Pesquisa Comparada Internacional: resultados do estudo piloto de três países (Polónia, Portugal e Reino Unido) Nelson Vieira e Cristina Ponte No âmbito do Projecto EU Kids Online, este relatório apresenta resultados de um estudo piloto que compara três países (Reino Unido, Polónia e Portugal), seleccionados por existirem dados directamente comparáveis (provenientes dos projectos Eurobarometer e Mediappro) e por diferirem numa série de dimensões. O relatório é classificado como “preliminar” porque o seu objectivo é servir-se da informação disponível sobre estes três países e das questões encontradas para traçar uma estratégia útil e prática de comparação que possa ser implementada nos 21 países envolvidos no estudo. Assim, tendo por base os projectos do Eurobarometer e do Mediappro, foi possível delinear semelhanças e diferenças entre o Reino Unido, a Polónia e Portugal e identificar perguntas e hipóteses de pesquisa. Mediação parental (Eurobarómetro 2006) Portugal e Polónia apresentam frequentemente um quadro similar, que difere dos resultados do Reino Unido, apresentando dois níveis distintos de consciencialização parental sobre a utilização da Internet pelas crianças. Em termos de acesso, utilização e gestão das regras, os pais britânicos assumem uma posição de destaque no âmbito dos três países analisados, nomeadamente no conhecimento que têm sobre a utilização da Internet pelas crianças e do seu comportamento parental. No entanto, com a emergência da “cultura do quarto de dormir” (“bedroom culture”) o acesso ao mundo online é mais difícil de supervisionar. Do lado oposto, os pais portugueses são os que menos sabem sobre as experiências ilegais ou lesivas vividas pelos filhos na Internet e os que menos acreditam na capacidade dos filhos para fazerem face a uma situação menos cómoda. Os pais portugueses são igualmente aqueles que provavelmente menos sabem como utilizar as ferramentas de filtragem e de bloqueio e os que menos estabelecem regras para quaisquer media, em particular para o computador e para a Internet. À 1 semelhança do que se passa na Polónia, verifica-se uma necessidade de informação sobre onde e como reportar conteúdos ilegais e sobre como proteger as crianças no lar. Em geral, para além da polícia, os pais parecem não ter opções e mesmo as hotlines e os fornecedores de serviços de Internet são mencionados por poucas pessoas. Existem também indicações de que os pais portugueses percebem os riscos inerentes à Internet numa perspectiva que enfatiza a suposta vulnerabilidade das crianças, crendo mesmo que as raparigas e as crianças mais jovens (entre os 6 e os 11 anos) estão mais sujeitas ao risco do que os rapazes e do que as crianças mais velhas (entre os 12 e os 17 anos). Na Polónia e no Reino Unido passa-se precisamente o oposto, dado que os rapazes e as crianças mais velhas são vistas como presumivelmente correndo mais riscos quando utilizam a Internet. As diferenças na familiaridade com a Internet e as diferenças na percepção do risco parecem ter implicações nas práticas de mediação parental. No Reino Unido, onde a Internet está disponível há muito mais tempo, os pais estão mais predispostos a praticar as formas de regulação técnicas e sociais no que toca à utilização da Internet por parte dos filhos. Em Portugal, onde os pais reivindicam maior preocupação relativamente às raparigas e às crianças mais jovens, parece ser praticada uma maior mediação parental com estas crianças. O tempo limitado é a principal regra, destacada, em Portugal, enquanto no Reino Unido a principal regra é a interdição de certos sites e na Polónia é a não divulgação de dados pessoais. Adicionalmente, parece haver diferentes expectativas sobre que instituições são responsáveis pela promoção da segurança na Internet. Isto significa que os riscos relacionados com a Internet podem ser definidos como uma questão da indústria, do Estado, das organizações da sociedade civil ou do sistema educacional. Os resultados podem ser explicados pelas diferenças entre países na confiança pública nestas instituições. Poderá igualmente reflectir as diferenças na importância relativa do lar e da escola como local para a utilização online, risco e consciencialização da segurança. 2 Se nos três países a Escola se destaca como a principal entidade de onde se espera informação sobre segurança na Internet, no caso português esse valor é o mais acentuado, com quase metade das respostas a referirem-na. Nas primeiras posições, aparecem também os fornecedores de Internet. Os media aparecem em segundo lugar em Portugal e na Polónia. No Reino Unido os pais mostram-se genericamente muito cépticos relativamente a qualquer meio de comunicação de massas e preferem receber informação sobre a utilização segura da Internet por carta. O fornecimento de informação sobre segurança proveniente de fontes governamentais e policiais é mais sublinhado no Reino Unido do que nos dois restantes países. Para os pais polacos a televisão é, de longe, o meio mais importante para receber essa informação e os portugueses colocam a via postal e a televisão nos dois primeiros lugares. Igualdade de género no acesso e uso da Internet Relativamente ao acesso e uso da Internet, os três países não revelam diferenças de género, mas os estudos nacionais poderão apontar para a necessidade de analisar mais criticamente a reivindicação da igualdade de género, de modo a identificar diferenças mais subtis, talvez desigualdades na experiência online das oportunidades e riscos. Contextos nacionais Registam-se ainda semelhanças e diferenças entre estes três países no respeitante às variáveis de contexto. Quanto ao ambiente mediático, uma razão importante para as diferenças observadas entre o Reino Unido, por um lado, e a Polónia e Portugal, por outro, poderá ser o elevado nível de difusão da Internet no Reino Unido e, assim, a longa experiência com a Internet neste país (apresenta maior nível de acesso e mais acessos de banda larga). De sublinhar que o fosso entre estes países ter vindo a crescer nos últimos anos. Por outro lado, as campanhas de consciencialização têm sido pouco desenvolvidas em Portugal e até muito recentemente têm tido pouco envolvimento das ONGs, contrariamente ao que se passa no Reino Unido e na Polónia. 3 Portugal regista baixos níveis de literacia comparativamente aos outros dois países, o que explica, em parte, a fraca utilização da Internet, especialmente entre os adultos com baixos níveis educacionais e entre as populações mais velhas. Existe, no entanto, um conjunto de factores relativos à adopção da Internet, tanto em Portugal, como na Polónia, atinentes ao crescimento da urbanização e ao facto das pessoas estarem mais predispostas a adoptar a Internet nos meios urbanos. De igual modo, em ambos os países o discurso político sobre a Internet é muito positivo, ao mesmo tempo que se têm promovido reformas educacionais e o acesso nas escolas. Finalmente, a cobertura mediática de 2006 na Polónia centrou-se mais nas oportunidades do que nos riscos, embora a cobertura destes últimos não fosse feita em termos de pânico moral. Em Portugal, os principais jornais de referência não apresentaram notícias sobre as oportunidades ou riscos. No Reino Unido, com excepção de alguns dos principais jornais sem cobertura noticiosa nesta área, sempre que foi apresentada uma notícia, esta foi predominantemente sobre o risco e com um carácter idêntico ao pânico moral. Ao nível dos jornais locais e regionais e das revistas, existe alguma cobertura em Portugal e no Reino Unido. Em ambos os casos, o risco marcou o discurso dominante. 4