira, nos últimos tempos Lygia Clark. Isso vai aparecer na minha literatura. No final do Discurso Sobre o Capim fiz um conto de um homem muito bem sucedido que tem de fazer um discurso porque ganha um prêmio, tipo Homem de Ideias (Luiz ganhou de fato o prêmio Homem de Ideias, em 1987). Ele não consegue se lembrar de fatos para contar, lembra de pequenos percalços, a iniciação sexual com uma prostituta, o temor de virar adulto, e aí se lembra do primeiro quadro que comprou. É um quadro que está na minha casa, um Pancetti que foi até capa de exposição na FAAP. É uma marinha com poucos detalhes, tem um barquinho e na areia tem um capim surgindo. É muito bonito,fiquei muito emocionado quando o comprei, ficava olhando muito para esse quadro. Então no discurso, em vez de falar da vida dele, o cara do meu conto fala porque nasceu aquele capim naquela areia. Acho que eu estava expressando o significado da literatura, quis dizer que as coisas não são muito pensadas. Mas podem ser muito pessoais. É, acho que uma das minhas fraquezas como escritor é não conseguir me livrar da minha biografia, muita coisa transformo em literatura. Uma das editoras aqui me disse assim: “Você é bom quando faz memória”. Várias vezes as pessoas me falaram isso. Quando comecei o blog resolvi contar os casos de editor porque estou esquecendo muita coisa. Me soltei um pouco demais. Talvez tenha um livro de memórias aí. O que você gosta? Amilcar de Castro? Tenho uma escultura do Amilcar. E FOTO ARQUIVO PESSOAL Como é sua vida de editor? O trabalho de editor é muito chato, tem um glamour que não corresponde à realidade. Muitos dos melhores livros que publiquei, não li porque estava ocupado com outro original. Tem coisas embaraçosas, precisa dizer não. Como é a divisão de trabalho? Em paralelo.Meus colegas acham que sou muito centralizador, mas tenho é facilidade de tomar decisão. Hoje estou num processo de delegar mais, a editora está passando de tamanho médio para grande, não dá mais para fazer tudo. Às vezes participo como editor de um autor importante, tem escritores que entregam num estágio prévio e o livro vai se construindo com o diálogo com o editor. No Chatô, por exemplo, o Fernando Morais, que é meu amigo, mandava cada capítulo, a gente ia conversando. O lado avô de Luiz: aqui com a neta mais velha, Maria Isabel Chico Buarque, Milton Hatoum, Ana Miranda, Bernardo Carvalho, você lançou nomes grandes. Como foi perceber que estourariam? A literatura deles se impõe, e cada caso é um caso. O Milton mandou o original dele para a Maria Emilia (editora da Companhia) com uma cópia para mim. Li o livro no final de semana e falei: “Esse cara tem muito talento”. O final não amarrava na primeira versão, arrumamos depois. Foi uma emoção ler os primeiros contos do Bernardo. O primeiro livro da Patricia (Melo), Aqua Toffana, é espetacular. O Cidade de Deus (de Paulo Lins, 1997) foi indicado pelo Roberto Schwarcz, a edição demorou um ano, era um livro muito grande,com muito material para editar, e eu edito Luiz reverenciando dois paizões: o de inspiração, Jorge Zahar, editor; e o da vida real, André (no meio) sempre em parceria. E como recusar amigos? Tem a história de que Rubem Fonseca, seu amigo pessoal, saiu da editora porque quis empurrar aquela moça (Rubem indicou a jovem Paula Parisot, Luiz não aceitou). Os autores indicam, mas em geral aceitam que a editora tenha autonomia. Mas não quero comentar esse episódio, se você não se importar, não vou abrir as razões da saída do Rubem. Não foi apenas isso. Ainda existem casos de ler originais que chegam pelo correio ou isso é coisa de filme? Esse é um problema sério. A tendência das grandes editoras é não aceitar mais originais espontâneos, é uma coisa triste por princípio, mas é impossível administrar a quantidade de textos que chegam. Nos Estados Unidos nenhum editor aceita um livro assim. No mercado americano, se você não tiver um agente literário, não publica livro em lugar algum. Aqui já aconteceu de publicarmos o que chega: O Chalaça (primeiro livro de José Roberto Torero, de 1995) veio pelo correio. O Guia dos Curiosos do Marcelo Duarte veio com uma carta. Li e publiquei. Você define a Companhia das Letras como editora que opta pela qualidade. Já esteve perto dos bestsellers? J.K. Rowling (autora de Harry Potter) a gente não comprou por falha nossa. Tivemos acesso ao Harry Potter antes dos outros editores, a Lilia, que cuida dessa parte, não viu, estava fazendo a livre docência dela. É uma história típica do mercado: alguém aqui deu um parecer contrário. E eu falava: “Olha, tô em Londres, o livro está acontecendo”. Foi um erro nosso e ponto final. Sua mulher cuida dos infantis. Seus filhos trabalham na editora, é uma vida em família. Como você e a Lilia se conheceram? Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 31 FOTOS ARQUIVO PESSOAL Com um dos seus maiores autores, Saramago, que lhe dedica aqui amizade, de próprio punho Em um acampamento em Campos do Jordão (SP). Eu tinha 13 anos, ela, 11. Fomos nos rever só no colegial, eu era colega do irmão dela no grupo judaico. Aí já tinha 17 anos e começamos a namorar. Estamos casados há 31 anos. Trabalhar em família ajuda a saber quais são os valores certos, a ter estabilidade. Meu lazer é música. E esporte: corro, nado, monto a cavalo. A Hípica (Paulista) é vista como um lugar de elite, mas ali tenho uma relação com os tratadores, com o animal, adoro a natureza Falando em infantil, esse mercado cresce a cada dia. Quanto representa na companhia? Aliás, quantos livros vocês publicam por ano? O infantil cresce, aqui pega uns 25%, mas temos outras coisas, os quadrinhos, a Cia de Bolso, a Penguin. Hoje a Companhia publica 270 livros por ano, é quase um por dia. Fale da fusão com a Penguin. Partiu deles. Eles queriam estender para o Brasil o que já faziam na Coreia e na Índia. É a maior empresa editorial do mundo, vamos poder ter acesso ao melhor trabalho editorial do mundo em todos os setores: marketing, aparatos, embalagem. Foram meses de conversa, o maior desafio da sociedade foi lidar com as grandes corporações de advogados deles. É um momento chave nosso, como foram outros que marcaram a Companhia: editar o Rubem Fonseca, depois a História da Vida Privada, os livros do (jornalista) Elio Gaspari, as grandes biografias. A lista de bestsellers do Brasil está mais parecida com as listas no mundo. Você já disse que nossos leitores eram mais sofisticados. Isso mudou. A lista de bestsellers brasileiros está menos intelectualizada e literária do que antes. Mas não é mau sinal. Quero olhar com otimismo. As classes C e D estão entrando no mercado, tanto que os livros que estão nas listas têm preços não tão altos. O mundo inteiro está em crise de superprodução, o fracasso hoje é mais radical, a vida do livro é mais curta. No começo fracasso era vender dois mil livros. Hoje tem muito livro que vende mil, mas a gente aqui não analisa só pelo aspecto comercial. Livro é moda, tem as Bienais, a Flip. Você ajudou a criar a Flip e depois saiu, o que aconteceu? Saí depois da segunda Flip por conta dos conflitos que a minha presença gerou. Tive a ideia, fui atrás dos editores, no começo eu colocava cadeiras, fazia tudo. Os editores escreveram cartas para os jornais dizendo que aquilo era uma jogada minha para promover os livros da Companhia. Ninguém quis contribuir, os cariocas achavam que a Flip era uma competição com a Bienal do Rio. Hoje, só vou lá por obrigação profissional, não tenho prazer. Ler é trabalho, então como você se diverte? Meu lazer é música. E esporte: corro, nado, monto a cavalo. Tive minha depressão mais profunda há 12 anos e comecei a montar. Montar me faz bem. A Hípica (Paulista) é vista como um lugar de elite, mas ali tenho uma relação com os tratadores, com o animal, adoro a natureza. Comprei meu sítio, o lugar da minha vida, algo sensorial, não sei explicar. Tomo medicamento para depressão, mas o esporte é muito importante para eu começar o dia. Um pouco de futuro: a Companhia tem planos de criar conteúdo para iPads, Kindle, outras mídias? É um caminho natural. Vamos descobrir novas formatações, mas quero acreditar que o papel do editor fica. Ele tem de cuidar da confecção final do livro. MAKING OF Eu nunca tinha conversado com o Luiz antes, embora minha história tenha se inspirado por decisões dele, olha que coisa. Quando eu estreava na faculdade e queria saber de tudo, li todos os beatniks e os policiais noir que a Brasiliense lançava. Não demorou, ele abriu a Companhia das Letras e enquanto eu me dividia entre a vida de estudante e as fraldas da minha filha, fugia da realidade mergulhando nos contos da minha favorita Dorothy Parker, que ele editava. Anos depois, comprei para um namorado o primeiro livro do Luiz, falando de um garoto santista e goleiro (como ele, como meu namorado). A vida deu umas piruetas, e olha eu de volta ao mesmo namorado, e falando com o Luiz de coisas da vida: os medos, os desejos, as agruras de ser filho único (ele e eu somos). E por quase três horas de conversa, parecemos tão próximos. FIM DE PAPO O mural com capas das histórias do Tarzã, um dos heróis favoritos Além da imaginação Se você apertar os olhos bem no meio deste cartaz, verá um rostinho de menino: o de Luiz pequeno, matando a vontade de ser selvagem. O mural de Tarzã fica na sua sala na Companhia das Letras. Outro herói, esse real, era o Pelé: Luiz ia ver todos os jogos do Santos, sempre sozinho. Em casa, chutava bola na parede e se imaginava em grandes aventuras.