UFPA MULTIMÍDIA: UMA EXPERIÊNCIA DE USO DAS TICs PARA O
FORTALECIMENTO DO ENSINO DE GRADUAÇÃO NA AMAZÔNIA
Maria Ataide Malcher
[email protected]
Doutora e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).
Professora adjunta e pesquisadora do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do
Pará (UFPA), coordenadora do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia
da UFPA. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia da
AEDI/UFPA, da produtora de audiovisual Academia Amazônia (FACOM-UFPA) e dos projetos:
Ciência e Comunicação na Amazônia, ABC Digital e Implementação de plataforma virtual
multimídia para ensino e aprendizado na graduação, financiado pela CAPES (Edital nº
015/2010). Atua principalmente em pesquisas nas áreas de: televisão, telenovela,
teledramaturgia, e tecnologia da comunicação e informação (TICs). Líder do Grupo de Pesquisa
em Audiovisual e Cultura.
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EDICIÓN No. 85: COMUNICACIÓN APLICADA
OCTUBRE- DICIEMBRE 2012. AÑO DE PUBLICACIÓN 2012.
Fernanda Chocron Miranda
[email protected]
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia da Universidade
Federal do Pará e bolsista CAPES. Atualmente, é pesquisadora colaboradora do Laboratório de
Pesquisa e Experimentação em Multimídia da AEDI/UFPA e dos projetos ABC Digital,
Academia Amazônia, Ciência e Comunicação na Amazônia (CIECz) e Implementação de
plataforma virtual multimídia para ensino e aprendizado na graduação, financiado pela CAPES
(Edital nº 015/2010). É integrante do Grupo de Pesquisa em Audiovisual e Cultura, do CNPq.
Marianne Kogut Eliasquevici
[email protected]
Doutora em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido pela Universidade Federal do Pará
e Mestra em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Atualmente é Professora Associada I da UFPA e coordenadora do projeto
Implementação de plataforma virtual multimídia para ensino e aprendizado na graduação,
financiado pela CAPES (Edital nº 015/2010). Tem experiência na área de Ciência da
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Computação e atua principalmente nos seguintes temas: Incertezas, Educação a Distância. Atua
desde 2000, na Assessoria de Educação a Distância da UFPA.
Silvério Sirotheau Corrêa Neto
[email protected]
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFPA. Atualmente
trabalha na AEDI/UFPA como Professor Pesquisador pela Universidade Aberta do Brasil (UAB)
e pesquisador do projeto Implementação de plataforma virtual multimídia para ensino e
aprendizado na graduação, financiado pela CAPES (Edital 015/2010).
Resumo
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a experiência de uma equipe multidisciplinar de
pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Norte do Brasil, que desde 2010 se
dedica à construção de um repositório de conteúdos multimídia no âmbito da Assessoria de
Educação a Distância da UFPA. Além de incentivar o uso das TICs no ensino de graduação, a
proposta do “UFPA Multimídia” – subprojeto financiado pela CAPES – é atuar como canal para
o diálogo ciência-sociedade, permitindo que diferentes públicos realizem seu próprio processo de
construção do conhecimento.
Palavras-chave: Repositório Institucional; Uso das TICs; Educação; Repositório “UFPA
Multimídia”; Amazônia brasileira.
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Resumen
Este trabajo presenta una reflexión sobre la experiencia de un equipo multidisciplinario de
investigadores de la Universidad Federal de Pará (UFPA), en el Norte de Brasil, que desde 2010
se dedica a la construcción de un repositorio de contenidos multimedia en el ámbito de la
Asesoría de Educación a Distancia de la UFPA. Además de incentivar el uso de las TICs en la
enseñanza de graduación, la propuesta del “UFPA Multimedia” – subproyecto financiado vía
pliego de CAPES – es la de actuar como canal para el diálogo ciencia-sociedad, permitiendo que
diferentes públicos realicen su propio proceso de construcción del conocimiento.
Palabras clave: Repositorio Institucional; Uso de las TICs; Educacíon; Repositorio “UFPA
Multimedia”; Amazonía brasileña.
Abstract
This work presents a reflection about the experience of a multidisciplinary team of researchers at
the Federal University of Pará (UFPA), in the north of Brazil, which since 2010 has been
dedicated itself to the construction of a multimedia contents repository in the extent of Distance
Learning Consultanship of the UFPA. In addition to motivating the use of TICs at graduation
teaching, the “UFPA Multimedia” proposal – sub-project funded via CAPES publication – is to
act as a canal to the science-society dialogue, in order to allow that different people achieve their
own knowledge construction.
Key-words: Institutional Repository; Use of TICs; Education; Repository “UFPA Multimedia”;
Brazilian Amazon.
1. Motivações iniciais
A crescente presença das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nas diversas
atividades sociais, acentuadamente na área de Ciência e Tecnologia, aponta para a necessidade
de adotar novas formas de gestão do conhecimento científico. Diante desse cenário, a
Universidade Federal do Pará (UFPA)1 iniciou em 2010 o desenvolvimento do projeto
“Institucionalização das Tecnologias de Informação e Comunicação na UFPA” financiado pela
1
A UFPA possui hoje mais de 32 mil alunos matriculados nos cursos de graduação, sendo a maior Instituição de
Ensino Superior (IES) do Brasil em número de alunos.
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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A iniciativa foi
aprovada por meio do Edital nº 015/2010, direcionado ao fomento ao uso das TICs nos cursos de
graduação das Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras.
Entre as cinco ações aprovadas pela UFPA, está o subprojeto “Implementação de plataforma
virtual multimídia para ensino e aprendizado na graduação”, que tem como objetivo desenvolver
um repositório2 de conteúdos em linguagens multimídia (vídeos, fotos, áudios, animações, etc.)
no âmbito da Assessoria de Educação a Distância da UFPA3 – instância que tem sido estratégica
à democratização do ensino superior na Região Norte (Leite, 2010). A proposta dessa plataforma
virtual é reunir e potencializar os esforços, ainda isolados, de professores-pesquisadores da
Instituição no que concerne ao uso das TICs, para fortalecer o ensino de graduação – seja na
modalidade presencial ou a distância. Além disso, esperamos que este repositório se constitua
um espaço de pesquisa que consiga recuperar a informação de maneira satisfatória, facilitando o
acesso do público em geral, em diferentes partes da região amazônica, aos conteúdos
disponibilizados na plataforma digital.
Assim sendo, consideramos que entre as vantagens da implantação do repositório multimídia, em
desenvolvimento na UFPA, está a possibilidade de armazenar conteúdos multiplataforma, ou
seja, produtos midiáticos que têm como característica central a versatilidade. A partir de
formatos diferenciados, independentemente do gênero, é possível viabilizar a veiculação e
verticalização desses conteúdos em inúmeras mídias que vão desde o computador, até a televisão
e o telefone celular. A equipe do projeto4 também tem estudado os parâmetros internacionais de
interoperabilidade entre repositórios, garantindo que esta experiência se consolide em diálogo
com as já existentes dentro e fora do Brasil.
2
É importante destacar que a UFPA também está desenvolvendo um repositório institucional, no âmbito da
Biblioteca Central da instituição, através de financiamento do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (IBICT), voltado à disponibilização da produção intelectual considerada tradicional (bibliográfica), com
destaque para a literatura científica dos pesquisadores da universidade. Como outras universidades, a UFPA está
inserida na iniciativa nacional de gestão e ampliação da visibilidade da produção científica brasileira a partir da
implantação de repositórios institucionais em todas as instituições de ensino e pesquisa.
3
O repositório foi concebido e está sendo desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa e Experimentação em
Multimídia e do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em TI da Assessoria de Educação a Distância/UFPA.
4
O repositório é resultado do trabalho de uma equipe multidisciplinar composta pelos autores deste artigo, bem
como pelos pesquisadores e técnicos: Diego Hortêncio Santos, Geisa Ferreira Dias, Thiane de Nazaré Monteiro
Neves e William Silva.
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A proposta de implementar uma plataforma virtual para conteúdos multimídia nasce de uma
demanda da própria Instituição para dar vazão a sua produção intelectual e, sobretudo, reunir de
modo sistematizado os objetos de aprendizagem produzidos voltados ao ensino de graduação nos
mais diferentes espaços e áreas do conhecimento da Universidade. Dessa forma, essa ação vai
muito além da reunião de conteúdos relacionados à literatura científica que está ligada ao sistema
de publicações entre pares. Na verdade, há, sobretudo no âmbito do ensino a distância, a
necessidade de reunir e disponibilizar conteúdos em outras linguagens já existentes na Instituição
que podem vir a ser complementares ao material didático impresso dos cursos de graduação.
Vale lembrar que, especialmente nessa modalidade de ensino, o aluno é desafiado a ser o agente
central do processo de ensino aprendizagem e construção do conhecimento, tendo em vista que é
ele, a partir das orientações e coordenadas dos professores e tutores, quem direciona suas ações,
entre as quais a mais presente e determinante é a pesquisa.
Como todo espaço de produção do conhecimento científico, além da produção científica formal,
a UFPA possui células de produção de diferentes tipos de conteúdos multimídia, entre as quais
estão: a Assessoria de Educação a Distância (AEDi), com o Laboratório de Pesquisa e
Experimentação em Multimídia; o projeto “Academia Amazônia”5; e a “Rádio Web UFPA”6.
Esses espaços, presentes na organização da Instituição, são detentores de significativas
competências na elaboração de conteúdos para o ensino de graduação e divulgação científica,
seja na linguagem impressa, audiovisual ou radiofônica.
Assim, além de reunir e disponibilizar essa produção com fins educacionais, o subprojeto em
questão visa à criação de uma ambiência de pesquisa de conteúdo em meio digital e o
fortalecimento das estratégias didáticas utilizadas pelos docentes da instituição nas diferentes
áreas do conhecimento. Ao reunir em um único ambiente os esforços de produção de diversos
grupos, pretendemos ampliar a oferta desses produtos, democratizando e enriquecendo seu uso
no ensino de graduação nas diferentes modalidades.
5
Produtora de audiovisual da UFPA, voltada para a divulgação científica, atualmente vinculada à Faculdade de
Comunicação com apoio da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (FADESP).
6
Projeto de extensão da Faculdade de Comunicação da UFPA. Acesse: <www.radio.ufpa.br>.
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Ao disponibilizar o acervo já existente, esperamos socializar conteúdos de caráter exclusivo
sobre questões amazônicas, ainda desconhecidas para os próprios moradores da região. Com
isso, desejamos que a disponibilização em meio digital desses conteúdos traga contribuições
também às inúmeras Instituições de Pesquisa e Ensino no Brasil.
Nessa perspectiva, o “UFPA Multimídia”, que está em fase de finalização7, será implementado
por meio do uso da ferramenta D-Space, software desenvolvido a partir da colaboração entre o
Massachusetts Institute of Technology e a Hewlett-Packard, disponibilizado livremente a
qualquer instituição interessada, em forma de um produto de código aberto8.
O repositório9 entrará em funcionamento no primeiro semestre de 2012 já com cerca de 200 itens
em seu acervo. Em um primeiro momento, entre os conteúdos disponíveis estarão fotografias,
vídeos, arquivos de áudio e apresentações de aulas/tutoriais, em grande parte, produzidos de
forma colaborativa envolvendo vários agentes da UFPA com a meta de alcançar diferentes
objetivos educacionais. Nesse processo, um dos ambientes de experimentação para produção
desses conteúdos tem sido o Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia da AEDi.
2. Informação científica: ampliação da oferta na UFPA
Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum. Como indica Boaventura de
Sousa Santos (1987), a separação feita na ciência moderna entre o conhecimento científico e o
conhecimento do senso comum tende a se modificar. Socialmente construído e pensado, o
conhecimento científico deve se mostrar cada vez mais acessível e aberto ao diálogo com o senso
comum, a fim de construir um conhecimento mais completo da realidade. Além disso, na
filosofia do acesso aberto “a informação científica e técnica é um bem público global, que deve
estar livremente disponível para o benefício de todos” (Alberts, 2002 apud Leite, 2009, p. 17).
Diante desse cenário de transição tecnológica e educacional, Fernando César Lima Leite
(2009, p. 22) explica que as “instituições acadêmicas no mundo inteiro utilizam repositórios
institucionais e o acesso aberto para gerenciar informação científica proveniente das atividades
7
Catalogação e postagem de conteúdos na plataforma e elaboração de campanha de lançamento.
Permite que sejam feitas modificações no código fonte daquele software.
9
Acesse: <www.multimidia.ufpa.br>.
8
7
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de pesquisa e ensino e para oferecer suporte a elas”. Como se sabe, é papel da universidade
socializar o conhecimento que produz não apenas entre os pares de pesquisa, mas também com a
sociedade de modo geral, falando aos diferentes públicos não especializados. Para isso, porém, é
necessário que o conhecimento seja compartilhado de forma aprofundada, mas partindo do
pressuposto de traduzi-lo em “sabedoria de vida” para a população (Santos, 1987, p. 57).
É interessante observar que entre as vantagens do uso de repositórios, está o fato de que
disponibilizar a produção intelectual, de acordo com Leite (2009), tem sido considerado fator
determinante para maximizar o acesso aos resultados divulgados –que antes ficavam
basicamente restritos aos editores de periódicos científicos–, aumentando e acelerando o impacto
das pesquisas e, consequentemente, sua produtividade e avanço no campo acadêmico. Além
disso, o acesso aberto à produção de uma universidade gera visibilidade à instituição dentro e
fora do campo acadêmico, bem como estimula outras instituições a adotarem o uso do
repositório e disponibilizarem seus trabalhos.
Nessa perspectiva, é valido, mas não suficiente, do ponto de vista comunicacional, o esforço das
universidades em reunir suas produções em termos de literatura científica e outros tipos de
produção intelectual (consideradas técnicas e artísticas, por exemplo) e disponibilizá-las em uma
plataforma virtual de acesso aberto. Como afirma Luiz Cláudio Martino (2010, p. 17), “a
informação é o rastro que uma consciência deixa sobre um suporte material” e isso não quer
dizer que toda informação é comunicação.
A informação é uma comunicação que pode ser ativada a qualquer momento,
desde que outra consciência (ou aquela mesma que codificou a mensagem) venha
resgatar, isto é, ler, ouvir, assistir... enfim, decodificar ou interpretar aqueles
traços materiais de forma a reconstituir a mensagem (Martino, 2010, p. 17).
Além disso, a complexidade do processo comunicativo está no contexto em que esses produtos
comunicacionais chegam através dos meios e, sobretudo, nas relações de sentido que a
população constrói a partir de suas mensagens.
8
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Conforme explica Dominique Wolton (2006, p. 83), “o essencial da comunicação não está do
lado das técnicas, dos usos ou dos mercados, mas do lado da capacidade de ligar ferramentas
cada vez mais performáticas a valores democráticos”. Contrapondo-se à “ideologia técnica” que
gira em torno do campo da comunicação, o autor afirma que:
Reduzir a comunicação à performance técnica ou negar sua importância humana e
democrática é a mesma coisa. O que está no centro da ideologia técnica é fazer da
comunicação uma simples técnica. [...] Significa acreditar que a informação cria a
comunicação [...] que a banda larga, por permitir transmitir mais informações, é
um fator de comunicação suplementar. No entanto, quanto mais mensagens
estiverem em circulação, mais a questão das diferenças sociais e culturais entre os
emissores e os receptores desempenhará um papel essencial (Wolton, 2006, p. 8384).
Assim, ao colocar em funcionamento um repositório institucional com as produções de uma
universidade – leia-se a informação científica em geral –, não podemos pensar que rompemos
por completo com as “barreiras” do acesso, sobretudo, no contexto do Norte do Brasil. Como
demonstra Leite (2009, p. 15), “o acesso aberto requer que não haja barreiras financeiras, legais
ou técnicas, além daquelas próprias do acesso à Internet”. Principalmente, se nos restringirmos
ao contato com a tecnologia no Estado do Pará, chegamos aos seguintes números: apesar de 90%
dos moradores do Estado possuírem televisão em casa, o uso do computador pelos paraenses é
quase 11% menor que a taxa nacional. O computador é realidade em apenas 14,8% dos
domicílios do Estado. Desse total, pouco mais que 8% possuem computador com acesso à
Internet (Barbosa, 2009). Esses são indicadores incontestáveis de que muitas barreiras ainda
precisam ser transpostas.
Apesar dessa realidade, é comum entre os docentes da UFPA – seja na modalidade presencial ou
a distância – o emprego de recursos audiovisuais, impressos, sonoros e digitais em suas práticas
para enriquecer seus conteúdos didáticos e torná-los mais dinâmicos e motivadores. Por isso, é
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recorrente os professores fazerem o uso de vídeos, apresentação em slides e de imagens e outros
recursos já disponíveis na Internet, em sítios de compartilhamento, como o Youtube.
Como núcleo majoritário de produção do conhecimento, a UFPA é plural e diversa. Assim sua
produção intelectual vai da literatura científica voltada à publicação em um periódico até a
produção de um programa de TV aberta direcionado à comunidade do entorno do campus
universitário. Mesmo ainda sendo vista por alguns como uma produção estritamente técnica,
esses conteúdos fazem parte da produção do nosso tempo já que os meios de comunicação
massivos ou não e as tecnologias digitais fazem parte e são expressões de nossa cultura. Dessa
forma, o conhecimento científico também se apresenta, cada vez mais, sob novas formas de
concepção e disponibilização, provocando novas formas de sociabilidade e aprendizado já
presentes no panorama do ensino superior na Região Norte do Brasil.
É nessa aceleração de demandas que a linguagem audiovisual ganha destaque como um dos
principais recursos de comunicação, promovendo o ensino e o aprendizado nos mais diferentes
níveis de educação. Seja por seu poder de sedução e envolvimento – a partir de seus elementos
de constituição (códigos icônicos, linguísticos e sonoros, aliados ao movimento da imagem) –
seja por seu potencial para alcançar diferentes faixas etárias e níveis sociais, educacionais e
culturais, o audiovisual atua hoje como uma poderosa estratégia de ensino e apreensão da
realidade, sobretudo em um país como o nosso, historicamente marcado pela “queima” de várias
etapas de “desenvolvimento” (Ortiz, 2006). Logo, esta linguagem deve e pode ser cada vez mais
utilizada e apropriada pelos atores do processo educacional, tornando-se grande aliada do ensino
na graduação.
Outro aspecto fundamental são as marcas da oralidade nas matrizes populacionais latinas. Na
Amazônia brasileira, esse traço tem na linguagem radiofônica uma de suas grandes
representantes. A partir do rádio – grande meio de comunicação nesta parte do país –, da
televisão e da Internet, as distâncias diminuem e as dificuldades de acesso vão sendo vencidas a
cada passo. Para uma parte do Brasil que durante muito tempo ficou isolada, se comunicando
muito mais com países vizinhos e trocando pouco com seus compatriotas, as possibilidades
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eletrônicas e virtuais abrem perspectivas mais intensas de comunicação, trazendo um elemento
novo ao processo: a interatividade, oriunda, por sua vez, da nova realidade digital.
Vale ressaltar ainda que as produções elaboradas e utilizadas pela UFPA trazem em si um
diferencial pelo fato de serem conteúdos produzidos na e pela região amazônica. A
exclusividade, porém, não reside unicamente no tema central Amazônia, mas principalmente nos
atores que os desenvolveram. As produções, orientadas a partir de um olhar específico,
evidenciam desdobramentos, por vezes, pouco visíveis ao olhar externo à região. Daí a
importância de uma plataforma como essa que poderá dar visibilidade aos conhecimentos sobre
as “Amazônias” ainda desconhecidas para os próprios moradores da região.
Por todos esses aspectos, o uso do repositório por uma universidade tem implicações diretas no
modo de produzir, organizar, disponibilizar e acessar a informação científica. Isto porque, para
maximizar a visibilidade da produção científica de uma instituição é necessário criar uma nova
cultura entre os agentes da universidade, sobretudo, pesquisadores e alunos, que os estimule a
depositar em plataformas abertas suas produções e os resultados de suas atividades de forma
quase automática.
A potencialidade de uma tecnologia como essa é tão significativa, que o repositório de uma
instituição pode se tornar um espaço autogerenciado pelo próprio pesquisador para o
armazenamento e disponibilização de suas produções10. Por isso, acreditamos que ao criar o
“UFPA Multimídia”, damos início à instauração de uma cultura que pretende estabelecer novas
formas de acesso a conteúdos científicos e didático-pedagógicos, integrando e aproximando as
modalidades de ensino a distância e presencial.
Essa plataforma virtual pretende otimizar e organizar as trocas no sistema acadêmico,
fomentando a construção de outra cultura que encontra nas possibilidades virtuais mais um
caminho para busca do conhecimento. Ao proporcionar outras possibilidades de aprendizado
incentiva-se a produção de conteúdos por parte dos alunos e professores, possibilitando, no
10
Apesar disso, vale ressaltar que ainda não há no Brasil experiências de repositórios em que os pesquisadores são
responsáveis pela inserção e disponibilização de suas pesquisas diretamente no ambiente virtual. Todo o processo de
coleta, postagem e disponibilização de conteúdo é coordenado pela equipe de gestão do repositório institucional,
composta geralmente por profissionais e pesquisadores da área da Ciência da Informação.
11
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futuro, a ampliação das ofertas de materiais, pois ao encontrar formas de veicular o produzido,
mais agentes se lançarão nessas atividades, tornando-as parte de seus cotidianos de ensinoaprendizagem.
Como afirma Alex Fiúza de Mello (2007, p. 67), “A Universidade na Amazônia não pode
esperar as condições ideais para se interiorizar. Não pode esperar pelo país. Precisar fazer de
seus limites, sua força”. Por isso, é necessária atenção constante da equipe para o fato de que
disponibilizar a produção multimídia da UFPA, por si só, não significará fortalecer o ensino de
graduação. Antes, é necessário o estabelecimento de uma cultura científica tanto de
disponibilização dos conteúdos, quanto de efetivação do acesso ao conteúdo disponível, tendo
em vista as dificuldades de conexão ainda presentes na região.
[...] é imprescindível que os responsáveis pela sua construção [do repositório]
tenham dimensão das implicações contextuais, teóricas e práticas que envolvem o
seu planejamento, implementação e funcionamento no âmbito de universidades e
institutos de pesquisa (Leite, 2009, p. 13).
3. Abordagens e tipos de repositório
A dinâmica e o formato do repositório diferem do que hoje se constituem as bibliotecas digitais.
Os repositórios do tipo institucional11 lidam exclusivamente com a produção intelectual de uma
instituição. Estes contemplam “a reunião, armazenamento, organização, preservação,
recuperação e, sobretudo, a ampla disseminação da informação científica produzida na
instituição”. Além disso, consistem em “serviços que a universidade oferece para os membros de
sua comunidade com vistas ao gerenciamento e disseminação do material digital criado pela
instituição e pelos seus membros” (Leite, 2009, p. 21).
Ainda de acordo com Leite (2009), o repositório do tipo institucional pode assumir dois tipos de
abordagens: rígida e flexível. Estas, por sua vez, se confundem com a própria concepção do que
é ou não produção intelectual dentro de um centro de pesquisa, sobretudo, no Brasil. Na
abordagem rígida, os conteúdos prioritários para disponibilização no repositório são os que
11
Leite (2009, p. 20) apresenta três tipos de repositórios: institucionais, temáticos ou disciplinares e de teses e
dissertações.
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necessariamente foram submetidos ao processo de avaliação pelos pares, especialmente os
artigos direcionados a periódicos científicos. Para Leite (2009, p. 28), essa abordagem preconiza
que os “repositórios institucionais devem responder preponderantemente à função de
potencializar a comunicação científica formal”, tendo como principal argumento o controle de
qualidade da produção.
Na abordagem flexível, além da literatura científica avaliada pelos pares, são disponibilizados
outros conteúdos de natureza acadêmico-científica, tais como conteúdo audiovisual, simulações,
objetos de aprendizagem, imagens, vídeos e áudios. Essa abordagem “reforça que o
conhecimento científico não é produzido exclusivamente a partir daquilo que já foi avaliado e é
publicado formalmente, mas também daquilo que é veiculado informalmente, tornando mais
flexível, portanto, a comunicação científica” (Leite, 2009, p. 29).
É interessante observar que, na UFPA, vivenciamos o processo de construção de dois
repositórios, sendo um institucional de responsabilidade da Biblioteca Central da Instituição,
voltado à produção intelectual bibliográfica formal da universidade nos moldes da abordagem
rígida; e outro – também institucional a partir da classificação de Leite (2009) – voltado
exclusivamente à disponibilização de conteúdos multimídia. Diante disso, além dos desafios de
disponibilizar esse tipo de produção, já que há um número reduzido no Brasil de repositórios
voltados exclusivamente para produção multimídia12, faz-se necessário também um trabalho de
proposição de um novo olhar sobre esse tipo de conteúdo que se caracteriza como produção
intelectual como qualquer outra13.
4. Primeiros desafios do “UFPA Multimídia”
O subprojeto a partir do qual está sendo desenvolvido o repositório “UFPA Multimídia” nasce da
proposta de reunir os esforços de produção e uso/aplicação de conteúdos multimídia nas
atividades de ensino de graduação, seja presencial ou a distância, já existentes na Universidade.
12
Entre os repositórios que trabalham com conteúdo multimídia está o Banco Internacional de Objetos Educacionais
(BIOE) do Ministério da Educação. Acesse: < http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/ >.
13
Destacamos que a intenção aqui não é comparar ou igualar os tipos de produção intelectual. Pelo contrário, a
proposta é apenas sinalizar a presença de diferentes tipos de conteúdo no âmbito da academia, respeitando e
considerando suas diferenças e peculiaridades.
13
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Dessa forma, o objetivo é consolidar uma plataforma virtual em que uma diversidade de
conteúdos possa ficar disponível para o acesso irrestrito pelos alunos de graduação, bem como à
comunidade acadêmica da UFPA e a todo e qualquer tipo de público interessado.
Entre os conteúdos a serem disponibilizados, em um primeiro momento, estão:
 Produção audiovisual: programas na linguagem audiovisual sobre as ações de pesquisa da
UFPA com veiculação há mais de dez anos no circuito local de TV aberta; documentários
sobre diversos temas pertinentes à região; séries de entrevistas e depoimentos sobre a
história de projetos desenvolvidos na universidade; vídeos-aula sobre assuntos
específicos do ensino de graduação; série de vídeos educativos e de divulgação científica
sobre temas específicos do ensino de graduação.
 Produção radiofônica: série de entrevistas e depoimentos sobre projetos desenvolvidos na
universidade; programas de divulgação científica voltados para crianças; programas de
entrevista sobre diversos temas pertinentes à realidade da região.
 Versão eletrônica de livros didáticos de disciplinas específicas e que narram a história de
projetos desenvolvidos na Instituição.
 Fotografias relacionadas à história de projetos da Universidade.
 Animações educativas sobre temas específicos dos conteúdos de graduação; entre outros.
Diante dos desafios impostos pela própria realidade da região, para dar conta dessa
proposta de repositório foi necessário o envolvimento de pesquisadores, alunos e servidores de
diversas áreas do conhecimento, consolidando uma equipe multidisciplinar.
Apesar da existência de alguns repositórios que se dedicam à disponibilização de conteúdos
multimídia, o trabalho de catalogação de produções que diferem por completo do acervo
tradicional das bibliotecas, como artigos científicos, teses e dissertações, ainda é muito recente.
Assim, para dar conta dessa proposta, foi necessário um longo trabalho para estabelecer as bases
de catalogação dos conteúdos multimídia, por conta do desconhecimento de quais seriam os
metadados14 adequados para garantir a recuperação de informações referentes a vídeos, áudios,
entre outros conteúdos, bem como para descobrir quais dos metadados disponíveis deveriam ser
14
Campos que devem ser preenchidos com informações precisas sobre os itens/conteúdos catalogados na base de
dados e que estão diretamente relacionados ao processo de recuperação da informação durante uma busca.
14
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usados, e de que forma eles garantiriam a interoperabilidade da base de dados do nosso
repositório com os demais disponíveis.
É interessante destacar que dentre as dificuldades de catalogar os conteúdos reunidos para
disponibilização havia, sobretudo, a forma de preenchimento do campo do metadado, já que na
maioria das vezes a informação a ser inserida no caso da postagem de um texto acadêmico não
tem a mesma natureza da que se faz necessária ao catalogar um produto radiofônico, por
exemplo. Assim, além de selecionar e inserir novos campos de metadados na base de dados do
repositório multimídia, foi necessário revisar e reorganizar os critérios de preenchimentos dos
metadados considerados básicos na inserção de itens no D-Space.
O desafio de trabalhar com produção multimídia gerou ainda o desenvolvimento de pesquisas
periódicas a respeito dos parâmetros de disponibilização dos conteúdos no que concerne a
formato e extensão dos arquivos, tempo de duração, tamanho máximo de arquivos para
download, entre outros. Além disso, por conta da dificuldade de conexão à Internet, que marca
grande parte do(s) interior(es) do Estado do Pará, foi desenvolvido um player para a interface do
repositório para que todos os conteúdos disponíveis possam ser acessados, evitando que o
usuário faça necessariamente o download para ter contato com o conteúdo pesquisado.
Apesar de já iniciada, faz-se necessária ainda uma maior aproximação com as questões ligadas
aos direitos autorais para publicação desse tipo de conteúdo que difere por completo dos termos
previstos e legitimados para a concessão de direitos autorais de trabalhos acadêmicos.
Como já mencionado, o “UFPA Multimídia” representa um dos poucos repositórios no Brasil
voltados exclusivamente para produção multimídia institucional. Dessa forma, há ainda o desafio
de legitimação desse tipo de produção dentro da universidade, já que diferentemente dos acervos
tradicionais das bibliotecas das universidades, os conteúdos a serem disponibilizados são
considerados produções basicamente técnicas e artísticas.
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Considerações finais
Como uma ação desenvolvida por uma universidade pública na Amazônia, muitas são as
expectativas para o início do funcionamento do repositório “UFPA Multimídia”. Este é um
projeto que faz parte de um esforço de uma equipe multidisciplinar que se dedica, a cerca de dois
anos, à concepção e implementação de um repositório de conteúdos multimídia com fins
educacionais e que tem entre os principais objetivos criar uma ambiência de pesquisa por meio
de uma plataforma digital dentro da Universidade, a partir da disponibilização da produção
intelectual formal e não tradicional da instituição em diferentes linguagens comunicacionais,
pensada e desenvolvida para a região.
A proposta é que este repositório ajude professores-pesquisadores a desenvolverem práticas
motivadoras no ensino de graduação a partir do uso das TICs, e, sobretudo, que elas se
configurem em subsídio às pesquisas dos alunos dos cursos da Instituição, seja na modalidade
presencial ou a distância. Como qualquer ação da universidade, esperamos que o repositório
estabeleça, ainda, um canal de promoção do diálogo ciência/sociedade, facilitando e
impulsionando a construção de pontes entre as duas esferas e garantindo que o público em geral
se aproprie das informações disponíveis e transformem-nas em conhecimento e sabedoria de
vida.
Mesmo sendo consideradas manifestações que reconfiguram por completo a comunicação
científica, sabemos que o êxito desse tipo de comunicação não reside na construção de
repositórios institucionais e disponibilização de toda a produção científica de uma universidade
no ambiente virtual. Como exposto ao longo deste artigo, disponibilizar o resultado de uma
pesquisa não implica necessariamente impactos sociais. Isso porque, a informação não é
necessariamente comunicação. Logo, colocar o acervo de uma instituição disponível não quer
dizer que aquilo vai se traduzir em conhecimento para a população e nem mesmo para os alunos
de graduação.
Diante das peculiaridades do processo comunicativo e, sobretudo, dos desafios impostos pela
região no que concerne ao acesso às redes, é papel das universidades reunir sua produção
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intelectual e disponibilizá-la. Com a complexidade de um continente, a Amazônia precisa de
ações que sistematizem o que aqui nela é produzido até para que os esforços isolados passem a
comungar de um mesmo espaço, fazendo com que os próprios moradores da região se conheçam
e se reconheçam.
Sabemos, também, que apenas com o repositório concluído e disponível para acesso é que
conseguiremos, por meio de pesquisas aprofundadas de recepção, mensurar, mesmo que de
modo parcial, se haverá e quais serão os impactos da ferramenta entre os alunos de graduação,
sobretudo, no que concerne ao uso do repositório como espaço de pesquisa.
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