XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O
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CARACTERIZAÇÃO DE BIODIGESTORES: DESCRIÇÃO DE SEUS PROCESSOS DE
RECICLAGEM DA MATÉRIA ORGÂNICA E PRODUÇÃO DE GÁS
Estevão Gottlieb Gatzke
(G – GEPRHEA – CCHE – UENP/CJ)
Dyego Leonardo Ferraz Caetano
(PG – UEL – GEPRHEA – CCHE – UENP/CJ)
Luís Carlos de Pontes Silva
(PG – UEL – GEPRHEA – CCHE – UENP/CJ)
Dr. Laércio Ribeiro Reno
(Orientador – GEPRHEA – CCHE – UENP/CJ)
RESUMO
Este trabalho demonstra alguns modelos de biodigestores, como o Indiano, o Chinês, o
Batelada e o da Marinha, abordando seu funcionamento e descrevendo suas etapas, nas
quais se dão os processos de: hidrólise, acidogênese, acetogênese, e metanogênese,
resultando na produção de biogás, e biofertilizante. Agregar valores aos produtos finais
decorrentes deste processo, como a utilização do biogás, empregado na geração de
energia limpa e renovável, bem como a aplicação de biofertizante na recuperação do
solo, devido seu alto teor de macro e micronutrientes, são perspectivas para maior
abordagem em estudos futuros na área de energias renováveis e recuperação de solo.
Para este fim, o biodigestor é uma alternativa como forma de reduzir os impactos
ambientais causados pela dispersão do gás metano para atmosfera, e da contaminação
de corpos d’água, além de empregar o resíduo sólido da biodigestão na adubação de
terrenos degradados.
Palavras-chave: Biodigestor. Fermentação. Decomposição. Bioenergia.
1 INTRODUÇÃO
Considerando o fato de que, com exceção da energia nuclear e da energia
geotérmica, todas as outras derivam do sol: combustíveis fósseis, hidrelétrica, eólica,
solar, todas têm, na sua principal origem, o sol. (PECORA, 2006). Então temos uma fonte
primária de energia, a qual encontra na ecoesfera os sistemas econômicos que interagem
com o capital natural (ar, água, terra, etc.). E não é só isso, se pescamos demais,
acabamos com a capacidade dos peixes de se reproduzirem: isso significa que os
recursos renováveis foram usados além da sua capacidade de recuperação. E há
exaustão de recursos não-renováveis, por exemplo, se tirarmos todo o ferro que tem no
planeta, ele acaba. (YURA, 2006)
O fruto do sistema econômico tem poluição e resíduo. Se propusermos um bom
programa de reciclagem e reutilização, podemos devolver parte desse capital natural à
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sua origem. Então deve-se tentar utilizar os resíduos para repor alguma parcela do
capital natural. (BÓRIA, 2008)
Cientificamente, biodigestão é o nome atribuído ao processo de transformação
de polímeros em monômeros orgânico através de bactérias (NATALIE, 2007). O nome
biodigestor vem da junção de dois vocábulos que um deles vem do latim: digestione, que
se caracteriza em dizer digestão/decomposição; já outra parte da denominação vem do
grego: bios, identificado com o significado, vida. (GASPAR, 2009).
Portanto a junção desses dois termos deu origem à palavra utilizada neste
trabalho, biodigestor, que é um aparato utilizado como auxiliar na degradação de
material orgânico, que por sua vez levaria muito tempo a ser destruído e redistribuído
sob forma de nutrientes ao solo onde seria o local de sua reutilização pelo ambiente
natural. No rearranjo residual ocorrido em tal processo para que se tenham os nutrientes
novamente nas formas absorvíveis pelos vegetais, também formam o metano. Este é
objeto de estudos, apontado como um ótimo combustível renovável a ser utilizado em
motores de ciclo Otto. (DEGANUTTI et al., 2008)
Para este fim, o biodigestore é uma alternativa como forma de reduzir os
impactos ambientais causados pela dispersão do gás metano para atmosfera, e da
contaminação de corpos d’água, além de empregar o resíduo sólido da biodigestão na
adubação de terrenos degradados. (NATALIE, 2007)
O objetivo deste trabalho foi descrever modelos de biodigestores e suas partes,
para que se possa compreender seu funcionamento e dessa forma citar os processos
sofridos pela matéria orgânica depositada em seu interior, a fim de proporcionar estudos
que agregue mais eficiência em seus processos, e também em sua construção, utilização.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 HISTÓRICO DO BIOGÁS
A descoberta do biogás, denominado gás dos pântanos, foi atribuída a Shirley
em 1667. No entanto em 1776, Alessandro Volta reconheceu a presença de metano no
gás dos pântanos. Já no século XIX o aluno de Louis Pasteur Ulysse Grayon realizou a
fermentação anaeróbia (decomposição sem presença de oxigênio) de uma mistura de
estrume e água, a 35ºC, obtendo então 100 litros de gás/m³ de matéria. No ano de
1884, ao apresentar os trabalhos do seu aluno à Academia das Ciências, Louis Pasteur
considerou que a fermentação podia construir uma fonte de aquecimento e iluminação.
(FIGUEIREDO, 2007)
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Nas décadas de 50 e 60, Índia e China foram os primeiros países a utilizar o
processo de biodigestão, desenvolvendo seus próprios modelos de biodigestores.
(MASSOTTI, 2009)
Assim como o Brasil, desde a crise do petróleo da década de 1970, diversos
países buscaram alternativas para a diversificação de sua matriz energética, acarretando
um grande impulso na obtenção de energia gerada pelos processos de tratamento
anaeróbio.
Porém,
as
soluções
aos
problemas
de
desenvolvimento,
devem
ser
apropriadas às necessidades, capacidades e recursos humanos, recursos financeiros e
cultura. Deste modo, o impulso recebido durante a crise não chegou a substituir os
recursos não renováveis por fontes renováveis. (BÓRIA, 2008)
Tanto na geração de energia, como na propulsão de veículos que ainda são
prioritariamente abastecidos com subprodutos de petróleo e da cana de açúcar, o motor
de ciclo Otto pode ser empregado com muita facilidade, pois se regulado funciona
perfeitamente com o produto resultante do processo, o biogás ou gás metano. (YURA,
2006)
A biodigestão vem sendo utilizada como forma de evitar a contaminação de
lençóis freáticos por efluentes de granjas de suínos e aves, bem como no início do
processo de utilização destes dejetos na geração de energia na região oeste do estado do
Paraná. (PARANÁ, 2010)
2.2 CARACTERIZAÇÃO DO BIODIGESTOR
O biodigestor compõe-se, de uma câmara fechada na qual a biomassa é
fermentada
anaerobicamente,
(sem
a
presença
de
ar).
Como
resultado
desta
fermentação ocorre à liberação de metano ou biogás, e a produção de biofertilizante. É
possível, portanto, definir biodigestor como um aparelho destinado a decompor a
biomassa e em conseqüência desta reação produzir biogás. Tal aparelho, contudo, não
produz o biogás, uma vez que sua função é fornecer as condições propícias para que um
grupo especial de bactérias, as metanogênicas, degrade o material orgânico, com a
conseqüente liberação do gás metano. (YURA, 2006)
O principal componente do biogás é o metano representando cerca de 60 a 80%
na composição do total de mistura. O metano é um gás incolor, altamente combustível,
queimado com chama azul lilás, sem deixar fuligem e com um mínimo de poluição.
(BARBOSA, 2003)
Em função da porcentagem com que o metano participa na composição do
biogás, o poder calorífico deste pode variar de 5.000 a 7.000 kcal por metro cúbico. Esse
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poder calorífico pode chegar a 12.000 kcal por metro cúbico uma vez eliminado todo o
gás carbônico da mistura. (FIGUEIREDO, 2007)
Traduzindo em termos práticos, uma relação comparativa de equivalência de 1
metro cúbico de biogás com os combustíveis usuais temos:
3 DESCRIÇÃO DOS MODELOS MAIS UTILIZADOS
3.1 BIODIGESTOR MODELO INDIANO
Este modelo de biodigestor caracteriza-se por uma unidade denominada
gasômetro, a qual se destina com função de retenção do gás obtido através dos
processos de degradação da matéria orgânica, a mesma está mergulhada sobre a
biomassa em fermentação, ou em um selo d’água externo, e também é composto de
uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. (ROMA,
2003)
A parede que divide a área interna do biodigestor faz com que o material circule
por todo o interior da câmara de fermentação. O modelo indiano possui pressão de
operação nivelada, ou seja, à medida que o volume de gás produzido não é consumido
de imediato, o gasômetro tende a deslocar-se verticalmente, com o acumulo de gás
aumentando o volume deste, portanto, mantendo a pressão no interior deste constante.
(GASPAR, 2009)
O fato de o gasômetro estar disposto ou sobre o substrato ou sobre o selo
d’água reduz as perdas durante o processo de produção do gás. O resíduo a ser utilizado
para alimentar o biodigestor indiano, deverá apresentar uma concentração de sólidos
totais não superiores a 8%, para facilitar a circulação do resíduo pelo interior da câmara
de fermentação e evitar entupimentos dos canos de entrada e saída do material.
(SANTOS, 2007)
O abastecimento deverá ser contínuo, ou seja, geralmente é alimentado por
dejetos bovinos, suínos, ou outro tipo de material orgânico, que apresentam certa
regularidade no fornecimento desse material. Do ponto de vista de montagem,
apresenta-se de fácil construção, contudo o gasômetro de metal pode encarecer o custo
final, e também à distância da propriedade pode dificultar e encarecer o transporte
inviabilizando a implantação deste modelo de biodigestor conforme mostra a figura 01.
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Figura 01 Biodigestor do modelo Indiano.
(DEGANUTTI et al., 2008)
3.2 BIODIGESTOR MODELO CHINÊS
Formado por uma câmara cilíndrica para a fermentação, com teto abobadado,
impermeável, com função de armazenamento do biogás. Este biodigestor funciona com
base no princípio de prensa hidráulica, de modo que aumentos de pressão em seu
interior como conseqüência do acúmulo de biogás resultara no deslocamento do efluente
da câmara de fermentação para a caixa de saída, e em sentido contrário quando ocorre
descompressão. O modelo Chinês é constituído quase que totalmente em alvenaria,
dispensando o uso de gasômetro, reduzindo os custos, contudo podem ocorrer problemas
com vazamento do biogás caso a estrutura não esteja bem impermeabilizada.
(DEGANUTTI et al., 2008)
Neste tipo de biodigestor uma parcela do gás formado na caixa de saída é
liberado para a atmosfera, reduzindo parcialmente a pressão interna do gás, por este
motivo as construções de biodigestor do tipo chinês não são utilizadas para instalações
de grande porte. Semelhante ao modelo indiano, o substrato deverá ser fornecido
continuamente, com a concentração de sólidos totais em torno de 8%, para evitar
entupimentos do sistema de entrada e facilitar a circulação do material, conforme mostra
figura 02. (MIRKO et al, 2006)
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Figura 02 Biodigestor do modelo Chinês.
(DEGANUTTI et al., 2008)
3.3 BIODIGESTOR MODELO BATELADA
Trata-se de um sistema mais simples e de pouca exigência operacional. Sua
instalação poderá ser construída de apenas um tanque anaeróbio, ou vários tanques em
série. Esse tipo de biodigestor é abastecido de uma única vez, no entanto não é um
biodigestor contínuo, mantendo-se em fermentação por um período conveniente, sendo
que o material descarregado após o término do período eficaz de produção de biogás.
Enquanto, o modelo chinês e indiano presta-se para atender propriedades em que a
disponibilidade de biomassa ocorre em períodos curtos, como exemplo aquelas que
recolhem o gado duas vezes ao dia para ordenha, permitindo coleta diária de biomassa,
que deve ser encaminhada ao biodigestor, o modelo em batelada adapta-se melhor
quando essa disponibilidade acontecer em períodos mais longos, como ocorre em granjas
avícolas de corte, cuja a biomassa fica a disposição após a venda dos animais e limpeza
do galpão. Conforme mostra figura 03 (MASSOTTI, 2009)
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Figura 03 Biodigestor do modelo Batelada.
(DEGANUTTI et al., 2008)
3.4 BIODIGESTOR MODELO DA MARINHA
O modelo da marinha é do tipo horizontal, tendo a sua largura maior que a
profundidade, assim aumentando a superfície de contato da biomassa ficando mais
exposto ao sol, o que acarreta uma maior produção de gás. Sua cúpula é de plástico
maleável (PVC), colocada sobre a biomassa de forma que sua borda fique presa nas
caneletas d’água ao redor do reservatório, para que não haja vazamento. Essa cúpula
infla como um balão, de acordo com a quantidade de gás produzido. Lembrando que a
fim de ajudar a dar pressão ao gás, para que possa ser extraído de dentro do
biodigestor, normalmente são utilizados sacos de areia ou pneus velhos sobre a cúpula,
aumentando a pressão do gás. Conforme mostra figura 04. (OLIVER, 2008).
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Figura 04 Biodigestor modelo da Marinha.
(OLIVER, 2008)
Vejamos de que forma agem as bactérias que compõem os processos de
degradação da matéria orgânica.
4 DIGESTÃO ANAERÓBICA
A
digestão
ou
fermentação
proporcionada
pelos
biodigestores,
objetiva
basicamente à redução ao mínimo do poder poluente e dos riscos sanitários dos dejetos,
resíduos e lixos, tendo ao mesmo tempo, como subproduto deste processo o biogás, que
pode ou não ser aproveitado e o biofertilizante com várias aplicações práticas.
(CARDOSO, 2001)
Pode ser comparada a um ecossistema onde diversos grupos de microrganismos
trabalham interativamente na conversão da matéria orgânica complexa em metano, gás
carbônico, água, gás sulfídrico e amônia, além de novas células bacterianas. (YURA,
2006)
Os microrganismos que participam do processo de decomposição anaeróbia
podem ser divididos em três importantes grupos: O primeiro deles é o grupo das
bactérias hidrolíticas
fermentativas, responsáveis pela
quebra
das moléculas
de
polímeros em monômeros, o segundo grupo responsável pela fase de acidificação e
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oxidação do composto é o das bactérias fermentativas acidogênicas, e as bactérias
acetogênicas, e por fim as árqueas metanogênicas que por sua vez degradam compostos
orgânicos em metano e dióxido de carbono. (OLIVER, 2008)
As fases da digestão anaeróbia, e os microrganismos envolvidos em cada etapa
do processo:
a) Hidrólise Enzimática – Primeira fase do processo de degradação anaeróbia
(podendo haver presença de bactérias anaeróbias facultativas, devido à presença de
oxigênio), consiste na hidrólise de materiais particulados complexos (polímeros), em
materiais dissolvidos mais simples (moléculas menores) essa conversão é conseguida
através da ação de enzimas excretadas pelas bactérias hidrolíticas fermentativas.
(SGANZERLA,1983)
b) Acidogênese – Os produtos solúveis provenientes da fase de hidrólise são
metabolizados no interior das células das bactérias fermentativas, sendo convertidos em
compostos mais simples, os quais são excretados pelas células. Os compostos produzidos
incluem ácidos graxos voláteis, alcoóis, ácido lático, gás carbônico, hidrogênio, amônia,
sulfeto de hidrogênio, além de novas células bacterianas. Como os ácidos voláteis são o
principal produto dos organismos fermentativos, estes são usualmente designados de
bactérias fermentativas acidogênicas. (GASPAR, 2003)
c) Acetogênese – As bactérias acetogênicas responsáveis pela oxidação dos
produtos gerados na fase acidogênica, em substratos apropriados para as árqueas
metanogênicas. Os produtos gerados pelas bactérias acetogênicas são o hidrogênio, o
dióxido de carbono e o acetato. De todos os produtos metabolizados pelas bactérias
acidogênicas, apenas o hidrogênio e o acetato podem ser utilizados diretamente pelas
metanogênicas. Porém pelo menos 50% da demanda química de oxigênio biodegradável
é convertida em propionato e butirato, os quais são posteriormente decompostos em
acetato e hidrogênio pela ação das bactérias acetogênicas. (FILHO, 2001)
d) Metanogênese – A etapa final do processo de degradação anaeróbia de
compostos orgânicos em metano e dióxido de carbono é efetuada pelas árqueas
metanogênicas. As metanogênicas utilizam somente um limitado número de substratos,
compreendendo ácido acético, hidrogênio/dióxido de carbono, ácido fórmico, metanol,
metilaminas e monóxido de carbono. Em função de sua afinidade por substrato e
magnitude de produção de metano, as metanogênicas são divididas em dois grupos
principais, um que forma metano a partir de ácido acético ou metanol (metanogênicas
acetoclásticas), e o segundo que produz metano a partir de hidrogênio e dióxido de
carbono
(metanogênicas
metanogênicas sejam
normalmente
os
hidrogenotróficas).
capazes de formar
microrganismos
Embora
poucas
metano partir do
predominantes
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apenas
na
digestão
espécies
de
acetato, estas são
anaeróbia
e
são
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responsáveis por cerca de 60 a 70% de toda produção de metano, a partir do grupo
metil do ácido acético. E ao contrário das acetoclásticas, praticamente todas as espécies
conhecidas de árqueas metanogênicas são capazes de produzir metano a partir de
hidrogênio e dióxido de carbono. (ALVES, 2000)
Tanto as metanogênicas acetoclásticas quanto as hidrogenotróficas são muito
importantes na manutenção do curso da digestão anaeróbia, uma vez que estas são
responsáveis pela função essencial de consumir o hidrogênio produzido nas fases
anteriores. Com isso, é propiciado o abaixamento da pressão parcial de hidrogênio no
meio, tornando possíveis as reações de produção das acidogênicas e acetogênicas, que
são inibidas com pressões parciais de hidrogênio acima de 10-4 atm.
Caso o substrato contenha sulfatos ou compostos de enxofre ocorrerá a
sulfetogênese. A produção de sulfetos é um processo no qual o sulfato e outros
compostos a base de enxofre são utilizados como aceptores de elétrons durante a
oxidação de compostos orgânicos. Durante esse processo, sulfato, sulfito, e outros
compostos sulfurados são reduzidos a sulfeto, através da ação de um grupo de bactérias
anaeróbias
estritas,
denominadas
bactérias
redutoras
de
sulfato
(ou
bactérias
sulforredutoras). As bactérias sulforredutoras dividem-se em dois grandes grupos.
(SGANZERLA,1983)
e) Bactérias sulforredutoras que oxidam seus substratos de forma incompleta
até o acetato.
f) Bactérias sulforredutoras que oxidam seus substratos completamente até o
gás carbônico.
Na ausência de sulfato, o processo de digestão anaeróbia ocorre de acordo com
as seqüências metabólicas e com a presença de sulfato na água residual, muito dos
compostos intermediários formados através dessas rotas metabólicas passam a ser
utilizados
pelas
bactérias
sulforredutoras,
provocando
uma
alteração
das
rotas
metabólicas. Dessa forma, as bactérias sulforredutoras passam a competir com as
bactérias fermentativas, acetogênicas e com as árqueas metanogênicas pelos substratos
disponíveis. (FILHO, 2001)
5 BIOFERTILIZANTE
O desenvolvimento do conhecimento sobre a digestão anaeróbia é um dos mais
promissores no campo da biotecnologia, isto porque ele é muito importante para
promover a degradação dos resíduos orgânicos que são gerados em grandes quantidades
nas modernas atividades rurais e industriais. (SOUZA et al., 2005)
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Os resíduos de origem animal contêm elevada proporção de biomassa, e sua
utilização em sistemas de reciclagem é de extrema importância. Ressaltando os
benefícios econômicos e ambientais, ainda comentam da grande importância desses
dejetos, onde encontram-se macro e micronutrientes, oferecem água, abrigo e
temperatura, e por esse motivo, acabam sendo preferidos por inúmeros micro e
macrovetores de grande importância sanitária, como nicho ecológico. (AMARAL et al.,
2004)
Para Oliveira et al. (2007) o emprego de biofertilizantes é uma prática que tem
se mostrado útil e de baixo custo, fato que tem promovido o crescimento de sua
utilização no Brasil. Segundo Medeiros et al. (2007), os biofertilizantes são fáceis de
obter, isto decorre do fato de que geralmente são compostos de excrementos de animais
e encontrados sem dificuldade.
Um dos muitos usos dos biofertilizantes é na recomposição de áreas de solo
degradado, com a incorporação de matéria orgânica que melhora a retenção de umidade
e fornece macro e micronutrientes
Buscando amenizar esses problemas na agricultura, os insumos comerciais
podem ser substituídos por fertilizantes orgânicos, o que beneficia principalmente os
pequenos produtores, mas também a população em geral. (SANTOS & RODELLA, 2007)
Depois de passarem no biodigestor, os resíduos resultantes apresentam alta
qualidade para uso como fertilizante agrícola, devido principalmente aos seguintes
aspectos:
• Diminuição no teor de carbono do material, pois a matéria orgânica ao ser
digerida perde exclusivamente carbono na forma de CH4 e CO2;
• Aumento no teor de nitrogênio e demais nutrientes, em conseqüência da
perda de carbono;
• Diminuição na relação carbono nitrogênio da matéria orgânica, o que
melhora as condições do material para fins agrícolas;
• Solubilidade parcial de alguns nutrientes facilitando a utilização do
biofertilizante pelos microorganismos do solo em virtude do material já se
encontrar em grau avançado de decomposição, proporcionando maior eficiência
do biofertilizante. (PAULO, 2003)
Em todos os parâmetros analisados (matéria seca acumulada, área foliar e
produtividade), quando utiliza-se o biofertilizante, obtem-se melhores resultados que na
utilização de fertilizantes minerais.
Em relação às épocas de aplicação, os resultados não se mostram-se altamente
diferenciados. Os benefícios e conveniências do biofertilizante, mostram que a utilização
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de efluente de biodigestor na adubação do solo para o cultivo, é uma alternativa que
apresenta maiores vantagens. (COSTA, 2002)
Existe, atualmente, um esforço para que todas as cidades realizem o tratamento
de todo o lixo doméstico, uma vez que a legislação assim o exige, e que as indústrias
tratem de seus próprios rejeitos, antes de descartá-los nos corpos d’água ou no solo.
(ALVES, 2000)
Embora
tanto
os
aterros
sanitários,
como
as
granjas
de
avicultura
e
suinocultura, e os lixões sejam fontes geradoras de gás metano, este pode ser
devidamente coletado, queimado e até utilizados. (PECORA, 2006)
Para este fim, o biodigestore é uma alternativa como forma de reduzir os
impactos ambientais causados pela dispersão do gás metano para atmosfera, e da
contaminação de corpos d’água, além de empregar o resíduo sólido da biodigestão na
adubação de terrenos degradados.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à variação nos modelos de biodigestores aqui citados, pode-se perceber a
facilidade de adaptação deste aparato em todas as regiões do país, facilitando assim,
agregar valor a geração de energia renovável e a produção de biofertilizante, fazendo
com que tanto a geração de energia seja mais expressiva, como a recuperação do solo
acabe sendo agregada por conseqüência da utilização do biofertilizante, estas são
perspectivas para maior abordagem em estudos futuros na área de energias renováveis e
recuperação de solo.
No Paraná os biodigestores vêm sendo mais utilizado em regiões onde se tem a
implantação de granjas de suinocultura, devido ao alto nível de matéria orgânica
disponível. Portanto ainda se faz necessário uma maior abordagem deste método para
utilização do aparato em regiões com significativa demanda de granjas empregadas a
avicultura, devido ser sabido que neste setor a demanda de matéria orgânica também é
alta e tem grande potencial para geração de biogás e biofertizante.
Nos modelos de biodigestores citados, nota-se que cada modelo tem uma
utilização pratica.
a) O modelo indiano mostra-se mais apropriado para instalação em pequenas
propriedades onde as temperaturas são mais amenas, e onde se tenha fluxo freqüente
de material orgânico.
b) O modelo chinês apresenta-se com boa utilização para a obtenção de
biofertilizante, devido a não existência de campânula para retenção do biogás.
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Educar para a Emancipação:
a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico
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c) O modelo batelada mostra-se muito funcional quando se diz respeito à
degradação de carcaças animais, e material orgânico em propriedades onde o fluxo desta
matéria é obtida através de uma periodicidade mais longa, devido ao modelo permitir a
retirada do material degradado somente no final do processo, após ter-se esgotado toda
produção de biogás, uma vez que a campânula deve ser removida completamente para
retirada do material degradado.
d) Por fim o modelo da marinha se mostra bastante adequado para propriedades
onde a insolação e as temperaturas altas são mais constantes, devido este propiciar
maior superfície de exposição da matéria orgânica a irradiação solar decorrente de sua
construção, que é feita de forma a deixar o aparato mais raso e com maior área
horizontal.
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Para citar este artigo:
GATZKE, Estevão Gottlieb et al. Caracterização de biodigestores: descrição de seus
processos de reciclagem da matéria orgânica e produção de gás . In: XI CONGRESSO DE
EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2011.Anais...UENP – Universidade Estadual
do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras
Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN – 18083579. p. 158 – 172.
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Estevao Gottlieb Gatzke