Ano 3 - Número 30 - Distribuição gratuita - JANEIRO 2005
Inspiração providencial
Uma frase valeu para
a relações públicas
Fernanda Moreno Silva, 27 anos, um empurrão
providencial. Não foi
por menos: a frase dela foi a vencedora do concurso cultural da Londrinatal 2004, que valeu a ela um apartamento no valor de R$
50 mil. Fernanda está
de casamento marcado para outubro. Para
compor a frase, ela se
inspirou na falta que
sentiu de Londrina
quanto morou fora.
Leão avança
sobre empresas
de serviço
Páginas 3 e 4
Série mostra
o perfil do
Norte do PR
Páginas 18 a 22
Páginas 10 a 14
Eles fazem a noite acontecer
O que seria dos jovens, dos notívagos e daqueles que gostam de dançar se não fossem
eles, os empresários da noite? Resposta simples, realidade nem tanto. Para os
empresários que fazem a noite de Londrina ser uma das mais agitadas do Estado,
independente do público, a diversão dos freqüentadores exige muito trabalho, que
vara a noite e abocanha também parte do dia. O Jornal da ACIL conversou com os
donos de boates, bares, conveniências e casas de show de Londrina para mostrar a
realidade dessas empresas.
Fotos: Josoé de Carvalho
Páginas 14 a 17
Esporte de Londrina terá que suar muito em 2005
Páginas 6 a 9
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
2
EDITORIAL
n o v o s
ASSOCIADOS
Um bom ano novo...
Fechamos o ano de 2004 confirmando as expectativas de
crescimento, índices mais que satisfatórios. A inflação ficou
dentro do projetado, o crescimento das exportações foi
recorde absoluto, as indústrias estão trabalhando com alta
capacidade, o comércio fecha o ano com muito movimento e
vendendo bem. A prestação de serviços não está dando conta
de atender a demanda em diversos segmentos. Todos estes
indicadores só não são ainda melhores porque abrimos
janeiro com uma saraivada de imposições de reajustes que
consomem o lucro de qualquer atividade.
É mais que sabido que nenhuma atividade está com
margens de lucros satisfatórias, fruto de um mercado que já
vem recessivo há muito tempo e de uma economia controlada
a migalhas. Quando o País começa a dar sinais de
recuperação e fechamos um ano com crescimento e com
indicadores de manutenção desta linha, novamente o governo
em todas as esferas deixa de fazer a sua parte.
Vamos imaginar como se as coisas acontecessem assim:
temos uma empresa, trabalhamos desvairadamente,
contratamos demais e quem quisermos, pagamos sempre os
salários mais altos, por função e não por competência, não
cobramos produtividade nem responsabilidade dos
empregados, oferecemos benefícios muito além do que se faz
no mercado, fazemos o que achamos mais correto, mesmo
que não seja o mais importante nem o necessário para o
momento, compramos indiscriminadamente, não cuidamos
do patrimônio e estamos sempre tendo que reformar e repor,
verticalizamos nossos negócios e não planejamos a longo
prazo, ajudamos os conhecidos, amigos, parentes com favores
direta ou indiretamente, não discriminamos quem nos trai ou
nos engana, não somos justos com os desonestos, não temos
o melhor produto nem o melhor serviço, mas não temos
concorrência, o mercado é reservado para nós. Fazemos o
nosso preço a partir da somatória dos nossos custos e da
adoção de nossa margem de lucros e crescimento e impomos
estes preços ao mercado que é obrigado a pagar.
Certamente esta situação fictícia na iniciativa privada
seria fadada ao fracasso. O empresário seria chamado de
incompetente e estaria fora do mercado rapidamente, por
mais necessário que fosse o produto ou serviço. Mas, para os
governos, é sempre possível transformar em realidade o que
para o setor privado não passa de ficção. Basta passar a
conta para outro, nesse caso, nós, empresários, prestadores
de serviço e profissionais liberais.
O ano mal se iniciou e temos os aumentos absurdos do
Imposto de Renda para a prestação de serviços, do transporte
coletivo, e outros, IPTU, IPVA, etc...etc...sempre na forma de
tributos, taxas e impostos, inúmeras contas que temos que
pagar em janeiro, sem análise sobre se a capacidade de
pagamento é suportada.
Pois vai a informação oficial: ninguém suporta mais tais
situações. Estão matando as galinhas!
Araci De Fatima Cabral Massariol .................................................................................................................................... Topcafé E Cia.
Borges E Prado Ltda. ........................................................................................................................................................... Smart Celular
Ca Moraes Calhas. ................................................................................................................................................. Funilaria Celso Calhas
Classy - Gran Marmores E Granitos Ltda. ......................................................................................... Classy Gran Marmores E Granitos
Cleomodas Presentes Ltda ....................................................................................................................................................... Cleomodas
Danielle Fonseca Matter Pereira .............................................................................................................................................. Mega Ótica
Dayanne Mendes Ferreira ............................................................................................................................................... Mercado Aliança
E. De Peder Confecções
Franco Marmores E Acabamentos Ltda - Me ................................................................................................................... Londrimarmore
Galenika - Ind. E Comércio De Cosméticos Ltda. ...................................................................................................... Kalya - Cosméticos
Helmut Baer Junior E Cia Ltda. ........................................................................................................................................ Hb Marmoraria
Jadri Centro De Estética ................................................................................................................................................ Studio V Coiffeur
L M. Romagnolli E Cia Ltda .................................................................................................................................... Marmoraria Athenas
Luiz Carlos Santa Clara ........................................................................................................................................................... Santa Clara
M3 Injection Ind. E Comércio De Prod. Automotivos Ltda .................................................................................................. M3 Injection
Manancial Embalagens Ltda ................................................................................................................................ Manancial Embalagens
Marcelo Passarella ................................................................................................................................................................... Phone.Com
Moda 10 Confecções Ltda. ...................................................................................................................................... Moda 10 Confecções
Moreno Telecomunicações Ltda. ................................................................................................................................ Londricel Celulares
Ns Industria De Comércio De Pedras Ltda ............................................................................................................................ Stone House
Ottimus Comércio De Roupa Lta. ...................................................................................................................................... Ottimus Moda
Preciosas Promessas Livraria Cristã Ltda ................................................................................... Preciosas Promessas Produtos Cristãos
Raquel O. Pinho E Amaral Ltda. .................................................................................................................................... Galeria Do Carro
Regivaldo Rodrigues Confecções Me ............................................................................................................................. Loja Marcelinha
Reinaldo Alves Azevedo - Lanchonete ............................................................................................................................... Torrada‘S Bar
Rosemary Mariko Hirayama .................................................................................................................................. Upper Vídeo E Games
Silvania Manoel De Oliveira ..................................................................................................................... Silvania Corretora De Imoveis
Sirval Sindicato Reparação Veicilos ................................................................................................................................................ Sirval
Souza E Cristovão Ltda. ..................................................................................................................................................... Hi-Tec Motors
Turbay E Polonio Ltda ...................................................................................... T E P Assessoria E Consultoria Comércio Exterior Ltda
Unidental Com. De Mat. Médicos E Odontológicos Ltda. ......................................................................................................... Unidental
Verônica Mara Romanelli .......................................................................................................................................... Cefas - Marmoraria
D. Campos e Castro Ltda ........................................................................................................................................................ Castrofarma
Horizonte Tintas Ltda ..................................................................................................................................................... Horizonte Tintas
Euclides Nandes Correia .............................................................................................................. Pontocon Contabilidade e Consultoria
Elizabete Cremonini Veggiani .......................................................................................................................................... CLV Celulares
José A. Garcia Armarinhos ......................................................................................................................................... Byke Center Garcia
Adesivos e Etiquetas Ricovale Ind. E Com. Ltda ........................................................................................................................ Ricovale
Irmãos Martins Empreendimentos S/C Ltda .............................................................................................. Vai e Vem Entregas Rápidas
Paulo Roberto Martins Tristão ........................................................................................................... Dominium Assessoria Empresarial
J.P.S. Alves Cia Ltda ....................................................................................................................................................... Imperial Móveis
Geo Travel Agência De Viagens E Turismo Ltda - Epp ....................................................................... Geo Travel Agência De Viagens
Associação de Pais e Mestres do Col. Est. Vicente Rijo .............................................................................. Associação De Paes Mestres
José Augusto Rapcham
FUNDADA EM 5 DE JUNHO DE 1937
RUA MINAS GERAIS, 297, 1º ANDAR,
ED. PALÁCIO DO COMÉRCIO.
LONDRINA – PR CEP 86010-905
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FAX (43) 3374-3060
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Diretor Comercial
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Segundo Diretor Tesoureiro
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Segundo Diretor de Serviços
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Presidente do Conselho
da Mulher Empresária
Helenida Taufik Tauil
da Costa Branco
CONSELHO DELIBERATIVO
George Hiraiwa, Eduardo
Yoshimura Agita, Nestor Dias
Correia, Brasílio Armando
Fonseca, Leonardo Makoto
Yoshii, Cristiane Yuri Toma
SUPLENTES - Marcelo
Massayuki Cassa, Nasser
Hassan El Kadri, José Mario
Tarozzo
O “Jornal da ACILé uma publicação da Associação Comercial e Industrial de Londrina. Distribuição gratuita. Correspondências para o
“Jornal da ACIL”, incluindo reclamações e sugestões de reportagens,
devem ser enviadas à sede da Associação ou pelo e-mail
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Coordenação e edição
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Fotografia
Josoé de Carvalho
Colaboradores
Fábio Cavazotti
Fernanda Mazzini
Jaime Kaster
Márcio Leijoto
Diagramação e
tratamento de imagens
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Impressão
Jornal de Londrina
Tiragem
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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CARGA TRIBUTÁRIA
Mordida silenciosa e feroz
MP 232, editada pelo governo na virada do ano, é
definida por especialistas como “imoral” e “inconstitucional”
Silvio Oricolli
Especial para o Jornal da ACIL
“Uma mistura de imoralidade e
inconstitucionalidade.” Essa é a
definição que o advogado
tributarista Frederico de Moura
Theophilo dá à Medida Provisória
232, editada no dia 30 de dezembro, que surpreendeu e decepcionou os empresários do setor de
prestação de serviços. Com a medida, a carga tributária – Imposto
de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)
e Contribuição Social sobre Lucro
Líquido (CSLL) – calculada sobre o
lucro presumido ficou 25% maior.
Para Theophilo a elevação de 32%
para 40% da base de cálculo do
IRPJ e CSLL é “imoral”, enquanto a
obrigatoriedade de pagamento da
CSLL e do IRPJ sobre ganho de
grandes empresas, com participação acionária no exterior, de acordo com as variações cambiais, é
“inconstitucional”.
O presidente do Sindicato das
Empresas de Serviços Contábeis,
Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas de Londrina
(Secon-LDA), José Joaquim Martins
Ribeiro, assegura que os
prestadores de serviço não têm
condições de absorver novos custos, que terão de ser divididos com
os clientes. “Por exemplo, no caso
dos contadores, não há mais espaço para absorver o aumento pela
margem pequena de ganho e nem
como repassar aos clientes, que se
encontram em situação delicada,
tanto que atualmente, o setor convive com uma inadimplência muito
alta”, constata. Tanto o presidente
do Sescon_LDA como o tributarista
Theophilo prevêem que a ganância
do governo em aumentar a receita
tributária terá dolorosos efeitos
colaterais, a começar pelo desemprego. “Até por uma questão de
sobrevivência, o setor terá de demitir, como forma de reduzir custos”, alertam.
Ribeiro diz que o impacto da
medida sobre o prestador de serviços seria menor se pudesse reajustar os honorários na mesma
proporção imposta pelo governo,
ou seja, em 25%. “O governo pegou
pesado e vai complicar a vida de
muita gente, justamente no setor
“O governo pegou pesado e vai complicar
a vida de muita gente, justamente no
setor que mais emprega no País”
José Martins Ribeiro
que mais emprega no País” analisa
o presidente do Sescon-LDA.
Segundo ele, o governo ao mexer
na base de cálculo da tarifa, que
passou de 32% para 40%, causou
impacto de 25% no valor que o
empresário terá de recolher. Ribeiro exemplifica: na tabela passada,
sobre o lucro de R$ 100 mil, o
empresário previa ganho de R$ 32
mil, ou seja, 32%, sobre o qual
recaia os 15% do tributo,
totalizando R$ 4,8 mil; com a MP
estabelecendo os 40%, o lucro presumido passa para R$ 40 mil, o
que resultará em R$ 6 mil. “É muita
coisa”, conclui.
MEDIDA ANTIÉTICA - Para o
tributarista Frederico Theophilo, o
objetivo do governo com a MP 232
é tão-somente aumentar a carga
tributária sobre as empresas
prestadoras de serviço. “Uma medida dessa só pode ser gerada por
incompetência ou por falta de ética. Como quem a elaborou não é
incompetente, é, portanto, aético.
É um ato que, numa análise mais
profunda, ofende até a moralidade
pública”, desabafa o advogado.
“O aumento da carga tributária
é imoral e ainda fere o princípio de
igualdade, porque é o organizador
da produção que acaba taxado no
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
4
“Uma medida dessa
só pode ser gerada
por incompetência
ou por falta de ética.
Como quem a elaborou
não é incompetente,
é, portanto, aético”
Frederico Theophilo
País. O justo seria que o empregador, que corre todo o risco, tivesse
uma carga tributária menor que a
dos empregados, porque é ele que,
independente de qual seja a situação, terá de pagar os salários. Mas
essa é uma questão muito difícil de
ser discutida no Judiciário, que se
tornou um apêndice do Poder Executivo, pois endossa tudo o que o
governo faz. Por isso, estamos órfãos
de algo que poderia assegurar os
nossos direitos. Este é o sentimento de todos nós, juristas”, enfatiza o
tributarista.
MALDADES - Para Theophilo, o
argumento utilizado pelo governo
para editar a MP 232, de compensação para a queda da receita tributária que viria com a correção de 10%
na tabela do Imposto de Renda da
Pessoa Física (IRPF), não tem
fundamento. “O governo não está
perdendo nada, pois, ao contrário
do que diz, vinha cobrando
indevidamente, porque a defasagem do Imposto de Renda é de 46%,
já que a tabela está sem correção
desde 1996”, argumenta o advogado, ao acrescentar que, em vez de
ter redução de R$ 1,8 bilhão com a
correção do IR, como apregoa
setores do governo, com a medida
editada no final do ano, haverá lucro
de R$ 4 bilhões.
“Os 10% de correção do Imposto
de Renda, como o governo anunciou, nem de longe recuperam a
defasagem da tabela. Então, a título de pacote de bondade, o governo
anunciou um saco de maldades,
porque prejudica o setor terciário,
que é o maior empregador do País.
Por isso, se as empresas não conseguirem repassar esse aumento, vai
ocorrer a demissão dos que seriam
beneficiados com os dez por cento
na tabela do imposto de renda. É a
lei da sobrevivência, afinal vivemos
em uma selva, sem nenhum direito”,
argumenta.
José Martins Ribeiro diz que, ao
contrário do que o governo anuncia, a tão falada correção de 10% na
tabela do IRPF não representará
redução significativa para o contribuinte. Em alguns casos, será nula.
Por isso, não teria impacto tão
grande, como previsto, no resultado da arrecadação tributária do País.
“No início do ano, até pode ser ocorra
isso, mas depois, com os reajustes
dos salários, a arrecadação desse
imposto será recomposta”, prevê.
Segundo Ribeiro, o empregado
que pagava R$ 75,00 a título de IR
sobre um salário mensal de R$ 1,5
mil, irá recolher R$ 72,90, caso seu
salário seja corrigido em 10% e passe
para R$ 1,65 mil. Se o salário for de
R$ 3 mil mensais, não haverá
Ônibus mais caro engole
parte do faturamento
Outro aumento que teve impacto direto sobre os custos das
empresas foi o do valor da tarifa
do ônibus urbano de Londrina,
que passou de R$ 1,60 para R$
1,90, em conseqüência do reajuste de 18,75% autorizado pela
Prefeitura e que está em vigor
desde o dia 9. O segmento de
confecções, por exemplo, que tem
175 empresas e emprega cerca
de 5 mil funcionários na Cidade,
segundo o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado do
Paraná (Sivepar), já contabiliza
os efeitos negativos sobre a margem de ganho. Dependendo da
área, podem ocorrer até demissões para diminuir o prejuízo.
Laércio João Rockenbach, proprietário
da
Clarear
Beneficiamento de Confecções,
que tem 200 funcionários, avalia
que o impacto para a empresa foi
muito grande, especialmente pela
dificuldade que terá de repassar
o aumento dos custos aos seus
clientes. “A verdade é que estamos
em um mercado onde a competição é globalizada, o que dificulta
o repasse dos custos”, pondera.
Pelos cálculos de Rockenbach, o
aumento de R$ 0,30 no valor da
tarifa representou acréscimo de
15,46% no gasto com o vale-transporte na empresa, que passou de
2,78% para 3,21% sobre o
faturamento bruto da Clarear.
“Como se pode ver, o impacto é
grande, porque é preciso considerar que ele se soma a outros, como
o aumento da carga tributária sobre o lucro presumido das empresas prestadoras de serviço, como é
nosso caso, e também a alta do
preço da matéria-prima, que não
acompanha a queda do dólar. Isso
causa um transtorno nos custos”,
diz. Com margem de lucro reduzida, em torno de 5%, quando o ideal
seria 10%, pela análise do empresário, e como o mercado não tem
condições de assimilar o repasse do
aumento da tarifa do transporte
coletivo, Rockenbach, que também
é secretário do Sivepar, diz que o
empresário fica “de cabelo em pé”,
porque tem de reduzir custos para
poder continuar no mercado. “E
isso significa redução de mão-deobra e de salário do pessoal.”
De acordo com o empresário, a
esperança é que as exportações
aumentem, o que pode contribuir
para melhorar a situação da indústria de confecção brasileira,
que atualmente vende apenas 2%
da produção ao mercado externo.
Álvaro Augusto Gerard, assistente financeiro da Sonhart Confecções, diz que em comparação
com os R$ 15 mil gastos na compra de vale-transporte no mês
passado, a empresa teve de de-
sembolsar R$ 18,6 mil para adquirir os vales deste mês, o que
representa um acréscimo de 24%
ou R$ 3,6 mil a mais. “Isso é
muito, porque o preço dos nossos
produtos não sobe há dois anos”,
compara.
Gerard diz que a Sonhart, que
emprega 530 pessoas em dois turnos de trabalho, não tem condições de arcar com mais custos,
considerando que sua margem de
lucro é de 3%. A alternativa é
repassá-lo ao preço dos produtos
que vende em todo o País. “De
uma forma ou de outra, haverá o
repasse, porque a empresa não
tem condições de absorver isso”,
diz.
Segundo Gerard, a empresa não
pensa em demitir funcionários por
causa disso. No entanto, nas futuras contratações pode dar preferência para quem mora em Cambé,
porque o preço da passagem é R$
1,65. “Como a Sonhart fica próxima
à avenida Tiradentes, pode ser que
adotemos essa estratégia, como redução de custos, porque, dependendo do número de funcionários, a
economia acaba sendo expressiva”,
comenta. Atualmente, quase a metade dos empregados da indústria é
de Cambé, revela.
(Silvio Oricolli)
nenhuma vantagem para o
empregado, que na tabela antiga
recolhia na fonte R$ 401,92: se
tiver um aumento salarial de 10%,
com os vencimentos passando para
R$ 3,3 mil, a retenção do IR passará
para R$ 442,15, pelos cálculos do
contabilista. “Então, prevalece o velho ditado: o governo dá com uma
mão, mas toma com duas”, ironiza.
CULPA DO EMPRESÁRIO - Ribeiro diz que o governo adota essas
medidas porque sabe que serão
aceitas passivamente pela sociedade. “Nós, os empresários, sentimos
os efeitos diretos desse tipo de medida, no entanto, aceitamos, com
uma ou outra reclamação isolada, o
aumento da carga tributária. Era
preciso que nos uníssemos em busca de soluções para esse tipo de
problema”, reclama.
Já o tributarista Theophilo defende que a classe empresarial deveria ter mais representatividade no
Congresso Nacional para impedir
que o governo continue adotando
medidas lesivas ao setor produtivo,
como a MP 232. “É mais do que
legítimo cobrar do sonegador. Mas é
vergonhoso continuar impondo aumentos da carga tributária aos empresários”, sustenta.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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ESPORTE
Dinheiro curto,
desafio maior
Com exceção do
handebol, outras equipes
esportivas da Cidade
decepcionaram o torcedor
em 2004. Agora, têm a
difícil missão de se reerguer,
apesar de estarem
começando o ano com o
‘caixa quebrado’
Jaime Kaster
Especial para o Jornal da ACIL
2004 definitivamente não foi o ano do esporte londrinense. No futebol, o Londrina foi o último
colocado da Série B e caiu para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro. O rebaixamento
agravou a crise financeira do clube. No basquete, a equipe que nos últimos oito anos sempre lotou
o Moringão em jogos contra os grandes times do País por pouco não acabou. Com a perda da vaga
no Campeonato Nacional para um time de Curitiba, o Londrina Basquete desmontou o elenco em
novembro e o presidente já ia renunciar quando surgiu um convite da Confederação Brasileira
(CBB) para a equipe jogar o Nacional de 2005.
Até a bela seleção de ginástica rítmica – as meninas que sempre representaram Londrina em
Olimpíadas e Mundiais da modalidade – foi dissolvida, por ordem da Confederação Brasileira de
Ginástica (CBG). O motivo foi a contenção de gastos. Seria um ano perdido não fosse a boa
participação da Unifil na Liga Nacional de handebol. Por isso, 2005 será o ano das equipes tentarem
“juntar os cacos” para recuperarem a confiança da torcida e, esta, recobrar sua auto-estima.
Futebol, com a bola baixa
O Londrina Esporte Clube
(LEC) terá a difícil tarefa de reatar
com o torcedor, que ainda está
magoado com o time, devido ao
rebaixamento à Série C. O clube
agora precisa dar a volta por cima
e inicia a sua luta dia 19 deste
mês, quando recebe o Francisco
Beltrão, às 20h30, no Estádio
Vitorino Gonçalves Dias, em sua
estréia
no
Campeonato
Paranaense de 2005. A meta da
diretoria é que o time se classifique entre os quatro primeiros do
Grupo B para disputar as quartas-de-final.
“Embora estejamos com um
elenco humilde e barato, com a
maior parte dos jogadores formados nas nossas categorias de
base, acho que temos condições
até de chegar às semifinais do
Estadual, como fizemos em 2003
e 2004”, diz o presidente do LEC,
Agostinho Garrote. No ano
passado, o time terminou em 4º
lugar no Paranaense e na temporada anterior havia sido o 3º.
Essas boas campanhas garantiram a participação do Tubarão
na Copa do Brasil. No ano passado, neste torneio nacional, a
equipe passou pelo América-RJ
e depois caiu diante do GrêmioRS. Este ano voltará à Copa do
Brasil fazendo sua estréia dia 2
de fevereiro, contra o Esportivo,
de Bento Gonçalves (RS). Se
passar, enfrentará Fluminense
Agostinho Garrote: “Temos
condições de chegar às
semifinais do Paranaense”
ou Sampaio Correa (MA).
“Dada a situação ruim em que
o clube se encontra, a presença
na Copa do Brasil ao menos é um
estímulo para os jogadores e
projeta o nome do clube na mídia”,
afirma Garrote. As boas
participações do Londrina nesta
competição vêm desde 2002,
quando o time chegou à segunda
fase (perdeu somente para o Cruzeiro, de Sorín e Edílson).
E a equipe irá para a Copa do
Brasil com o mesmo grupo inscrito no Paranaense. Fora oito a
nove jogadores mais experientes, os restantes são ex-juniores
oriundos das categorias de base
do LEC ou de outras equipes
menos expressivas. Com isso, a
responsabilidade por levar o
Tubarão adiante ficará com jogadores como o goleiro Vilson,
os zagueiros Alex, Rodrigo e o
volante Jean (vice-campeões
estaduais com o Paranavaí em
Mesmo com um elenco barato, com boa
parte dos jogadores formado nas categorias de
base, o LEC planeja chegar à fase final
do Campeonato Paranaense
2003); os laterais Cassiano,
Fabinho e o meia Marcos Cruz
(atletas revelados no LEC); e os
meias Edmilson e Nem (que
tiveram atuação destacada no
clube sob o comando de Freitas
Nascimento, em 2001). Mesmo
que venha a ter limitações técnicas, o técnico Itamar
Bernardes promete que o time
de 2005 será “aguerrido, unido
e com muita vontade de vencer”.
Se dentro de campo as coisas parecem estar se encaminhando, fora dele o clima é
sombrio. O clube tem uma despesa fixa mensal que chega a
R$ 75 mil, mas ainda não fechou com nenhum patrocinador. O prefeito Nedson Micheleti
e a Sercomtel (principal patrocinadora em 2004) ainda não
receberam a diretoria para conversar sobre um possível contrato, a PVC Brazil rompeu com
o clube no ano passado e o
empresário Marcelo Quelho
(grupo CDI) vem encontrando
muita
dificuldade
para
comercializar cotas de patrocínio do LEC. “O Londrina vê apenas os problemas de cada dia e
vem contando com ajudas de
pequenas empresas para conseguir se manter”, admite Agostinho Garrote.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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Basquete, com o pé no chão
Pelos lados do Londrina Basquete
Clube (LBC) a situação é ainda mais
desanimadora. Após a perda do título
paranaense de 2004 para o
Petrocrystal, de Curitiba, a equipe pévermelho – que se tornou uma marca
da Cidade e havia sido campeã das
oito edições anteriores do Estadual –
correu o risco de ser extinta em
dezembro. Sem a vaga no Campeonato Nacional de 2005 (que ficou com
Curitiba), pela primeira vez desde 1996
o time londrinense ficaria sem
calendário. Com isso, obviamente os
patrocinadores – entre eles a TIM e o
Colégio Maxi – não repassariam
qualquer verba à equipe este ano. E aí
restaria na Cidade apenas um time
amador para disputas como a dos
Jogos Abertos.
Diante desse cenário desolador e
do abandono total por parte dos outros diretores e conselheiros, o presidente Walter Montagna se cansou de
tocar o barco sozinho e anunciou que
iria renunciar em dezembro, mesmo
sem haver qualquer outro diretor
disposto a continuar o trabalho.
Terminado o Campeonato Paranaense,
no final de novembro o time sofreu um
desmanche completo e foram embora
os principais jogadores que haviam
sido contratados às pressas para tentar
salvar o time, caso dos cariocas
Jamison, Mingão e Victor Mansure.
Dias depois, a diretoria recebeu
uma notícia que foi um alento em meio
às tribulações. A CBB oficializou um
convite para o Londrina participar do
Nacional 2005, divido à sua boa posição
no ranking nacional (8º colocado). Só
que na condição de convidado, o
Londrina
teria
de
pagar
antecipadamente uma cota no valor
de R$ 150 mil, para custear as despesas das equipes que viriam jogar aqui.
Gestão terceirizada
Vinícius
Panerari:
“Como não
tínhamos
muitos
recursos,
montamos
um time de
garotos”
O Londrina Basquete Clube vai
disputar o Nacional 2005 com uma equipe
renovada e com idade média de 20 anos,
mas “de muita ambição”
Após muitas discussões, a Prefeitura
concordou em pagar o valor extra e o
Londrina foi inscrito no Nacional de
2005, que começa no próximo dia 23.
Com essa garantia, o presidente Walter
Montagna voltou atrás e decidiu
permanecer à frente do clube por mais
uma temporada.
Porém, a novela teve novos capítulos. Como a Prefeitura não depositou
os R$ 150 mil na conta da CBB até o
dia 12 deste mês, o time quase ficou
fora do campeonato de novo. O prefeito
Nedson Micheleti disse que não poderia
mais liberar o valor devido à Lei de
Responsabilidade Fiscal, e a diretoria
voltou a ficar na mão. O impasse e o
nervosismo dos jogadores só
terminaram no final do dia 12, quando
a TIM decidiu antecipar R$ 150 mil da
verba total de patrocínio (de R$ 250
mil) para bancar a vaga. O orçamento
do
time
londrinense
será
complementado com uma verba de R$
310 mil da Fundação de Esportes do
município (FEL).
Ginástica rítmica,
sem seleção
Outra notícia triste para o esporte local no ano passado foi a dissolução da seleção brasileira de ginástica rítmica (GR) de conjunto, que há
12 anos estava sediada na Unopar e
tinha no seu comando a técnica
Bárbara Laffranchi. As meninas sempre foram um orgulho da Cidade (afinal, além da treinadora e de sua
assistente Camila Ferezin, também
eram londrinenses três das seis titulares que foram à Olimpíada de Atenas: Dayane Camillo, Jeniffer Oliveira e Ana Maria Maciel). Mas agora não
levarão mais o nome da Cidade ao
mundo.
Em novembro, Bárbara Laffranchi
tornou pública uma decisão que lhe
foi transmitida pela presidente da
Confederação Brasileira de Ginástica
(CBG), Vicélia Florenzano: como a
seleção de GR não possuía patrocinador oficial (a exemplo da ginástica
olímpica, que é bancada pela CocaCola), e não teria compromissos internacionais após os Jogos Olímpicos, ela seria desfeita.
Diante da negativa da CBG em
A novidade este ano foi o acerto de
uma parceria com o empresário
maringaense Vinícius Fontana Panerari,
que irá dirigir a equipe de forma
terceirizada. Ele é um dos representantes no Brasil da Soresport (empresa
espanhola que agencia jogadores de basquete em toda a Europa) e empresaria,
segundo ele, mais de 30 atletas brasileiros.
Com o contrato assinado, Panerari foi
atrás de jogadores jovens e de salário
acessível e montou uma equipe com média
de idade entre 20 e 21 anos. “A ordem é ter
nos pés no chão. Como não tínhamos
muitos recursos, a saída foi montar um
time de garotos, que, embora contem com
pouca experiência, têm bastante ambição
e isso é importante. E dessa forma Londrina retorna à sua raiz, que sempre foi a
revelação de talentos, uma marca do técnico Enio Vecchi.” Panerari compara que,
enquanto os times favoritos ao título nacional, como Uberlândia e Telemar (RJ) –
equipe montada por Oscar – têm uma folha
mensal que chega a R$ 200 mil, o Londrina
gastará cerca de R$ 50 mil com o elenco.
Como todo o time só se apresentou
dia 4 de janeiro, o treinador Enio Vecchi
– que está na Cidade desde 1997 – terá
apenas 20 dias para tentar entrosar o
grupo. “É uma situação inusitada. Isso
nunca aconteceu nos anos anteriores. A
equipe que disputava o Paranaense sempre ficava para o Nacional e esse ano não
ficou ninguém. Vamos ter que começar
tudo do zero. Mas como são jovens, acredito que esses garotos poderão aprender
rápido o nosso estilo de jogo”, aposta.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
8
manter a seleção de GR, a técnica
Bárbara Laffranchi levou a polêmica a
uma audiência pública realizada dia
1º de dezembro, na Comissão Permanente de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
Fim da seleção brasileira
de ginástica rítmica foi um duro
golpe para a modalidade e para Londrina,
já que o conjunto estava sediado
na Unopar há 12 anos
Bárbara participou com um objetivo:
exigir justiça para a sua equipe. Segundo ela, Vicélia Florenzano privilegiou a ginástica artística (olímpica) e a
equipe individual de GR. A técnica
conta que recebeu a notícia da pior
forma possível: no dia 4 de agosto, a
apenas quatro dias do embarque do
grupo para competições na Europa
(Rússia, Alemanha e Bulgária) e para
a Olimpíada.
“Com tudo pronto, depois de meses de preparação, a presidente da
CBG nos comunicou que a seleção
iria acabar. Disse ainda que só a
Daiane dos Santos (da ginástica artística) tinha chance de medalha em
Atenas”, criticou Bárbara.
“Estamos todos indignados com o
descaso por parte da CBG. Vou cobrar providências. Quem perde é o
esporte e principalmente nós de Londrina, que sempre apoiamos a GR”,
desabafou a treinadora. Com o fim da
seleção, as ginastas agora se mantêm
apenas como atletas da Unopar, que
ganhou com folga o último Campeonato Brasileiro, disputado entre 9 e
12 de dezembro, em Curitiba.
Handebol cresce
e quer o título
Se as outras modalidades decepcionaram em 2004, ao menos uma
‘salvou a pátria’ dos londrinenses: o
handebol masculino da Unifil, que
conseguiu um resultado inédito na
última Liga Nacional. Foi vice-campeão, perdendo a final para a
heptacampeã Metodista (SP). A meta
para este ano é mais arrojada. “Queremos chegar ao título e temos condições”, avisa o técnico Giancarlos
Ramirez. Ancorado pela estrutura da
instituição de ensino, o time vem
numa ascendente e desde 2001 não
fica fora das semifinais do Brasileiro.
Em 2003 foi 3º colocado e em 2004
fez uma final emocionante com a
Metodista, levando a decisão para o
terceiro jogo.
O primeiro passo na busca de
chegar “mais longe” será a renovação
com os 16 atletas do elenco atual e a
contratação de reforços. “Se quisermos ser campeões, precisamos de
mais um goleiro de nível de seleção
brasileira, como o Marcão e o Alexandre”, adianta o supervisor da Unifil,
Júlio César Brevilhéri.
Este mês os jogadores estão de
férias, à exceção do armador Léo e do
pivô Alê, que estão com a seleção
brasileira e viajaram no último dia 5
para disputar torneios na Europa.
Eles participarão de três competições na França e na Dinamarca antes
de embarcarem para o Mundial da
Tunísia, que acontece de 23 de janeiro a 6 de fevereiro. Os demais só
voltam às atividades em fevereiro. No
calendário, o grupo terá a Copa do
Brasil, em março, em Londrina; um
torneio sul-americano, em junho; e a
Liga Nacional, de julho a dezembro.
Comparado às outras modalidades da Cidade, o handebol é o que
deverá sofrer menos para obter recursos para disputar os seus campeonatos. Já tem garantidos R$ 200 mil
da Fundação de Esportes e pelo
menos R$ 300 mil da Unifil (valor
aproximado que a universidade já
injetou no time em 2004). Fora isso,
a equipe recebeu R$ 50 mil da
Sercomtel e espera renovar o patrocínio. “Mesmo com alguns valores já
certos, vamos em busca de outros
parceiros porque, se quisermos chegar ao título, teremos que trabalhar
com um orçamento anual de R$ 800
mil”, prevê Brevilhéri. (J.K.)
Atravessando um
bom momento, como
vice-campeão da última
Liga Nacional, o handebol
masculino da Unifil não
deverá ter dificuldades
para fechar os patrocínios
para o ano
Giancarlos Ramirez:
“Queremos chegar ao titulo
e temos condições”
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
9
Com um perfil diferente
dos outros esportes, que
dependem ou de verba pública para se manter (basquete,
handebol ou futsal) ou de
grande apoio da torcida local
para obter resultados (como
é o caso do futebol), o
automobilismo de Londrina
sobrevive
de
forma
independente e atravessa
períodos de crise sem correr
o risco de ver seus
campeonatos esvaziados.
Isso porque a maior parte
dos pilotos corre em categorias que não exigem grande
investimento (como Speed
Fusca e Marcas) e por isso
eles próprios bancam parte
das despesas da equipe.
Aqueles que não são empresários ou profissionais
liberais correm atrás de vários patrocínios e geralmente
são atendidos por empresas.
O resultado vem sendo
um Campeonato Metropolitano bastante movimentado,
com mais de 30 carros em
cada grid, e nove etapas ao
longo do ano (entre março e
novembro). O Metropolitano
de Velocidade é organizado
pelo Automóvel Clube do
Café, que este ano está com
nova diretoria, com Márcio
de Albuquerque Lima na presidência. Além das provas
regionais, o Autódromo
Ayrton Senna também recebe as etapas paranaenses –
serão nove este ano, nas
mesmas categorias do
Metropolitano
(Speed,
Marcas, Protótipos), e cinco
delas serão em Londrina. Em
cada uma dessas provas, o
autódromo recebe pelo
menos 3 mil pessoas.
Fora as provas dos carros, desde o ano passado
vêm ocorrendo simultaneamente etapas dos campeonatos Metropolitano e
Paranaense
de
Motovelocidade, organizadas
pelo Moto Clube de Londrina. É um festival de motos na
pista, divididas em categorias
que vão desde as tradicionais
125cc até ‘Superbikes’ (motos
de 500cc a 1.000cc). Londrina
é referência também em provas nacionais, uma vez que
recebe as principais categorias do calendário da CBA Confederação Brasileira de
Automobilismo.
TURISMO DE EVENTOS
- “Além de ser esporte para o
praticante, o automobilismo
é também um evento que
reúne grandes públicos e gera
divisas para o município, pois
a cada prova nacional os
hotéis, restaurantes e
shoppings da Cidade ficam
lotados. É o turismo de
eventos, que movimenta
milhões em uma cidade do
porte de Londrina”, observa
o presidente da ACIL, José
Augusto Rapcham, que além
de empresário é piloto – corre
na categoria Protótipos (carros em geral com motor 2.0,
montados somente para as
pistas) pela equipe Indrel
Racing.
E Londrina tem sido privilegiada nos últimos anos,
com a realização de duas
etapas da Stock Car V8, a
principal categoria do País e
que tem provas transmitidas
pela Rede Globo. “As equipes
e pilotos gostam daqui porque
o nosso autódromo é seletivo;
exige arrojo e habilidade do
piloto. Outro atrativo é que a
Cidade está numa localização intermediária para quem
vem de Brasília, do Rio ou de
Porto Alegre. Além disso, o
autódromo aqui está inserido no Centro da Cidade e não
como nas capitais, onde fica
muito fora de mão”, comenta
Augusto Rapcham.
Para ele, é por esse motivo que os promotores da
categoria optam por vir duas
vezes a Londrina. “Em Porto
Alegre o autódromo fica no
município de Viamão, a 50
km do Centro, e no caso de
Curitiba, fica em Pinhais, a
25 km da capital”, compara.
Para este ano, segundo o
diretor do autódromo,
Gumercindo Marcantonio,
por enquanto só está confirmada uma etapa da Stock:
dia 7 de agosto.
A vinda de qualquer pro-
Divulgação
Autonomia dà estabilidade
ao automobilismo
va nacional para Londrina é
comemorada como um evento pelos empreendedores
locais, pois fazem girar a
economia. “Uma corrida destas tem pelo menos 30 carros
no grid, e cada carro uma
equipe com sete a dez pessoas. Somados aos familiares
que vêm para acompanhar o
piloto e desfrutar dos serviços
que a Cidade oferece são pelo
menos 600 pessoas de bom
poder aquisitivo se hospe-
dando e comprando aqui”,
calcula o presidente da ACIL.
(J.K.)
PROVAS QUE MOVIMENTARÃO O AUTÓDROMO EM 2005
Do calendário da FPA (Federação Paranaense de Automobilismo)
„ Campeonato Metropolitano de Velocidade (março a novembro)*
„ Paranaense Velocidade (março a novembro)*
„ Campeonato Metropolitano de Motovelocidade (março a novembro)
„ Paranaense Motovelocidade (março a novembro)
„ Categorias Speed, Marcas, Multimil 1.0 e Protótipos
Do calendário da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo)
„ Fórmula Renault ......................................................................................................... 13 de março
„ Copa Clio .................................................................................................................... 13 de março
„ Copa Mitsubishi MM ........................................................................................................ 3 de julho
„ Fórmula Truck ................................................................................................................. 10 de julho
„ Stock Car V8 ................................................................................................................. 7 de agosto
„ Stock Car Light ............................................................................................................. 7 de agosto
„ Brasileiro de Sport Protótipos (Brascar)
„ 5º Encontro Internacional de Motociclismo
„ 500 Milhas de Londrina ....................................................................................... 10 de dezembro
„ Campeonato Brasileiro de Endurance (categorias Turismo e Protótipos)**
** Esta competição, que reúne importados de grandes marcas, como Audi, BMW, Ferrari e Mercedes, ainda
não está com a etapa confirmada em Londrina
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
10
INTEGRAÇÃO REGIONAL
Nas pegadas do
desenvolvimento
Londrina e Maringá se integram em torno de um eixo macrorregional
com 13 município em busca de expansão socioeconômica
Fábio Cavazotti
Especial para o Jornal da ACIL
Fundada em 1947 pela Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná, empresa sucessora da
Companhia de Terras Norte do
Paraná, que 13 anos antes havia
iniciado a colonização de Londrina, a cidade de Maringá desponta, 58 anos depois, como o
segundo pólo da região e um dos
principais do Estado.
Posicionada geograficamente
no limite das férteis terras roxas
com a formação conhecida como
“arenito caiuá”, característica do
Noroeste do Paraná, Maringá se
transformou, por meio da diversificação econômica e cultural,
no centro de referência de uma
região com 127 municípios e população próxima a 1,7 milhão de
habitantes.
Quando se fala em integração
da região Norte para fins de desenvolvimento socioeconômico,
é preciso apontar o papel de destaque que Londrina e Maringá,
as duas maiores cidades do eixo
de 13 municípios, exercem sobre a região.
A estratégia de somar os potenciais locais e “vender” o eixo
como um todo, visando a atração de investimentos, recebeu
forte impulso do setor privado
com a criação da Agência Regional de Desenvolvimento “Terra
Roxa Investimentos”, no último
dia 10 de dezembro,
em
Rolândia.
Com participação das associações comerciais dos 13 municípios do eixo IbiporãPaiçandu – a leste de Londrina e
oeste de Maringá, respectivamente - entre outras entidades
dos poderes público e privado, a
Agência elegeu uma diretoria
executiva e nomeou como primeiro presidente o executivo
Adrian von Treunfels, cônsul
honorário da Alemanha em
Rolândia, cidade que também
abriga a sede da entidade.
A partir desta edição, o Jornal da ACIL inicia a publicação
a município.
Desde as origens, a cidade
cumpriu importante papel como
núcleo de comercialização agrícola, centro de abastecimento,
negociação de terras e prestação de serviços, para os municípios vizinhos. Remonta daí sua
importância como pólo regional,
condição que hoje alcança parte
dos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
À frente da média nacional, Maringá
obteve o sexto melhor Índice de
Desenvolvimento Humano do Paraná
(IDH), com 0,841%
de uma série de seis matérias
para mostrar um pouco da realidade econômica dos municípios que dividem com Londrina a
tarefa de integrar as estratégias
de desenvolvimento para
“turbinar” o crescimento regional.
Maringá, também conhecida
como “Cidadão Canção”, é a cidade que abre a série.
HISTÓRIA - O planejamento
inicial de Maringá foi feito pelo
arquiteto paulistano Jorge
Macedo de Vieira, que, segundo
a bibliografia histórica, não chegou a conhecer pessoalmente a
região.
Com base em informações repassadas pela Companhia Melhoramentos, ele desenhou uma
cidade bastante arborizada, com
amplas avenidas, calçadas e canteiros. O zoneamento se divide
em zonas residenciais, comerciais e industriais, e reserva como
parques municipais duas áreas
de floresta nativa, com quase
100 hectares, praticamente no
centro da cidade.
Em 1951, quatro anos após a
fundação, quando a população
já se aproximava de 40 mil habitantes, Maringá deixa de ser distrito de Mandaguari e é elevada
INDUSTRIALIZAÇÃO - Até o
início da década de 1960, a população de Maringá era predominantemente rural. O processo de industrialização e a redução do cultivo do café contribuíram para a migração de milhares de pessoas do campo para a
cidade.
Nos anos 70, a taxa de urbanização chegou a 82,6%, decorrente da diversificação da economia urbana. Contribuiu para
isso, também, a introdução de
novas técnicas agrícolas que reduziam o uso de mão-de-obra. O
êxodo rural, entre os anos 60 e
70, alcançou aproximadamente
30 mil pessoas, para uma população total de 123 mil ao final do
período.
O processamento da produção obtida no campo deu origem
à agroindústria, primeiro ramo
industrial desenvolvido na região e, até hoje, um dos mais
importantes da economia local.
Da década de 70 para cá, a
indústria maringaense se diversificou muito, com forte presença nos setores de tecelagem, confecções e calçados, metal-mecânico e mobiliário.
O crescimento das indústrias impulsionou, a partir de meados dos anos 70, o comércio
varejista e atacadista, ramo que,
atualmente, registra quase 10
mil estabelecimentos no município.
Além do comércio e da indústria, a cidade desenvolveu a
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
11
área de prestação de serviços, com destaque para educação (fundamental a superior),
saúde (atendimento básico e especializado), e as áreas de telecomunicações (jornais, rádios e
TVs) e financeira (bancos).
SÉC. XXI - EM 1998, a Assembléia Legislativa aprovou a criação
da Região Metropolitana de
Maringá (RMM), composta por 12
municípios – Maringá, Sarandi,
Paiçandu,
Mandaguaçu,
Mandaguari, Marialva, Iguaraçú,
Floresta, Ivatuba, Ângulo, Itambé
e Doutor Camargo -, com de
493.853 habitantes. A população
O setor privado, com a criação da
Agência Regional de Desenvolvimento
“Terra Roxa Investimentos”, aderiu à
estratégia de somar os potenciais locais e
“vender” o eixo como um todo, em busca
de investimentos que garantam a
expansão dos 13 municípios
regional somava, em 2000,
493.853 habitantes, segundo o
IBGE.
A exemplo de Londrina, que
também teve sua região metropolitana contemplada por Lei Estadual, Maringá não sentiu os
efeitos práticos da medida até
hoje, porque o Governo do
Estado ainda não tirou os projetos metropolitanos do papel.
Em 2004, Maringá obteve o
sexto melhor Índice de Desenvolvimento Humano do Paraná
(IDH), à frente de Londrina e os
demais municípios da região
Norte. A média da cidade,
0,841%, é sensivelmente maior
que a do País, de 0,764%.
INDICADORES DE MARINGÁ
ANO
POPULAÇÃO
1950
1960
1970
1980
1991
2000
38.588
94.450
123.111
160.240
240.141
288.650
CRESCIMENTO ANUAL
URBANIZAÇÃO
9,36%
2,55%
3,31%
3,29%
1,93%
18,8%
46,8%
82,6%
95,5%
97,4%
98,4%
Fonte: IBGE
PRINCIPAIS SETORES INDUSTRIAIS
PRINCIPAIS SETORES ECONÔMICOS
Industria – 51%
Serviços – 35%
Comércio – 13%
Agropecuária – 1%
Fonte: Codem (2000)
SETOR
NÚMERO DE ESTABELECIMENTO
Vestuário, Calçados e Tecidos ........................................................................ 858
Produtos Alimentares ......................................................................................... 304
Metalúrgica ......................................................................................................... 240
Mobiliário ............................................................................................................. 177
Mecânica .............................................................................................................. 99
Fonte: Caged/Sine (1998)
Cidades-pólo estão à frente da integração
Para o prefeito de Maringá, Silvio
Barros II, as duas maiores cidades da
região têm a obrigação de liderar o
processo de integração e desenvolvimento. “É função das cidades-pólo; os
outros municípios esperam isso da
gente.”
Formado em engenharia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
consultor do Sebrae por quase uma
década, filho e irmão de ex-prefeitos
de Maringá, Silvo Barros II, que foi
Secretário de Turismo durante a gestão do ex-governador Jaime Lerner,
assumiu o primeiro cargo eletivo de
sua vida, no dia 1º de janeiro, prome-
tendo todo o apoio possível à iniciativa
deflagrada pelo setor privado, por meio
da Agência. “O primeiro setor é o
governo, o segundo, a classe empresarial, e o terceiro, a sociedade civil
organizada, e eles não devem trabalhar dissociados. Quando a parceria
está orientada e dirigida pelo setor
privado o modelo é vacinado contra a
descontinuidade política”, afirmou o
prefeito.
“A fórmula adequada para o nosso
desenvolvimento passa pela consolidação das regiões metropolitanas de
Maringá e Londrina, nas duas pontas,
e a integração do eixo. Isso nos torna
Com a integração, as
prefeituras irão oferecer o
suporte necessário às ações a serem
desenvolvidas pelo empresariado
Prefeito Silvio Barros II: “Quando a
parceria está orientada e dirigida pelo
setor privado o modelo é vacinado contra
a descontinuidade política”
uma região muito mais competitiva,
com dois aeroportos, mais universidades e uma estrutura muito superior.
Essa consolidação vai nos ajudar a
crescer e aumentar nossa produção,
em volume e valor agregado”, acrescenta.
Silvio Barros, três semanas antes
de assumir o cargo de prefeito, participou da solenidade de lançamento da
Agência, em Maringá, onde conversou
com o prefeito de Londrina, Nedson
Micheleti (PT), pela primeira vez. Ambos
deixaram o encontro com o mesmo
discurso de oferecer o suporte
necessário às ações desenvolvidas pelo
empresariado da região.
Sobre as rixas regionais, Nedson e
Silvio Barros, declaram que elas já
ficaram para trás. “O momento é de
somar. Maringá está um pouco atrás
de Londrina, temos que reconhecer
isso, mas vamos trabalhar para ir
chegando junto. Queremos aproveitar
os exemplos de Londrina e deixar à
disposição as experiências bem
sucedidas de Maringá, nacional e internacionalmente, em diversos setores”, disse Barros.
(Fábio Cavazotti)
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
12
"Democracia participativa deve prevalecer"
Somar esforços para consolidar o eixo
Londrina-Maringá como pólo de uma
região de 4 milhões de habitantes significa
uma estratégia de desenvolvimento com
alcance de “um pequeno estado brasileiro”, de acordo com o professor de economia e diretor da Faculdade Nobel, de
Maringá, João Celso Sordi. Além de coordenador técnico do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá
(Codem), Sordi é representante da Associação Comercial e Empresarial de
Maringá (ACIM) na diretoria executiva da
Agência de Desenvolvimento Terra Roxa.
“Atualmente, a sociedade só evolui se
se organizar, o empresariado não deve
pensar apenas no mercado local, há grandes oportunidades regionais”, defende o
professor. “Associações, como essa, criam oportunidades para o empresário participar do processo de desenvolvimento:
a democracia representativa está chegando ao final. Cada vez mais, passa a
prevalecer a democracia participativa.”
A seguir, os principais trechos da
entrevista concedida ao Jornal da ACIL
sobre o processo de integração do norte:
Jornal da ACIL - Quando se espera
obter os primeiros resultados do trabalho
desenvolvido pela Agência?
João Celso Sordi - O trabalho é de
longo prazo. É preciso definir primeiro o
que se quer, quais as atuações prioritárias,
para agir sobre elas. O resultado leva
algum tempo, é um trabalho que se inicia
agora, mas não tem fim. Esperamos que
em torno de uma geração haja reflexos
bastante significativos no contexto da
região de Londrina a Maringá.
Jornal da ACIL - A Agência pretende
atuar no apoio aos ramos empresariais
que fazem parte do potencial de cada
município. Não há risco de problemas entre
as cidades que compartilham determinados setores industriais, como têxtil e de
confecções, por exemplo?
João Celso Sordi - Veja, é até bom
que haja pontos comuns entre cidades,
porque, para quem vai fazer investimento, há mais opções. De repente, dentro de
um mesmo ramo de atividade, há demandas muito características que são
atendidas por uma única cidade, então,
no conjunto, há mais possibilidades de
atender a necessidade de quem vai se
instalar. Além disso, já estão definidos
em nosso plano de trabalho os chamados
mecanismos de compensação, de maneira que quando a Agência vai atuar por
uma cidade - porque sob o ponto de vista
dela aquela é a melhor oportunidade
para determinado investimento – os outros municípios não vão brigar, porque
estarão participando do resultado daquele empreendimento. É o mecanismo
de compensação.
Jornal da ACIL - Num processo de
integração regional, cada município entra
com um pouco do seu potencial e das suas
qualidades econômicas, e tem a expectativa de obter algum tipo de retorno. O que
Maringá tem a fornecer para os outros
municípios e, por outro lado, o que espera
receber?
João Celso Sordi - Maringá pode
contribuir de várias maneiras. Primeiro,
por suas características, não tem praticamente área rural, só urbana, e enfrenta dificuldades para localização industrial, então muitas empresas podem se
instalar em cidades próximas, utilizando
a infra-estrutura, a parte de formação de
recursos humanos, a disponibilidade de
conhecimento tecnológico, entre outros,
que Maringá tem. Esse tipo de contribuição, tanto Londrina quanto Maringá deverão dar a toda a região. E o que recebe?
O empresário não deve pensar
apenas no mercado local, mas também nas
grandes oportunidades regionais
Sabemos que Londrina e Maringá são os
pólos, então qualquer empreendimento
novo, num raio de 100 a 150 quilômetros,
irá beneficiar diretamente essas duas
cidades.
Jornal da ACIL - A integração econômica da região norte pode reverter a contínua concentração de força econômica em
Curitiba, nas últimas três décadas?
João Celso Sordi - Eu acho que pode,
porque nós temos um potencial muito
grande que ainda não foi devidamente
explorado. Somos uma região para a
qual, infelizmente, os governos estadual
e federal pouco olharam. Os programas
federais de investimentos são definidos
em cima da Região Metropolitana de
Curitiba. É o tal negócio, quando há
aglomeração urbana, se cria demanda; a
demanda é atendida pelo governo e esse
atendimento vai atrair novos agrupamentos, que vão gerar novas demandas.
Precisamos quebrar esse círculo em torno apenas da capital, com organização,
para fazer com que as demandas locais
também sejam atendidas.
(Fábio Cavazotti)
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
13
A VOLTA DO TREM
Londrina e Maringá
pela linha férrea
Projeto, com custo estimado
em R$ 95 milhões pelo BNDES e
que já está nas mãos do
Governo Federal, pode trazer o
trem de passageiros de volta à
região
Estudo elaborado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
em 1998, e atualizado em 2002, aponta o
trecho Londrina-Maringá como o mais viável
do País para a retomada do transporte ferroviário de passageiros. O custo de recuperação
da malha e compra dos dois módulos de
vagões, para um total de 500 a 600 passageiros, foi estimado em torno de R$ 95 milhões.
A taxa de retorno pode chegar a 47,2%.
“O potencial é muito grande, representa
um dos melhores trechos do País porque liga
centros economicamente fortes - não só Londrina e Maringá -, mas cidades intermediarias
de grande importância regional”, disse por
telefone ao Jornal da ACIL, o chefe de Desenvolvimento Urbano do BNDES, João
Scharinger. O estudo do banco selecionou 14
regiões do País com distância máxima de 100
quilômetros e pelo menos uma cidade com
mais de 100 mil habitantes, situação que o
Norte do Paraná ultrapassa com folga.
Os vagões, menores que os trens normais,
seriam movidos a óleo diesel e desenvolveriam
velocidade entre 80 e 110 Km/hora. A previsão
é que a passagem fique 10% mais cara que o
transporte rodoviário.
“Em compensação seria mais seguro, menos poluente, não precisaria parar em sinaleiros e quebra-molas e permitira um novo eixo
de desenvolvimento ao longo da via”, declarou
Scharinger. “Além disso, o custo de manutenção de ferrovia é bem menor que o das estradas.”
Scharinger acredita que é grande a possibilidade do projeto virar realidade nos próximos anos. “Depende de uma decisão de
governo, o presidente Lula e o presidente do
Banco, Guido Mantega, têm essa visão, de que
o transporte de passageiros é um serviço
público. O BNDES está profundamente envolvido nisso”.
O volume de tráfego da linha ferroviária de
passageiros pode atingir, inicialmente, sete
milhões de pessoas ao ano, entre Londrina e
Maringá, cerca de 20% da movimentação
rodoviária atual. A previsão é de que haja
estações intermediárias em Cambé, Rolândia,
Apucarana, Jandaia do Sul e Mandaguari.
De acordo com o BNDES, a instalação de
trens de passageiros iria aumentar a taxa de
ocupação da linha férrea entre Londrina e
Maringá, atualmente circunscrita aos seis meses do ano em que há transporte da safra
agrícola.
Fábio Cavazotti
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
14
15
VIDA NOTURNA
Cores, sons, sabores nas noites londrinenses
A magia que bares, restaurantes e boates exercem sobre seus freqüentadores tem origem complexa,
que passa pela estrutura do local, boa música, atendimento e muito jogo de cintura dos empresários
Márcio Leijoto
Especial para o Jornal da ACIL
Um senhor com cabelos e bigode grisalhos, camisa vinho de mangas cumpridas arregaçadas nos ombros, calça jeans
e um perfume perceptível mesmo não tão
perto se aproxima e cumprimenta Mauro.
Este senhor pede a Mauro que libere a
entrada de uma moça sem carteira de
identidade na boate, uma casa de música
dançante destinada a um público mais
adulto. Mauro Antonio Garcia está há
sete anos administrando a Casa de Shows
Albatroz, boa parte deste tempo com o
sócio Pedro dos Santos, e todas as noites
ouve inúmeros pedidos como este ou de
clientes querendo um favor. Mauro sabe
que alguns ele não pode atender, mas tem
de ter muito jogo de cintura para não
perder o cliente.
Naquele momento, a casa estava ainda metade ocupada, uma banda tocava
alguma música de forró e várias pessoas
já haviam cumprimentado ou pedido um
favor para o empresário. E ainda eram
22h30 de uma sexta-feira. Normalmente,
nestes dias, a casa fecha no final da
madrugada. Mauro não permitiu a entrada da mulher, alegando que se o juizado
de menores aparecesse lá, e ela fosse
menor de idade, iria dar problemas para
ele. O senhor ainda tentou argumentar,
garantiu que ela tinha mais de 18, mas
não adiantou. Mesmo assim, ele se despede de Mauro com um sorriso. “O segredo do sucesso de uma casa está em tratar
todo mundo bem, dando atenção a todos”, diz Mauro.
Esse caso é um dos mais leves, considerando todos os problemas enfrentados
pelos empresários de bares, boates e casas
noturnas que agitam a noite londrinense.
Quanto mais cheio for o local, mais trabalho. “Você tem sempre de estar atento,
vendo se as pessoas estão satisfeitas, se o
atendimento está sendo rápido, se a música e o ambiente estão agradando, se não
está muito quente, se os funcionários
estão sendo educados, impedir que haja
confusão, verificar se não está faltando
nada”, disse Carlos Eduardo Carvalho
Grade, coordenador de marketing da boate
Empório Guimarães. E se não for assim,
um dado é bastante ilustrativo: segundo
Carlos, desde que o Empório funciona, há
oito anos, 34 boates abriram as portas e
fecharam. Fruto da má administração,
segundo os entrevistados.
De acordo com o sindicato local dos
proprietários de hotéis, restaurantes,
bares e similares, Londrina tem 35 estabelecimentos para os notívagos – levando
em conta aqueles com um público considerado grande. São 10 boates e casas de
shows e o resto bares, freqüentados por
pessoas de 15 a 40 anos. “É difícil agradar
tanta gente diferente. Nunca dá para saber como vai ser a noite, por mais que o
público seja quase o mesmo. É uma incerteza gostosa, mas muito trabalhosa”,
conta William Amador Bueno de Moraes,
que há 26 anos administra o tradicional
bar e restaurante Vilão.
E ainda tem o trabalho que o público
não vê, realizado durante o dia. “É repor
o estoque, comprar o que foi perdido,
como copos, conversar com fornecedores,
resolver pendengas, avaliar se os funcionários estão trabalhando bem, estar se
atualizando, ver o que pode ser melhorado... enfim, trabalho para o dia inteiro”,
diz Gilberto Camargo, sócio-proprietário
da boate GLS Friends, aberta há 13 anos.
Há muito trabalho durante o dia, com
alguns absurdos. “Teve uma época que
toda a semana tínhamos de refazer uma
parede, porque no final da noite sempre
apareciam buracos provocados por chutes e pancadas”, conta Carlos Grade, do
disse Osmaldo, referindo-se ao ponto
numa rua central da Cidade.
Há cinco anos, eles resolveram abrir
um outro bar, o Pau Brasil. “É preciso
muito jogo de cintura. Mas o segredo para
dar certo eu acredito que está na paciência, porque o retorno não é imediato e
num conjunto de outros fatores: o estilo
do bar, o atendimento, a cerveja bem
gelada, a altura do som, a qualidade da
música, a segurança. Hoje vivemos disso
e não podemos descuidar de nada”, afirma.
E existem boates, poucas, mas há.
Tecno, pop-rock, aberta para bandas
covers e de garagem, elitizadas, GLS, não
importa o estilo, o tempo tem mostrado
uma coisa: só estão sobrevivendo as que
investem em infra-estrutura e as quais o
proprietário procura dar atenção especial
no atendimento. Os proprietários do Empório, Alexandre Guimarães, e da Friends,
os sócios Gilberto Camargo e Miguel Palma, são donos dos prédios das boates e
gastam bastante em infra-estrutura e
novidades. “Você pode ver que nas boates
que abrem e fecham normalmente os
empresários alugam o prédio e por isso
não querem gastar muito dinheiro na
modificação do imóvel e, mais, querem
um retorno imediato do dinheiro, o que
não existe”, diz Gilberto, cuja boate ficou
um ano no vermelho até se tornar uma
referência do público GLS.
“Contratamos os melhores profissionais, investimentos em equipamentos
modernos, buscamos as músicas que estão tocando nas melhores boates da Europa e dos Estados Unidos, sempre promovemos festas, atualizamos a decoração, sempre tentando agradar o público.
E temos conseguido”, completa. Carlos
Grade informa também que Guimarães
Empório Guimarães.
Manter um local funcionando para
atender quem sai à noite não é fácil. O
cliente que vai num lugar e acha que lá
apenas trabalham os donos, os garçons,
os caixas e o segurança, mas está errado.
Existe toda uma estrutura invisível aos
nossos olhos. Por exemplo, o Pátio São
Miguel, uma espécie de confeitaria, lanchonete, loja de conveniência e local de
venda de ingressos para a maioria dos
eventos londrinenses, funciona 24 horas
por dia, desde sua inauguração há 10
anos (completados no dia 11 deste mês).
Para manter tudo isso impecável, são
cinco sócios administrando 95 funcionários. “Aqui nunca faltou nada. Você pode
vir a hora que for, que vai encontrar o
produto que quer”, diz Alexandre Alves.
Se não tiver jeito
para o negócio, o
empresário pode se
dar mal: em oito
anos, 34 boates
tiveram vida
efêmera em Londrina
“É uma estrutura enorme, envolvendo
vários fatores, por isso não existem outros pátios em Londrina. Não é só abrir e
pronto. É preciso uma bagagem e um
capital que muitos não têm”, comenta. O
pátio se tornou ponto de encontro de
jovens um ano depois de inaugurado,
pois era a única alternativa de “reabastecimento” para quem estava na “balada”.
De acordo com os entrevistados, os
locais preferidos pelos londrinenses à
noite são bares. Como a Casa de Cachaça, inaugurada em 1991, pelos cunhados
Osmaldo Bueno de Oliveira e João Francisco Brandão. “Nós trabalhávamos em
outras áreas e um dia resolvemos abrir
um bar. Encontramos essa casa para
alugar, antes era uma escola de línguas e
vimos aqui um ponto bom para começar”,
tem contratado profissionais de destaque
nacional para trazer as novidades para o
Empório.
Mas esse é o segredo do sucesso? Ou
tem mais? A reportagem ouviu 19 empresários de bares, boates e estabelecimentos que atendem os notívagos
londrinenses. Num determinado momento da conversa, os entrevistados acabam
repetindo muitas coisas, como o amor
pelo negócio, o envolvimento deles com o
local, as dificuldades enfrentadas por
quem resolve trabalhar no ramo e os
motivos pelos quais outros não dão certo.
É preciso gostar da noite, ou pelo
menos de lugares semelhantes ao qual o
empresário resolve abrir? Se você perguntar isso para Alexandre Vieira, sócio
de Alexandre Guimarães na boate Luz, ou
para Edmar Matos, da casa noturna Acústico, ambos vão responder que sim. Os
dois foram promotores de festas boêmias,
shows e por um tempo trabalharam como
promoters de boates. Até que resolveram
abrir cada um o seu próprio negócio. “O
que me ajudou bastante é que eu tenho
uma boa base de trabalho na rua, no
contato com o público, do tempo em que
trabalhava para outros. Acho que tenho
um pouco de prática em saber o que o
Continua na página 16
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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Gilberto Camargo,
da Friends
Alexandre Alves,
do Pátio São Miguel
público está querendo, se está gostando ou não”, diz Edmar.
Outros que gostam do que fazem e
sempre estiveram envolvidos no ramo
são filhos de gente que já estava na
noite. Jean de Souza Pêra é filho de José
Pêra Neto e os dois administram o bar
underground Armazém, aberto há 13
anos e destinado ao público que gosta
de rock e com apresentações de bandas
locais e exibição de vídeos de shows
internacionais, com mesas de sinuca e
pimbolim. “Sempre esteve cheio aqui. E
eu cresci neste meio. Não é algo que dê
um retorno financeiro imediato, mas
estamos há bastante tempo aí”, disse.
Marlon Augusto Zanoni tinha oito anos
quando o tio, Laerte, começou a vender
gelo e carvão, em 1992. Logo depois, o tio
ampliou o negócio e passou a fazer churrasco. Em 12 anos, o Gelobel se tornou
uma das principais referências para quem
busca comer e beber à noite com os amigos. Laerte foi assassinado durante um
assalto perto de casa há quase dois anos
e desde então o irmão, Odair, e o sobrinho
cuidam do local. Há uma filial do Gelobel
que é administrada pela viúva de Laerte,
Maria Cristina. “Eu ajudo meu pai há
quatro anos, sempre gostei daqui. É uma
casa sempre movimentada e ajudo em
tudo. Não fui forçado a nada, faço porque
gosto”, afirma Marlon, enquanto coordena a equipe antes de abrir a casa para o
público num sábado. Ele estava sozinho
naquele dia, pois seu pai viajara.
Os entrevistados reconheceram que
muitas vezes o bar “ganha vida própria”,
a tradição do nome e o boca-a-boca
(principal forma de propaganda de uma
casa noturna) dão tanta fama ao local,
que as pessoas vão independente da
estrutura.
Lourival Brasil e a esposa Mara, há
16 anos tocam o tradicional Bar Brasil,
que desde sua fundação, na década de
80, passou pelas mãos de quatro proprietários e várias reformas. “Quando chegamos aqui, havia apenas esta parte”,
explica Lourival, apontando para uma
área equivalente a um terço do bar. “Mas
aí o lugar foi enchendo de jovens e
precisamos ampliar.”
O Bar Brasil, quem entra percebe, é
Os locais preferidos pelos
londrinenses são os bares. Por isso,
há alguns que se tornaram tradicionais e
se incorporaram à cultura da cidade
um local que, mesmo depois de ampliado, se mantém apertado, quente e com
certas curiosidades, como as caixas de
ovos que fazem o revestimento acústico
do ambiente. Mesmo assim, o bar é um
sucesso, principalmente nas quartasfeiras e sábados. “Não sei porque começou a encher de jovens, depois que compramos aqui. A nossa intenção era fazer
um bom bar. Antes eram mais aposentados e idosos e estava muito feio. Há
uns 10 anos que isso aqui começou a
virar point e aí não parou mais”, afirma
o proprietário, acrescentando que nestes anos eles foram fazendo pequenas
adaptações, como investir na transmissão de jogos de futebol nas noites de
quarta e no final de semana e de DVDs
musicais. “A tradição ajuda, mas o
importante é a amizade que vamos
fazendo com o tempo”, diz Lourival.
Outro bar que não tem muita estrutura, que fica lotado e apertado mesmo
sem receber tanta gente, mas que é
bastante freqüentado é o Bar do Jota,
localizado na rua João Cândido, quase
esquina com a avenida JK. A atual proprietária, Maib Piassa das Neves, que
antes trabalhou por 12 anos como garçonete do bar, conta com a ajuda de seu
companheiro, Joaquim Biz, e de outros
poucos funcionários para tocar o bar
seis noites por semana. Enquanto Maib
recebia o Jornal da ACIL, dois secretários municipais e outros dois membros do
primeiro escalão da prefeitura de Londrina tomavam suas cervejas e conversavam animadamente com colegas. “O
segredo aqui é não termos preconceitos
contra ninguém. Somos bastante democráticos. Quem quiser vir aqui se divertir com amigos, tomar uma cerveja, jogar
conversa fora, pode se sentar, não importa o que ele é, como se veste, ou que
gosta. Só não pode importunar os outros”, resume a Maib.
É necessário ser “da noite” para saber tocar um estabelecimento “da noite”? Valdomiro Chammé diz que ele e
sua esposa, Rosangela, freqüentam o
bar deles, o Valentino, de vez em quando, mas há quatro anos tem dormido
cedo para cuidar da farmácia que mantém em sociedade com Rosângela. Foi
naquela época que ele passou a admi-
nistrar o bar durante o dia, deixando a
noite para dois garçons antigos que se
tornaram sócios.
Tirando os dez anos que ficou com a
esposa cuidando integralmente do
Valentino, nunca havia se envolvido com
a noite como empresário ou funcionário. “O Valentino tem vida própria e isso
é muito interessante. As mudanças, o
ritmo de funcionamento quem determina
é o público e mais importante do que
qualquer coisa, para o sucesso de um
lugar como este é preciso essa interação
entre o público e o lugar”, comenta
Chammé.
Lourival Brasil,
do Bar Brasil
Osmaldo Bueno de
Oliveira, do Pau Brasil
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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Pizzaria no lugar de um ex-badalado
bar
Às vezes, gostar da noite, de música
e do ambiente notívago de um bar não
basta para o sucesso da casa.
Wanderley Carlos administrou por
quase sete anos o MPB Bar, que pelo
nome já se tem uma idéia da proposta.
Foram duas fases. Na a primeira, de
1993 a 1995, a casa sempre estava
cheia – “Fechei porque me mudei para
o nordeste”. A segunda come;ou em
2000, quando o empresário voltou
para Londrina, e foi até 2004. Neste
retorno, o início foi promissor. “No
começo, na fase do modismo, a casa
recuperou o público de antes, mas
depois foi esvaziando”, conta.
Mas o que aconteceu então? “O
problema é que fui muito radical. Não
me arrependo, pois não saberia fazer
algo diferente. Mas é que acredito que
no momento da apresentação musical,
o público deve permanecer em
silêncio. E a proposta deste bar não
era ser da balada, para encher, ficarem
todos de pé, tumulto. E eu me envolvi
emocionalmente com o local. Nestes
anos todos não houve alteração da
minha proposta”, disse. Há poucas
semanas, Waldomiro, que diz gostar
da noite e que freqüentaria um bar do
mesmo estilo que o seu, caso houvesse
um, inaugurou uma pizzaria no
mesmo espaço do antigo bar.
Talvez o caso mais emblemático
de que para tocar a noite é preciso
gostar da noite seja o de Jonisvaldo
Castanho, 53 anos. Em abril de 1983,
O tempo passou e o empresário
da noite cansou-se da noite. E hoje
tem saudades do bar que vendeu
ele inaugurou o Clube da Esquina,
que seis meses depois, após um
incêndio que destruiu toda sua estrutura, se transformou num dos
principais points da Cidade. “Tínhamos de tudo aqui, universitários,
políticos, trabalhadores, gente querendo bater papo, namorar, muita
gente que viveu nestes últimos 20
anos em Londrina e que era da noite
tem história para contar no bar”,
relembra, saudoso.
A saudade vem do fato que em
novembro do ano passado, Jonisvaldo
passou o ponto à frente. “Na verdade,
eu já estava estressado com aquilo
tudo. Quem toca a noite tem de estar
na mesma freqüência que os seus
clientes e eu já não agüentava mais
ter de ficar acordado todos os dias até
o sol nascer, esperando os clientes
irem todos embora. Chegou um
momento em que comecei a chutar
todo mundo”, conta. Nos últimos anos,
o Clube da Esquina já não lotava
como nos anos 80 e boa parte da
década passada. E os novos
proprietários ainda não conseguiram
trazer o público de volta.
Outro bar que corre o risco de
fechar, mas não por vontade do dono
(aliás, pelo contrário, segundo o próprio) é um dos mais tradicionais e
sempre um dos mais cheios da cidade, o Valentino, freqüentado por estudantes, pessoas ligadas ao meio
artísticos, adultos que um dia foram
estudantes e o público GLS. O bar
corre o sério risco de fechar porque os
proprietários do terreno onde ele está
localizado querem transformar o
espaço num estacionamento de um
centro comercial ainda em construção.
O imóvel do bar deveria ter sido
entregue no final de 2004, mas os
proprietários prolongaram o prazo
para o final deste ano. Outra possibilidade é transferir a casa para outro
local ou abrir o Valentino em outro
espaço. Há também um movimento
para que se convença o dono do
terreno a deixar o bar onde está.
(Márcio Leijoto)
Mauro Antonio Garcia,
do Albatroz
Jean de Souza Pêra,
do Armazém
Mistura de entretenimento com cultura
William Amador Bueno
de Moraes, do Vilão
Marlon Zanoni,
do Gelobel
Uma das características da noite londrinense é a verve cultural
forte. É comum bares e restaurantes investirem em exposições e apresentações artísticas. Várias bandas
e músicos de relativo sucesso local,
muitos com composições próprias
e conhecidas nacionalmente, começaram suas carreiras tocando
em bares da cidade, como o
Valentino, o antigo Clube da
Esquina entre outros.
Recentemente, os londrinenses
passaram a contar com mais um
espaço para comer, beber e apreciar um espetáculo. O Tomate Seco Café Teatro há um ano oferece exposições, filmes fora do circuito comercial, apresentações musicais,
de circo e teatro. Arnaldo Falanca,
53 anos, veio para Londrina há cinco anos e acabou montando “sem
querer” o bar/restaurante. Ele veio
para ajudar um amigo dono de uma
lanchonete e acabou montando uma
filial em outro bairro da cidade. Aos
poucos, foi fazendo modificações
até transformar o local no que é
hoje. “Eu viajei muito, vivi na Índia,
na Europa, em São Paulo. Vi muita
coisa. Não tenho experiência com a
noite, sou projetista por profissão,
mas fui fazendo modificações que
achava interessante e resolvi investir na parte cultural. Londrina tem
muita gente boa em várias áreas
artísticas. Mas é um investimento a
longo prazo”, disse.
Mas quem resolve investir em
cultura em casas noturnas e bares
sofre. Que o diga Arnaldo, Maib,
Chammé, Vanderley, entre outros.
Todos reclamaram de vários problemas imposto pelo município ou
Por falta de espaços adequados, alguns
bares e restaurantes se dão ao requinte de
brindarem os freqüentadores com
exposições e apresentações artísticas
pelo próprio público. “O público
daqui é muito exigente. Quer sair
bem, como se sai em São Paulo,
mas sem gastar nada. O que lá
custa R$ 50, R$ 100, aqui você tem
de fazer por R$ 10, R$ 30. Mas os
londrinenses estão aprendendo”,
reclama Carlos Grade, do Empório
Guimarães.
Mas a principal reclamação de
quem tenta promover eventos na
cidade é a falta de espaço adequado. “Nós já tivemos de cancelar dois
shows de cantores nacionais neste
mês porque Londrina não tem um
lugar apropriado para receber muita
gente sem gerar reclamações do
público e da sociedade. A cidade
tem público para um show de médio
porte a cada quinze dias e um de
grande porte a cada dois meses.
Mas não tem local para isso”, afirma
Eduardo Martins, sócio da
organizadora de shows e eventos
Madame X. Mesmo com tanta dificuldade, ele e seu sócio, André
Guedes, conseguiram promover 30
shows de músicos de nove países
desde 1997 quando fizeram sociedade. “Mas poderíamos ter feito
mais”, reclama.
(Márcio Leijoto)
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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NATAL DOS 70 ANOS
Bem traçadas linhas
Consumidores fizeram do concurso de frases da
Londrinatal 2004 uma grande vitrine da criatividade e do
amor à Cidade. Prêmios foram mais do que merecidos
Fernanda Mazzini
Especial para o Jornal da ACIL
Os consumidores do comércio de Londrina foram
os grandes vencedores da
campanha Londrinatal Premiado, idealizada pela ACIL
em parceria com a Prefeitura de Londrina e a Sercomtel.
No total, foram distribuídos
R$ 108 mil em prêmios. Ao
invés de sorteios de prêmios,
a campanha elaborada neste
ano trouxe uma inovação:
foi um concurso de cunho
cultural. Para participar da
promoção, os consumidores
tiveram que responder a uma
questão:
Como
você
comemora o Natal dos 70
anos de Londrina?
Entre os cerca de 100 mil
participantes, uma frase foi
escolhida e contemplada
com um apartamento no
valor de R$ 50 mil. A
composição vencedora “Comemoro entre os mais diversos povos, que aqui construíram morada, erguendo
as mãos para o céu e agradecendo pela terra abençoada!”, foi escrita pela relações
públicas Fernanda Moreno
Silva, de 27 anos.
No entanto, foram distribuídos prêmios praticamente durante todo o mês de
dezembro. Desde o início da
promoção (dia 2) até o dia 28
foram entregues diariamente 42 vale-compras de R$
50. No último dia da
Avaliadores da Unopar acompanhados de
diretores da ACIL: melhores frases venceram
promoção, além do apartamento, foram entregues oito
vales-compra de R$ 1 mil.
Os consumidores já premiados durante o mês com os
vales de R$ 50 é que concorreram ao apartamento e aos
vales de R$ 1 mil.
Esses cupons deveriam
ser gastos até o dia 8 de
janeiro em qualquer uma das
274 lojas participantes da
promoção. A quantia teria
que ser gasta integralmente
em uma única empresa. O
processo de seleção das
frases premiadas foi um
Se não tiver jeito para
o negócio, o empresário
pode se dar mal: em
oito anos, 34 boates
tiveram vida efêmera
em Londrina
trabalho diário e exaustivo,
que contou com a participação de mais de 30 pessoas,
entre diretores da ACIL, professores da Unopar do Departamento de Comunicação
e Artes e estagiários.
A seleção seguiu os critérios determinados no regulamento do concurso e foi
baseada em uma contagem
de pontos, que obedeceu a
itens como: criatividade,
adequação ao tema proposto
e estilo literário. Foram
considerados critérios de
exclusão a legibilidade das
informações pessoais e da
frase, além da utilização
correta
da
língua
portuguesa.
Durante o processo de
elaboração da campanha, o
objetivo da ACIL era oferecer
um prêmio que agregasse
valor entre o comércio e os
consumidores. “Uma casa
própria ainda é o sonho de
boa parcela da população e
esse prêmio (o apartamento)
vai agregar valor à família,
que pode usufruir o imóvel
ou ter uma outra fonte de
renda com ele”, destacou o
presidente da entidade José
Augusto Rapcham.
Segundo ele, a participação na campanha foi positiva. “A premiação despertou
interesse em todas as
camadas da população, uma
vez que um apartamento é
um bem almejado por todos”,
disse. O número de
participantes
também
surpreendeu, já que um concurso de cunho cultural não
tem a adesão de todos os
consumidores que recebem
o cupom de participação.
Na avaliação da coorde-
nadora da equipe de correção das frases, Sônia Maria
Mendes França, coordenadora de extensão universitária e dos cursos de Artes
Visuais, no geral as frases
apresentadas tinham um
bom nível para competir.
“Gostaria de ressaltar a
importância de um concurso cultural que incentiva o
pensamento criativo, que
exige raciocínio e que os participantes devem pensar em
uma resposta”, afirmou.
Ela lembra, no entanto,
que muitos participantes
não entenderam a proposta
do concurso. “Muitos escreveram poemas belíssimos,
fizeram
homenagens
bonitas e inteligentes à
Cidade, mas não responderam à pergunta do concurso e acabaram fugindo do
seu foco”, explicou. Sônia
acrescenta que a avaliação
foi feita pela equipe com
muita responsabilidade
para que a sociedade tivesse uma resposta séria e
coerente do resultado concurso. “Foram seguidos todos os critérios propostos
no regulamento”, observou.
Os nomes de todos os consumidores premiados e o regulamento do concurso estão
disponíveis no site da entidade (www.acil.com.br).
Os locais preferidos
pelos londrinenses são
os bares. Por isso, há
alguns que se tornaram
tradicionais e se incorporaram
à cultura da cidade
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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NATAL DOS 70 ANOS
Confira as melhores frases
Ganhadora do Apartamento
Fernanda Moreno Silva
“Comemoro entre os mais diversos povos, que aqui construíram morada, erguendo
as mãos para o céu e agradecendo pela terra abençoada!”
Ganhadores dos vales-compras R$ 1.000,00
Elias Alves Pinheiro
Isabelle Perez Frisa
“Comemoro encontrando amigos em cada canto
que vou; comemoro fazendo amigos em cada passo
que dou. Em tantos anos de Londrina, minha
grande amiga a cidade se tornou.”
“Da vida uma história, da cidade uma memória, do
comércio uma glória. É assim Londrina, que
comemoro os 70 anos de sua vitória.”
Iuri de Godoi
Márcio Nascimento
“Anunciando: Londrina brilha e sempre brilhará,
pois é a estrela guia do norte do Paraná.”
“Londrina do tempo da lamparina, Londrina dos
tempos da brilhantina, quero comemorar seus
setenta anos, dançando contigo, menina.”
Maria José
dos Santos
Maria Luiza
das Dores
“Brindando a visão
dos que aqui se
instalaram.
Saudando os
pioneiros que aqui
plantaram e
desejando
prosperidade aos
que aqui ficaram.”
“Fazendo uma
retrospectiva:
‘Londrina das
perobas rosas às
extensas lavouras
cafeeiras, hoje
cidade cosmopolita,
metrópole, mas
sempre
hospitaleira’”.
Sandra Jaqueline Kalocsay
“Com orgulho, trabalho e dignidade. Porque
assim foi escrita a história desta cidade.”
Zélia de Souza Zago
“Comemoro agradecendo a Deus por nos ter dado
esse lar. Aqui tudo prospera, basta semear.”
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
20
NATAL DOS 70 ANOS
Inspirada na saudade
Vencedora da Londrinatal 2004, Fernanda Moreno Silva diz que a falta que sentiu da
Cidade quando morou fora inspirou a criação da frase vencedora
A londrinense Fernanda Moreno Silva se considera
uma pessoa sem sorte. Nunca
havia ganhado prêmios distribuídos ou sorteados em concursos e promoções. No entanto,
sua estréia não poderia ser melhor. Ela, que tem apenas 27
anos, foi a vencedora da campanha Londrinatal Premiado, idealizada pela ACIL em parceria
com a Prefeitura e a Sercomtel.
Fernanda ganhou um apartamento com valor estimado em
R$ 50 mil.
Fernanda participou da promoção e sua frase foi considerada a melhor entre cerca de 100
mil composições. A promoção
pedia aos consumidores que elaborassem uma frase com base
na seguinte pergunta: “Como
você comemora os 70 anos de
Londrina?” “Comemoro entre os
mais diversos povos, que aqui
construíram morada, erguendo
as mãos para o céu e agradecendo pela terra abençoada!”, a frase
de Fernanda.
Além do apartamento, ela já
havia ganhado um vale-compra
de R$ 50, gasto na compra do
presente de Natal do seu pai.
Fernanda recebeu o cupom
depois de comprar o presente de
Natal do noivo em uma loja de
artigos esportivos no Calçadão,
a Bolivar Sportware. Preferiu não
elaborar a frase na hora. Levou
o cupom para a casa para pensar na melhor resposta. Depois
de “dois ou três dias” achou que
tinha encontrado a solução e
preencheu o papel.
A resposta à pergunta veio
das saudades que Fernanda
sentiu de Londrina, onde nasceu, quando ficou um ano e
Fernanda, no apartamento que ganhou da Londrinatal:
prêmio mais que bem-vindo para ela e o noivo, que
estão de casamento marcado para outubro
meio longe da Cidade. Ela, que é
relações públicas, trabalhou em
São Francisco do Sul (litoral de
Santa Catarina) em uma usina
do ramo siderúrgico e tinha
voltado para Londrina há apenas
um mês e meio. Conseguiu emprego na indústria farmacêutica
Hexal, em Cambé. Foi o único
período longe da Cidade.
“Quando estava fora sentia
falta daqui e conversava sobre
isso com meus amigos. Fazia
propaganda mesmo de Londrina, falava do clima bom e do
povo que é bastante acolhedor.
Todos ficavam com vontade de
conhecer a Cidade”, conta
Fernanda. Partindo deste princípio, ela acreditava que deveria
expressar esse sentimento na
frase. E deu certo.
A relações públicas lembra
que para compor a frase escreveu em uma folha “palavraschave” que lembravam a Cidade
como: terra vermelha, saudade,
comemoração, agradecimento.
“Não queria dizer que iria comemorar o aniversário de Londrina
com festa, queria uma coisa mais
diz acreditar muito na existência de Deus. Por isso, ela agradeceu pela “terra abençoada”. E
mesmo lembrando do Criador,
Fernanda diz que não esperava
receber o prêmio máximo da
campanha. “Quando recebi o
vale-compra de R$ 50 fiquei com
esperança, mas muito remota”,
conta. Esperança que se tornou
realidade.
Fernanda estava em Meia
Praia (litoral de Santa Catarina)
quando recebeu a notícia que
tinha ganhado o apartamento
da campanha. Tinha chegado à
praia naquele dia com uma amiga
e iria passar quatro dias. Voltaria a Londrina para passar o
Rèveillon com os familiares.
Acabou voltando no mesmo dia
e chegou à sede da ACIL no dia
seguinte, ainda com algumas
horas de folga para receber as
chaves do apartamento.
“O apartamento é muito bom,
não é pequeno nem grande.
Tem dois quartos. Ideal para
um casal recém-casado.”
subjetiva. Aí lembrei da terra
abençoada e fértil, do clima bom
e as coisas foram se encaixando”, comenta.
A frase vencedora foi a primeira das cinco composições que
Fernanda elaborou para
participar do concurso. Apenas
uma foi premiada. E justamente
a frase vencedora foi a mais fácil
de ser escrita, na sua opinião.
“Como usei a idéia da saudade
na primeira, achei mais difícil
pensar em assuntos diferentes
nas outras frases”, diz.
Embora tenha formação católica, atualmente ela não é
praticante de nenhuma religião.
No entanto, a relações públicas
“Quando estava fora sentia falta daqui
e conversava com meus amigos. Fazia
propaganda de Londrina, falava do clima
bom e do povo que é bastante acolhedor.”
O prêmio agora vai fazer parte
do seu futuro. Ela está de casamento marcado para outubro.
Fernanda e o noivo já estavam
procurando um imóvel para
morar e mesmo recebendo o
apartamento não há possibilidade de adiantar a união. “O
buffet já foi contratado”, diz. No
entanto, ainda não está decidido
se o apartamento 903 do Condomínio Residencial D’Angelo, localizado na Vila Nova, será o
novo endereço do casal. Afinal, a
decisão tem que ser tomada em
conjunto com o noivo.
Fernanda diz ter gostado
muito do imóvel e, por enquanto, descarta a sua venda mesmo
que o casal não se instale
inicialmente no imóvel. “O apartamento é muito bom, não é
pequeno nem grande. Tem dois
quartos. Ideal para um casal
recém-casado”, reforça.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
21
NATAL DOS 70 ANOS
Comerciantes também foram premiados
O Londrinatal Premiado deste ano
não premiou somente os consumidores. Os comerciantes também receberam prêmios através do concurso de
decoração de fachadas e vitrines. Foram premiados os seguintes estabelecimentos: Shopping Via Pio XII, A
Vantajosa e Celular Mendes. Cada
um recebeu R$ 5 mil, R$ 3 mil e R$ 2
mil, respectivamente. Os prêmios foram entregues durante solenidade na
sede da ACIL, no último dia 28.
Podiam participar do concurso apenas os associados da ACIL. Vinte e
cinco empresas estabelecidas na região central e na Zona Norte aderiram
à competição. Durante o mês de dezembro, uma equipe formada por cinco
profissionais (quatro professores da
Unopar das áreas de Arquitetura,
Design e Artes Visuais e um arquiteto)
visitou todas as lojas e empreendimentos inscritos no concurso.
Foram avaliados itens como
criatividade, harmonia e composição
do tema natalino. Para cada um dos
três critérios foram dadas notas de 0
a 10. Neste caso, cada loja poderia
conseguir no máximo 150 pontos. O
vencedor foi o empreendimento que
obteve a maior somatória de notas. Na
avaliação do arquiteto Edson Júnior,
coordenador dos trabalhos, todos os
participantes apresentaram um bom
nível na decoração.
“Vimos decorações muito interessantes, mas acreditamos que os empresários poderiam ter valorizado mais
uma decoração para o dia, sem o uso
de muita luz, já que estamos com o
horário de verão e há pouco tempo
para aproveitar essas luzes. Em muitas decorações as luzes é que faziam
a diferença”, avalia Edson Júnior.
No entanto, na sua opinião, o objetivo do concurso foi fazer com que a
cidade se enfeitasse para a chegada
do Natal. “Com isso o comércio fica
mais atrativo e os consumidores se
sentem estimulados a consumir. Há
Shopping Via Pio
II, vencedor do
concurso de
decoração de
fachadas e
vitrines: enfeites
começaram a ser
estudados em
outubro
uma potencialização do consumo.
Neste caso, o concurso foi um mero
coadjuvante”, diz. Como esta
competição foi uma das primeiras já
realizadas na cidade, o arquiteto
acredita que no próximo ano haverá
mais participação dos empresários.
“Esse foi o primeiro e agora todos
viram que é possível competir e ganhar”, afirma.
SURPRESA - Já os comerciantes
premiados manifestaram surpresa
pela premiação. Mas apesar da reação, todos planejaram a decoração
com uma certa antecedência e até
contaram com a ajuda de especialistas. Foi o caso do primeiro colocado, o
Shopping Via Pio XII. Os enfeites
natalinos começaram a ser pensados
em outubro, quando foi realizada uma
reunião com o decorador Sergio
Figueiredo, autor da decoração do
shopping.
“Queríamos que o shopping ficasse bonito e que atraísse os consumidores”, explica André Sipoli Fontana
Bertin, sócio-proprietário do estabelecimento. O investimento na decoração variou de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Parte
desse recurso foi tirado de um fundo
de promoção, arrecadado entre os
lojistas durante o ano. A outra parte
foi bancada pela própria administra-
Loja da Tim – Celular Mendes,
em seu primeiro ano de funcionamento:
criação coletiva dos funcionários
ção do shopping. Agora, o dinheiro do
prêmio será guardado e aplicado na
decoração natalina do próximo ano.
“Com esse prêmio ficamos mais animados e vamos caprichar mais no
ano que vem”, diz Bertin.
Já a decoração da loja A Vantajosa
foi planejada pelo departamento de
marketing da empresa e montada pela
Tok Final, empresa especializada em
decoração. “Foi uma decoração simples, mas que chamou a atenção.
Todos os anos planejamos a decoração de Natal com capricho e vontade,
mas não esperávamos receber este
prêmio”, comenta o gerente Osmar
A Vantajosa:
decoração criada
pelo departamento
de marketing da
empresa e
montada por loja
especializada
Cassoto. Ele também revela que a
premiação lhes deu mais ânimo para
continuar caprichando na decoração.
REFERÊNCIA - Os enfeites da
Celular Mendes foram planejados
pelos próprios funcionários da loja.
Este foi o primeiro ano de funcionamento da empresa e, por isso, os
empreendedores nunca tinham trabalhado com decoração natalina. “Fizemos um treinamento de decoração
de vitrines e, a partir daí, cada membro da nossa equipe deu uma opinião”, explica a vendedora Regiane
Oldembergas. Segundo ela, a decoração foi montada para dar mais visibilidade à loja e, conseqüentemente,
atrair mais clientes.
E o sucesso da decoração da Celular Mendes foi tanto que a TIM (operadora de telefonia celular da qual a loja
é franqueada) elegeu a decoração da
empresa como uma das melhores
entre todas as suas representantes.
“Isso também foi um reconhecimento
ao nosso trabalho”, observa Regiane.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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NATAL DOS 70 ANOS
Uma campanha democrática
As estatísticas do concurso
cultural da Londrinatal 2004
mostram que a campanha teve
um público heterogêneo. Os
dados referentes às frases premiadas, num total de 1.008,
atestam que o concurso foi
democrático
e
que
a
criatividade não tem endereço
preferido em Londrina. O maior
número de premiados é da Zona
Norte, com 22%, seguida da
Zona Leste, com 17% das cartas
premiadas. Outra estatística
importante que o Jornal da
ACIL traz é o das empresas que
mais distribuíram prêmios.
Confira os gráficos:
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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MORTE SÚBITA CARDÍACA
O músculo da vida
Negligenciar a saúde e ignorar problemas com pressão,
colesterol e diabetes podem ocasionar a parada cardíaca.
É preciso evitar e também socorrer a tempo
Quais são as chances de você
estar andando na rua, de repente
sentir uma dor no peito, um
ataque cardíaco fulminante, cair
e morrer? Depende. Se você leva
uma vida sedentária, fuma, sofre
e não cuida de diabete, pressão
alta ou colesterol alto, não tem
uma alimentação saudável, está
acima do peso, então a chance é
grande. Mesmo que você só tenha um dos problemas citados,
estes são os principais fatores
de risco para uma doença
cardiovascular – a principal causa de morte segundo estatísticas da maior parte do mundo.
E as chances de você morrer
por causa de um ataque cardíaco são maiores no Brasil e em
lugares onde a maioria da população não sabe o que fazer diante de uma vítima de enfarte.
“Quando uma pessoa tem uma
parada cardíaca, quem está por
perto tem até dez minutos para
conseguir salvá-la sem lesão cerebral. A cada minuto, 10% dos
que tiveram parada cardíaca
morrem, então em 10 minutos
100% faleceram. Por isso a ajuda
precisa ser rápida”, explica o
cardiologista Cláudio Fuganti.
O médico é especialista em
marca-passo, trabalha em seu
consultório e nos hospitais da
Cidade e faz parte da diretoria
do Departamento de Cardiologia
da Associação Médica de Londrina (AML). Ele deu recentemente uma palestra para empresários sobre “Morte Súbita
Cardíaca”, no auditório da ACIL,
numa parceria entre as duas
entidades.
O mote do evento foi a morte
do zagueiro Serginho, do São
Caetanto, no dia 27 de outubro,
em jogo válido pelo Campeonato
Brasileiro de Futebol. É claro
que a causa da morte do atleta é
diferente da maioria das vítimas
Cláudio Fuganti:
“Deveríamos ter de
20% a 30% das
pessoas treinadas
para este
atendimento
emergencial”
de paradas cardíacas com perfil
semelhante ao público presente
na palestra. Fuganti explica que
o atleta sofreu o ataque porque
apresentava, aparentemente,
um engrossamento do músculo
do coração. “É uma doença que
provoca arritmia. Quem tem isso
não pode praticar atividade física
competitiva”, afirmou.
O médico aproveitou que toda
a atenção da mídia estava voltada para o caso Serginho para
dar um aviso aos empresários e
às pessoas que participaram da
palestra: “A morte súbita, na
maior parte das vezes, é de origem cardíaca. E destes, 85% dos
casos são por problema em uma
das coronárias (artérias que irrigam o coração). Ou entupimento parcial, ou uma isquemia
(deficiência de circulação) parcial ou um enfarte mesmo. Como
85% das causas são relaciona-
As medidas
preventivas só funcionam,
é lógico, se tomadas
com antecedência
das a doenças da coronária,
então temos de estar atentos
aos fatores que predispõe ao
rompimento das coronárias”,
disse. E quais são os fatores de
risco? São os citados no primeiro parágrafo da reportagem.
“Você tem de evitar ter pressão alta, evitar a obesidade, ter
uma dieta saudável, estilo de
vida saudável, ter uma atividade física, não fumar, controlar o
peso... Se você já tem algum dos
problemas, então tem estar
sempre se tratando com o médico, tomar os remédios indicados
e não abusar”, diz Fuganti à
reportagem do Jornal da ACIL.
Fuganti comenta que as pessoas ainda procuram os médicos só quando apresentam os
sintomas da doença, mas acredita que a população está mais
consciente da importância da
prevenção. “Lógico que as pessoas estão bem mais conscientes. Se não estiverem, por falta
de informação não é. A prevenção é divulgação. E acho que
está havendo bastante. Não
passa três meses sem que saia
na revista Veja, por exemplo,
uma reportagem sobre coração”,
afirmou.
Mesmo assim, ainda é pou-
co, na opinião do médico. “Apesar de estarem mais conscientes, elas ainda estão pouco informadas. Porque só se consegue falar sobre morte súbita ou
prevenção quando você tem
algo como a morte de um atleta, por exemplo, que é quando
a população se assusta. Aí vem
a discussão que deveria haver
sempre. Fora isso, cai um idoso na rua, não chama tanto a
atenção. Nem da imprensa”,
disse.
As medidas preventivas só
funcionam, é lógico, se tomadas
com antecedência. Na hora em
que a pessoa tem um ataque
cardíaco, é preciso agir com rapidez para socorrê-la. “As pessoas não estão preparadas para
este tipo de socorro. Deveríamos ter de 20% a 30% das pessoas treinadas para este atendimento emergencial. É um cálculo
que leva em conta que não importa
onde a vítima esteja, teoricamente
vai haver uma pessoa preparada
para socorre-la”, comenta o
cardiologista.
E Fuganti falou que a população
sabe muito pouco sobre como tratar
e atender uma vítima de parada
cardíaca. “Porque aí que entra a
questão do atendimento rápido. Em
nenhuma hipótese se deve tentar
levar esta pessoa para o hospital. O
importante é prevenir. Mas se a
pessoa tiver o ataque cardíaco,
alguém que estiver por perto tem de
saber o que fazer e também
precisamos de um sistema de saúde
emergencial rápido e ágil para que
possa intervir nos pacientes em
casa (local onde acontecem a maioria
dos casos de enfarte, ressalta o
médico) e, quando forem locais de
grande circulação, precisamos ter
os aparelhos “de choque” à disposição”, comentou o médico, referindo-se ao desfribilador, aparelho
muito comentado depois da morte
de Serginho.
“Se você começar a fazer uma
massagem cardíaca imediatamente e conseguir um aparelho que dá
choque no coração, e faça o coração
bater novamente, quanto menor for
este intervalo, maior a chance de
recuperar a vítima. Nos melhores
centros, hoje se consegue sucesso
em 25% a 30% dos casos. Cerca de
85% dos que têm parada cardíaca
por problemas na coronária são
pessoas que tiveram arritmia
cardíaca e precisam do aparelho
que dá choque para o coração voltar
a bater. Então se o aparelho não
chegar rapidamente, não adianta”,
explica o médico, lembrando que
Londrina tem uma legislação que
obriga locais de grande circulação
de gente a terem estes aparelhos,
como rodoviária, shopping. “E, é
claro, precisa ter gente preparada
para mexer neste aparelho”,
complementou.
Cerca de 85% dos que têm
parada cardíaca por problemas
na coronária são pessoas
que tiveram arritmia cardíaca
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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Investimentos buscam criar
estrutura para grandes
eventos
A falta de estrutura para abrigar
eventos de grande porte pode comprometer a exploração deste tipo de turismo. Londrina perde para outras cidades,
principalmente, a realização de eventos
técnico-científicos que necessitam de
diversas salas de apoio. Além do Centro
de Eventos - o maior estabelecimento do
gênero - o município conta com espaços
de médio e pequeno porte.
Uma das provas desta falta de estrutura é a realização do Congresso
Brasileiro de Soja, promovido pela
Embrapa Soja. O evento já estava
agendado para maio de 2006 e deve
contar com a participação de mais de 1,5
mil pessoas. No entanto, a direção da
instituição voltou atrás e a definição se o
evento fica mesmo na Cidade só sairá no
final deste mês. Esse recuo é resultado
do assédio de outras cidades, que
estariam melhor preparadas para receber
congressos com essas dimensões.
A direção da Embrapa Soja ainda não
bateu o martelo. Segundo a chefe do
órgão,
Vânia
Castiglione,
os
organizadores ainda estão discutindo o
assunto. “O evento precisa ser realizado
em um local próximo ao Centro da cidade
ou que ofereça condições de alimentação.
As salas onde ficarão expostos os
trabalhos e as pesquisas também devem
ficar no mesmo local do congresso para
que haja maior integração entre os
participantes”, explica.
Mas estão sendo feitos esforços para
melhorar a estrutura local. A direção do
Centro de Eventos, por exemplo, já se
dispôs a fazer algumas adaptações em
seu prédio. Já foram construídas quatro
salas de apoio, com investimentos de
Londrina conta com excelentes estruturas de pequeno e médio portes,
Catuaí vai
mas sofre com a falta de espaço para eventos de grande público
montar espaço
para 2 mil pessoas
Operários montam estrutura metálica de novas salas do Centro
de Eventos: adequação atende exigências do mercado
mais de R$ 200 mil. “Mas como o custo
é alto, essa produção é feita aos poucos”,
diz Maitê Ulhman, diretora executiva do
Londrina Convention & Visitors Bureau.
Foram esses investimentos que
seguraram na Cidade a realização do 4º
Simpósio de Pesquisa de Cafés do Brasil,
marcado para maio. O evento é
organizado pelo Iapar, em parceria com
o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café, através da
Embrapa Café. Segundo Isaura Pereira
Granzotti, coordenadora de eventos do
Iapar, caso o Centro de Eventos não se
dispusesse a fazer algumas modificações o simpósio não seria realizado em
Londrina. O Centro de Eventos cons-
Congresso Brasileiro de
Soja, que estava confirmado
para Londrina, poderá ir
para outra cidade
truiu três auditórios: dois com capacidade para 150 pessoas cada um e outro vai
abrigar 250.
RETORNO - O investimento em eventos de grande porte pode ser alto, mas
traz retorno. O orçamento do Congresso
Brasileiro da Soja, por exemplo, que será
realizado em quatro dias, é de cerca de
R$ 1 milhão. “Esse dinheiro é dividido
entre todos os setores da Cidade.
Movimenta a economia formal e
informal”, salienta Maitê. Ela acrescenta
que cada turista que chega à Cidade
para participar deste tipo de evento
costuma gastar cerca de R$ 300 por dia,
entre hospedagem, alimentação, lazer e
souvenires.
Maitê afirma que Londrina tem grande potencial para a realização deste tipo
de evento, principalmente nas áreas
técnico-científicas, saúde, ciência e
tecnologia. Os organizadores são atraídos pelo baixo custo de hotéis e alimentação (em média 30% a 40% mais barato
do que Curitiba ou municípios do interior
de São Paulo); pela qualidade de vida (a
cidade é bonita, limpa e relativamente
segura); e também oferece mão-de-obra
barata.
“Por isso é preciso incentivar e apoiar
a realização deste tipo de evento. Há
O Catuaí Shopping também está
de olho no turismo de eventos. Os
empreendedores do estabelecimento já estão à procura de parceiros
para investir em melhorias na infraestrutura de um espaço com capacidade para abrigar cerca de 2 mil
pessoas. Com 2,5 mil metros quadrados, o espaço fica no mezanino
logo acima da entrada principal do
Catuaí, onde já funcionaram algumas boates.
Deverão ser investidos R$ 1 milhão, em obras de acústica e na compra de equipamentos e mobília. A
intenção ainda é disponibilizar divisórias removíveis para montar até seis
salas de apoio. Neste caso, o salão
maior teria capacidade para abrigar
até 700 pessoas. A expectativa é que
as obras sejam iniciadas ainda neste
semestre.
algumas parcerias com a Codel, mas não
é efetivamente uma política municipal. A
Prefeitura poderia ser mais pontual”,
sugere Maitê. Ela acrescenta que o
governo municipal deveria investir mais
no turismo de eventos, enquanto a
iniciativa privada poderia aderir a
entidades que incentivam essa prática,
como o Convention. “Com maior adesão,
teríamos mais poder de fogo para negociar
a realização destes eventos. Poderíamos
fazer mais investimentos para vender a
imagem da Cidade”, observa.
A reportagem tentou conversar sobre
o assunto com o novo presidente da
Codel, Cláudio Tedeschi, mas não foi
atendida.
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
26
ESPAÇO APP LONDRINA
Janeiro:
mês de retração do mercado ou mito?
A história de que o mês de
janeiro é uma época marcada pela
retração do mercado surgiu possivelmente da idéia de que os
brasileiros só funcionam após o
Carnaval. Sem dúvida, este é um
conceito ultrapassado, característica de um Brasil que vivia
baseado na trilogia futebol-samba-carnaval.
O Brasil de hoje é muito mais
ativo e produtivo. Os indicadores de nossa economia comprovam este cenário. Em 2004, as
exportações atingiram o recorde
de U$ 87 bilhões. Em dezembro
de 2004, o Brasil vendeu US$
9,149 bilhões no comércio internacional, valor recorde para meses de dezembro e 30,3% superior à média de embarques registrada em igual período de
2003.
As
importações
totalizaram US$ 5,684 bilhões e
não batiam recorde desde 1996,
quando alcançou US$ 5,635 bilhões. O saldo comercial do período, que também é recorde,
totalizou US$ 3,510 bilhões e se
tornou o sétimo mês do ano em
que o superávit comercial fica
acima da marca dos US$ 3 bilhões.
Hoje, a palavra-chave é
competitividade, condição somente conquistada e mantida com
muito trabalho. Parar suas atividades por um mês, ou simplesmente diminuir o ritmo, pode
significar sair em desvantagem
sobre a concorrência no ano que
começa. Podemos entender o
mundo dos negócios como uma
maratona. Na maratona, a vantagem de um corredor sobre o outro
não pode ser muito grande porque,
caso contrário, quem está atrás
dificilmente alcançará aquele
segue na frente.
Imaginemos uma empresa
como um corredor de maratona.
Se esta empresa conseguiu conquistar uma vantagem competitiva, ficar parada ou simplesmente diminuir o ritmo significa
possibilitar que o concorrente a
Parar suas atividades por um
mês, ou simplesmente diminuir
o ritmo, pode significar sair
em desvantagem sobre a
concorrência no ano que começa
Início do ano não é de retração e
sim de oportunidades. Na maratona
que é a competição do mercado,
qualquer vantagem pode ser decisiva
para o sucesso de uma organização
alcance, fazendo com que todo o
esforço para manter a concorrência à distância tenha sido em
vão.
É por esta razão que acredito
que, se o início do ano for uma
época de retração, as empresas
estarão perdendo terreno para a
concorrência que manteve o ritmo ou acelerou para se distanciar
dos outros competidores.
O consumo não pára no mês
de janeiro e, sim, obedece a uma
sazonalidade de segmentos diferentes. Existem alguns setores
em que o pico ocorre nesta época
do ano, como o de educação e
material escolar, por exemplo.
Há outros que também ficam
mais ativos neste período: bebidas, turismo, higiene pessoal e
beleza são alguns deles. Mesmo
o setor de varejo, que tem seu
pico no final do ano, começa o
ano com as grandes liquidações
de estoque. Na verdade, as empresas, em sua maioria, não pos-
suem uma grande quantidade
de estoques acumulados. Hoje,
elas estão adotando uma
estratégia de marketing com o
objetivo de levar o consumidor
às compras.
Em resumo, o início do ano
não é de retração e sim de oportunidades. Na maratona que é a
competição do mercado, qualquer vantagem pode ser decisiva
para o sucesso de uma organização. A Rede Globo, por exemplo, apesar de sua liderança folgada em relação às outras emissoras, lança novas atrações no
início do ano, enquanto a grande maioria reprisa programas. A
recomendação é aproveitar o mês
de janeiro para abrir vantagem
sobre a concorrência, deixandoa que corra atrás de quem já
disparou na frente ao longo do
ano.
Dirceu Simabucuru
Gerente de Marketing RPC-TV
Espaço APP-Londrina é uma publicação da Associação dos Profissionais
de Propaganda – Capítulo Londrina em parceria com a Associação
Comercial e Industrial de Londrina.
Sede: Rua Minas Gerais, 297, 2 o andar – Edifício Palácio do Comércio –
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Texto: Chico Amaro
Editoração eletrônica: Jornal da ACIL
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Conselho Fiscal:
Alexandre Pankoski, Carlos Umberto Forti Galli, José Jarbas Gomes da
Silva, Luiz Felipe Moreira de Souza, Milton Fabrício Pereira e Victor
Gouveia
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005
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P A I N E L
J U R Í D I C O
Cláudia Rodrigues
Especial para o Jornal da ACIL
Cheques sustados:
inadimplência ou fraude?
Atualmente o comércio vem
enfrentando um problema que
está se tornando muito comum,
a inadimplência. A falta de cumprimento das dívidas contraídas pelo consumidor têm se
manifestado tanto através da
emissão de cheques sem fundos como também pela falta de
pagamento à prazo nos
crediários.
Entretanto, é com relação
aos pagamentos feitos através
de cheque que um problema
maior vem se instaurando: a
sustação dos cheques, prática
que se tornou muito comum na
esfera comercial e nos bancos.
A sustação dessas cártulas
muitas vezes é utilizada – e é
uma tendência crescente – como
um meio fraudulento para livrar
o mal pagador da obrigação
assumida, ou seja, do
pagamento de seu débito.
Através desse expediente,
o devedor livra-se tanto do pagamento como da inclusão de
seu nome nos bancos de dados
de inadimplentes, isto é, além
de não pagar a dívida, ainda
não é incluído no Cadastro
Emitentes de Cheques sem
Fundos do Banco Central, uma
vantagem, sem dúvida, já que
hoje o comércio verifica a idoneidade do pagamento através
de cheques nesse cadastro.
A sustação de cheques só
pode ser feita antes da compensação dos mesmos, por
escrito e com a justificativa
fundada em relevante razão de
direito, dispõe a Lei dos Cheques e a Resolução 2747/2000.
O que ocorre normalmente é
um grande engano quanto às
razões para se sustar um cheque. Fala-se e até mesmo adota-se esse procedimento, que
um cheque pode ser sustado
quando é roubado, furtado ou
extraviado. Esses três motivos
não ensejam a sustação de cheque, mas sim, o cancelamento
do título por parte da Instituição Financeira, que deverá
adotar o mesmo procedimento
da sustação, ou seja, o pedido
por escrito do correntista com a
declaração do motivo.
momento é exatamente esclarecer acerca da possibilidade
da sustação de cheque, visto
que sua utilização tem sido feita
como forma do devedor não
pagar sua dívida.
Conforme foi dito acima, o
pedido de sustação de cheque
deve ser feito por escrito à Instituição Financeira, com a declaração do motivo em que se
funda o pedido, sendo que este
motivo deve configurar
relevante razão de direito, não
cabendo à Instituição Financeira julgar a relevância da razão invocada pelo emitente.
E o que se entende por relevante razão de direito já que a
Lei não traz um rol das hipóteses de se encaixam nessa expressão? A questão deve, sempre, ser analisada em vista ao
caso concreto, pois só é possível analisar a relevância da
razão de direito diante da realidade negocial apresentada.
Uma hipótese muito comum
e corriqueira é o conhecido de-
sacordo comercial, isto é, aqueles casos onde fica caracterizado que uma das partes do
negócio não cumpriu ou cumpriu
defeituosa ou diversamente a
obrigação por si assumida.
Exemplo disso tem-se no caso
da entrega do produto ao
comprador fora do prazo ou das
especificações do pedido.
Aqui a sustação tem a finalidade de evitar maiores prejuízos ao comprador, pois a lei
civil prevê expressamente que
uma das partes não pode deixar de cumprir sua obrigação
alegando que a outra deixou de
cumprir a sua. Ou seja, imaginese o caso do comprador de
determinada matéria prima que
diante da entrega de
mercadoria diversa da comprada, tem que pagar o preço, para
só depois, através de ação judicial, discutir que o negócio não
se concretizou nos termos do
pactuado e só depois de ficar
comprovado esse fato, poder
pedir o valor que pagou de volta
por ser indevido e, ainda,
correndo o risco de mesmo
tendo o direito a esse recebimento, o vendedor não ter numerário para saldar essa
dívida.
Então, pode-se dizer que a
relevante razão de direito está
configurada em todas as hipóteses
em
que
há
descumprimento contratual de
qualquer natureza (empresarial ou prestação de serviços).
Sustado o cheque, o favorecido ou portador tem o direito
de conhecer a razão apontada
pelo emitente como relevante
para fundamentar esse pedido, para poder verificar se realmente é caso de sustação ou se
a sustação está sendo usada
como expediente fraudulento,
apenas para inibir o pagamento. Assim, se solicitado, o banco
sacado é obrigado a fornecer
ao portador ou favorecido as
informações acerca do motivo
da sustação, não bastando,
somente, como ocorre geralmen-
O art. 171 do Código Penal prevê
expressamente a figura criminosa da fraude
no pagamento por meio de cheque
sustado sem relevante razão jurídica
te, o carimbo no verso do cheque
indicando a alínea da
devolução.
Embora os bancos geralmente se neguem a fornecer
essas informações, alegando o
dever de sigilo bancário, eles
estão obrigados a fornecê-las
se solicitado, nos termos da
normatização da apresentação
de informações por parte das
instituições financeiras, regulamentada pelo Banco Central
do Brasil (Circular 2.989 de
2000, art. 4o, caput e inc. II).
De posse do motivo declarado pelo emitente como apto a
justificar a sustação, o favorecido ou portador poderá tomar
as medidas cabíveis para o recebimento do valor do cheque
sustado, pois se não estiver
configurada a relevante razão
jurídica, além da cobrança do
valor, poderá valer-se da via
criminal, para apurar a responsabilidade do emitente por
fraude realizada através da
injustificada sustação.
O art. 171, do Código Penal,
prevê expressamente a figura
criminosa da fraude no pagamento por meio de cheque sustado sem relevante razão jurídica como uma modalidade de
estelionato, prevendo uma pena
de 1 a 5 anos para quem
realizar esse delito.
Em suma, a sustação de
cheques nos dias atuais tem
sido
utilizada
indiscriminadamente nas relações comerciais, como uma
forma do mal pagador livrarse do pagamento da dívida e
da inclusão do seu nome nos
cadastros de inadimplentes,
sem configurar a relevante razão jurídica, única hipótese
legal para a sustação. Assim,
o portador ou favorecido de
cheque sustado, querendo,
tem o direito de conhecer a
razão declinada para a
sustação, para que, diante da
inexistência de causa a justificar a sustação, possa tomar
as medidas cíveis para o recebimento da dívida e criminais
para
punição
do
estelionatário.
Cláudia Rodrigues é doutoranda em Direito Comercial pela
PUC/SP. Sócia da Pinheiro,
Rodrigues & Advogados
Associados em Londrina
28
JORNAL DA ACIL/Janeiro 2005