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SEXTA-FEIRA E FIM DE SEMANA, 10, 11 E 12 DE SETEMBRO, 2010 | ANO 2 | Nº 264 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR ADJUNTO COSTÁBILE NICOLETTA
R$ 3,00
Murillo Constantino
Inovação Até vazamentos em
edifícios será possível detectar com
novo sistema da Autodesk. ➥ P20
Limpeza urbana Vega fecha
contrato de R$ 480 milhões com
Prefeitura de Salvador. ➥ P26
Carreiras Sergio Vieira extrai da
música componente essencial para
ser bem-sucedido nos negócios. ➥ P34
Bolsa tenta recuperar
valor dois anos após quebra
do Lehman Brothers
Mercado de dívida e capital de risco ganham força para reviver auge do pré-crise
Prestes a completar dois anos, a crise
financeira global deflagrada pelos bancos americanos ainda não teve todas as
suas feridas curadas no Brasil. Para re-
cuperar o brilho até o estouro da bolha,
os investidores apostam em novos produtos que garantam a sustentabilidade
do mercado de capitais. ➥ P4
Com resistência em avançar em
transparência, empresas rejeitam pontos
de reforma do Novo Mercado. ➥ P40
Celso Junior/AE
Luiz Schwarcz,
da Companhia
das Letras, fala
sobre escrever
e editar livros
no Brasil
INDICADORES
▲
▼
▼
▼
▲
■
▲
▲
▲
▲
▲
▲
TAXAS DE CÂMBIO
Dólar Ptax (R$/US$)
Dólar comercial (R$/US$)
Euro (R$/€)
Euro (US$/€)
Peso argentino (R$/$)
JUROS
Selic (a.a.)
BOLSAS
Bovespa - São Paulo
Dow Jones - Nova York
Nasdaq - Nova York
S&P 500 - Nova York
FTSE 100 - Londres
Hang Seng - Hong Kong
9.9.2010
COMPRA VENDA
1,7238
1,7230
1,7230
1,7210
2,1904
2,1891
1,2707
1,2705
0,4370
0,4367
META EFETIVA
10,66%
10,75%
VAR. % ÍNDICES
0,33 66.624,10
0,27 10.415,24
0,33 2.236,20
1.104,18
0,48
5.494,16
1,19
0,37 21.167,27
Indústria mostra
fôlego renovado
no semestre
Segundo pesquisa da CNI, após um
período de acomodação, os índices
relativos a faturamento, horas
trabalhadas, emprego e salário
exibem novo vigor em julho. ➥ P18
Crédito da Caixa
para imóveis deve
chegar a R$ 70 bi
A nova previsão para o ano — revisada
pela segunda vez — foi anunciada por
Maria Fernanda Ramos Coelho,
presidente do banco, que mantém forte
o ritmo de concessão de empréstimos
para a compra da casa própria. ➥ P42
Imobiliárias acirram disputa
no mercado de usados
Lopes, Lello, Brasil Brokers e Coelho da Fonseca
buscam aquisições e parcerias para crescer. ➥ P24
Fusões e aquisições podem
ser recorde este ano
Devem chegar a 800 as operações entre empresas
brasileiras no país e no exterior, segundo a Price. ➥ P38
2 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
NESTA EDIÇÃO
Marcela Beltrão
Em alta
Filtros solares são lançados mais cedo
Antecipação dos fabricantes foi motivada pela onda de calor
em pleno inverno e o Carnaval em março de 2011 — e não
fevereiro — permitindo o chamado “verão estendido”. ➥ P30
Marcela Beltrão
Motorola enfrenta o iPhone e o iPad
Antes de se tornar uma empresa dentro do grupo,
Motorola Solutions tenta conter o avanço dos
smartphones como instrumentos de uso corporativo. ➥ P32
A reconstrução do Cultura Artística
Imóveis usados voltam
à carteira das imobiliárias
A Lopes lançou, há dois anos, a Pronto!
para atender o segmento e agora volta
a adotar como estratégia a incorporação
de pequenas companhias à sua carteira,
mesmo caminho seguido pela concorrente
Brasil Brokers, que também procura
efetuar incorporações em São Paulo,
o principal mercado da Lopes.
“O mercado secundário é mais sustentável
se pensarmos que daqui a dez anos os
lançamentos podem diminuir de ritmo”,
diz Álvaro Soares, diretor de relações com
investidores da Brasil Brokers, que, no
somente no primeiro semestre vendeu
R$ 1,03 bilhão em imóveis usados. ➥ P24
Faturamento da indústria
aumenta 3,6% em julho
Relatório sobre Ecossistemas na AL
Leonel Marques
Pavan Sukdhev, economista do Pnuma, é um dos
responsáveis pelo documento que tenta dar valor aos
benefícios econômicos da preservação da natureza. ➥ P28
Como escolher um MBA de qualidade
Armando Dal Colletto, da Business School São Paulo
recomenda checar se a instituição responsável pelo curso é
recomendada pela Associação Nacional de MBA (Anamba). ➥ P11
Reajuste de policiais pode ser nacional
Câmara pode aprovar este ano a PEC 300/2008 que
fixa piso nacional para servidores da segurança com
grande impacto na folha de pagamento dos estados. ➥ P13
Os dados da CNI confirmam a retomada
da atividade no início do segundo semestre,
depois de um período de acomodação
no segundo trimestre. Pelas previsões de
Marcelo Ávila, economista da CNI, todos os
indicadores da atividade industrial devem
ultrapassar os níveis pré-crise ainda neste
semestre, seguindo a tendência do item
faturamento, que apresentou a maior
elevação na comparação com o período
pré-crise, subindo, em julho, 4,2% sobre
setembro de 2008. Pelas suas previsões,
se a produção voltar a crescer um pouco
acima dos 0,4% que cresceu em julho,
segundo o IBGE, os índices de setembro de
2008 serão superados em dois meses. ➥ P18
Mais conhecido pela sua marca tradicional,
a Vega Engenharia Ambiental, grupo lidera
o consórcio que cuidará da limpeza pública
de Salvador pelos próximos cinco anos,
período em que prevê receita bruta de
R$ 480 milhões. O contrato, segundo
Carlos Alberto Almeida Júnior, diretor,
abrange a coleta de resíduos sólidos urbanos,
varrição, limpeza das praias e operações
especiais, como a coleta de lixo durante o
Carnaval. O executivo lembra que, apesar
de ser este um dos principais contratos
conquistados este ano, a estratégia
do grupo para os próximos dois anos
continua dirigida mais para o tratamento
de resíduos sólidos que para limpeza. ➥ P26
Caixa revisa desembolsos para R$ 70 bi
Murillo Constantino
O Minha Casa, Minha Vida e o aumento da renda são,
segundo Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente, os
fatores que mais contribuíram para ampliar o crédito. ➥ P42
País pode chegar a 800 fusões este ano
Expectativa é do sócio da PricewaterhouseCoopers,
Alexandre Pierantoni, baseado nos 502 negócios de janeiro
a agosto, mais 31% sobre o mesmo período de 2009. ➥ P38
Valor de fraudes em seguros sobe 5,1%
De um total de R$ 18,9 bilhões de pedidos de
indenizações no ano passado, apenas R$ 230 milhões
não foram pagos por fraude comprovada. ➥ P41
Henrique Manreza
Grupo Solvi vai cuidar da
limpeza da capital baiana
Obras no teatro da rua Nestor Pestana começam neste
sábado e inicialmente serão centralizadas na recuperação do
painel de Di Cavalcanti e da fachada original do imóvel. ➥ P36
Construções monitoradas pelo celular
Cresce interesse por fundos imobiliários
Jay Bhatt, vice-presidente da Autodesk, anuncia
para breve a possibilidade de, pela tela do celular, escanear
edifícios inteiros construídos pelo sistema BIM. ➥ P20
Volume de ofertas registrado este ano através deste tio de
captação chega a R$ 2,2 bilhões, perto de superar os R$ 2,9
bilhões registrados durante todo o ano passado. ➥ P44
Kodak estuda ampliar fábrica de Manaus
Pastor cancela queima do Alcorão
Expectativa é de grande demanda por câmaras fotográficas
digitais em função da Copa e Olimpíada. Também é
avaliada a produção de itens para a indústria gráfica. ➥ P22
O presidente Barack Obama havia manifestado
a preocupação com o fato de que atitude do religioso
poderia estimular ataques suicidas da Al Qaeda. ➥ P46
Adrian Moser/Bloomberg
A FRASE
“Podemos ir direto para os pênaltis”
Joseph Blatter, presidente da Fifa, sobre a possibilidade de acabar com a
prorrogação nos jogos de mata-mata que terminarem empatados na Copa do
Mundo. Outra hipótese é restabelecer o golden goal (gol de ouro), conhecido
como morte súbita, em que ganha quem marcar primeiro na prorrogação.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 3
EDITORIAL
Murillo Constantino
ARNALDO ROSA, DIRETOR COMERCIAL DA TOTAL ON DEMAND (TOD)
Dois anos depois
da quebra do
Lehman Brothers
Dois anos se passaram depois do fatídico fim de semana, em que executivos do
Lehman Brothers se desesperavam por
saberem que a quebra da instituição financeira era inevitável e o Federal Reserve, em uma controvertida omissão,
não o salvou da bancarrota.
Ben Bernanke terá de conviver com
este, para muitos, erro fundamental de
avaliação. Não se tratou de um default
isolado, mas do início da maior recessão desde a crise de 1929. Como que
por encanto, todas as falcatruas do
crédito subprime começaram a transbordar dos balanços dos bancos e surpreender os incautos investidores. Os
preços dos imóveis sofreram quedas
vertiginosas e os mutuários se viram
obrigados a pagar hipotecas de valor
altíssimo, tendo como moradia residências que chegaram a valer pouco
mais de 20% do valor de suas dívidas.
Nos Estados Unidos houve
avanço na regulação, mas
a Europa ainda apresenta
uma grande fragilidade
“Para mim é uma válvula de escape”, diz Arnaldo Rosa, diretor da Total On Demand,
agência de marketing, que faz parte do grupo de executivos que se dedicam a um hobby ou
atividade cultural. Ele é contrabaixista da banda cover Warriors, de rock dos anos 60 a 90. ➥ P34
Presidente do Conselho de Administração
Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos
Diretor-Presidente José Mascarenhas
Diretor-Vice-Presidente Ronaldo Carneiro
Diretores Executivos
Alexandre Freeland e Ricardo Galuppo
[email protected]
BRASIL ECONÔMICO é uma publicação
da Empresa Jornalística Econômico S.A.
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(Destaque), Marcel Salim (On-line), Márcia Pinheiro (Finanças) Subeditores Marcelo Cabral (Brasil), Estela Silva, Isabelle Moreira Lima (Empresas), Luciano Feltrin
(Finanças), Maeli Prado (Projetos Especiais) Repórteres Amanda Vidigal, Ana Paula Machado, Ana Paula
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Thais Moreira (Pesquisa) Webdesigner Rodrigo Alves
Tratamento de imagem Henrique Peixoto, Luiz Carlos
Costa Secretaria/Produção Shizuka Matsuno
O Brasil passou até muito bem pela
temporada de furacões financeiros.
Cresceu menos, como seria previsível,
mas recuperou-se com uma energia de
dar inveja. Segundo reportagem a partir
da página 4, a tendência do mercado doméstico agora é buscar produtos mais
sofisticados, sobretudo os que alonguem
as operações, ainda o calcanhar de Aquiles do sistema financeiro brasileiro.
Nos Estados Unidos, é indubitável que
houve avanços na regulação do mercado.
Mas as feridas ainda estão abertas porque, por mais que Barack Obama incentive a retomada de projetos de infraestrutura, o crédito ainda não voltou a fluir
para todos os segmentos da economia,.
À margem da crise americana, começou a ser germinada a derrocada da economia europeia. Não foram poucos os
analistas que previram o fim da Zona do
Euro, em função das estripulias fiscais
dos países da região. Por ora, e por sorte,
estas profecias não se concretizaram,
mas o continente padece de um marasmo na atividade econômica, que é puxada somente pela guerreira Alemanha.
As experiências americana e europeia
devem servir de lição de casa para o resto
do mundo. Inclusive o Brasil, que não é
muito afeito a cuidar das contas públicas,
confiando que a arrecadação sempre vai
curar tudo. Nem sempre. ■
(Coordenadores), Daiana Silva Faganelli (Analista), Renato Frioli (Gerente Mercados), Solange Santos (Assistente Executiva)
Publicidade Legal Marco Panza (Diretor de Publicidade
Legal e Financeira), Marco Aleixo , Carlos Flores, Ana Alves e Adriana Araújo (Executivos de Negócios), Alcione
Santos (Assistente Comercial)
Departamento de Marketing Evanise Santos (Diretora
de Marketing Institucional), Simone Botto (Diretora de
Marketing de Produtos), Carlos Madio e Rodrigo Louro
(Gerentes de Marketing), Alexandre Costa, Giselle Leme
e Roberta Baraúna (Coordenadores de Marketing).
Operações Cristiane Perin (Diretora)
Departamento Comercial Paulo Fraga (Diretor Executivo Comercial), Mauricio Toni (Diretor Comercial), Júlio César Ferreira (Diretor de Publicidade), Ana Carolina Corrêa, Valéria Guerra, Valquiria Rezende, Wilson
Haddad (Gerentes Executivos), Paulo Fonseca (Gerente Comercial), Alisson Castro, Celeste Viveiros, Edson
Ramão e Vinícius Rabello (Executivos de Negócios), Andréia Luiz (Assistente Comercial) Projetos Especiais
Heitor Pontes (Diretor Executivo), Márcia Abreu (Gerente), João Felippe Macerou Barbosa e Samara Ramos
Departamento de Mercado Leitor Nido Meireles (Diretor), Nancy Socegan Geraldi (Assistente Diretoria), Alexandre Rodrigues (Gerente de Processos), Denes Miranda (Coordenador de Planejamento)
Central de Assinantes e Venda de Assinaturas
Janete Russowsky (Gerente de Assinaturas), Vanessa
Rezende (Supervisão de Atendimento), Conceição
Alves (Supervisão)
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Rio de Janeiro (Capital) (21) 3878-9100
De segunda a sexta-feira - das 6h30 às 18h30.
Sábados, domingos e feriados - das 7h às 14h.
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Jornalista Responsável Ricardo Galuppo
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FCâmara Gráfica e Editora Ltda. (DF/GO)
RBS - Zero Hora Editora Jornalística S.A. (RS/SC)
4 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira,e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS
Bolsa busca saída
para voltar a
níveis pré-crise
A imponente sede do Lehman Brothers na Sexta
Avenida, em Nova York, em fotografia tirada em 14 de
setembro de 2008, um dia antes de o banco quebrar
Dois anos após a quebra do Lehman Brothers, mercado aposta em
papéis de dívida e capital de risco como solução de longo prazo
Vanessa Correia
[email protected]
Às vésperas de completar dois
anos que o Lehman Brothers
anunciou concordata e mudou
curso dos mercados em todo o
mundo, o Brasil — que avançou em termos macroeconômicos — ainda tenta recuperar
os níveis pré-crise na bolsa
brasileira. Ao mesmo tempo,
busca alternativas de instrumentos de longo prazo, tais
como mercado secundário de
dívida, securitização e investimento em capital de risco.
“O mercado financeiro brasileiro tem uma característica
interessante. Tudo o que é relacionado à proteção de inflação
é extremamente desenvolvido.
Já em instrumentos relacionados ao longo prazo, o Brasil está
atrasadíssimo”, diz Ricardo
Amorim, ex-diretor do WestLB
em Nova York e diretor da Ricam Consultoria. “Isso é reflexo do longo período de hiperinflação que vivemos.”
O professor de finanças da
Brazilian Businesse School
(BBS), Ricardo Torres, lembra
que o Brasil se adaptou a condição de não depender de fonte
externa de captação. “Se, por
um lado, o excesso de regulação
fez com que criássemos uma série de travas, por outro nos beneficiou já que não seguimos a
euforia de bancos de investimento americanos”, pondera.
O mesmo não aconteceu com
alguns bancos europeus, que
seguiram as instituições americanas e acabaram agravando a
Se a discussão
atual nos países em
desenvolvimento
é como avançar
daqui para a
frente, as economias
desenvolvidas
ainda patinam
para recuperar os
níveis pré-crise
situação mundial. “A crise fez
com que problemas repetidos e
contumazes, e que não eram resolvidos, recebessem atenção
especial, tais como excesso de
produtos de securitização”,
afirma o professor da BBS.
Caso o Brasil queira sofisticar seus produtos financeiros,
terá que fazer com cautela a
fim de não cometer os mesmos
erros. “Há um enorme espaço
para avançarmos em instrumentos que vão desde venture
capital, private equity, títulos
de longo prazo até a securitização. Acredito que o processo
será lento, mas torço também
para que não seja exagerado.
Caso contrário, sabemos as
consequências”, brinca o diretor da Ricam Consultoria.
Se a discussão nos países em
desenvolvimento é como avançar, algumas economias desenvolvidas ainda patinam para recuperar os níveis pré-crise. Os
Estados Unidos, por exemplo,
ainda apresentam taxa de desemprego elevada. Alguns países da Zona do Euro ainda não
afastaram os tomores de um
possível calote. Mais recentemente, a França iniciou discussão de como reduzir gastos e recuperar as finanças públicas.
Economistas acreditam que
os efeitos da crise foram muito
sérios e que países desenvolvidos
devem demorar a se recuperar.
Caminho sem volta
Após a turbulência financeira
mundial, a tendência de fortalecimento dos países em desenvolvimento – vista desde
2001 com a entrada da China na
Organização Mundial do Comércio (OMC) – ganhou força.
“Tudo o que os países desenvolvidos produzem começou a
ficar barato por conta da China. Em contrapartida, tudo o
que os ricos importam ficou
caro. E a quebra do Lehman
Brothers acelerou esse processo”, explica Amorim
“Hoje os países desenvolvidos estão sem dinheiro, sem
crédito, endividados e sem
emprego. Em contrapartida
nós produzimos e consumimos. Ou seja, se temos as melhores oportunidades de in-
vestimento, o mercado de capitais tende a crescer mais em
países em desenvolvimento”,
completa. O melhor exemplo
disso é que a China ultrapassou
o Japão e se tornou a segunda
maior economia global.
“Quem percebeu que as condições brasileiras eram diferentes das apresentadas pelo resto
do mundo ganhou muito dinheiro. O difícil era convencer os investidores, no auge da crise financeira mundial, que o Brasil
estava bem posicionado”, lembra Catarina Pedrosa, coordenadora da gestora de recursos (asset Management) do Banif. ■
Infografia: Anderson Cattai
20 DE MAIO
Standard & Poor’s eleva Brasil a grau
de investimento; Bovespa atinge
recorde de 73.516 pontos
Principais acontecimentos desde que o Brasil foi elevado a grau de investimento
29 DE MAIO
Fitch Rating
também eleva
Brasil a grau de
investimento
14 DE SETEMBRO — O DIA “D”
Lehman Brothers anuncia
concordata
15 DE SETEMBRO
8 DE OUTUBRO
27 DE OUTUBRO
Bolsas de valores
mundo afora
despencam; Bovespa
cai 7,59%; Bank of
America (BofA)
anuncia aquisição do
Merrill Lynch;
seguradora AIG solicita
ao Federal Reserve
(Fed) empréstimo de
US$ 40 bilhões
BCs implementam
cortes
extraordinários nas
taxas básicas de
juros, com
participação do
Federal Reserve
(Fed), BCE, BoE,
entre outras
autoridades
monetárias
Bovespa atinge mínima de
29.435 pontos
2009
2008
SOBE E DESCE GLOBAL
22 DE SETEMBRO
6 DE NOVEMBRO
Moody’s eleva
Brasil a grau de
investimento
Taxa de desemprego nos Estados
Unidos atinge recorde de 10,2%
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 5
LEIA MAIS
Turbulência fez as
siderúrgicas com ações
na Bolsa — CNS, Gerdau
e Usiminas — perderem
R$ 20,9 bilhões em valor de
mercado entre 2008 e agora.
Recuperação da economia
americana, que sofreu
o maior colapso desde 1945,
ainda é incógnita entre principais
especialistas; desemprego
demora para cair no país.
Uma das consequências
da crise foi a maior
intervenção do estado
no setor financeiro, movimento
que aconteceu nos EUA e
Brasil, entre outros países.
Jeremy Bales/Bloomberg
Petrobras
puxou Bovespa
para baixo
Incertezas com capitalização
da estatal e queda do preço
do petróleo afetaram o índice
André Penner
A FRASE
“Tudo o que os países desenvolvidos
produzem começou a ficar
barato por conta da China. Em
contrapartida, tudo o que os ricos
importam ficou caro. A quebra do
Lehman acelerou esse processo”
2010
—Ricardo Amorim, ex-diretor do
banco WestLB em Nova York
e presidente da consultoria Ricam
4 DE FEVEREIRO
8 DE ABRIL
1º DE SETEMBRO
7 DE SETEMBRO
Início dos rumores quanto ao
possível calote da Grécia
Bovespa atinge 71.784
pontos, máxima do ano
Imbróglio no
processo de
capitalização da
Petrobras começa a
se desenrolar com a
divulgação do preço
do barril de petróleo
na cessão onerosa
Greves contra reformas do presidente Nicolas Sarkozy
paralisam França. Sarkozy quer elevar a idade de aposentadoria
de 60 para 62 anos para diminuir gastos e recuperar finanças
públicas. Além disso, em 20 de agosto, Sarkozy anunciou corte
de € 10 bilhões em deduções fiscais e gastos sociais
16 DE AGOSTO
China ultrapassa
Japão e se tona
segunda maior
economia
do Mundo
O imbróglio envolvendo a capitalização da Petrobras, que perdurou por mais de um ano,
também contribuiu para que o
Ibovespa, principal índice acionário da BM&FBovespa, não renovasse seu recorde histórico
de pontuação. Em abril, a bolsa
brasileira atingiu os 71.784
pontos, na máxima do ano.
Passado um mês, quando as incertezas quanto à saúde financeira de alguns países da Europa afastaram os investidores de
ativos de maior risco, o Ibovespa voltou aos 58.192 pontos.
“A Petrobras tem grande representatividade no índice
[12,3%]. Isso ajuda a impulsionar o Ibovespa quando a estatal
está bem. Em contrapartida,
atrapalha quando está mal”,
ressalta Ricardo Torres, professor de finanças do Brazilian Business School (BBS). “Uma empresa do tamanho da Petrobras
não pode deixar o mercado financeiro com dúvidas. Passou a
impressão que o processo de capitalização da estatal petrolífera
foi feito de maneira amadora.”
Mas não foi só o longo processo decisório de capitalização
da Petrobras que atrapalhou o
andamento do papel. “Queda
do preço do barril de petróleo ao
longo dos últimos dois anos, vazamento de petróleo em plataforma da British Petroleum (BP)
e aumento do preço de seguro
de riscos de petróleo também
foram deixando os investidores
receosos quanto ao futuro da
Petrobras”, explica Torres.
Aversão ao risco
levou investidores
a apostar em
ativos reais, como
imóveis, o que
beneficiou os papéis
de incorporadoras
como a Rossi, cujo
valor de mercado
aumentou 160%
de setembro
de 2008 até agora
A crise financeira mundial assustou e afastou muitos investidores de bolsa, que acabaram
migrando seus investimentos
para ativos reais, como imó-
veis. “Isso é sinal de medo”,
pondera o professor de finanças da BBS. Tanto é que a elevada demanda por imóveis comerciais e residenciais gerou
uma disparada nos preços.
Algumas empresas do setor
se beneficiaram com o movimento. Foi o caso da Rossi, cujo
valor de mercado saltou de R$
1,63 bilhão, em 15 de setembro
de 2008, para R$ 4,23 bilhão ao
final do pregão de ontem. ■ V.C.
IBOVESPA
IMOBILIÁRIO
71.784
Pontuação atingida pela bolsa
159%
foi quanto o valor de mercado da
brasileira em abril, a máxima
do ano. Essa recuperação
do desempenho neste ano
foi afetada, em maio, pelas
incertezas do mercado em
relação à saúde financeira
de alguns países da Europa,
que afastaram os investidores
de ativos de maior risco.
Rossi Residencial avançou entre
15 de setembro de 2008 e ontem.
O valor absoluto saltou de
R$ 1,63 bilhão para R$ 4,23
bilhões no período em análise.
Dentre as empresas que faziam
parte do Ibovespa no dia em que
o Lehman Brothers quebrou, a
Rossi foi a que mais se destacou.
Setores beneficiados
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
6 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS
Siderúrgicas derretem R$ 21 bi
em valor de mercado com crise
Marolinha vira tsunami sobre a avaliação dos fabricantes de aço CSN, Gerdau e Usiminas na BM&FBovespa
Antonio Milena
Nivaldo Souza
[email protected]
O desempenho positivo alcançado pelas empresas brasileiras listadas no Ibovespa dois
anos após a ruína do Lehman
Brothers não foi experimentado pelas siderúrgicas. Apesar
de as companhias inscritas na
BM&FBovespa terem se valorizado 10,78% desde o estopim
da crise iniciada com a falência do Lehman, CSN, Gerdau e
Usiminas não conseguiram recuperar o valor de mercado
anterior à crise financeira.
Em 1° de setembro de 2008,
quando os rumores da falência
do Lehman ganharam os holofotes, as 60 empresas listadas no
Ibovespa — entre elas, a Petrobras, Bradesco e TAM — valiam
R$ 1,427 trilhão. Ontem, as mesmas companhias foram avaliadas
em R$ 1,578 — diferença entre os
períodos é de R$ 151,2 bilhões.
No caso das siderúrgicas, o
período representou a perda de
R$ 21,12 bilhões. CNS, Gerdau
e Usiminas valiam R$ 128,34
bilhões. Passados 24 meses,
atingiram ontem o patamar de
R$ 107,22 bilhões, ou 16,5%
menos — conforme levantamento realizado pelo B RASIL
ECONÔMICO, com base no cruzamento do valor por ação com
o volume de papeis negociados. Os números indicam que
para os produtores de aço, a
“marolinha” da crise se transformou em tsunami.
Segundo Leonardo Alves,
analista da Link Corretora, a
onda foi turbinada pelo recuo de
30% no preço médio da tonelada de aço no mercado global. “O
preço foi impactado pela crise,
principalmente por causa da
sobra do produto na Europa. A
sobra vem para cá, reduzindo os
preços o internos”, avalia.
A Gerdau teve a maior queda.
Perdeu 23,33% de valor de
mercado entre setembro de
2008 e 2010. A variação chegou
a R$ 13,25 bilhões, de R$ 56,79
bilhões a R$ 43,54 bilhões. A
Usiminas está logo atrás, com
17,45% de desvalorização ante
os R$ 27,69 bilhões que o mercado lhe creditava em 2008. A
diferença atual é de R$ 4,83 bilhões, levando a uma avaliação
de R$ 22,86 bilhões.
A CSN apresentou queda
menor, de 6,92%. A empresa
perdeu R$ 3 bilhões e m valor,
indo a R$ 40,82 bilhões ontem,
contra R$ 43,86 bilhões. O recuo moderado se deve à investida maior sobre a produção de
minério de ferro que, em alta no
mercado, compensa a perda
com a venda de aço. ■
Queda de 30% no preço
do aço durante a crise foi fatal
para as siderúrgicas brasileiras
B2W e Brasil Telecom caem
por sócios e concorrência
Entrada de competidores
e questões societárias reduziram
valor de mercado das empresas
Cintia Esteves e Fabiana Monte
[email protected]
A B2W, formada por Americanas.com e Submarino, foi a
companhia que registrou a segunda maior desvalorização entre as empresas listadas na
BM&FBovespa desde a quebra
do Lehman Brothers. Com uma
queda de 49,3% em seu valor de
mercado, a varejista ficou atrás
apenas da Brasil Telecom, cuja
baixa foi de 57,3%, considerando-se o valor das ações em 9 de
setembro deste ano. Para analistas, a explicação está na entrada de novos competidores no
comércio eletrônico brasileiro.
“Quando foi criada, em 2006,
Concorrência acirrada
obrigou varejista
on-line a reduzir suas
margens. Incorporação
pela Oi afetou papéis
da operadora
a B2W era praticamente a única
grande empresa do segmento,
mas a partir de 2008 houve um
acirramento da concorrência”,
diz Marcelo Varejão, da corretora Socopa. “A chegada de novos
competidores obrigou a B2W a
reduzir margens”. Procurada, a
B2W preferiu não se manifestar.
Incertezas na Oi
Por outro lado, as ações da Oi e
da Brasil Telecom (TNLP, TMAR
e BRT), adquirida pela operado-
ra em 2008, estão aquém do valor de mercado que tinham antes da crise por causa de questões societárias.
Um dos fatores é o tumultuado
processo de incorporação da Brasil Telecom, interrompido em
março, quando acionistas minoritários recusaram a relação de
troca proposta pela Oi. “Como os
minoritários não aceitaram, as
ações sentiram o reflexo. Não é
efeito da atividade operacional e
financeira ”, diz a analista da SLW
Corretora Rosângela Ribeiro.
Outra questão no setor é a
complexa operação anunciada
em julho para a entrada da Portugal Telecom (PT) no capital da
Oi. “O aumento de capital para
a entrada da PT também derrubou o preço das ações”, avalia o
analista de telecomunicações do
Banif, Alex Pardellas. ■
AS 10 MENOS
Crise leva empresas a perder
valor de mercado, em bilhões R$
1/SET/08 9/SET/10
BrasilTelecom 17,52
B2W Varejo
6,29
7,47 -57,36%
3,19 -49,26%
Telemar
36,67
22,71
Klabin
6,28
4,71
-24,97%
Eletrobras
32,75
24,62
-24,83%
1,78
1,36
-23,49%
Celesc
Gerdau
-38,07%
56,79
43,54
-23,33%
338,72
260,68
-23,04%
Comgas
5,00
4,02
-19,51%
Embraer
10,07
8,18
-18,76%
Petrobras
-60
-50
Fontes: Brasil Econômico, Economatica,
BM&FBovespa
-40
-30
-20
-10
0
Sexta-feira e fim de semana,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 7
Sexta-feira,
8 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira,e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
DESTAQUE MERCADO DE CAPITAIS
Larry Downing/Reuters
Após apresentar um pacote
de US$ 50 bilhões em obras de
infraestrutura, Obama anunciou
um plano de desonerações na
faixa de US$ 200 bilhões
voltado para empresas
Socorro estatal perde eficiência
Prestes a cumprir dois anos da fase mais crítica da crise, economia americana atravessa fase de incógnita
Conrado Mazzoni
[email protected]
Naquele turbulento quarto trimestre de 2008, cujo epicentro
foi a quebra da centenária
Lehman Brothers, a economia
dos Estados Unidos sofreu o colapso mais pesado desde 1945.
Perto de completar o aniversário de dois anos da deflagração
do momento mais severo da
crise mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) americano literalmente pouco avançou. No
segundo trimestre de 2010, o
indicador desacelerou para
1,60%. A situação delicada tem
tirado o sono do governo Barack Obama que, passados os
esforços fiscais e monetários —
juro básico perto de zero — já
realizados, voltou a anunciar
novos pacotes de auxílio econômico, uma ameaça para a
saúde das contas públicas: a expectativa é que a dívida federal
em relação ao PIB ultrapasse os
100% a partir de 2012. Injetar
recursos na economia visa formar um fator multiplicador,
nesse caso, de dinheiro em obras
de infraestrutura para salários,
elevando propensão a consumir.
O problema, notam economistas, é a baixa eficácia do plano.
Por estar focado em construção pesada de estradas, por
exemplo, há pouca mão de obra
alocada, dada a existência,
atualmente, da incorporação de
muita tecnologia no processo.
Ou seja, o efeito multiplicador
acabaria não tendo a eficiência
esperada, além de ser caro.
“Mesmo que as propostas de
Obama passem no Congresso, o
que nossos analistas consideram difícil, acreditamos que o
impacto no crescimento será
modesto, sem quase alterar
nossas projeções”, diz Michael
Feroli, do JPMorgan Chase.
A maior parte das estimativas
apontam para um panorama de
expansão fraca da economia dos
Estados Unidos nos próximos
anos. A ala mais pessimista chega a projetar alta de, no máximo, 1%. “Olhando o histórico
de crises bancárias, a regra é
que o crescimento volta para
perto do potencial, hoje em torno de 2%, 2,5%. Deve retomar
esse nível no segundo semestre”, opina Fausto Vieira, economista da gestora de recursos
da Rio Bravo Investimentos.
O americano precisa sanar
dívidas, mas, sem emprego, não
tem fluxo de caixa. Até que voltem a ser criados postos de trabalho, o consumidor não pode
reparar seu patrimônio. E, dessa
forma, os bancos, que temem o
ocorrido há cerca de dois anos,
ficam menos dispostos a conceder crédito. Os balanços tri-
Efeito multiplicador
dos gastos em obras
de infraestrutura
é considerado
má ideia por
economistas,
que veem efeito
reduzido na geração
de empregos
mestrais das instituições financeiras revelaram que elas estão
aplicando em instrumentos financeiros, e o crédito segue encurralado. Reside aí um dos argumentos contra o avanço das
rédeas no setor, para que o consumidor americano tenha, finalmente, acesso à alavancagem. Para Vieira, ainda não dá
para culpar a regulação pela retomada fraca da atividade.
Marcel Solimeo, economista
da Associação Comercial de São
Paulo, vê as coisas sob uma ótica mais estrutural. “Tivemos
um período de euforia muito
longo, artificial, que permitiu
aos países crescerem bastante.
Agora, vamos ter que passar por
ajustes”, comenta. Na Europa,
se propagam as dificuldades
fiscais enfrentadas por diversos
países da zona do euro. “Estamos longe de uma solução definitiva”, conclui Luiz Cezar Fernandes, co-fundador dos bancos Pactual e Garantia. ■
INDICADORES DOS ESTADOS UNIDOS
Juros em mínimas históricas, perto de zero; PIB cresceu a uma taxa anualizada de 1,6%
no 2º trimestre; desemprego ficou em 9,6% em agosto
JUROS NOS EUA, EM % AO ANO
2,5
Redesconto
PIB - EUA, EM % SOBRE TRIMESTRE ANTERIOR)
EUA - DESEMPREGO, EM % DA PEA*
8
10
9,60%
Fed funds
2,25%
2,0
5,0%
3,7%
4
1,6%
1,5
0
1,6%
7
-0,7%
0,50%
0,5
0,25%
0,0
SET/09
Fontes: Federal Reserve
e Brasil Econômico
SET/10
6,10%
-4
-4,0%
-8
8
0,6%
1,0
SET/08
9
6
-4,9%
-6,8%
2º 3º 4º 1º 2º
2008
2009
5
3º 4º
1º 2º
2010
Fontes: Bureau de Análises Econômicas (EUA)
e Brasil Econômico
AGO/08 JAN/09
DEZ/09
AGO/10
Fontes: Departamento do Trabalho (EUA) e Brasil
Econômico * População Economicamente Ativa
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 9
INTERFERÊNCIA
Turbulência eleva peso do estado no setor financeiro nos EUA e Brasil
Bem ou mal, a crise é uma
justificativa infalível para o
governo aumentar a intervenção
na economia. O gigantesco
baque sofrido pelo capitalismo
reacendeu este debate. Nos EUA,
o governo Obama aprovou
uma ampla reforma no sistema
financeiro. A título de prevenir
futuras crises, há uma série
de medidas para elevar a
supervisão, entre elas a regulação
do mercado de derivativos e
a imposição de limites às
remunerações de altos diretores.
As críticas partem de diversos
lados entre os economistas,
com boa parte deles
constatando reflexos negativos
na recuperação da economia.
“É preciso tomar cuidado para
não se perder a liberdade dos
mercados e a criatividade
atrelada a isso”, comenta
André Gordon, sócio-fundador
e gestor das carteiras da GTI
Investimentos. Para ele, é preciso
tomar cuidado para não confundir
falha no parâmetro com problema
no modelo. Em outras palavras,
o mau funcionamento foi mais
derivado de práticas inadequadas
de análise de crédito do que
de pouca fiscalização das
autoridades. “Regulação não é
o problema. A grande diferença
é uma fiscalização presente, como
o que ocorre aqui no Brasil, onde
os reguladores acompanham tudo
que acontece online”, analisa o
banqueiro Luiz Cezar Fernandes,
co-fundador dos bancos Pactual
e Garantia. Falando em Brasil,
especialistas começam a notar
com ressalvas uma interferência
muito grande do estado no
setor financeiro, via avanço nas
concessões de créditos dos
veículos estatais, como BNDES,
Caixa Econômica Federal e Banco
do Brasil. Fernandes minimiza:
“Como houve uma consolidação
muito voraz, nossos defeitos
viraram nossas virtudes.
Eles evitam a formação de
monopólio”. Ao mesmo tempo,
o volume de liquidez do recibo
de ações (ADR) do Itaú ganha
corpo em Nova York. “O Itaú virou
quase que uma referência do que
é um banco global. É o primeiro
nome que vem à cabeça quando
alguém pensa em se expor ao
plano macro do Brasil via setor
financeiro”, analisa Gordon. C.M.
10 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
OPINIÃO
Carlos Pio
Cristopher Vlavianos
Carlos Cordeiro
Professor de Economia
Política Internacional da
Universidade de Brasília
Economista da FAAP-SP, presidente
da Comerc consultora, gestora
e trader no mercado de energia livre
Presidente da Contraf-CUT
(Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro)
Venezuela estagnada
Livres e competitivos
Outro banco é preciso
A retomada das relações políticas e econômicas entre
Venezuela e Colômbia reabre a discussão sobre a integração regional na América Latina. O aprofundamento das relações com o país de Hugo Chávez, que
provavelmente se tornará o quinto integrante do
Mercosul — ao lado de Brasil, Argentina, Uruguai e
Paraguai — traz uma série de riscos para empresas
devido à instabilidade jurídica. O desempenho econômico do país vizinho tem se deteriorado visivelmente nos últimos anos, com a queda de 3% do PIB
em 2009, além de inflação de 16% no primeiro semestre deste ano, número que deve superar os 25%
do ano passado, segundo estimativas da Comissão
Econômica Para América Latina (CEPAL).
As incertezas jurídicas na Venezuela estão levando
o país rumo a um estrangulamento no campo econômico. Nos últimos anos, o governo realizou uma série
de nacionalizações de empresas e setores inteiros da
economia. Entre 2005 e 2009, foram realizadas 762
apreensões em áreas rurais e urbanas do país. Grandes bancos estrangeiros foram ameaçados e muitos
decidiram encerrar suas atividades no país. No varejo
e agronegócio, o governo ditou o que deve ser produzido e estabeleceu tetos para preços dos produtos. As
nacionalizações causaram vítimas como o agricultor
Franklin Brito, morto no último dia 30 após realizar
greve de fome contra a perda de suas terras.
O governo da Venezuela afrontou drasticamente os
direitos de propriedade expressos em contratos de
exploração firmados com empresas privadas. A legislação foi alterada para impor maior participação da
PDVSA nos contratos e determinou a ocupação de
plataformas de perfuração, docas e embarcações de
empresas privadas, domésticas e estrangeiras, contratadas pela estatal. Os resultados macroeconômicos mostram que as nacionalizações prejudicaram o
país. Pesquisa mostrou que 74% dos venezuelanos
não concordam com este tipo de iniciativa do governo. Os participantes destacaram que as empresas não
são compensadas de modo justo — algumas chegam a
ter compensação zero — e que não há gestão de qualidade, o que tem provocado queda no rendimento
das empresas. A própria estatal PDVSA, maior empresa do país, ilustra bem o resultado, pois teve redução de 52% no seu lucro líquido em 2009.
Após quase oito anos de espera, os consumidores livres e especiais de energia elétrica poderão comercializar os seus excedentes no mercado livre. Com
isso, o industrial ou grupo de serviços no mercado livre conseguiria reduzir o custo de um contrato superdimensionado para adequá-lo ao seu real consumo e ganhar competitividade. Isso seria uma vitória,
não fossem as restrições impostas a essa operação.
A Portaria 73 do Ministério das Minas e Energia,
que aguarda publicação de decreto presidencial e é
responsável por regularizar a venda de excedentes de
energia, apresenta algumas restrições: para o consumidor comercializar 100% do seu contrato, este tem
que ter prazo de vigência superior a 10 anos, 50%
com prazo superior a 5 anos, 20% com prazo superior a 2 anos e apenas 10% da comercialização do
contrato de energia elétrica está sem restrição de
prazo. As empresas ficarão restritas às regras de comercialização baseadas em cessão de contratos. O
ideal seria permitir a venda da energia elétrica registrada no ponto de carga do consumidor livre até o limite do montante e prazo estipulados no contrato.
O Brasil vive o mais vigoroso crescimento da sua economia das últimas décadas, transformando-se em
referência mundial pós-crise. As previsões indicam
que pode chegar aos 7% do PIB este ano, gerando
mais de dois milhões de novos postos de trabalho em
2010. O sistema financeiro nacional, como já se tornou comum, vai ainda melhor. Os cinco maiores
bancos (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco,
Caixa Econômica Federal e Santander) tiveram juntos R$ 21,3 bilhões de lucro líquido só no primeiro semestre deste ano. Os bancos, no entanto, comparados com os outros segmentos da economia e com o
tamanho da lucratividade, criaram 9.048 empregos
no período, o que é pouco e insuficiente. E continuam demitindo muitos bancários, usando a rotatividade como estratégia de redução dos salários. Nesses primeiros seis meses, o salário médio dos contratados foi 38,04% menor do que os dos desligados,
achatando a massa salarial para reduzir custos e elevar ainda mais os lucros.
A astronômica rentabilidade das instituições financeiras chega a 26% na média. Ou seja, os bancos
duplicam de tamanho a cada três anos. Esse ganho
sem paralelo no mundo é obtido com as mais altas
taxas de juros e de spread do planeta, com a cobrança
de tarifas escorchantes e com o massacre do assédio
moral a que os bancários são submetidos nas dependências para cumprirem metas inatingíveis.
O papel do Brasil, por sua
proximidade com a Venezuela,
é acompanhar a evolução dos
processos democráticos no país
A Venezuela realizará eleições parlamentares no
dia 26 de setembro. A oposição busca aumentar sua
participação na Assembleia Nacional para se organizar para as eleições presidenciais de 2012 e resgatar a
democracia plena. É importante que esse processo de
redemocratização ocorra e que traga novamente a liberdade de expressão e a liberdade de negócios. O
papel do Brasil nesse cenário, por sua proximidade e
relações comerciais com a Venezuela, é acompanhar
a evolução dos processos democráticos no país vizinho e a recuperação da estabilidade jurídica. Sem a
garantia destes direitos, os riscos da integração regional do ponto de vista comercial ainda são muito
altos e o preço a ser pago pode ser maior ainda. ■
A regulamentação da venda de
excedentes de energia é um
começo, significando ganho de
competitividade para as empresas
Essa regulação excessiva pode resultar em um
efeito vazio, ou seja, o agente que não se adequar e
precisar de flexibilização acima dos limites estabelecidos buscará outro mecanismo que permita negociar os excedentes livremente. Entre 2002 e 2004, o
consumidor livre não era obrigado a se tornar um
agente de mercado e a maioria optava por manter o
ponto de consumo sob a responsabilidade de um
agente comercializador. Essa sistemática permitia ao
industrial no ambiente livre a comercialização das
sobras por seu agente, tanto no curto, quanto no médio e no longo prazo, ou seja, não havia problemas
em relação aos excedentes.
A publicação do Decreto 5.163, de 30 de julho de
2004, tornou obrigatório que o consumidor livre se
torne agente de mercado, ficando responsável pelo
registro do consumo e dos contratos de energia elétrica. Foi vetada a venda de suas sobras contratuais,
passando os eventuais excedentes a serem liquidados
ao Preço de Liquidação de Diferenças (PLD). Isso restringiu a comercialização do excedente a preço de
mercado. Essa restrição obrigou os consumidores livres a celebrarem seus novos contratos criando cláusulas de transferência de energia para outras unidades, outros agentes e até mesmo prevendo a cessão
parcial ou total do contrato em certas situações.
Alguns estão constituindo suas próprias comercializadoras, onde serão registradas suas contratações futuras e a transferência dos contratos atuais,
como forma de retomar a liberdade na comercialização da energia elétrica. A discussão da Portaria
73 já demonstra um amadurecimento do mercado
livre de energia elétrica.
Essa regulamentação pode não ser uma vitória,
mas significa um início para corroborar o ganho de
competitividade aos agentes industriais que são
consumidores livres. ■
Os bancos, que se vangloriam
de constituir um dos sistemas mais
avançados do mundo, precisam
respeitar seus trabalhadores
Dois mil municípios não têm sequer uma agência
bancária. O crédito é escasso e caro. Esse modelo só é
benéfico aos bancos e não serve ao povo brasileiro. O
país precisa de um outro sistema financeiro, que dê
sua contrapartida ao desenvolvimento econômico e
social, ofertando mais crédito a um custo menos penoso para a sociedade. Os bancos, que se vangloriam
de constituir um dos sistemas mais avançados do
mundo, precisam respeitar as pessoas, tanto seus
trabalhadores quanto os clientes. Devem aos bancários uma remuneração digna, valorização dos pisos,
garantia de emprego e melhor qualidade de vida, sem
metas abusivas e assédio moral, garantindo igualdade de oportunidades a todos, sem nenhum tipo de
discriminação e preconceito. Eles também devem
melhores serviços aos clientes e à população, com a
eliminação das filas e o fim dos correspondentes
bancários, mediante a abertura de agências e postos
com qualidade de atendimento e segurança.
Os bancos públicos precisam assumir o seu papel
de indutores, dando o exemplo não apenas na oferta
de crédito barato, mas também nas relações de trabalho com seus funcionários. Por isso, a regulamentação do sistema financeiro é um dos principais temas da Campanha Nacional dos Bancários 2010. A
pauta de reivindicações já foi entregue para a Federação Nacional dos Bancos. Os resultados dos bancos
mostram que é possível atender às demandas, como
forma de contrapartida aos trabalhadores e também
à sociedade. Outro banco é preciso, com as pessoas
em primeiro lugar. ■
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 11
Daniela Souza/AE
De cortiço a parque
O edifício São Vito, no centro de São Paulo, virou símbolo da degradação
da área. Depois de uma batalha judicial que durou mais de um ano,
ele começou a ser demolido, assim com outros dois, o Mercúrio
e o Francisco Herrerias. A demolição está sendo feita manualmente.
Uma implosão poderia danificar os 32 vitrais, trazidos da Alemanha,
que adornam o Mercado Municipal, um símbolo de como edifícios
históricos podem ser resguardados. O São Vito dará lugar a um parque.
Dominique Faget/AFP
FÚRIA TRABALHISTA
Primeiro foram os franceses, agora os espanhóis. Trabalhadores protestaram ontem, em encontro organizado por sindicatos na arena para
touradas Vistalegre, em Madri, contra a aprovação de reformas laborais. Calorosamente debatidas, as reformas são consideradas essenciais tanto
para reduzir o desemprego quanto para ressuscitar a frágil economia do país. Entre elas estão medidas, propostas pelo governo do primeiro
ministro socialista Jose Luiz Rodriguez Zapatero, que tornam mais fácil despedir funcionários. Negociações feitas entre o governo, empresas
e sindicatos fracassaram. Os duas principais centrais sindicais espanholas agora pedem uma greve geral, marcada para 29 de setembro.
ENTREVISTA ARMANDO DAL COLLETTO Diretor acadêmico da Business School São Paulo
Escolha do MBA requer muita cautela
A multiplicação de cursos
não preocupa especialista,
que aposta na seleção natural
Márcia Pinheiro
[email protected]
A proliferação de MBAs no país,
muitos sem padrões mínimos
de qualidade, é uma realidade
difícil de ser mudada. A saída
para a escolha certa? Checar as
instituições recomendadas pela
Associação Nacional de MBA
(Anamba).
Há uma proliferação
indiscriminada de cursos
de MBA no Brasil? Como
separar o joio do trigo?
O mercado é muito grande. É
natural o surgimento de muitos
cursos. Cabe a nós e à imprensa
alertar os alunos que os cursos
sérios de MBA têm de se enquadrar em uma série de padrões
reconhecidos pela Anamba e
por instituições internacionais
similares.
Ou seja, não basta cursar
Murillo Constantino
“Cabe a nós
e à imprensa
alertar os
alunos que
os cursos
sérios têm
padrões a
ser seguidos”
qualquer MBA.
Não. Nossos cursos têm 500 horas-aula e são abrangentes. Infelizmente, o Brasil é campeão
em fazer proliferar produtos e
serviços não adequados às demandas do mercado.
O que motiva o profissional
a procurar especialização?
Todos têm consciência da necessidade de se preparar e competir. O mercado, mais e mais,
está em busca de profissionais
com conhecimentos gerais, mas
com habilidades específicas.
Qual é o público alvo da
Business School São Paulo?
Desde jovens com dois ou três
anos de experiência até profissionais mais seniores, com dez
anos de estrada. O importante é
oferecer cursos que sejam adequados a cada perfil, segundo
sua vida profissional pregressa e
suas expectativas. ■
Leia versão completa em
www.brasileconomico.com.br
12 Brasil Econômico Sexta-feira,
Sexta-feira e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
BRASIL
O presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Estado da
Administração (Consad), Sérgio Ruy Barbosa, é contra piso
nacional para policiais e diz que assunto compete aos estados
Salário da União puxa aumento
Reajustes concedidos a servidores federais pautam negociações nos governos estaduais. As duas esferas
Paulo Justus
[email protected]
O crescimento da despesa com
funcionários do Executivo federal superou o dos estados nos
dois últimos anos. No acumulado dos 12 meses encerrado em
abril, o dispêndio da União com
servidores do Executivo , exceto
militares, teve um aumento de
7,52%, já descontada a inflação
do período, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Na mesma comparação, os gastos dos estados e
Distrito Federal com pessoal
cresceram 4,45%. Em 2009, a
evolução das despesas foi de
13,15% para a União e de 9,09%
para os estados.
Com salários em geral mais
baixos que os da União, os estados sofrem uma pressão constante para equiparação salarial
“
Não posso competir
em salários com
a União, mas tento
propor uma
remuneração
condicionada a
desempenho, que
é uma coisa que
está acontecendo
em todo o Brasil
Sérgio Ruy Barbosa,
secretário de planejamento
do Rio de Janeiro
com a esfera federal. O secretário de Planejamento e Gestão do
Rio de Janeiro e presidente do
Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Administração
(Consad), Sérgio Ruy Barbosa,
diz que é comum perder funcionários para a União. “Não posso
competir em salários, mas tento
propor uma remuneração condicionada a desempenho, que é
uma coisa que está acontecendo
em todo o Brasil”, diz.
O descompasso entre as esferas de governo se deve às
maiores amarras que os estados têm para elevar gastos com
folha de pagamento. A Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF)
limita essas despesas a 49% da
arrecadação estadual. “Os estados também estão comprometidos com acordos de renegociação de dívida. Já a União
tem apenas o limite do superá-
vit primário, mas isso não é
problema quando a arrecadação se aumenta muito, como
ocorreu recentemente”, afirma o economista Raul Velloso.
Para fugir dessas limitações,
parte dos estados recorre à terceirização de pessoal, de acordo
com o especialista em contas
públicas Amir Khair. “Muitos
terceirizam serviços e retiram
da conta despesa com pessoal
os reajustes para serviços de
consultoria, de pessoa física e
jurídica”, diz.
Além de escapar do limite da
LRF, a terceirização também
permite dar aumentos mais generosos sem comprometer tanto
o orçamento dos estados, de
acordo com Nelson Marconi,
professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) de São Paulo. “Em
São Paulo, por exemplo, as organizações sociais de saúde são
regidas pela mesma legislação
do setor privado, o que permite
que os reajustes salariais não sejam carregados para os inativos,
como ocorre com os demais
servidores”, diz.
Discrepâncias
Dentro do próprio governo federal, as diferenças salariais
também favorecem os aumentos de salário de determinadas
categorias. De acordo com levantamento do pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eneuton
Pessoa, considerando a remuneração de cargos que requerem
nível superior de ensino, o
maior vencimento concedido
representa 17,5 vezes o menor.
Essa era a diferença, em 2008,
dos vencimentos em início de
carreira do procurador do Banco
Central, de R$ 14.049, e dos
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 13
Andre Dusek/AE
Governo fecha acordo para agência de garantia
O Ministério da Fazenda anunciou ontem um acordo com as empresas
seguradoras para a criação da Agência Brasileira de Garantias (ABG). A
agência vai substituir a proposta que criaria a Empresa Brasileira de Seguros,
que sofreu resistência do setor privado. Segundo o secretário-adjunto
de Política Econômica, Dyogo Oliveira, ainda não há definição sobre se
a proposta será submetida ao Congresso por meio de projeto de lei ou de
Medida Provisória. Ele ressaltou que a proposta será enviada ainda em 2010.
AGENDA DO DIA
● IBGE informa os resultados
da Pesquisa Industrial Mensal
de Emprego e Salário de julho.
● Fipe e FGV publicam prévia da
inflação pelo IPC de setembro e
IGP-DI de agosto, respectivamente.
● ABCR divulga fluxo de veículos
nas estradas sob concessão.
NOVAS NORMAS
CONTÁBEIS E SEUS
IMPACTOS TRIBUTÁRIOS
Adequação e capacitação para sua empresa
(11) 3138-5314
[email protected]
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Carlo Wrede/Ag. O Dia
Policiais fazem pressão
por reajuste nacional
Projetos impactam a folha de
pagamento nos estados ao fixar
pisos nacionais para servidores
Sílvio Ribas, de Brasília
[email protected]
nos estados
competem por funcionários
técnicos administrativos nível
A, das Instituições Federais de
Ensino, que ganhavam R$ 802.
“O anseio por isonomia salarial
é maior quando se trata do mesmo cargo público em esferas governamentais diferentes ou então em órgãos da mesma esfera,
sobretudo, quando são categorias pequenas que gozam de
elevado prestígio social e poder
de barganha”, diz Pessoa.
Nos estados, as discrepâncias
salariais podem ser notadas pela
diferença entre os aumentos
concedidos às categorias. De
acordo com levantamento feito
com oito estados pelo B RASIL
ECONÔMICO, os reajustes concedidos em 2010 variaram de
4,4%, para os servidores de segurança e educação de São Paulo, a 248%, referentes ao reajuste de servidores da administração direta do Rio de Janeiro. ■
Mais do que multiplicar ônibus
lotados de servidores na direção
de Brasília para acompanhar
votações no Congresso, as propostas de emenda constitucional (PEC) que criam pisos nacionais de salários para diferentes categorias tornam o Legislativo federal um problema para
os orçamentos dos estados.
Aprovado em 2008, o salário
mínimo do professor, reajustado todo ano (R$ 1.024,67), foi
regulamentado em julho pelo
Senado e está sob análise da Câmara. Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Paraíba e Rio Grande do
Norte ainda não conseguiram
cumprir a nova legislação para
vencimentos da educação.
Mas o maior impacto de um
projeto de lei sobre a folha de
pagamento dos estados está
sendo esperado para servidores
da segurança. A PEC 300/2008,
que fixa piso nacional para
bombeiros e policiais civis e militares tendo por base o Distrito
Federal (R$ 4,5 mil), pode ser
aprovada este ano pela Câmara.
Sob a pressão do calendário
eleitoral e de centenas de manifestantes nos corredores da
Casa, incluindo recentes cenas
de pancadaria, a proposta foi
votada pelo plenário em primeiro turno. Líderes do governo
federal e ligados a governadores
Despesa da União com
servidores nos 12 meses
encerrados em abril de 2010
95
bi
Dispêndio dos estados e
Distrito Federal com pessoal,
no mesmo período
R$
trabalham para concluir a votação da “bondade eleitoral” só
depois dos resultados das urnas.
Para agravar esse quadro,
questões administrativas, como
plano de carreiras, estão sendo
contornadas via emenda constitucional. A Câmara está pronta
para votar a PEC 308/2004, que
transforma os 100 mil agentes
penitenciários de todo o país em
“policiais penais”, com poderes
para realizar investigações e
captura de foragidos. Na prática, eles esperam receber vencimentos iguais aos dos policiais.
Governadores alertam para o
risco de ficarem impedidos de
cumprir a lei de responsabilidade
fiscal, caso a PEC 300 e outras do
tipo sejam aprovadas. Cada estado tem realidade financeira diferente, mas muitos avisam que não
suportariam o novo ônus com
servidores. A alternativa é transferir a conta para a União, que teria de criar um fundo para socorrer unidades da Federação que
não tenham recursos suficientes
para pagar os novos vencimentos.
Os líderes parlamentares estão preocupados. “Os deputados não votarão essas matérias
na marra”, reagiu Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara. Com o adiamento das votações, policiais prometem greve nacional a partir
da véspera das eleições. “O governo vacilou nessa questão.
Receio que tenhamos perdido o
controle e aberto a porteira para
mais despesas estaduais com
funcionalismo”, disse o líder do
PSDB, João Almeida (BA). ■
José Cruz
■ GASTOS
R$
Para pressionar pela
votação de emenda
constitucional,
manifestantes têm
rotina de protestos
em Brasília e avisam
que ainda podem
deflagrar greve
169
bi
Aumento real dos gastos
com folha da União em 2010
7,52
%
Protesto de policiais: categoria
quer piso nacional de R$ 4,5 mil
14 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira,e10
fim
dede
setembro,
semana, 2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
BRASIL MOSAICO ELEITORAL
Vote em um,
eleja dois
PLANO B
Suplência ao Senado é a moeda de troca
mais valorizada nas articulações políticas
Pedro Venceslau
[email protected]
A primeira providência de Orestes
Quércia depois
de decidir abandonar a disputa
ELEIÇÕES para o Senado foi
garantir que seu
segundo suplente, Aírton Sandoval, não ficasse
ao relento. Ainda no quarto do
hospital onde está internado, o
ex–governador recebeu uma
comitiva de tucanos para definir que Aloysio Nunes Ferreira,
do PSDB, herdaria o tempo de
TV, a estrutura de campanha e
seria o candidato único da coligação. Em troca, só fez um pedido: que Sandoval ocupasse o
lugar do tucano Sidney Beraldo
como primeiro suplente da
candidatura única.
Ao saber da movimentação, o
primeiro suplente de Quércia, o
vereador paulistano Antonio
Goulart, tentou barrar o acordo.
Mas foi demovido da ideia ao receber um telefonema do próprio
Quércia. A insistência foi estratégica. Sandoval é mais articulado
com a máquina do PMDB antilulista no interior. Tem, portanto,
mais condições de cumprir o papel que era de Quércia: barrar o
assédio do paulista Michel Temer,
da ala governista do PMDB, sobre
os prefeitos do partido. “Existe
um movimento forte em São
Paulo chamado ‘quercismo’. O
avanço de Temer sobre a nossa
base não ocorrerá”, diz Sandoval.
A pergunta que fica no ar é
por que um posto secundário
como a suplência tem tanto valor nas composições políticas. A
resposta na maioria dos casos
exige um exercício de futurologia. O caso de Marta Suplicy é
emblemático. Ela é candidata
natural para disputar a prefeitura da capital em 2012, cotada
para assumir um ministério em
caso de vitória de Dilma ou ainda disputar o governo paulista
em 2014. Ou seja, há uma chance real que saia do Senado.
Marta tentou emplacar como
seu suplente o ex-ministro Antonio Palocci. Acabou tendo que
aceitar o vereador Antonio Carlos
Rodrigues, do PR. Ex- secretário
2010
A atual legislatura
do Senado
chegou a ter
20 suplentes
empossados,
um quarto do
total da casa
de Paulo Maluf, ele chegou a ter
seu mandato cassado pelo TRE.
Ao todo, sete senadores no
meio do mandato concorrem a
governador e aparecem bem
colocados nas pesquisas. Se
vencerem, darão lugar a uma
bancada de políticos “sem votos”. A atual legislatura chegou
a ter 20 suplentes empossados.
“A reforma política precisa acabar com os suplentes. Eles seriam substituídos pelo segundo
colocado”, diz o deputado Edson Aparecido, da executiva nacional do PSDB. Nestas eleições,
o TSE obrigou pela primeira vez
que o titular inclua o nome do
suplente no materiais. Ainda
que em letras minúsculas. ■
BOCA DE URNA
Divulgação
GERALDO BIASOTO
Economista e integrante
da coordenação de
campanha de José Serra
“A culpa institucional
dessa bagunça
é do governo Lula”
Integrante da coordenação da
campanha presidencial do PSDB,
o economista Geraldo Biasoto,
tem se mostrado um crítico feroz
do atual governo e de algumas
estratégias adotadas pelo
presidente Lula. Ele apresentou
alguns desses pontos, com
destaque para os que têm relação
com o desenvolvimento industrial:
O senhor afirma que há verba
disponível para investimento
em política industrial.
De onde sairia esse dinheiro?
O Orçamento Geral da União pode
ser direcionado para investimento
em política industrial. Há muitos
setores que precisam desse
aporte, dentre os quais eu
destacaria a indústria de
componentes, a química e a
petroquímica. É preciso haver
uma trajetória para recolocar a
indústria no centro da atividade
econômica brasileira. O governo
Lula passará para a história como
uma gestão que fez muita coisa,
mas a economia vai se desfazer.
Há desindustrialização crescente.
Há áreas que estão sumindo ou
virando importadoras. Isso só se
reverte com muito trabalho no
parque produtivo. Do contrário,
seremos exportadores de
commodities para sempre.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 15
Filipe Araujo/AE
FUNDO DO BAÚ
A brasileira que abalou Nova York
No programa eleitoral do Espírito Santo, a candidata
à Assembleia Legislativa pelo PRP Andréia Schwartz
se declara defensora da “luta diária contra o
preconceito e a discriminação”. Para quem não
lembra, Andréia é aquela que em 2008 ajudou a
derrubar o governador de Nova York, Eliot Spitzer.
FALTAM
Segundo jornais americanos na época, Andréia era
a cafetina que agenciava modelos para o político a
US$ 1 mil a hora. Deportada dos EUA, Andréia negou
as acusações ao voltar ao Brasil e chegou a cobrar
por entrevistas. Na época, ela dizia que pensava
em abrir um “negócio de importação e exportação”.
DIAS PARA O 1º TURNO
DAS ELEIÇÕES
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0
BRANCO
CORRIGE
CONFIRMA
Divulgação
NANICAS
Apoio partidário
Cotada para disputar
a prefeitura de
São Paulo em 2012
ou assumir um
ministério no caso
de vitória de Dilma,
Marta Suplicy tentou
emplacar Antonio
Palocci como seu
suplente. Por pressão
do aliado PR, teve
que aceitar como
“companheiro”
de chapa o vereador
Antonio Carlos
Rodrigues.
● Celso Russomanno, candidato
ao governo de São Paulo pelo PP,
afirmou que não está negociando
apoio para um possível segundo
turno, caso esteja fora da disputa.
“Já conversei com os dois lados,
mas por enquanto estou fazendo
a minha campanha. Se eu tiver
de apoiar alguém, vou declarar”,
disse, ressaltando que não recebeu
ainda convites. “Eu sempre tive
bom relacionamento com todos.
Inclusive, o Geraldo Alckmin
(PSDB) foi meu padrinho de
casamento”. Russomanno possui
cerca de 10% das intenções de
voto, ocupando o terceiro lugar.
Rafael Neddermeyer
Fim da linha
● O Supremo Tribunal Federal
(STF) negou registro do primeiro
candidato barrado, por meio
da Lei Ficha Limpa, pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Francisco
das Chagas (PSB), que concorre
à vaga de deputado estadual
no Ceará, havia sido impedido de
se candidatar em 25 de agosto.
Ontem, inclusive, o presidente do
STF, Cezar Peluso, declarou que
o processo do ex-governador
do Distrito Federal, Joaquim Roriz
(PSC) deve ser julgado antes de
uma eventual posse. “Sem dúvida
é bem possível que se julgue antes
das eleições”, disse. Roriz recorreu
ao STF contra a Ficha Limpa,
alegando inconstitucionalidade.
Sua candidatura à reeleição
no governo do DF foi barrada
pelo TRE e, depois, pelo TSE.
Vassourinha
Os indicadores do pós-crise são
trágicos. O governo Lula fez
política industrial de maneira
genérica. É preciso fazer política
industrial efetiva e, para isso,
é preciso colocar muito dinheiro
em muitos setores. Tem dinheiro
no Orçamento para isso.
Outro ponto que o senhor
destaca é que a parceria entre
empresas e universidades não
tem funcionado em prol da
inovação tecnológica. O que
poderia ser feito neste sentido?
Universidade não é só um local de
formação e hoje só se investe em
ensino. Universidade é também
aparelho de produção de ciência.
Hoje no Brasil gastamos milhões
e milhões para fazer campus em
tudo que é canto, mas não se
pensa no perfil dos fomandos.
No programa do PSDB deixamos
claro que queremos mudar
esse perfil de oferta de vagas
com destaque para ciência e
tecnologia. E, além disso, vamos
ampliar o ensino técnico, porque
ProUni para fazer curso de letras
não dá, né? Só para ter curso
superior? A faculdade oferece
curso de letras porque não
tem que construir laboratório.
Só que este é um problema
microeconômico do setor
educacional com o qual o
governo não pode ser conivente.
E quanto à questão das agências
reguladoras e a relação do
Estado com as empresas?
As agências não conseguem
estabelecer diálogo entre Estado
e instituições privadas. Têm ótica
distorcida de sua função e se
pretendem produtoras de linhas
de política, mas precisariam
trabalhar normas para agir como
intermediadoras entre o mercado
e governo. No governo Lula há
aparelhamento das instâncias
regulatórias. O Brasil não
constituiu ainda a relação público-
privado que se quer. E há
outros pontos que dificultam
essa relação para estabelecer
a confiança das empresas. O
formato macroeconômico atual é
quase endeusado, mas a dinâmica
da economia e da sociedade vai
muito além disso. A taxa de juro
é alta, o câmbio vai derretendo e
não há política de preços básicos.
O do petróleo é a Petrobras quem
faz, temos uma das energias mais
caras do mundo, não temos preço
de gás (só para a indústria, mas
é mais de duas vezes o praticado
nos Estados Unidos). O culpado
institucional dessa bagunça é o
governo Lula. Cláudia Bredarioli
● O Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) anunciou que terá um
sistema capaz de identificar
possíveis irregularidades em
financiamentos de campanhas.
A varredura, contudo, será feita
apenas em casos fundamentados.
“Quando for e se for necessário,
se houver suspeita de que alguma
conta foi objeto de lavagem de
dinheiro, nós usaremos o conjunto
de softwares”, disse o presidente
do TSE, Ricardo Lewandowski.
Segundo ele, somente os técnicos
da corte farão a gestão dos
dados. Para facilitar a troca de
informações, o TSE assinou acordo
com o Ministério da Justiça ontem.
16 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
BRASIL MOSAICO ELEITORAL
Roberto Stuckert Filho
GABRIEL GANHA ESPAÇO NA CAMPANHA
VUVUZELA
“Entre nós foi um bom debate.
Agora, a ausência da moça
(Dilma) é uma falta de respeito.
Ela pisou no tomate
e tem que levar paulada...
e tomou paulada”
Plínio de Arruda, candidato à presidência
da República pelo Psol
“Bom dia, Dona Dilma!
Pra quem foi guerrilheira,
um debate anda assustando
demais, hein? Vamos
comparecer às batalhas?”
HugoGloss, humorista
“Qual a razão de dar
audiência a um ditador que
quer fazer a bomba atômica
e riscar Israel do mapa?”
Marina Silva, candidata à presidência da República pelo PV,
sobre política externa brasileira em relação ao
presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad
“O governador Cabral
e o seu PMDB têm inúmeras
evidências na história
recente de uma aliança
política com as milícias”
Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio,
partindo para o ataque contra Sergio Cabral
“No atual governo foram
presos 436 milicianos”
Resposta da assessoria de Cabral
“Ele [Lula] age como cabo
eleitoral daqueles que fingem
desconhecer a legislação”
Luiz Carlos Hauly, deputado federal (PSDB-PR)
Nasceu na manhã de ontem o primeiro neto da candidata à Presidência pelo PT,
Dilma Rousseff. Paula, filha única da petista, deu à luz Gabriel em Porto Alegre (RS),
no Hospital Moinhos de Vento. O menino nasceu de cesariana, com 50 centímetros
e 3,95 kg. Por conta disso, a candidata cancelou a participação no debate com
candidatos à Presidência e em um comício em Ribeirão Preto, interior de SP.
1
ponto no Ibope
foi o pico de audiência conquistado pelo debate entre os
presidenciáveis na última quarta-feira (8). Participaram do
evento na TV Gazeta José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e
Plínio de Arruda (Psol). Dilma Rousseff (PT) não compareceu.
Igo Estrela/ObritoNews
Marina aconselha contribuinte a procurar Receita
A candidata do PV à Presidência,
Marina Silva, defendeu que
a população procure a Receita
Federal para saber se sofreu
violação de seus dados fiscais,
após os relatos de que pessoas
ligadas ao candidato José Serra
tiveram seus sigilos quebrados.
Para a candidata, o tratamento
dado pelo governo ao episódio
cria um sentimento de desamparo
e impotência à população.
“O ministro (da Fazenda, Guido)
Mantega em grande tempo de
omissão banalizou um crime.
No caso do presidente Lula,
o que se criou foi um desamparo,
porque os milhares de brasileiros
que foram violados em seus
sigilos querem uma atitude do
Estado, uma atitude de firmeza”,
afirmou ontem a candidata.
Marina disse ainda que as
denúncias colocam sob suspeita
uma das mais tradicionais
instituições de carreira do Estado.
“Acho que os brasileiros deveriam
começar a peticionar à Receita
Federal para saber se ele (o
contribuinte) foi violado também”.
Luiz Alves/Ag. Camara
Wilton Junior/AE
Chapa de Serra diverge
quanto ataque à Lula
O candidato a vice de José Serra
(PSDB), Indio da Costa (DEM),
acredita que o tucano não
deve responder em horário
eleitoral a comentários feitos
pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em defesa à petista Dilma
Rousseff. “Não deve responder,
pois Lula não é o candidato.
No dia 1º ele vai para casa”, disse.
Já para o senador Sérgio Guerra,
presidente nacional do PSDB, e o
marqueteiro da campanha, Luiz
Gonzalez, o ataque direto deve
ser feito. Seguindo o conselho da
cúpula tucana, Serra disse em seu
horário eleitoral de ontem que
“quem deve explicações ao Brasil
se esconde atrás de ministros
e do presidente da República”.
Sexta-feira e fim de semana,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 17
Sexta-feira,
18 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira,e 10
2010
fimdedesetembro,
semana, 10,
11 e 12 de setembro, 2010
BRASIL
Marcela Beltrão
SEM DÍVIDAS
MERCADO INTERNO
Consumidor aproveita restituição do
IR para regulalizar dívidas em agosto
Lojistas já esperam crescimento de
10% nas vendas do comércio no ano
A restituição do IR tem ajudado a regularizar as dívidas de consumidores.
Nos últimos 12 meses (agosto/09 agosto/10) aumentou em 11,31%
o número de pessoas que regularizaram seus débitos, segundo a
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Na comparação
com o mês anterior, agosto teve alta de 9,13%. A previsão é que em
setembro a inadimplência caia ainda mais com mais regularizações.
O presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL),
Roque Pellizzaro Junior, disse que as vendas do comércio deverão
crescer mais de 10% neste ano. Segundo ele, essa já é a terceira
estimativa feita pela associação para o aumento das vendas. “No início
do ano, era 6,5%, reajustamos para 8,5% após o Dia das Mães e já
podemos imaginar um crescimento de dois dígitos, superior a 10%”, disse.
Marcela Beltrão
Todos os indicadores de atividade industrial
devem ultrapassar níveis pré-crise ainda em 2010
Indústria brasileira mostra novo
fôlego no início do semestre
Após período de acomodação, índices de faturamento, emprego e salário recuperam patamares elevados
Cláudia Bredarioli
[email protected]
O faturamento real da indústria
cresceu 3,6% em julho em relação a junho, segundo dados da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostram retomada da atividade no setor no
início deste semestre, depois
um período de acomodação registrado no segundo trimestre.
Em relação a julho de 2009, o
aumento foi de 8,9%. Segundo a
CNI, o faturamento foi o indicador que teve a maior elevação
frente ao período pré-crise:
4,2% em julho sobre setembro
de 2008, antes da turbulência.
A previsão do economista da
CNI Marcelo Ávila, porém, é de
que todos os indicadores da atividade industrial ultrapassem
os níveis pré-crise ainda neste
trimestre. Segundo ele, se a
produção voltar a aumentar um
pouco acima dos 0,4% que
cresceu em julho, de acordo
com dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) os índices de setembro
de 2008 serão superados nos
próximos dois meses.
Acompanhado da recuperação da atividade industrial, o
nível de emprego no setor também cresceu no início do segundo semestre, segundo os
dados da CNI. O emprego industrial apresentou expansão
de 0,5% em julho ante junho,
também em dados dessazonalizados, e registrou alta de 7,3%
em relação a julho de 2009. O
aumento foi de 1,6% na média
de horas de trabalhadas em relação a junho e de 8,1% em relação a julho de 2009.
Segundo Ávila, na análise
setorial, o em prego é a variável
que mostra maior aceleração
no ritmo de crescimento. Registrou alta em 14 dos 19 setores analisados na pesquisa.
O crescimento do emprego
também impulsionou os salários, que registraram 3,6% de
aumento em julho ante junho.
Na comparação com o mesmo
mês do ano anterior, a massa
salarial se expandiu 8% em julho. A estabilidade dos preços
VEÍCULOS
15,9%
foi a alta de faturamento no setor
— a maior dentre os pesquisados.
ELETRÔNICOS
9,3%
foi o aumento de faturamento
em relação a julho de 2009.
gerou ganhos no rendimento
médio real do trabalhador, com
crescimento de 3,1% em julho
na comparação com junho.
De acordo com Rafael Bacciotti, analista da Tendências
Consultoria, os indicadores estão dentro do esperado e devem
se manter positivos, já que a
demanda vai sustentar o desempenho da indústria nos
próximos meses. Da mesma
forma, segundo ele, o emprego
irá manter a trajetória enquanto o cenário da produção se
mantiver no azul.
Rogério César de Souza, do
Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi),
destaca também que alguns setores ainda não retomaram o nível de atividade pré-crise e poderão crescer mais nos próximos meses, contribuindo para
sustentar o desempenho industrial como um todo. ■
UTILIZAÇÃO FABRIL
Uso da capacidade instalada tem terceira queda consecutiva
A utilização da capacidade
instalada (UCI) foi o único dentre
os indicadores da CNI a registrar
queda em julho, de 0,2 ponto
porcentual em relação ao mês
anterior. Essa foi a terceira queda
seguida do indicador que, em
junho, estava em 82,5% e passou
para 80,5 em agosto. De acordo
com a CNI, na comparação
com julho de 2009, o UCI
cresceu 2,3 pontos porcentuais.
O economista da CNI, Marcelo
de Ávila, explica que essa queda
se deve aos investimentos no
parque industrial feitos logo
após a acentuada expansão da
produção no primeiro trimestre.
Segundo o economista Rogério
Cesar de Souza, do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (Iedi), há dois pontos que
podem ser considerados como
causas desse resultado: o primeiro
é que as empresas tenham passado
por um ajuste de sua capacidade
ao estritamente necessário após
o período de crise; o segundo,
não excludente, é que produtos
importados estejam substituindo
em parte os itens brasileiros no
processo produtivos — reduzindo,
assim, a necessidade de uso
das fábricas, sem prejuízo para
o faturamento, cujo desempenho
direto decorre das vendas. C.B.
Sexta-feira,
Sexta-feira e fim de semana,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 19
Evandro Monteiro
EFICIÊNCIA ECONÔMICA
AGRICULTURA
Brasil recua para 58º lugar em
ranking global de competitividade
IBGE projeta safra recorde de
148 milhões de toneladas em 2010
O Brasil caiu duas posições no ranking de competitividade do Fórum
Econômico Mundial e agora ocupa o 58º lugar entre 139 países. O país
segue atrás de outras nações da América Latina, além dos emergentes
China e Índia. Os EUA também recuaram dois postos e figuram em
quarto lugar. O país foi superado novamente pela Suíça, primeira colocada
pelo segundo ano seguido, e também por Suécia (2º) e Cingapura (3º).
A estimativa de agosto do IBGE para a safra 2010 aponta uma produção
de 148 milhões de toneladas. O volume é 1,1% maior que o registrado na
previsão de julho, quando a projeção era de 146,4 milhões de toneladas.
Se confirmada, a safra deste ano será 10,5% superior à de 2009
e 1,4% maior que a safra recorde anterior apurada no Brasil, em
2008, quando o total de grãos chegou a 146 milhões de toneladas.
Retomada traz pressão sobre preços
De janeiro a agosto o IPCA
acumula alta de 3,14% e
em 12 meses alta de 4,49%
Eva Rodrigues
[email protected]
A leve alta de 0,04% do Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto encerrou
a temporada de três meses de
inflação praticamente zerada
— no acumulado entre junho e
agosto o IPCA subiu apenas
0,05%. Daqui em diante, a demanda aquecida e novas pressões do grupo Alimentos vão
levar o IPCA a registrar altas
médias entre 0,3% e 0,4%, segundo analistas.
A deflação de 0,24% em Alimentos, menor que a queda de
0,76% verificada em julho, pe-
sou para o resultado mês. “Tivemos algum susto vindo de
fora por conta de problemas climáticos que afetaram os preços
de grãos no mercado internacional, além de altas sazonais
nos itens vestuário e educação
que já eram esperados”, diz o
economista-chefe do Banco
Fator, José Francisco de Lima
Gonçalves. Para o item alimentos, vale lembrar tendências
opostas já vistas neste ano: uma
alta que chegou a 1,6% em
março, que depois se reverteu
em deflação de 0,9% em junho.
Entre julho e agosto, o índice de difusão (porcentagem de
itens que aumentaram preço)
passou de 48,7% para 52,6%,
mas ainda está abaixo da média de 60%observada durante
o primeiro semestre do ano.
■ JUNHO-AGOSTO
A inflação acumulada nos
últimos três meses ficou em
0,05
%
■ ATÉ DEZEMBRO
Nos próximos meses,
analistas projetam IPCA de
0,3
%
Além disso, a média dos núcleos do IPCA em 12 meses
caiu de 4,94% em julho para
4,92% em agosto. “Diante
disso, acredito que a inflação
vai acelerar para uma média
mensal entre 0,3% e 0,4%,
mas não tira o IPCA da meta”,
afirma Gonçalves, que projeta
IPCA em 5% no ano.
O banco Santander é menos
otimista com as pressões de
preços e projeta IPCA em 5,5%
em 2010. A alta de commodities
é um dos fatores vistos pelo
banco como fator de pressão em
alimentos nos próximos meses.
Além disso, os estímulos à demanda vindo pelas vias do crédito, da renda e do mercado de
trabalho devem continuar, diz o
economista Cristiano Souza. “O
Banco Central suavizou demais
os perigos que ainda podem vir,
já não fala em descompasso entre oferta e demanda, mas há algum descompasso.”
De qualquer forma, Souza
observa que o quadro geral é de
uma inflação corrente tranquila. “Se olharmos para as diferentes medidas de núcleos em
agosto, eles estão entre 0,12%
e 0,33%. No começo do segundo trimestre esses núcleos rodavam entre 0,5% e 0,6%. E se
olharmos para a inflação acumulada em 12 meses, saímos
de 5,26% lá em abril para
4,49% em agosto”, diz. No
Santander a projeção média
para os próximos meses também está entre 0,3% e 0,4%,
com menor intensidade em setembro e subindo gradativamente nos meses seguintes. ■
20 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
INOVAÇÃO & TECNOLOGIA
SEGUNDA-FEIRA
TERÇA-FEIRA
EDUCAÇÃO
EMPREENDEDORISMO
ENTREVISTA JAY BHATT Vice-presidente de Arquitetura, Engenharia e Construção
Autodesk tem solução capaz de
Com o celular será possível escanear a estrutura de um edifício e descobrir, por exemplo, vazamentos. O sistema
Natália Flach
[email protected]
Durante o Fórum Econômico
Mundial de Davos, deste ano,
Jay Bhatt, vice-presidente sênior da divisão de Arquitetura,
Engenharia e Construção da
Autodesk, encontrou-se com o
diretor James Cameron. “Queria
cumprimentá-lo por Avatar e
dizer que foi uma honra poder
participar do projeto.” No momento em que ele entregou o
seu cartão de visitas, Cameron
interrompeu a sessão de autógrafos e encaminhou o executivo para uma sala reservada. “Ele
começou a descrever o que precisávamos melhorar nos nossos
softwares, aqueles mesmos que
tornaram possível filmar Avatar”, conta Bhatt.
A Autodesk é líder no desenvolvimento de softwares para
a criação de projetos de arquitetura, engenharia e construção
civil em 2D e 3D. Os programas
mais conhecidos da companhia
são o Autocad e o Revit. “Temos
cerca de 9 milhões de usuários
em todo o mundo e o número de
programas piratas ultrapassa 25
milhões”, afirma. Mas a menina
dos olhos da companhia é o
Building Information Modeling
(BIM), que reúne um conjunto
de informações geradas e mantidas durante todo o ciclo de
vida de um edifício. Abrange
geometria, relações espaciais e
as propriedades que compõem a
construção, como noticiou o
BRASIL ECONÔMICO, na edição de 1°
de setembro.
O próximo passo será colocar
na tela do celular a possibilidade
de escanear edifícios inteiros —
construídos pelo sistema BIM — e
detectar vazamentos ou desenhar
projetos de renovação das fachadas, conhecidos como retrofit.
O que a Autodesk está
desenvolvendo no momento?
Estamos entrando na era da
computação em nuvem. Vamos
oferecer aos nossos clientes uma
senha que permitirá acessar vários programas alocados em um
único servidor. Já estamos testando isso em nossos laboratórios. Em breve, também vai ser
possível tirar uma foto de um
prédio e fazer análise de sua estrutura, o que permitirá fazer retrofits (revitalização) do imóvel
mais rapidamente. Além disso,
será possível apontar o iPhone
para uma parede e na tela irá aparecer a estrutura de encanamento, permitindo detectar possíveis
vazamentos, por exemplo.
Mas como isso será possível?
Para isso, os edifícios precisam
“
No Brasil, poucas
construtoras usam
o BIM, como a
Método Engenharia,
e o escritório
de arquitetura
Athié Wohnrath
Nenhum país está
preparado para
inúmeras obras
de infraestrutura.
Nunca há
engenheiros ou
arquitetos suficientes
ter sido projetados por meio do
Building Information Modeling
(BIM). O BIM é um sistema que
funciona como um banco de
dados, que permite que se evite
erros, a partir do desenho de
todas as estruturas integradas
em 3D. Com isso, é possível
mensurar, inclusive, a emissão
de carbono durante as obras e
reunir informações sobre acústica do ambiente.
O BIM já é uma realidade
no Brasil?
No Brasil, poucas construtoras
o utilizam, como a Método Engenharia, e o escritório de arquitetura Athié Wohnrath.
Mas, nos Estados Unidos, todos os edifícios administrativos são construídos obrigatoriamente com o BIM. Lá, o que
impede uso mais amplo do sistema é o preço, devido à recente crise econômica. Mas no
Brasil a barreira não é o custo e
sim os prazos, principalmente
porque, daqui a poucos anos, o
país vai ser sede de eventos esportivos como Copa do Mundo
e Olimpíada.
Na sua opinião, o país está
preparado para colocar
de pé as inúmeras obras
de infraestrutura que esses
eventos requerem?
Nenhum país está preparado
para isso. Nunca há engenheiros
ou arquitetos suficientes. Mas o
governo vai ter de coordenar as
construções e evitar desperdícios. Em um estudo recente, foi
detectado que a cada três prédios comerciais que são construídos poderia ser levantado
um terceiro só com o produto
desperdiçado. Ou seja, cerca de
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 21
QUARTA-FEIRA
QUINTA-FEIRA
GESTÃO
SUSTENTABILIDADE
ADILSON MUNIN
radiografar obra
Técnico responsável pelo setor
de Pesquisa e Desenvolvimento
na Unidade de Asfaltos da Viapol
também permite visualizar possíveis atualizações da construção
Murillo Constantino
São 9 milhões de usuários
e mais de 25 milhões de
programas piratas pelo mundo
“
A tecnologia de
visualização analítica
permite que as
pessoas entendam
por meio de
vídeos como será
a interação entre
a obra e o entorno
20% a 25% de tudo que é usado
nas obras são jogados fora.
De alguma forma, o BIM
contribui para a aprovação
de projetos?
Sim. A tecnologia de visualização analítica permite que as
pessoas entendam por meio de
vídeos como será a interação
entre a obra e o entorno. Por
exemplo, na construção de uma
estrada, o software pode incluir
carros passando por ela, o que
ajuda na comunicação com os
moradores da região e pode até
auxiliar na aceitação da construção. Muitas vezes, uma imagem vale mais que mil palavras.
Existe outra aplicação para
essas projeções?
No caso de um porto, por
exemplo. Como a precisão do
BIM é muito alta, é possível,
inclusive, calcular a velocidade dos guindastes e o que isso
implica na movimentação das
cargas. O tempo de embarque
e desembarque pode também
influenciar no fechamento de
negócios. ■
Produtos e impactos
ambientais gerados
O mercado industrial brasileiro está passando por uma
ampla e saudável corrida pelo desenvolvimento de produtos. Seja pela necessidade de adequação com relação à
concorrência, seja pelas claras perspectivas de crescimento devido à Copa do Mundo, Olimpíada, obras do
PAC e exploração da camada do pré-sal, há uma preocupação natural em se oferecer produtos e serviços cada
vez melhores, mais baratos e principalmente com um
apelo ecológico e social agregado ao bem ou serviço.
Um fato interessante que nos tem chamado atenção é
que, atualmente, para o desenvolvimento de um produto, um dos primeiros pontos a serem tratados está ligado
ao meio ambiente, sendo que, em um passado recente, os
trabalhos de pesquisa e desenvolvimento eram sustentados basicamente por três pilares: especificação, qualidade e preço. As demais etapas eram consequências naturais e o produto final era concebido a partir desta base.
Nos dias de hoje, um quarto pilar passa a ter uma importância fundamental na elaboração de um novo produto, que é o da sustentabilidade, o qual deve fazer parte
da etapa inicial de pesquisa, pois é preciso saber quais
impactos ambientais este determinado produto irá gerar.
Num raciocínio lógico, o fator custo passa a ter um
peso menor, pois, a partir de agora, quando pensamos
em custo, devemos
pensar no ciclo de vida
integral deste produto
O mundo está
e não somente no preconvergindo para
ço de venda. Para muitos empresários pode
uma diferente
ser difícil enxergar esta
tendência de
questão de imediato,
aceitação do novo
porém, é notório que o
mundo de uma forma
e a empresa que
geral está convergindo
não estiver atenta
para uma diferente
a isso estará fadada tendência de aceitação
do novo e a empresa
ao fracasso ou
que não estiver atenta
à estagnação
a isso estará fadada ao
fracasso ou, no mínimo, à estagnação.
Assim, quando pensamos em sistemas que visam garantir que um produto seja adequadamente produzido,
com base na visão de sustentabilidade, em que, desde o
desenvolvimento em laboratório já se tenha uma preocupação ecológica, passando pelas etapas do processo de
produção, colocação no mercado consumidor até a preocupação com o ciclo final de vida do produto, estamos
falando em ecoeficiência.
Segundo o conceito elaborado pelo World Business
Council for Sustainable Development, em 1992, “ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e
serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo
tempo em que reduzam progressivamente o impacto
ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de
vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade
de sustentação estimada da Terra”.
Portanto, será considerada uma empresa ecoeficiente
aquela que adotar políticas na qual o compromisso com
a preservação ambiental seja uma realidade e não somente uma política. Uma empresa realmente preocupada com o futuro terá as maiores e melhores chances de
penetração nos diversos setores de consumo, pois as
companhias, de uma forma geral, serão cada vez mais
observadas de acordo com a sua ecoeficiência. Aos empresários e empreendedores é fundamental conciliar a
continuidade de investimentos, considerando-se valores de preservação do patrimônio ecológico e ampliação
da melhoria de qualidade de vida. ■
22 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
ENCONTRO DE CONTAS
LURDETE ERTEL
Fotos: divulgação
Zoom nos
flashes
La dolce vita
de Brangelina
A mídia europeia se refestelou
com a divulgação das imagens
da milionária propriedade
comprada pelo casal Angelina
Jolie e Brad Pitt na Itália.
A dupla de astros de Hollywood
pagou US$ 40 milhões pela
Villa Costanza (fotos), uma
clássica vinícola de 18 mil
metros quadrados na região de
Valpollicella, perto de Verona –
cidade de Romeo e Julieta.
Além dos vinhedos, a
propriedade tem duas piscinas,
mansão com 15 dormitórios,
sete banheiros, sala de cinema
e uma academia de ginástica.
Com o investimento, o casal
mais badalado do cinema
americano encorpa o time de
celebridades que estão fincando
raízes na Itália, a exemplo
de Francis Ford Coppola, Gérard
Depardieu e George Clooney.
Estão na mesa do
comando da gigante
Eastman Kodak
estudos para ampliar
operações no polo
industrial de Manaus (AM).
De olho na demanda por
câmaras fotográficas
digitais a ser gerada pela
Copa do Mundo de 2014
e pelos Jogos Olímpicos
de 2016, a empresa
avalia a possibilidade de
expandir sua fábrica do
equipamento na cidade –
a única do gênero que a
marca tem fora da China.
O projeto de longo
prazo também analisa
a ampliação dos
investimentos na
produção de bens de
capital (maquinários)
e produtos (software)
para a indústria gráfica.
Outra frente de expansão
da Kodak em Manaus
pode ser a de programas
de computador:
a empresa estuda o
desenvolvimento desses
aplicativos no Brasil.
Stan Honda/AFP
A Braskem prepara grande
festa para o próximo dia
24 de setembro, no polo
petroquímico de Triunfo (RS).
A data foi escolhida para a
inauguração oficial da fábrica
do chamado “plástico verde”,
que já está em operação.
Quem vai cortar a fita
é o presidente Lula.
Lugar ao sol
Com quatro meses de atraso,
devem ser deflagradas nos
próximos dias em Horizonte (CE)
as obras de construção da
primeira fábrica de painéis
e células fotovoltaicos para
energia solar da América do Sul.
O empreendimento da
Esbra (Energia Solar Brasileira)
estava parado à espera
de licenciamento ambiental.
O projeto receberá investimento
de R$ 73 milhões.
Na primeira fase, as peças para
os painéis fotovoltaicos virão da
Alemanha e dos Estados Unidos.
“Deu trabalho
para transformar
os servidores
da Receita em
carreira típica de
estado para dar
segurança. E a
gente descobre que
a funcionária que
violou o sigilo de
mais de 2 mil
pessoas não é nem
carreira típica de
estado, é do Serpro,
geneticamente
modificada dentro
da Receita Federal”
Marina Silva, presidenciável,
em entrevista ao jornal O Globo.
▲
Agenda presidencial
Lombada de grife
Marc Jacobs (D) acaba
de abrir mais uma loja em
Nova York. Mas, desta vez,
o estilista trocou roupas
e acessórios por livros,
discos de vinil e cds.
A Bookmarcs é uma
livraria de luxo que
não segue um modelo
tradicional: best-sellers
e livros convencionais
não entram no local sem
que o autor seja amigo
de Jacobs ou passe
por sua seleção pessoal.
A novo espaço do
estilista também oferece
itens de papelaria
de sua autoria.
Jacobs, que terminou
recentemente o
relacionamento com o
brasileiro Lorenzo Martone
(E), também comanda
a criação artística
da marca Louis Vuitton.
Além de cuidar, é claro,
de sua própria grife, que
dispensa apresentações.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 23
Divulgação
MARCADO
Copa virtual
● Vai acontecer entre os dias
14 e 17, a 1ªI Semana de
eCommerce de São Paulo. Uma
das inovações é a apresentação
de palestras pela internet.
Os debates poderão ser
acompanhados por todo o Brasil
ao vivo através do twitcam.
São Paulo, Cruzeiro, Internacional, Flamengo e Corinthians estão entre
os 40 times selecionados para a Copa Libertadores virtual do game
de futebol Pro evolution soccer 2011. Apesar de nunca ter conquistado
um título da competição, o alvinegro paulista está entre os selecionados
porque o game irá retratar a edição 2010 do campeonato.
Também por esse motivo, times brasileiros campeões da Libertadores
como Grêmio, Palmeiras, Santos e Vasco ficaram de fora.
[email protected]
Carl De Souza/AFP
No ritmo das ondas
A última
coleção
Mais uma atração musical se
prepara para subir a bordo
dos navios de cruzeiro da CVC.
A operadora de turismo acaba
de bater martelo para mais
um tour temático, o CVC Elétrico.
A viagem terá como isca as
bandas Chiclete com Banana
e Cheiro de Amor, além do
cantor Nando Reis.
Esta chegando ao
fim uma das parceiras
de maior sucesso
da moda.
Depois de três anos
e 13 coleções, a top
Kate Moss vai lançar
em outubro sua
14º e última linha de
roupas com a rede
britânica Topshop.
Há rumores de que
a top decidiu parar
com suas criações
porque as últimas
coleções não
venderam tanto
quanto as primeiras.
E que Kate estaria
perdendo o trono para
Chloe Green, filha
de Sir Philip Green,
diretor da Topshop. A
jovem de 19 anos está
determinada a lançar
sua própria linha
de roupas. Mas Moss
atribui sua decisão à
falta de tempo para se
dedicar aos modelitos.
A modelo disse que
vai continuar
desenhando para
a marca, mas a partir
de agora só em
ocasiões muito
especiais.
O todo poderoso
Philip Green declarou
ao jornal britânico
Sunday Times que
a parceria com a
Kate foi “fantástica
para ambas as partes”
e lamentou o fato
de Moss não poder
mais se dedicar
full-time à marca.
Doce mordida
Maior produtora de cacau do país,
a cidade de Medicilândia (PA)
acaba de ganhar sua primeira
fábrica de chocolates.
Na unidade, serão processadas
360 toneladas de amêndoas
por ano, para a produção
de 400 toneladas de chocolate.
Parte do volume vai abastecer
a indústria paulista.
Localizada na Amazônia,
Medicilândia tem 69 mil hectares
de área plantada com cacau.
Curvas perigosas
O tribunal de Justiça de São
Paulo manteve nesta semana
sentença que fixa indenização
de R$ 1,6 milhão à Editora Abril
por danos a uma Ferrari.
O veículo foi alugado da Super
Par para um test-drive em
Interlagos, em 2006.
Mas a Ferrari 360 Modena
foi a nocaute por uma batida
em um muro de proteção.
Realeza à mesa
O príncipe Joachim, da
Família Real da Dinamarca,
desembarca em São Paulo
na próxima semana.
Na segunda, será recebido
por Anette e Soren Pris Gade,
donos da Scandinavia Designs,
para um almoço na concept store.
Yoshikazu Tsuno/AFP
Brinquedo de
gente grande
A fabricante de dispositivos
móveis Parrot está rodando
o mundo para fazer decolar uma
nova função para os badalados
iPhones ou iPads: a empresa
criou um brinquedo em forma
de helicóptero que pode ser
controlado pelos dois
equipamentos da Apple.
Fabricado em fibra de carbono
e plástico de alta resistência,
o AR.Drone tem quatro rotores
e funciona como um videogame
de realidade ampliada.
O brinquedo consegue manter
estabilidade mesmo em ventos
de 15 quilômetros por hora.
A novidade está chegando ao
mercado europeu por preço
sugerido de € 299.
GIRO RÁPIDO
Geladinho paulista
A rede de frozen yogurt
carioca Bendita Fruta inaugura
neste mês um quiosque
no Shopping Paulista.
O investimento foi de
R$ 150 mil.
Presenteando
A loja de presentes temáticos
Fitá abre sua quarta loja,
no centro da capital
fluminense, dia 14.
Localizada no Shopping
Vertical, o novo espaço
terá 87metros quadrados
e contou com investimento
de R$ 180 mil.
Pós de qualidade
A Estácio ampliou a grade
de pós-graduação e entre
os cursos novos que serão
oferecidos, a partir do dia 11,
estão Políticas e Gestão em
Segurança Pública e Gestão
de Qualidade em Gastronomia.
Mais verde
A Construtora Camargo
Corrêa e o consórcio Energia
Sustentável do Brasil,
responsáveis pelas obras da
usina hidrelétrica de Jirau, no
rio Madeira, doaram área de
infraestrutura para instalação
da sede administrativa do
Parque Nacional Mapinguari,
coordenado pelo Instituto
Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio).
O parque está localizado na
divisa do estado de Rondônia
com o Amazonas e tem cerca
de 1,5 milhão de hectares.
Com Karen Busic
[email protected]
24 Brasil Econômico Sexta-feira,
Sexta-feira e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
EMPRESAS
Usados são atração do
mercado imobiliário
Lopes, Lello, Brasil Brokers e Coelho da Fonseca buscam expansão, aquisição e parcerias
Natália Flach
[email protected]
Aos poucos, as grandes imobiliárias brasileiras estão se voltando para a comercialização de
imóveis usados. Ontem, a Lopes fechou a compra de 51% da
paulista Maber Empreendimentos Imobiliários por R$ 17,2
milhões, podendo vir a adquirir
os 49% restantes no futuro. Segundo Maurício Mith, ex-proprietário e agora sócio da Maber, a companhia tinha planos
de expansão. “Chegamos a
conversar com fundos de investimento, mas percebemos
que teríamos na mesa apenas o
dinheiro. Optamos por fechar
negócio com a Lopes por ela
agregar conhecimento”, afirma
o executivo, acrescentando que
as negociações estavam em
curso há seis meses.
Em 2008, a Lopes lançou a
Pronto! para atender o segmento secundário e este ano já incorporou à sua carteira outras
cinco empresas, além da Maber:
Vila Nova Conceição e Plus, de
São Paulo, Self Imóveis de Niterói (RJ) e a também fluminense
Patrimóvel, que vinha sendo
negociada há mais de dois anos.
Outra empresa que segue a
mesma cartilha de aquisições é
a Brasil Brokers. Segundo Álvaro Soares, diretor de relações com investidores, a empresa está de olho no principal
mercado da Lopes, o paulista.
“O mercado secundário é mais
sustentável se pensarmos que
daqui a dez anos os lançamentos podem diminuir o ritmo”,
afirma Soares.
De acordo com o executivo, a
companhia vendeu, em 2008,
R$ 1,8 bilhão de imóveis secundários. No ano seguinte, o montante atingiu R$ 1,83 bilhão e só
no primeiro semestre deste ano
o valor geral de vendas (VGV)
desse tipo de imóvel chegou a
R$ 1 bilhão. “Disputamos a
compra da Plus com a Lopes,
mas acabamos perdendo o interesse e ela foi incorporada pela
outra companhia. Mas mantemos a nossa meta de aquisições”, garante Soares.
A Coelho da Fonseca optou
por outra estratégia. A imobiliária fechou uma joint venture
com a BCF Administradora de
Imóveis e juntas vão atuar no
“
O setor secundário
é mais sustentável
se pensarmos que
daqui a dez anos os
lançamentos podem
diminuir o ritmo
Álvaro Soares
Rio de Janeiro sob o nome Coelho da Fonseca Rio de Janeiro.
Luis Carlos Bulhões Carvalho
da Fonseca, diretor-executivo
da nova empresa, não vê futuro
muito promissor para imobiliárias focadas apenas na venda
de lançamentos.
“Acabamos de passar por
uma crise mundial e as construtoras reduziram os lançamentos, o que levou as empresas a um mau momento. Nós
não queremos passar por esse
aperto”, afirma. “Sem falar
que as grandes incorporadoras
estão investindo cada vez mais
em centrais de vendas próprias, que oferecem desde lançamentos até estoques.”
Até agora, foi investido R$ 1
milhão para a montagem da
sede da nova companhia. Mas,
segundo Fonseca, ainda podem
ser alocados outros R$ 3 milhões. “Estamos acertando
parcerias com administradoras
de condomínios, que muitas
vezes não contam com lojas
próprias de revendas. Com
isso, esperamos contar com
uma carteira de até 400 mil
imóveis usados”, calcula.
Filiais
A Lello, por sua vez, escolheu
um caminho totalmente diferente: o crescimento orgânico.
De acordo com Roseli Fernandes, diretora da imobiliária, a
companhia vai abrir uma filial
no bairro de Pinheiros, São
Paulo, ainda este ano. Com
isso, serão 15 lojas espalhadas
pela cidade. “No passado,
compramos imobiliárias e continuamos dispostos a seguir
essa estratégia, como também
pensamos na possibilidade de
abrir o capital da companhia.
De qualquer forma, a meta é
abrir esta filial e expandir a
atuação da imobiliária de Moema, com a contratação de corretores”, diz Roseli.
Segundo a executiva, no
primeiro semestre do ano
houve um crescimento de 20%
no faturamento da empresa
em relação ao mesmo período
de 2009. “Esperamos crescimento para o ano todo”, diz.
“Acreditamos que o mercado
secundário vai se modernizar,
com acesso à internet e com
profissionais que conhecem a
região onde atuam.” ■
BALANÇO
Lopes e Brasil
Brokers dobram
valor de mercado
O patrimônio líquido da Brasil
Brokers aumentou 19,82%
no primeiro semestre deste
ano, quando atingiu R$ 464,37
milhões ante R$ 387,57 milhões
do mesmo período do ano
passado. Já o valor de mercado
da empresa mais que dobrou,
passando de R$ 463,70 milhões,
para R$ 941,14 milhões. No caso
da Lopes, o patrimônio líquido
passou de R$ 13,97 milhões
para R$ 51,65 milhões neste ano,
um crescimento de 269,64%.
E o valor de mercado também
aumentou mais de 100%,
passando de R$ 526,62
milhões para R$ 1,13 bilhão.
Já a receita da Brasil Brokers
cresceu 39,67%, saindo de
R$ 108,12 milhões para R$ 151,01
milhões, enquanto a da Lopes
aumentou 61,31%, saindo de
R$ 88,54 milhões para R$ 142,82
milhões. A margem Ebitda
da Brasil Brokers subiu de
13,10% para 33,92%, enquanto
da Lopes saiu de 28,34%
negativos para 42,84% positivos.
O lucro líquido das duas
companhias também registrou
aumento. O da Lopes passou
de R$ 11,02 milhões para
R$ 34,80 milhões, e o da Brasil
Brokers foi de R$ 17,82 milhões
para R$ 31,33 milhões.
Com isso, as margens
líquidas da Lopes passaram
de 44,8% negativos para 26,4%
e a da Brasil Brokers de 1,5%
negativo para 20%. N.F.
LANÇAMENTOS EM SP
● No primeiro semestre
do ano, foram lançados 17 mil
imóveis na cidade, segundo
o Sindicato das Empresas do
Mercado Imobiliário (Secovi).
● O número só é menor
do que o registrado no mesmo
período em 2008, quando
foram lançadas 19 mil unidades.
VALOR DA MABERL
VALOR DA PATRIMÓVEL
R$
17,3 mi
É o montante que será pago
R$
10 mi
É o valor pago por 10,01% da
pela Lopes por 51% da Maber.
A entrada será de R$ 6 milhões e
o restante, dividido em parcelas.
imobiliária. A Lopes já tinha 10%
da empresa e possui a opção
de compra de mais 30,99%.
VALOR DA SELF
VALOR DA PLUS
R$ 2,6 mi
R$ 11,7 mi
A entrada paga pela Lopes por
51% da Plus será de R$ 900 mil
e o restante dividido em parcelas.
A Lopes deterá 51% da
imobiliária. A entrada foi
de R$ 4,7 milhões.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 25
R. Donask
Vendas de material de construção sobem 3,7%
O crescimento foi registrado em agosto em comparação a julho,
de acordo com estudo do Ibope Inteligência a pedido da Associação
Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco).
Na comparação com agosto de 2009, o indicador mostra acréscimo
de 9,5%. O resultado, conforme a entidade, confirma tendência de
alta do setor, que deve crescer 11% neste ano. Segundo o estudo, o
segmento de tintas apresentou o melhor desempenho, com alta de 7,3%.
Felipe O’Neill/O Dia
Álvaro Soares, diretor de relações
com investidores da Brasil Brokers:
planos para crescer em São Paulo
Fila de espera por imóveis de alto
padrão leva Coelho da Fonseca ao Rio
Parceria com a BCF, no
Rio de Janeiro, concentra
atenção em imóveis em
torno de R$ 1,5 milhão
A parceria entre a Coelho da
Fonseca e a BCF Administradora
de Imóveis, do Rio de Janeiro, se
deu porque uma não queria ser
vendida e a outra não queria
comprar, conta Luís Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca, diretor-executivo da Coelho da
Fonseca do Rio de Janeiro. “A
Coelho sempre teve o Rio em
seus planos de expansão. E com
a chegada de imobiliárias estrangeiras ao país e o crescimento das empresas nacionais,
resolvemos nos unir”, afirma.
O foco da nova companhia
serão imóveis de alto padrão
com valor médio de R$ 1,5 milhão. “Para cada unidade à venda há uma fila de espera com
cinco a seis compradores. E
agora, todo canto da cidade está
valorizado”, afirma.
A expectativa para este ano
é atingir um faturamento de
R$ 800 mil e um volume geral
de vendas (VGV) de R$ 150
milhões. “Ainda não temos os
números para o próximo ano,
porque depende do fechamento de parcerias com as administradoras ainda este mês.”Mas
o executivo adianta que a próxima parada da companhia
pode ser Vitória. “Estamos estudando entrar em outros estados, mas nada certo ainda. O
que está definido é que existe
muito mercado para a compa-
“
Para cada unidade
à venda há uma
fila de espera
com cinco a seis
compradores.
E agora, todo
canto da cidade
está valorizado
Luís Carlos Bulhões
Carvalho da Fonseca,
Diretor-executivo da Coelho
da Fonseca Rio de Janeiro
nhia em Búzios e na Costa Verde (RJ)”, diz.
Imobiliárias tradicionalmente de lançamentos, como Fernandez Mera e Abyara Brokers
— que pertence à Brasil Brokers
—, têm passado por reposicionamento de mercado. Elas passaram a vender imóveis usados.
União de marcas
A Brasil Brokers está estudando
unir as suas marcas depois que
a integração de sistemas de
vendas estiver concluída, movimento que deve ocorrer ainda
neste ano. “A companhia surgiu
da aquisição de diferentes imobiliárias e, até hoje, usamos o
nome delas com a logomarca da
holding, porque carregam valor
regional. Mas estamos revendo
isso”, afirma Álvaro Soares, diretor de relações com investidores da Brasil Brokers.
O executivo acredita que os
números deste semestre serão
melhores do que os do primeiro. “A minha única preocupação para os próximos anos é a
dificuldade de aprovação de
projetos nas prefeituras, que
acabam postergando muitos
lançamentos. Além disso, as
construtoras têm enfrentado
gargalos de mão de obra e de
insumos. São os mesmos problemas de 2008, quando o setor
viveu o seu melhor momento,
mas nada foi feito para resolvêlos. E a consequência mais imediata é atraso nos lançamentos
e nas entregas das chaves”,
analisa Soares. ■ N.F.
26 Brasil Econômico Sexta-feira,
Sexta-feira e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
EMPRESAS
R. Donask
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
CONSTRUÇÃO
Reckitt Benckiser investe R$ 20 milhões
para lançar Gaviscon no mercado brasileiro
Vendas de cimento crescem 14,6% até agosto
e atingem 5,425 milhões de toneladas
Medicamento indicado para aliviar a azia, a indigestão e evitar o refluxo
é o primeiro produto farmacêutico da companhia lançado no país,
o Gaviscon será importado da Inglaterra. No Brasil, a Reckitt é conhecida
por sua atuação no mercado de produtos de limpeza, onde mantém
marcas tradicionais como Poliflor, Vanish e Harpic. Globalmente, o mercado
farmacêutico responde por 25% do faturamento da companhia.
O volume é 17,6% maior que o comercializado no mesmo período
de 2009. Na comparação de oito meses do ano, houve crescimento
de 14,6%, para 38,241 milhões de toneladas, informou o Sindicato
Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). A maior expansão ocorreu
na região Norte, com alta de 52,9% na venda de cimento em agosto
na comparação anual, para 306 mil toneladas.
Vega vence
contrato que
pode atingir
R$ 480 milhões
Companhia lidera consórcio que
fará limpeza pública em Salvador.
Acordo para um ano prevê renovações
Dubes Sônego
[email protected]
A Solví Resíduos Públicos, conhecida no mercado por sua
marca e empresa mais conhecida, a Vega Engenharia Ambiental, fechou contrato para fazer a
limpeza pública de Salvador pelos próximos cinco anos. Segundo Carlos Alberto Almeida
Júnior, diretor da empresa, o
contrato tem duração de um
ano, renovável por mais quatro,
e poderá garantir receita bruta
de R$ 480 milhões ao fim do período de cinco anos.
Outras três empresas locais
fazem parte do consórcio vencedor, mas a Vega é a dona de
maior fatia do negócio. Mensalmente, são quase R$ 8 milhões
de faturamento, diz o executivo.
De certa forma, a vitória representa a continuidade da prestação do serviço pelo grupo na
cidade. Almeida Júnior diz que,
até a atual licitação, quem prestava o serviço em Salvador era
outra empresa da Solví Resíduos
Públicos, chamada Revita.
O contrato inclui da coleta de
resíduos sólidos urbanos e a
varrição até a limpeza das praias
e operações especiais, como a
coleta de lixo durante o agitado
Carnaval na cidade.
Mais aterros
Apesar dos contratos de serviços
de limpeza como este serem importantes para a Solvi Resíduos
Públicos, sua estratégia de crescimento para os próximos dois anos
está mais focada no tratamento
de resíduos sólidos. Neste ano, a
área deverá representar 32% dos
R$ 730 milhões previstos de faturamento. Em dois anos, a expectativa é ser responsável por 50%
de uma receita de R$ 1 bilhão.
O tratamento de
resíduos sólidos
é uma das áreas
de destaque na
companhia e deverá
responder por 32%
do faturamento
de R$ 730 milhões
previsto para este
ano. A expectativa
é em 2012
representar metade
da receita estimada
em R$ 1 bilhão
Carlos Alberto Almeida Junior, diretor da
Solví Resíduos Públicos: contrato em Salvador
garante cerca de R$ 8 milhões mensais
Para isso ser possível, a companhia investe forte na construção de aterros sanitários. Tem
atualmente quatro em funcionamento, nas cidades de Rio
Grande (RS), Santa Maria (RS),
Salvador e São Paulo. E prepara
outros dezesseis.
Em 2011, deverão entrar em
operação unidades em São Leopoldo (RS), Giruá (RS), São Gabriel (RS), Barra Mansa (RJ),
além de uma nova na capital
paulista e outra em uma cidade
da região central do estado (o
nome da cidade é mantido em
sigilo pela empresa). No ano seguinte, faz parte do planejamento estratégico da empresa a
implantação de outras oito unidades, sendo quatro em Minas
CONTRATO E ESTRATÉGIA
● A Solví Resíduos Públicos,
conhecida como Vega
Engenharia Ambiental,
acaba de fechar contrato de
limpeza pública urbana com
a Prefeitura de Salvador.
● Com duração de cinco anos,
o contrato vale R$ 480 milhões.
● A estratégia de expansão da
companhia para os próximos
anos, no entanto, foi traçada com
base na área de resíduos sólidos.
A empresa espera que o
segmento represente 50% do
faturamento em dois anos.
Gerais, duas nas regiões Norte e
Nordeste do país, uma em Santa
Catarina, uma no Paraná, uma
no Rio de Janeiro e outra no litoral de São Paulo, onde o problema de falta de aterros sanitários
é crítico — o lixo produzido na
Baixada Santista sobe a serra de
caminhão para ser depositado
em lixões de cidades da região
metropolitana de São Paulo.
Segundo Almeida Júnior, de
modo geral, a escolha das cidades é determinada pelo critério
de potencial de tamanho. A
companhia se interessa por
aglomerações urbanas com mais
de 250 mil habitantes, ou municípios menores, mas que sejam
o polo de regiões reunindo igual
número de habitantes.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 27
Divulgação
PETRÓLEO
AGRONEGÓCIOS
Opep prevê que demanda por petróleo será
afetada por desaceleração da economia
Americana da área de saúde assume
presidência da alemã Bayer CropScience
Em seu relatório mensal, a Opep afirmou que a demanda por petróleo
em 2010 deve continuar crescendo em 1 milhão de barris ao dia e repetiu
as preocupações da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), de que a desaceleração na economia pode ser mais
profunda do que o antecipado. Segundo a Opep “a condição econômica
presente na maior parte dos países desenvolvidos não é encorajadora”.
A divisão agrícola do conglomerado passará a ser comandada, a partir do
dia 1º de outubro, pela executiva americana Sandra Peterson, substituindo
o alemão Friedrich Berschauer. Sandra é a primeira mulher a presidir a
CropScience e está no grupo Bayer há cinco anos, mas sempre na área de
saúde, onde liderava os negócios de diabetes. Antes de entrar na Bayer,
a executiva foi vice-presidente sênior da Merck Medco Health Businesses.
Henrique Manreza
NOVAS TECNOLOGIAS
Companhia estuda formas de queimar lixo
O Grupo Solví, por meio da
Solví Resíduos Públicos, vem
estudando a queima de resíduos
para a geração de energia
como forma de lidar com o lixo.
Segundo Carlos Alberto Almeida
Júnior, diretor da empresa,
uma das tecnologias que mais
agradam ao grupo é a que
combina compostagem,
reciclagem e incineração para
reduzir o volume de dejetos
destinado aos aterros. Pelo
modelo, é feita uma triagem para
separar resíduos orgânicos, que
podem ser usados como adubo e
materiais reaproveitáveis, do que
serve apenas para combustível.
Há quem defenda a queima
de todo o lixo antes de qualquer
triagem. De uma forma ou de
outra, a estratégia permite
aumentar a vida útil dos aterros
e os ganhos marginais com a
venda de energia. A Solví
também investe em pesquisa
de equipamentos que facilitem
a coleta de resíduos. Almeida
Júnior conta que recentemente
foram implantados no Rio Grande
do Sul caminhões com abertura
lateral para o recolhimento de
contêineres de lixo, em vez
do tradicional de porta traseira.
Máquinas sopradoras vêm sendo
usadas no lugar de vassouras,
em outras localidades, para
empurrar lixo das ruas.
“Parte do nosso trabalho
é mostrar para as cidades
que existem novas tecnologias
para atendê-las”, diz. D.S.
Infografia: Monica Sobral
O GRUPO
Gestão é dividida em seis áreas de negócios
Resíduos públicos
Resíduos industriais
Saneamento
Produção energética
(empresa terá usina para queima de lixo)
Engenharia
Internacional
VEGA
Cidades atendidas
(serviço de limpeza
pública)
NÚMEROS GERAIS
COBERTURA GEOGRÁFICA
FUNCIONÁRIOS
RECEITA BRUTA
PARTICIPAÇÃO SETOR PRIVADO
NA RECEITA BRUTA
PARTICIPAÇÃO DO SETOR PÚBLICO
NA RECEITA BRUTA
EBITDA
LUCRO LÍQUIDO
ATIVOS TOTAIS
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
INVESTIMENTOS
86 cidades
13 mil
R$ 1,23 bilhão
39%
61%
R$ 178,8 milhões
R$ 42,8 milhões
População
atendida
com coleta
domiciliar
Receita
bruta
19
10,3
mihões
R$ 670
mihões
Aterros
em operação
4
R$ 1,29 bilhão
R$ 282,4 milhões
R$ 282,4 milhões
Aterros
em implantação
16
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2
Fonte: Solví, relatório anual 2009
Apesar de o grupo Solví ter
em Salvador e São Paulo tanto
aterros quanto contratos de
limpeza urbana, este não é um
critério usado para definição do
local de construção dos depósitos, afirma Almeida Júnior.
Mais importante para a empresa, diz, são contratos de
longo prazo, que garantam o
retorno de grandes investimentos, como o fechado recentemente com São Carlos,
no interior de São Paulo, por
20 anos, onde serão colocados
R$ 18 milhões.
Os aportes anuais previstos
na expansão do número de aterros, neste ano e nos próximos
dois, são de cerca de R$ 100 milhões, diz o executivo. ■
CONTA CORRENTE
MAIOR FATIA
R$
8 mi
R$
1 bilhão
é o faturamento a ser computado
É a previsão de faturamento
por mês pela Solví Resíduos
Sólidos com o contrato
de limpeza fechado com
a Prefeitura de Salvador.
O acordo vale por cinco anos.
da empresa para 2012.
A expectativa da companhia
é que 50% dessa receita
resulte da área de tratamento
de resíduos sólidos.
PLANEJAMENTO
CALENDÁRIO
250
mil
habitantes é o tamanho dos
20
anos
Foi o prazo do contrato firmado
municípios que são alvo para a
instalação de aterros sanitários
pela companhia. Até 2012,
a ideia é implantar 14 unidades,
em diferentes regiões do país.
com a Prefeitura de São Carlos
(SP) no valor de R$ 180 milhões,
para limpeza urbana. Este tipo
de contrato de longo prazo é o
mais interessante para a Solví.
SOB INVESTIGAÇÃO
Contrato em São Paulo é questionado
Um dos principais negócios do
grupo Solví na área pública é a
Logística Ambiental de São Paulo
(Loga), na qual detém 62% de
participação e é sócia do grupo
Camargo Corrêa, dono do restante
das ações. Criada para cuidar
da limpeza urbana de 174 bairros
paulistanos, reunidos sob 13
subprefeituras, a companhia passou
a ser investigada pelo Ministério
Público Estadual logo após vencer
a concorrência pelo contrato,
em 2004, por suspeita de
direcionamento da disputa. Na
época, a prefeitura estava sob
o comando de Marta Suplicy (PT).
As investigações correm até hoje e
a Solví não deu retorno às ligações
nem se posicionou a respeito do
assunto. O contrato inicial da
empresa era de 20 anos, dos quais
ainda restam 15 a serem cumpridos.
Ele prevê o pagamento de parcelas
fixas mensais à companhia, em vez
de valor variável, por volume de lixo
coletado. Em parecer dos auditores
(LBDO) sobre o balanço do grupo
Solví de 2009, é citada a opinião
de um advogado da companhia,
que considera “provável”o êxito
da defesa no caso . D.S.
28 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
EMPRESAS
Ciete Silvério
SUSTENTABILIDADE
PESQUISA
MCT e CNPq investem R$ 5,5 milhões
em projetos na inclusão digital e social
Instituto Agronômico de Campinas terá
novo laboratório e variedades de cana
O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por meio da Secretaria
de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT)
lançam edital conjunto para selecionar projetos inovadores que contribuam
com a inclusão digital e social para o desenvolvimento sustentável local.
A iniciativa investirá R$ 5.5 milhões nas propostas aprovadas.
O Instituto Agronômico de Campinas, órgão ligado à Secretaria de
Agricultura e Abastecimento de São Paulo, vai inaugurará, no dia 14 de
setembro, em Ribeirão Preto (SP), o Laboratório de Biotecnologia e a
primeira câmara de fotoperíodo do Brasil. Além disso, serão apresentadas
três novas variedades de cana-de-açúcar. A câmara permitirá reproduzir
as condições ideais de temperatura e luz para floração da cana-de-açúcar.
ONU mostra que
biodiversidade
e negócios
andam juntos
Novo capítulo do TEEB tenta atrair
poderes locais para o debate, mostrando os
benefícios econômicos da preservação
Martha San Juan França
[email protected]
A biodiversidade e a conservação dos ecossistemas começa a
ganhar visibilidade econômica.
Um novo capítulo do relatório
sobre Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB em
inglês), voltado para políticas
regionais, foi apresentado ontem em Curitiba e, simultaneamente, em Nova Délhi, Cidade
do Cabo e Ghent, na Bélgica.
Elaborado pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma), ele tem o
objetivo de convidar os decisores políticos locais a compreender os benefícios da natureza
em áreas de política local como
o gerenciamento urbano, ordenamento territorial e gestão de
áreas protegidas e, consequen-
temente, seu impacto sobre a
economia e os negócios.
Segundo o estudo, a inclusão
de serviços normalmente não
considerados, como água, qualidade do ar, solo e vegetação
em decisões políticas pode ajudar cidades e autoridades regionais a economizar dinheiro e, ao
mesmo tempo, impulsionar a
economia, melhorar a qualidade
de vida, garantir meios de subsistência e gerar empregos.
Experiências
“Os valores múltiplos e complexos da natureza exercem impactos econômicos diretos no
bem-estar humano e nas despesas públicas a nível local e nacional”, afirma o responsável
pelo estudo TEEB, o economista
indiano Pavan Sukdhev. O relatório aponta experiências reali-
Alcoa, CPFL,
Natura, Philips,
Vale e Walmart
estão integradas
ao debate sobre
a destruição dos
ecossistemas e
o impacto que deve
causar aos negócios
zadas em várias cidades, como a
própria Curitiba, que conseguiu
aumentar a área verde ao oferecer incentivos fiscais para a
criação de projetos de plantio de
árvores e assim conseguiu reduzir o número de enchentes.
O TEEB para Políticas Locais
e Regionais é um de uma série
de cinco relatórios interligados,
que incluem o Relatório sobre
Fundamentos Ecológicos e Econômicos, o TEEB para Tomadores de Decisão e o TEEB para o
Setor de Negócios. O relatório
final será apresentado durante a
10ª Conferência das Partes da
Convenção Sobre Diversidade
Biológica (COP 10) , em Nagoia,
no Japão. Seu objetivo é traduzir
em termos econômicos a perda
da biodiversidade, da mesma
forma que o chamado Relatório
Stern fez com o clima.
O estudo mostra que a perda
anual com a degradação dos
ecossistemas é de US$ 2,5 trilhões a US$ 4,5 trilhões. O cálculo foi feito com base no valor
atual dos serviços que esses recursos naturais prestam ao homem, como ar puro, água limpa, produtos florestais, turismo
ecológico, potencial biológico
das espécies, prevenção de
inundações e controle de secas.
Empresas engajadas
Outro objetivo é integrar as empresas ao debate sobre a destruição dos ecossistemas e o impacto
que deve causar aos negócios. No
Brasil, Alcoa, CPFL, Natura, Philips, Vale e Walmart lançaram o
Movimento Empresarial pela
Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade, sob a liderança do
Instituto Ethos. Também o Con-
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 29
Chris Ratcliffe/Bloomberg
INOVAÇÃO
TECNOLOGIA
Santa Catarina recebe centro de
inovação para incentivar empresas
Apple irá rever restrições para criação
de aplicativos do iPhone e iPad
O estado de Santa Catarina é o segundo a criar um núcleo
de inovação, lançado hoje em Florianópolis. O primeiro a receber
a iniciativa foi o Rio Grande do Sul. Vinculados às federações de
indústrias dos estados, o objetivo é incentivar e ampliar o número
de empresas inovadoras no Brasil. Cada núcleo estadual receberá
entre R$ 1 milhão e R$ 2,5 milhões para atender até 80 empresas.
A Apple anunciou ontem, em comunicado, que pretende dar mais
liberdade aos desenvolvedores de aplicativos para iPhone e iPad. Pela
primeira vez a companhia irá rever as regras de sua loja online Apple
Store e descartará restrições sobre as ferramentas usadas para criação
de aplicativos que rodam em seu sistema operacional IOS. A decisão deve
beneficiar a Adobe, cujos softwares passarão a rodar nos aparelhos Apple.
Marcela Beltrão
Brasil cumpre meta,
mas investe pouco
Levantamento mostra empenho
do país na criação de áreas
de proteção, mas ainda faltam
recursos para mantê-las
Nagoia
“Como no caso do clima,
as metas de biodiversidade
previstas para 2010
não foram cumpridas”
O Ministério do Meio Ambiente,
em parceria com o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
prepara um diagnóstico das
oportunidades econômicas que
as áreas de preservação, aliadas
à conservação dos ecossistemas,
oferecem para o país. Em seminário patrocinado pela organização ambientalista WWF-Brasil, Fábio França, diretor do Departamento de Áreas Protegidas
da pasta, lembrou que o Brasil
foi responsável por mais de
70%do esforço mundial de criação de novas áreas protegidas uma das metas da Convenção
sobre Diversidade Biológica. No
entanto, o orçamento para as
unidades de conservação é praticamente o mesmo desde 2000.
Para ele, é fundamental que haja
um reconhecimento — interno e
externo — sobre a importância
da preservação dessas áreas
para a política nacional de contenção do desmatamento.
França ainda aponta estudo
semelhante realizado nos Estados Unidos mostrando que o
turismo nos parques nacionais
americanos promove um aporte
de mais de US$ 15 bilhões
anuais à economia e gera mais
de 250 mil empregos. Outro es-
O VALOR DA NATUREZA
DIAGNÓSTICO
Brasil defende repartição de
royalties e outros benefícios
Pavan Sukdhev,
economista do Pnuma,
afirma que bens naturais
têm impacto econômico
direto sobre o bem-estar
humano e sobre as
despesas públicas
selho Empresarial Brasileiro para
o Desenvolvimento Sustentável
(Cebds) promete levar à COP 10
uma publicação com experiências
das empresas brasileiras. Essa publicação trará registrado o compromisso empresarial em buscar
uma ferramenta para medir seus
impactos na biodiversidade.
“A importância econômica dos
ecossistemas está ganhando visibilidade, o que ajuda as empresas
a perceber que não investir em
cuidados e preservação significará um prejuízo ainda maior no futuro”, diz a presidente-executiva
do Cebds, Marina Grossi. Ela cita
como exemplo a ação da Alcoa
com a implementação de unidades de conservação para conter o
desmatamento e da Companhia
Energética de Minas Gerais (Cemig) para a conservação dos peixes dos rios onde atua. ■
O Brasil deve apoiar a definição de
metas concretas na 10ª Conferência
das Partes da Convenção sobre
Diversidade Biológica (COP-10),
marcada para 18 a 29 de outubro,
em Nagoia, no Japão. O objetivo
é discutir propostas para o uso
sustentável da biodiversidade,
assim como a convenção de
Copenhague (COP-15) discutiu
o aquecimento global, em 2009.
Como no caso do clima, as metas da
biodiversidade, previstas para 2010,
não foram cumpridas de modo
geral. Segundo Paulino de Carvalho
Neto, chefe da divisão de Meio
Ambiente do Ministério das
Relações Exteriores, o Brasil
deverá exigir a regulamentação
da transferência de recursos para
países em desenvolvimento para
investir no cumprimento das metas
e a assinatura de protocolo que
garanta a repartição justa de
benefícios com as comunidades,
além acesso aos recursos
genéticos, o que interessa ao país.
● O estudo Economia dos
Ecossistemas e da Biodiversidade
(Teeb) pretende dar valor aos
benefícios econômicos da
preservação da natureza e aos
prejuízos pela sua má utilização.
● O relatório final será
apresentado na conferência
da ONU sobre biodiversidade,
no Japão, mas foi apresentado
em Curitiba uma versão para
políticas locais e regionais.
● Dados da ONU constatam que
mais da metade da população
mundial está nas cidades e
já é responsável pelo consumo
de 70% de todos os recursos
que o homem retira da natureza.
Estudo realizado
nos Estados
Unidos mostra
que o turismo nos
parques nacionais
americanos promove
um aporte de mais
de US$ 15 bilhões
anuais à economia
e gera mais de
250 mil empregos
tudo, realizado no Peru, indica
um retorno de US$ 10 bilhões
em dez anos, caso o sistema de
áreas protegidas daquele país
seja adequadamente mantido e
usado em prol do desenvolvimento do setor turístico.
Bráulio Dias, diretor de Biodiversidade do Ministério do
Meio Ambiente reforçou, no seminário, a necessidade de valoração dos serviços prestados
pelas áreas protegidas. Segundo
explicou, sabe-se muito pouco
sobre as riquezas da fauna e da
flora brasileiras e menos ainda
se faz para conhecê-las e preservá-las. “O tema é muito recente na agenda política e econômica brasileira e, em certos
círculos, a preservação é vista
como um empecilho ao desenvolvimento”, afirma.
Mudanças climáticas
O papel das áreas protegidas da
Amazônia na mitigação de mudanças climáticas já foi levantado. Segundo estudo que será
apresentado também na Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), que ocorre em
outubro, em Nagoia, a conservação de florestas na região poderá evitar a emissão de oito toneladas de carbono por ano até
2050. As unidades de conservação foram responsáveis por 37%
da redução, entre 2004 e 2006,
do desmatamento e correspondem a 27% do território ocupado pelo bioma. ■ M.F.
Pesquisa aponta os desafios para a preservação ambiental em todo o mundo
DADOS LEVANTADOS SOBRE A BIODIVERSIDADE
Atualmente, mais de 60% de todos os
ecossistemas do planeta estão ameaçados
Desse total, 35% são mangues e 40% florestas
A demanda por recursos naturais excede
em 35% a capacidade do planeta Terra
Em 2000 e 2005, a devastação das florestas na
América do Sul foi de 4,3 milhões de hectares
Do total de hectares devastados, 3,5 milhões
foram registrados no Brasil
O prejuízo anual com o desmatamento
é de US$ 2,5 trilhões a US$4,5 trilhões de
dólares à economia global – o equivalente
a jogar no lixo todo o PIB do Japão, o segundo
maior do mundo
Metade das espécies nativas está esgotada
e outras 25% já foram superexploradas.
O prejuízo para o setor é de US$ 80 bilhões
a US$ 100 bilhões
Fontes: TEEB e Ministério do Meio Ambiente/2009
INVESTIMENTO NA MANUTENÇÃO DE ÁREAS
PROTEGIDAS EM US$ MILHÕES US$
INVESTIMENTO NA MANUTENÇÃO DAS ÁREAS
PROTEGIDAS EM US$/HECTARE
COSTA RICA 21,53
BRASIL
4
ARGENTINA 38,30
ARGENTINA
7
AUSTRÁLIA 58,72
COSTA RICA
ÁFRICA DO SUL
124,47
NOVA ZELÂNDIA
220,78
MÉXICO
27
28
BRASIL
301,18
MÉXICO
450,90
ÁFRICA DO SUL
600,00
ESTADOS UNIDOS
0
2.653,96
500 1000 1500 2000 2500 3000
20
CANADÁ
AUSTRÁLIA
CANADÁ
18
NOVA ZELÂNDIA
34
55
ESTADOS UNIDOS
78
0 10 20 30 40 50 60 70 80
8
O Brasil tem um dos maiores índices de área protegida, mas o investimento por hectare é um
dos menores entre os países analisados. O orçamento para unidades de conservação é praticamente
o mesmo desde 2000
30 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
EMPRESAS
Divulgação
AVIAÇÃO
CARNE
Singapore Airlines obtém autorização
espanhola para rota Barcelona-São Paulo
JBS demite 400 funcionários da unidade
de Cáceres (MT), após férias coletivas
A companhia aérea de Cingapura divulgou ontem por meio de
um comunicado que obteve autorização da Autoridade de Aviação
Civil da Espanha para iniciar voos entre as cidades de Barcelona
e São Paulo. A Singapore Airlines mantém voos de passageiros
para 66 destinos em 35 países. No Brasil, a companhia opera apenas
voos de carga para o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).
A medida surpreendeu os empregados do JBS, que deveriam retornar
ontem ao trabalho, após férias coletivas de 30 dias desde o início de
agosto. A dispensa em massa foi confirmada pela presidente do Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Cárceres, Gláucia
Maria Andrade Gonzaga, que acompanhou o processo de demissão dos
empregados. O JBS não se pronunciou até o fechamento desta edição.
Sundown, Nivea e L’Oréal
antecipam produção
Temporada de calor mais longa e Carnaval em março levam as fabricantes
de filtro solar a programar crescimento de 40% nas vendas do próximo verão
Françoise Terzian
[email protected]
Embora ainda faltem 11 dias
para a chegada da primavera e
pouco mais de três meses para o
início da temporada mais quente do ano, a indústria de protetores e bloqueadores solares já
se encontra em pleno aquecimento para o verão. Na expectativa de vender até 40% a mais
no verão 2010/2011 em relação à
temporada 2009/2010, alguns
fabricantes anteciparam o início
da produção e mandaram suas
equipes comerciais mais cedo
para as ruas, a fim de repassar
ao varejo seus lançamentos e
boas expectativas de vendas.
Historicamente, o mercado de
filtros solares costuma se movimentar entre o final de outubro
e o início de novembro.
Neste ano, contudo, a onda
de calor que surgiu em pleno inverno e o Carnaval programado
para acontecer em março — e
não em fevereiro como em 2009
—, estão levando a indústria a
trabalhar com a ideia de “verão
estendido” e com perspectivas
financeiras em alta.
Embora os Estados Unidos
sejam o maior mercado consumidor de filtro solar do mundo,
é no Brasil que os fabricantes
esperam obter as melhores taxas de crescimento no próximo
verão. Na última temporada,
estima-se que as vendas de filtro solar cresceram por volta de
30%. De acordo com a Nielsen,
no acumulado de 2009, o giro
de filtro solar foi 17% superior
ao ano anterior, atingindo um
montante de R$ 727 milhões,
sem contar as vendas na modalidade porta a porta.
Para este ano, a expectativa é
o mercado brasileiro avançar
dois dígitos, podendo elevar o
montante movimentado pelo
varejo para R$ 872 milhões (se
as vendas aumentarem 20%) ou
até ultrapassar R$ 1 bilhão (no
caso de 40%). “Com a extensão
do verão em cerca de 15%, o aumento do poder aquisitivo do
brasileiro e também uma maior
conscientização para a importância do uso do filtro solar,
Cerca de 30% dos
brasileiros usam filtro
solar. A baixa adoção
do produto
representa, ao mesmo
tempo, riscos e
oportunidades para as
marcas que brigam
por uma gorda
participação de
mercado.
pretendemos crescer acima do
mercado nesta temporada”, diz
Marcelo Scatolini, gerente de
mercado da Johnson & Johnson,
dona de Sundown, líder com
com 51,1% em volume de litros
no verão 2009/2010 (setembro a
abril), segundo a Nielsen.
No período, a empresa ampliou sua participação em cinco
pontos percentuais e se prepara
para nova guinada nesta próxima temporada, a mais importante do ano para a Sundown. A
meta de Scatolini é clara: aumentar ainda mais a presença
da marca criada em 1984 no total de vendas Brasil. “Sundown
não entrará no próximo verão
para ser coadjuvante”, garante.
Concretizar esta meta será
uma tarefa árdua, uma vez que
a concorrência tem crescido
agressivamente. A Nivea, forte
em pele, e a L´Oréal, com uma
gama de produtos enorme e
distribuição robusta, são as
duas principais rivais da marca.
Cenoura & Bronze, da Hypermarcas, também é outra adversária nas gôndolas do varejo.
É bem verdade que a diferença entre Sundown e as outras
marcas é grande (veja arte ao
lado). Contudo, é preciso lembrar que o uso do filtro solar entre os brasileiros ainda é baixo entre 27% e 37%, de acordo
com as empresas —, o que abre
espaço para que todas cresçam,
incluindo as mais fracas.
O que explica a aposta de novas marcas na categoria de filtro
solar é a forma como os brasileiros têm aderido a itens que antes
não usavam, afirma Maria Laura
Santos, diretora de marketing
da Nivea Brasil. Desodorante,
por exemplo, chega a 90% do
mercado. O sonho da indústria
de filtro solar é fazer o mesmo
com o seu produto. “Apenas três
em cada dez brasileiros usam o
filtro solar”, diz Maria Laura.
Diante do avanço da concorrência, a J&J tem investido
constantemente em tecnologia, embalagem e marketing.
Sundown entra no verão com
cerca de 30 itens para corpo,
rosto, lábios e cabelo, além dos
produtos pós-sol. ■
MERCADO AQUECIDO
Participação das empresas nas
vendas de protetores
e bloqueadores*
EM VALOR
41,6%
SUNDOWN
NIVEA
12,8%
L´ORÉAL 5,7%
CENOURA & BRONZE 4%
0
10
20
30
40
50
EM VOLUME
51%
SUNDOWN
16,4%
NIVEA
CENOURA & BRONZE 6,1%
L´ORÉAL 5,4%
0
10
20
30
40
50
60
0
R$ 727milhões
foi o total de vendas
em 2009
Fontes: Empresas/Nielsen,
referente ao período de
*setembro de 2009
a abril de 2010
O CALOR DO MERCADO
● Historicamente, o mercado
de filtros solares se aquece
entre outubro e novembro.
● Neste ano, no entanto,
com semanas quentes
em pleno inverno, a
movimentação começou antes.
● As perspectivas de
um verão mais longo e
o potencial de crescimento
do mercado brasileiro levam
a uma concorrência mais
acirrada entre os fabricantes.
Marcelo Scatolini, gerente de
mercado da J&J, que pretende
aumentar a participação de
mercado da marca Sundown
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 31
Marcela Beltrão
MINERAÇÃO
LOGÍSTICA
Gold Fields South America investirá
mais US$ 70 milhões no Peru
Fila de navios em Santos chega ao recorde
de 29 dias com chuva e embarque de açúcar
A mineradora aperfeiçoará a produção de cobre nos próximos 12 meses.
A empresa de origem sul-africana ressalta, contudo, que maiores
aportes dependerão da manutenção das regras peruanas, alteradas
em agosto por uma nova lei de royalties que modificou a base de cálculo
fiscal. “Se as regras do jogo não estiverem claras, o Peru perderá a
capacidade de atrair capitais”, declarou o gerente-geral Juan Luis Kruger.
Navios que chegam neste mês ao porto de Santos vão esperar 29 dias
até atracar, segundo a consultoria Santos Associados. “Nenhum porto
do mundo está preparado para picos de demanda como este”, disse a
administração do porto, em nota, referindo-se à busca por açúcar. “Países
que precisam de açúcar devem rezar por tempo bom”, já que a chuva
interrompe os embarques, disse o corretor Ricardo Scaff, do Rabobank.
Henrique Manreza
Brasil já é o
1º mercado
para a francesa
Embora esteja abaixo da J&J
e da Nivea no Brasil, subsidiária
destaca-se no grupo francês
O segundo lugar do mercado
brasileiro de filtros solares é da
alemã Nivea que, para ultrapassar os 12,8% de participação de
mercado em valor entre setembro de 2009 e abril de 2010, está
investindo em produtos como o
spray Nivea Sun Invisible Protection, com fórmula transparente e garantia de proteção
imediata contra os raios UV, e o
Nivea Sun Kids Loção Solar Bloqueadora Swim & Play, com filtro de resistência extra à água.
A L´Oréal, por sua vez, que
conquistou 5,7% de valor de
mercado no período, anda satisfeita com a posição, embora pequena. O motivo é simples: o
país onde o grupo francês mais
vende Solar Expertise no mundo
é o Brasil. “Tem cliente este ano
comprando 200% a mais em relação ao mesmo período de
2009”, conta Bianca Pi, diretora
de marketing de L´Oréal Paris.
Na temporada de verão
2009/2010, ela conta que a
L´Oréal cresceu 45% contra os
quase 18% de aumento registrados pelo mercado brasileiro.
Produção do
grupo europeu
no Rio de Janeiro
vai aumentar
40% na temporada
de verão 2010/2011
Todos os produtos da marca
são fabricados no Brasil, na fábrica do Rio de Janeiro. Para o
verão 2010/2011, a produção dos
protetores já teve início e deve
crescer 40%. Com o aumento do
poder aquisitivo do brasileiro, a
expectativa de Bianca é as classes
C e D adquirirem filtro solar Solar Expertise, é claro. ■ F.T.
32 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
EMPRESAS
Bloomberg
AUDIÊNCIA
EMERGENTES
60% dos americanos adultos reparam em
anúncios cujo celular é canal de resposta
Nokia prevê que Brasil, Rússia, Índia e China
vão ganhar relevância em seus negócios
Uma pesquisa realizada pela Mobile Marketing Association identificou
que 60% dos americanos adultos reparam em anúncios que incluem
o celular como canal de resposta. O levantamento mostra também
que proprietários do iPhone, da Apple, e jovens com idade entre
18 anos e 24 anos são os consumidores com maior probabilidade
de ter visto anúncios que permitem essa interação.
A Nokia, maior fabricante mundial de telefones celulares, espera que
Brasil, Rússia, Índia e China ganhem mais relevância para os negócios da
companhia, informou a agência Reuters. O diretor financeiro da empresa,
Timo Ihamuotila, declarou, em conferência em Helsinque, na Finlândia,
que a demanda doméstica deve impulsionar o crescimento da economia
dos quatro países, que compõem o chamado grupo dos Bric.
Henrique Manreza
NOVAS MOTOROLAS
Mark Moon, vice-presidente sênior da
Motorola Solutions tem a missão de
desenvolver estratégias para empresas
● No primeiro trimestre de
2011, a Motorola será dividida
em duas empresas abertas.
● A Motorola Solutions venderá
produtos para empresas e
governos. A Motorola Mobility
foca no consumidor final.
● Do faturamento de US$ 10,5
bilhões no primeiro semestre
deste ano, o que será a
Motorola Mobility contribuiu
com US$ 5,1 bilhões. A Motorola
Solutions faturou US$ 3,5
bilhões. A área de redes, que está
sendo vendida à Nokia Siemens,
representou US$ 1,9 bilhão.
Antes de divisão, Motorola enfrenta
ameaça de smartphones e tablets
Fabricante muda estratégia em função do avanço dos produtos para consumidores dentro das corporações
Carlos Eduardo Valim
[email protected]
A poucos meses de tornar-se
uma empresa independente, a
Motorola Solutions, divisão de
produtos de mobilidade (como
telefones celulares e rádios)
para empresas e órgãos públicos
da fabricante americana, luta
para evitar o avanço dos aparelhos originalmente voltados ao
consumidor final. Esses equipamentos, como telefones com
acesso à internet e os computadores tablets, a exemplo do
iPhone e do iPad, da Apple, caíram no gosto corporativo, concorrendo diretamente com
aqueles voltados para uso empresarial - o que ameaça os negócios da Motorola Solutions.
A divisão deverá ser elevada
à categoria de empresa para
poder focar no seu nicho, sem
ser prejudicada pelos resulta-
dos das vendas para consumo
do grupo, que sofrem quedas
seguidas nos últimos anos. A
Motorola Mobility ficará com
esse negócio, produzindo telefones celulares e conversores
de TV digital para consumidores finais. Ambas se tornarão
empresas independentes no
início do ano que vem e terão
ações negociadas em bolsa.
O movimento anunciado no
começo deste ano previa que a
unidade corporativa iria compor uma empresa, junto com a
divisão de equipamentos de redes de telecomunicações, a Motorola Network, que deixaria de
ser contaminada pelos maus resultados que a empresa vinha
tendo com os aparelhos para
usuários finais. Mas os planos
foram alterados quando o negócio de redes acabou adquirido
pela Nokia Siemens, em julho
passado, por US$ 1,2 bilhão.
O dinheiro da negociação
veio em boa hora, dando um fôlego de capacidade de investimentos à fabricante, para colocar de pé as estratégias para as
duas novas empresas.
Por outro lado, a Motorola
Solutions pode tornar-se mais
fraca, sem a integração com os
equipamentos de redes. No último trimestre fiscal, ela faturou
US$ 1,9 bilhão, com crescimento de 10% em relação ao mesmo
período do último ano. A área
de redes registrou faturamento
de US$ 967 milhões.
Uma das apostas para conter
os concorrentes será o aparelho
ES400, um híbrido de telefone
móvel e computador de mão,
com capacidade para acessar
sistemas empresariais e que
vem com proteção resistente a
quedas, que a empresa trará ao
Brasil este ano. O objetivo é
atingir as equipes de vendas.
Aparelho ES400 é a
aposta da Motorola
Solutions para
oferecer soluções
específicas
para o mercado
corporativo e vencer
a concorrência
O produto aguarda homologação da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) e
chegará no Brasil no quarto trimestre e há avaliação de produção local, na fábrica da empresa
em Jaguariúna, no interior de
São Paulo, onde são produzidos
rádios digitais e celulares.
Mais dispositivos
Além dos smartphones que ganham mercado cada vez maior,
uma série de computadores tablet deve chegar às lojas até o
início do próximo ano, aproveitando o interesse despertado
pelo iPad. A Cisco Systems prometeu lançar um equipamento
adaptado para usuários corporativos, mesmo caminho que deve
seguir a HP. “Há muitos dispositivos de consumo tentando entrar nas empresas”, afirma o
vice-presidente sênior de Motorola Solutions, Mark Moon. ■
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 33
Scott Olson/AFP
CONSUMO
FRANQUIAS
Pesquisa aponta que 81% das mulheres
querem adquirir algum produto tecnológico
Burger King é processado por acionista
que não concorda com o valor da venda
Pesquisa realizada com 712 mulheres no Brasil com idades entre 18 e 60
anos pela Sophia Mind, empresa do grupo Bolsa de Mulher, aponta que
81% das entrevistadas pensam em adquirir algum produto tecnológico
nos próximos seis meses. A TV de alta definição está no topo da lista
de intenção de compra de 45% delas, seguida por notebooks (29%),
máquinas fotográficas digitais (25%), netbooks (16%), videogames (13%).
O Burger King, que foi comprado pela 3G Capital por US$ 3,3 bilhões
no início deste mês, foi processado por um acionista que afirma que
o acordo subestima o valor das ações. Na negociação, ficou acertado
que a 3G Capital pagará US$ 24 por cada papel. O preço “é injusto e
repulsivamente inadequado ”, disse o acionista Roberto Queiroz em um
processo movido no tribunal de justiça de Delaware, nos Estados Unidos.
Nova Casas Bahia tem potencial
de até R$ 7 bilhões em sinergias
Constituição da empresa será concluída em novembro deste ano, mas absorção de todo potencial de sinergia ficará para 2013
Henrique Manreza
Regiane de Oliveira
Enéas Pestana (à esq.), presidente do Pão de Açúcar,
e Raphael Klein, presidente da Globex: faturamento
deste ano deve ser superior a R$ 18 bilhões.
Meta para o próximo ano é de R$ 20 bilhões
[email protected]
A celebração do acordo de associação entre Casas Bahia e Grupo
Pão de Açúcar (proprietário do
Ponto Frio) é de 4 de dezembro
do ano passado. E está previsto
para novembro deste ano a conclusão do processo de criação da
Nova Casas Bahia. As sinergias
desse processo levarão ainda de
12 a 18 meses para serem concluídas, porém, os valores de economia previstos superam em muito
as expectativas iniciais. No final
de 2009, levantamentos mostravam economia na ordem de R$ 2
bilhões com a união entre as duas
empresas. “Hoje trabalhamos
com um valor de R$ 4 bilhões até
R$ 7 bilhões em sinergias”, afirma o presidente do Pão de Açúcar, Enéas Pestana.
O levantamento da empresa
mostra que, a partir de um ano
modelo — quando o processo de
integração estiver concluído —,
as principais áreas com potencial
de economia são a gestão operacional e comercial (entre R$ 170
milhões a R$ 340 milhões por
ano); gestão de infraestrutura e
administração (de R$ 255 milhões a R$ 340 milhões/ano); e
gestão financeira e de capital (de
R$ 85 milhões a R$ 170 milhões/ano). “No último trimestre começamos a capturar sinergias e até 2012 devemos chegar a
50% do valor total”, afirma Pestana. Se 2012 será o ano modelo,
o executivo afirma que é possível. “Em 2011, vamos investir na
integração de processos”, diz.
Pestana garante que a unificação das operações está adequada
em relação ao perfil das duas empresas. “Quando adquirimos o
Ponto Frio, falamos em oito meses, mas após quatro meses de
trabalho, estávamos com tudo
praticamente concluído”, afirma. “Isso porque a empresa não
tinha cultura, não tinha dono, e
passou por muita transformações
nos últimos cinco anos”.
O momento é de aprendizagem para ambas as redes. “A Casas Bahia chama o cliente de freguês e isso faz parte da cultura
do Samuel Klein. Nós estamos
aprendendo”, afirma Pestana. A
Nova Casas Bahia, que começa a
operação com 1.023 lojas e 67
SUPOSIÇÃO
Diniz nega rumores e
demonstra decepção
Abilio Diniz, presidente do
conselho de administração do
Grupo Pão de Açúcar, negou
ontem, durante teleconferência
com analistas, que esteja
movimentando-se para comprar
os 50% do capital votante
do grupo pertencente à rede
francesa Casino. Ele afirmou
que a especulação causou
desconforto nos sócios franceses,
que teriam ficado “machucados e
tristes”, uma vez que têm 11 anos
de parceria com o Pão de Açúcar.
mil funcionários, nasce com um
DNA forte de vendas e operações
da Casas Bahia, mas com o modelo de gestão financeira do
Grupo Pão de Açúcar.
Os bancos terão de disputar a
carteira de crédito da empresa,
que conta com 9,2 milhões de
clientes e R$ 16 bilhões em crédito. Hoje, os cartões de marca
própria (private label) da empresa estão sob gestão de Bradesco e
FIC (Financeira Itaú-CBD). E os
acionistas parecem não ter dúvida quanto ao assunto: quem oferecer condições melhores levará
a carteira. “Os grandes bancos já
demonstraram interesse em
conversar com a gente”, afirma
Klein, destacando que teve conversas com Banco do Brasil Itaú e
Bradesco. ■
Leia versão completa em
www.brasileconomico.com.br
EVOLUÇÃO NOS NEGÓCIOS
Principais indicadores do grupo para a nova Casas Bahia
PROJEÇÕES
Vendas brutas
Margem bruta
Margem Ebtida*
Resultado financeiro
Investimentos
2011
R$ 20 bilhões
+ de 25,5%
4,5% a 6,0%
-3,5% a -4,5%
R$ 100 milhões a R$ 120 milhões
METAS A PARTIR DE 2012
Crescimento acima do mercado
+ de 26,5%
+ 7,5%
até -4,0%
–
* percentual sobre vendas líquidas
CARTÃO PRÓPRIO JUNTO COM BRADESCO E FIC TEM R$ 16 BI EM CRÉDITO
Casas Bahia
Ponto Frio/Grupo Pão de Açúcar
NÚMERO
4,7 milhões
4,5 milhões
PARTICIPAÇÃO NAS VENDAS
17% a 20% das vendas
27% a 35%
INVESTIMENTOS DE R$ 33,4 MILHÕES EM ABERTURAS EM 2011
Lojas
Rua
Shopping
Total
Aberturas 2011
Casas Bahia
429
90
519
10
Ponto Frio
397
107
504
5
Fonte: Empresa
34 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
CARREIRAS
Nem só de planos
de negócios vivem
os executivos
1
Segundo consultor de recursos humanos, dedicar tempo
a outras atividades ajuda a enfrentar desafios corporativos
João Paulo Freitas
[email protected]
Uma vez por mês, a agenda de
Sergio Vieira, diretor de desenvolvimento de negócios do Espírito Santo Property Brasil (ESPB),
braço imobiliário brasileiro do
Grupo Espírito Santo de Portugal,
é fechada para uma apresentação
que nada tem a ver com planos de
negócios. Na última dessas reuniões, diante de uma plateia de
30 pessoas, microfone em mãos,
o executivo conduziu o grupo
Sophisticated Swing em uma
noite dedicada ao músico Francis
Hime, cujas composições tornaram-se célebres na voz de Chico
Buarque e outros nomes da MPB.
A banda também é formada pelo
psicólogo André Growald (saxofone), o baterista profissional Edson Ghilardi e os empresários Rogério Guilger (contrabaixo) e
Clério Sant’Anna (piano), e se
reúne para tocar e cantar as músicas preferidas do quinteto.
Há três anos, esse ritual tem
se repetido, sempre no All of
Jazz, bar paulistano voltado aos
apreciadores do jazz e estilos
musicais afins. Vieira conta que
os momentos de descontração
proporcionados pela música o
ajudam a ser um profissional
mais atento aos aspectos humanos de sua carreira.
Altos escalões
Segundo Alfredo Assumpção,
presidente e sócio da empresa
de recrutamento de executivos
Fesa, a dedicação a um hobby
ou a alguma atividade cultural
é algo cada vez mais comum
nos altos escalões do mundo
corporativo. Segundo ele, essa
postura só traz benefícios para
os líderes empresariais, porque alivia as pressões do dia a
dia e também faz com que os
gestores sejam profissionais
mais completos, capazes de lidar com mais eficácia com os
aspectos racionais e emocionais dos negócios.
Formado em engenharia de
produção, Vieira tem uma traje-
“
Nasci tímido. Cantar
foi um treino contra
essa característica,
além de trazer
compensações
Sérgio Vieira,
diretor de desenvolvimento
de negócios da Espírito Santo
Property Brasil
tória de sucesso no mercado de
empreendimentos imobiliários.
Antes de ingressar na Espírito
Santo Property Brasil (ESPB),
em 2008, foi sócio da Local Imóveis e executivo por 15 anos na
Coelho da Fonseca. Segundo ele,
a ESPB conta com um portfólio
de empreendimentos de R$ 5,6
bilhões. A empresa foi criada no
final de 2008, fruto de uma parceria entre Oscar Americano,
ex-proprietário da CBPO — hoje
parte do grupo Odebrecht —, e
do Banco Espírito Santo, de origem portuguesa.
“Nasci tímido. Cantar foi um
treino contra essa característica, além de trazer outras compensações”, diz Vieira, que
também possui em seu currículo o longo tempo de atuação
no Sindicato das Empresas de
Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São
Paulo, o Secovi-SP, integrando
hoje o conselho consultivo da
entidade. “Quando comecei no
Secovi, ser solicitado a falar
durante algum encontro me fazia gaguejar, ficar vermelho e
transpirar”, relembra.
Dedicação diária
Arnaldo Rosa, diretor superintendente comercial da Total On
Demand (TOD), agência de
marketing integrada do Grupo
Totalcom, também dedica parte do seu dia à música. Mais especificamente uma hora. Ele e
seu baixo elétrico integram os
Warriors desde 2008, banda de
covers cujo repertório é formado por grandes sucessos do
rock dos anos 1960 a 1990.
Rosa, que começou a tocar
com 15 anos, diz que enquanto
toca um instrumento consegue
deixar todos os problemas de
lado. “Para mim é uma válvula
de escape, algo que me dá muito
prazer.” Para ele, essa dedicação o ajuda a ter uma vida profissional mais equilibrada, pois
controla a ansiedade e desenvolve a determinação, a disciplina e a concentração. ■
1 Sergio Vieira,
da Espírito Santo
Property Brasil,
com André
Growald (saxofone),
Rogério Guilger
(contrabaixo),
durante
apresentação
do grupo
Sophisticated Swing;
2 Arnaldo Rosa,
da Total On Demand:
uma hora de estudo
musical por dia;
3 Para Alfredo
Assumpção,
da Fesa, atividades
como dedicação
à música podem
ajudar a equilibrar
o lado racional
e emocional
da vida pessoal
e corporativa.
3
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 35
Yuri Arcurs/Dreamstime
Brasil investe R$ 200 mi em treinamentos
Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Coaching
(SBC) no Brasil, a área de treinamento de executivos movimenta em torno
de R$ 200 milhões. Nos Estados Unidos, esse número pode chegar a
US$ 2,4 bilhões. A grande diferença de valores entre os dois países se
explica pela falta de uma cultura do assunto, segundo o presidente da
SBC, Villela da Matta. “Infelizmente, no Brasil, muitas empresas ainda não
sabem o que é treinamento executivo e a sua importância para o negócio.“
Fotos: Murillo Constantino
2
Divulgação
A IMPORTÂNCIA DE SE TER UM HOBBY
1
2
3
4
O exemplo de Antônio
Ermírio de Moraes
Um momento para
aliviar a pressão
Racionalidade e
emoção em equilíbrio
Relacionamentos e
atitudes fortalecidos
Alfredo Assumpção, presidente
e sócio da empresa de
recrutamento de executivos Fesa,
considera que a dedicação a
um hobby ou a alguma atividade
cultural com regularidade é algo
cada vez mais comum nos altos
escalões do mundo corporativo.
“Costumamos saber pouco sobre
o que essas pessoas fazem,
mas há muitos executivos que
escrevem poesia ou que tocam
em bandas nos finais de semana”,
diz o consultor. Ele cita Antônio
Ermírio de Moraes, do Grupo
Votorantim, autor de três peças
de teatro, como exemplo de que o
trabalho não deveria ser a única
área de interesse do profissional.
“Quem se dedica só ao emprego
é, de certa forma, doente. É um
workaholic”, diz. “Felizmente,
hoje as pessoas prezam muito
a qualidade de vida”, acrescenta.
Para o presidente da Fesa,
o hobby é o momento que o
executivo tem para se distanciar
das pressões, cobranças e
preocupações do trabalho.
A pausa facilita a posterior
organização das ideias e também
pode ajudar a preservar a saúde
e a estabilidade emocional em
épocas de tensão excessiva.
“Quando é possível atuar naquilo
de que se gosta, o trabalho
torna-se uma diversão. Isso
permite ter uma vida mais
saudável e com qualidade”,
afirma o consultor. “Agora,
quem odeia o que faz pode
desenvolver rapidamente algum
tipo de problema. Nem todo
mundo consegue trabalhar no
que gosta. Alguns se sentem
oprimidos em seus empregos.
Por isso é preciso ter uma válvula
de escape, como um hobby”, diz.
Dedicar-se a um projeto
pessoal não é útil apenas
para aliviar o estresse da vida
corporativa. Envolver-se com
música, gastronomia, escrever
livros ou mesmo praticar
esportes são atividades que
ajudam o executivo a desenvolver
habilidades que podem melhorar
o desempenho profissional.
“Quem se dedica a esse tipo
de atividade acaba se tornando
mais humano, flexível e sociável.
Quem se preocupa apenas com a
rotina e com o trabalho ou adoece
ou leva os outros à loucura”,
afirma Assumpção, da Fesa.
“Há atividades que são altamente
inspiradoras e que fazem com
que a pessoa veja o mundo de
modo diferente. Nosso cérebro
tem um lado racional, mas
também tem um emocional.
É preciso equilibrá-los”, afirma.
Outra vantagem do lazer é
o fortalecimento das relações
pessoais. “Uma música própria
poderá ser tocada para a roda
de amigos, que muitas vezes são
outros executivos. Isso é legal,
porque a pessoa passa a ser
vista com mais empatia”,
diz Assumpção. O consultor
observa ainda que experiência
e qualificação continuam sendo
os principais quesitos analisados
para se avaliar um candidato,
mas aspectos comportamentais
também são analisados.
“As empresas buscam hoje menos
tecnicismos. Elas procuram
quem saiba servir e tenha
atitudes diferenciadas”, afirma.
“Há realidades que extrapolam
os domínios da empresa, mas
que contam muito. Por isso,
sensibilidade e visão ampla de
mundo pesam na hora da seleção.”
36 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
BASTIDORES CULTURAIS
CESAR GIOBBI
Este palco renascerá das cinzas do
Cultura Artística. Literalmente
Uma conversa com a cúpula da Sociedade
de Cultura Artística, para saber como
anda o projeto de reconstrução do teatro
ELES COMANDAM
A SOCIEDADE DE
CULTURA ARTÍSTICA
Claudio Sonder é presidente
do Conselho. Além disso,
dirige sua empresa, a Panorama
Consult e é membro do
Conselho de Administração
da Suzano Papel e Celulose.
Pedro Herz é presidente da
diretoria executiva, e é dono
da rede de Livrarias Cultura.
Os cargos do conselho
e direção da SCA são
voluntários. Gerald Perret
é superintendente da
SCA há 30 anos.
As imagens de agosto de 2008, que mostravam o
Teatro de Cultura Artística queimando até hoje me
emocionam. Para mim, era um templo que ruía.
Um ambiente onde eu tinha experimentado, durante pelo menos trê décadas de minha vida, as
melhores sensações, entregue ao som quase divino
saído de instrumentos de grandes virtuoses da
música, ou aplaudindo espetáculos teatrais de
qualidade nacionais e estrangeiros. O TCA fazia
parte da história da cidade, da minha história pessoal, como jornalista e como cidadão. Por isso, tenho acompanhado com o maior interesse os esforços e os planos da direção e do conselho da Sociedade de Cultura Artística, não só na manutenção
de uma programação excelente, ampliada por uma
preocupação social, mas no projeto de reconstrução do teatro. Uma reunião com a cúpula da SCA,
esta semana, exatos dois anos depois do incêndio,
me colocou a par dos progressos. Estavam presentes Claudio Sonder, presidente do Conselho, Pedro
Herz, presidente da Diretoria e Gerald Perret, superintendente do Cultura Artística há 30 anos.
“Resolvemos transformar uma fatalidade numa
oportunidade”. Com isso, Sonder resume e define a
personalidade guerreira de uma instituição que será
centenária em 2012, e que já era elogiada nos anos
30, por Mário de Andrade, pelo serviço que prestava
a São Paulo trazendo e promovendo música e cultura da melhor qualidade. “Construiremos o mais bonito teatro da cidade no melhor entorno cultural”,
prossegue ele, lembrando que a Prefeitura está empenhada na reforma da Praça Roosevelt e da própria
Rua Nestor Pestana, onde fica o Cultura Artística,
demolindo casas lindeiras e fronteiras, alargando a
rua, criando áreas verdes. “Dependemos da reforma
da Praça, devido à garagem. Eles farão uma garagem
para mil vagas, o que é imprescindível para o teatro.
A saída será quase em frente à Nestor Pestana. Não
temos nem espaço nem verba para construir uma
garagem subterrânea”, lembra Perret.
“
Resolvemos
transformar uma
fatalidade numa
oportunidade.
Construiremos
o mais bonito teatro
da cidade no melhor
entorno cultural
Claudio Sonder,
presidente do Conselho da
Sociedade de Cultura Artística
No momento, a fachada desenhada por Rino Levi, com o mural de Di Cavalcanti, que escaparam
do incêndio praticamente incólumes, estão sendo
restaurados, e o público pode acompanhar os trabalhos. A demolição do que sobrou do prédio começa até o fim do ano. “Já temos todas as permissões. Mas tudo anda muito devagar. Às vezes, por
causa dos ramos de uma árvore na calçada, que
atrapalham os trabalhos, temos de esperar semanas por uma aprovação de poda. Mas é preciso de
ter paciência, porque o Cultura Artistica tem de fazer tudo by the book”, conta Perret.
O projeto de Paulo Bruna, herdeiro intelectual de
Rino Levi, prevê um teatro que será o triplo do anterior, em tamanho, numa construção de cerca de 12
mil m², abrangendo também o terreno lateral que
servia de estacionamento. O teatro terá uma sala só,
para 1.400 lugares, com uma platéia de cerca de 760
lugares, dois mezzaninos de cerca de 300 cada, e camarotes laterais. E um palco muito mais profundo do
que o anterior, que atenderá a todas as artes cênicas.
“Poderemos finalmente ter balé”, diz Perret. A platéia terá a mesma profundidade, de 24 metros, por
sugestão de atores. “O Antonio Fagundes pediu isso.
Ele disse que no Cultura antigo, apesar da sala grande, ele conseguia ver o olho do espectador da última
fila. Essa intimidade é muito importante para o
ator”, conta o superintendente. Por isso, também, a
acústica foi estudada para atender tanto a música
quanto o teatro falado. É claro que o palco terá todos
os equipamentos mais sofisticados, e o prédio terá
camarins e salas de ensaio, e um imenso lounge no
térreo, com bar, para o conforto do público.
“Não sabemos se poderemos concluir a obra
para as comemorações do centenário. Mas certamente em 2013 ele estará pronto”, diz Sonder. Herz
mantém a esperança: “Se ficar pronto até 31 de dezembro de 2012, ainda vale para a festa do centenário”. Nada grave. A família Mesquita, que ajudou a
fundar o Cultura Artística, festejou o centenário de
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 37
Fotos: divulgação
Uma Bienal pronta a tempo
A 29ª Bienal Internacional de São Paulo está para abrir. A montagem fica
pronta no dia 17. No sábado 19 haverá brunch para o Conselho, direção
e funcionários. Antes disso entrarão os fotógrafos e os professores
credenciados. Os dias 20 e 21 serão só da imprensa. Na noite do 21, grande
festa para convidados, meio artístico, visitantes internacionais. De 22 a
24, a Bienal só abre para patrocinadores. E no dia 25 abre para o público,
com discurso de autoridades, e a possível presença do presidente Lula.
AGENDA
● Fica cartaz até o dia
5 de dezembro, a mostra
cultural Robert Wilson —
Video Portraits, no Santander
Cultural de Porto Alegre (RS).
● De 15 a 19 de setembro
acontece a 6ª edição do festival
Paraty em Foco, em Paraty (RJ).
[email protected]
No projeto de Paulo Bruna, um palco muito
maior e uma plateia com 300 lugares a mais
Henrique Manreza
Da esquerda para a direita, Pedro Herz,
Gerald Perret e Claudio Sonder
seu jornal, O Estadão, nas obras do prédio novo,
nos anos 70. A SCA pode fazer o mesmo.
O importante é que tudo caminha para o sucesso.
O orçamento da obra, que começou em R$ 75/80
milhões, já está por volta de R$ 90/100 milhões. “A
subida dos preços na área da construção civil tem
determinado uma revisão de valores”, diz Sonder.
Mas os diretores contam que já conseguiram levantar cerca de um terço do total, o que dá para
erguer o prédio. “A relação entre construção e recheio está em cerca de 40% e 60%. A parte mais
cara vem depois” prossegue o presidente do Conselho. Mas ninguém parece desanimado com isso.
Pelo contrário. Até a campanha de doações de
pessoas físicas teve sucesso ao ser lançada no ano
passado. Levantou cerca de R$ 2 milhões, com
doações de R$ 10,00 a R$ 250 mil. E pode ser retomada a qualquer hora. “A reação das pessoas é
surpreendente. Meus funcionários vieram me dizer que cada um queria contribuir com um tijolo”,
conta Herz, dono da rede de Livrarias Cultura. É
claro que os doadores terão contrapartidas, com os
nomes expostos, como se faz no mundo todo, mas
a direção ainda não planejou como isso será feito.
É importante contar que a gestão do Cultura Artística sempre foi exemplar. O teatro sempre se sustento sem dívidas. Durante uma década, seu aluguel
para a TV Excelsior ajudou a financiar as temporadas
artísticas. Mas a partir de 1970, quando foi devolvido,
alternava sua programação em geral no começo da
semana, com o aluguel do espaço para funções teatrais no fim de semana. Isso e mais a bilheteria sempre garantiram sua manutenção. A temporada artística é que precisa de patrocínios, que a SCA sempre
consegue, graças ao nome sólido que conquistou.
“Temos de agradecer esta solidez da instituição e o
valor de sua marca, muito, à gestão de José Mindlin,
que acumulou os cargos de presidente do Conselho e
presidente da diretoria durante muitos anos, até
morrer, no começo deste ano”, diz Sonder.
“Depois do incêndio, fizemos um planejamento
estratégico de longo prazo com cálculos de retorno.
Que indicava não só a reconstrução do teatro, como
está projetado, como a disseminação desta marca,
como fizemos agora com o teatro Cultura Artística
Itaim, que acaba de festejar um ano. Pretendemos
fazer o mesmo em vários pontos do país”, diz Sonder. Herz acrescenta que a idéia é manter o teatro do
Itaim, já que o novo terá apenas um palco. “Além
disso, ficou claro que temos de abrir o leque para um
público maior. Temos um compromisso de educação com a sociedade. Por isso, criamos o projeto
Ouvir para Crescer” continua Sonder. Peret explica:
“Temos feito de dois a três concertos por ano, gratuitos, de apelo mais popular, mas de qualidade, na
cidade e no interior, em espaços cedidos por clubes,
velhos cinemas, galpões, adaptados para a ocasião”. Essa é, segundo todos, uma vocação do Cultura Artística: manter e ampliar as platéias. Atrair os
jovens, o que não tem sido fácil.
A temporada de 2010 está quase no fim. Só faltam três concertos. “Mas tem sido maravilhosa”,
diz Sonder. Perret, que cuida da programação, garante que a de 2011 já está fechada, e será lançada
em novembro. E que a de 2012, que celebra o centenário, está bem alinhavada, mas não fechada. Se
recusa a adiantar qualquer atração de uma ou outra. Mas garante a mesma qualidade conhecida. E,
para 2012, atrações inéditas e a volta de importantes orquestras européias. “Mas tudo depende também das reformas da Lei Rouanet, que é importante para nós, embora não dependamos só dela. Temos conseguido manter os preços das assinaturas
inalterados nos últimos seis a sete anos, com o aumento dos patrocinadores”, diz Perret.
A Cultura Artística vai continuar a usar a Sala
São Paulo para seus concertos, enquanto espera
por seu teatro. Sua platéia cativa irá para onde a
SCA for. Por mais quantos séculos? ■
BREVES
A foto em foco na quarta
edição do SP-Arte/Foto
Foto do italiano Massimo Vitali
Foto de Kitty Paranaguá
Está em cartaz até domingo, no espaço
do nono andar do Shopping Iguatemi, em
São Paulo, a quarta edição do SP-Arte/Foto,
hoje a mais importante feira de fotografia
do país. Fernanda Feitosa, a organizadora,
reuniu 18 galerias, que expõem cerca de 500
obras de 170 feras do click, vivos e mortos,
brasileiros e estrangeiros. Para não perder.
Desculpem a informação errada
Na edição da semana passada eu
cometi um erro de informação no
texto da entrevista com Heitor Martins.
Quando citei Luiz Terepins, o descrevi
como presidente da AACC. Terepins
já foi da AACC. Hoje o presidente
voluntário é Eduardo de Almeida Carneiro.
Peço desculpas aos interessados e ao leitor.
Stephane Danna/AFP
Paris sem Lagerfeld
O estilista alemão Karl Lagerfeld cancelou
esta semana o desfile da grife que leva
o seu no me na Semana de Moda de Paris,
agendada para 3 de outubro. Lagerfeld
prefere se ocupar com o lançamento da
nova linha Masstige, junção das palavras
masse e prestige, mais barata, em
showrooms em Paris e Milao e na internet.
38 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
FINANÇAS
Fusões crescem 31%
e se aproximam
de recorde de 2007
Segundo cálculos da Price, operações envolvendo empresas
brasileiras devem chegar a 800, superando marca anterior à crise
Luciano Feltrin
[email protected]
O processo de internacionalização de empresas brasileiras e o
consistente retorno dos investidores estrangeiros às compras
foram os principais indutores de
fusões e aquisições entre janeiro
e agosto. No acumulado desses
meses, foram anunciados 502
negócios, volume 31% superior
ao registrado no mesmo período
do ano passado. Considerado
isoladamente, o mês de agosto
teve 65 operações, recorde para
o período, segundo dados da
PricewaterhouseCoopers.
E as perspectivas são otimistas
para daqui até o final do ano. Caso
o ritmo de negócios fechados seja
mantido — como tem ocorrido
nos primeiros dias deste mês —
será possível finalizar o ano com
800 transações, superando 2007,
quando aconteceram 721 , contabiliza o sócio de finanças corporativas da empresa, Alexandre Pierantoni. “Começamos o ano conservadores, mas a essa altura já é
natural afirmar que isso vai acontecer”, estima o especialista.
O setor de química e petroquímica, um dos que movimentaram
a maior parte das aquisições — 36
no ano —, deve continuar agitado. A oferta de ações da Petrobras
e a necessidade que toda a cadeia
de fornecedores terá de acompanhar a petrolífera no processo de
exploração do pré-sal são alguns
dos motivos para isso. De qualquer forma, o movimento de
compras continuará a contar com
empresas de diversos setores e regiões do país, aponta Pierantoni.
O capital nacional foi responsável por 62% das operações. A
internacionalização de companhias locais movimentou 17%
das transações anunciadas no
acumulado entre janeiro e agosto. Alguns dos destaques foram
os grupos JBS e Marfrig, que
compraram empresas em diferentes mercados como Estados
Unidos, Bélgica, Uruguai e Austrália, e a Gerdau, que foi às compras na Colômbia e no Canadá.
“
O país se tornou uma
espécie de segunda
matriz de empresas
estrangeiras para
levar à frente
aquisições na
América Latina
Mário Nogueira,
Sócio do Demarest
Os fundos de private equity,
habituados a comprar participações de empresas para levar
à frente consolidações, são o
principal indicador do retorno
dos estrangeiros. Eles participaram ativamente de 42% do volume total de negócios no ano.
No entanto, fundos capitaneados por gestores brasileiros
também têm se destacado nessa
modalidade. É o caso de BTG e
3G, que compraram, já em setembro, o Hospital São Luiz e a
rede de alimentos Burger King.
Outra demonstração da aposta da confiança na economia
brasileira foi a aquisição, pela
Starbucks, das operações de sua
franqueada no país.
Além de ter se tornado destino certo do dinheiro de estrangeiros, o crescimento do número de fusões também deu ao
Brasil um outro status, na avaliação de Mário Nogueira, sócio
do Demarest. “O país se tornou
uma espécie de segunda matriz
de empresas estrangeiras para
indicar e levar à frente aquisições na América Latina.”
O aumento da importância
do mercado brasileiro também
tem reflexos no interesse de alguns fundos em investir em
empresas em recuperação judicial. “Esse investidor procura
empresas frágeis e entram com
dinheiro e gestão para obter ganhos maiores do que em empresas sem essas falhas”, diz Marcos Fontes, do Porto Advogados.
Risco calculado
Também chama a atenção do levantamento da Price o fato de
que, mesmo em meio a um processo eleitoral, investidores não
tenham reduzido o apetite por
Brasil. Ao contrário. Algo muito
diferente do que ocorreu em
2002, às vésperas da primeira vitória de Lula. “A conclusão é de
que a possibilidade de rupturas
no cenário político é muito pequena. O mercado não considera
a eleição um risco adicional aos
inerentes a um processo desse
tipo”, pondera Pierantoni. ■
PRINCIPAIS OPERAÇÕES ENTRE EMPRESAS
ANUNCIADAS NO MÊS
Fusão das operações da TAM e da
LAN, formando a LATAM
Hypermarcas adquiriu a Mabesa
por R$ 350 milhões
BTG Pactual adquiriu a Coomex por
cerca de R$ 100 milhões
Quickfood, subsidiária da Marfrig,
adquiriu a fábrica de legumes e
vegetais congelados da Arcor por
US$ 3,4 milhões
Petrobras Biocombustível
adquiriu 50% da Bióleo por
R$ 15,5 milhões
Ernst & Young e Terco anunciaram
a união de suas operações no Brasil
Carlyle adquiriu as operações
da TriFill por cerca de
R$ 400 milhões
Starbucks adquiriu as operações
de sua licenciada no Brasil
(Cafés Sereia)
BR Investimentos anunciou aporte
de R$ 226,2 milhões
na Abril Educação
Grupo Multi adquiriu a rede Bit
Company e a escola Quatrum
Mastersaf, DGF Investimentos,
adquiriu a Lalur Informática
Totvs adquiriu a totalidade do
capital social da SRC Serviços em
Informática e franquias da Datasul
Casa do Pão de Queijo adquiriu a
rede de confeitarias O Melhor Bolo
de Chocolate do Mundo;
Gerdau adquiriu 49,1% da Cleary
Holdings Corp, na Colômbia, por
US$ 57 milhões e
participação que não detinha na
Ameristeel por US$ 1,7 bilhão
Fonte: PricewaterhouseCoopers
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 39
Andrew Harrer/Bloomberg
Iuane precisa flutuar, diz Geithner
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, disse
ontem que a China deve permitir que o iuane suba mais aceleradamente,
para mostrar aos parceiros comerciais que está cumprindo suas
promessas. “Honestamente, eles não deixaram a moeda se mover
muito até agora”, disse. “Eles sabem que estão apenas no começo
deste processo e gostaríamos que eles agissem mais rapidamente”, disse
o secretário em entrevista à TV Bloomberg.
AGENDA DO DIA
● Às 7h, a Fipe divulga a primeira
prévia do IPC de setembro.
● Às 8h, a FGV divulga o IGP-DI
de agosto.
● Às 9h, o IBGE divulga emprego
e salário industriais de julho.
● A China divulga a balança
comercial de agosto.
Bloomberg
Fundição da Ameristell, adquirida pela Gerdau, em mais um
passo de sua estratégia de internacionalização de negócios
■ CONSISTÊNCIA
Média mensal de operações
entre janeiro e agosto foi de
63
■ PRIVATE EQUITY
Participação desse tipo
de investidor no ano é de
42
%
■ TENDÊNCIA
Internacionalização responde
por boa fatia dos negócios
17
%
Transações cada vez mais sofisticadas
Advogados e estruturadores
de negócios buscam
modelo mais adequado para
contentar envolvidos
A consolidação setorial pela qual
passa a economia brasileira fez
surgir um curioso comportamento, repetido à exaustão a
cada vez que um negócio envolvendo grandes empresas é anunciado. Nesse tipo de operação, a
companhia adquirida faz questão de dizer que não foi vendida.
E a compradora, em um gesto
calculado e ensaiado com a outra
parte, se esquiva do natural direito de sair falando ao mercado
de que é a nova dona do pedaço.
Mescla de tentativa de domar a
vaidade de alguns fundadores,
que temem assumir que deixaram uma companhia após décadas à frente do negócio, com a
necessidade de ajustar as operações para reguladores e o órgão
antitruste, o comportamento
também tem forte lógica financeira, explicam advogados que
montaram o modelo societário
de algumas das maiores fusões e
aquisições ocorridas no mercado
brasileiro. “Um caso clássico foi a
vinda de um alto executivo da
Mittal ao Brasil em 2006 para
tentar convencer o mercado de
que a compra da Arcellor Brasil
era uma fusão entre iguais”,
lembra um advogado que acompanhou a operação de perto.
A Comissão de Valores Mobiliários entendeu à época, porém, que a operação era uma
simples aquisição. A decisão
custou US$ 5 bilhões a mais para
a empresa, que teve de estender
a oferta aos minoritários.
Caso mais recente, o negócio
envolvendo Pão de Açúcar e Casas Bahia é tido como emblemático. “Ainda que a operação se
caracterize pelo controle majo-
Estratégias são
planejadas para
acomodar vaidades
e montar a melhor
estratégia de
comunicação
entre fornecedores
e funcionários
ritário do Pão de Açúcar e tê-lo
seja algo muito relevante, o
nome da família fundadora da
Casas Bahia vale tanto no varejo
(para fornecedores e clientes)
que não se sai alardeando isso”,
comenta um advogado especializado no segmento.
Não é apenas no comércio
varejista que a troca de comando de empresas deixa o mercado
confuso. “Clientes e fornecedores querem saber se algo muda
na política comercial sob novo
comando e funcionários querem
entender qual será a cultura dominante”, afirma Fernando Luzio consultor especializado em
montar projetos para dar conta
dessas situações.
A questão da vaidade também
pesa. E aí uma curiosidade: fusões legítimas — aquelas nas
quais há junção de duas empresas
e o surgimento de uma terceira —
são muito comuns no Japão. Cul-
turalmente, nenhuma das envolvidas quer sair do negócio menor
do que entrou. No Brasil, no entanto, elas são mais raras. Até entre empresas que têm atividades
complementares, caso de BM&F
e Bovespa, que anunciaram o casamento em 2008, exemplifica
Eliseu Martins, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
“Pelas novas normas contábeis,
sempre há um comprador, que
tem de consolidar os números
das duas empresas.”
Se a lógica contábil é pragmática, a de gestão é um pouco mais
complexa, diz Felipe Borlido, sócio da boutique de negócios
Araújo Fontes. “Ainda que haja
sempre um comprador, é preciso
construir um discurso para não
fazer estragos. É como uma
guerra: o invasor nunca é bemvindo, ainda que demonstre
muita força”, compara. ■ L.F.
40 Brasil Econômico Sexta-feira,
Sexta-feira e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
FINANÇAS
POLÍTICA MONETÁRIA
Banco Central britânico mantém taxa
de juros pelo 18º mês consecutivo
O Banco da Inglaterra manteve as taxas de juros em 0,5% pelo 18º mês
consecutivo e não anunciou novas compras de ativos para estimular
a economia, em uma decisão amplamente esperada feita ontem.
Nenhum dos 60 economistas ouvidos pela Reuters na semana passada
previa mudanças na política monetária britânica, e a maioria não
vê alta nos juros até ao menos o segundo trimestre do próximo ano.
Reforma do Novo Mercado se
esquiva de pontos polêmicos
Empresas vencem briga para deixar de fora comitê de auditoria e mudança na definição de controle
Rafael Neddermeyer
Maria Luíza Filgueiras
Para Fraga, alguns pontos
rejeitados poderão
voltar à pauta no futuro
[email protected]
Chegou ao fim, e sem grandes
surpresas, a revisão de normas
de governança corporativa
para as empresas listadas na
BM&FBovespa. Após dois anos
de consulta ao mercado, discussões e revisões, os acionistas ganham em relação ao direito de voto e, paradoxalmente, também ganham as empresas que resistiam a mais custos
na conta de transparência.
Três pontos foram reprovados, justamente os considerados mais polêmicos e que provocariam maior mudança nos
segmentos Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2. O primeiro deles
era a aproximação ao modelo
europeu de definição de controle, em que o acionista que
atingir 30% do capital teria que
fazer oferta pública aos demais.
Segundo Armínio Fraga, presidente do Conselho de Administração da bolsa, a resistência
a esta regra se deve ao fato que
de ainda são poucas as empresas no país com capital pulverizado e esbarrou na visão das
empresas que têm acionista
controlador definido.
“Essa oferta faria a vez de
um mecanismo simplificado de
tag along, mas foi reprovado
por um número bastante significativo de companhias”, destaca Fraga, sobre os 60 votos
que rechaçaram a ideia. “O que
um grupo de empresas ponderou com a bolsa é que ainda é
cedo para essa mudança”.
Os outros dois pontos rejeitados foram a exigência de um
comitê de auditoria e o aumento no número de conselheiros
independentes nas empresas.
Sobre ambos Fraga acredita que
voltarão à pauta, mesmo que
dependam de uma coordenação regulatória, no primeiro
caso. Ele pondera que houve
uma preocupação das companhias com aumento de custos
— algumas empresas vêem sobreposição entre o comitê de
auditoria e o conselho fiscal já
existente, bem como o aumento de orçamento para conselheiros independentes.
Na avaliação do executivo,
Das sete alterações
aprovadas, destaque
para a proibição
de acumulação de
cargos de presidente
do Conselho
de Administração
e diretor-presidente
entretanto, não há sobreposição, já que o conselho fiscal faz
uma avaliação de passado e não
de prevenção para o futuro, e
que merece discussão a definição do que é um conselheiro independente. “Toda regra de governança, de certa forma, aumenta custo. Talvez as companhias não tenham visto o benefício, mas os investidores estivessem dispostos a pagar mais
por isso”, pondera Viviane Prado, professora da Direito GV.
Já entre as sete alterações
aprovadas, Fraga destaca a proibição de acumulação de cargos
de presidente do Conselho de
Administração e diretor presidente ou principal executivo,
válida para todos os níveis de
governança. “O segundo ponto
é a vedação, para companhias
do Novo Mercado e Nível 2, de
cláusula pétrea, que impede ou
impõe ônus não razoáveis ao
acionista e que é soberana à assembleia. Na nossa visão, é a assembleia quem manda, e por
isso essa regra não deve existir”,
destaca Fraga. Também fica vedada a inclusão das chamadas
“poison pills” — em ambos os
casos, para as companhias que
ingressarem na bolsa a partir de
agora, e não aplicável às que já
estão listadas.
Aliadas a essas duas alterações, também favorecem o acionista minoritário as definições
de que não pode haver previsão
em estatuto de limitação de número de votos de acionistas em
percentuais inferiores a 5% do
capital social, exceto em casos
de desestatização, e de que passa
a ser vedado, para Novo Mercado e Nível 2, o estabelecimento
de quórum qualificado para decisões em assembleia. ■
AVALIAÇÃO
✽
Ele não ficou
100% satisfeito
Fraga foi ponderado, mas
não escondeu sua frustração
com a resistência do mercado
em avançar mais no quesito
governança corporativa. Ele
destacou o engajamento das
empresas no processo, mas viu
características de “Brasil velho”
em algumas definições,
comparando ao Congresso, em
que prevalece a mentalidade de
grupos pequenos sobre interesses
coletivos. “Ficamos satisfeitos
com o resultado final, embora
não tenha sido exatamente
o que nós sonhamos”, conclui.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 41
Kirill Iordansky/Reuters
CRISE
MERCADOS
Mais estímulos podem ser necessários para
combater a desaceleração, segundo OCDE
Bolsas europeias atingem maior
patamar em quatro meses
Os bancos centrais podem ter de fornecer estímulos adicionais e,
em alguns casos, os governos podem ter de adiar os planos de
corte de déficits para combater uma desaceleração na economia
global durante o segundo semestre deste ano. A afirmação foi feita
ontem Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) em relatório divulgado ontem.
O principal índice de ações europeias atingiu ontem o maior nível em
mais de quatro meses, com a melhora da confiança após dados
econômicos encorajadores nos Estados Unidos e valorização dos bancos
pela expectativa de que as exigências de Basileia não serão tão rígidas.
O FTSEurofirst 300 encerrou em alta de 0,86%, para 1.081 pontos,
após alcançar 1.083 pontos, o maior patamar desde o fim de abril.
Carlos Eduardo Rodrigues/O Dia
Fraudes mais frequentes em seguros
de carros são a simulação de roubo ou
furto e o “empréstimo” de seguro
Seguros de vida e auto têm mais fraudes
Os dois ramos representam grande parte dos R$ 230 milhões em indenizações negadas por irregularidades comprovadas
Thais Folego
[email protected]
O nível de fraudes no mercado
segurador tem se mostrado estável nos últimos anos. É o que
mostram dados da Confederação
Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada,
Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), divulgados ontem. No ano passado,
dos R$ 18,9 bilhões de pedidos
de indenizações, R$ 230 milhões
não foram pagos pelas seguradoras por fraudes comprovadas.
Isso representa 1,2% do total de
sinistros avisados, um crescimento de 5,1% sobre as fraudes
registradas em 2008.
Os ramos que mais sofrem
com ações fraudulentas são os de
vida, automóvel e transportes
(apólice corporativa que cobre
riscos a que estão expostas mercadorias), que responderam por
88% das fraudes comprovadas no
ano passado (R$ 198 milhões). O
levantamento não inclui os ramos
de saúde e previdência privada.
No segmento de auto, as
fraudes mais frequentes são de
simulação de roubo ou furto e o
de “empréstimo de seguro”,
quando um segurado simula
uma colisão com o veículo batido de um conhecido que não
tem seguro, conta Lene Araújo,
diretor jurídico da Porto Seguro.
Segundo ele, na maioria dos casos, a ação não é de fraudadores,
mas de pessoas que por problemas financeiros têm a oportunidade de fraudar o seguro. “Já em
vida, por incrível que pareça, as
fraudes mais comuns são de
auto-lesão”, comenta Araújo.
Ainda maior
Os R$ 230 milhões de fraudes
comprovadas representam 0,7%
das receitas de prêmios de seguros, que totalizaram R$ 31,2 bilhões no ano passado, segundo a
CNSeg. A percepção, porém, é de
que as ações fraudulentas são
maiores, diz o superintendente
da Central de Serviços e Proteção
ao Segurado da CNSeg, Renato
Pita. “O combate a fraudes tem
várias etapas: a suspeita, a detecção e a comprovação. Muitas vezes a seguradora detecta a fraude,
mas não consegue comprová-la.
Nesse caso, o pagamento da indenização é feito mesmo assim”,
explica o superintendente.
Para se ter ideia, os sinistros
com suspeita de fraude totalizaram R$ 2,10 bilhões em 2009 —
equivalente a 11,1% dos sinistros
reclamados —, 9,9% acima do
volume de 2008. Araújo, da Porto Seguro, explica que as seguradoras utilizam mecanismos e
ferramentas para tentar identificar as fraudes já na entrada do sinistro. Além disso, também há
empresas especializadas e perícia técnica que as ajudam a levantar informações. “Para auto,
por exemplo, há perícias que
avaliam a dinâmica do acidente.
Há ocorrências que desafiam as
leis da física”, conta Araújo.
As seguradoras têm a obrigação legal de combater fraudes,
lembra Pita, da CNSeg. A Circular 344 da Superintendência de
Seguros Privados (Susep) diz
que “as sociedades deverão desenvolver estudos sobre o risco
de serem objeto de fraudes,
principalmente com relação aos
produtos comercializados e suas
práticas operacionais”.
“Quando a seguradora procura identificar um sinistro ela
tenta proteger a massa segurada, o princípio de mutualidade”, diz o diretor da Porto. As s
fraudes entram na conta do sinistro que compõe o preço do
seguro. “Quem acaba pagando é
o bom segurado”, diz Pita. ■
■ INDENIZAÇÕES
■ BARRADAS
Volume de sinistros
avisados durante
o ano passado,
segundo a CNSeg
Indenizações não
pagas pelas seguradoras
em 2009 por
comprovação de fraude
R$
18,9
bi
R$
230
mi
FRAUDES EM SEGUROS
Indicadores e série histórica
DOS R$ 18,9 BILHÕES
DE SINISTROS AVISADOS...
11,1%
1,5%
1,2%
Tiveram suspeita
de fraudes
Tiveram fraude
detectada
Tiveram fraude
comprovada
VALOR DE SINISTRO EM %
Suspeita de fraude
12
11,6
Fraude comprovada
11,1
10,8
9,9
10
Fraude detectada
7,6
8
6
4
2
0
1,9
2005
Fonte: CNSeg
1,6
1,4
2006
1,2
1,6
2007
1,4
1,9
2008
1,2
1,5
2009
1,2
42 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
FINANÇAS
Divulgação
CAPTAÇÃO
BNDES obtém € 750 milhões
com bônus de sete anos
O BNDES levantou € 750 milhões por meio da venda de bônus de sete
anos que ofereceram yield (retorno ao investidor) de 4,243% e cupom
(juro nominal) de 4,125%, de acordo com uma pessoa próxima ao assunto.
Os títulos foram colocados a 99,298% do valor de face. O spread (prêmio)
é de 200 pontos-base sobre as mid-swaps (referência para juro em euros).
BNP Paribas, Deutsche Bank e Credit Suisse coordenam a operação.
Henrique Manreza
Ritmo de crescimento
das contratações na
Caixa supera os 80%,
enquanto nos concorrentes
está em torno de 50%
RECORDE
R$
47,6 bi
é o total financiado pela Caixa
em 2010 (até 3 de setembro).
O valor é recorde histórico e
já supera todas as contratações
realizadas no ano passado.
LIDERANÇA
70%
é a participação da Caixa nos
financiamentos imobiliários em
2010 até junho, incluindo recursos
da poupança e FGTS. A fatia era de
71% em 2009 e de 50% em 2008.
Caixa eleva para R$ 70 bi projeção
de financiamentos imobiliários
Elevação é a segunda no ano. Se estimativa se concretizar, crescimento será de 70% em relação a 2009
Ana Paula Ribeiro
[email protected]
O forte ritmo de contratações de
financiamentos fez a Caixa Econômica Federal elevar suas projeções para os desembolsos nessa
modalidade de crédito para R$
70 bilhões em 2010. É a segunda
revisão no ano. Inicialmente, o
banco público trabalhava com
uma projeção de R$ 55 bilhões,
que subiu para R$ 60 bilhões no
primeiro semestre.
De janeiro até o dia 3 de setembro, os desembolsos para
compra da casa própria chegaram
a R$ 47,6 bilhões, cifra 87,6% superior à realizada em igual período de 2010 e acima dos R$ 47,05
bilhões feitos durante os 12 meses
de 2009. Caso a projeção de R$ 70
bilhões seja comprida, as contratações em 2010 ficarão 70% acima do registrado no ano passado.
O número total de contratos chegou a 773.247, o equivalente a
86,2% do total atingido em 2009.
Na avaliação da presidente da
instituição, Maria Fernanda Ramos Coelho, o estabelecimento
de uma política para o setor habitacional (o programa Minha
Casa, Minha Vida) e o aumento
do nível de emprego e renda são
os fatores que mais contribuíram para a elevação dos desembolsos e o consequente aumento
da projeção para o crédito imobiliário. “Contamos ainda com a
ajuda do setor privado, que passou a ofertar imóveis adequados
ao programa”, diz a executiva.
O programa foi lançado em
abril do ano passado, quando o
setor da construção civil enfrentava forte desaquecimento
devido à crise financeira que
eclodiu em setembro de 2008,
que dificultou o acesso ao crédito. Nesse cenário, a Caixa Econômica elevou ainda mais sua
participação nos financiamentos imobiliários, passando de
uma fatia de 50% do mercado
em 2008 para 71% em 2009.
Leonel Marques
Maria Fernanda
Ramos Coelho
Presidente
da Caixa
“Conseguimos deixar
o processo mais
fácil e simplificado
para as contratações”
Mesmo com as condições de
liquidez reestabelecidas, o banco
federal manteve a agressividade
nas concessões e detém uma fatia
de 70% em 2010 (até junho). Essa
participação leva em conta tanto
as operações que utilizam os recursos da caderneta de poupança
como aquelas feitas com o Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). “Imaginávamos que ficaríamos mais perto do patamar
de 2008, mas isso não aconteceu”, diz o vice-presidente de
governo da Caixa, Jorge Hereda.
O executivo garantiu ainda
que o banco, com o atual nível de
crescimento, conseguirá cumprir as contratações do “Minha
Casa Minha Vida”. Desde a criação do programa, foram contratadas 630.886 de unidades habitacionais no valor de R$ 35,85
bilhões. A meta é chegar a 1 milhão de unidades.
Dentro da faixa de menor
renda (zero a três salários mínimos), já foram contratados
292.229 unidades. Na de três a
seis, 261.840 e naquela que vai
até dez salários mínimos o número de contratos chega a
76.817. Hereda reforçou que no
caso da faixa inferior, as unidades habitacionais só começam a ser entregues nos últimos meses do ano, uma vez
que as obras tiveram início
após a assinatura dos contratos, que se deu a partir de setembro do ano passado.
Com a demanda futura por financiamento, a Caixa começa a
testar fontes alternativas de recursos. Até o final do ano, fará a
emissão de R$ 500 milhões em
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), que devem ser
distribuídos inclusive na rede de
varejo do banco. “Vamos testar
agora e depois entrar mais forte
no ano que vem”, diz. Hereda
conta que a Caixa possui R$ 20
bilhões em sua carteira que já
estariam prontos para a securitização. ■ (ver mais à pagina 24)
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 43
Sufi Nawaz/SXC
CRÉDITO
CÂMBIO
Banco Mundial concede US$ 40 milhões
para pequenos produtores da Argentina
Dólar fecha em queda
pelo sétimo dia consecutivo
A Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês),
braço do Banco Mundial, liberou US$ 40 milhões para que o Banco
de Galícia e Buenos Aires fomente um programa de empréstimos
a pequenos e médios produtores da Argentina. Metade dos recursos
será fornecida diretamente pela IFC, enquanto o restante sairá
dos cofres do Fundo para Desenvolvimento Internacional da Opep.
O dólar engatou a sétima queda seguida ante o real ontem,
diante das contínuas perspectivas de ingressos da moeda no país,
em mais uma sessão com atuação dupla do Banco Central. A moeda
americana fechou em baixa de 0,12%, cotada a R$ 1,723 na venda,
oscilando entre alta de 0,12% e queda de 0,17% ao longo da jornada.
A divisa teve a maior série de baixas desde o início de junho de 2009.
Banco investe em estrutura para
evitar gargalo no atendimento
Instituição aposta em canais alternativos para elevar o número de novos contratos de crédito imobiliário no Brasil
A Caixa Econômica Federal
tem reforçado a sua estrutura
para dar conta do crescimento
do volume dos financiamentos
habitacionais. Além da contratação de mais funcionários
para a área de análise, o banco
público tem apostado em canais alternativos, como os correspondentes bancários dedicados ao crédito imobiliário.
“Atualizamos os nossos processos tecnológicos para receber as propostas dos correspondentes, mas isso não quer
dizer que delegamos a ele o
processo de análise”, explica o
vice-presidente de governo da
Caixa, Jorge Hereda.
Na plataforma desenvolvida,
os correspondentes dessa modalidade de crédito, como imobiliárias, podem enviar por um
sistema na internet as propostas
de seus clientes e acompanhar a
evolução da análise. Dos 5866
correspondentes de crédito
imobiliário ativos da Caixa, 203
já fazem o processo via web. De
acordo com Hereda, no futuro
será possível reduzir o número
de dias para a aprovação dos
Murillo Constantino
Jorge Hereda
Vice-presidente de
governo da Caixa
“Queremos conceder
o financiamento em
um período mais curto
e ampliar a capacidade
de originação (realizar
novos contratos)”
contratos para menos de uma
semana. “Queremos ampliar a
nossa capacidade de originação
(realizar novos contratos).”
Os parceiros da Caixa já respondem por uma parcela significativa das contratações. Dos
R$ 47,6 bilhões desembolsados
para financiamentos imobiliários em 2010 (até 3 de setembro), R$ 15 bilhões foram contratos gerados em agentes parceiros, ou o equivalente a 31,5%
do total. Os correspondentes
dedicados a crédito imobiliário
são, muitas vezes, imobiliárias.
Outra iniciativa da Caixa para
evitar um gargalo no principal
produto de crédito do banco é o
reforço nas regionais, que possuem profissionais especializados na análise do crédito imobiliário não só para pessoas físicas, mas também para as construtoras que tomam recursos
para realizar um empreendimento imobiliário (crédito para
produção). Além disso, foi criada uma mesa “corporate”
(grandes empresas) em Brasília
para o atendimento das construtoras de maior porte. ■
A economia brasileira, o setor supermercadista e
PRINCIPALMENTE VOCÊ, CONSUMIDOR.
Inspiração é o que não falta para o nosso trabalho.
Compartilhar conquistas e inovações faz parte da história da APAS – Associação
Paulista de Supermercados. Com a posse da diretoria para o biênio 2010-2012
não podia ser diferente. Muito mais do que uma transição, esse momento representa
o início de uma grande jornada, com a implementação de 50 projetos prioritários,
para atender às novas demandas dos supermercadistas associados,
do Poder Público e dos consumidores.
Atualmente, nossa instituição representa 1.500 empresas que faturam em torno
de R$ 54,7 bilhões por ano e são responsáveis por cerca de 300 mil empregos diretos.
As novas iniciativas vão nos ajudar a fazer muito mais.
Acompanhe tudo bem de perto: www.portalapas.org.br
Conheça os novos representantes da APAS para o biênio 2010-2012:
Presidente
João Carlos Galassi
Supermercados Galassi - Campinas
Vice-presidentes e membros do conselho
Amauri Gouveia
Andorinha Supermercado - São Paulo
Anderson Molina
Supermercado Molina - Sorocaba
Antônio Gandra Couto Ferreira
Vip Supermercado - São Paulo
Antônio Massami Nagai
Supermercados Irmãos Nagai
Presidente Prudente
Aparecido Massanori Omote
Supermercado Neto - Presidente Epitácio
Armando Figueiredo Bezerra de Almeida
Grupo Carrefour - São Paulo
Armando Jorge Peralta
Santos
Aurélio José Mialich
Mialich Supermercados - Ribeirão Preto
Gilberto Antoniolli
Supermercados Barão - Campinas
Martinho Paiva Moreira
Supermercados D’Avó - São Paulo
Pedro Celso Gonçalves
Enxuto Supermercados - Campinas
Barnabé da Silva Almeida
Supermercados Joia - Guarujá
Hermes Kinshoku
Ricoy Supermercados - São Paulo
Omar Abdul Assaf
Supermercado Pirâmide - São Vicente
Pedro Lopes Brandão
Supermercados Irmãos Lopes - Guarulhos
Carlos Alberto Binato
Casa Avenida Supermercados - Assis
Jad Zogheib
Supermercados Confiança - Bauru
Omar Ahmad Assaf
Central Supermercados - Santos
Roberti José Catricala
Supermercados Laranjão
São José do Rio Preto
Carlos Ernesto Topal Ely
Walmart Brasil - Barueri
João Sanzovo Neto
Supermercados Jaú Serve - Jaú
Dinis Dias
Supermercados Pastorinho - São Paulo
José Carlos Novellini
Supermercado G Novellini - São Paulo
Orlando Morando (licenciado)
Supermercado Orlando Morando
São Bernardo do Campo
Ronaldo dos Santos
Covabra Supermercados - Itatiba
Domingos Felipe Bergamini
Supermercado Bergamais - São Paulo
José Flávio Cabrera Fernandes
Supermercados Superbom - Bauru
Palimércio de Luccas
Supermercado Luccas - Monte Mor
Sebastião Edson Savegnago
Savegnago Supermercados - Sertãozinho
Edivaldo Bronzeri
Supermercado Ki Legal - Jundiaí
Lúcia Morita
Supermercado Portal - São Paulo
Paulo Tadao Yokoi
Ricoy Supermercados - São Paulo
Suzana Sanzovo
Supermercados Jaú Serve - Jaú
Eduardo Kyoshi Kawakami
Supermercados Kawakami - Marília
Márcio Milan
Grupo Pão de Açucar - São Paulo
Paulo Tadayuki Hissatugu
Supermercado Camilópolis - São Paulo
Sussumu Honda
Ricoy Supermercados - São Paulo
Orides Russi
Russi Supermercados - Jundiaí
Roberto Longo Pinho Moreno
Sonda Supermercados - São Paulo
Rua Pio XI, 1200
Alto da Lapa
São Paulo
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siga-nos:
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44 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
INVESTIMENTOS
Mariana Segala
[email protected]
Com fundos, emissão de Certificados
de Recebíveis Imobiliários bate recorde
Os ativos financeiros lastreados no mercado
imobiliário se consolidam, a cada mês, como
um sucesso entre os investidores. Do lado dos
fundos imobiliários, o volume de ofertas registradas no ano — de R$ 2,2 bilhões — está
perto de bater o verificado durante 2009, de
R$ 2,9 bilhões. Já no mês passado, os papéis
que concentraram atenção foram os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), títulos de renda fixa compostos por créditos do
setor (fluxos de pagamentos de aluguéis ou
prestações de compra de imóveis). Foram
emitidos, em agosto, R$ 2,02 bilhões em
CRIs, recorde mensal histórico apurado pela
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Somente a Brazilian Securities, do grupo Brazilian Finance & Real Estate, levantou R$ 1,2
bilhões com a emissão desses papéis.
Os números, na avaliação da Anbima, refletem o forte desempenho do setor de construção civil — esse segmento, sozinho, foi o
responsável por quase 15% do volume total
levantado pelo mercado neste ano com a
emissão de ações e debêntures. “O CRI é
uma alternativa viável, o setor imobiliário
demanda muito investimento”, afirma o
vice-presidente da entidade Alberto Kiraly.
O estoque de CRIs em circulação no mercado
hoje é de aproximadamente R$ 15,3 bilhões.
Embora vantajoso para o investidor do
ponto de vista tributário, os certificados não
são um instrumento facilmente acessível aos
pequenos investidores. Os rendimentos obtidos nos CRIs são isentos do recolhimento de
Imposto de Renda. No entanto, o produto é
destinado, por regulação, somente aos investidores ditos “qualificados” — que detenham
pelo menos R$ 300 mil para aplicar em ativos
financeiros. Nas ofertas públicas, cada CRI
deve sair, justamente, por R$ 300 mil ou mais.
Por isso, o que tem ajudado na distribuição
desses títulos entre os investidores de varejo
são os fundos imobiliários, aos quais é permitida compra de CRIs desde novembro de 2008.
E assim deve continuar sendo ainda por um
bom tempo. “Não estamos trabalhando em
nenhuma iniciativa no sentido da popularização do CRI, mas os fundos podem auxiliar na
divulgação do instrumento”, diz Kiraly.
Fundos
Justamente o crescimento do mercado de
fundos imobiliários promete impulsionar
ainda mais a oferta de CRIs neste ano, principalmente porque há cerca de R$ 6,5 bilhões
em ofertas de cotas sendo analisadas pela
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Desse total, parte é formada por fundos dedicados, prioritariamente, ao investimento em
CRIs — caso dos fundos BTG Pactual Recebíveis Imobiliários I e II que, juntos, se propõem a captar R$ 2 bilhões. Em ambos os casos, cada cota da carteira deve sair por R$ 1
mil, valor muito mais acessível que os R$ 300
mil de um CRI. O primeiro fundo dedicado
aos certificados (Fundo de Investimento
Imobiliário Excellence) encerrou a distribuição das cotas, a R$ 100 cada, em março.
Para os investidores endinheirados e dispostos a desembolsar ao menos R$ 310 mil,
a carteira recomendada de renda fixa da
corretora XP para setembro sugere a compra dos CRIs da Brazilian Securites com
vencimento em 2039, que pagam juros de
7% anuais mais variação do IGP-M. ■
Divulgação
Kiraly, da Anbima: setor
imobiliário demanda
investimentos, o que
estimula emissão de CRIs
Ecorodovias
Energia
Com número do tráfego,
Itaú reforça visão positiva
Ativa considera negativo
reajuste para geradoras
A Itaú Corretora reafirmou,
nesta semana, a recomendação
de “outperform” (desempenho
acima da média do mercado) para
as ações da Ecorodovias, com um
valor justo estimado de R$ 14
por papel para o fim de 2011.
Em relatório distribuído aos
clientes em que comentam os
dados de tráfego entre janeiro
e agosto, os analistas Fernando
Abdalla e Renata Faber afirmam
que continuam a acreditar “que
o mercado não está pagando
pelos ativos logísticos e que a
aquisição da Columbia, além do
recente anúncio de investimentos
no Ecopátio Campinas,
representam eventos que deverão
possivelmente ajudar a melhorar
a precificação do segmento de
logística”. Os analistas destacam
que, excluindo os dados
específicos da Ecopistas (em uma
base pró-forma) e observando
apenas o mês de agosto, houve
um aumento de 17,3%, em termos
anuais no tráfego mensal.
“Esta expansão no tráfego
representa 2,3 vezes o nosso
crescimento esperado para o PIB
(Produto Interno Bruto) em 2010,
o que está acima da elasticidade
histórica de 1,5 vez”, avaliam.
De janeiro a agosto, o tráfego
aumentou 12,2% em termos
anuais (sem considerar a
Ecopistas), em relação ao mesmo
período de 2009. “Caso esta
tendência persista em setembro,
provavelmente deveremos
revisar para cima as nossas
estimativas para a companhia”,
acrescentam os especialistas.
O analista da corretora Ativa,
Ricardo Corrêa, considerou
negativos os resultados de
audiência pública realizada
na quarta-feira pela Agência
Nacional de Energia Elétrica
(Aneel). A audiência discutiu,
entre outros assuntos, a
metodologia de cálculo de uma
norma regulatória — componente
importante da composição
da tarifa de energia elétrica
cobrada pelas distribuidoras — a
ser aplicada no terceiro ciclo
de revisão de tarifas, que será
iniciado no quarto trimestre.
A nova taxa proposta pela
agência é de 7,15% ao ano.
A audiência, no entanto, não
é definitiva e ainda passa por
revisão e processo homologatório
da autoridade regulatória.
“A revisão dos termos e métodos
de cálculo regulatórios implica
em perda objetiva e imediata
de valor para todas as
distribuidoras”, afirma Corrêa.
“O novo número proposto pela
Aneel está 1,35 pontos
porcentuais abaixo de nossa
estimativa inicial de 8,5% ao ano.”
O analista ressaltou que, além
disso, a revisão do método de
calculo da taxa de remuneração
regulatória implica em um
“retrocesso no amadurecimento
do arcabouço regulatório”.
Na visão da Ativa, as
distribuidoras impactadas são
Coelce, Eletropaulo, Equatorial
Energia e Celesc. Entre as
empresas mistas, a corretora
destaca Copel, Cemig, CPFL Energia,
Energias do Brasil e Light.
MARFRIG
VAREJO
Debêntures Ações
Termina na segunda-feira o prazo
de preferência para subscrição
das sobras das debêntures de
emissão da empresa, com valor
nominal unitário de R$ 10 mil.
O prazo para integralização das
sobras será de até três dias úteis
contados do final do prazo. No
caso de acionista representado,
o procurador deverá portar
a documentação que comprove
os poderes de representação.
O acionista que desejar as
sobras de debêntures deverá
comparecer exclusivamente nas
agências do banco Itaú Unibanco.
Estudo da Spinelli Corretora
aponta as ações de Lojas
Americanas (LAME4) e Lojas
Renner (LREN3) como boas
opções para setembro. Além
da alta do consumo, num bom
momento da economia brasileira,
a Spinelli avalia que a cotação
de Lojas Americanas tende
a evoluir por conta do agressivo
plano de investimento da
companhia, de R$ 1 bilhão para
três anos. Já no caso da Renner,
a perspectiva favorável se
fundamenta na reestruturação
logística da companhia.
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 45
BOLSA
JURO
Giro financeiro
Contrato futuro
R$ 4,9 bilhões 11,29%
foi o volume financeiro registrado ontem no segmento
acionário da BM&FBovespa. O principal índice encerrou a
sessão com variação positiva de 0,33%, aos 66.624 pontos.
foi a taxa de fechamento do contrato futuro de DI com vencimento
em janeiro de 2012, o de maior liquidez ontem. O volume financeiro
atingiu R$ 36,37 bilhões neste contrato, em 418.330 negócios.
IBOVESPA
RENDA FIXA
Ação
Código
Mínima
ALL AMER LAT UNT N2
AMBEV PN
B2W VAREJO ON
BMF BOVESPA ON
BRADESCO PN
BRADESPAR PN
BRASIL ON
BRASIL TELEC PN
BRASKEM PNA
BRF FOODS ON
BROOKFIELD ON
CCR RODOVIAS ON
CEMIG PN
CESP PNB
CIELO ON
COPEL PNB
COSAN ON
CPFL ENERGIA ON
CYRELA REALTY ON
DURATEX ON
ECODIESEL ON
ELETROBRAS ON
ELETROBRAS PNB
ELETROPAULO PNB
EMBRAER ON
FIBRIA ON
GAFISA ON
GERDAU PN
GERDAU MET PN
GOL PN
ITAUSA PN
ITAUUNIBANCO PN
JBS ON
KLABIN S/A PN
LIGHT S/A ON
LLX LOG ON
LOJAS AMERIC PN
LOJAS RENNER ON
MARFRIG ON
MMX MINER ON
MRV ON
NATURA ON
NET PN
OGX PETROLEO ON
P.ACUCAR-CBD PNA
PDG REALT ON
PETROBRAS ON
PETROBRAS PN
REDECARD ON
ROSSI RESID ON
SABESP ON
SANTANDER BR UNT N2
SID NACIONAL ON
SOUZA CRUZ ON
TAM S/A PN
TELEMAR ON
TELEMAR PN
TELEMAR N L PNA
TELESP PN
TIM PART S/A ON
TIM PART S/A PN
TRAN PAULIST PN
ULTRAPAR PN
USIMINAS ON
USIMINAS PNA
VALE ON
VALE PNA
VIVO PN
IBOVESPA
ALLL11
AMBV4
BTOW3
BVMF3
BBDC4
BRAP4
BBAS3
BRTO4
BRKM5
BRFS3
BISA3
CCRO3
CMIG4
CESP6
CIEL3
CPLE6
CSAN3
CPFE3
CYRE3
DTEX3
ECOD3
ELET3
ELET6
ELPL6
EMBR3
FIBR3
GFSA3
GGBR4
GOAU4
GOLL4
ITSA4
ITUB4
JBSS3
KLBN4
LIGT3
LLXL3
LAME4
LREN3
MRFG3
MMXM3
MRVE3
NATU3
NETC4
OGXP3
PCAR5
PDGR3
PETR3
PETR4
RDCD3
RSID3
SBSP3
SANB11
CSNA3
CRUZ3
TAMM4
TNLP3
TNLP4
TMAR5
TLPP4
TCSL3
TCSL4
TRPL4
UGPA4
USIM3
USIM5
VALE3
VALE5
VIVO4
IBOV
*Ajustada por proventos, inclusive dividendos.
15,89
194,10
28,44
13,68
30,73
36,76
28,19
11,03
14,80
23,12
8,73
41,28
26,47
25,00
15,04
37,05
22,91
39,05
22,36
17,19
0,87
21,00
24,66
30,16
11,30
29,45
12,32
24,53
29,24
23,83
12,02
37,08
7,26
4,96
21,60
9,65
14,07
54,00
16,73
12,95
15,19
42,45
22,02
19,88
61,40
18,66
30,83
27,19
24,56
15,40
33,74
21,74
27,95
82,50
37,02
30,20
23,90
45,72
40,50
6,91
5,08
48,70
93,55
47,33
45,00
47
41,73
43,56
66352
Cotação (R$)
Máxima
Fechamento
16,44
195,59
29,25
14,00
31,08
37,39
28,48
11,19
15,40
23,52
9,04
41,95
27,00
25,48
15,20
37,83
23,83
39,97
23,20
17,66
0,89
21,29
25,00
30,88
11,64
29,95
12,65
24,98
30,35
24,30
12,27
37,78
7,40
5,08
22,14
10,00
14,27
54,76
17,08
13,28
15,60
43,05
22,29
20,63
63,18
19,00
32,03
28,14
24,75
15,96
34,30
22,00
28,42
85,30
37,97
30,60
24,21
47,49
41,80
7,03
5,14
49,38
94,93
48,28
45,67
48
42,28
45,00
66806
15,99
195,00
28,96
13,88
30,98
36,90
28,27
11,19
15,40
23,49
8,94
41,95
27,00
25,40
15,17
37,83
23,70
39,70
23,20
17,38
0,89
21,00
24,67
30,41
11,30
29,50
12,65
24,72
30,29
24,25
12,09
37,27
7,26
5,08
22,05
10,00
14,16
54,20
16,95
13,27
15,46
42,52
22,10
19,88
61,90
19,00
31,25
27,60
24,68
15,88
33,90
21,80
28,00
82,78
37,87
30,30
24,14
47,49
40,65
7,00
5,13
48,89
94,93
47,33
45,26
47
41,77
44,34
66624
-1,36
-0,28
2,15
1,68
0,78
0,03
0,04
0,72
3,70
0,95
1,25
0,99
1,31
2,42
0,26
1,39
3,95
1,28
4,13
-0,52
1,14
-1,27
-0,72
-1,78
-2,16
-0,67
2,02
-0,48
0,83
1,68
-0,58
-0,48
0,00
1,40
0,46
3,73
0,07
0,37
-0,24
2,79
1,98
0,05
-0,67
-1,78
1,29
2,26
-1,91
-0,83
0,73
3,25
0,18
-0,55
-0,39
-2,17
2,35
0,00
0,58
1,50
-1,81
0,29
0,79
-1,07
1,75
-0,98
0,22
0,23
0,14
1,12
0,33
-1,84
12,87
-39,25
16,77
4,14
-2,99
-0,55
-33,19
9,38
3,79
16,26
5,79
-1,31
6,63
2,53
3,88
-5,57
21,10
-3,14
8,13
-18,35
-17,91
-17,22
10,74
20,28
-24,53
-9,49
-14,28
-12,17
-4,00
5,06
-1,30
-21,85
-2,02
-7,90
-1,09
-8,46
40,58
-11,14
32,43
11,52
21,91
-7,92
16,26
-3,87
10,99
-23,51
-23,10
-8,29
5,39
-0,91
-7,17
3,29
51,49
4,29
-26,04
-27,99
-23,66
0,82
-2,10
3,11
2,06
21,86
-5,28
-8,11
-3,77
-0,20
-15,06
-2,86
Fonte: Economatica
IBOVESPA
(Em pontos)
66.800
66.650
66.500
Máxima
66.806,50
Mínima
66.352,84
Fechamento 66.624,10
66.350
Rentabilidade* (%)
No dia
No ano
66.200
Fonte: BM&FBovespa
11h
12h
13h
14h
15h
16h
17h
Data
ITAU PERS MAXIME RF FICFI
BB RENDA FIXA LP 50 MIL FICFI
BB RENDA FIXA LP ESTILO FICFI
CAIXA FIC EXEC RF LONGO PRAZO
CAIXA FIC IDEAL RF LONGO PRAZO
BB RENDA FIXA 5 MIL FIC FI
BB RENDA FIXA 200 FIC FI
BB RENDA FIXA 50 FIC FI
ITAU PREMIO RENDA FIXA FICFI
BB RENDA FIXA LP 100 FICFI
Rent. (%)
12 meses No ano
9/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
9/SET
9/SET
9/SET
9/SET
8/SET
8,67
8,60
8,59
8,03
7,51
7,40
6,25
5,75
5,36
5,26
Fundo
Data
BB REFERENCIADO DI ESTILO FICFI
ITAU PERS MAXIME REF DI FICFI
CAIXA FIC DI LONGO PRAZO
BB REFERENCIADO DI 5 MIL FIC FI
BB NC REF DI LP PRINCIPAL FIC FI
BB REFERENCIADO DI 200 FIC FI
HSBC FIC REF DI LP POUPMAIS
ITAU PREMIO REF DI FICFI
BRADESCO FIC DE FI REF DI HIPER
SANTANDER FIC FI CLAS REF DI
Rent. (%)
12 meses No ano
9/SET
9/SET
8/SET
9/SET
8/SET
9/SET
9/SET
9/SET
9/SET
9/SET
8,37
8,35
6,93
6,74
6,41
6,14
5,67
5,09
4,69
4,33
Fundo
Data
5,83
5,78
4,87
4,72
4,50
4,31
4,06
3,59
3,25
3,06
BB ACOES VALE DO RIO DOCE FI
CAIXA FMP FGTS VALE I
BRADESCO FIC DE FIA
BRADESCO BA FIC DE FIA
BRADESCO FIC DE FIA IV
BRADESCO FIC DE FIA MAXI
UNIBANCO BLUE FI ACOES
ITAU ACOES FI
ALFA FIC DE FI EM ACOES
BB ACOES PETROBRAS FIA
Rent. (%)
12 meses No ano
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
23,14
22,95
11,64
11,48
11,18
10,92
5,61
5,15
0,26
(16,86)
80.000
50.000
30.000
5.000
5.000
200
50
300
100
Taxa
Aplic. mín.
adm. (%) (R$)
1,00
1,00
2,00
2,50
2,47
3,00
3,00
4,00
4,50
5,00
ND
80.000
100
5.000
100
200
30
1.000
100
100
(4,10)
(5,10)
(4,90)
(4,99)
(5,04)
(5,02)
(8,63)
(10,28)
(11,93)
(23,05)
Taxa
Aplic. mín.
adm. (%) (R$)
2,00
1,90
4,00
4,00
ND
4,00
5,00
4,00
8,50
2,00
200
200
1.000
200
MULTIMERCADOS
Fundo
Data
REAL CAP PROT VGOGH 4 FI MULTIM
BB MULTIM TRADE LP ESTILO FICFI
ITAU PERS K2 MULTIMERCADO FICFI
CAPITAL PERF FIX IB MULT FIC
ITAU PERS MULTIE MULT FICFI
REAL CAP PROT VGOGH 3 FI MULTIM
ITAU PERS MULT MODERADO FICFI
ITAU PERS MULT ARROJADO FICFI
ITAU PERS MULT AGRESSIVO FICFI
SANTANDER FIC FI ESTRAT MULTIM
Rent. (%)
12 meses No ano
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
8/SET
9,64
8,75
8,59
8,58
8,35
7,99
6,92
6,87
6,70
6,37
7,01
5,92
5,41
5,99
5,53
3,09
3,04
2,23
0,43
3,42
Taxa
Aplic. mín.
adm. (%) (R$)
2,30
1,50
1,50
1,50
1,25
2,50
2,00
2,00
2,00
2,00
5.000
50.000
20.000
5.000
10.000
5.000
5.000
5.000
50.000
*Taxa de performance. Ranking por número de cotistas.
Fonte: Anbima. Elaboração: Brasil Econômico
SMALL CAP - SMLL
1.305
918
20.800
1.295
916
20.750
1.285
914
20.700
1.275
912
MIDLARGE CAP - MLCX
1.265
17h
1,00
1,00
1,00
1,10
1,50
2,00
3,00
3,50
4,00
4,00
AÇÕES
20.850
10h
6,09
5,97
5,96
5,60
5,24
5,19
4,40
4,07
3,73
3,72
Taxa
Aplic. mín.
adm. (%) (R$)
DI
IBRX-100
20.650
10h
Fundo
910
10h
17h
10h
17h
46 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
MUNDO
Pastor cancela
plano de queimar
cópias do alcorão
Presidente Barack Obama alertou ontem que queima do livro
sagrado islâmico poderia provocar ataques da Al Qaeda
O pastor cristão fundamentalista norte-americano, Terry
Jones, cancelou ontem seu plano de queimar cópias do Alcorão no sábado, aniversário dos
ataques de 2001 nos Estados
Unidos. A decisão ocorreu após
forte pressão internacional
contra o ato que pretendia protestar contra o radicalismo islâmico. Ontem, o governo Barack Obama chegou a discutir a
convocação do pastor para que
desistisse da ação.
Terry Jones, líder de uma
igreja protestante em Gainesville, na Flórida, disse ter feito um
acordo com líderes muçulmanos para alterar a polêmica localização de um centro cultural
islâmico e uma mesquita em
Nova York próximo ao local dos
ataques de 11 de setembro. Os
responsáveis pela construção do
centro negaram, no entanto,
que tenha havido qualquer
acordo com o pastor.
Ataques suicidas
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, havia alertado ontem que o plano do pastor da Flórida de queimar cópias
do Alcorão no dia 11 de setembro poderia provocar ataques
suicidas da Al Qaeda. Países
asiáticos fizeram um apelo a
Washington para que impedisse
a queima das cópias.
“Isto é um incentivo para o recrutamento pela Al Qaeda”, disse
Obama em uma entrevista ao
programa de televisão “Good
Morning America”, da TV ABC.
“Pode haver grave violência em
lugares como Paquistão e Afeganistão. Isto pode ampliar o recrutamento de pessoas que desejariam se explodir em cidades americanas ou cidades europeias.”
Terry Jones, líder de uma
igreja protestante de aproximadamente 30 membros em
Gainesville, Flórida, estava
planejando queimar cópias do
livro sagrado do Islã no sábado,
no nono aniversário dos ataques de 11 de setembro contra
Nova York e Washington.
Terry Jones
estava planejando
queimar cópias
do livro no sábado,
nono aniversário
dos atentados
de 11 de setembro
Sua ameaça assustou o mundo e aumentou as tensões sobre
o aniversário de 11 de setembro, que neste ano coincide
com o festival muçulmano de
Eid al-Fitr, que encerra o mês
de jejum, o Ramadã. Além disso, os Estados Unidos também
estão ultimamente envolvidos
no polêmico debate sobre a
construção de um centro islâmico próximo ao local dos ataques em Manhattan.
Clamor global
A Índia, país que sofre com conflitos sectários, havia pedido
ontem ao governo norte-americano que impedisse o pastor
Terry Jones de realizar seu plano. O presidente da Indonésia,
nação com a maior população
muçulmana do mundo, solicitou uma intervenção pessoal do
presidente Barack Obama.
“Esperamos que as autoridades dos EUA tomem ações
decisivas para impedir que
um escândalo seja cometido”,
disse em comunicado o ministro de Assuntos Domésticos da Índia, Palaniappan
Chidambaram. Ele pediu à
mídia que não publicasse fotos da queima dos livros.
Em Jacarta, um assessor do
presidente indonésio, Susilo
Bambang Yudhoyono, disse que
havia escrito para Barack Obama pedindo sua intervenção.
Limitação
Mas o presidente dos EUA disse
que pouco poderia ser feito, segundo a lei norte-americana,
para confrontar o pastor, além
de colocá-lo sob leis locais contra queimadas em público.
Para Terry Jones, a queima
do Alcorão seria uma forma de
confrontar o terrorismo islâmico. Seus planos, no entanto,
receberam ampla condenação
por parte de líderes religiosos,
políticos e militares dos EUA,
que afirmaram que a decisão
ameaçaria a segurança de soldados norte-americanos no
exterior. ■ Reuters
Sexta-feira e fim de semana,
Sexta-feira,
10, 11 e 10
12 de setembro, 2010 Brasil Econômico 47
Elza Fiúza/ABr
Mercosul quer integrar produção de autopeças
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e a ministra da Indústria
da Argentina, Débora Giorgi, reafirmaram ontem interesse dos dois
países em aumentar a produção de autopeças. Na abertura de seminário
sobre integração produtiva no Mercosul, os ministros disseram que
diferentes estratégias de integração já estão em estudo. Miguel Jorge citou
como exemplo as novas linhas de crédito de US$ 200 milhões oferecidas
pelo BNDES e pelo Banco de La Nación para empresas no setor.
Hannelore Foerster/Bloomberg
Scott Audette/Reuters
Pressão internacional levou
pastor Terry Jones a desistir da
queima de cópias do alcorão
SUSPENSÃO DE VOTO PARA QUEM VIOLAR META FISCAL
O presidente do Banco Central
Europeu (BCE), Jean-Claude
Trichet, disse em entrevista ao
Financial Times que os países
da zona do euro que violarem
as normas do grupo para
finanças públicas deveriam
ter seu direito de voto
temporariamente revogado.
Trichet também destacou
a necessidade de um “salto
quântico” na supervisão fiscal.
Ele rejeitou, porém, sugestões
de que um país da zona do
euro que não cumpra as
normas ficais seja excluído.
“Eu não defendo a exclusão
de membros, mas a suspensão
temporária dos direitos
de voto é algo que deveria
ser explorado”, afirmou.
OCDE prevê mais
estímulos ao G7
Em relatório o órgão prevê
que o ritmo de crescimento
no segundo semestre
será mais lento
Os bancos centrais podem ter de
fornecer estímulos adicionais e,
em alguns casos, os governos
podem precisar adiar os planos
de corte de déficits para combater uma desaceleração na economia global durante o segundo
semestre deste ano. A afirmação
foi feita pela Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em
relatório divulgado ontem.
Ao publicar novas estimativas de curto prazo para o grupo dos sete maiores países industriais do mundo, o G-7, a
OCDE afirmou que o ritmo do
crescimento econômico global
no segundo semestre deste
ano será mais lento do que o
previsto anteriormente.
Segundo a OCDE, o crescimento anualizado do Produto
Interno Bruto (PIB) do G-7 vai
se desacelerar para 1,4% no
terceiro trimestre e 1% nos
três últimos meses deste ano.
Isso vai se seguir a uma expansão de 3,2% e 2,5% no primeiro e no segundo trimestres, respectivamente.
Os números não são diretamente comparáveis com as avaliações divulgadas pela OCDE
em junho, já que são baseados
em informações diferentes. De
todo modo, eles mostram uma
Segundo a OCDE,
o crescimento
anualizado do PIB
do G7 vai se
desacelerar para
1,4% no terceiro
trimestre e 1%
nos três últimos
meses do ano
marcada redução nas expectativas. A nova avaliação da OCDE
prevê o crescimento anualizado
do PIB dos EUA em 2% e 1,2%
no terceiro e no quarto trimestres deste ano, menos do que a
previsão de 2,8% e 2,7%, respectivamente, publicada pela
OCDE em junho.
“Não está claro se a perda de
ritmo na recuperação é temporária (...) ou se é sinal de uma
maior fraqueza subjacente no
gasto privado em um momento
em que o suporte político está
sendo removido”, disse a OCDE
no relatório. Cada um desses
cenários exigiria respostas monetárias e fiscais diferentes, segundo a entidade.
Se as razões para a desaceleração na recuperação da economia global forem duradouras,
estímulos monetários extras
serão justificados e a consolidação fiscal poderá ser adiada. No
cenário mais otimista - em que
a desaceleração seria temporária - a retirada do suporte monetário deverá ser adiada por
alguns meses, enquanto a consolidação fiscal planejada deverá será mantida, de acordo
com o relatório elaborado pela
OCDE. ■ Agência Estado
48 Brasil Econômico Sexta-feira
Sexta-feira, e10fim
dede
setembro,
semana,2010
10, 11 e 12 de setembro, 2010
BRASIL ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A, com sede à Avenida das
Nações Unidas, 11.633, 8º andar - CEP 04578-901 - Brooklin - São Paulo (SP) - Fone (11) 3320-2000
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É proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da Empresa Jornalística Econômico S.A.
ÚLTIMA HORA
Distribuidoras de energia terão que
instalar postos nas cidades onde atuam
Jiane Carvalho
[email protected]
Editora executiva
Valter Campanato/ABr
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou
o novo código do consumidor relativo à distribuição de
energia. As novas normas, que passam a valer em dezembro, substituem o regulamento atual, de 2000, e
apertam as obrigações das concessionárias em relação
às áreas a que atendem. Uma das principais mudanças é
a exigência de que as distribuidoras instalem postos de
atendimento físico em todos os municípios em que
atuam. Os locais não poderão ter espera superior a 45
minutos, e devem ser instalados até setembro de 2011.
A resolução também reduz os prazos para ligação e
religação da eletricidade, que, hoje, é de três dias para
consumidores residenciais, e até dez dias no caso dos
grandes consumidores, como indústrias e grandes comércios. Os novos prazos passam a ser, respectivamente, de dois e sete dias. No caso de corte do fornecimento
por falta de pagamento, a Aneel criou um prazo máximo
de 90 dias para que o boleto não pago gere o desligamento. Caso o consumidor não seja notificado, neste
prazo, o corte não pode mais ser feito. O limite para o
corte após a notificação se mantém em 15 dias.
BC joga alta dos juros
para próximo governo
Segundo o diretor-geral da Aneel, Nelson Hübner,
as decisões foram tomadas com base em pareceres de
órgãos de defesa do consumidor, Ministério Público e
outras instituições. ■ Redação e agências
Rafael Neddermeyer
Governo pode agir para
conter a alta do real
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em Pernambuco que o governo irá tomar medidas para conter a
excessiva alta do real frente ao dólar. Ele não adiantou,
porém, quais seriam essas medidas. Segundo Mantega, o
processo de capitalização da Petrobras, que atrai grande
volume de investimento externo, pode ser o maior responsável pela valorização da moeda nacional. ■ AE
Shell e Basf revertem condenação bilionária
A Shell e a Basf conseguiram ontem no TST reverter, provisoriamente, uma condenação bilionária pela Justiça do
Trabalho de Paulínia (SP). O presidente do TST, ministro
Milton de Moura França, reduziu de R$ 1,1 bilhão para
R$ 100 milhões o valor a ser pago pelas duas empresas em
tratamentos médicos e indenizações a ex-funcionários de
uma fábrica de agrotóxicos no município. A fábrica,
inaugurada na década de 1970 pela Shell, foi vendida em
2000 para a Cyanamid, que em 2000 foi comprada pela
Basf. A unidade em Paulínia foi fechada em 2002. ■ AE
Murillo Constantino
Accenture e Microsoft juntas, de novo
A Avanade, empresa de serviços formada por Accenture e Microsoft, volta ao país depois
de 8 anos. Cem pessoas ligadas à Accenture serão transferidas para a nova operação, focada em serviços que envolvem tecnologia da Microsoft para clientes corporativos. No mundo, a Avanade deve faturar US$ 1 bilhão ao fim deste ano fiscal, encerrado em agosto. A
joint venture funcionou no Brasil por dois anos, entre 2000 e 2002. Segundo o presidente
da Microsoft Brasil, Michel Levy, a maior fabricante de software do mundo não competirá,
por meio da Avanade, com os seus 18 mil parceiros de serviços no Brasil. “Não vendemos
uma agulha no Brasil que não seja por parceiros”, diz. ■ Carlos Eduardo Valim
São raros os episódios em que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) — ao explicar a definição
da taxa básica de juros da economia — surpreende.
Ainda assim, o documento é fundamental para conduzir as expectativas do mercado, uma das funções
do Banco Central (BC) em seu papel de gestor da política monetária. Ontem, não foi diferente.
Ao divulgar os motivos para a manutenção da Selic em 10,75% ao ano na reunião da semana passada,
o colegiado lembrou sinais de arrefecimento da inflação, de expansão mais moderada da oferta de
crédito, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas, e também o fato de a confiança de
consumidores e de empresários se encontrar em níveis historicamente elevados, mas com alguma acomodação na margem. Mais importante do que explicar uma decisão já tomada, é sinalizar adequadamente os próximos passos do BC. Neste caso, o documento foi entendido como indicador de juros estáveis, ao menos no curto prazo.
A ata do Copom, divulgada ontem,
sinaliza que a Selic não deve subir
este ano. O mercado entendeu
que a taxa volta a subir em 2011
Ao sugerir que já havia atingido a taxa de juro
neutra da economia, o Copom informa que permanecendo a dinâmica de crescimento moderado e arrefecimento inflacionário, por ora a política contracionista está descartada. Como não poderia deixar
de ser, o colegiado faz o alerta de que o juro pode
voltar a subir, caso haja mudanças no cenário. É o
tipo de obviedade necessária.
A perspectiva de alta da Selic, com o documento
divulgado ontem, foi jogada para 2011, já sob as ordens de um novo presidente e, possivelmente, de um
novo comandante no Banco Central. A política monetária coordenada por Henrique Meirelles, ao longo
dos últimos anos, é considerada um sucesso. O próximo governo, seja ele qual for, já assume em janeiro
tendo que administrar uma expectativa de juros
mais elevados. No entanto, usando o mesmo expediente do BC, é bom lembrar que as expectativas altistas do mercado também podem mudar, acompanhando alterações de cenário. ■
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DESTAQUE
MAIS LIDAS ONTEM
Embraer garante linha de crédito de US$ 1 bi com bancos
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Começa era do acesso direto no pregão da BM&FBovespa
A fabricante de aviões acertou uma operação de
crédito de US$ 1 bilhão com 25 instituições financeiras
internacionais, assegurando recursos financeiros de
curto prazo a taxas pré-negociadas. O acordo envolve
a renovação da operação de crédito sindicalizado
de US$ 500 milhões já anunciada em agosto de 2006.
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Trabalhador sem qualificação vira artigo de luxo no Brasil
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ENQUETE
Os ativos
da Petrobras
devem
se recuperar
após a oferta
de ações da
companhia?
Sim
77%
Fonte: BrasilEconomico.com.br
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Não
23%
Outlook
SUPLEMENTO DE FIM DE SEMANA
BRASIL ECONÔMICO
10/SETEMBRO/2010
49
“A lista de
bestsellers brasileiros
está menos
intelectualizada
do que antes.
Não é mau sinal”
Luiz Schwarcz,
FOTO MURILLO CONSTANTINO
escritor e editor
da Companhia das Letras
2 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
PROGRAME-SE
O melhor da semana
Dez sugestões imperdíveis em cultura, gastronomia,
esporte, moda e viagens
FOTO DIVULGAÇÃO
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FOTO ANA CRISTINA CESAR
FOTO NANA MORAES
TEXTO E EDIÇÃO D E N I S E B A R R A
O JAZZ BRASILEIRO
DE DIANA KRALL
PETER FRAMPTON
EM QUATRO CAPITAIS
ZÉ GERALDO GRAVA
DVD EM SÃO PAULO
Um festival de teatro
pequeno e notável. É o mais
antigo do Rio e traz um
mosaico da produção
nacional de qualidade. Serão
apresentadas, gratuitamente,
sete das cem peças inscritas:
O Avarento (RS), Cru (DF),
A Metamorfose (PE), Rosa
de Cabriúna (SP), Orire (RJ),
Trapa Rasa (RJ) e Hay
Amor (SP). O júri é composto
por Pedro Sayad, Sergio Fonta
e Sura Berditchevsky. Este
ano, a homenageada
é a atriz Marieta Severo.
De 14 a 23/9, na Casa de
Cultura Laura Alvim, Rio.
O POA em cena, um dos
maiores festivais do Brasil,
traz ao país a exposição
Voom Portraits, de Bob
Wilson, em que Brad Pitt
toma chuva de cueca. São
25 atrações internacionais.
O lituano Eimuntas Nekrosius
apresenta a peça O Idiota,
de Dostoiévski. Da Argentina,
Antígonas, com a diva Ingrid
Pelicori. Federico Luppi
(ator do filme O Labirinto
do Fauno) está na peça
Por tu Padre. O ator
e diretor Paulo José (foto)
leva Um navio no espaço.
Até 27/9, em Porto Alegre.
A admiração da canadense
Diana Krall pela bossa nova
começou na infância, quando
ela se encantou por um disco
de Sergio Mendes da coleção
de seu pai. No último
trabalho, Quiet Nights,
de 2009, Diana teve como
arranjador o alemão Claus
Ogerman, que trabalhou com
Tom Jobim e João Gilberto.
Para a formação dessa
sofisticada cantora e pianista,
a música brasileira é tão
importante quanto o jazz.
Dias 13 e 14/9, em São
Paulo, 18/9 em Brasília,
20/9 no Rio.
O cantor dos sucessos
Breaking All The Rules
e Show Me The Way foi
um dos primeiros a fazer
a guitarra “falar”. Ele
serviu de inspiração, anos
depois, para Slash
(Guns n’ Roses), Richie
Sambora (Bon Jovi) e David
Grohl (Foo Fighters).
Frampton é um dos grandes
roqueiros dos anos 70, mas
seu primeiro Grammy só
veio décadas depois, com
o instrumental Fingerprints.
Dia 11/9 no Rio, 14/9 em
Porto Alegre, 17/9 em SP,
18/9 em BH.
O cantor e compositor Zé
Geraldo gravará um novo DVD
ao vivo, o segundo da carreira
de mais de 30 anos. Ele
contará com a participação de
sua filha, a também cantora Nô
Stopa e do músico Chico
Teixeira, filho de Renato
Teixeira. No show de domingo,
Zé Geraldo também receberá
os parceiros Xangai, Landau e
Geraldo Azevedo. O repertório
resgata músicas consagradas
da trajetória do artista mineiro,
além de duas canções inéditas.
De hoje a domingo,
no Auditório Ibirapuera,
em São Paulo.
FOTO DIVULGAÇÃO
FOTO PRISCILA PRADE
FOTO DIVULGAÇÃO
FOTO DIVULGAÇÃO
EM POA, TEATRO
EM LARGA ESCALA
FOTO DIVULGAÇÃO
TEATRO INTIMISTA
NO RIO DE JANEIRO
GRUPO DE DANÇA DO
JAPÃO SANKAI JUKU
CORPO VIVO, DE
IVALDO BERTAZZO
BIENAL DE DESIGN
EM CURITIBA
NOVO RESTAURANTE
NA CONSOLAÇÃO
VERRINES
NO CANTALOUP
Esqueça tudo o que você
já viu sobre dança. O butô
nasceu no Japão no pós-guerra e ficou conhecido
como a dança das trevas.
O estilo ganhou o mundo
com temas polêmicos e uma
estética impactante. Com o
tempo, a arte do grupo Sankai
Juku tornou-se mais
meditativa. No palco, oito
homens de cabeças raspadas
e corpos totalmente cobertos
de pó branco. O espetáculo
Tobari celebra o ciclo da vida.
Lento, lento... lindo, lindo.
De 14 a 16/9, no Teatro
Alfa, em SP.
Como seria se o homem
tivesse a capacidade de
regeneração dos répteis ou
a velocidade do leopardo?
E se a visão humana fosse
como a de uma coruja? O que
fazer quando a mente está
livre, mas o corpo envelhece?
Nossas limitações e os
pontos fortes estão no
espetáculo de dança Corpo
Vivo, de Ivaldo, que tem
também pitadas de humor. A
nova produção do autor de
Milágrimas tem 17 bailarinos,
um ator e uma cantora lírica.
De hoje a 17/10,
no Sesc Pinheiros, em SP.
Como projetar, produzir,
consumir e satisfazer
a demanda do mundo
contemporâneo sem
comprometer o futuro do
planeta? Esse é o principal
questionamento da Bienal
Brasileira de Design 2010,
que ganhará corpo na capital
paranaense. Mostras,
seminários, fóruns, workshops
e ações educativas estão no
evento, que tem curadoria
de Adélia Borges. Devem
passar por lá mais de 250 mil
visitantes, entre profissionais
de design e público leigo.
De 14/9 a 31/10, em Curitiba.
Os proprietários aproveitaram
a experiência em restaurantes
nos Estados Unidos e na Itália
para abrir, no bairro da
Consolação, o Becco 388. Com
jeitão de Manhattan, o
sobrado oferece cozinha
contemporânea. Para abrir
o apetite, atum com tomate,
abacate e chips de batata (foto).
Experimente também
o divertido “raviolão do dia”.
A influência americana está,
entre outros pratos, no steak
alto de filé mignon na grelha
com fritas e molho béarnaise.
R. Mato Grosso, 388,
em São Paulo.
Pequenos copos de vidro
servem de suporte para as
delícias que o restaurateur
Daniel Rolim Sahagoff trouxe
de suas viagens pela Europa.
Geralmente doces, as verrines
do Cantaloup aparecem
também salgadas. Prove a
mousse de avocado com cubos
de truta defumada ao pesto
de dill (foto), por R$ 28. Outra
boa surpresa é o novo menu
de sobremesas, criado pelo
pâtissier francês Bertrand
Busquet. Peça a goiaba e coco
com tapioca cremosa,
goiabada e limão, por R$ 26.
R. Manuel Guedes, 474, SP.
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 3
Cardápio
10.9.10
No jornalismo, estar perto demais de algo
precioso é sempre meio delicado. Muitas vezes
a gente deixa de noticiar para não parecer tirar
vantagem. Noutras, a notícia simplesmente nos
atropela. Isso acontece esta semana, em que não
posso deixar de destacar a honra de ter uma
colunista do naipe da Lilia Moritz Schwarcz 4,
de novo finalista do prêmio Jabuti, conquistado
outras vezes. Desta vez, concorre com o muito
conveniente Um Enigma Chamado Brasil, com
André Botelho, editado pela Cia. das Letras. E aí
a situação se repete, pois também não deu para
deixar de entrevistar o escritor Luiz Schwarcz
(26) que, tirando o fato de ser marido da Lilia,
é o homem que lidera um dos maiores sucessos
editoriais do país, a Companhia das Letras. E,
para me apertar de vez, os dois ainda vêm a ser
sogros do Luiz Henrique Ligabue, um repórter
que como poucos é capaz de transformar meras
alcachofras (26) em história e poesia (e receita).
Mas isso fica só entre nós, OK? Phydia de Athayde
4 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
IDEIAS FORTES
Lilia Moritz Schwarcz
Ouviram do Ipiranga
às margens plácidas...
REPRODUÇÃO
Com o objetivo
de elevar o herói,
o artista castiga
a geografia, cria
uma espécie de
colina improvisada
— em região
conhecidamente
plana —, e ainda
desloca um tímido
“riacho” do
Ipiranga, onde os
cavalos pisoteiam
a água. Já Pedro I
surge imóvel,
tal qual estátua
equestre, fazendo
jus ao cânone
da pintura acadêmica
de história.
A observá-lo apenas
um caipira, que
faz as vezes do povo
e, passivo, anota
a movimentação
Sete de setembro é data que não se esquece. Ainda
mais quando implica desfrutar de feriado em plena
terça-feira, garantir uma ponte fácil na segunda e, de
quebra, ganhar uma semana mais curta, já que a sexta-feira chega logo. Mas confesso que nunca engoli
essa data. Diferente de outros países, onde o ato de
independência é celebrado de maneira cívica, por
aqui apresentamos uma reação meio ambivalente,
culpada até, com relação ao famoso evento.
Em primeiro lugar, somos uma República estranha, já que nosso hino nacional não é o da República,
mas sim aquele criado durante a Monarquia. O famoso “Ouviram do Ipiranga”, que durante muitos
anos eu pensava tratar-se de um samba chamado
Virandú, foi melodiado e escrito durante o Império,
e, dizem, pelo próprio Pedro I.
Por outro lado, causa certo estranhamento o próprio ato de fundação. Sabemos que nosso príncipe
não estava em missão oficial, e nem acompanhado
por tropas de elite; ninguém devidamente uniformizado. Ao contrário, voltava de Santos, local onde havia visitado a Marquesa, e ao que tudo indica não andava bem de suas funções estomacais. Mito ou não, o
fato é que as águas do Ipiranga podem ter sido providenciais. Além do mais, não se viajava naquela época
à cavalo, e sim de burro; animal mais apropriado para
longas distâncias e estradas pouco cuidadas. Por fim,
não havia povo algum para escutar a famosa frase do
futuro imperador. “Independência ou morte” é brado de impacto, mas não tanto na ausência de público.
Fico me perguntando, assim, por que tanto cenário se tudo não passava de simulacro. Como diz o
historiador Sérgio Buarque de Holanda, temos aí
“muito lastro para pouca vela”, o que talvez explique
o parco efeito que esse episódio produz entre nós. É
certo que, nas escolas, tanto o evento como a conhecida tela de Pedro Américo são ainda motivo para
muita retórica e exercício de moral e cívica. Não há
livro didático que não use a obra como ilustração, e
por isso mesmo vale a pena entender como até mesmo um quadro é passível de desconfiança.
Longe de ser produzido no calor da hora, o Grito
do Ipiranga foi terminado apenas em 14 de julho de
1888; pouco antes do final do Império. Além do mais,
a tela é resultado de encomenda expressa, feita pelo
governo de Pedro II nos idos de 1886. Naquelas alturas, o monarca ainda pouco preocupado com sua
própria sorte (que estava para mudar) andava mais
empenhado em reabilitar a imagem de seu pai, muito castigada por conta de seus humores autoritários,
e por ter buscado tolher a participação de políticos
nacionais dos rumos do país recém-independente.
Numa clara citação das telas do artista francês Ernest Meissonier, um dos cultores do mito de Napoleão, nesse caso é Pedro I que surge na mesma posição ereta e altiva; imortalizado pelo exemplo do general corso. Mais ainda: com o objetivo de elevar o
herói, o artista castiga a geografia, cria uma espécie
de colina improvisada — em região conhecidamente
plana —, e ainda desloca um tímido “riacho” do Ipiranga, onde os cavalos pisoteiam a água. Já Pedro I
surge imóvel, tal qual estátua equestre, fazendo jus
ao cânone da pintura acadêmica de história, que
imortaliza seus personagens dando a eles aspectos
etéreos. A observá-lo apenas um caipira, que faz as
vezes do povo e, passivo, anota a movimentação.
Como se vê, a tela tinha tudo para agradar: grandiosidade, técnica, impacto, tamanho e autoria. Afinal, a essas alturas, Pedro Américo era um dos queridinhos do Imperador, e devia a ele sua especialização
e viagens ao exterior. Mas o destino de vez em quando prega poucas e boas. A tela seria apresentada ao
público apenas em 1889, momento em que d. Pedro
II pretendia afirmar a força do sistema imperial, a
partir da exposição da figura recuperada do pai. Porém, e como todos sabem, esse seria o ano final da
monarquia, e a vida da bela paisagem patriótica parecia consagrada ao fracasso.
O quadro acabou embrulhado em uma sala da Faculdade de Direito, e assim permaneceu até os idos
de 1895, quando foi finalmente inaugurado no Museu do Ipiranga; onde se encontra até hoje. Mas a
obra ganharia, em tempos republicanos, nova roupagem e tradução. Quando reaberta ao público, foi
inaugurada como um monumento em homenagem a
São Paulo. D. Pedro I virava “cultor” da brava gente
paulistana, e o caipira aparecia como bandeirante;
esse grande desbravador de nossos sertões, um
aventureiro intrépido, sempre pronto a novas conquistas. Sabemos que nem Pedro I era tudo isso, e
muito menos a figura do bandeirante, que tem passado por grande revisão histórica.
Mudando um pouco o sentido do ditado, é possível dizer que “todo tradutor é um traidor”. Cada
época constrói suas próprias verdades e revê velhos
fatos com lentes atuais. Ao concordar com a nova
versão, teríamos que apostar que o “brado retumbante” foi um ato da estirpe desbravadora paulistana, e que Pedro I, se não fosse português, escolheria
ficar por aqui e ganhar novos ares. Si non é vero...
Lilia Moritz Schwarcz é professora titular do Departamento de
Antropologia da USP. É autora de O Sol do Brasil
(Companhia das Letras, Prêmio Jabuti 2009), entre outros.
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 5
CRÔNICA
Humberto Werneck
Minha amiga
heavy metal
— Ah, meu querido, desta eu não escapo...
Hilda Hilst era mesmo bem dramática, punha um peso excessivo nos pequenos infortúnios, e eu a conhecia o bastante para não tomá-la tão ao pé da letra. Mas agora a
situação parecia ser de fato muito preocupante: ela me ligava do hospital, aonde fora
parar com problemas no coração.
— E o pior de tudo, meu querido, é que eu vou perder para esse padre!
“Esse padre” era o cardeal Paulo Evaristo Arns, com quem a escritora concorria ao
Juca Pato, o troféu que a União Brasileira de Escritores concede a quem seja eleito por
seus membros como Intelectual do Ano. Na reta final, em 1989, estavam Canto do
Povo pela Paz, do cardeal, e os belos poemas de Amavisse, de Hilda Hilst.
— Não me deixe perder para esse padre! — choramingava ela, naquilo que poderia
ser o seu leito de morte. Pedia a minha ajuda para evitar a derrota. Que eu não apenas
lhe desse meu voto como também, convertido em cabo eleitoral, saísse em busca de
outros em seu favor.
O problema, ponderei, é que eu não era sequer filiado à UBE.
— Pois se inscreva, meu querido — cortou ela com voz mansa, persuasiva —, porque eu não vou aguentar a humilhação de perder para esse padre...
O que a gente eventualmente não faz por alguém em apuros? Cidadão de temperamento nada gremial, lá fui eu me filiar à UBE, ao mesmo tempo em que me punha a
cabalar votos para Hilda Hilst. Não tardei a perceber que já largava em desvantagem,
pois no campo adversário o cabo eleitoral era ninguém menos que meu amigo Frei
Betto, influente não apenas nas Alturas como na massa terrena dos votantes. Não me
lembro quantos votos teve Hilda, mas duvido que eu tenha conquistado para ela mais
de dois ou três. Previsivelmente, venceu “esse padre” — e foi temendo pelas coronárias de minha amiga que em seguida lhe telefonei.
Menos mal que já não estivesse hospitalizada. De volta à sua Casa do Sol, nos arredores de Campinas, atendeu com voz fagueira, e a meu tom desolado reagiu com uma
exuberância que beirava a euforia:
— Não tem a menor importância, meu querido, não fique triste assim, eu estou cagando para essa palhaçada...
E, depois de me consolar pela derrota, àquela altura exclusivamente minha, enveredou serelepe por outros assuntos, como se nada houvesse acontecido, a internação, o padre, o Juca Pato, nada.
Eu deveria estar preparado, pois quando a conheci mais de uma pessoa me alertou
para a montanha russa de seu comportamento imprevisível. Ela é heavy metal, preveniu alguém, referindo-se à contundência que não raro entremeava as delicadezas
de sua alma de poeta, e da qual é uma ilustração em muitas o calão acima.
Me lembro de estar almoçando em sua casa e de elogiar a comida, elogio endereçado também à empregada que naquele momento nos servia à mesa, uma senhora de ar
severo e idade incerta, grisalha mas sem rugas, maquiagem nenhuma, saia de freira à
paisana, blusa de mangas compridas fechada no alto por um camafeu de bisavó.
— Ah, são artes da fulana! — derreteu-se a patroa, tomando entre as suas a mão
hirta da criatura, em cujo rosto não se esboçou a menor ameaça de sorriso ou desagrado. — Eu adoro tudo que ela faz. Pena que não somos lésbicas, não é, querida?
— É sim, dona Hilda — ecoou querida, com uma voz que parecia se estreitar para
transpor o pescoço longo e fino à la Modigliani.
Coisas de Hilda Hilst. Nos começos de noite, sentava-se na sala de teto alto em
companhia do ex-marido, que depois da separação curiosamente refluíra à Casa do
Sol, e, sem muita conversa, com ele tomava um uísque, um apenas, após o qual o
cônjuge deposto se mandava em direção a novas doses em outro canto, e ela ali permanecia, no sofá de couro, com sua garrafa, seu copo e sua provisão de gelo.
Certa vez, Hilda tentou me convencer a ir visitá-la no domingo, com sua amicíssima Lygia Fagundes Telles. Boa ideia, disse eu, animado com uma viagem que acabaria não acontecendo.
— Venham vocês três — insistia ela.
— Como, nós três? — estranhei.
— Sim, meu querido — disse ela, com a condescendência de quem explica algo elementar a uma criança. — Você, a Lygia e o uísque que os dois vão trazer para mim...
Humberto Werneck é jornalista e escritor. É autor,
entre outros, de O Espalhador de Passarinhos & Outras Crônicas (Dubolsinho),
O Pai dos Burros (Arquipélago Editorial) e O Santo Sujo (Cosac Naify).
Coisas de
Hilda Hilst.
Nos começos de
noite, sentava-se
na sala de teto
alto em companhia
do ex-marido,
que depois
da separação
curiosamente
refluíra à Casa do
Sol, e, sem muita
conversa, com ele
tomava um uísque,
um apenas, após
o qual o cônjuge
deposto se mandava
em direção a novas
doses em outro
canto, e ela ali
permanecia,
no sofá de couro,
com sua garrafa,
seu copo e sua
provisão de gelo
6 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
BASTIDORES
Cirque
du Brésil
Em seu 25º ano de vida,
o Circo Spacial é um
daqueles, valentes
e melancólicos, a enfrentar
sem patrocínio a
concorrência dos shopping
centers e games — ladrões
de uma infância de sonho
TEXTO D A N I E L A P A I V A
FOTOS M A R C E L A B E L T R Ã O
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 7
Gilmar, ex-bancário, no ritual
quase diário que o transforma
no palhaço Pingolé
8 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
BASTIDORES
1
2
4
5
aniela? E cadê o cravo e a canela? O palhaço Pingolé, do
Circo Spacial, me recepciona
com este clássico. Uma rima
que ouvi tantas vezes na infância e, agora, nos meus 30 e
poucos, escondia-se na memória esmagada pelos impactos em escala Cirque du Soleil. Quantas vezes você se depara com o
encanto infantil num espetáculo gigantesco e frenético que é a cara da modernidade? Poucas, aposto! Mas basta se deparar
com a fachada do Circo Spacial, que recebeu a visita do Outlook em pleno feriadão
chuvoso de 7 de setembro, que essa nostalgia salta, como coelho guardado na cartola, e o convida para ir ao circo!
Estamos falando de um circo de verdade, com toda a “mambembice” que lhe é
de direito. Chegue perto e verá estranhos
D
reparos, feitos por gente que não fez curso
de corte e costura. Mas quem repara nisso?
Nós, adultos.
Para as crianças, remendos não fazem
diferença quando se tem palhaços que arrancam gargalhadas com um humor clássico, homens e mulheres que desafiam a
gravidade, artistas que parecem querer levar ao máximo os limites do corpo. Numeros tradicionais já vistos e revistos, mas
sempre mágicos, lúdicos. Belos.
Dessa vez, desvendamos o que há por
trás da maquiagem, do figurino, das acrobacias e do letreiro em que uma das letras
anda meio apagada. Uma cidade com 76
habitantes: sendo cerca de 36 artistas e 40
funcionários daequipe técnica. Cidade
transportada em 22 carretas e 35 trailers,
onde moram famílias que nascem, crescem, trabalham e se divertem juntas. Não
6
são tão hippongas como se poderia imaginar. Têm fogão, máquina de lavar, ar-condicionado, bicicleta ergométrica.
Sim, bicicleta ergométrica! Para ficar “bunito” no picadeiro!
Há, sim, um exercício mais delicado da
rotina em comunidade. Coisas do tipo:
melhor abaixar o som para não tirar o sono
de quem ralou duas vezes em cena, no trapézio e numa perigosa dança sobre uma
pilha de cadeiras. Ali não tem essa de fazer
de conta de que não conhece o vizinho.
Sabe-se tudo sobre ele. Onde ele trabalha,
com quem namora...
Fernando Prendin, 24 anos, é o trapezista aí de cima que dá saltos mortais e
equilibra o corpo bem torneado empilhando cadeiras de madeira. Sua rotina é: circo,
Exército, malhação. Longe da lona, é soldado. Os ensaios ocupam cerca de duas
É um circo de
verdade, com toda
a ‘mambembice’
que lhe é de direito.
Chegue perto
e verá estranhos
reparos, feitos
por gente que não
fez curso de corte
e costura. Mas quem
repara nisso?
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 9
1. Pingolé, o palhaço cara de chulé,
leva uma bitoca da filha Carolina,
de 20 anos. A maquiagem é feita
com tinta óleo há 24 anos
3
2. A luz apagada no letreiro
dá aquela sensação de circo
artesanal, que sobrevive
apesar de todas as dificuldades
3. Aqui, contorcionismo no ar
sem proteção. Coragem não falta
à essa trupe, que conta com
36 artistas e 40 técnicos
4. Um clássico que nunca
perde a graça: palhaços vestidos
de mulher
5. Marlene Querubim, a fundadora,
na varanda de seu trailer que
tem fogão, ar-condicionado, cama
e closet para trocar de roupa
6. Simplicidade no hall de entrada
e praça de alimentação: pipoca,
cachorro-quente, algodão doce,
maçã do amor e... balas Chita.
Lembra delas?
7. O número de mágica assusta
até adultos. E aí, adivinhou qual
é o truque? É que a moça... er...
Deixa pra lá
7
horas, três vezes por semana, sem contar
as apresentações, e ainda faz musculação.
Mas o que dói mesmo não é o desgaste
físico. É o hematoma na alma. Sim, ufa,
havia uma rede protetora no escorregão de
terça-feira. “Você fica chateado porque
não quer errar, tem muita gente assistindo”, lamentou no dia seguinte.
Sabe aquela história de que artista de
circo vive do aplauso? Que faz aquilo por
amor? É isso mesmo. Uma paixão que vem
de berço para alguns, e que brota em outros. Fernando experimentou uma vez,
trouxe o irmão e foi ficando, ficando...
Nessa, já foram sete anos.
E aquele clichê da garota que fugiu com
a trupe? Pois esta é a história de Marlene
Querubim, 50 anos, fundadora do Circo
Spacial, que acaba de completar 25 anos.
Em 1978, ela largou Cascavel (PR), para se-
guir com o Circo Vostok. “Me apaixonei
pelo estilo de vida, pela liberdade de estar
um dia aqui, noutro acolá.” Atriz, compositora, diretora de espetáculo, produtora,
Marlene sempre atuou nos bastidores da
lona, na concepção de espetáculos. Teve
dois filhos. Um fez a carreira no circo e está
nos EUA. O outro desviou do picadeiro.
Quando montou o Spacial, Marlene
queria fazer um circo à moda dos Jetsons.
Até os personagens-símbolo se parecem
com a família que instalou o futuro na cabeça das criancinhas nos anos 80. Quem
vê graça nisso hoje? Os papais, claro.
Em se tratando de futuro, Marlene é
mestre. Ela mudou a vida do irmão, Gilmar
Querubim, ex-bancário, que virou Pingolé, “o palhaço cara de chulé”. Até então,
ele era só um boa praça, piadista. Certa
vez, há 24 anos, um palhaço faltou . Gilmar
Quando montou
o Spacial, em 1985,
Marlene queria
fazer um circo
do futuro, numa
estética que hoje
dá saudade.
Seus personagens-símbolo lembram
os Jetsons. Nulos
para as crianças,
mas lembrança
afetiva certeira
para os papais
pintou o rosto com tinta a óleo (que usa até
hoje), subiu no picadeiro e não desceu
mais. Ali conheceu a esposa, a acrobata
Elaine. Tem uma filha, Carolina, de 20
anos, que se desdobra em números de malabares até mágica. E assim vai a vida,
cheia de risos sob a lona para 3 mil lugares.
Mesmo quando a maioria deles está vazio.
Visionária por acaso, desde o começo
Marlene preferiu números com artistas
àqueles com animais — prática hoje proibida por leis municipais e estaduais.
Sem grandes patrocínios, o Spacial varou 25 anos de planos econômicos, dificuldade de encontrar terrenos vazios (por
isso, está na Zona Leste paulistana) e disputa com a modernidade — shopping centers e games robotizadores de crianças.
Uma briga dura, duríssima. Mas, que vale
a lembrança de uma infância mais poética.
10 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
PROVOCAÇÃO
Seriam os hormônios
a razão de nosso descalabro?
FOTOS DREAMSTIME/FOTOMONTAGEM HENRIQUE PEIXOTO
Bem que Evo Morales
avisou. Dar hormônios
de crescimento
aos frangos não havia
de ser boa coisa
Se estamos tão sujeitos a desequilíbrios hormonais, quem
garante que uma alteração irremediável não esteja em curso dentro
de mim, no exato momento em que escrevo sobre isso?
TEXTO CH I CO M A T T OS O
á alguns meses, o presidente boliviano
Evo Morales surpreendeu o planeta ao
afirmar que a ingestão de frango com
hormônios leva à homossexualidade e à
calvície. A declaração suscitou reações
indignadas da comunidade científica e
de grupos gays — e não é improvável que também tenha
irritado alguns carecas vegetarianos, subitamente acusados de mentir a respeito de sua dieta. O presidente
pediu desculpas, o mundo se acalmou, mas ninguém
deu muita atenção ao verdadeiro protagonista de seu
discurso: o hormônio.
Eu sei, essa história de frangos vitaminados é considerada um mito, mas a indignação de Evo é um sinal
inequívoco de que os tempos mudaram. Até uns anos
atrás, todos os problemas da humanidade — ou ao menos aqueles que cabiam no noticiário científico — pareciam ligados ao colesterol. Era o tempo da condenação
do ovo, da expiação da manteiga, do exílio forçado dos
açúcares. Estávamos diante de uma nova potência religiosa: a igreja coronariana. Não havia gordura saturada
que escapasse à sanha dos inquisidores, que a cada semana escolhiam um novo vilão para atirar à fogueira.
Pois bem. De uns tempos para cá, a obsessão midiática
parece ter migrado do colesterol para os hormônios.
É um assunto bem mais complexo, sem dúvida. Estamos falando de glândulas. De secreções. De substâncias
enigmáticas, que trazem nomes como dopamina, tiroxina,progesteronaecortisol.Hormôniossãoproduzidos
H
quando rimos, quando fazemos exercício, quando nos
apaixonamos. Eles regulam o metabolismo. Controlam
o crescimento. Uma interrupção repentina na produção
deumadessassubstânciaspodegeraralteraçõesradicais
de comportamento e levar à degeneração física e, quem
sabe, à morte. Por conta de tudo isso, não existe acontecimento nos últimos tempos que não seja explicado por
desequilíbrios hormonais. A infidelidade. A crise nas
bolsas. O vício em internet. A magreza do Steve Jobs.
O.k., talvez a novidade não seja tão grande. Sou um
leigo no assunto. Há, porém, um certo sabor na ignorância, e é assim que me surpreendo ao descobrir que,
de acordo com uma universidade americana, mulheres
barrigudas tendem — por motivos glandulares, é claro
— a ter problemas de memória. Ou que os homens produzem certos hormônios com o nascimento dos filhos,
o que os auxilia a desenvolver habilidades paternas. Ou,
ainda, que mulheres que fazem aplicação de testosterona tendem a ser mais responsáveis em movimentações
financeiras que os homens.
Diante de minha natural hipocondria, é inevitável
que, aos poucos, o assunto saia das páginas científicas e
comece a tomar conta dos meus pensamentos. Se estamos tão sujeitos a desequilíbrios hormonais, quem garante que uma alteração irremediável não esteja em
curso dentro de mim? Como minhas glândulas reagirão, por exemplo, ao fato de eu estar escrevendo um
texto sobre o assunto? Sinto uma coceira estranha no
pescoço, um aquecimento repentino na palma das
Até uns anos atrás, todos os problemas
da humanidade pareciam ligados
ao colesterol. Era a inquisição da igreja
coronariana. Agora o assunto é bem
mais complexo. Estamos falando
de glândulas. De secreções que trazem
nomes como dopaminha,
tiroxina, progesterona e cortisol
mãos. Resolvo sair de casa. Nas ruas, o que vejo é uma
multidão de reservatórios hormonais, todos transportando suas secreções para lá e para cá. Observo com
atenção. Tento discernir, em algum dos seus gestos, a
revelação de que está tudo bem, que não há motivo para
me preocupar. Mas como saber se esses gestos não são
resultado de alguma metamorfose endocrinológica?
Talvez o segredo do mundo seja esse. Nossos problemas não são de ordem econômica, política ou social.
Não, o homem não é mau por natureza, nem é nosso
destino padecer sobre a terra. Esqueçam a psicanálise, a
astrologia, a conversa mole dos filósofos e economistas.
Deus voltará, não sob a forma de um homem, mas de
uma glândula salvadora, que expelirá nos escolhidos os
hormônios da redenção. Só nos resta esperar. E, em silêncio, secretar.
O escritor Chico Mattoso é autor de Longe de Ramiro (Editora 34).
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 11
OLHA O PASSARINHO
Grandes twittadas
da semana
Pérolas, achados e picaretagens.
O melhor da filosofia em até 140 caracteres
“
FOTO DIVULGAÇÃO
Ivete precisava ir até Nova York para fazer show para brasileiros?
(Artur Xexéo). @djzepedro
“
Bom dia pra você que comemora a independência, mas não estende a própria cama. @deercy
“
A gente se acha o país + fodão da América Latina, mas daí a Argentina vai lá e libera casamento gay e o Chile já legisla
sobre Neutralidade da Net... @biagranja
FOTO DIVULGAÇÃO
“
Felipe Massa feliz pela Ferrari
escapar de punição. ‘Ainda bem que
isso já passou. Eu sempre disse
que passaria sem problemas’.@mauro_beting
“
“
“
Militante é igual vinho. Tem o espumante (a maioria), o de mesa (redonda)
e o fortificado (força um flood). Mas no fim é tudo um porre. @aomirante
Homens ganham 80% dos salários mais altos. O macho adulto e branco sempre no
comando. @ninalemos
Aliás, o prêmio da Mega-Sena é 0,3% da fortuna do Eike. Pfff seus pobre.
@svartman
playboy da Larissa Riquelme vem com óculos
“3D.ACom
uma das mãos o cara segura os óculos,
“
“
Bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar
onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa. @caiofabreu
Digo ao povo que me retiro do tuíter após 2 meses de divertimento. Meu amor a todos
vocês q ue entenderam minhas loucuras e pau no cu dos babacas. @LitaRee_real, teria caído na real?
FOTO ALEXANDRE BRUM/AG. O DIA
com a outra, a revista. É o fim da punheta! @lapena
12 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
ZOOM
J.R.Duran
As quatro leis
do viajante
A Companhia Holandesa das Índias Orientais foi a primeira multinacional a operar no mundo (1). Em 1692 assinou,
com os Países Baixos, um contrato que lhe dava a exclusividade para explorar as colônias existentes — e futuras — na
Ásia. Um contrato dos sonhos impossíveis de qualquer CEO
nos dias de hoje. No período de duzentos anos a Companhia
das Índias despachou, a bordo de pouco menos de cinco mil
navios, quase um milhão de cidadãos europeus para administrar seus negócios no continente asiático.
A recomendação a todos esses viajantes para evitar problemas digestivos ao entrarem em contato com novos, e
curiosos, hábitos alimentares era uma só: “Cook it, boil it,
peel it or forget it” (2). Em uma frase estavam simplificadas as precauções a serem tomadas para conseguir se alimentar em países de costumes diferentes sem que o estômago reclamasse.
Desde que comecei a viajar para lugares distantes, especialmente os que não estão no mapa das agências de turismo,
tenho seguido essa premissa. Se a comida não estiver cozinhada, fervida ou — no caso das frutas — descascada, está
proibida de se apresentar no meu prato. Isto quer dizer que,
mesmo em momentos de apetite descomunal, nunca escolhi
carne mal passada, ovos, sushi, sashimi, ostras ou mariscos.
Apenas uma vez vacilei. Foi em Taroudant, no Marrocos.
Taroudant é uma das poucas cidades dentro de muralhas que
ainda não foram invadidas por ônibus de turistas. O melhor
palácio da cidade, bem no meio da kasbah, foi convertido em
hotel, o Salam Palace Hotel. Um verdadeiro oásis, com jardins exuberantes e uma impecável piscina azul. Em um fim
de tarde agradável, sentado à sombra de palmeiras, pedi para
o garçom um suco de laranja sem gelo (3). O serviço é eficiente e em poucos segundos uma jarra de suco se materializou na minha frente. Suco com gelo. Reforcei para o rapaz
vestido com uma djellaba impecável que meu pedido era sem
gelo. Ele não vacilou. Retirou-se e voltou instantes depois.
Achei a rapidez considerável mas, com o tamanho da sede
que sentia, meu cérebro não processou a informação. Bebi o
suco de laranja que estava no copo quase de uma vez só. E foi
aí, no último gole, que meus dentes trincaram um pedacinho, minúsculo, de gelo. Entendi no mesmo instante o que
tinha acontecido. O garçom simplesmente tirara o gelo da
primeira jarra. Na cabeça dele, uma operação simples e lógica. Já na minha, a certeza de que estava me expondo a qualquer tipo de água.
E foi o que aconteceu. A foto ao lado foi a última que fiz antes de cair de cama por 48 horas, vítima de um desarranjo no
fígado que, por sorte, foi curado por não sei quantas gotas de
um dos remédios que meu assistente levava na mala.
(1) O monograma (hoje seria logotipo) era formado pelas letras VOC, iniciais de Vereenigde Oost-Indische Compagnie. Foi a primeira companhia a emitir ações. Durante muitos anos, seus dividendos foram de 18%. Fundada em 1602, quebrou em
1796.
(2) Cozinhe, ferva, descasque ou esqueça.
(3) A tendência das pessoas é, na hora de gelar, colocar água sem filtro.
J.R.Duran é fotógrafo, autor, entre
outros, de Cadernos Etíopes (Cosac Naify).
No Twitter: @jotaerreduran.
J.R.DURAN /FILE INC.
Desde que comecei a partir para lugares distantes, especialmente os que
não estão no mapa das agências de turismo, tenho seguido essa premissa.
Mesmo em momentos de apetite descomunal, nunca escolhi carne mal passada,
ovos, sushi, sashimi, ostras ou mariscos. Apenas uma vez vacilei
Eleitos
Cinquentona style |
Verner Panton
desenhou em “s”
a cadeira que leva seu
nome há 50 primaveras,
inspirado na psicodelia
daqueles tempos.
Produzida em escala,
tornou-se um sucesso
instantâneo, e pode
ser sua por R$ 1.654,
na Hetty Goldberg
14 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
ELEITOS
IMAGENS DIVULGAÇÃO
O horror,
o humor
Com Dias Felizes, completa-se no Brasil
a publicação da trilogia de peças de Samuel
Beckett que articulam, através do nonsense
e do absurdo, o terror nosso de cada dia
TEXTO R O N A L D O B R E S S A N E
Beckett dirige Karl Raddatz em Esperando Godot, no Schiller Theater
ois vagabundos esperam um
sujeito que não chega nunca. Quatro sobreviventes de
alguma hecatombe trocam
impressões num abrigo.
Uma perua semi-enterrada
na areia conversa futilidades com o maridinho. Com sua trilogia formada por Esperando Godot, Fim de Partida e a recém-lançada Dias Felizes (Cosac Naify, trad.
Fábio de Souza Andrade), Samuel Beckett
diverte-se narrando os espasmos de um
mundo em decomposição. Escritas entre
1952 e 1961, as peças refletem — e foram
criadas sob o impacto de — o ponto mais
baixo conhecido pela humanidade: a Segunda Guerra, o Holocausto, Hiroshima.
Lidas hoje sob a euforia tecnológica dos
anos 10, sua incomunicabilidade disfarçada de monólogo pode muito bem refletir
características de nosso tempo.
“Deu o Godot” é uma gíria gaúcha para
dedurar alguém que deu o cano, disse que
viria mas não apareceu. A expressão regional indica a peculiar presença
beckettiana na cultura pop — como Kafka,
Beckett está entre os raros autores adjetivados: sua mera menção esboça uma sensação que combina humor nonsense e
profundo horror. Com Godot, o escritor
irlandês criou uma alegoria ao mesmo
tempo acessível mas de complexa interpretação. Quem seria Godot? Por que Vladimir e Estragon teimam em acreditar, dia
após dia, na sua improvável chegada? Se
perderem essa esperança, sua existência
teria algum sentido? Em Fim de Partida, a
dupla de protagonistas é bisada por Hamm
e Clov, simetricamente espelhados pelos
silenciosos Nagg e Nell. Paralisados em um
abrigo, os dois criam um tragicômico jogo
sadomasoquista dialogando sobre uma
catástrofe a que o espectador nunca tem
acesso: são sobreviventes de algum desastre que jamais saberemos — mas cujo horror podemos compreender nos cacos de
linguagem, de gestualidade, ou, melhor
D
‘Deu o Godot’ é
uma gíria gaúcha
para dedurar
alguém que deu
o cano. A expressão
regional indica
a peculiar presença
beckettiana na
cultura pop — como
Kafka, Beckett está
entre os raros
autores adjetivados:
sua mera menção
esboça uma
sensação
que combina
humor e horror
dizendo, de humanifica confuso. (Sorri.) Não
dade, que nos legaram
agora. (Sorriso mais laresses personagens
go.) Não não. (Desfaz o
imobilizados contra
sorriso. Fecha os olhos. A
um cenário “preto
campainha toca alto.
claro” (conforme deAbre os olhos. Pausa.)
terminado pelo severo
Vejo olhos que parecem
dramaturgo).
se fechar em paz... para
Tratando de um caver... em paz. (Pausa.)
sal de meia-idade, a
Não os meus. (Sorri.)
loquaz Winnie e o taciNão agora. (Sorriso mais
turno Willie, Dias Felargo.) Não não. (Desfaz
lizes aproxima o apoo sorriso. Pausa longa.)
calipse genérico das
Willie. (Pausa.) Você
peças anteriores de
acha que a terra perdeu a
um juízo final domés- O autor, na Berlim de 1967
atmosfera, Willie? (Pautico. O nome da peça
sa.) Acha, Willie? (Pauremete a um pretérito maravilhoso — e o sa.) Não tem uma opinião a respeito? (Paumesmo se aplica à linguagem entrecortada sa.) Tudo bem, é a sua cara, nunca teve uma
de Winnie, a cinquentona que passa o pri- opinião sobre nada. (Pausa.)”
meiro ato brincando com os objetos de sua
Talvez seja só impressão; mas essas ruíbolsa, semi-imersa na areia, e o segundo nas de uma linguagem que já foi comum
ato com somente a cabeça de fora, feito um emulam hoje os monólogos fragmentados
locutor de TV. Aqui, Beckett intensifica sua no Twitter, buscando desesperadamente
estética de ruína, fragmentando a fala e o um eco que nunca vem. Outro sinal de que
gestual em tiques mínimos. Impressiona a o apocalipse de Beckett não ficou no sécugeométrica e rigorosa partitura do texto: lo 20: prossegue nos mínimos movimentos
“Há tão pouco a dizer. (Pausa.) E dizemos de um mundo que, sem saber o que falar,
tudo. (Pausa.) Tudo que é possível. (Pausa.) insiste em falar assim mesmo, somente
E nem uma palavra de verdade em parte al- para provar a sua existência.
guma. (Pausa.) Que braços?
(Pausa.) Que seios? (Pausa.)
Willie. (Pausa.) Que Willie?
(Assertiva e veemente.) O
meu Willie! (Olhos para a
direita, chamando.) Willie!
(Pausa. Mais alto.) Willie!
(Pausa. Olhos para a frente.)
Tudo bem, não saber, não
saber ao certo, é uma grande
bênção, tudo que peço.
(Pausa.) Ah, é... naquele
tempo... agora... a sombra
das árvores... este aqui...
Charlie... beijos... tudo
aquilo... confunde o espírito. (Pausa.) Mas o meu não
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 15
IMAGENS DICULGAÇÃO
A edição
comemorativa de
35 anos reproduz
15 capas (algumas
ao lado) de edições
anteriores do livro,
traduzido em
vários países
Trinta e cinco vezes Zero
Proibido pela ditadura em 1975, o romance de Ignácio de Loyola
Brandão comprova-se de uma atualidade desconcertante
FOTO DIVULGAÇÃO SARAIVA
arece bizarro, mas houve uma
época no Brasil em que liberdade de expressão era somente uma expressão. Reportagens, livros, filmes e discos
eram censurados a torto e a
direito — o sinistro mecanismo da proibição fazia com que os próprios artistas e produtores de cultura acabassem por introjetar
a censura. A ficção de então cavava subterfúgios fantasiosos para driblar a realidade, e
muitas vezes a prosa realista era empurrada
para baixo do tapete da repressão. Ignácio
de Loyola Brandão era um jornalista pasmo
com esse procedimento: secretário gráfico
do jornal Última Hora , acostumou-se a
guardar as matérias que o censor vetava
para publicação. Logo tinha muitas caixas
com estranhos fragmentos da realidade
brasileira do início dos anos 70 soterrando
seu apartamento. Em crise criativa, abriu
seu fantástico acervo e se deparou com
aquelas narrativas em esqueleto e subitamente teve um estalo: ali estava o romance.
“E então me deu uma louca. Amontoei
no apartamento todas as matérias censuradas. As velhas e as novas, que a cada dia tinha mais, e mais, e mais. E a cada dia pegava um papel e escrevia alguma coisa em
cima. Uma ficção-realidade. Montava uma
historinha a partir do grupo que vai atrás do
menino com música na barriga. Veio-me à
cabeça uma lembrança da infância, um livro sobre um menino que tinha o rei na barriga. Assim escrevi por meses”, conta
P
Secretário gráfico
do jornal Última
Hora, se acostumou
a guardar
as matérias
que o censor
vetava. Logo tinha
muitas caixas
com estranhos
fragmentos da
realidade brasileira
do início dos anos
70 soterrando
seu apartamento.
Teve um estalo: ali
estava o romance
Brandão na rica edição comemorativa dos
35 anos do romance Zero (Global Editora),
que contém 100 páginas de aparatos, reunindo memórias do autor, cronologia da
censura ao romance, críticas e capas que o
livro teve pelo mundo. Ambientado numa
certa América Latíndia, usando como fio
condutor a história de um humilde José que
trabalhava como exterminador de ratos —
enquanto fugia da polícia e da sinistria crise
econômica, que acossavam em invisíveis
ratoeiras —, Brandão costurou um romance
radicalmente experimental, uma aventura
formal que deslumbrou crítica e público
mas provocou a ira dos censores: ao esgotar
a primeira edição, teve sua reimpressão
proibida. Ao mesmo tempo, o romance era
traduzido em vários países — sucesso internacional poucas vezes repetido pela literatura brasileira. Sua censura em 1976, ao lado
dos também violentamente realistas Araceli, Meu Amor, de José Louzeiro, e Feliz
Ano Novo, de Rubem Fonseca, provocou
uma reação por parte dos intelectuais que
estremeceu os baluartes da ditadura.
“José mata ratos num cinema poeira. É
um homem comum, 28 anos, que come,
dorme, mija, anda, corre, ri, chora, se diverte, se entristece, trepa, enxerga bem dos
dois olhos, toma Melhoral, lê regularmente
livros e jornais, vai ao cinema sempre, não
usa relógio nem sapato de amarrar, é solteiro e manca um pouco, quando tem emoção
forte, boa ou ruim.” A clareza da linguagem
é dos raros eixos na narrativa concebida
Brandão costurou romance radicalmente experimental
como uma sinfonia cubista, com fragmentos que se sucedem sem hierarquia, colagens de ações, pensamentos, leituras de jornal, pensamentos, slogans, comerciais de
TV, lembranças desconexas — refletindo o
desconcerto de Brandão para com a realidade proibida. A ousadia técnica (cujo solitário
antecedente é o Memórias Sentimentais de
João Ribamar, de Oswald de Andrade) influenciou toda a literatura brasileira: estilhaços dessa bomba literária podem ser
captados em romances fragmentários como
Eles Eram Muitos Cavalos, de Luiz Ruffato,
ou textos inclassificáveis como Minotauro,
de Valêncio Xavier. Estranhamente, a ousadia estrutural parece algo datada hoje, uma
época que busca uma literatura confortavelmente linear. Mas a angústia desse grito que
se perde no vazio permanece intacta. R.B.
16 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
FOTO MAURA PARODI
Ele veio para confundir,
não para explicar
Antonio Dias, um dos maiores artistas brasileiros,
mostra 50 obras na Pinacoteca do Estado, em São Paulo:
ironia e originalidade que desestabilizam a gente
The Place, do artista que se diz de nenhum lugar
TEXTO C R I S T I N A R A M A L H O
FOTO PAULO SCHEUENSTUHL
Vísceras em Aqui Uma Mala, uma das 50 obras presentes na exposição
FOTO UTE SCHENDEL
O nome
da exposição
de Antonio Dias,
Anywhere is my
land, é um slogan
da sua vida.
Abre amanhã
na Pinacoteza
do Estado,
em São Paulo
Antonio Dias rodou o mundo para expressar sua arte
aquele sol de rachar a moringa do Nordeste, os meninos de cabeças castanhas se viravam para vender algo, caçar passarinho,
ajudar a família. Antonio
desenhava com o avô, enquanto as paisagens iam se alterando: saíram de Campina Grande, deram num algodoal na Alagoas, gritaram no mar e no sertão de Pernambuco. Os desenhos até que ajudaram: vendidos para rótulos de garrafa de
pinga, rendiam uns trocados e matavam
uma vontade de fazer as coisas, sei lá, de
um jeito diferente. E Antonio anteviu, bidu, que esse negócio de rodar o mundo e
N
se expressar iria lhe ajudar a ser outro.
Anywhere is my land (Não sou de lugar nenhum), o nome da exposição de
Antonio Dias que abre amanhã na Pinacoteca do Estado, é então um slogan da
sua vida. Adolescente, no Rio dourado,
ele aprimorou a vocação estudando gravura com Oswaldo Goeldi. Não demorou
a ir mais longe: garoto sério, que só estudava com gente mais velha, um dia olhou
no espelho e enxergou sua geração. E em
1965 olha lá Antonio em Paris, botando
em telas uns homens em raio X, as vísceras tão expostas quanto as ideias engajadas. Ganhou logo um prêmio na IV Bienal. Falava de política, da falta de perspectiva, da censura, da falta de pão. Da
morte. Do sexo. Tudo isso aí com lirismo
e sensualidade. Também na técnica era
outro: misturava massa, colagem, grafite, pigmentos diferentes. Não se repetia.
Nem no habitat: de Paris foi para Milão.
De Milão mudou-se para Colônia, e é na
Alemanha que vive com a mulher, a cantora brasileira Lica Cecatto.
Quando batia a angústia de outras
paragens, ele seguia para Índia, Nepal.
Se não parou na geografia, muito menos
nos formatos. Aprendeu técnicas de
papel e produziu um álbum, Trama .
Brincou cada vez mais com tridimensionalidade. E assim foi traduzindo histórias de homens de todas as terras e
ganhando prêmios em diversas fronteiras: expôs no Guggenheim em Nova
York, no Taipei Fine Arts em Taiwan, na
Finlândia, em Berlim, no MIT, o centro
da inteligência artificial e da altíssima
tecnologia. No Brasil, já em 2000 e
2001, rodou pelos Museus de Arte Moderna da Bahia, São Paulo e Rio com
uma grande mostra de 30 anos de carreira, O País Inventado. Seu jeito pop e
profundo de ser também exibiu o Brasil
na famosa exposição da Tropicália no
Barbican, em Londres, em 2006.
Agora na Pinacoteca você pode ver
sua arte vigorosa, dos anos 60/70,
quando Antonio Dias explodia para o
mundo. Escreveu a frase Anywhere is
my land de provocação numa tela de
1968, pintada de negro com tinta branca, pontos desordenados de todos os tamanhos, e outras telas com frases emblemáticas estão nesta mostra. “É de
uma fase que ninguém comprava minhas obras”, brinca o artista, que fala
pouco, sempre com ironia. O conjunto
destas peças, 50 obras, desenhos, pinturas, instalações e filmes, revelam a transição de Antonio Dias da fase Opinião ,
aqui no Brasil, para a efervescência política que também tomava a Europa. Uma
das obras, História, de 1968, é um compartimento de plástico que dentro traz
restos e uma poeira do que foram as barricadas estudantis nas ruas de Paris. Outra obra, Nota sobre a Morte Imprevista
(1965), três de quatro quadrados trazem
imagens que parecem deslizar para fora.
No quadrado que resta, as imagens ganham volume. Nada é o que parece.
Boa parte das obras faz parte da coleção Daros Latinamérica, e da coleção do
casal Genevieve e Jean Boghici, do acervo da Pinacoteca e do próprio acervo
pessoal do artista. Em todas, o humor do
artista mexe com nossos sentidos de
proporção e certezas: ângulos evidenciam a falta de pedaços, os filmes super-8 (the Ilustration of Art) focam os materiais, como um machucado saltando
da gaze, as brincadeiras com neon. Antonio Dias, o refinado homem de nenhum lugar, tem no fundo um Chacrinha no espírito: veio para confundir,
não para explicar.
ANYWHERE IS MY LAND –
PINACOTECA DO ESTADO
DE 11/9 A 7/11
PRAÇA DA LUZ, 2, SP
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 17
Quem pintou por aqui
O Museu de Arte Brasileira da FAAP faz cinquenta anos e celebra
com duas exposições e três livros: teatro, memórias e muita arte
moderna que se misturam à história de São Paulo
Textos de Angelica
de Moraes e
Fernanda Lopes,
a cronologia do
museu e as peças
em cartaz: livros
serão distribuídos
pela CosacNaify
IMAGENS DIVULGAÇÃO
aulistanos, e se forem amantes da arte tanto melhor,
passaram pela FAAP alguma
vez na vida. Cinquenta anos
de aniversário, e o museu da
Fundação Armando Álvares
Penteado em Higienópolis mistura-se
com a história da cidade, como o Parque
Ibirapuera e o Masp, todos de um período
dourado, ali pelos anos 1950/60, o modernismo no ar. Do Masp o Museu FAAP
herdou os cursos de arte e parte do acervo
reunido por Assis Chateaubriand. Foi o
próprio Pietro Maria Bardi, o italiano
irascível que virou sinônimo do Masp,
quem convidou os artistas de então para
criarem o vitral do prédio. Junto vieram
os professores — e começava uma história que renderia a faculdade de artes plásticas e uma sucessão de movimentos para
mudar a ordem das coisas.
P
Caboclas Montadas, de Lasar Segall
As luzes coloridas
de Le Parc ao lado
de poemas de
Augusto de Campos,
instalações
de Julio Plaza,
os computadores
de Waldemar
Cordeiro: décadas
depois, ainda
sacodem o nosso
jeito de pensar
O lado histórico é só o pontapé inicial
para entender a importância da FAAP, que
comemora seu cinquentenário, a partir do
dia 14, com um pacote completo: duas exposições e três livros. Vai ter um olho carinhoso no passado (a mostra Memórias Reveladas) e outro na postura futurista que
sempre pintou nos salões daquele prédio
imponente (a exposição Tékhne). Os livros completam a documentação: Arte
Brasileira: 50 Exposições do MAB-FAAP
traz textos das críticas de arteAngélica de
Moraes e Fernanda Lopes; Teatro FAAP, a
História em Cena, apresenta as montagens teatrais arroladas pelo crítico Valmir
Santos; e Memórias Reveladas - A Atuação
Cultural da FAAP vem com a cronologia
desde a criação do museu, década de 1950.
“Quando começamos a juntar os nomes
e as obras fomos nos dar conta do tamanho
da nossa missão”, fala a curadora convidada a dar forma a todo o material, Denise
Mattar. A primeira coisa a fazer foi modernizar a apresentação. Para não ficar
chata, Memórias Reveladas brinca com
recursos visuais. Traz, por exemplo, imagens holográficas das principais peças encenadas ali no teatro. A maioria é teatrão,
clássico, de qualidade. Sucessos como De
Braços Abertos, com Irene Ravache, ou
Madame Chanel, com Marilia Pera, são a
cara do teatro FAAP. Isso, aliás, vem mudando: com In On It e agora, Inverno da
Luz Vermelha (em cartaz), a FAAP quer
público mais jovem nas cadeiras.
Já nas artes visuais a FAAP primou pelo
oposto. Regina Silveira, Leda Catunda,
Walter Zanini, Julio Plaza, Jac Leirner,
Carmela Gross botaram a arte paulistana
no mapa. Vários deles dão depoimentos
dos seus primeiros tempos.
O filé de tudo isso está na mostra
Tékhne (maestria aem grego, amarrando
arte e tecnologia. É uma homenagem ao
Obra da exposição futurista Tékhne
crítico Walter Zanini, com o fino da multimídia. Terá, por exemplo, a instalação Lumiére en Mouvement, de Julio Le Parc,
com luzes que dançam conforme os visitantes. Le Parc virá para a abertura. Suas
ideias coloridas ao lado de poemas de Augusto de Campos, instalações de Julio Plaza, os computadores de Waldemar Cordeiro: décadas depois, quem pintou por
aqui ainda sacode nosso jeito de pensar.
TÉKHNE:
DE 14/9 A 14/11
MEMÓRIAS REVELADAS:
DE 14/9 A 12/12
MAB-FAAP
RUA ALAGOAS, 903, SP
(11) 3662-7198
18 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
ELEITOS
Allan Poe versão
2010. Estranhíssimo
Instinto de Vingança inspira-se
em conto macabro do escritor
TEXTO D A N I E L A P A IV A
FOTOS DIVULGAÇÃO
Lana Headey: linda como a médica que guarda um segredo
ding , 2006. Mas o
destaque no currículo é a direção de episódios das séries
Dexter (sobre um especialista forense assassino), True Blood
(vampiros enlouquecidos) e A Sete Palmos (rotina de uma
funerária). Mundo
macabro? Sim. É com
ele mesmo.
No conto original
de Poe, um homem
O novo coração de Terry Bernard está vivo. Vivo até demais para o personagem, atormentado pelo seu doador
confessa ter matado
um velho depois de
esde que o cinema é cinema,
Na história original, ser atormentado pelas supostas batidas do
diretores, roteiristas e proum homem confessa coração do cadáver. A trama de Instinto de
Vingança não é exatamente essa. O tordutores adoram tirar a nafter matado um
mento de Terry Bernard (Josh Lucas, de
talina de um personagem,
velho depois de ser
Poseidon e Estrada para a Glória), pai solconto, ou livro inteiro de
atormentado pelas
teiro que “renasceu” ao receber um coraEdgar Allan Poe. Aí é aquela
supostas batidas do
ção transplantado, começa quando mecoisa que você já viu algumas vezes na telona. Climão pesado, luz baixa. Tudo meio
coração do cadáver. mórias do doador surgem como flashes
reveladores. O órgão passa a comandar o
siniiistro. Assim, seguem-se fazendo filNa versão que
homem aparentemente pacato, que se enmes que não têm medo de assustar crianestreia dia 15,
volve com a médica Elizabeth Clemson (a
cinhas. Ou adultos, não é?
o órgão é
Instinto de Vingança é mais um filhote
lindíssima Lena Headey, que viveu Sarah
transplantado
do escritor norte-americano adaptado
Connor na série Terminator: The Sarah
e passa a comandar
Connor Chronicles). Ela guarda um segrepara o cinema. Aliás, é impressionante o
seu aparentemente
do prontinho para agradar aqueles que
quanto a sétima arte busca a literatura de
gostam de finais de tirar o fôlego — ainda
Poe como fonte de inspiração. Mais de 200
pacato receptor
que fique meio óbvio e bobinho.
produções relacionam-se de alguma forma com a obra do escritor, conforme cataloga o site The Internet Movie Database
(IMDB), referência do cinema mundial.
Desta vez, a fonte é o conto The Tell-Tale Heart , de 1843. E não pense que é
novidade. A história já foi filmada em outras ocasiões. Porém, nenhuma delas se
tornou relevante.
Com estreia marcada para 15 de setembro, Instinto de Vingança tem como
público certo os amantes da literatura de
Poe. Lado a lado na sessão devem comparecer os fãs de algumas das séries mais bizarras da TV norte-americana por conta
do diretor, Michael Cuesta. Ele fez dois
longas, Sem Saída , 2001, e 12 and HolA fofa Beatrice Miller é uma garota com doença rara
D
Cuesta desvia sem receios da narrativa
original. Aborda temas, digamos, mais
modernos como tráfico de órgãos e preconceito (a filha de Terry, vivida pela ótima Beatrice Miller, de Toy Story 3, sofre
de uma doença rara).
Só que o escritor está ali, rondando.
Seja pela fotografia escura do filme
(muito bem feita), ou pelo ritmo tenso.
Para tanto, Cuesta usa artifícios como
flashes confusos e jarras de sangue nas
cenas violentas.
Até a descoberta sobre o que, afinal,
aconteceu com aquele treco que parece
ter vida própria no peito de Terry, o espectador não vai roer as unhas apavorado,
nem sair correndo da sessão. Mas, em certo momento, a impressão é de que o filme
pode descambar para um Jogos Mortais. O
diretor nos poupa dessa. Ufa! Depois de
uma hora e meia, a sensação é de que se viu
um filme estranho.
E agora? Será que John Cusack ficará
estranho o suficiente para interpretar Poe
no filme sobre os últimos dias do escritor,
que finalmente deverá sair do papel? Dá
para imaginar o ótimo ator de filmes
como Quero Ser John Malkovich, Alta Fidelidade e Adaptação , e que andou entrando em frias como o água com açúcar
Escrito nas Estrelas, na pele do ícone da
literatura dark? Sabe como se chamará o
filme? Raven (Corvo), alusão a um determinado poeminha. MEDO!
Jarras de sangue nas cenas mais violentas
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 19
A sofisticação
maiúscula de k.d. lang
Barulhinho bom
FOTO FABRICE COFFRINI/AFP
Uma das
maiores vozes
femininas do
Canadá divide
o palco com
a Orquestra
da BBC,
em Londres
FEMININA, JOYCE
Joyce está relançando esse disco de 1980 que
pode soar um pouco datado, já que é um tributo
feminista. A começar pela própria independência da
cantora e compositora, foi a partir deste disco que
ela teve o controle do seu trabalho. Tem coisas que
já enjoaram como Clareana, que quem passou dos
40 lembra como canção do Festival da Globo, mas
há letras lindas, como a própria feminina e Dar Cor
Brasileira, famosa na voz de Maria Bethânia. C.R.
O terno é peça obrigatória no figurino da cantora
athryn Dawn Lang não gosta de letras maiúsculas. A cantora canadense abreviou os dois primeiros
nomes. Baixou todas as consoantes.
Fez da assinatura apenas um exemplo de seu trabalho versátil, porém
marcante no quesito personalidade. Não, não é
toda artista que
tem guts para vestir terninhos mas- Laureada com
culinos e assumir o quatro Grammys,
amor por uma ela é uma diva
country music que discreta e elegante
às vezes é taxada no classudo
de brega.
Live in Londres,
Foi dessa ma- DVD que acaba
neira que lang
de chegar
conquistou respeito no conservador às prateleiras
mercado da indús- brasileiras
tria norte-americana. Laureada
com quatro Grammys — um deles ao lado de Tony
Bennett no belíssimo A Wonderful World , em
2003 —, lang é uma diva discreta e elegante em Live in London, DVD que acaba de chegar às prateleira brasileiras pela Coqueiro Verde, e no qual divide o palco com a Orquestra da BBC.
K
O encontro aconteceu na Igreja de St. Luke,
Londres, em 2008. À época, lang estava no início
da turnê de divulgação do seu recém-lançado álbum de inéditas, Watershed. Depois disso, a cantora soltou lá fora Recollection, uma coleção de
canções que comemora 25 anos de gravações.
Live in London é um daqueles DVDs perfeitos
para dar um toque de classe a um jantar com amigos.
Baseado em Watershed, o
registro contempla também fases conhecidas da
cantora, como faixas do
CD Drag, de 1997, o sucesso Constant Craving e a reverência às raízes country
em Pay Dirt , de Angel
With a Lariat (1987). Tudo
é impecável. Da voz afinadíssima de lang (sem dúvida uma das mais bem cuidadas do mercado) à sofisticada combinação com a orquestra em arranjos
elegantes. E o áudio, bendito seja, é um fiel companheiro para que o ouvinte note a beleza da performance de lang. Um detalhe mais do que garboso para nós, brasileiros, é a presença do guitarrista
Grecco Buratto. Um luxo.
TEENAGE DREAM, KATY PERRY
Katy Perry é uma típica in between. Ela queria ser
ou Lady Gaga, ou Lily Allen. Mas, não tem coragem
para chegar ao extremo de uma ou de outra.
Teenage Dream, segundo álbum oficial de estúdio,
reforça essa falta de personalidade da cantora que
despontou com o hit lésbico I Kissed a Girl. Aqui,
faz o tipo adolescente sacaninha (Peacock) que o
público gay friendly ama — nenhuma novidade. De
supresa, só a esperta participação de Snoop Dog,
em California Gurls. É como a música que a levou
ao sucesso: tudo parece de mentirinha. D.P.
Gigante na voz, gigante na luta
Show, de 1985, da cantora e ativista sul-africana Miriam Makeba chega às lojas
N
ós, brasileiros, queremos esquecer rápido o desastre da
seleção na Copa do Mundo da
África do Sul. Mas a competição fez
bem à saúde cultural do planeta.
É muito bem-vinda a chegada
deste DVD que traz show da cantora
e ativista sul-africana Miriam
Makeba no Lugano Jazz Festival suíço, em 1985. Makeba, a Mama África, ficou quase 30 anos exilada por
conta da luta contra o apartheid. É
uma lenda (morreu em 2008), quase
um Bono para os sul-africanos.
A cantora, que ganhou Grammy
em 1966, levou o hit Pata Pata a tamanho sucesso mundial que até hoje
é lembrada por artistas. Daúde, por
exemplo, gravou uma versão em
1997. A canção, claro, não faltou na
abertura da Copa este ano.
Este DVD de 37 minutos revela
simplicidade comovente. Makeba
veste o repertório com um jazz gostoso, alegre, para cima. Uma diva
sem pose, sem esforço. Sua voz era
naturalmente bela e rara. Em todos
os sentidos. D . P.
DO AMOR, DO AMOR
Como é gostoso colocar o fone e ter a sensação
de estar ouvindo uma coisa verdadeiramente
nova. Ainda melhor é quando a novidade, perdoe-me o contrassenso, soa deliciosamente familiar.
É que a banda Do Amor, em seu disco de estreia,
mistura de tudo um pouco para fazer um som
original, bem-humorado, sedutor. Pegue rock, dub,
funk, carimbó, até axé (pois é...) e despeje tudo
no microprocessador. Só um quarteto musical de
alto nível pra fazer suco de tamanha miscelânea.
Instrumental impecável dessa turma que toca
com feras como Caetano Veloso, Los Hermanos
e Lucas Santtana. GABRIEL PENNA
20 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
ELEITOS
FOTOS DIVULGAÇÃO
No bafo da Garganta do Diabo
Do mesmo grupo do Copacabana Palace, o Hotel das Cataratas é o mais exclusivo da
região. A poucos metros das famosas quedas d’água, dentro do Parque Nacional do Iguaçu
TEXTO L UI Z H E N R I Q U E LI GABU E
As refeições podem acontecer próximas às quedas
nariz está ressacado? A garganta pegando? O pediatra
recomendou inalação para a
família toda duas vezes ao
dia? Esqueça as maravilhas
do consumo, os vaporizadores de farmácia, e volte para a natureza.
O vapor d’água é realmente um santo remédio, porém, se vier da Garganta do Diabo, naturalmente será melhor. Mas não se
assuste, esse “Diabo” é apenas como é conhecida a queda d’água mais famosa dentre as centenas presentes nas Cataratas do
Iguaçu, no Paraná.
Estar perto da natureza é um desejo recorrente do homem urbano. Melhor ainda,
nesse caso, desfrutar disso tudo com o luxo
e conforto oferecidos pelo Hotel das Cataratas, um monumento de arquitetura colonial a poucos metros das famosas quedas
d’água. Rodeado de Parque Nacional do
Iguaçu por todos os lados, o hotel começou
a ser construído em 1939, foi concluído
apenas em 1958 e, hoje, funciona cumprindo as exigências ambientais por estar
dentro de um Parque Nacional. Essa peculiaridade proporciona a exclusividade que
é o grande diferencial do lugar.
O Hotel das Cataratas possui 191 quartos,
piscina, restaurante, spa, quadra de tênis e
jardim — tudo grandioso e suntuoso. Completamente remodelado, é administrado
desde 2007 pela Orient-Express, a mesma
O
Para os amantes
do golfe, há um
campo oficial
de 18 buracos
não muito longe,
a 5 quilômetros
do Parque. Dentro
dele, o visitante
terá a rara
oportunidade
de testemunhar,
em noite de
lua-cheia,
um arco-íris em
plena madrugada
empresa que é proprietária de outro patrimônio nacional, o Copacabana Palace, no
Rio de Janeiro. Luxo é com eles.
Os quartos são imensos e bem providos
do mais clássico luxo — nada daquela moda
arquitetônica fria, minimalista e clean.
Aqui as acomodações recebem bem desde
casais enamorados até famílias completas
para aquele programão de clã. Na opção
“família”, vale reservar uma das Suítes Cataratas. Com 95 metros quadrados, tem
sala, dois quartos privados e hidromassagem no banheiro. Além de muito espaço,
esses quartos guardam atrás das janelas
algo especial: a vista direta para as quedas, e
uma oportunidade única de dormir e acordar ao som das águas.
Dois restaurantes, um deles com vista
privilegiada — adivinhe para onde? —,
oferecem um cardápio internacional recheado de peixes da região. O spa, que
oferece produtos de beauté da Natura, a
quadra de tênis e a piscina completam a
aérea de lazer e descanso. Isso dentro do
hotel, pois fora dele é possível praticar diversos esportes de aventura, tais como
rafting, rapel, escalada e arvorismo. Também há a opção de passeios e trilhas pelas
redondezas. Para os amantes do golfe
Nos quartos espaçosos, inspiração colonial
Aconchegante e clássico, o banheiro é quase um spa
existe, ainda, um campo oficial de 18 buracos não muito longe dali, fora do Parque.
Como nessa vida tudo tem o seu preço,
o conforto e a exclusividade do Hotel das
Cataratas partem de diárias de R$ 685, por
casal, com café da manhã incluso.
Vale lembrar que, aqui, exclusividade
não é retórica, já que o hóspede tem à disposição todo o Parque Nacional. Fora dos
horários oficias de visitação (das 9h às
17h), ele pode usar à vontade as trilhas e
passarelas. Isso permite ao nobre visitante
a rara oportunidade de testemunhar, em
noite de lua-cheia, um arco-íris em plena
madrugada. Exclusividade é pouco.
HOTE L D A S CA TA R A TA S
O hotel tem o privilégio
de estar localizado no Parque,
bem perto das águas
WWW.HOTELDASCATARATAS.COM.BR
IGU A SSU R E SOR T ( GOL F CL U B )
INFORMAÇÕES E RESERVAS: (45) 3521-3400
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 21
FOTO VALÉRIA GONÇALVEZ/AE
Despedaçando
corações
A alcachofra é uma flor.
Mas o que nós comemos,
lambendo os beiços, é o miolo
de seus saborosos botões
Apesar de grande
e rústica, ainda
é um botãozinho
FOTO DIVULGAÇÃO
Esta não se come. Passou do ponto e virou flor
quase primavera no hemisfério Sul.
Nessa época do ano em que o sol não
está nem lá, nem cá — o que astrônomos, geógrafos e demais estudiosos
costumam chamar de equinócio—, o
mundo verde fica mais colorido. É um
tal florescer que não acaba mais, e que invade também as cozinhas. É época de colheita da alcachofra,
uma das principais flores da gastronomia, talvez a
mais famosa, que abre espaço entre panelas e pratos
para provar que o amargo também é gostoso. Sim,
elas estão chegando. Não são discretas e têm um público fiel — seja de detratores ou adoradores. Sendo
uma flor, exige paixão e não há indiferença possível,
ama-se ou odeia-se. A alcachofra é assim.
Originária da região mediterrânea, ela é “prima”
das margaridas e dos girassóis, e chegou à mesa na
época dos banquetes romanos. Tinha fama de ser um
alimento com poderes medicinais — de fato é altamente digestiva, rica em vitaminas e um potente depurador do sangue, entre outras tantas benesses —
destinado aos nobres. Propriedades afrodisíacas
também foram atribuídas a ela. Lá pelos 1500, a italiana Catarina de Médici, casada com o rei francês
Henrique II, nutria certa fidelidade alimentar com as
alcachofras. Dada a alta reprodutividade da consorte
(que teve 10 filhos), o consumo dessas flores por damas da sociedade francesa acabou não sendo bem
visto. Deu no que deu, e a Belle Époque veio para
comprovar que, com ou sem alcachofras, o cancã, os
cabarés e o fino das artes nada têm a ver com a ingestão dessas flores levemente amargas.
A alcachofra chegou ao Brasil com os imigrantes
europeus e criou raízes no cardápio dos outrora comedores de mandioca. As receitas com a flor podem
É
ser as clássicas, que variam pouco, ou as gastronômicas, que assumem as mais diversas formas, como
a de um ravióli de pasta de alcachofra com camarões.
Para contemplar ao máximo o desejo de extravagância culinária, existe um tipo chiquérrimo de alcachofra, as chamadas castraures, servidas no restaurante Fasano, em São Paulo. São, na verdade, o
broto central da planta que é cortado (“castrado”)
para favorecer o florescimento de brotos laterais.
Verdadeiras vitelas do mundo verde, dão as caras no
Fasano sempre ao lado de uma boa massa. Comme il
faut. Mas só aparecem por aqui em maio, pois nascem no hemisfério Norte, na ilha Sant’Erasmo, no
arquipélago de Veneza.
Mas, cá para nós, simplesmente cozida, uma reles
alcachofra já é alimento repleto de virtudes. José Baratino, chef do Emiliano, que também vê a flor com o
olhar gastronômico — ela é completamente descascada crua e, depois, cozida para virar sabe-se lá o quê
—, ao ouvir a palavra “alcachofra” tem de imediato
uma reminiscência saborosíssima. A imagem, e o
gosto, de uma receita familiar, bem simples, invadem sua alma de cozinheiro. Algo que pode ser alcançado por qualquer um. Para transformar essa
imagem em gosto basta reproduzir os passos do chef:
As receitas podem ser clássicas
ou gastronômicas, assumindo as mais
diversas formas. Mas, cá para nós,
simplesmente cozida, a alcachofra
já é um alimento cheio de virtudes
1) Corta-se o talo bem próximo à base. Uma rodela de limão é amarrada ao fundo da alcachofra com a
ajuda de um barbante, para não oxidar. Assim elas
devem seguir para uma panela com água fervente e
salgada. Saem de lá cozidas (confira se estão macias
com a ajuda da ponta de uma faca), depois de cerca
de 30 minutos, e vão para um banho d’água com
gelo, para brecar o cozimento.
2) Miolo de pão amanhecido, alho, cebola, bacon, anchovas e azeite, tudo salteado em uma frigideira, fazem um guisado que irá cobrir as alcachofras já cozidas, que devem estar “descansando” em uma assadeira.
3) Daí, seguem para o forno a 180°C por mais uns
minutinhos (cerca de 30), recebem uma boa regada
de azeite extravirgem e pronto. As flores já podem ir
à mesa fazer bonito. L . H. L .
22 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
MOTOR
Centenário prazer de pisar fundo
Qual é o segredo para chegar bem aos 100 anos? No caso do Alfa Romeo, o apelo
esportivo e emocional, combinação realçada pelo novo Giulietta
TEXTO F A B I A N O P E R E I R A
FOTOS DIVULGAÇÃO
O novo Giuletta: história de
56 anos e corpinho de 20
primeiro nome vem de fábrica. Mais precisamente, da
Anonima Lombarda Fabbrica Automobili (Alfa), instalada há 100 anos no número
95 da Strada del Portello, nos
arredores de Milão. Embrião de uma das
mais prestigiadas fabricantes italianas de
carros, dela saíram o primogênito 24 HP e
o 40/60 HP, primeiro esportivo autêntico
da família. Em 1915, a marca ganhou sobrenome ao ser comprada pelo industrial
Nicola Romeo. Cinco anos mais tarde, uma
vitória no tradicional circuito de Mugello
lançaria as bases de um mito das competições. Até o concorrente Enzo Ferrari correu de Alfa-Romeo.
Esse caráter esportivo e emocional dos
Alfa, batizado de cuore sportivo (coração
esportivo), sobrevive até hoje, como se vê
no novo Giulietta. O modelo, que marca o
centenário desse ícone automotivo, resgata o nome de um dos clássicos da marca,
lançado em 1954. Hatch, compacto, de
cinco portas, o novo e o antigo se assemelham nas dimensões e elementos do design, como a inconfundível grade triangular. Mas na versão atual, o motor pode ser
1.4 a gasolina, com 120 ou 170 cv (ganhador do prêmio Motor do Ano), ou 1.7, de
235 cv. Com motor a diesel, consta o 1.6,
O
Cinco anos mais
tarde, uma vitória
no tradicional
circuito de Mugello
lançaria as bases
de um mito das
competições.
Até o concorrente
Enzo Ferrari correu
de Alfa Romeu
de 105 cv, e o 2.0, de 170 cv. O dono decide
quando quer o carro mais prático ou mais
arisco. Através de um seletor, ele pode
ajustar eletronicamente as funções dinâmicas do veículo, como controle de estabilidade, do diferencial, motor e direção.
O lançamento, porém, não revela
quanto o padrão dos Alfa mudou ao longo
deste século. A evolução da marca tem na
Segunda Guerra Mundial um claro divisor
de águas. Até então, seus mais aclamados
modelos usavam motores de seis ou oito
cilindros. Eram grandes e exclusivos, produzidos em pequenas quantidades, de
maneira artesanal, muitas vezes com carrocerias ao gosto do cliente. No pós-guerra, esse preciosismo deu lugar a uma produção em escala de modelos menores com
design padronizado. O grande marco dessa nova fase foi o primeiro Giulietta. Pequeno, belo, esperto ao volante, tinha
motor de quatro cilindros e refletia a ten-
4
3
2
dência do que predominaria nos Alfa-Romos modernos.
Outras marcas de alto padrão também
já passaram dos 100 anos. As trajetórias de
Rolls-Royce e Cadillac, por exemplo, destoam entre si. Se a Rolls, surgida em 1904,
consegue até hoje produzir os carros da
realeza, com o máximo de luxo e tecnologia, de maneira quase artística, é porque
atende a nata da sociedade. Já a Cadillac,
de 1902, perdeu muito de sua fama com o
ocaso do estilo opulento daqueles clássicos dos anos 50 — enormes, rebuscados e
beberrões. Desde os anos 70, seus carros
ganharam racionalidade e hoje ela tenta
seguir os moldes mais esportivos da BMW,
como o elogiado CTS. A Alfa Romeo, por
outro lado, não abandonou sua essência.
Mudou, racionalizou fórmulas e formatos,
mas seu principal produto continua sendo
a beleza de suas máquinas e o prazer de
acelerar fundo.
1
5
6
Linha do tempo:
1 24 HP 1910: atingia 100 km/h, feito
notável à época
2 8C 2900 Lungo Touring Berlinetta
1937: ícone de elegância sob encomenda
3 Giulietta Sprint 1954: sonho de consumo
de uma geração
4 Spider Fastback 1962: estrela do clássico
A Primeira Noite de um Homem.
5 Alfasud 1.2 1971: pequeno hatch,
tornou-se obrigatório
6 164 1987: sedã médio, no encalço dos BMW
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 23
ESPORTES
FOTO MARCELO RÉGUA/AG. O DIA
FOTO DA SEMANA
OPINIÃO
Phydia de Athayde
Se sesse,
assim seria
O que vale é bola na rede. O que
conta são os 3 pontos. Bom de verdade é a faixa de campeão no peito.
Quero saber é do placar, pois à história não interessam os quases de sua
escrita. Isso tudo é verdade. Mas só
em parte. Porque se o ser humano é
um bicho essencialmente inconformado e insatisfeito, o futebol é uma
arte (ou doença) escandalosamente
rica em “quases”, em “já pensous”,
em “ses”. É aí, no terreno fecundo do
“e se”, que descansam viradas épicas, gols de perder o fôlego, decisões
redentoras, massacres inenarráveis,
lavações de alma e rios de lágrimas
que nunca, nunquinha, deixarão o
purgatório gigantesco que é a cabeça
do torcedor.
BATE-BOLA
Elias, meia do
Atlético-GO
e artilheiro
do Brasileirão
FOTO DIVULGAÇÃO
Com rara categoria, Washington marca o primeiro de seus dois gols na vitória por 3
a 1 sobre o Ceará, na quarta. O Fluminense voltou a vencer após três jogos, espantou
um esboço de crise e se manteve isolado na liderança. Já o Ceará demitiu o treinador.
Nos últimos cinco jogos do Atlético-GO, você marcou sete
gols e deu passe para três. Uma andorinha faz verão?
Não, é difícil fazer sozinho, tem de ter ajuda dos companheiros.
No momento, estou me sobressaindo, mas depois vem outro.
Dois meias estão na artilharia hoje. Tá faltando atacante?
É que eles são muito marcados e os meias chegam de surpresa.
Além disso, você joga quase como um atacante, não?
Sou um meia-armador que chega na área pra finalizar. No Bahia
fiz 18 gols em 2008. Dizem que pareço com o Alex, ex-Cruzeiro.
Você tem 27 anos. Demorou um pouco para aparecer...
É, tem gente que desponta mais cedo. Quando passei por Vasco
e Fluminense não tive muitas chances de jogar. Mas não estou
novo nem velho e quero aproveitar o bom momento.
Dizem que você tem mais chance de jogar na primeirona
do ano que vem do que o próprio Atlético-GO...
Todo mundo sabe que time pequeno é pouco respeitado, mas
quem falava que íamos chegar à semifinal da Copa do Brasil?
Quero continuar na primeira sim, mas o Atlético também vem
fazendo um trabalho muito bom para subir e já cair novamente.
Seu contrato termina no fim do ano. Está na hora do Elias
voltar para um time grande? Qual?
Meu pensamento é esse e tenho um carinho especial pelo São
Paulo, onde joguei por dois anos na categoria de base. Mas antes
quero ajudar o Atlético com gols e a permanência na série A.
MUSEU DO FUTURO
A camisa 10
de Robinho no
Manchester City
O frustrado torcedor do Manchester City deve
estar se perguntando o que fazer com a camisa
do Robinho após sua transferência para o Milan
— onde o brasileiro deve estrear neste fim de
semana. Fabricada então pela francesa Le Coq
Sportif (o fornecedor hoje é a Umbro), a veste
azul-clara, com faixas branca e azul-escura
nas mangas e o número 10 estampado nas costas, vendeu como água em 2008 após a chegada do craque. Hoje, porém, é símbolo de uma
das maiores desilusões na história do clube.
Contratado por estelares €$ 40 milhões, Robinho esquentou o banco em boa parte do tempo
e marcou míseros 16 gols em 53 jogos. Cada
tento custou ao clube mais de
€$ 2 milhões. Pior foi ter
que vender o jogador por
menos da metade do valor da compra. Esse,
sim, um rombo difícil
de esconder. A camisa, ao menos, vai para
o fundo da última gaveta.
Parece um pijama, né não?
FRASE DA SEMANA
“
Se quisesse ser milionário, teria ido para o Chelsea Neymar, atacante
santista, em resposta à acusação de que, além de dar chapéu com a bola parada, tira onda do dinheirão que já tem
É no terreno fecundo do “e se”
que descansam viradas
épicas, gols de perder o
fôlego, decisões redentoras,
massacres inenarráveis...
Não vou dizer que o juiz deveria
ter mantido a cegueira de um lado só,
e dado apenas o pênalti fantasma
para o Corinthians quarta-feira.
Mas, vejamos, “se” isso tivesse
acontecido e, “já pensou?”, o Flu
perde pro Ceará, ai ai ai, aí o Timão
seria líder do campeonato, praticamente o campeão antecipado. Mas
não o faço porque aquele 1 a 1 com o
Atlético Paranaense nada mais foi do
que o reflexo de um justo 0 a 0.
A fantasia do “quase” ganha mais
cores quando é (desculpaí, Gordo)
fenomenal de verdade. Por exemplo,
no jogaço desta semana, no qual a
Argentina de Messi e Carlito Tévez
massacrou, aniquilou, humilhou e
sapateou sobre a faixa amarrotada da
atual campeã do mundo, a Espanha.
“E se” os latino-americanos, nós
ou os hermanos, tivéssemos brilhado tudo o que outrora acreditamos
na Copa deste ano, hein? “E se” tivéssemos a glória de testemunhar a
final dos sonhos — a pulsar eternamente no limbo dos acontecimentos
não acontecidos — entre Brasil e Argentina? Ou, quisesse o cosmo que
Dunga não fosse mesmo muito longe
com sua ira, “e se” Espanha e Argentina se encontrassem na semifinal,
com vitória dos vizinhos? “E se” o
destino nos tirasse a alegria de curtir
o ídolo Maradona na África do Sul e
em troca oferecesse a sensalzice do
atual (quem mesmo?) técnico da Argentina? Aí a frase malandrinha dita
por Messi essa semana, “Seria lindo
ganhar a Copa no Brasil”, saltaria da
bacia dos sonhos proferidos em botecos para a frequência gelada dos
pesadelos que, feito monstros, moram embaixo da cama de todos nós.
24 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
ECONOMIA DE PALAVRAS
Paulo Lima Soraggi
O cyberbullying no
Planeta dos Macacos
O filme Entre os Muros da Escola foi o tapa que ganhou Cannes em
2008. Entregou ao mundo uma França que não pertence a Carla Bruni.
Uma Paris além das periferias que queimam carros.
A obra mostra a cratera que separa Marin, professor de francês, de seus
alunos que compõem um belo matagal étnico de africanos, orientais,
árabes e latinos. Opiniões constroem no professor a figura do colonizador
que deseja moldar os ímpios na cultura da metrópole.
Se os estudantes estão na França e ascendem de outros países, não seriam eles os neocolonizadores? Marin é devastado pela indisciplina dos
alunos, que parecem não caber na sala de aula. O filme resulta em uma
radiografia da escola como o mais mala dos espaços. E quem paga o pterodátilo é o povo do giz.
Ao final do período letivo, depois de ver companheiros se carpindo de
pavor pelas turmas, Marin indaga os alunos sobre o que eles teriam
aprendido de mais importante naquele ano. “Nada”, respondem alguns
com cara de mingau.
É claro que Entre os Muros da Escola belisca a retrocolonização da Europa, processo que rola a despeito de fascistóides gratinados como partidos
políticos. Mas o que fica decantada é a cordilheira que separa o professor do
aluno, acidente que vai derrubando países no dominó das esperanças.
Sinto essa náusea por aqui. Helena, minha irmã, ainda não conseguiu
aplicar na veia o êxtase da aposentadoria. Foram vidas como professora
de Geografia da rede estadual e de uma universidade particular.
Numa turma de ensino fundamental, Helena mandava um rap composto por ela sobre o relevo brasileiro. Mesmo sem ganhar para isso,
educador tem de ser entertainer , tem de conquistar o aluno. Ora,
existe absurdo maior do que professor que só ensina? Helena pediu
que uma jovem fizesse silêncio. O retorno: “Cala a boca, biscate! Você
não me manda”.
Numa aula sobre bacias hidrográficas, um rapazote não parava de petiscar uma mocinha. Helena o admoestou. Ele exibiu um estilete. Outro
dia, na purgante reunião de pais, a mãe do elemento: “Hoje eu tomei uma
faca dele. Ele ia chuchar na senhora”.
Minha irmã aposentada. Entre os rendimentos, hérnia de disco, vesícula inflamada, cordas vocais arranhadas, varizes complicadas. Gripe a
toda hora. Já esquematizei para levá-la no centro da Dona Ica. Acho que
só Oxóssi e trabalhos de descarrego darão conta. Saravá, meu Pai, porque
os fariseus só pensam na capitalização da Petrobras.
A internet, que integra todos e desintegra outros, é o portal para a dimensão dos estudantes que infestam organizações para o martírio dos
operários da educação. Nesse cyberbullying, profissionais são escalpelados em seus atributos físicos e morais. É o divertimento doentio dessas
comunidades covardes, protegidas por uma adolescência bonachã que se
permite qualquer aberração na era da transmídia.
Há comunidades que organizam manifestações reais, dentro da sala
de aula. Não basta achincalhar on-line. Há de se destruir o professor
em seu pleno palco.
Minha amiga Ceiça, professora de História, enfrenta a rede particular.
Ela estava na explosão da verve mágica que o professor sente quando está
dando seu melhor espetáculo.
Revolução Russa. Um aluno levanta o braço. Ela fareja uma pergunta que
vai maravilhar a aula de vez. “A senhora tem um descaroçador de azeitona?” Não, ela responde suspensa. Oito ruminantes respondem em berro:
“Eu tenho”. E cada um ergue, sob trombetas, um exemplar do bagulho.
É claro que não imagino uma sala de aula com alunos de focinheira. A
guerrilha entre mestre e discípulo torna saudável a emboscada do conhecimento. Mas camuflar na rotina e transformar em rede social a humilhação do educador é taxar como normal o holocausto da educação.
Quanto aos pulhas cibernéticos, a maioria não tem pais. Só fornecedores.
Não conheço ser que quer ser professor. Existe um seriado chamado
O Mundo sem Ninguém. Vejo outro: O Planeta sem Professor. Ou seria
“dos Macacos”?
Paulo Lima Soraggi é escritor, músico e graduado em letras.
Minha amiga
Ceiça, professora
de História,
enfrenta a rede
particular. Ela
estava na explosão
da verve mágica
que o professor
sente quando
está dando seu
melhor espetáculo.
Revolução Russa.
Um aluno levanta
o braço. Ela fareja
uma pergunta
que vai maravilhar
a aula de vez.
“A senhora tem
um descaroçador
de azeitona? ”
Não, ela responde
suspensa. Oito
ruminantes
respondem em
berro: “Eu tenho”.
E cada um ergue,
sob trombetas,
um exemplar
do bagulho
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 25
PEQUENOS ABSURDOS
Luís Colombini
Até provar que não
era trambiqueiro...
Em 1937, o inventor alemão Gerhard Fischer patenteou o primeiro detector de metais. Em 1966, o americano Thomas Pace se valeu de uma
porta rotatória para criar um sistema de segurança. Na semana passada,
fui vítima da reunião dessas duas invenções.
Ao entrar no banco para abrir uma conta, a porta giratória travou. Com
um apito, o detector de metais acusava que havia uma suposta ameaça
em minha mochila. O escritor irlandês Oscar Wilde dizia que só os tolos
não julgam pela aparência — e confesso que estava mal vestido, com moletom velho e barba por fazer. Imediatamente, dois guardas armados,
com expressão ameaçadora, postaram-se ao lado e exigiram que eu “esvaziasse o conteúdo” da mochila. Coloquei celular, chaves do carro e
porta-óculos com fecho de metal no recipiente plástico indicado pelos
vigilantes. O incriminador apito ainda soava na porta travada.
Por mais absoluta que fosse a certeza de que não portava nenhum tipo
de arma, e que minha única intenção era me tornar cliente do banco, não
há ser humano normal que não se abale numa situação dessas. Diante da
expressão severa dos guardas e do olhar de curiosidade, talvez de temeridade, das pessoas que estavam no banco, fui ficando envergonhado por
ter me tornado suspeito de uma hora para outra. Revirei o fundo da mochila, mas não encontrava nada além de papéis. A situação durou intermináveis minutos — até que descobri um pequeno frasco metálico de desodorante esquecido numa repartição interna da mochila.
Fui, enfim, liberado. Entrei no banco, peguei uma senha e aguardei
minha vez. Os guardas continuavam me olhando de soslaio, como se
eu ainda representasse alguma ameaça. Clientes, caixas, gerentes
também me observavam, desconfiados. Por mais que meu único crime fosse carregar um desodorante na mochila, fui ficando ainda mais
constrangido. Meu embaraço era tão visível que, quando fui atendido,
o gerente soltou um “é assim com todo mundo...”, como se o fato de
todos serem constrangidos por aquela arapuca pudesse minimizar o
meu desconforto. “Pode ser, mas é muito desagradável ser tratado
como suspeito”, respondi. Pragmático, o gerente deu um sorriso sem
graça e emendou: “É que se não for assim a gente não consegue trabalhar. Todo dia tem assalto por aqui”.
Outra história de mesmo teor: um amigo foi passar o final de semana
numa pousada na serra, cujo único acesso se dá por estrada de terra. Sem
prática nesse tipo de terreno, dirigia devagar. Mas era noite e ele não viu a
famosa pedra no meio do caminho. Resultado: uma roda dianteira, a bandeja, parte da suspensão e o final de semana foram para o beleléu. Para
voltar a São Paulo e ser levado a uma oficina, o carro teve de ser guinchado.
Ao acionar o seguro, bastou falar que estava numa “estrada de terra”
para imediatamente virar um potencial suspeito de fraude e, assim, ser
submetido a um interminável interrogatório. Para o mundo dos seguros, estrada de terra não é um lugar sem asfalto que as pessoas usam
para chegar a lugares ermos e sossegados no final de semana. É sinônimo de um terreno perigoso que só é trilhado por irresponsáveis que se
arriscam em alta velocidade em ralis alucinantes — e, sendo assim, o
seguro não cobriria acidentes, pois o condutor do veículo teria se colocado deliberadamente numa situação de risco. Está lá no contrato,
numa cláusula que ninguém lê.
Findo o interrogatório, meu amigo comentou com seu corretor:
“Rapaz, fui tratado como suspeito do começo ao final. Perguntaram as
mesmas coisas umas dez vezes para ver se eu caía em contradição”. A
observação do corretor: “É um absurdo mesmo, mas, se não for assim,
as seguradoras quebram. Você não imagina a quantidade de gente que
tenta fraudar o seguro”.
Parece que o cidadão médio deixou de existir. A julgar por esses dois
episódios, o do banco e o do seguro, parece que algumas empresas passaram a classificar os brasileiros em apenas dois tipos: os trambiqueiros e as
pessoas honestas que, até prova em contrário, devem ser tratadas como
suspeitos de crimes que jamais pensaram cometer.
Luís Colombini é jornalista e editor.
Fui, enfim,
liberado. Entrei
no banco,
peguei uma
senha e aguardei
minha vez.
Os guardas
continuavam
me olhando de
soslaio, como
se eu ainda
representasse
alguma ameaça.
Clientes, caixas,
gerentes também
me observavam,
desconfiados.
Por mais que
meu único crime
fosse carregar
um desodorante
na mochila,
fui ficando
ainda mais
constrangido.
Meu embaraço
era tão visível
que, quando
fui atendido,
o gerente soltou
um “é assim
com todo mundo...”
26 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
VIDA
“Gosto de quem
respeita o silêncio.
De autores que se
expressam com
linguagem enxuta”
Luiz Schwarcz
TEXTO C R I S T I N A R A M A L H O
FOTOS M U R I L L O C O N S T A N T I N O
No dia que Luiz Schwarcz juntou coragem para dizer ao seu então chefe, o editor Caio Graco, da Brasiliense, que queria ir cuidar da própria vida, a sensação
foi tão boa que ele correu para casa, botou o Dirty
Work dos Stones para tocar e saiu dançando pelado no
quintal. Não era só aquele sonho bem familiar a todos
nós, o de dar uma banana para o patrão. Luiz, mal saído dos 30 anos, se sentia quase caindo do galho de tão
amadurecido. Era o salto: de ex-pupilo para a carreira
solo. Não deu dois meses e ele fundaria a Companhia
das Letras, entre as editoras mais importantes do país.
Dali em diante você, eu, boa parte dos leitores brasileiros nos debruçaríamos em algum livro editado
pelo Luiz: de um romance do estreante Chico Buarque
(Estorvo, que Luiz leu antes de todo mundo e recebeu
das mãos de Chico citando frase do pai, Sergio Buarque
de Hollanda: “Literatura é coisa séria, meu filho”) aos
ensaios de Edmund Wilson, Eric Hobsbawn, ou as biografias maravilhosas de Carmen Miranda, Assis Chateaubriand, Jorge Caldeira. As tramas de Rubem Fonseca. As histórias do Saramago. Uma lista impossível
de enumerar aqui, de tantas as obras.
Luiz também resolveu escrever as suas. Começou
com uma de menino, Minha Vida de Goleiro, inspirada
numa viagem que o fez entender melhor os silêncios
apertados do pai, homem duro que saiu de Budapeste
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 27
carregando a incerteza e a intimidade com as mágoas,
e que nas festas da sinagoga matava as saudades de
casa cantando alto as músicas típicas.
Único filho, bom aluno, Luiz andou bem nos trilhos,
mas soube dar outras bananas e outras partidas: entregou o diploma de administração de empresas para a família e rodopiou em direção oposta à gráfica do avô,
para uma carreira com um pé nas artes. Mostrou um
romance a outro paizão de coração, o escritor Tomás
Eloy Martinez, ganhou elogios, mas desmanchou tudo
e resolveu transformá-lo em livro de contos. As coisas
que ele não soube dizer viraram histórias bonitas tiradas dos pequenos e grandes instantes de sua vida. Estão no recém-lançado Linguagem de Sinais.
O lado certinho veste blazer, articula grandes negócios e segue a frase do pai do Chico. A Companhia das
Letras é coisa séria, meu filho. Agora está em sociedade
com a maior editora do mundo, a Penguin, e publica
neste ano 270 livros, quase um por dia. O lado do avesso continua disposto a ficar pelado: para driblar a depressão, Luiz anda a cavalo, vento no rosto. Ultimamente também se revela num blog, Imprima-se, com
casos deliciosos da sua carreira. Em cada linha, a alma
livre como um Garrincha em campo. É como se Luiz
passasse de terno e visse na rua uma bola dando sopa, e
chutasse forte para o gol. Voltando a ser menino.
28 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
VIDA
D
De onde vem essa vontade de se
expressar? Você que sempre foi
reservado agora está lançando livro
de contos (Linguagem de Sinais), e
tem um blog tão pessoal (Imprima-se,
no site da Companhia das Letras).
A decisão de escrever na minha vida
surgiu de maneira bem espontânea.
Antes do Minha Vida de Goleiro (infantil,
seu primeiro livro, de 1998), acho que já
tinha tido ideia de escrever com certeza,
em 89, 90. Uma delas até conto no meu
blog, sobre quando o (livro de Ana
Miranda) Boca do Inferno foi publicado,
que fala da minha relação com o mundo
editorial. Na época, tentei fazer um
romance em que o personagem era um
editor, era uma catarse talvez do que eu
estava sentindo naquela ocasião com
a profissão. Depois quis escrever sobre
o meu pai, ele era muito quieto, mais
quieto do que eu, e eu fui ficando cada
vez mais quieto. Ele me contou muito
pouco da vida dele, até que fui a
Budapeste, vi o lugar onde ele morou,
fiquei impressionado, emocionado, tentei
contar essa história e não consegui como
romance, então escrevi o Goleiro.
Você, como editor, figura conhecida,
teve medo de se expor?
No começo não, era uma vontade.
De alguma forma, precisava me
expressar. O primeiro livro escrevi para
os meus filhos, por conta de uma
situação familiar complicada que meus
pais estavam vivendo. Fiz com muita
leveza, demorei seis meses para
escrever, gostei muito de escrever.
Essa comunicação com a criança é para
mim mais natural do que com o adulto.
Minha dicção é mais infantil. Tenho uma
afetividade que não sei explicar.
O novo livro dele, Linguagem de Sinais
O que parece curioso, você sempre
passa a imagem de homem sério.
Sou sério, quando criança sempre fui
adulto perante meus pais. Na (editora)
Brasiliense eu era o mais velho da dupla,
o Caio (Graco) era o garotão. Mesmo aqui
tenho muitas responsabilidades, mas na
hora de me expressar você vê que no
meu livro tem muitas situações juvenis.
O seu trabalho é avaliar a escrita dos
outros. E a sua autocrítica, como é?
Com você há mais rigor?
Sem dúvida. Demorei cinco anos para
escrever cada um dos livros de contos.
O que faço fica grande, aí corto, então
tento um romance, aí não consigo. O
primeiro (Discurso Sobre o Capim, 2005)
era um romance de 100 páginas das quais
aproveitei 11 linhas. Esse já aproveitei um
pouco mais: cheguei a finalizar um
romance de 120 páginas e transformei em
contos, aproveitei umas 30, 40 páginas.
O leitor vai encontrar essas partes lá,
mas foram muito modificadas. Quando
entreguei o livro, achei que era mais
fraco, que tomei o partido errado, mas
pensei: “Bom, é o que eu posso fazer”.
Talvez eu esteja errado, mas sempre
tenho a sensação de que o que escrevo
está pior do que o anterior, que o meu
melhor livro é o Goleiro.
Quando é a hora de parar
de mexer no texto?
Se eu não tivesse ajuda de fora, não
parava. O primeiro livro parei quando
dois escritores argentinos que admiro
muito, o Tomás Eloy (Martinez, já
falecido) e o Alberto Manguel, elogiaram.
O Alberto falou: “Quero publicar na
minha coleção” e o Tomás disse: “Se
você não publicar eu vou publicar de
alguma forma”. Eu já estava decidido a
não publicar. Este último, quando fiz
ainda em formato de romance, quem
falou que estava bom foi a Lilia
(Schwarcz, sua mulher, colunista do
Outlook), ela foi a única pessoa que
gostou. Os editores aqui fizeram uma
critica severa, achei que eles tinham
razão, quatro ou cinco que leram falaram
“Luiz, não tá bom”. Fui para casa, não
fiquei muito abatido. Um lado meu até
ficou contente, do tipo “Tá vendo? Falei
que não era bom, sou um bom leitor,
não um escritor”.
Chegou a desistir?
Depois de um tempo fui para Nova York
com a Lilia, ela ia dar aula em Princeton
e eu teria um escritório na (editora)
Penguin, trabalhando (a Penguin fez
recentemente uma fusão com a
Companhia das Letras), me senti como
um estagiário, como no começo da
minha vida na Brasiliense. Imaginei
chegar lá para trabalhar de manhã,
à tarde iria escrever meu livro. Cheguei
e desanimei. Aí, no segundo dia me
avisaram que o Tomás Eloy tinha
morrido. Fiquei muito tocado, ele tinha
sido a única pessoa a quem eu tinha
entregue meu livro como romance.
Escrevi para o (jornal) O Globo sobre
o Tomás, o papel dele na minha vida,
contei de quando ele me levou ao
(museu) Metropolitan e falou: “Você é
um escritor”. Meu pai também tinha
morrido há pouco tempo, então resolvi
reescrever o livro em forma de contos,
para ele e para o meu pai. Eu não me
comunicava com o meu pai. Na verdade
queria escrever para mim e estava
precisando de uma desculpa.
O trabalho de editor
tem um glamour
que não
corresponde
à realidade. Muitos
dos melhores livros
que publiquei, não li
porque estava
ocupado com outro
original
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 29
FOTO MURILLO CONSTANTINO
E seus dois livros de contos falam
da incomunicabilidade.
Admirava muito o meu pai e peguei
muito o jeito dele, você vê as fotos e
percebe como fui ficando parecido com
ele. Mas, no fim da vida, ele morreu com
83 anos, estava abatido, infeliz, ele me
cobrava muito, como se eu fosse
responsável pela felicidade dele. Sou
filho único, não sei se vem daí. Gosto
muito do silêncio, de quem respeita
o silêncio na literatura. Os autores que
gosto se expressam com o silêncio,
têm a linguagem enxuta, mesmo na
música, gosto do silêncio.
Você adora música clássica, isso
vem de família?
Meu pai gostava muito de ópera, ele me
levava para ver, eu detestava. Simulava
que estava com febre e botava o
termômetro na lâmpada para esquentar,
para não ir. Mas sempre gostei de
música, viajo para assistir concertos. Vi
o (maestro) Claudio Abbado regendo em
Lucerna, quando terminou a 9ª Sinfonia
(de Beethoven), é uma sinfonia sobre a
morte, e aquele homem que está lutando
com a morte (Abbado está doente) botou
as mãos sobre o peito, e os músicos
mantiveram os instrumentos na mesma
posição. Foram três a quatro minutos em
silêncio, ninguém aplaudiu, era o
respeito pelo silêncio da música. (Luiz se
emociona.) Então os músicos abaixaram
os instrumentos, e foi a hora de aplaudir.
As pessoas choraram. Fiquei
emocionado.
E o seu lado roqueiro?
Fui um roqueiro fanático. O primeiro
disco comprei numa papelaria do Bom
Retiro, o LP Please Please Me (o primeiro
álbum) dos Beatles.
Já que enveredamos pelo passado,
vamos falar um pouco da Brasiliense.
Eu fazia administração na GV (Fundação
Getúlio Vargas) e militava no movimento
estudantil. Não gostava de
administração, fiz porque fui criado para
isso, tinha prestado (vestibular para)
história na USP e entrado, já era de
esquerda mas não conseguia ir contra
a minha família. Era muito bom aluno,
mas já sabia que não queria assumir a
gráfica do meu avô. Então fui procurar
um estágio na Brasiliense. Gostava de
literatura, pensei em trabalhar com isso.
Entrei e fiquei. Fui entrevistado lá no dia
que estavam fundando o Leia Livros
(jornal de literatura criado por Caio
Graco, que influenciaria uma geração).
Sou filho único e meu
pai me cobrava muito,
como se eu fosse
responsável pela
felicidade dele.
No fim da vida ele
era muito infeliz
30 | Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010
VIDA
Isso então foi final dos anos 1970.
Como foi sua participação nas
coleções que marcaram época lá,
tipo Primeiros Passos, ou os beatniks,
o livro do Marcelo Rubens Paiva
(Feliz Ano Velho), o Porcos com Asas
(de Marco L. Radice e Lidia Rivera)?
Minha história se juntou com a do Leia,
talvez minha presença tenha ajudado
a editora a caminhar para o lado que foi.
O Caio era um cara com a cabeça muito
aberta, eu era estagiário mas ele me
chamava para dar palpites, participar nas
reuniões. Ele me passou um trabalho com
os contos de Lima Barreto, essa história
está no Em Busca do Thesouro da
Juventude (segundo livro infantil de Luiz,
de 2003). A coleção Primeiros Passos foi
ideia dele, ia sair como tradução de uma
coleção espanhola, e ele me passou a
versão brasileira. Porcos com Asas ele
que escolheu. A gente dividia. Fiquei
nove anos lá.
Tivemos acesso ao
Harry Potter antes
dos outros editores
e alguém aqui deu
um parecer
contrário.
Foi um erro nosso
e ponto final
Tanto na Brasiliense e muito mais na
Companhia das Letras as edições
sempre chamaram atenção também
pelo cuidado estético, pelas capas
originais. É coisa sua?
Minha mãe sempre foi muito ligada em
arte, até num dos contos que escrevi o
personagem era um menino que ficava
assistindo aulas de história da arte, isso
acontecia na casa da minha mãe.
O contato com os artistas jovens, a
mudança visual nos livros, isso foi
sempre uma das minhas
responsabilidades na editora. Gosto
muito de estética, de arte. Em casa
tenho uma pequena coleção de arte
brasileira. Modernistas.
quadros do Volpi, Pancetti, Guignard,
Milton da Costa, Antonio Bandeira, nos
últimos tempos Lygia Clark. Isso vai
aparecer na minha literatura. No final
do Discurso Sobre o Capim fiz um
conto de um homem muito bem
sucedido que tem de fazer um discurso
porque ganha um prêmio, tipo Homem
de Ideias (Luiz ganhou de fato o prêmio
Homem de Ideias, em 1987). Ele não
consegue se lembrar de fatos para
contar, lembra de pequenos percalços,
a iniciação sexual com uma prostituta,
o temor de virar adulto, e aí se lembra
do primeiro quadro que comprou. É um
quadro que está na minha casa, um
Pancetti que foi até capa de exposição
na FAAP. É uma marinha com poucos
detalhes, tem um barquinho e na areia
tem um capim surgindo. É muito
bonito,fiquei muito emocionado
quando o comprei, ficava olhando
muito para esse quadro. Então no
discurso, em vez de falar da vida dele,
o cara do meu conto fala porque nasceu
aquele capim naquela areia. Acho que
eu estava expressando o significado da
literatura, quis dizer que as coisas não
são muito pensadas.
Mas podem ser muito pessoais.
É, acho que uma das minhas fraquezas
como escritor é não conseguir me livrar
da minha biografia, muita coisa
transformo em literatura. Uma das
editoras aqui me disse assim: “Você
é bom quando faz memória”. Várias
vezes as pessoas me falaram isso.
Quando comecei o blog resolvi contar os
casos de editor porque estou esquecendo
muita coisa. Me soltei um pouco demais.
Talvez tenha um livro de memórias aí.
O que você gosta? Amilcar de Castro?
Tenho uma escultura do Amilcar. E
FOTO ARQUIVO PESSOAL
Como é sua vida de editor?
O trabalho de editor é muito chato, tem
um glamour que não corresponde à
realidade. Muitos dos melhores livros
que publiquei, não li porque estava
ocupado com outro original. Tem coisas
embaraçosas, precisa dizer não.
Como é a divisão de trabalho?
Em paralelo.Meus colegas acham que sou
muito centralizador, mas tenho é
facilidade de tomar decisão. Hoje estou
num processo de delegar mais, a editora
está passando de tamanho médio para
grande, não dá mais para fazer tudo. Às
vezes participo como editor de um autor
importante, tem escritores que entregam
num estágio prévio e o livro vai se
construindo com o diálogo com o editor.
No Chatô, por exemplo, o Fernando
Morais, que é meu amigo, mandava cada
capítulo, a gente ia conversando.
O lado avô de Luiz: aqui com a neta mais velha, Maria Isabel
Chico Buarque, Milton Hatoum, Ana
Miranda, Bernardo Carvalho, você
lançou nomes grandes. Como foi
perceber que estourariam?
A literatura deles se impõe, e cada caso é
um caso. O Milton mandou o original
dele para a Maria Emilia (editora da
Companhia) com uma cópia para mim.
Li o livro no final de semana e falei:
“Esse cara tem muito talento”. O final
não amarrava na primeira versão,
arrumamos depois. Foi uma emoção ler
os primeiros contos do Bernardo. O
primeiro livro da Patricia (Melo), Aqua
Toffana, é espetacular. O Cidade de Deus
(de Paulo Lins, 1997) foi indicado pelo
Roberto Schwarcz, a edição demorou um
ano, era um livro muito grande,com
muito material para editar, e eu edito
Luiz reverenciando
dois paizões: o de
inspiração, Jorge
Zahar, editor; e o
da vida real, André
(no meio)
sempre em parceria.
E como recusar amigos? Tem
a história de que Rubem Fonseca,
seu amigo pessoal, saiu da editora
porque quis empurrar aquela moça
(Rubem indicou a jovem Paula
Parisot, Luiz não aceitou).
Os autores indicam, mas em geral aceitam
que a editora tenha autonomia. Mas não
quero comentar esse episódio, se você não
se importar, não vou abrir as razões da
saída do Rubem. Não foi apenas isso.
Ainda existem casos de ler originais
que chegam pelo correio ou isso
é coisa de filme?
Esse é um problema sério. A tendência
das grandes editoras é não aceitar mais
originais espontâneos, é uma coisa triste
por princípio, mas é impossível
administrar a quantidade de textos que
chegam. Nos Estados Unidos nenhum
editor aceita um livro assim. No mercado
americano, se você não tiver um agente
literário, não publica livro em lugar
algum. Aqui já aconteceu de
publicarmos o que chega: O Chalaça
(primeiro livro de José Roberto Torero,
de 1995) veio pelo correio. O Guia dos
Curiosos do Marcelo Duarte veio com
uma carta. Li e publiquei.
Você define a Companhia das Letras
como editora que opta pela qualidade.
Já esteve perto dos bestsellers?
J.K. Rowling (autora de Harry Potter)
a gente não comprou por falha nossa.
Tivemos acesso ao Harry Potter antes
dos outros editores, a Lilia, que cuida
dessa parte, não viu, estava fazendo a
livre docência dela. É uma história típica
do mercado: alguém aqui deu um
parecer contrário. E eu falava: “Olha, tô
em Londres, o livro está acontecendo”.
Foi um erro nosso e ponto final.
Sua mulher cuida dos infantis. Seus
filhos trabalham na editora, é uma
vida em família. Como você e a Lilia
se conheceram?
Outlook | Sexta-feira, 10.9.2010 | 31
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
Com um dos seus
maiores autores,
Saramago, que lhe
dedica aqui
amizade, de
próprio punho
Em um acampamento em Campos do
Jordão (SP). Eu tinha 13 anos, ela, 11.
Fomos nos rever só no colegial, eu era
colega do irmão dela no grupo judaico.
Aí já tinha 17 anos e começamos a
namorar. Estamos casados há 31 anos.
Trabalhar em família ajuda a saber quais
são os valores certos, a ter estabilidade.
Meu lazer é música.
E esporte: corro,
nado, monto a
cavalo. A Hípica
(Paulista) é vista
como um lugar
de elite, mas ali
tenho uma relação
com os tratadores,
com o animal,
adoro a natureza
Falando em infantil, esse mercado
cresce a cada dia. Quanto representa
na companhia? Aliás, quantos livros
vocês publicam por ano?
O infantil cresce, aqui pega uns 25%,
mas temos outras coisas, os quadrinhos,
a Cia de Bolso, a Penguin. Hoje a
Companhia publica 270 livros por ano,
é quase um por dia.
Fale da fusão com a Penguin.
Partiu deles. Eles queriam estender para
o Brasil o que já faziam na Coreia e na
Índia. É a maior empresa editorial do
mundo, vamos poder ter acesso ao
melhor trabalho editorial do mundo em
todos os setores: marketing, aparatos,
embalagem. Foram meses de conversa,
o maior desafio da sociedade foi lidar
com as grandes corporações de
advogados deles. É um momento chave
nosso, como foram outros que marcaram
a Companhia: editar o Rubem Fonseca,
depois a História da Vida Privada,
os livros do (jornalista) Elio Gaspari,
as grandes biografias.
A lista de bestsellers do Brasil está
mais parecida com as listas no mundo.
Você já disse que nossos leitores
eram mais sofisticados.
Isso mudou. A lista de bestsellers
brasileiros está menos intelectualizada
e literária do que antes. Mas não é mau
sinal. Quero olhar com otimismo. As
classes C e D estão entrando no mercado,
tanto que os livros que estão nas listas
têm preços não tão altos. O mundo
inteiro está em crise de superprodução,
o fracasso hoje é mais radical, a vida do
livro é mais curta. No começo fracasso
era vender dois mil livros. Hoje tem
muito livro que vende mil, mas a gente
aqui não analisa só pelo aspecto
comercial.
Livro é moda, tem as Bienais, a Flip.
Você ajudou a criar a Flip e depois
saiu, o que aconteceu?
Saí depois da segunda Flip por conta dos
conflitos que a minha presença gerou.
Tive a ideia, fui atrás dos editores, no
começo eu colocava cadeiras, fazia tudo.
Os editores escreveram cartas para os
jornais dizendo que aquilo era uma
jogada minha para promover os livros da
Companhia. Ninguém quis contribuir,
os cariocas achavam que a Flip era uma
competição com a Bienal do Rio. Hoje,
só vou lá por obrigação profissional,
não tenho prazer.
Ler é trabalho, então como você
se diverte?
Meu lazer é música. E esporte: corro,
nado, monto a cavalo. Tive minha
depressão mais profunda há 12 anos
e comecei a montar. Montar me faz bem.
A Hípica (Paulista) é vista como um
lugar de elite, mas ali tenho uma relação
com os tratadores, com o animal, adoro
a natureza. Comprei meu sítio, o lugar
da minha vida, algo sensorial, não sei
explicar. Tomo medicamento para
depressão, mas o esporte é muito
importante para eu começar o dia.
Um pouco de futuro: a Companhia
tem planos de criar conteúdo para
iPads, Kindle, outras mídias?
É um caminho natural. Vamos descobrir
novas formatações, mas quero acreditar
que o papel do editor fica. Ele tem de
cuidar da confecção final do livro.
MAKING OF
Eu nunca tinha conversado com o Luiz antes, embora minha história tenha se
inspirado por decisões dele, olha que coisa. Quando eu estreava na faculdade e queria
saber de tudo, li todos os beatniks e os policiais noir que a Brasiliense lançava.
Não demorou, ele abriu a Companhia das Letras e enquanto eu me dividia entre a vida
de estudante e as fraldas da minha filha, fugia da realidade mergulhando nos contos
da minha favorita Dorothy Parker, que ele editava. Anos depois, comprei para um
namorado o primeiro livro do Luiz, falando de um garoto santista e goleiro (como ele,
como meu namorado). A vida deu umas piruetas, e olha eu de volta ao mesmo
namorado, e falando com o Luiz de coisas da vida: os medos, os desejos, as agruras
de ser filho único (ele e eu somos). E por quase três horas de conversa,
parecemos tão próximos.
FIM DE PAPO
O mural
com capas
das histórias
do Tarzã, um dos
heróis favoritos
Além da imaginação
Se você apertar os olhos bem no meio deste cartaz, verá um rostinho de menino: o de Luiz pequeno,
matando a vontade de ser selvagem. O mural de Tarzã fica na sua sala na Companhia das Letras.
Outro herói, esse real, era o Pelé: Luiz ia ver todos os jogos do Santos, sempre sozinho. Em casa, chutava
bola na parede e se imaginava em grandes aventuras.
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BrECO_264 (SEXTA) : Plano 48 : 1 : OPÇÃO_CAPA