ESUD 2014 – XI Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância
Florianópolis/SC, 05 – 08 de agosto de 2014 – UNIREDE
A construção de espaços dialógicos de aprendizagem para
uma nova prática pedagógica: formação ou educação a
distância?
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Carmen Pandini , Juliana Raffaghelli
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Universidade do2 Estado de santa Catarina – Brazil, [email protected]
Università Ca''Foscari di Venezia – Italy
Resumo - Este artigo objetiva evidenciar a problemática da definição de conceitos
que se referem às práticas pedagógicas vinculadas a um novo paradigma
educativo baseado no desenvolvimento da websocial e da formação complementar
em espaços extraescolares. A temática foi desenvolvida nas discussões e análises
realizadas entre 2010 e 2011 em um grupo internacional eurolatinoamericano de
pesquisa em tecnologias educativas. Centrando-se na problemática do uso da
terminologia para identificar práticas realizadas na e através dos espaços virtuais e
sua correlação com o desenvolvimento do trabalho pedagógico nos seus diversos
âmbitos. Nesta leitura, triangulou-se como algumas práticas pedagógicas na web
se alienam geralmente com práticas tradicionais que simulam os contextos da aula
com dominação do discurso docente e na perspectiva institucional única; ao
mesmo tempo em que outras práticas poderiam ser identificadas como espaços
de participação e construção de conhecimento no qual uma perspectiva dialógica
expande o universo simbólico dos participantes. Sem dúvida não existe uma
terminologia que distingue estas situações demonstrando a maior parte dos termos
usados uma forte ênfase no meio: virtual, eletrônico, online. Assim, este artigo se
propõe a um posicionamento crítico relativo a denominação educação a distancia,
relacionando-a com predomínio de uma didática e acesso ao conhecimento
orientado por um discurso docente - para adotar o conceito de formação em rede
- um modelo que propõe a construção de
espaços
dialógicos para uma
aprendizagem que tem lugar na perspectiva da conversação.
Palavras-chave – práticas pedagógicas,diálogo, conversação
Abstract - This article attempts to highlight the problem of definition of concepts
that can frame pedagogical practices linked to a new educational paradigm based
on Social Web last developments. Through a discussion group taken ahead
between August 2009 and March 2011, the international eurolatinoamerican group
REDES, compoused by researchers in educational technologies and distance
education, have focused the problem of use of terms that identify pedagogical
practices taken ahead within and through virtual spaces; further considering
educational developments-read through several disciplines such anthropology,
phylosophy, cultural and social psychology, sciences of communication). In this
reflection, it has been considered how some pedagogical practices on the web are
closer to traditional practices that recall traditional classroom settings where
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teachers' discourse and institutional perspective dominates all activity; whereas
other practices can be certainly identified as spaces of participation and knowledge
building, thorugh which a dialogic perspective is enacted and generates the
expansion of participants' symbolic univers. Nevertheless, it doesn't exist a
terminology that is able of distinguish between the above mentioned diversity, being
the adopted terms strongly linked with the means and technologies (virtual,
electronic, online). Only in the last years it's possible to see the use of key terms
associated with the issue of social interactions in a network. Considering this
discusion about notions of education, instruction, formation, inside the french
perspective (Lesne, 1977; Honoré, 1980, 1994; Barbier, 1980); brasilan Freire
(1980) and considering also the notion of dispositive (Roesler, 2008), this article
aims to generate a critical perspective with regards to the denomination distance
education -generally linked with a traditional pedagogical practice where knowledge
access is dominated by teachers' discourse-; to adopt the concept of networked
formation, that gives place to a model which proposal is to build dialogic spaces
where learning occurs through conversation.
Keywords - pedagogical practices, dialgue, conversation
1- A perspectiva formativa: tensão conceitual entre “instruir”, “educar” e
“formar” e seu espelho nos desenvolvimentos na web
Nos últimos anos se verifica o uso da terminologia que foca, por exemplo, a questão
das interações sociais à trama da rede. Com base nas discussões sobre as noções
de educar, instruir e formar presentes na perspectiva francófona (Lesne, 1977;
Honoré, 1980, 1994; Barbier, 1980), italiana (Margiotta, 2006), brasileira (Freire,
1997) buscamos levantar um posicionamento crítico relativo à denominação
educação a distância, relacionando-a com o predomínio de uma didática e acesso
ao conhecimento orientado por um discurso docente reflexivo e que adote o conceito
de formação em rede - um modelo que propõe a construção de espaços dialógicos
para uma aprendizagem autêntica, que tem lugar através da conversação.
O italiano Umberto Margiotta, na perspectiva da formação (formazione), abre
um cenário propício para pensar na negociação de interesses, identidades e
símbolos. Neste sentido, o projeto que dá forma à ação deve ser entendido como
espaço analítico e hermenêutico da prática; sem dúvida é preciso dizer que a
reflexão do ator/pessoa em situação de aprendizagem será impossível sem a
interação com os outros presentes em um determinado cenário socio-cultural. Tal
interação somente será possível através de uma perspectiva dialógica e de
transformação da realidade, tendência aberta por Bakhtin (1932-1981) e
desenvolvida com eficácia por Freire (1997) que defende que o processo de
formação é sustentado por uma dialogicidade permanente, permitindo aos
aprendizes pronunciar o mundo, que mediatizados pelo mesmo, para que possam
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entendê-lo, descodificá-lo e
1997, 1999).
intervir sobre ele para transformá-lo (Freire, 1971,
Nessa tendência, a formação se distancia da educação porque propõe um
espaço de estruturação do novo, de produção e não de reprodução, com uma lógica
que indica polos instrução/educação. Segundo Margiotta (2006):
Formar, educar, instruir e ensinar constituem as quatro estruturas-chave da
experiência humana. Trata-se de estruturas que, no curso dos séculos, têm sido
entendidas com aparelhamentos distintos que se relacionam e se triangulam com
outros referentes da vida social, econômica e cultural. Estes quatro polos se
converteram em problemas centrais do desenvolvimento, que é compatível com a
sociedade global e complexa como a atual dentro sob uma perspectiva de lifelong
learning. (em desenvolvimento). Não é mais patrimônio da natureza e sim da
cultura, quer dizer, um artifício que busca no valor transformador e produtivo dos
sistemas de significação e ação (das quatro estruturas) a individuação das questões
de sentido dentro das que podemos orientarmo-nos e obter o valor adjunto aos atos
da cotidianidade. (Tradução das autoras).
Nessa perspectiva, para poder usar o potencial dos quatro polos será
necessário aprender a contextualizá-los. Será necessário, também, prestar atenção
à rede de significados, de manifestações e de referenciais institucionais e
simbólicos, assim como organizativos que, ao longo da história os homens
assumiram seja ao educar, que ao instruir, ao ensinar e, por último, ao formar.
Refletindo sobre as definições dadas por Margiotta temos as seguintes
dimensões:
• Educar, em relação às suas raízes etimológicas e antropológicas significa
guiar, conduzir através de. O polo educação se constituiu historicamente
como a base que permitiu gerações inteiras a desenvolverem-se em relação a
uma determinada matriz de valores culturais, que define a identidade, não
como aspecto do saber, nem do fazer, mas do saber ser pessoa em um
contexto.
• A ideia de “instruir” nos remete a pensar no sentido de “preencher, transmitir,
dar a alguém conhecimentos específicos. Portanto, se afirma como condição
sine qua non para a reprodução de um sistema social, que faz referência a
una estrutura de poder. As noções que atravessam a “instrução”, são a de
organização de saberes, de institucionalização, de ensino. A instrução no
está necessariamente integrada ao desenvolvimento integral da pessoa,
porque sua meta final é a de adestrar, de “domesticar” mentes e corpos para
um determinado sistema social.
• A formação se define como o processo de “dar forma a ação”. Em nossa
civilização, o termo possui esta conotação por uma força explicativa de
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grande importância, quando se relaciona com todas as atividades de criação
e expressão de mudança social. Na história, a formação está ligada a
expressões culturais (música, dança, coro), e de trabalho ou artesanais
(formação de ofício); nos últimos anos, adquire também o valor de dispositivo
de mudança organizacional, que incluem ações de capacitação de pessoal
em processos de reengenharia, que na emergência da modernidade
ocidental singulariza-se como movimento de racionalização
e de
autoorganização do sujeito com relação a campos de responsabilidade, por
um lado, e de êxito, por outro, considerando a integração de todas as áreas
de geração de significado da vida cotidiana.
Diz Margiotta (op.cit.), que é por esta via de significado, aberto pela formação
que se sublinha cada vez mais o saber, a relação com o outro, o contexto social de
referência, ao dar forma às ações. É uma força que supera a simples categoria
subjetiva na pluralidade de diferentes intencionalidades operantes, que se abrem à
reciprocidade e à coexistência plural de diferentes universos de significado que
cooperam ao desenvolvimento da vida de todos. (Tradução das autoras). Com o
polo formar, a investigação em Ciências da Educação extrapola os limites
autoimpostos, parando na educação de base para chegar à dimensão pós-moderna
e pós-fordista da aprendizagem ao longo de toda a vida.
Concluindo com Margiotta (2010), entende-se que “é assim que a história dos
povos e das mentalidades - a microfísica do poder, se constroem como história
formativa”. Emerge, portanto, que o conceito amplo de educação, assim como o
mais estreitos conceito de instrução na sociedade da aprendizagem, deveriam ser
superados pelo conceito de formação enquanto lógica de negociação de espaços
institucionais líquidos para se chegar às estratégias de intervenção formativa que se
propõem como dispositivos seja de construção da identidade ou de micro mudança
social.
A formação, como se pode inferir, se baseia fundamentalmente no diálogo que se
opera entre os atores envolvidos no processo de construção para a negociação de
papéis, funções, ações e simbolização de uma realidade em constante mudança. Se
alinharmos ao discurso formativo o debate sobre a revolução dos processos de
aprendizagem que o desenvolvimento da Web está aportando, como espaço que se
propõe aberto à livre interação entre usuários e, por conseguinte, criação de
conteúdos (Downes, 2005; Bonaiuti, 2006; Seely Brown & Adler, 2008; Rothen,
2009) , se obtém a crucial importância dos processos de participação interação
comunicativa em espaços compartidos. Essas hipóteses já foram antecipadas na
Pedagogia de Paulo Freire (1971) como educação que evita a narração ou o
discurso docente unilateral, a que podemos chamar de conversação formativa: uma
distribuição equitativa de tempo de interação, símbolos, significados que levam à
equitativa representação de cada sujeito envolvido em um proceso formativo, no
reconhecimento da paridade da dignidade de cada docente-aluno, que vai na
direção à reflexão de Jesús Martín-Barbero (2000), o qual considera que, na
atualidade, os saberes socialmente mais valiosos não passam necessariamente pela
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escola, nem consideram as orientações que tal instituição possa dar para circular
pela sociedade gerando valor.
Contudo, essas afirmações devem se fundamentar, seja em uma coerência
conceitual e terminológica, que na existência de práticas coerentes com as mesmas.
O ponto de partida das autoras desse trabalho, é a clara observação de diferenças
substanciais entre as práticas pedagógicas na web e, fundamentalmente, e
diferenças terminológicas que não chegam a esclarecer qual é o estatuto de
referidas práticas em relação aos verdadeiros processos de diálogo e construção de
conhecimento, então as questões são: Qual seria a meta desejável segundo a
teorização das Ciências da Educação? A que tipos de ambientes de aprendizagem
se faz referência quando se fala de Educação a Distância? Porque se usa,
indistintamente, os termos E-learning”, “Online learning”, “Educação Vitual”? Porque
nos últimos anos se verifica o aparecimento de neologismos como “Net-based
Learning”, “Aprendizagem na Web Social”, “Networked Learning”?
Essas são algumas perguntas que tem orientado o debate do grupo de pesquisa
inseridos no Projeto REDES, na temática Formação em Rede que tem tendo como
primeiro objetivo o levantamento de um consenso terminológico para, justamente,
poder dialogar com os pesquisadores provenientes de diferentes realidades
institucionais e nacionais, sobre o fenômeno da construção de identidades e de
mudanças sociais e na web, através da interação formativa.
2 – Da web 2.0 da cibercultura à cidadania digital: os lugares habitados
da rede.
Parte-se da hipótese que, hoje, lugar comum é quando se adotam tecnologias
educativas, e que a dinâmica e o potencial da interface online são que permitem ao
professor superar a prevalência da pedagogia de transmissão. Parece que tal
interface da Web propõe a evolução em uma arquitetura de trajetórias que cria
oportunidades para gerar conjuntos de novos significados, animando aos docentes e
alunos a participar ativamente como coautores de um processo de construção de
conhecimento. Mas como chegar a esta hipótese?
Para poder tomar uma posição crítica e de aprofundamento da mesma, o
ponto de partida da reflexão tem sido o de uma necessária análise do processo de
mudança do medium, ou seja, da Web, considerando o impacto social e
antropológico que este desenvolvimento iniciou. Se até poucos anos as interações
humanas que fluíam e ficavam em um espaço social simbólico, sendo “cristalizadas”
nas obras humanas e na tecnologia (principalmente o conhecimento acumulado em
texto), os instrumentos dinâmicos da Web foram multiplicando as oportunidades de
interconexão social e a complexidade dos ambientes socioculturais em uma fórmula
de hibridação entre real e virtual. Esta inicia uma nova lógica comunicacional, como
destaca Silva (2003) ao refletir sobre uma educação para a cidadania mais próxima
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do contexto econômico-tecnológico, cujo objetivo não é mais a produção industrial,
acompanhada pelos meios massivos; na informação digitalizada como nova
infraestrutura básica, como novo modo de produção, um novo paradigma de
socialização tem seu lugar. Computadores e internet definem parte desse ambiente
de informação, porém é a nova lógica computacional que toma o lugar da
distribuição de saberes das massas ao indivíduo, aos nichos de rede específicos. A
internet teve sua primeira apresentação ao público em 1992, e desde esse momento
o desenvolvimento tem sido contínuo e exponencial. A primeira geração da web
tinha ainda a forma de um espaço de “arquivo” similar a uma biblioteca, alguém
carregava de dados, e logo os usuários iam descarregar aquilo que parecia mais
significativo.
A leitura hipertextual vai gerar uma primeira quebra ao “brainframe” (De
Kerchkove, 1993), transformando a mente humana, a inteligência que viaja da
dimensão temporal e sequencial da leitura à aproximação espacial e holística
necessária para navegar o hipertexto. Nascem então os primeiros espaços de
interação, frequentados principalmente por jovens, com as salas de chat como
primeiro expoente e fórum online, que geram comunidades de “cibernautas”, assim
denominados por caracterizar uma cultura particular, uma tribo digna de estudos
etnográficos (se denominam termos como a ciber-antropologia e cibercultura durante
os anos 90, cfr. Turkle, Sh, 1996). A tendência se confirma na metade dos anos 90,
dando início ao novo século com um fenômeno completamente novo: a facilidade de
acesso à Internet que se difunde, a velocidade que se amplia com a chegada e
difusão do broadband, das experiências pioneiras de de.li.ci.ous (tag de sites web de
internet online), Flickr, Messenger, chat, email; Wikipédia blogspot, splinder,
wordpress, Google, a difusão do YouTube, por mencionar somente alguns
exemplos, as portas estão abertas para criar e compartilhar conhecimentos, para se
converter em autor de si mesmo, para “representar” num modo espetacular uma
própria identidade online. Nasce então à web 2.0.
O sentido não mais será criado por um autor reconhecido como especialista,
que impõe de maneira vertical o conhecimento gerado por ele: seja este discutível
ou não, ao ser “publicado” se reconhece um status de sentido “vertical” de
autoridade intelectual. É o usuário da web que escolhe, gera suas próprias
sequências de aproximação ao texto e às imagens na leitura hipertextual. Mas
também que copia, cola, completa, publica, comenta, envia se convertendo em
editor de si mesmo, e no melhor dos casos, pertencendo a uma rede, gerando
conhecimento que será usado por outros em sequência de interação contínua. Para
interpretar esta complexidade é necessário referenciar significados compartilhados,
que se criam associando “etiquetas”, as quais por sua vez, criam a possibilidade de
uma meta-descrição de documentos, intervenções, post, materiais de áudio e vídeo
na rede.
Este leitor hipertextual, esta pessoa que se assomava à web dos anos 90, o
fazia sozinho. Quando o leitor se converte em autor, um autor que coloca seus
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próprios hiperlinks na rede e os abre a outras pessoas que podem comentar, pegar
parte destes textos e se apropriar: o resultado é um híbrido cognitivo-social, um
sentido que não está nem na mente de um indivíduo, nem na mente do outro, senão
entre ambas. Um conhecimento distribuído e situado, portanto. (cfr. Seely Brown, J.,
Duguid, P. 1991).
Os usuários da rede se transformam de downloaders em uploaders, autores,
identidades que circulam em um mundo paralelo, dando lugar ao Learning 2.0
(Downes, 2005; Bonaiuti, 2006); ou seja, uma maneira de aprender onde o conteúdo
é criado e distribuído de um modo diferente. Ao invés de ser composto, organizado e
“empacotado” institucionalmente por especialistas disciplinares, o conteúdo seria
simplesmente etiquetado por quem o cria e seguido por eventuais interlocutores em
uma comunidade de prática, através de instrumentos como blog post ou podcasting.
O conteúdo seria, assim, diretamente agregado por estudantes, usando sistemas
RSS pessoais ou aplicações similares para o bookmarking. A arquitetura não linear
de autoria na web se converte em textos tridimensionais dotados de uma estrutura
dinâmica que os faz de maneira interativa manipulados pelos usuários na rede.
Nas palavras de Silva (2003, p. 100-105),
Os fundamentos da interatividade podem ser encontrados nas disposições, em sua
complexidade dos meios de comunicação online. São basicamente três: a) a
participação-intervenção: a participação não é só responder “sim” ou “não” ou
escolher uma determinada opção, tem que mudar a mensagem, b) a
bidirecionalidade-hibridação: a comunicação é a produção conjunta da emissão e
recepção, é a co-criação, a codificação e decodificação de dois polos, c) a
capacidade de intercâmbio: implica na comunicação uma multiplicidade de redes de
articulação das conexões e o livre comércio, associações e significados.
Todas estas operações, que deixam um espaço de liberdade enorme,
inusitado, na web social, convertem-se a si mesmas em oportunidade de reflexão
sobre a responsabilidade social: arquivar e recuperar dados através de uma
pesquisa na rede com conotação semântica, de criação de sentido. Eis que aqui, a
questão da presença na rede deixa de ser um registro, uma topografia de acessos, e
passa a ser uma presença social com uma identidade própria, próxima ou distante
da identidade real, a qual lhe deu origem: um perfil de presenças em espaços
virtuais, em ambientes de aprendizagem, de jogo, de comunicação. Esse perfil
merece obter a categoria de uma cidadania digital (cfr. Maistrello, 2007). A cidadania
digital deve ser exercida através da "netiquette", no sentido de que o participante do
mundo Web 2.0 começa a compreender que a conduta indesejada na rede destrói
toda possibilidade colaborativa (o incômodo, a agressividade comunicativa, o
cancelamento de conteúdos, a publicação de informações apócrifas), e com isso, a
existência dos sites que o cidadão virtual deseja habitar. Como pensar, por exemplo,
a existência da Wikipédia e o fruto imenso, que esta matriz de conhecimento
compartilhado mundialmente gera aos seus usuários, se a construção, cujo único
controle, a ética colaborativa dos participantes, estivesse viciado por atos
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inescrupulosos de falsificação.
O novo cidadão virtual sabe que talvez seja a oportunidade de uma nova
forma de exercício do poder: uma democracia virtual cuja guia é a qualidade de
conhecimento compartilhado, o poder distribuído entre os nichos da rede e a própria
responsabilidade em dar vida às lógicas colaborativas e criativas, que atuam
fundamentalmente através de espaços de diálogo, aparecendo a Web como
potencial espaço simbólico e semiótico de construção de cultura com impacto nas
identidades dos indivíduos que participam na mesma, num sentido formativo.
(Wegerif, 2009).
3 – Uma visão crítica da Web como espaço formativo: questões de
precisão terminológica
Afirmar que a Web oferece um ambiente privilegiado para uma perspectiva
formativa, no entanto que baseado nas múltiplas interações comunicativas que o
ambiente virtual promove por si só, parece uma operação lógica e, em efeito, como
foi demonstrado anteriormente, se proclama a chegada de uma nova era de
cidadanias digitais, ativa e abertamente participantes nos territórios virtuais.
Podemos assim dizer que a concepção pode ser dialógica e interativa quando
supõe participação, intervenção e a possibilidade de criar, ou seja, implica coautoria
(Silva, 2003). O conteúdo não está indicando um pacote de informação, senão o
material de base para a intervenção e o intercâmbio, operações que se baseiam nas
capacidades de atuação e dos usuários. A comunicação não é unidirecional, senão
bidirecional, já que permite a recepção e troca.
No entanto, poderíamos opor uma visão crítica a este tipo de consideração
cuja base é conceitual, e não empírica. As cidadanias digitais, participantes num
espaço livre e inclusivo, poderiam ser, na perspectiva deste artigo, uma mera utopia,
nem sempre realizada na prática até o momento em que não se prefira o conceito de
espaço educativo dialógico ao conceito tecnológico (a aprendizagem com uso de
ambientes virtuais).
Em primeiro lugar, parece necessário verificar algumas questões de ordem
terminológica, que nos levam a compreender as práticas in situ.
De modo geral, a pesquisa sobre os processos de aprendizagem em
ambientes virtuais se apoia nas seguintes tradições de pesquisa, que enfatizam a
maior participação e a perspectiva dialógica:
• Cibercultura / Formação da Identidade em Rede (Levy, 1994; Turkle, op.citt),
linha que compreende os desenvolvimentos relacionados às mudanças nos
processos de conhecimento da realidade, de socialização e de construção da
identidade a partir do surgimento e posterior explosão da Web.
• Importância para a atividade do aluno (Sócio construtivismo, Teoria da
Atividade, Aprendizagem Social; Vygotsky, 1972 -2005-, Engestrom, 1991,
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2008, Seely Brown & Adler, 2008) em processos de cognição e aprendizagem
que ocorrem no meio sociocultural, do qual, como se indicava no ponto
precedente, o espaço virtual é um.
• Importância das redes de colaboração na construção de conhecimento como
comunidades de aprendizagem virtuais (Gunawardena et. Al,1997, Palloff &
Pratt,
, Garrison & Anderson, 2003), linha de pesquisa que explora a
constituição de comunidades que interagem quase dominantemente online,
com fins de aprendizagem - para diferentes níveis, desde o conhecimento de
conteúdo até o desenvolvimento de habilidades complexas, como a pesquisa
e a solução de problemas profissionais.
• Do modelo curricular ao modelo de acesso ao conhecimento (Lemke 2005),
o Learning 2.0 (Downes, op.cit.), linha que explora os processos de desenho
educativo, que passam da centralização em processos de ensino à
centralização nas perspectivas de aprendizagem que permite o simples
acesso a conteúdos digitais e a redes sociais online.
Como observamos nesta breve referência às perspectivas teóricas de
diferentes disciplinas, é evidente que existe um contínuo efeito de interação entre
tecnologia e reflexão pedagógica, que cria o campo para supor uma mudança sócioeducativa, onde a dimensão de participação e construção em universos simbólicos
negociados, cuja realização se dá na Web, no texto híbrido gerado por milhões de
interações e na geração contínua de objetos que comunicam, desde seus autores
em linguagens de multimídia, aparece como central.
Isso, em nenhum caso, explica as condições de equidade de representação
nestas “teias de aranha” de sentido; de fato, existem numerosos casos de ausência,
de lurking de usuários que poderiam efetivamente indicar lógicas de poder ainda
mais sutis que as que se jogam em relações presenciais, não consentindo a
verdadeira tensão de diversidades que permite a criação de um espaço dialógico.
Uma primeira exploração terminológica nos colabora com um cenário de
incertezas que indicam justamente visões muito diferentes sobre a célebre
“participação” do aluno em processos de aprendizagem social.
A partir do debate intenso entre os meses de Agosto de 2009 a Marco de
2011, no interior do grupo de pesquisa REDES (Formação em Rede), constituído por
quatro pesquisadores brasileiros, três argentinos e um italiano, aparece como
primeiro efeito do intercâmbio de conceituação da prática de formação em ambientes
virtuais, ou seja, ao falar do próprio lugar como formadores e pesquisadores na rede,
uma consistente divergência terminológica também emergiu. Parece que todo o
grupo se dedica aos mesmos fenômenos, porém a terminologia adotada é diferente
e substancialmente divergente. A partir dessa discussão, emerge, então:
• De maneira geral a denominação “EAD”, Educação a distância, parece fazer
referência de um modo muito amplo a todos os processos de aprendizagem
com uso de ambientes virtuais, mas retomando definições, ela se refere
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principalmente ao meio e ao processo de design instrucional. O processo
educativo nesta concepção é organizado por um especialista, que atualiza
qualquer meio telemático para, justamente, mediar a situação comunicativa
que existe na sala de aula. O grupo conclui que, neste tipo de denominação,
se enfatiza a democratização e o acesso, o conceito mesmo indica
claramente a direção de uma centralidade do processo de ensino, da
atividade do docente sobre a atividade, além de tudo colaborativa, em grupos
ou comunidades, dos estudantes.
• Sucessivamente, a análise do uso na literatura dos termos E-Learning,
Online Learning e Net-based learning (nesta ordem de frequência de uso),
indicam uma forte ênfase entre o meio e o processo de aprendizagem por
interação com um conteúdo. No debate, se aprofunda sobre a presença e
utilidades das chamadas plataformas e-Learning (ou Learning Management
System) que por enquanto podem ser Open Source ou sistemas proprietários,
indicam uma direção de estruturação, sempre por parte de um especialista,
aos arredores da aprendizagem e comunicação entre alunos, com uma
atividade social que nem sempre pode se dirigir a objetos simbólicos que
melhor representam os interesses pessoais, sociais e culturais que
contextualizam um processo de aprendizagem situado e autêntico.
• O grupo traz à discussão uma série de novidades sobre a temática,
considerando que só nos últimos anos se enfatiza a necessidade de atividade
social e emotiva, surgindo termos como Networked Learning (Aprendizagem
em Rede), que indicam a presença de atividades em comunidades de
aprendizagem/prática que se servem da Web como necessidade para dar
curso a relações complexas, de natureza global-local.
Esta primeira exploração realizada pelo grupo de trabalho leva a pensar na
necessidade de contribuir com maior especificidade no debate sobre a formação em
rede, considerando uma convergência terminológica, que ajude o encontro das
diferentes disciplinas (das quais os pesquisadores estão envolvidos, como a
pedagogia, a psicologia, a psicanálise, a antropologia e as ciências da
comunicação), quanto à construção de uma perspectiva crítica das práticas
pedagógicas na Web, sem a fácil referência ao imaginário da Web da participação
que circula entre nós, tal e como temos posto em evidência no parágrafo anterior.
Essa breve contextualização pretende trazer à tona a desconstrução, mas
também uma reconstrução conceitual capaz de permitir colocar em evidência um
aspecto central da educação a distância, que entendemos ser ainda muito
complexa quando se trata da relação pedagógica. Essa não pode estar separada da
reflexão antropológica, social e pedagógica, mas porque precisaria de uma atenção
com relação ao processo de formação, considerados os elementos estudados nesse
projeto... de continuidade, de inovação e diálogo constante.
Assim, também no lugar da transmissão, o professor deveria propor a
construção de sentidos múltiplos de conhecimento, ao oferecer diversas
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possibilidades, que se abrem quando os elementos são conduzidos pelos
estudantes de modo interativo. No entanto, a partir do debate, se assegura a
possibilidade de significados livre e plural, sem perder de vista a sua coerência, com
relação a um posicionamento crítico de significados que se abre para ampliações;
neste sentido existem mudanças sobre o conhecimento de base que os alunos
efetivam.
A análise do contexto estudado, permite compreender que
em um
determinado espaço virtual de aprendizagem, em que um grupo de pessoas se
encontram para serem formadas em certa temática (desde conhecê-la até aprender
a operar com as tramas dos saberes e práticas associadas a ela), se caracteriza por
um processo pedagógico, que se nutre de elementos educativos, inclusive quando
pretende se libertar do controle do tempo escolar ou das regras clássicas do uso da
linguagem. Neste sentido, na relação aluno-docente, ou melhor, tutor onlineparticipante, o sentido da hierarquia da institucionalidade educativa segue estando
presente ainda quando se promove a construção de sentidos interativamente.
Antes que nada, impera o uso da linguagem, em suas diferentes dimensões e
características, com suas distintas modalidades de enunciação: nesse processo se
constrói texto, no sentido mais amplo deste termo; um texto particular, em base e
formas específicas de comunicação, com uma base fundamental na linguagem
híbrida (Constantino, 2002), e nos últimos anos, com o desenvolvimento da Web 2.0,
com incorporações de imagens, vídeos, áudios, de maneira composta neste texto.
Se a participação se dá por meio dessa trama textual multimodal, então a
“presença” dos participantes se inscreve através de uma série de habilidades
comunicativas para formular suas mensagens neste novo meio, que prescinde de
uma série de habituais mecanismos de comunicação, como o gesto imediato (ainda
que possa ser incluído por vídeo) que evidencia emoções essenciais no processo
comunicativo. Paloff e Pratt (2004) afirmam que professores e alunos desenvolvem
uma “personalidade eletrônica”, no entanto, dependem de algumas habilidades para
se manter em um ambiente de convivência e reciprocidade. Entre elas se destacam:
desenvolver a competência para manter um diálogo interno e formular respostas,
saber elaborar um conceito interno de privacidade, lidar com questões emocionais
sob uma forma textual, construir uma imagem mental de seus companheiros durante
o processo de comunicação, e se sentir presente no âmbito online através da
conversação, personificando os desejos e os sentidos do que se comunica e/ou
negocia.
Tal parece que a estrutura dialógica de um espaço virtual não é imediata,
senão que requer uma pressão psicológica, social e cultural específica que antecede
o dispositivo tecnológico, se bem que aquele permite – cada vez mais – a riqueza da
ação comunicativa (como indicávamos, por meio da multimodalidade e midialidade).
É aqui que nossa formulação encontra a perspectiva Bakhtiniana da dialogicidade,
segundo a qual a construção de uma imaginação dialógica (e daqui, de um espaço
dialógico) não é a mera situação de estar preparado ao diálogo; em troca, se trata
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de imaginar-se incompleto, enquanto a construção de si mesmo se dá através de
múltiplas vozes, somente se concretiza na presença imaginaria do outro, presença
imaginaria que gera a condição de dialogicidade do texto e do contexto.
Tomando, nesta linha, a concepção de Freire (1997), é mediante uma relação
dialógica e dialética que professor e aluno estabelecem a centralidade da dimensão
do conhecimento, no sentido de aceitação do outro, de interação e de subjetividade,
com um sentido de pertence. Freire considera que a ação dialógica é indispensável
no ato de conhecer. O processo dialógico-discursivo se abre no sentido de “ser e
estar” no mundo e “no grupo”, criando conexões sociais e representações entre os
integrantes, e criando também significados negociados, tendo em consideração as
relações e os sentidos entre este homem e este mundo. L. Vygotsky (2005, p.181)
define o sentido e o significado como:
[...] a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa
consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de
estabilidade desigual. O significado é apenas uma das zonas de sentido, a mais
estável e precisa. Uma palavra adquire seu sentido no contexto em que surge: em
contextos diferentes, altera seu sentido. O significado permanece estável a medida
de todas as alterações de sentido.
Deste modo, as diferentes linguagens tecem um processo de comunicação
que se produz quando os indivíduos se encontram, trocam ideias e interagem,
participam de um processo compartilhado, o que os caracterizam como sujeitos
interagentes e a conversação está no centro do processo de construção de sentidos
– por estabelecimento da relação si para si – de si para o outro.
Nesse estudo, emerge que a relação dialógica reside a busca das inúmeras
respostas sobre a compreensão da realidade física e virtual, mas além das
tecnologias que dão suporte a distância ou presencial. Porque a dialogicidade se
realiza reciprocamente, dando vida à rede social, que vive melhor baseada num
dispositivo tecnológico que aumenta exponencialmente as possibilidades de contato
para dialogar com o outro. Porém, a rede tecnológica, desde a leitura que aqui
estamos fazendo, não se antepõe à rede social. Ambas devem ser reconhecidas
como um conjunto de sentido talvez indivisível.
Então, esta análise conceitual, realizada pelo grupo REDES, considera
essencialmente a dificuldade, a construção não imediata de espaços dialógicos na
Web, que permitam uma verdadeira perspectiva formativa.
4 – Conclusões e recomendações de pesquisa: da análise de interações
na Web para a desconstrução de “histórias de participação”
Para o grupo de pesquisadores, que através do projeto REDES, se debruçou a
debater sobre a própria identidade e prática da formação em ambientes virtuais, a
busca de uma clareza terminológica que permita se identificar num modelo de
intervenção profissional, leva necessariamente a um passo sucessivo de análise
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empírica.
Considerando que a formação, como indicamos, tenciona universos
incomensuráveis de sentido enquanto as diversidades culturais e de identidades,
que se aproxima para dividir um espaço de criação e “autoconstrução” (Beck, 2008),
o diálogo fundado na intensa interação, apareceria como instrumento crucial a
caminho de um dispositivo formativo.
Disso resulta que a análise crítica de interações em um ambiente virtual de
aprendizagem, poderia justamente contribuir com maior evidência sobre a situação
antes descrita, quer dizer, de potencialidade – em alguns casos – da Web para
potencializar uma educação dialógica (que propõe ao centro o conceito de
aprendizagem como conversação) ou de coerção e excessiva presença de uma voz
única, representante de processos de poder institucional e sociocultural, não
obstante no meio utilizado.
Segundo as autoras desse artigo, esse tipo de análise requer em qualquer
caso um processo de desconstrução de posicionamentos e de símbolos presentes
num espaço formativo na Web, composto por: interações entre docente/formadores
e alunos; interações entre alunos; interações entre conteúdo digital e sujeitos
envolvidos; processos de elaboração do conteúdo digital (que implica em processos
de design instrucional).
Por fim, cabe salientar que uma consistente parte da literatura se dedicou nos
últimos dez anos para reforçar a concepção da Web como espaço de participação,
de horizontalidade de relações, de igualdade e de relações construtivas, o
verdadeiro impulso de relação que leva a construção de um espaço dialógico, tanto
que permite a equitativa representação simbólica da diversidade em contínuo
impulso de intercâmbio. Entretanto, está também em contínua incorporação da
alteridade (Habermas, 2003), que requer um esforço sustentado por docentes e
alunos na negociação de sentido, a qual parte de uma ação de “tomada de
consciência” do próprio posicionamento subjetivo nessa micro realidade que
representa o espaço formativo, para poder levar a cabo uma conversação formativa.
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A construção de espaços dialógicos de aprendizagem