ISSN 2319-0949 Edição especial IV SIREE Volume 3, Número 3 | Março de 2015 Edição especial IV SIREE Volume 3, Número 3 | Março de 2015 ISSN 2319-0949 Expediente Diretoria Executiva Comissão Científica Diretor Presidente (DPR) Frederico Cavalcanti Montenegro Adélia Cristina Pessoa Araújo (ITEP) Dra. em Saúde Pública (USP) Diretora Administrativa Financeira (DAF) Patricia Mezzadre Verçosa Arnóbio Gonçalves de Andrade (CETENE) Dr. em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) (USP) e pós-doutorado (GSU) Diretor Executivo Comercial (DEC) Ivan Dornelas Falcone de Melo Diretor Técnico Científico (DTC) José Geraldo Eugênio de França Comitê Executivo José Geraldo Eugênio de França Presidente do Conselho Editorial Sônia Valéria Pereira Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Elaine Raposo de Melo Macêdo Biblioteca ITEP - Secretaria Executiva Jose Antonio Valença de Oliveria Coordenador Administrativo Simone Rosa de Oliveria Editoração / Normatização Alberto Saulo Silva de Lima ITEP - Projeto Gráfico Camille Nascimento Santiago ITEP - Diagramação Eveline Mendes Costa Lopes ITEP - Revisora de texto REVISTA PERNAMBUCANA DE TECNOLOGIA Editada pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco. v. 1, n.1(2013) – Recife/PE: ITEP/OS, 2012. Periodicidade: semestral Sistema requerido: Adobe e Acrobat Reader. 1.Tecnologia - Periódicos ISSN 2319-0949 Adriano Batista Dias (FUNDAJ) Dr. em Economia (VU) Carlos Welligton de A. P. Sobrinho (ITEP) MSc. em Engenharia Civil (COPPE/UFRJ) Celso Vainer Manzatto (EMBRAPA) Dr. em Produção Vegetal (UENF) Eden Cavalcanti de A. Júnior (ITEP) Dr. em Eng. Química (UNICAMP) Emídio Cantídio Almeida de Oliveira (UFRPE/CAPES) Dr. em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ) Frederico Cavalcanti Montenegro (ITEP) Dr. em Física (UFPE) Gutemberg de Souza Pimenta (CENPES/PDEP/TMEC) MSc. em Metalurgia e Ciência dos Materiais (UFRJ) José Geraldo Eugênio de França (ITEP) – Presidente do Conselho Editorial Dr. em Agronomia – Genética e Melhoramento Vegetal (TAMU) Osmar Souto Baraúna (ITEP) Dr. em Engenharia Química (UNICAMP) Severino Leopoldino Urtiga Filho (UFPE) Dr. em Eng. Mecânica (UNICAMP) Silvio José de Macedo (UFPE) Dr. em Ciências (USP) Sônia Valéria Pereira (ITEP) Dra. em Botânica (UFRPE) Washington Luiz de Barros Melo (EMBRAPA) Dr. em Física (UFPE) Yêda Vieira Povoas Tavares (UPE) Dra. em Eng. de Construção Civil e Urbana (USP) Expediente IV SIREE COORDENAÇÃO GERAL COMISSÃO CIENTÍFICA Joana Sampaio – Porto Digial Coordenador Prof. Dr Bertrand Sampaio Alencar (ITEP) COMISSÃO EXECUTIVA Prof. Dr. Ivo Pedrosa (UPE) Tiago Barreto Rocha (Centro de Tecnologia Renato Archer - CTI) José Rocha Andrade da Silva (Centro de Tecnologia Renato Archer - CTI) Adalberto Rodrigues (Porto Digital) Isabella Rocha (Porto Digital) COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO Rossini Barreira (Porto Digital) Jacques Barcia (Porto Digital) Natália Simões (Porto Digital) Avaliadores Prof. Dr. Adriano Batista Dias (FUNDAJ) Prof. Dr. João Paulo Cajueiro (UFPE) Prof. José Mariano Aragão (UFPE) Profa. Dra. Lúcia Helena Xavier (FUNDAJ) Profa. Luciana Lucena (UFRN) Prof. Marcelo Sampaio (IECOM) Profa. Dra. Patricia Guarnieri (UnB) Profa. Dra. Sônia Valéria Pereira (ITEP) Profa. Dra. Soraya El-Deir (UFRPE) I V S E MIN Á RIO I NT E R NA C I O N A L S OBRE RES Í DUOS DE EQUIPA MEN T OS EL E T RO E LE T R Ô N I C O S – I V S I R EE Realização Parque Tecnológico Porto Digital. Co-realização Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Ambientronic Patrocinadores MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação SECTEC-PE – Secretaria de Ciência e Tecnologia Sibratec - Sistema Brasileiro de Tecnologia FACEPE – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco Apoio ITEP – Instituto de Tecnologia de Pernambuco Abinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica Plataforma RELAC Banco do Brasil ASSESPRO - Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação Bistrô e Boteco Report: sustentabilidade FIEPE – Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco Apresentação A Revista Pernambucana de Tecnologia (RPT) caracteriza-se por ser o veículo de publicação científica do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP ) e de instituições científicas do Nordeste do Brasil. Em sua primeira fase, entre 1981 e 1987, o periódico tinha como principal objetivo divulgar prioritariamente os resultados obtidos pela equipe técnica do ITEP, destacando-se entre outros temas a construção civil, a tecnologia do gesso e o controle de qualidade de combustíveis líquidos, notadamente, o etanol. Por alguns anos a instituição deixou de publicar sua revista, passando a utilizar-se dos novos meios de divulgação científica criados no país para tornar público os resultados de seus projetos e iniciativas. Neste momento, o ITEP retoma a publicação da Revista Pernambucana de Tecnologia e volta a se inserir na comunidade científica regional como uma instituição provedora de documentos e informações científicas e técnicas relevantes para o meio acadêmico e empresarial. Nas duas últimas décadas, do ponto de vista científico e tecnológico não foram poucos os avanços observados. A informática popularizou-se e atinge a maioria da população mesmo em países em desenvolvimento. A internet e as formas de comunicação digital tornaram a informação acessível a uma fração da população que dificilmente conseguiria tornar-se usuária dos meios impressos, somente. A química analítica, as ciências ambientais, a segurança alimentar, a construção civil, a engenharia do petróleo e gás, as energias renováveis, a tecnologia ambiental, a biotecnologia, a ciência da computação têm mudado radicalmente a vida do cidadão comum e colocado o bem estar da população em um patamar inimaginável. Por outro lado, as mudanças climáticas em curso passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas e merece uma atenção redobrada por parte da comunidade governamental, dos empresários e das instituições de ensino e pesquisa. Neste sentido, a proposta da Revista Pernambucana de Tecnologia se insere neste novo ambiente tecnológico e espera poder ser mais um instrumento de disseminação científica, tecnológica e cultural para Pernambuco e o Nordeste. Por último, o Comitê Editorial da Revista Pernambucana de Tecnologia gostaria de agradecer a todos os autores, colaboradores do ITEP e a comunidade ligada à ciência e tecnologia do estado de Pernambuco pelo apoio em fazer real este instrumento de divulgação científica. Contato Revista Pernambucana de Tecnologia Conselho Editorial - Editora Av. Professor Luiz Freire, 700 Cidade Universitária Recife – PE CEP: 50.740-540 Fones: +55 81 3183-4270 / 4344 E-mail: [email protected] www.itep.br/rpt Apresentação IV SIREE É com grande prazer que apresentamos os Anais do IV Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos – IV SIREE, publicados este ano na Revista Pernambucana de Tecnologia - RPT. O Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos é realizado anualmente,desde 2011, pelo Parque Tecnológico Porto Digital, através do seu braço para a promoção das tecnologias da informação para o bem-estar socioambiental, ITgreen – Inovação e Sustentabilidade. O SIREE surgiu com o objetivo de promover o debate sobre a gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, divulgar boas práticas para uma gestão de TIC mais sustentável e propor ações de sensibilização socioambiental com a participação das empresas locais, da sociedade civil, da iniciativa privada e das representações públicas. Nesta quarta edição do SIREE, assim como na passada, abrimos chamadas de artigos técnico-científicos, tamanha a importância da colaboração acadêmica na construção e divulgação de conhecimentos. Contamos com a apresentação de artigos técnicos e acadêmicos de diversas partes do país, nas modalidades pôster e apresentação oral. Este ano, o SIREE foi realizado nos dia 18 e 19 de setembro de 2014 e contou com as parcerias do CTI – Centro de Tecnologia da Informação Ricardo Archer, uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do ITEP – Instituto de Tecnologia de Pernambuco. A parceria do CTI com o IV SIREE foi vital para a existência do evento, já que se fez presente no planejamento do evento, construção da programação, patrocínio através do Sibratec, e ainda realização de palestras durante a programação do seminário. O ITEP, por sua vez, também contribuiu enormemente com o evento, tendo ficado responsável pela Coordenação da Chamada de Artigos, epela publicação dos Anais dos artigos apresentados no IV SIREE na Revista Pernambucana de Tecnologia, sendo esta uma edição especial de caráter exclusivo com produções técnico-científicas apresentadas durante os dois dias de seminário. Desejamos que os trabalhos aqui apresentados sejam de grande contribuição para a comunidade técnica e científica que atuam ou venham a atuar na gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Joana Lima Sampaio Francisco Saboya Albuquerque Neto Coordenadora Diretor Presidente SIREE Núcleo de Gestão do Porto Digital www.siree.org A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas p. 9–14 Públicas Municipais Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa p. 15–22 para os REEE de Computadores na UFPE Logística Reversa dos Resíduos dos Equipamentos Eletroeletrônicos : Análise do Consumo e Pós - Consumo p. 23–31 dos Computadores da Universidade Federal de Pernambuco Reciclagem de Lixo Eletrônico: Primeiras Impressões Sobre Projeto de Extensão em Ambiente Acadêmico Projeto para Implantação de um Centro de Reciclagem e Reuso de Equipamentos Eletroeletrônicos Estimativa do Desperdício de Metais Pesados Advindos do Descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Países p. 32–40 p. 41–50 p. 51–59 do G7 e do BRICS Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos no Centro de Tecnologia da UFRJ Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos p. 60–65 p. 66–74 A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais Cirne,Luíza Eugênia da Mota Rocha1. Fernandes, Maria de Fátima2. Barbosa, Marx Prestes ³. Farias, Lislley Leite de Carvalho4. Dantas, Felipe Barros5. Encarnação, Felipe Aurélio de Campos6. Resumo 9 O presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância e o alcance social obtido pelo Programa de Mobilização Social em Saneamento Ambiental desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande por meio do Projeto de Extensão intitulado: “Recuperação física de equipamentos e resíduos eletroeletrônicos, gerados na UFCG, e seu reaproveitamento em comunidades carentes do entorno” vêm gerando uma metodologia de coleta, desmonte, recuperação e montagem de equipamentos a partir de partes reutilizadas. O Projeto vem sendo desenvolvido por um período de 02 (dois) anos consecutivos. Além dos resultados de cunho social, sobretudo com a inclusão digital de alunos das escolas municipais localizadas no entorno da Universidade, tem chamado a atenção da comunidade universitária para o desenvolvimento de práticas ambientalmente sustentáveis quanto ao descarte dos resíduos eletroeletrônicos. Nessa segunda fase do Projeto, foi beneficiada a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, localizada no Sítio São Tomé, município de São Sebastião de Lagoa de Roça - PB, para a qual foram doados cinco computadores. Palavras-chave: Resíduos eletroeletrônicos; Mobilização; Inclusão. Abstract This paper aims to present the importance and the social impact achieved by the Social Mobilization Program in Environmental Sanitation developed by the Federal University of Campina Grande (UFCG), through the Extension Project entitled “Recovery of physical equipment and electronic waste generated in UFCG and its reuse in underserved communities around “, has developed a methodology for the collection, dismantling, recovery and mounting equipment from reused parts.The project that has been developed over a period of two (02) consecutive years, and the results of social, especially with the digital inclusion of students of municipal schools located around the University, has called the attention of the university community to develop environmentally sustainable practices with regard to the problem of disposal of electronic waste. In this second phase of the Project, the City has benefited Preschool and Elementary School São Tomé, located in Sitio Sao Tome - São Sebastião de Lagoa de Roça/PB, where the donation of five computers was conducted. Key - words: Electronic waste; Mobilization; Inclusion. 1 Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG - Coordenadora Geral do Programa de Extensão – Mobilização Social em Saneamento Ambiental - Instrumentos Práticos e Teóricos de Educação Ambiental - PROEXT 2012. 2 Engenheiro-Área. Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG. Orientadora do Projeto de Resíduos Eletroeletrônicos. 3 Professor da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG. Colaborador do Projeto de Resíduos Eletroeletrônicos. 4 Bolsista. Aluna do Curso de Engenharia Elétrica da UFCG. 5 Aluno Voluntário. Curso de Engenharia Elétrica da UFCG. 6 Aluno Voluntário. Curso de Engenharia Elétrica da UFCG. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais. 1 | Introdução 10 A Universidade Federal de Campina Grande - UFCG - campus I, com vistas a atender as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010), tem como diretriz principal desenvolver a educação ambiental e as práticas sustentáveis para a solução de problemas relacionados ao modelo de gestão dos resíduos sólidos. Vem realizando ações de extensão voltadas à sustentabilidade socioambiental. Nesse sentido, o Programa de extensão desenvolvido no âmbito da UFCG permitiu a realização de ações de pesquisa e extensão envolvendo alunos do Curso de Engenharia Elétrica dessa instituição, um como bolsista e dois voluntários, visando à recuperação física de equipamentos eletroeletrônicos, cujo objetivo final de destinação coube às escolas públicas e bibliotecas, visando à inclusão digital da comunidade escolar, seguindo os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos e introduzindo um modelo de gestão mais adequado e sustentável para os resíduos eletroeletrônicos - REE. Considerando a importância e aplicação dessa política no âmbito da Universidade Federal de Campina Grande, tendo em vista ser uma instituição de ensino que abrange um universo em torno de 8.000 alunos, 1.197 servidores técnico-administrativos, 739 docentes do 3º grau efetivo e visitantes e 15 docentes do 1º e 2º grau, número que demanda uma preocupação acentuada quanto à utilização, geração e descarte de resíduos eletroeletrônicos. Nesse sentido, o Programa de Mobilização Social em Saneamento Ambiental, por meio do Projeto intitulado “Recuperação física de equipamentos e resíduos eletroeletrônicos gerados na UFCG e seu reaproveitamento em comunidades carentes do entorno”, vem desenvolvendo uma metodologia de coleta, desmonte, recuperação e montagem de equipamentos a partir de partes reutilizadas. Tem, também, contribuído para acatar a demanda dos equipamentos disponibilizados pelos parceiros do Projeto e assim minimizar os eventuais problemas relacionados ao descarte dos resíduos eletroeletrônicos e como objetivo final promover a inclusão digital de alunos de escolas municipais. O município de Campina Grande localiza-se no Estado da Paraíba na Mesorregião Agreste Paraibano e Microrregião Campina Grande, com uma população de 385.213 habitantes (IBGE, 2010), representando o segundo maior centro urbano do Estado. Do ponto de vista educacional, a cidade de Campina Grande representa um grande polo universitário, contando com nove instituições de ensino superior, das quais duas Universidades públicas, a Universidade Federal de Campina Grande e a Universidade Estadual da Paraíba, e um Instituto Federal - Instituto Tecnológico Federal de Ensino Superior. Nesse sentido, ações de recuperação física de resíduos sólidos são desenvolvidas pelo Programa de Extensão Universitária - Mobilização Social em Saneamento Ambiental - Instrumentos Práticos e Teóricos de Educação Ambiental, possibilitando realizar a mediação entre os pares, comunidade geradora, gestores, doadores e catadores, de acordo com as legislações vigentes: o Decreto Federal nº. 5.940/06, a Instrução Normativa no. 1, de 19 de janeiro de 2010, o Decreto Federal nº. 6.087/07, o Decreto Federal nº. 99.658/90 que regulamentam, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material, a Lei nº. 11.445/07- Política Nacional de Saneamento, a Lei n°. 9.795 - Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei no. 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada pelo Decreto 7.404/2010 (BRASIL, 2010). O Decreto 6.087, de 20 de abril de 2007 (BRASIL, 2007) altera os arts. 5o. 15 e 21 do Decreto no. 99.658, de 30 de outubro de 1990, que regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Assim, de acordo com o art. 15, inciso V em seu Parágrafo único institui que: “Os microcomputadores de mesa, monitores de vídeo, impressoras e demais equipamentos de informática, respectivo mobiliário, peças-parte ou componentes, classificados como ociosos ou recuperáveis, poderão ser doados a instituições filantrópicas, reconhecidas de utilidade pública pelo Governo Federal e Organizações da Sociedade Civil de interesse público, que participem de projeto integrante do Programa de Inclusão Digital do Governo Federal”. O Decreto no. 5.940, de 25 de outubro de 2006 (BRASIL, 2006) institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 Administração Pública Federal direta e indireta, na fonte geradora e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. Na esfera federal, o decreto é de caráter obrigatório, significando que todos os ambientes públicos federais devem realizar um descarte diferenciado dos seus resíduos e destiná-los para as organizações de catadores habilitadas para o recebimento em seu município, porém não abrange os resíduos eletroeletrônicos - REE, especificamente, visto que são considerados resíduos sólidos especiais ou diferenciados devido ao grau de periculosidade e por conterem, em seus constituintes, metais pesados de alto poder poluente, dentre muitos outros agravantes. 11 sistemas de gestão eficientes dos resíduos eletroeletrônicos englobando as três esferas do poder (federal, estadual e municipal) para o atendimento dos instrumentos previstos na Política Nacional, visando ao equacionamento das questões relativas a esses resíduos, a valorização desses resíduos como importante fonte de materiais, como também a eliminação ou redução, ao máximo, dos potenciais impactos negativos oriundos de uma gestão inadequada. Selpis et al. (2012) afirmam que para uma correta gestão ambiental de resíduos eletroeletrônicos, existe a necessidade de esforços conjuntos da sociedade, empresas e governos por intermédio de educação ambiental e conscientização. Esses autores enfatizam a questão da legislação com atribuições de responsabilidade por parte dos fabricantes, comerciantes e também dos consumidores, pontos de coleta de fácil acesso, condições logísticas e incentivos fiscais para práticas de reciclagem e destinação correta desses resíduos. A Lei da Política de Resíduos Sólidos (12.305/2010) apresenta, em seu art. 30, os princípios da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: “art. 30 - é instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, Para Mattos et al. (2008), a quantidade de importadores, distribuidores e comerciantes, os produtos eletrônicos descartados pela sociedade consumidores e os titulares dos serviços públicos vem aumentando a cada ano, no entanto o fluxo de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos”. reverso de produtos que podem ser reaproveitaNo entanto, tem-se observado que a aplicação dos ou retrabalhados para se transformarem em da lei em vigor não tem sido eficaz, com frequen- matéria-prima novamente vem sendo aproveitado cia encontram-se jogadas em terrenos baldios, em apenas pela indústria em quantidades ainda pelixões a céu aberto, quantidades significativas de quenas frente ao potencial existente. resíduos eletroeletrônicos, sem observância dos O presente trabalho objetiva apresentar os perigos que estes produtos oferecem, por conte- resultados das atividades práticas e dos procesrem substâncias químicas como: mercúrio, cádmio, sos desenvolvidos pelos alunos extensionistas arsênio, cobre, chumbo e alumínio, que, ao serem do Programa de Extensão: Mobilização Social em manuseados de forma inadequada, oferecem riscos Saneamento Ambiental junto com a Universidade à saúde dos que utilizam esses materiais, destacan- Federal de Campina Grande - Campus I, referentes do-se, sobretudo, os riscos ao meio ambiente, im- ao ano de 2013, no tocante ao consumo, descarte, pactos negativos impostos à saúde humana e quali- reaproveitamento e destinação final dos resíduos dade ambiental. eletroeletrônicos recuperados. Para Biscaino (2012), essa lei procura minimizar o volume de resíduos e rejeitos gerados, bem como reduzir os impactos negativos gerados à saúde humana e qualidade ambiental. Dessa forma, quando se trata dos resíduos eletroeletrônicos, esbarra-se numa deficiência ainda maior quanto à forma de fiscalização do descarte de forma adequada. 2 | Metodologia A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece um marco regulatório para a gestão de Resíduos Sólidos, embora ainda não tenha estabelecido instruções claras para a adoção da logística reversa dos REE em instituições públicas federais. Dessa forma, utiliza-se uma metodologia de invesNesse sentido, Castro et al. (2013) chamam a tigação dos instrumentos legais e jurídicos a fim de atenção da necessidade para o estabelecimento de proceder com os trabalhos propostos pelo projeto Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais. de extensão. Foi adotada a metodologia proposta pelo IPT/CEMPRE (2000) com adaptações a partir de observações identificadas na primeira fase do Projeto, conforme se discrimina abaixo: 1. Levantamento da base legal existente para aquisição e descarte de materiais em instituições públicas federais; 2. Inventário dos resíduos eletroeletrônicos entregues no Posto de Entrega Voluntária do Programa de Extensão da UFCG; 3. Diagnóstico de geração de resíduos eletroeletrônicos e verificação de formas de descarte, observando-se os trâmites legais de desfazimento desses resíduos; 4. Logística de recebimento das máquinas, com visitas aos setores administrativos e jurídicos da Instituição; 12 5. Caracterização e triagem do material com observações sobre a possibilidade de reaproveitamento: após o recebimento do material advindo de diversos setores da UFCG, é realizada a separação das máquinas passíveis de reaproveitamento, e as que não apresentam a possibilidade de recuperação são destinadas ao setor de patrimônio da UFCG. Após recebimento do material, ocorre o desmonte e a catalogação das peças com potencial de recuperação e reaproveitamento, com o respectivo inventário. A separação das peças ocorre da seguinte forma: abertura das CPU’s e separação das peças, como placa-mãe, HD, CD, pilha, memória, fonte, cooler, processador e cabos em locais específicos. Com relação aos testes com monitores, estes são ligados à energia após a sinalização e conectados ao computador teste no qual se observa o desempenho, ocorrendo a separação daqueles que se apresentam com possibilidade de recuperação. As atividades de triagem e testes em material eletroeletrônico se desenvolvem de forma contínua, durante toda a vigência do Projeto. 6. Visitas às escolas e bibliotecas municipais com possibilidades de formar parcerias que atendam ao objetivo do programa de extensão e soluções de suas demandas. No mo- mento da entrega das máquinas, as escolas contempladas assinam um Termo de Compromisso com informes sobre a responsabilidade do descarte final dos equipamentos. 3 | Resultados e discussão O trabalho desenvolvido pela Universidade Federal de Campina Grande - Campus I com relação à recuperação de resíduos eletroeletrônicos chamou a atenção de municípios circunvizinhos ao de Campina Grande/PB, dada a repercussão na mídia local. Os resultados alcançados no ano 2013 vieram atender ao ofício no. 12/2013, enviado pela Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça. Após ser avaliada a importância e a perspectiva de inclusão digital dos alunos da zona rural do município, mais precisamente a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, localizada no Sítio São Tomé, além do alcance social, verificou-se a necessidade de essa escola implantar, inserir e proporcionar aos alunos o acesso às Figura 8. Entrega das máquinas à Prefeitura Municipal de São Sebastião de Lagoa de Roça. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 13 tecnologias de informação, com o recebimento de servar, realizou o sonho de muitas crianças quan5 (cinco) das máquinas recuperadas (Figura 1). to ao desenvolvimento de tarefas escolares, ao mesmo tempo em que a alegria tomou conta da sala montada pela diretoria da escola (Figura 2). Dessa forma, após o recebimento das máquinas, a gestora da escola assim se posicionou: Importante citar que o Educandário Anji“A escola São Tomé pretende, a cada dia, buscar nho da Guarda localizado no bairro de Jeremias, novas ideias e aprimorar o seu ensino e desen- em Campina Grande-PB, também foi beneficiado volver um trabalho com qualidade, mas, para isso com a doação de 02 (máquinas) para os alunos do acontecer, a escola necessita de alguns equipa- ensino fundamental. mentos como computadores, brinquedos educativos, ou seja, um grande melhoramento principalmente nos meios de comunicação”. Também 4 | Conclusões Conclui-se que o objetivo do Projeto de reavaliou a importância dos computadores para o desenvolvimento do aprendizado do aluno, refor- cuperação física de equipamentos eletroeletrônicos gerado na Universidade Federal de Campina çando, sobretudo, o aspecto da inclusão digital. Grande - Campus I, localizada no município de Ainda, apresentou comentários o assessor Campina Grande, Estado da Paraíba, foi alcantécnico educacional (SEDUC) do município de São çado. As propostas apresentadas, além de atenSebastião de Lagoa de Roça: “Venho agradecer à derem em parte as necessidades dos alunos das equipe da UFCG, que, de maneira positiva, vem escolas públicas dos municípios, Campina Grande desenvolvendo o projeto que visa beneficiar estu- e São Sebastião de Lagoa de Roça, despertaram, dantes de escolas públicas, bem como as próprias na equipe do projeto e na comunidade universiescolas mediante a doação de computadores que tária envolvida com a implantação do projeto, a são, ao invés de lançados no lixo, reformados e importância e o alcance de cunho social que as passam a ser reutilizados. Projetos como esses ações alcançaram, contribuindo para que os aludevem ser valorizados e receber incentivos para nos das escolas urbanas e rurais tenham acesso à que possam ser desenvolvidos com mais afinco”. inclusão digital, fortalecendo o desenvolvimento A doação das máquinas, como se pode ob- social das comunidades consideradas carentes. Figura 2. Aspecto geral das salas de aula onde foram instalados os computadores e dos alunos utilizando as máquinas em suas tarefas escolares - Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental São Tomé, localizada no Sítio São Tomé - município de São Sebastião de Lagoa de Roça/PB. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 A recuperação de equipamentos eletroeletrônicos na UFCG - Campus I colabora com a inclusão digital de alunos de Escolas Públicas Municipais. Referências BISCAINO, M. J. N. A problemática do descarte do resíduo eletrônico no setor público gaúcho. 2012. 64p. Especialização (Especialização em Gestão Pública). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Universidade Aberta do Brasil. Escola de Administração. Porto Alegre. 2012. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/71451/000873694.pdf ?sequence=1>. Acesso em: 03 de março de 2010. BRASIL. Decreto no. 5.940, de 25 de outubro de 2006. Institui a separação dos resíduos recicláveis, descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2006/Decreto/D5940.htm>. Acesso em: 20 de julho de 2014. ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 18. Rio de Janeiro, 2008. Anais. Rio de Janeiro: ENEGEP, 2008. SELPIS, A. N.; CASTILHO, R. de O.; ARAÚJO, J. AL. B. de. Logística Reversa de Resíduos Eletroeletrônicos. Tékhne ε Lógos, Botucatu, SP, v.3, n.2, Julho. 2012. Disponível em: <http://www.fatecbt.edu.br/seer/index.php/tl/article/ viewFile/121/119>. Acesso em: 03 de fevereiro de 2013. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. 14 BRASIL. Decreto Federal nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei nº. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa e dá outras providências. BRASIL. Decreto 6.087, de 20 de abril de 2007. Diário Oficial da União. República Federativa do Brasil. Imprensa Nacional. Ano CXLIV no. 77. Brasília – DF. 23 de abril de 2007. Disponível em: <http://sites.unasp.edu.br/ portal/secretariageral/Documentos/DOU/2007-1/04/ DO1_2007_04_23.pdf>. Acesso em: 15 de fevereiro de 2014. CASTRO, M.; SAAVEDRA, Y. M. B.; OMETTO, A. R.; SCHALCH, V. Contexto atual e proposta de alternativas para a gestão de resíduos eletroeletrônicos no município de São Carlos-SP. III Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, SIREE - 2013, Recife, PE. III Seminário Internacional sobre Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos: cidades sustentáveis e experiências inovadoras na gestão de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos: anais/coordenação geral: Lúcia Helena Xavier. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana. Porto Digital, 2013. 198 p. ISBN 978-85-7019612-5. CEMPRE. Política Nacional de Resíduos Sólidos – Agora é lei. Novos desafios para poder público, empresas, catadores e população. Disponível em: <http://www.cempre. org.br/download/pnrs_002.pdf>. Acesso em: 22 de março de 2012. MATTOS, Karen M. C.; MATTOS, Katty M. C; PERALES, W. J. S. Os impactos ambientais causados pelo lixo eletrônico e o uso da logística reversa para minimizar os efeitos causados ao meio ambiente. In: ENCONTRO NACIONAL DE Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 09–14, mar, 2015 Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE Barreto, Carlos Alberto Alves1 França, Domingos Sávio de2 Oliveira, Janeide Ferreira Alencar de3 Resumo A geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil tem sido, nos últimos anos, um tema relevante em todos os debates, discussões e agendas estratégicas da Política de Resíduos Sólidos Urbanos. Este estudo trata dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) de computadores, resultado da revolução tecnológica dos últimos anos, que produziu equipamentos em larga escala, com variadas utilidades e vem propiciando um aumento na quantidade e diversidade desses tipos de resíduos. Além de ser um dos resíduos de maior crescimento no mundo, sua diversidade e periculosidade chamam a atenção para a necessidade de instrumentos de controle nas políticas públicas, para que melhor determinem o papel não só dos geradores mas de toda a sociedade no destino correto. O objetivo desta pesquisa foi analisar a relevância do rastreamento dos computadores da Universidade Federal de Pernambuco durante o consumo e pós-consumo. O estudo identificou instrumentos na legislação analisada que permitem um melhor gerenciamento desses resíduos e que, independente de acordos setoriais, poderiam ser aplicados com base na legislação que rege e direciona os órgãos públicos, com rebatimento no destino adequado dos REEE de computadores. A pesquisa ainda destaca uma tecnologia social que desenvolve um conjunto de ações e atividades diretamente relacionadas com a re-utilização, gerenciamento e descarte ambientalmente correto desses materiais. 15 Palavras-chave: Resíduo eletroeletrônico; Logística reversa; Pós-consumo. Abstract The generation of electrical and electronic equipment waste has been lately a relevant subject in every debate, discussion and strategic agendas of Solid Urban Waste Politics. This study is about the waste of electrical and electronic equipment (WEEE) of computers, a results of the technological revolution in the past few years, which produced equipments with several utilities on a large scale and has been propitiating the enlargement of the quantity and diversity of this kind of waste. Besides being one of the fastest growing wastes in the world its diversity and dangerousness warn us about the necessity of instruments of control in public policy to better determine the role, not only of the generators, but of the whole society in the correct destination of this waste. The objective of this research is to analyze the computer tracking relevance at Federal University of Pernambuco (UFPE) during the consumption and post-consumption. This study identified instruments in an analyzed legislation that allows a better management of this kind of waste and is independent from sectorial agreements. These instruments could be applied based on the current legislation that governs and directs the public organizations which determinates the appropriate destination of the computers WEEE. The research also highlights a social technology that develops a set of actions and activities directly related to the reuse, management, and environmentally appropriate disposal of these materials. Key - words: Electronics waste; Reverse logistics; Post-consumer. 1 (ITEP) [email protected] 2 (Marista) 3 (ITEP) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE 1 | Introdução 16 De acordo com a Revista Ambiente (2014), a China e outras economias emergentes ultrapassaram a Europa e a América do Norte em relação à quantidade de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE). É um dos efeitos do crescimento econômico rápido e tudo indica que concorre para o fato de que as economias emergentes terão que lidar com um aumento de 44,5%% dos REEE entre 2012 e 2017. Segundo o centro Solvingthe E-WasteProblem (StEP), a quantidade de REEE descartados em nível global foi de 48,9 milhões de toneladas em 2012 e deverá chegar aos 65,4 milhões de toneladas em 2017; o maior aumento ocorrerá nas economias emergentes. Em 2012, o Ocidente descartou 23,5 milhões de toneladas de REEE, enquanto o resto do mundo descartou 25,4 milhões de toneladas. A previsão para 2017 aponta para 28,6 milhões de toneladas descartadas no Ocidente (aumento de 21,7%) e 36,7 milhões de toneladas descartadas no resto do mundo (aumento de 44,5%). Oliveira (2011) ressalta que o crescimento populacional e econômico, aliado às mudanças no estilo de vida das pessoas, contribui para o aumento da geração per capita dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), que, se mal administrados, podem causar impactos significativos ao meio ambiente e à saúde pública. Nesse contexto, uma estratégia que está sendo cada vez mais utilizada, tanto pelo poder público quanto em instituições privadas, é a Logística Reversa (LR). Seu conceito é visto, no âmbito dos RSU, como uma alternativa para a destinação final dos resíduos, que, por meio da coleta seletiva e da reciclagem, visa ao reaproveitamento de matéria-prima e energia, a geração de emprego, de renda e a mitigação dos danos ao meio ambiente. A Universidade Federal de Pernambuco é um grande consumidor de produtos eletroeletrônicos, ressalvando-se os computadores, o que gera uma parcela considerável dos REEE desse tipo de equipamento. Esta pesquisa buscou analisar a relevância do rastreamento dos computadores da Universidade Federal de Pernambuco durante o consumo e pós-consumo. Figura 1. Descrição do quantitativo do REEE Fonte: Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente (PNUMA 2014) 2 | Fundamentação Teórica 2.1 | Logística Reversa Lacerda (2000) ressalta que usualmente pensamos em logística como o gerenciamento do fluxo de materiais do seu ponto de aquisição até o seu ponto de consumo. No entanto, existe também um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo até o ponto de origem, que precisa ser gerenciado. Esse fluxo logístico reverso é comum para uma boa parte das empresas. Por exemplo, fabricantes de bebidas precisam gerenciar todo o retorno de embalagens (garrafas) dos pontos de venda até seus centros de distribuição. As siderúrgicas usam como insumo de produção em grande parte a sucata gerada por seus clientes e, para isso, usam centros coletores de carga. A indústria de latas de alumínio é notável em relação ao grande aproveitamento de matéria-prima reciclada, tendo desenvolvido meios inovadores na coleta de latas descartadas. Podemos definir logística reversa como aquele segmento da cadeia de suprimentos que trata dos processos logísticos de produtos que já foram vendidos em duas frentes. A primeira refere-se ao fluxo de retorno de produtos que foram entregues com algum tipo de problema (qualidade, quantidade etc.), produtos que necessitam de reparos (recall) e produtos que o produtor assume a responsabilidade sobre ele após sua vida útil. A segunda frente se refere ao fluxo de retorno de produtos que se destinarão basicamente à venda ou reciclagem, produtos que tenham sido originários do comércio, indústria, ou residências. Assim podemos observar que o processo logístico não se Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 encerra na entrega (SOUZA et al., 2005). 17 procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor Oliveira (2011) relata que os Resíduos Sóli- empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo dos Urbanos (RSU), antes entendidos como meros ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação subprodutos do sistema produtivo, passaram a ser final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010) considerados como responsáveis por graves proDando ênfase ao meio ambiente, a logística blemas de degradação ambiental, cujos danos causados tornaram-se mais evidentes com o passar dos reversa é a expressão utilizada para se referir ao anos. O termo resíduo, originado do latim residuu papel da logística na reciclagem, disposição de resí- aquilo que sobra de qualquer substância - passou duos e gerenciamento de materiais perigosos. a ser utilizado como termotécnico e a fazer parte da A logística reversa não pode ser caracterizada linguagem habitual em substituição ao desgastado apenas pelo recolhimento de material mas pelo getermo “lixo”. O adjetivo sólido foi adotado para dife- renciamento de todo caminho que esse produto vai renciar de outros tipos de resíduos, como líquidos e realizar até o seu descarte. gasosos, e o termo urbano compreende os resíduos Previsto na PNRS, o mecanismo de logística sólidos gerados num aglomerado urbano, excetuados os que possuem classificações diferenciadas reversa é, sem dúvida, o instrumento que mais necomo resíduos industriais, de serviço de saúde, de cessitará de um olhar jurídico cuidadoso. Isso porque poderá gerar pequenas modificações no perfil construção civil etc. da responsabilidade ambiental dos resíduos eletroA origem do estudo sobre o desenvolvimento eletrônicos produzidos no Brasil. da logística surgiu na era moderna, durante as opeSegundo Rogers &Tibben-Lembke (2001), rações militares na I Guerra Mundial. Foi durante a II Guerra Mundial, um conflito de escala global, que o processo de retorno dos produtos segue os seguintes passos: remanufatura, reforma, reciclagem, os processos de logística foram aperfeiçoados. reempacotamento, processos de retorno, recupeDe acordo com a Política Nacional de Re- ração, canibalização. A implantação do sistema síduos Sólidos (estabelecida pela Lei 12.305, de de logística reversa é mais um elemento rumo ao 2/08/2010), a logística reversa pode ser definida desenvolvimento sustentável do planeta, pois poscomo “instrumento de desenvolvimento econômi- sibilita a reutilização e redução no consumo de co e social, caracterizado por um conjunto de ações, matérias-primas, associado com uma definida tecFigura 2. Descrição do quantitativo do REEE Fonte: Lacerda (2000) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE nologia de informação intensificando a rastreabili- partilhada pelo ciclo de vida do prod dade do produto, resultando em um rápido e eficaz retorno dos produtos reciclados. 2.3 | Ciclo de Vida de um Computador A logística reversa para os produtos eletroeletrônicos (computadores) deverá ser operacionalizada mediante os acordos setoriais que serão realizados com a participação de vários segmentos: Indústrias, Cooperativas de catadores e Governo. 2.2 | Acordo Setorial 18 A vida de um produto, do ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente. Produtos tornam-se obsoletos ou danificados; quando não funcionam, devem retornar ao seu ponto de origem, para serem adequadamente descartados ou reaproveitados. A maioria dos consumidores de computadores não descartam seus equipamentos porque O Comitê Orientador para a Implementação de Sis- estão quebrados ou desgastados. As inovações temas de Logística Reversa - CORI, em conformida- tecnológicas provocam uma defasagem em comde com seu Regimento Interno aprovado pela Mi- paração ao nível de desempenho dos computadonistra de Estado do Meio Ambiente e publicado no res recém-lançados (FERRER, 1997; WILLIAMS e Diário Oficial da União, de 08 de abril de 2011 por SASAKI, 2003; KAYO et al., 2006). meio de Portaria Ministerial nº 113, especialmente Um novo processador com maior velocidade com o disposto no inciso II do caput e no parágrafo de clock é introduzido no mercado a cada 5 ou 6 único do art. 2º, bem como nos § §1º e 2º do art. 11; meses. O tamanho padrão para um chip de memóOs acordos setoriais são atos de natureza con- ria para computador, 1 MB em 1990, tem dobrado tratual, firmados entre o Pode Público e os fabrican- a cada ano. O tamanho padrão de um disco rígites, importadores, distribuidores ou comerciantes, do, 40 MB em 1990, tem aumentado ainda mais visando à implantação da responsabilidade com- rápido. CD-ROM, uma raridade nos anos 1990, se Figura 3.Fases da gestão do ciclo de vida do produto Fonte: Adaptado de XAVIER e CORRÊA (2013) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 tornou equipamento padrão para todos os computadores (FERRER, 1997, p. 85). coleta, armazenagem, pré-processamento e destinação, permitindo credibilidade e adequação aos preceitos legais da responsabilidade compartilhaDo ponto de vista financeiro, fica evidente da. que, além dos custos de compra de matéria-prima, de produção, de armazenagem e estocagem, o ciclo Figura 4.Certificado de destruição de REEE de vida de um produto inclui também outros custos que estão relacionados a todo gerenciamento do seu fluxo reverso. Do ponto de vista ambiental, essa é uma forma de avaliar qual o impacto ambiental que um produto pode estar causando sobre o meio ambiente durante sua vida. O ciclo de vida de um computador varia segundo especialistas entre dois e três anos. Devido às dificuldades financeiras e também à cultura, o brasileiro não tem o hábito de trocar seu computador nesse prazo, efetuando a troca somente quando este não realiza mais as tarefas solicitadas. 2.4 | Rastreabilidade 19 De acordo com pesquisa elaborada por Vaz (2005), atribui-se que a capacidade de rastreamento de retornos, medição dos tempos de ciclo, medição do desempenho de fornecedores (avarias nos produtos, por exemplo) permitem obter informação crucial para negociação, melhoria de desempenho e identificação de abusos dos conFonte: TES-AMM Cingapura (2013) sumidores no retorno de produtos. Construir ou mesmo adquirir um sistema de informação que compartilhe todos os passos de operação logística 2.5 | Tipos de Rastreamento é um grande desafio. De acordo com Xavier (2013), existem difeLaurindo (2011) conceitua a Tecnologia da rentes processos para a identificação do produto. Informação (TI) de uma forma mais abrangente Podem ser por meio de etiquetas – com ou sem cóque os de processamento de dados, sistemas de digos de barras – etiquetas com tecnologia RFID informação, engenharia de software, informática (radio frequencyidentification), GPS (global posiou o conjunto de hardware e software, uma vez tioning system), entre outros. que também envolve aspectos humanos, administrativos e organizacionais. Laurindo (2011) faz 2.6 | Centro de Recondicionamento de uma abordagem com vários autores, restringindo à primeira expressão apenas os aspectos técni- Computadores (CRC) O Centro de Recondicionamento de Comcos, enquanto que à segunda corresponderiam as questões relativas ao fluxo de trabalho, pessoas e putadores do Recife – CRC-Recife surge como um espaço irradiador de práticas e experimentos aminformações envolvidas. bientalmente corretos e economicamente viáveis A rastreabilidade para o sistema de logística para transformar a problemática elencada acima reversa possibilita a identificação do produto da em agendas de Educação Socioambiental, Empreorigem ao pós- consumo e o trajeto percorrido du- endedorismo Social, Economia Criativa e, sobrerante todo o processo. tudo, promovendo e emancipando adolescentes, Identifica os responsáveis pelas etapas de jovens e adultos das periferias da Região MetropoRevista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE litana do Recife, vulneráveis socioeconomicamente e/ou as pessoas envolvidas nas atividades de catação de recicláveis. Desde 2009, o CRC Recife atua recebendo REEE descartados por órgãos dos governos, empresas e consumidores em geral. O espaço tem como alicerces estratégicos: 1. Oferecer um conjunto de itinerários formativos para crianças, adolescentes e adultos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, potencializando aprendizagens em áreas como inclusão sociodigital e educação ambiental; 2. Atender adolescentes, jovens e adultos pertencentes às cooperativas de catadores e recicladores da RMR com palestras, oficinas, cursos e capacitações nas áreas de inclusão sociodigital, educação ambiental, crescimento pessoal, competências laborais, criatividade empreendedora, gerenciamento de REEE e reciclagem de resíduos eletroeletrônicos; 3. Disponibilizar para o segmento de cooperativas de catadores do Estado de Pernambuco um espaço de referência para a qualificação dos processos de coleta, triagem, segregação, estocagem, comercialização e venda de recicláveis de resíduos eletroeletrônicos; 4. Realizar palestras, seminários e oficinas de educação socioambiental com foco na coleta seletiva e resíduos eletroeletrônicos nas escolas públicas municipais e estaduais, empresas, ongs, universidades e eventos; Tabela 1. Quantidade de computadores e monitores adquiridos na UFPE 20 Fonte: Setor de Patrimônio (2013) Tabela 2.Quantidade dos equipamentos descartados na UFPE, no período de 2008 a 2012. Fonte: Setor de Patrimônio (2013) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 5. Sistematizar a experiência desenvolvida 2008. durante a execução da parceria para posDados obtidos junto com o setor de patriterior publicação e consolidação como mônio da UFPE em julho de 2013 indicam que, tecnologia social. nos últimos cinco anos, foram descartados 605 computadores, 568 monitores, 228 impressoras. Esses equipamentos foram doados para institui3 | Material e Método A pesquisa sobre a logística reversa de com- ções filantrópicas, não havendo um acompanhaputadores foi realizada na UFPE, localizada no mento junto às instituições sob o destino correto bairro da Cidade Universitária, na cidade do Re- desses equipamentos ao final do seu ciclo de vida. cife. Este campus universitário possui 12 centros Estudos realizados sobre o ciclo de vida dos acadêmicos e 67 departamentos. Trabalham nesta computadores utilizados na UFPE revelam que universidade 2.209 professores e 4.144 servidores servidores e professores estão descartando os técnico-administrativos nos três campi. (dados de equipamentos entre três e cinco anos. 2012) A pesquisa realizada evidencia que os serviOs estudos partem de uma pesquisa biblio- dores justificam que as peças danificadas, como gráfica em artigos científicos sobre o descarte dos hd, processadores e memórias, são as causas do REEE em instituições de ensino no Brasil. descarte dos equipamentos. Os professores jusFoi ainda realizada análise documental em tificam a obsolescência para o descarte dos comdocumentos específicos sobre o procedimento putadores. 21 para a realização de uma adequada redução desses resíduos dentro da UFPE. Foram aplicados questionários com questões abertas, direcionado ao Setor de Patrimônio e ao Setor de Compras da UFPE, nos quais foram abordados assuntos relacionados ao descarte dos computadores, motivação, quantidade de equipamentos adquiridos, centros geradores, quantidade de equipamentos descartados e a forma de destinação final. 5 | Conclusões Os resultados obtidos na pesquisa comprovam que a aquisição de equipamentos eletroeletrônicos vem crescendo nos últimos anos, provocada pela expansão da universidade e pela crescente inovação tecnológica, fatores esses que contribuem para o rápido descarte dos computadores. Constatou-se que, na UFPE, os equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo se tornam uma problemática de difícil solução, consideran4 | Resultado Mediante pesquisa de campo realizada no do que as legislações vigentes no país não garanSetor de Patrimônio da UFPE, no período de 2008 tem uma estrutura adequada que permita que a 2012, constatou-se que a instituição adquiriu tais materiais sejam recolhidos por um sistema de logística reversa eficiente e sustentável. cerca de 5.824 computadores e 6.071 monitores. Conforme sugestão em pesquisa elaboraA aquisição desses equipamentos é justificada, mediante setor de patrimônio, pela implanta- da por Xavier e Correia (2013), far-se-á a inserção para o monitoramento dos REEE a partir do ção do programa REUNI do Governo Federal. descarte, tendo em vista que pode ser feito por O Programa foi criado para apoiar o Plano meio do acompanhamento do código de barra e de Reestruturação e Expansão das Universidades etiquetas de rádio de frequência (RFID). ConseFederais, instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 quentemente, percebemos a grande importância de abril de 2007. Trata-se de uma das ações inte- do rastreamento desses equipamentos, visando à grantes do Plano de Desenvolvimento da Educação possibilidade de um correto descarte dos compu(PDE), em reconhecimento ao papel estratégico tadores da UFPE. das Universidades Federais para o desenvolvimento econômico e social. O programa teve início em Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 Abordagem da rastreabilidade no sistema de logística Reversa para os REEE de Computadores na UFPE Referências BRASIL. Lei No 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Presidência da República. Casa Civil. Brasília, DF, 3 ago. 2010. Disponível em: <http:www.planalto.gov.br/ccivil03/_ato20072010/2010/lei/I12305.htm>. Acesso em: 10 abr. 2012. FERRER, G.The economics of personal computer remanufacturing: resources, conservation and recycling, 21, p. 79-108, 1997. LACERDA, Leonardo. Logística reversa. Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. 2000. Disponível em: <http:www.paulorodrigues.pro.br/arquivos/ logística_reversa_LGC.df> Acesso em: 08 de ago. de 2014. LAURINDO, et al. O papel da tecnologia da informação (TI) na estratégia das organizações. São Paulo, SP, 2001. OLIVEIRA. R.L. Logística Reversa: A utilização de um sistema de informações geográficas na coleta seletiva de materiais recicláveis. Itajubá, SP - abril, 2013. ROGERS, D.S.; TIBBEN-LEMBKE, R. S. Going backwards: reverse logistics practices and trends.Reno: Reverse LogisticsExecutiveCouncil, 1998. 22 SOUZA, S. F., et al. 2005. Logística reversa: Oportunidades para redução de custos em decorrência da evolução do fator ecológico. Disponível em: http:www.ead.fea.usp. br/semead/11semead/resultado/trabalhosPDF/87.pdf. Acesso em: 08 de ago. de 2014. STOCK, J.R. Reverse logistics., Oak Brook, IL: Council of Logistics Management, 1992. VAZ, A.F. A importância do sistema de informação na logística reserva. Rio de Janeiro, RJ- Junho, 2013. XAVIER, L. H.; CORREIA, L.H. Sistema de Logística Reversa. São Paulo, SP. 2013. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 15–22, mar, 2015 Logística Reversa dos Resíduos dos Equipamentos Eletroeletrônicos : Análise do Consumo e Pós - Consumo dos Computadores da Universidade Federal de Pernambuco. Barreto, Carlos Alberto Alves1. Resumo 23 O crescente desenvolvimento tecnológico vem provocando uma elevada taxa de inovação entre os equipamentos eletroeletrônicos, gerando a necessidade de substituição dos equipamentos em um período cada vez mais curto. O acelerado processo tecnológico vem provocando problemas na gestão dos resíduos dos equipamentos eletroeletrônicos (REEE), oriundos de computadores. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o Brasil está produzindo 0,5Kg/ano/hab.de REEE dos computadores, aos quais não tem sido dado um destino adequado. A Lei nº 12.305, de 2/8/2010, que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), exige a implementação do sistema de logística reversa e a responsabilidade dos produtores, distribuidores, comerciantes e importadores pelo tratamento e a destinação final dos REEE. Nessa nova estrutura de gerenciamento dos resíduos proposta pela PNRS, todos os envolvidos têm responsabilidades específicas e igualmente relevantes. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está adquirindo uma média de 1.165 computadores por ano. Este estudo analisou o consumo e pós-consumo dos computadores na UFPE, caracterizando o fluxo dos resíduos ao destino final e identificou indicadores que poderão auxiliar na implantação de um sistema mais eficiente na coleta desses equipamentos nos departamentos e no descarte final pelo Setor de Patrimônio. Foi realizada pesquisa bibliográfica, levantamento direto em campo, com foco no Setor de Patrimônio, Compras e junto com funcionários e professores. Os resultados obtidos demonstram a não aplicação da PNRS quanto ao processo de logística reversa dos REEE e, ainda, que o fluxo interno e o descarte vêm sendo efetuados de forma inadequada, para uma significativa geração de REEE, em função da quantidade de computadores adquiridos. Palavras-chave: Consumo; Pós-consumo; Resíduos Eletroeletrônicos; Logística Reversa; Resíduos Sólidos. Abstract The increasing technological development has led to a high rate of innovation among consumers of electronics equipments creating the need to replace equipment in short period. The accelerated technological process has caused problems in the management of waste of electrical and electronic equipment (WEEE) originated from computers. According to the United Nations Program for Environment (UNEP) Brazil is producing 0.5 kg/year/inh. of WEEE from computers which have not been given a proper destination. Law 12,305 of 08/02/2010 establishing the National Solid Waste Policy (PNRS) requires the implementation of reverse logistics system and the responsibility of producers, distributors, dealers and importers for treatment and disposal of WEEE. In this new management structure of the waste proposed by PNRS everyone involved has specific responsibilities and equally relevant. The Federal University of Pernambuco (UFPE) is acquiring an average of 1,165 computers per year. This study examined the consumption and post- consumption of computers at UFPE characterizing the flow of waste to final destination. This work has identified indicators that may assist in the implementation of a more efficient system to collect such equipments in the departments and the final disposal of the Division of Equity. Bibliographical research, direct field surveys, focusing on Equity Sector, Procurement and among employees and teachers were held. The results demonstrate the non-application of PNRS regarding WEEE reverse logistics process and that the internal flow and disposal have been made improperly to a significant generation of WEEE on the quantity of purchased computers. Key - words: Consumption; Post-consumer; Electronics Waste; Reverse Logistics; Solid Waste. 1 [email protected] Mestre em Gestão Ambiental (ITEP) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 1 | Introdução Os resíduos eletroeletrônicos de computadores representam um considerável problema de abrangência mundial na atualidade, devido ao incremento da produção e do consumo em face da intensificação do atual modelo de desenvolvimento tecnológico, que induz esses equipamentos a se tornarem rapidamente obsoletos. As indústrias optam por níveis de venda em economia de escala, que é um padrão internacional de modelo socioeconômico capitalista. Desenvolvem equipamentos com o subterfúgio da prática denominada designed for the dump (“projetado para o descarte”, em tradução livre para o idioma português). Essa estratégia sugere a criação, consecução e desenvolvimento de bens de consumo elaborados para o descarte rápido, com vida útil curta. 24 Ao serem descartados, por se tornarem obsoletos, esses equipamentos serão geradores de toneladas de REEE. De acordo com Kang & Schoenung (2005), não existe atualmente nenhum método para tratamento dos REEE, e o destino desses resíduos são os lixões, aterros sanitários ou incineração. O projeto de lei n o 203/1991, que foi aprovado no Congresso Nacional na forma da lei no 12.305/2010, de 3/8/2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelece, dentre outras ações legais, a logística reversa como proposta para regular e responsabilizar os fluxos de pós-venda e pós-consumo de algumas cadeias produtivas, dentre as quais os resíduos eletroeletrônicos (REEE) descartados pelos consumidores (BRASIL, 2010). O presente estudo tem por objetivo identificar, qualificar e quantificar os fluxos de entrada e saída dos computadores utilizados na UFPE, no sentido de se estabelecerem indicadores que relacionem o consumo e pós-consumo com outras variáveis. 2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 | Magnitude do Problema O REEE produzido mundialmente é um sério problema que precisa ser solucionado. Milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos são produzidos anualmente, causando problemas ambientais, sociais e de saúde. Segundo a UNEP (2009), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a geração dos REEE deve chegar a 40 milhões de toneladas por ano, cuja maior parcela desses resíduos é gerada nos países desenvolvidos. Figura 1. Geração de REEE de computadores, países emergentes. Fonte: Relatório Unep ONU, 2009. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 O Brasil está descartando 96,8 mil toneladas métricas de PCs por ano, gerando 0,5 kg/hab ano de REEE de computadores. Esse volume é relativamente inferior ao da China que descarta 300 mil toneladas métricas (UNEP, 2009). Em relação à geração per capita (kg/habitante por ano), o Brasil tem uma produção maior que o Chile que registra 0,45kg/hab. ano, da China com 0,23 kg/hab.ano, da Índia que tem 0,1kg hab.ano, perde para a Europa com 4 Kg/hab e para os americanos que geram 14 Kg/hab. ano. Produtos presentes nesses materiais podem desencadear sérios problemas à saúde humana (MOREIRA, 2007), os quais têm possibilidade de serem agravados pelo processo de reciclagem bruta, pois muitos poluentes orgânicos persistentes e metais pesados são liberados, podendo se acumular facilmente no organismo por inalação do ar contaminado. 25 • Berílio: causa câncer no pulmão; • Retardantes de chamas (BRT): causam desordens hormonais, nervosas e reprodutivas. Torna-se importante discutir sobre os principais componentes de um computador, para entender a aplicação das substâncias químicas utilizadas na sua produção. 2.2 | PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM COMPUTADOR 2.2.1 | Placas de circuito impresso (PCI) As placas de circuito impresso representam 3% do peso total dos resíduos eletroeletrônicos geradas dos equipamentos (LONG et al., 2010;GUO et al., 2009). A industrialização das placas representa uma das principais partes dos equipamentos para a quantidade atual de metais. Entre os componentes tóxicos encontrados Esse componente é uma das principais parem um computador, destacam-se: tes dos equipamentos eletrônicos, sendo constituído por uma placa em que são impressas trilhas • Chumbo: pode causar danos ao sistema de cobre. A placa se comporta como isolante (dienervoso e sanguíneo; létrico), e as trilhas têm a função de conectar ele• Cádmio: causa envenenamento, danos tricamente os diversos componentes (MELO et. al., aos ossos e rins; 2001). Quadro 1. Composição típica de uma placa de circuito impresso Fonte: LEE et al., 2004. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Existe uma grande variedade de metais na PCI, o que dificulta a sua reciclagem. A quantidade de ouro existente em uma placa pode ser de 40 a 800 vezes maior que a encontrada em minério de ouro natural (BLEIWAS, 2001). Veit (2005) afirma que existem 17 gramas de ouro por tonelada de resíduos das PCI. Na mineração de ouro, por exemplo, é extraída uma quantidade que varia de 6-12 gramas por tonelada de minério. gens em relação ao germânio. Hoje o transistor pode medir até 45nm(nanômetros) 330.000 vezes menor. 2.2.2 | Processadores Segundo Santos (2002, p. 11), “a administração patrimonial compreende uma sequência de atividades, que tem seu início na aquisição de materiais pelo Setor de Compras e termina quando o bem for retirado do patrimônio da empresa”. Para Pozo (2007, p. 103), “patrimônio tem como conceito o conjunto de bens, valores, direitos e obrigações de uma pessoa jurídica”. O fundador da Intel, Gordon Moore, publicou em 14 de abril de 1965, na revista Electronics Magazine, um artigo sobre a capacidade dos processadores dos computadores. No artigo, Moore afirma que a capacidade dobraria no intervalo de 18 meses e que esse crescimento seria constante. Essa teoria ficou conhecida como “Lei de Moore.” Se essas placas forem descartadas de maneira incorreta, podem causar sérios danos ao meio ambiente. Se descartadas em aterros sanitários ou lixões, a lixívia gerada pode infiltrar no solo e alcançar o lençol freático, podendo causar contami- 2.3 | LEGISLAÇÃO APLICÁVEL nação nos agentes receptores. 2.3.1 | Administração Patrimonial 26 O processador é um dos principais componentes dos computadores; formado por transístores, que substituíram as válvulas termoiônicas, as quais consumiam uma grande quantidade de energia. Com os primeiros transístores, surgiu uma nova etapa da eletrônica de estado sólido. O transistor pode ser miniaturizado em níveis microscópios. No início, media aproximadamente 1,5cm e era confeccionado de germânio e ouro. Na década de 1950, o silício começou a ser utilizado, pois apresentava uma série de vanta- Os bens são classificados em tangíveis e intangíveis. Os bens tangíveis têm forma e podem ser tocados, como computadores, máquinas, móveis e veículos. Os bens intangíveis são aqueles em que não podemos tocar, como marcas, patentes e logotipos. Figura 2.Placa de circuito impresso com vários componentes Fonte: Autor, 2013. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO O Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990 regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, alienação e outras formas de desfazimento de material. A devolução ao Setor de Patrimônio (de uma determinada instituição pública) de bens avariados, obsoletos ou sem utilização também se caracteriza como transferência. Nesse caso, a autoridade da unidade onde o bem está localizado devolve-o com a observância das normas regulamentares, a fim de que o Setor Patrimonial possa manter rigoroso controle sobre a situação do bem. Esses bens ficam sob a guarda dos servidores desse setor e serão objetos de análise para a determinação da baixa ou transferência para outros setores. No artigo 4º do Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990, o material classificado como ocioso ou recuperável será cedido a outros órgãos que dele necessitem. 27 O parágrafo único do artigo 3º considera material inservível para repartição, órgão ou entidade aquele que detém propriedade, devendo ser classificado como: órgãos e as entidades do governo. No artigo 5º do Decreto sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que trata da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto, todos os envolvidos na geração deverão ter participação na eficácia das medidas adotadas. Os produtores e fabricantes terão responsabilidade pelo produto eletroeletrônico, mesmo após o fim da sua vida útil, obrigando-se a não somente promover a logística reversa (art.33 da PNRS) mas também, uma correta rotulagem ambiental para possibilitar a efetivação dessa logística (art 7º, inciso XV, da PNRS). Para os comerciantes e distribuidores, sua responsabilidade se traduz no dever de informar aos clientes e consumidores no que tange à logística reversa e aos locais onde podem ser depositados os resíduos eletroeletrônicos e a forma como esses resíduos poderão ser valorizados (art. 31 inciso II da PNRS). A PNRS estabelece que as universidades e instituições de ensino no geral podem gerar mecanismos para gestão desses resíduos. Nos instrumentos VI, VII e VIII citados na lei, as unia. ocioso - quando em perfeitas condições versidades podem atuar no desenvolvimento de de uso, não estiver sendo aproveitado; pesquisas para novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilib. recuperável - quando sua recuperação zação, tratamento de resíduos e disposição final for possível e orçar, no âmbito, 50% (cin- ambientalmente adequada de rejeitos na pesquisa quenta por cento) de seu valor de mer- científica e tecnológica e na educação ambiental cado. (BRASIL, 2010). c. antieconômico - quando sua manutenção for onerosa ou seu rendimento, precário 2.3.3 | A logística reversa dos equipamentos em virtude de uso prolongado, desgaste eletroeletrônicos Dando ênfase ao meio ambiente, a logística prematuro ou obsoletismo. reversa é a expressão utilizada para se referir ao 2.3.2 | A Política Nacional de Resíduos Sólidos papel da logística na reciclagem, disposição de reDepois de mais de 20 anos de discussões, mo- síduos e gerenciamento de materiais perigosos. A dificações e rejeições, o projeto de lei 203/1991, logística reversa não pode ser caracterizada apeque consolida a Política Nacional de Resíduos Só- nas pelo recolhimento de material mas pelo gerenlidos (PNRS), aprovado pela Lei n º 12.305, de 2 ciamento de todo caminho que esse produto vai de agosto de 2010, em seguida normatizado pelo realizar até o seu descarte adequado. Decreto nº 7.401/2010, criou o Comitê InterminisA logística reversa para os produtos eletroeterial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o letrônicos (computadores) deverá ser operacionaComitê Orientador para a Implantação dos Siste- lizada por meio dos Acordos Setoriais que serão mas de Logística Reversa, com a finalidade de dar realizados com a participação de vários segmentos: apoio para estruturar os setores envolvidos e im- Indústrias, Cooperativas de catadores e governo. plantar a legislação mediante a articulação com os Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 2.3.4 | Acordos Setoriais REEE que serão gerados na UFPE, até 2020, foi Foi lançado, no dia 13 de fevereiro de 2013, utilizado o modelo de regressão linear, sendo uma o edital nº 01/2013 do Ministério do Meio Am- variável dependente os resíduos em toneladas e biente, referente aos resíduos eletroeletrônicos, como variável independente, o ano. com o prazo de 120 dias para encaminhamento As duas variáveis são identificadas da sede propostas ao comitê orientador. O edital de- guinte forma: X é a variável independente, e Y, uma termina que 17% de todos os equipamentos ele- variável dependente. troeletrônicos comercializados no ano de 2012 O modelo de regressão linear simples ou deverão ser coletados e destinados. Essa meta deverá ser atingida no período de 5 anos, até 2017, reta de regressão é dado pela seguinte expressão: com a implantação da logística reversa. Consideradas resíduos com um alto valor agregado, as cooperativas estão buscando a qualificação dos catadores para que estes possam atuar profissionalmente com esse tipo de mate- 4 | DISCUSSÃO DOS RESULTADOS rial (XAVIER e CARVALHO, 2014). Com dados obtidos no Setor de Patrimônio da UFPE, foi diagnosticado que, a partir da média O procedimento metodológico utilizado no dos últimos cinco anos, foram adquiridos cerca trabalho foi de natureza exploratória, proporcio- de 1.165 computadores por ano para os diversos nando uma maior familiaridade com o problema ou departamentos. caso estudado mediante levantamentos bibliográfiO aumento do consumo desses equipamencos e entrevistas com as pessoas que convivem com tos, provocado pela expansão da UFPE, a cresceno objeto, visando identificar hipóteses que possam te inovação tecnológica e a diminuição do tempo vir a resolvê-lo (GIL, 1991). de vida útil são fatores que contribuem para o Foram analisados os motivos, a quantidade de descarte dos equipamentos de informática. equipamentos adquiridos, os centros geradores, a Estudos realizados sobre o ciclo de vida dos quantidade de equipamentos descartados e o descomputadores utilizados na UFPE revelam que tino final dos computadores da UFPE. servidores e professores estão descartando os Com o objetivo de prever a quantidade dos equipamentos entre três e cinco anos. 3 | METODOLOGIA 28 Quadro 2. Quantidade de computadores e monitores adquiridos na UFPE Obs. Considerando os três campus universitários da UFPE. Fonte: Setor de Patrimônio, 2013. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Quadro 3.Quantidade de equipamentos de informática descartados nos últimos cinco anos, na UFPE. Fonte: Setor de Patrimônio, 2013. 29 Os principais motivos para o descarte dos equipamentos ao final do seu ciclo de vida. computadores são defeitos apresentados no HD, na Com os dados que foram obtidos no Setor de placa-mãe e na memória, cuja justificativa é a inviaPatrimônio em relação ao descarte de computadobilidade econômica do seu conserto. res, impressoras e monitores, foi realizada uma esDados obtidos junto com o Setor de Patrimô- timativa da quantidade de resíduos que a UFPE vai nio da UFPE, em julho de 2013 indicam que, nos gerar até 2020. Os dados revelam que a UFPE vem últimos cinco anos, foram descartados 605 com- gerando aproximadamente 3,48 toneladas por ano putadores, 568 monitores, 228 impressoras. Esses de REEE nos últimos cinco anos, e a estimativa é a equipamentos foram doados para instituições filan- de que, até 2020, sejam geradas aproximadamente trópicas, não havendo um acompanhamento junto 4,3 toneladas por ano. com as instituições sobre o destino correto desses Grafico1. - Projeção da quantidade de REEE - 2008 a 2020 Fonte: Autor, 2014. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 5 | CONCLUSÃO Os resultados que foram obtidos na pesquisa constatam que não existe, no campus da UFPE, um gerenciamento adequado dos resíduos dos equipamentos de informática. A geração anual de REEE de computadores, identificada no estudo, aliada às dificuldades observadas nos fluxos de entrada e saída, demonstra a necessidade de se propor um gerenciamento adequado desses resíduos na Universidade Federal de Pernambuco. Constatou-se que é possível obter meios mais eficazes para se efetivar uma logística reversa dos REEE de computadores da UFPE nos aspectos legal e técnico, no sentido de garantir os fluxos reversos de pós-consumo desses equipamentos, observando-se os aspectos ambientais, sociais e a viabilidade econômica para sua utilização. 30 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS DOS EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS: ANÁLISE DO CONSUMO E PÓS-CONSUMO DOS COMPUTADORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Referências BRASIL. Lei No 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Presidência da República. Casa Civil. Brasília, DF, 3 ago. 2010. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil03/_ato2007-2010/2010/ lei/I12305.htm>. Acesso em: 10 abr. 2012. BLEIWAS, D. Obsoleto computers, “Gold mine”, or High-tech trash: Geological Survey, 2001. DECRETO Nº 99.658, de 30 de outubro de 1990. Regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 31 out. 1990. DECRETO Nº 4.507, de 11 de dezembro de 2002. Altera o art. 15 do Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990, que regulamenta, no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 12 dez. 2002. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 31 KANG, H. Y.; SHOENUNG, J .M. Electronic waste recycling: a review of U.S. infrastructure and technology options. Resources Conservation & Recycling, v. 45, p.368-400, 2005. MELO, P.R.S.; RIOS, E.C.D.; GUTIERREZ, R.M.V. Placas de circuito impresso: mercado atual e perspectivas, Rio de Janeiro, n. 14, p. 111-136, set. 2001. MOREIRA D. Lixo eletrônico tem substâncias perigosas para a saúde humana. 2007. Disponível em: <http://www. htmlstaff.org/ver.php?id=7220>. Acesso em: 3 jun. 2011. POZO, Hamilton. Administração de recursos materiais e patrimoniais. São Paulo: Atlas, 2007. SANTOS, Gerson dos. Manual de administração patrimonial. Florianópolis: 2002. UNEP. Sustainable Innovation and Technology Transfer Industrial Sector Studies. Recycling from e-waste to resources. Relatório da ONU acerca do lixo eletrônico no mundo, julho 2009. Disponível em: < http://www.unep. org/PDF/PressReleases/EWaste_publication_screen_FINALVERSION-sml.pdf>. Acesso em: 27 out. 2011. XAVIER; CARVALHO, T.C.M.B. Gestão de resíduos eletroeletrônicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 23–31, mar, 2015 Reciclagem de Lixo Eletrônico: Primeiras Impressões Sobre Projeto de Extensão em Ambiente Acadêmico Habib, Antonio Henrique1. Gondim, Vanderley2. Resumo 32 A preocupação ambiental instigou a vontade de conhecer a experiência de uma instituição de ensino superior do sertão pernambucano que vem desenvolvendo um projeto de extensão, cujo objetivo está pautado na possibilidade de difusão do conhecimento sobre lixo eletrônico de informática, problematizando os modos para redução dos impactos desses resíduos no meio ambiente e na saúde da população. O presente trabalho propõe-se a colaborar com o conhecimento sobre o lixo eletrônico de informática, alinhado à possibilidade de gerenciamento sustentável e, portanto, com efeitos positivos do ponto de vista social e econômico. Trata-se, pois, de um estudo de caso, no qual a ação de extensão acadêmica transita entre a coleta de lixo eletrônico de informática e a qualificação profissional para reciclagem desses resíduos, articulada ao programa de inclusão digital, destinado aos jovens, adolescentes e adultos de bairros periféricos. A principal âncora teórica deste estudo é a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, instituída pela Lei nº 12.305/2010, que apresenta como pano de fundo a ideia de responsabilidade compartilhada – governos, indústrias, revendedores, consumidores, catadores e recicladores – para preservação do meio ambiente e proteção às pessoas em relação aos possíveis danos provocados pelo tratamento inadequado dos resíduos eletroeletrônicos. Observou-se que o projeto permitiu aos participantes a compreensão da cadeia de transformação de lixo eletrônico de informática ao tempo em que se indicou a necessidade de inclusão desse eixo temático no currículo acadêmico do curso de Ciências da Computação da Instituição. Palavras-chave: Lixo eletrônico de informática; Política Nacional de Resíduos Sólidos; Sustentabilidade; Projeto de Extensão. Abstract Environmental concern prompted the desire to know the experience of an institution of higher education in Pernambuco hinterland that has been developing an extension project which objective is founded on the possibility of dissemination of knowledge on waste electronic computer, discussing ways to reduce its impacts on the environment and population health. The present work proposes to collaborate with knowledge about e-waste computer aligned with the possibility of sustainable management and, therefore, with positive effects in social and economic terms. It is, consequently, a case study, in which the action of academic extension transits between collecting junk computer and the qualification for recycling these wastes hinged to a digital inclusion program for youth, teens and adults of peripherals neighborhoods. The theoretical anchor of this study is the National Solid Waste Policy - PNRS established by Law No. 12,305 / 2010, which has as its background the idea of shared responsibility - governments, industry, retailers, consumers, collectors and recyclers - to preserve the environment and protect people against the possible damage caused by improper handling of electronic waste. It was observed that the project allowed the participants to understand the transformation process of junk computer, which indicated the need for inclusion of this thematic axis in the academic curriculum of the Computer Science Institution chain. Key - words: Computer Eletronic Waste; National Solid Waste Policy; Sustainability; Extension Project. 1 Mestrando em Gestão da Tecnologia Ambiental pelo Programa de Pós-graduação do Instituto de Tecnologia Ambiental – ITEP. Professor de Administração de Empresas e Diretor Acadêmico da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE. Bacharel em Administração pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE. Doutorando em Informática pela Universidade de Évora, Especialista em Tecnologia Educacional, Sistemas de Informação e Redes e Segurança da Informação, Professor do Curso de Ciências da Computação, Coordenador dos Projetos de Inclusão Digital e Reciclagem de Lixo Eletrônico na Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – FACAPE. 2 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO 1 | Introdução No processo de aceleração da inovação tecnológica definido pelas exigências da lógica de fortalecimento do modelo econômico, merece particular análise a introdução de novas tecnologias nos equipamentos de informática e das telecomunicações, indutores, em boa medida, do consumo desenfreado, gerado tanto pela obsolescência da funcionalidade do equipamento quanto pelo estímulo das mídias. Nesse sentido, Casa Grande Jr. (2014) afirma que a inovação tecnológica é elemento gerador de mudanças que não se relaciona apenas com questões de ordem técnico-científica, mas está implicada também nas dimensões de natureza política, econômica e sociocultural, compreendendo-se assim que o uso de novas tecnologias contribui para a representação social e inclusão do sujeito. 33 Ressalte-se que a introdução de novas tecnologias tem maior impacto nos equipamentos de informática e telecomunicações, determinando um ciclo de atualização mais curto a tais equipamentos. Quando em desuso e com descarte inadequado, esses equipamentos constituem resíduos sólidos, de significativa periculosidade às pessoas e ao meio ambiente. São os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEEs), também denominados Resíduos Eletroeletrônicos (REEs), Resíduos Tecnológicos, e-resíduos ou popularmente lixo eletrônico. “Lixo eletrônico é o nome dado aos resíduos da rápida obsolescência de equipamentos eletrônicos, que incluem computadores e eletrodomésticos, entre outros dispositivos. Tais resíduos, descartados em lixões, constituem-se num sério risco para o meio ambiente, pois possuem em sua composição metais pesados altamente tóxicos, como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo. Em contato com o solo, esses metais contaminam o lençol freático e, se queimados, poluem o ar além de prejudicar a saúde dos catadores que sobrevivem da venda de materiais coletados em lixões.” (GUERIN, 2008, p.1). Essa advertência de Guerin (2008) esclarece que o mau gerenciamento do descarte de REEE expõe as pessoas que lidam com esses resíduos ao risco de contaminação de metais pesados gerando efeitos danosos à saúde. Ao mesmo tempo, o depósito desses resíduos diretamente na natureza, mesmo em aterros sanitários, pode contaminar os lençóis freáticos e subterrâneos, apresentando consequências negativas para o ambiente como um todo. Santos et al. (2014) informam que a literatura internacional sobre REEE dispõe de grande diversidade de pesquisas e destacam que - os estudos recentes têm direcionado seus esforços, principalmente, para três grandes áreas: (i) a situação corrente dos REEE e suas cadeias reversas em diferentes locais/países (ONGONDO; WILLIAMS, 2011; GOMES; BARBOSA-POVOA; NOVAIS, 2011); (ii) relacionadas ao fluxo internacional de REEE e, em especial, referentes às práticas informais de reciclagem desses resíduos em países asiáticos e africanos (WANG; REUTER, 2011; ONGONDO; WILLIAMS; CHERRETT, 2011) e (iii) pesquisas sobre novas técnicas e procedimentos de reciclagem (TUNESI, 2011) nessa linha de pesquisa, no plano nacional, destacam-se os recentes trabalhos de (KASPER et al., 2011) e (VEIT et al., 2009)”. As pesquisas sobre procedimentos e técnicas de reciclagem são relevantes à medida que a produção do lixo eletrônico, segundo o Greenpeace (2012), representa 5% de toda a produção municipal de resíduos sólidos em todo o mundo. Segundo a mesma fonte, esse fato se alia ao consumismo, pelo qual, muitas vezes, as pessoas trocam seus aparelhos eletrônicos por novos exemplares ao surgir, no mercado, equipamento com tecnologia mais avançada. Diante dessas considerações e ancorada em Miguez (2010), a contribuição da logística reversa, entendida como proposta empresarial, cuida tanto da preservação e defesa do meio ambiente e saúde da população quanto da geração de negócios. Miguez (2010) evidencia casos de organizações atuantes no setor eletroeletrônico que obtêm benefícios ambientais e financeiros com a utilização de processos de logística reversa. Contudo, os produtos de inovação tecnológica têm ritmo de criação e produção mais acelerado que os processos produtivos realizados pela logística reversa. Essa constatação aponta para a criação de uma lógica empresarial, instituída sob novo paradigma produtivo, ou seja, um paradigma fundado na visão de um sistema ecossustentável. A compreensão da densidade desse problema resultou no desenvolvimento de um projeto de extensão em uma instituição de ensino superior do Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 sertão pernambucano, cujo objetivo está pautado na possibilidade de colaborar na difusão do conhecimento sobre resíduos eletroeletrônicos e problematizar os modos irregulares do descarte desses resíduos. O projeto é pertinente do ponto de vista social e científico, à medida que, na sequência de desenvolvimento das ações, pode contribuir com o poder público local para gestão apropriada do lixo eletrônico de informática, produzido na cidade. 2 | Fundamentação Teórica 34 No contexto do desenvolvimento sustentável, especificamente no que se refere aos cuidados com o meio ambiente, a Constituição Federal de 1988, Cap. VI, Art. 225 estabelece os princípios fundantes da política ambiental brasileira. Ao longo desses últimos 25 anos, essa política vem procedendo a mudanças nos instrumentos legais que regulam as intervenções antrópicas no meio ambiente, em todo o território nacional. Para efeito deste trabalho, no que tange à legislação brasileira, é suficiente referir a Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, merecendo leitura preliminar: Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. § 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. Ao explicitar a responsabilidade dos geradores e do poder público sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos e ainda assinalar a observância da lei por pessoas, físicas ou jurídicas, que sejam responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos, a PNRS se ancora na ideia de responsabilidade compartilhada; co-responsabiliza, pois, todos os segmentos sociais – governos, indústrias, revendedores, consumidores, catadores e recicladores – na preservação do meio ambiente e na proteção às pessoas dos danos advindos do tratamento inadequado dos resíduos sólidos (TAVARES, 2010). aqueles resíduos que produziram ou consumiram. Em termos gerais, essa Lei determina que fabricantes e distribuidores de diversos produtos industrializados, como agrotóxicos, pilhas, baterias, óleos lubrificantes, equipamentos de tecnologia, dentre outros, implementem ações de logística reversa. Convém ressaltar que a mencionada Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu que o mês de agosto de 2014 seria o prazo limite para extinção dos lixões a céu aberto em todo o território brasileiro bem como aterros sanitários para despejo de qualquer tipo de resíduo que seja passível de reciclagem ou reutilização. Além disso, a PNRS também inspira uma mudança nos padrões de consumo, já que um dos pilares é a ideia de não produção de resíduos, sem se restringir, apenas, àquilo que já foi ou será descartado. Miguez (2010), comentando o texto da PNRS, destaca que é de responsabilidade dos Municípios e do Distrito Federal a gestão dos resíduos sólidos, gerados em seus territórios. Segundo o autor, as instâncias federativas devem ter acesso aos recursos da União para elaboração do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, o qual deve mapear a situação dos resíduos sólidos em seu território, identificar locais para disposição final adequada, elaborar indicadores de avaliação do impacto social, econômico e ambiental e, ainda, exercitar uma política apropriada ao tratamento desses resíduos. Cabe assinalar, também, que a PNRS atribui ao gerador do resíduo sólido a responsabilidade de acondicionar, disponibilizar para coleta ou coletar, dar tratamento e disposição final ambientalmente adequada aos rejeitos por si produzidos, mesmo que a ação de tais procedimentos seja desenvolvida por empresa especialmente contratada para tal fim. A PNRS dá destaque à logística reversa, afirmando que ela tem por objetivo promover ações para garantir que o fluxo de resíduos sólidos seja direcionado para a sua própria cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas. Em complemento, a logística reversa deve reduzir a poluição e o desperdício de materiais, incentivar a utilização de insumos que não degradem o meio Nessa ordem, todos têm de fazer algo por ambiente e desenvolver estratégias de sustenta- Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO bilidade que unam os interesses econômicos, ambientais, sociais, culturais e políticos. Nesse sentido, cabe destacar, dentre os princípios definidos pela PNRS: 1. O reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania; 2. O desenvolvimento sustentável; 35 sionarem a criação de empresas de reciclagem, instalam, no mercado, a vertente de produtos de segunda mão a preço acessível, atendendo um nicho particular de consumidores de equipamentos eletrônicos que não têm poder de compra do equipamento novo. Ademais, Natume et al. (2011), citando Rodrigues (2003), ressaltam a quantidade de televisores, rádios, celulares, eletrodomésticos portáteis, todos os aparelhos de microinformática, DVDs, luminárias fluorescentes, brinquedos eletrônicos e milhares de outros produtos tecnologicamente ultrapassados, com ciclo de vida cada vez mais curto, assinalando que isso acarreta crescimento no volume de lixo eletrônico. 3. A visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública. Na linha desses princípios, merece transcrição o texto de Kahhat, Williams, 2009, No sentido do desenvolvimento sustentável, citado por Santos et al., 2014. cabe considerar a visão de Motta (2010), segun“Em relação aos impactos sociais, Labuschag- do o qual as empresas devem perceber a parceria ne, Brent e Claasen (2005) e Sarkis, Helms e Hervani (2010) mencionam a geração de emprego decorrente entre a logística reversa e a sustentabilidade como das atividades de coleta e reciclagem dos REEE. Para estratégia para aumentar a lucratividade dos neTong e Wang (2004), a reutilização e a reciclagem de gócios, bem como para se posicionar, estrategium computador representam uma fonte de emprego nos países em desenvolvimento, principalmente para camente, numa realidade que vem impulsionanaqueles trabalhadores que estão à margem do merca- do mudança de paradigma na concepção de vida. do formal de trabalho. Ao reutilizar um computador, por exemplo, ocorre a geração de emprego na indús- Pode-se dizer que o Brasil, ao propor o exercício tria de remanufatura, além de atenuar a exclusão di- de uma política nacional para os resíduos sólidos, gital em comunidades de baixa renda, por aumentar a acessibilidade a computadores com preços acessí- traz à prática um recorte dos múltiplos discursos veis. Outro impacto mencionado na literatura é a do- contemporâneos sobre sustentabilidade. ação de REEE para entidades sem fins lucrativos e organizações de ensino.” (KAHHAT; WILLIAMS, 2009). Importa considerar que está na ordem do dia a discussão de um novo padrão de desenvolviConsiderando as afirmações dos pesquisadores acima nomeados, entende-se que os be- mento que vai além da lógica econômica do crescinefícios econômicos dos REEE, além de impul- mento, em benefício da lógica da sustentabilidade; Tabela 1.Gráfico 1: Volume de lixo eletrônico entre países emergentes.Fonte: http://www.estadao.com.br Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 abandona-se, pois, o conceito ortodoxo de desenvolvimento econômico e passam-se a utilizar as expressões desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentável. 36 informática. Assim sendo, esse espaço constituiu-se como o lócus da pesquisa empírica, segundo o paradigma do estudo de caso numa abordagem qualitativa. Segundo Macêdo (2000), a experiência direta é, sem dúvida, o melhor “teste de verificaAssinala Bruseke (1998) que Maurice Strong, ção” da ocorrência de determinado fenômeno. Fazem 1973, cunhou a expressão ecodesenvolvimen- -se necessário frisar que o processo de observação to, cujo conceito vem a ser tratado por Ignacy Sa- num estudo de caso não se consubstancia em um chs, em 1996, para caracterizar uma concepção ato mecânico de registro das ocorrências presende desenvolvimento que incorpora as dimensões tes ou anteriores ao estudo. Privilegia-se o olhar sociais e ambientais, tecendo uma crítica à socie- senso-analítico do pesquisador no processo de codade industrial e, portanto, à lógica do desenvol- leta de informações e na ação investigativa sobre vimento econômico. Na perspectiva da teoria dos detalhes da prática cotidiana das pessoas no desistemas, Capra (1996) entende que o desenvolvi- senvolvimento do projeto (MACÊDO, 2000). mento sustentável funda-se numa concepção sistêmica da vida. Segundo esse autor, o mundo deve Na escuta dos gestores da época, foi declaraser compreendido pelas relações de integração e do que o desenvolvimento do projeto de extensão interdependência entre todos os fenômenos – eco- em tela tornou-se necessário à medida que equilógicos, sociais e econômicos – numa complexa vi- pamentos dos laboratórios de informática, por são de totalidade; portanto, qualquer intervenção obsolescência, foram substituídos por equipamenem uma espécie de ser impacta, de algum modo e tos novos com melhor qualificação tecnológica. A em algum momento, todos os demais. quantidade de equipamentos em desuso ocasionou o problema de um estoque inativo, elevanOs princípios declarados na Lei 12.305, de do as discussões sobre diferentes aspectos legais agosto de 2010 que instituem a PNRS apresentam para doação a instituições filantrópicas em face certa aderência ao pensamento dos pesquisado- dos procedimentos administrativos aos quais os res mencionados e de outros na mesma ordem de órgãos públicos estão submetidos. Esse foi nosso ideia, à medida que se propõe proteger a vida no e primeiro registro no caderno de campo. do ambiente natural. A divergência de pensamento sobre as formas administrativas para liberação desses equipa3 | Materiais e Métodos mentos instigou um grupo de servidores vinculados, direta ou indiretamente, à área de tecnologia, 3.1 | O desafio da reciclagem de lixo a iniciar discussões voltadas ao destino correto eletrônico de informática: estudo de desses equipamentos. Dentre as considerações do grupo, foi vista a possibilidade de ampliar a qualicaso A pesquisa de campo foi realizada na Facul- ficação profissional dos participantes do curso de dade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina inclusão digital, habilitando-os, também, à reali– FACAPE, uma instituição de ensino superior no zação de pequenos reparos nos equipamentos em sertão pernambucano, que iniciou, em 2012, um desuso. Tal medida obrigou a instituição a instalar projeto de extensão destinado ao estudo e des- uma pequena oficina para reciclagem dos equipacarte apropriado de equipamentos eletrônicos de mentos – na expressão dos estudantes: “de dois Figura 1. Doações recebidas pelo Projeto de Reciclagem de Lixo Eletrônico. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO equipamentos a gente faz um”. Os gestores informaram, ainda, que o Projeto iniciou com 101 equipamentos em desuso, liberados pela própria Instituição, sendo 98 computadores de mesa e três impressoras modelo HP. Superados os entraves administrativos, os equipamentos reciclados foram doados às instituições filantrópicas e associações de bairro, contribuindo para a realização de cursos de inclusão digital na base da comunidade, atendendo jovens, adolescentes, adultos e pessoas da terceira idade; estas, em sua maioria, participantes de projeto de extensão específico. 4 | Análises e discussão dos resultados Os resultados apresentados neste artigo apoiam-se na análise dos processos observados na implementação do projeto de extensão universitária, que se propôs a reaproveitar o lixo eletrônico produzido na própria instituição, além daqueles doados pela sociedade local e das cidades circunvizinhas. O estudo bibliográfico alinhado à observação da experiência sobre a reciclagem de lixo eletrônico na FACAPE possibilitou aos pesquisadores, de um lado, aproximar-se da base teórica, que demonstra os riscos ambientais causados pelo descarte inapropriado dos resíduos eletroeletrônicos Para destinar o descarte adequado desses e, de outro, conhecer uma prática coletiva, orienresíduos, o grupo gestor do projeto articulou-se tada no sentido de imprimir uma dimensão social com empresas coletoras de lixo eletrônico existenao reaproveitamento de material eletrônico de intes na cidade e que procedem à coleta sempre que formática. solicitadas. Para Santos et al. (2014), os REEE também Os dados fornecidos pela Coordenação de têm reflexos sob o ponto de vista social e econômiExtensão assinalam que o projeto teve início em co, pois, ao receberem um descarte correto, podem março de 2012, contando, à época, com a particigerar elevado valor econômico por serem compospação voluntária de seis estudantes do curso de tos de metais nobres como ouro, prata, bronze, coCiências da Computação e oito jovens de bairros, bre e paládio. residentes na periferia da cidade que haviam participado do projeto de extensão de inclusão digital, Aspecto importante a ser considerado é que com duração de seis meses e carga horária sema- o Projeto de Reciclagem da FACAPE apenas reanal de 20 horas/aulas. proveita os componentes que ainda têm vida útil; os componentes danificados, inaproveitáveis são Os estudantes coletam o lixo eletrônico de inenviados a uma empresa terceira, que remete o formática junto com as empresas e a comunidade, material para outras empresas do ramo, sediaregistram o acervo de doações, fazem a triagem, das na capital. Essa logística implica custo elevaprocedem à recuperação dos componentes, mondo, considerando-se o processo da coleta inicial, a Contudo, esse sentimento de vitória gerou outro problema: o que fazer com os resíduos inaproveitáveis nas condições de produção instaladas na Instituição. 37 tam os computadores reciclados, instalam softwares livres e promovem as doações. Figura 2.Figura 2: Alunos do Curso de Ciência da Computação participam do projeto de Reciclagem de Lixo Eletrônico, coletando, recuperando e promovendo doações de componentes de informática. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 recuperação e o reaproveitamento, até a remessa para empresas que processam os componentes inaproveitáveis. O custo relativo ao processamento do lixo eletrônico de informática é assumido pela Instituição; o referente a transporte e reprocessamento dos resíduos descartados é, obviamente, assumido pela empresa receptora. Considerando que os componentes eletrônicos recondicionados retornam ao mercado, tal procedimento se constitui nicho de negócios. 38 Após todos os processos de recuperação dos REEEs, os alunos, junto com os servidores da Instituição envolvidos com o projeto, procedem ao cadastro de instituições requerentes e fazem a doação dos equipamentos. Ciente de que o simples ato de doar equipamentos recondicionados por si só não produziria o resultado proposto, o coordenador do projeto decidiu oferecer aos receptores dos equipamentos reaproveitados cursos de inclusão digital ministrados pelos estudantes bolsitas do curso de Ciência da Computação, selecionados para atuação como monitores no projeto de inclusão digital, destinados, prioritariamente, a estudantes de escolas públicas da periferia e a pessoas da terceira idade. Os equipamentos doados às instituições comunitárias permitem que os cursos sejam realizados na própria comunidade. econômico. Na mesma direção, Capra (1996) ajuda a compreender a condição de dilapidação de recursos naturais não renováveis, utilizados em larga escala na produção de equipamentos eletroeletrônicos, com destaque a fabricação de computadores. Nessa linha de pensamento, o primeiro grande impacto dos eletroeletrônicos na natureza não é o seu descarte, mas sim, a extração da matéria prima não renovável, necessária à sua fabricação. Entretanto, é possível observar que os princípios declarados na Lei 12.305, de agosto de 2010, que institui a PNRS, pode ser vista na perspectiva de Elkington (1998), na medida em que cuida do descarte adequado e produtivo dos resíduos dos eletroeletrônicos. Nesse sentido, o projeto de Reciclagem do Lixo Eletro Eletrônico da FACAPE coaduna-se com os conceitos da TBL, quando atua na dimensão social e ambiental, promovendo o reaproveitamento dos equipamentos que estão em condições de uso, fortalecido pelo projeto de inclusão digital e também quando atua na dimensão econômica, recuperando o valor monetário com o repasse dos equipamentos inutilizados para terceiros, especializados em reciclagem de REEE, possibilitando a geração de emprego e renda. Como resultado alcançado, no período 2012/13, o projeto recondicionou 498 computadores, 38 impressoras e qualificou, em inclusão digital e reciclagem de lixo eletrônico de informática, 100 jovens de bairros da periferia, além de 13 adultos da terceira idade. Podemos considerar esses números inexpressivos diante do volume de lixo eletrônico gerado por ano na cidade, mas torna imperativa a continuidade do projeto e, acima “Os REEE também têm reflexos sob o ponto de tudo, a participação dos cidadãos, das emprede vista social e econômico, pois, ao receberem um descarte correto, podem gerar elevado valor econô- sas e instituições governamentais no sentido de mico, por serem compostos de metais nobres como reduzir o consumo desenfreado de produtos de ouro, prata, bronze, cobre e paládio. Com isso, ao estabelecer um adequado gerenciamento dos REEE, tecnologia, utilizar essa tecnologia durante o seu existe a possibilidade de geração de ganhos nas três ciclo de vida e promover o seu descarte de forma dimensões do TBL, tendo em vista que, na dimensão ambiental, a natureza é resguardada da ação dos pro- correta. De acordo com Santos et al. (apud ELKINGTON, 1998), o reaproveitamento dos REEE justifica os conceitos do Triple Bottom Line (TBL) propostos por Elkington (1998), legitimando a análise dos impactos gerados pelas organizações nas dimensões ambiental, social e econômica. Referido autor tem aderência aos conceitos do TBL, quando afirma: dutos tóxicos e químicos.” Contudo, o TBL, desenhado por Elkington (1998), não guarda expressiva aproximação com o pensamento de Ignacy Sachs (1996), à medida que o ecodesenvolvimento incorpora as dimensões sociais e ambientais, articulando crítica à sociedade industrial e, portanto, à lógica do desenvolvimento Ações como essa são importantes sob todos os aspectos. Tendo como ponto de partida a academia, é possível criar e disseminar a cultura da preservação ambiental, consciência ecológica e inclusão a todos os envolvidos. Cabe, portanto, às empresas do setor investi- Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 rem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos inovadores e atrativos, derivados do processo de reciclagem, de modo a conquistar nova fatia de mercado. Não é demais registrar o movimento mundial sobre a preservação do meio ambiente e as questões relativas à saúde humana. Essa é a pedra de toque. 5 | Considerações Finais Na expectativa de colaborar com a difusão do conhecimento sobre o lixo eletrônico de informática alinhado à possibilidade de gerenciamento sustentável e, portanto, com efeitos positivos do ponto de vista social e econômico, este artigo se propôs a analisar o projeto de extensão de reciclagem de lixo eletrônico, desenvolvido no ambiente acadêmico da FACAPE. 39 O exemplo dessa Instituição, base empírica do estudo, contribui para instigar outras instituições de educação a, errando e acertando, perseguirem o mesmo objetivo. Além disso, consigna-se o mérito da capilaridade do projeto, à medida que atravessa os limites do ambiente acadêmico e se estende à base comunitária em bairros da periferia; de um lado, gera profissionalização e de outro, contribui para a formação de uma consciência coletiva sobre os riscos do descarte de resíduos eletroeletrônicos. À guisa de fechamento, fica a sugestão para que a qualificação em reciclagem de lixo eletrônico integre o currículo dos cursos de graduação em Ciências da Computação; quiçá, via ingerência junto com os Conselhos Estaduais de Educação. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 RECICLAGEM DE LIXO ELETRÔNICO: PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE PROJETO DE EXTENSÃO EM AMBIENTE ACADÊMICO Referências BRASIL. Constituição Federal. Capítulo VI (Art. 225), 1988. BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, DF, 3 ago. 2010. BRUSEKE, F. In. CAVALCANTI, Clóvis. (org). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. Cortez, São Paulo, 1998. CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. Cultrix, São Paulo, 1996. CASAGRANDE Jr, E. F. Inovação Tecnológica e Sustentabilidade: possíveis ferramentas para uma necessária inferface. Revista Educação & Tecnologia. Periódico Técnico Científico dos Programas de Pós-Graduação em Tecnologia dos CEFETs-PR/MG/RJ, 2014. CERVO A. L., BERVIAN P. A., Metodologia Científica. Prentice Hall, São Paulo, 2002. 40 ESTADÃO. Brasil é o campeão do lixo eletrônico entre emergentes. Disponível em: http://www.estadao.com. br/noticias/vidae,brasil-e-o-campeao-do-lixo-eletronico-entre-emergentes,514495,0.htm. Acesso em: 10 de maio de 2014. GREENPEACE. Elas precisam fazer mais. Disponível em: http//:www.greenpeace.org/brasil/pt/notícias/fabricantes-de-eletronicos-ainda-precisameliminar-a-energia-suja-de-sua-cadeia-de-suprimentos-/. Acesso em: 27 de abril de 2014. MACEDO, R.S. A Enopesquisa Crítica e Multirreferencial nas Ciências Humanas. EDUFBA, Salvador, Ba., 2000. MIGUEZ, E. C., Logística Reversa como Solução para o Problema do Lixo Eletrônico: Benefícios Ambientais e Financeiros. Editora; Qualitymark, Edição; 1, Rio de Janeiro, 2010. MOTTA, M. Revista Gerenciamento Ambiental, ano 4, nº 19, março/abril, 2002. NATUME, R. Y. e SANT´ANNA. F. S. P. Resíduos Eletroeletrônicos: Um Desafio para o Desenvolvimento Sustentável e a Nova Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Cleaner Production Initiatives and Challenges for a Sustainable World” São Paulo, 2011. SANTOS C. A. F., NASCIMENTO L. F. M., NEUTZLING D. M. A Gestão dos Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) e as Consequências para a Sustentabilidade: As Práticas de Descarte dos Usuários Organizacionais. Revista Capital Científico – Eletrônica (RCCe) Vol. 12 n.1, 2014. TAVARES A. S., FERREIRA, F. P. A. & TORRES P. M. A. et al. Design e lixo eletrônico: possibilidade de reaproveitamento de componentes eletrônicos, Anais do 2° Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (II SBDS), 2010. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 32–40, mar, 2015 Projeto para Implantação de um Centro de Reciclagem e Reuso de Equipamentos Eletroeletrônicos Ferreira, Thiago1. Co-autor: Campello, Sérgio2 . Resumo A sociedade brasileira necessita voltar sua atenção para os problemas causados pelo lixo eletroeletrônico e os indesejáveis impactos causados pelo descarte indevido desse material nos aterros sanitários. Quando descartados de maneira inadequada, esses equipamentos, por possuírem metais pesados, podem poluir o meio ambiente e contaminar pessoas e animais. O principal objetivo deste estudo é descrever um projeto conceitual para instalação de um centro de reuso e reciclagem de produtos eletroeletrônicos, realizado na Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco. O centro servirá para reforçar o compromisso estratégico da universidade com o desenvolvimento sustentável por meio de uma ação concreta e de grande potencial de visibilidade por parte da sociedade. Além de diminuir os impactos ambientais, as atividades desse centro serão capazes de gerar melhorias sócio-econômicas mediante as parcerias que podem ser firmadas com instituições públicas ou privadas e com associações de catadores de lixo. Neste estudo, são analisadas sucintamente as tendências contemporâneas em relação ao tratamento do lixo eletroeletrônico assim como o potencial de captação e tratamento desse material por meio da Escola Politécnica de Pernambuco. Palavras-chave: Lixo Eletrônico; Reuso; Reciclagem; Desenvolvimento Sustentável; REE; REEE. 41 Abstract The Brazilian society needs to turn its attention to the problems caused by the electronic waste and the undesirable environmental impacts caused by the improper disposal of this material in landfills. Once they have heavy metals, these equipments can pollute the environment contaminating people and animals when improperly disposed. The main objective of this study is to describe a conceptual design for the installation of a reuse and recycling center of electrical and electronic products made by the Polytechnic School of the University of Pernambuco. The center will serve to strengthen the strategic commitment of the university with the sustainable development through concrete actions and great visibility by the society. In addition, to reduce environmental impacts, the activities of this center will be able to generate socio-economic improvements through partnerships that can be established with public and private institutions and with associations of waste pickers as well. This study analyzes the contemporary tendencies related to waste disposal of electro-electronic materials as well as the potential for capture and treatment of this material by the Polytechnic School of Pernambuco. Key - words: Electronic Waste; Reuse; Recycling; Sustainable Development; WEE; WEEE. [email protected] (UPE) 1 2 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS 1 | Introdução 42 O grande uso dos recursos naturais por parte da atividade industrial não está mais sendo compensado pelo crescimento natural desses recursos, o que levaria a uma situação insustentável. Visando proteger os recursos naturais e preservar o meio ambiente, atividades, como reciclagem, downcycling (recuperação de um material para reuso em um produto com menor valor) e upcycling (forma de recuperação capaz de converter os resíduos em novos materiais ou produtos com maior valor agregado, qualidade e valor ambiental), estão, cada vez mais, sendo utilizadas como um verdadeiro canal logístico reverso e de revalorização. Incluem-se, nesse rol, os materiais utilizados originalmente na fabricação dos produtos eletroeletrônicos e que são comumente descartados sem nenhum tratamento nos aterros sanitários e lixões, formando o lixo eletrônico e poluindo o solo, o ar e o lençol freático (BRÜSEKE, 1994; FERREIRA E FERREIRA, 2008; GUARNIERI, 2011). De acordo com relatório Recycling - From E-Waste to Resources, divulgado em 2009 pelo Pnuma (2009) (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), a estimativa é de que 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas por ano, em todo o mundo. O Brasil contribui com 96,8 mil toneladas de PCs, e cada brasileiro é responsável por descartar o equivalente a meio quilo por ano. O volume é alto quando comparado a outros países emergentes como a China que, com uma população bem maior, possui uma taxa per capita de descarte de 0,23 quilos contra 0,1 quilos da Índia. Cada brasileiro também ésponsável por descartar 0,7 quilos de TVs por ano, ou seja, um volume total de 135,5 mil toneladas. Considerando o descarte anual de celulares, o Brasil gera 2,2 mil toneladas de lixo. O relatório ainda conclui que o Brasil é o mercado emergente, que gera o maior volume de lixo eletrônico per capita a cada ano. Estudos, como os de Carvalho (2009); Finco e Brasil (2010); Ferreira e Ferreira (2008), demonstram que o potencial de reaproveitamento do lixo eletrônico é alto. No entanto, o processo de reaproveitamento, que pode viabilizar a transformação desse tipo de resíduo em matérias-primas secundárias ou recicladas a serem utilizadas na remanufatura, ou mesmo na fabricação de novos produtos, deve contemplar várias etapas – coleta, seleção e preparação, reciclagem industrial e, por fim, reintegração ao ciclo produtivo. Essas etapas necessitam de planejamento minucioso, em que se atente para que o custo total de obtenção desses componentes não exceda o custo de aquisição de componentes novos. Como ocorre em outros processos de manufatura, a formação de parcerias entre organizações públicas, privadas e do terceiro setor pode criar sinergias para agregar valor nas diversas fases desse processo de logística reversa (GUARNIERI, 2011). 1.1 | O lixo eletrônico e os problemas ambientais Hoje, é perceptível que há um consenso na sociedade acerca dos impactos negativos causados pelo simples descarte do lixo eletroeletrônico nos aterros sanitários, em virtude, principalmente, da presença de metais pesados, utilizados em boa parte dos componentes dos aparelhos eletroeletrônicos. Na composição desses materiais, existem diversas substâncias perigosas para a saúde dos seres humanos, bem como para outras espécies da flora e da fauna. Metais pesados, como chumbo, mercúrio, cádmio e muitos outros, podem causar vários tipos de patologias e levar os indivíduos até a morte por envenenamento, nos casos mais extremos. A Tabela 1 mostra a quantidade utilizada, o potencial de reciclagem e os danos que podem causar à saúde humana nos casos de contaminação (ANDRADE, OLIVEIRA E CAMPELLO, 2011; FINCO E BRASIL, 2010; SELIGER, KERNBAUM E ZETTL, 2006). 1.2 | O ciclo de vida dos produtos eletroeletrônicos A pujante indústria eletroeletrônica mundial não para de crescer, mesmo diante das crises internacionais. A cada dia, a melhoria dos processos – projeto, logística, produção, distribuição - e o desenvolvimento de novas tecnologias tornam os aparelhos eletroeletrônicos mais baratos e, portanto, acessíveis a praticamente todas as camadas sociais. Os novos equipamentos são mais eficientes e eficazes que os modelos antigos, o que torna esses últimos economicamente inviáveis de serem mantidos. Isso causa uma série de outros problemas, como a diminuição do ciclo de vida dos produtos Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 Tabela 1. Principais Metais Presentes nos Computadores 43 1 A medida m/m significa massa de soluto por massa de solução. % (m/m) corresponde a uma unidade de concentração da solução, o “m/m” significa que esta concentração corresponde à MASSA de soluto por MASSA de solução. No caso do alumínio, por exemplo, significa que, a cada 100 gramas de solução, existem 14,17 gramas de alumínio. e, também, o aumento do descarte desses equipa- nação de múltiplas tecnologias nos circuitos intementos (CARVALHO, 2009; FERREIRA E FERREIRA, grados (evolução tecnológica). R. A. Bergamaschi e J. Cohn (2002), citados por Ost (2004), afirmam que 2008; FINCO E BRASIL, 2010). a relação entre o tempo decorrido, desde o lançaPara Ost (2004), há uma tendência de redu- mento do produto no mercado, e a quantidade do ção no ciclo de vida dos produtos eletroeletrônicos, produto que foi comercializada pode demonstrar provocada pela combinação de dois fenômenos – a o encurtamento do ciclo de vida dos produtos elediminuição do tempo de lançamento dos produtos troeletrônicos. A Figura 1 ilustra essa relação para no mercado (time-to-market) e a prática de combi- alguns produtos. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS Figura 1.Tempo de Lançamento x Volume de Vendas de Produtos Eletroeletrônicos. Fonte: BERGAMASCHI E COHN (2002) apud OST (2004). 44 Vale considerar, no estudo realizado por R. A. Bergamaschi e J. Cohn (2002), que o fator tempo - decorrido até o alcance da marca de um milhão de unidades vendidas – também foi influenciado por outros fatores, dentre eles o aumento da produtividade, a redução dos preços provocada pela curva de experiência e pelos ganhos de escala, bem como da melhoria do nível de renda da população mundial. 1.3 | Reciclagem e reuso de produtos eletroeletrônicos Atualmente, novas técnicas de projetos de produtos e serviços têm sido usadas para o prolongamento do ciclo de vida dos produtos, considerando-se, inclusive, a reciclagem e o reuso desses produtos no futuro. Para amenizar os problemas causados pelo encurtamento do ciclo de vida dos produtos eletroeletrônicos, segundo Stevenson (2001), é possível utilizar métodos de desenvolvimento de projetos voltados para a reciclagem (PVR) e de projetos voltados para a desmontagem (PVD). A cada dia, aumenta o número de fabricantes que estão adotando o conceito de remanufatura em suas áreas de produção. são consumidos atualmente são remanufaturados; dentre eles, podem-se destacar os automóveis, computadores, aparelhos telefônicos, máquinas copiadoras, etc. Essas duas técnicas, PVR e PVD, possibilitam a recolocação de produtos no mercado de remanufaturados, cujo preço médio chega a ser metade do preço de um produto novo como também utilizam mão de obra não especializada ou semiespecializada em seus processos, o que favorece a melhoria da distribuição de renda entre a população. Stevenson (2001) lembra, ainda, que o século XX foi marcado pelo desenvolvimento da linha de montagem e que, muito provavelmente, o século XXI será lembrado como o século da linha de desmontagem. Isso ocorre porque várias empresas de classe mundial, como a Xerox® (2014) e a Kodak® (2014), passaram a projetar seus produtos para que fossem mais fáceis as fases de montagem e desmontagem. Essas empresas perceberam que era possível reaproveitar boa parte dos componentes dos produtos usados para montar novos produtos, e isso faz a remanufatura se transformar numa poderosa ferramenta administrativa para a redução de custos. Muitos A remanufatura é simplesmente a retirada tipos de produtos remanufaturados podem alde componentes, em bom estado, dos produ- cançar um custo total de produção em torno de tos usados para uma posterior reutilização em 45% a 60% mais barato que o de um produto produtos novos. Essa é uma atividade que tanto novo, sendo essa estratégia cada vez mais copiapode ser realizada pelo próprio fabricante como da pelos concorrentes de todos os portes. por empresas contratadas. Muitos produtos que Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 1.4 | Situação atual do lixo eletrônico na Escola Politécnica de Pernambuco Atualmente, a Escola Politécnica de Pernambuco possui uma iniciativa para o tratamento do lixo eletrônico, gerado dentro do seu próprio ambiente organizacional. Após os levantamentos iniciais deste estudo, foram realizadas entrevistas com os gestores de dois setores da instituição, diretamente responsáveis pelo processamento do lixo eletroeletrônico gerado, a saber: o DTI (Divisão de Tecnologia da Informação), o DOA (Divisão de Operação e Administração). De acordo com as informações coletadas, o tratamento do lixo eletrônico é feito internamente, apenas em equipamentos provenientes de fun- cionários e dos laboratórios. Os equipamentos obsoletos e com defeitos são encaminhados para o DTI, onde passam por uma triagem. Algumas peças ou componentes são separados e guardados em estoque para serem reutilizados em manutenções futuras, conforme mostrado na Figura 2. Os equipamentos recuperados ficam disponíveis para o reuso dentro da própria Universidade. Os equipamentos que não podem ser mais utilizados, cujo desmonte não demonstre ser proveitoso, são doados para empresas envolvidas em iniciativas de reciclagem, como: Hospital do Câncer (2014), CRC Marista (2014) e Trapeiros de Emaús (2014). Vale lembrar que essas entidades também possuem seus próprios meios de triagem e avaliam as possibilidades de reuso, remanufatura, ou mesmo, descarte responsável dos equipamentos. Figura 2. Triagem de equipamentos realizada pelo DTI 45 Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 3.Estoque de equipamentos para doação Fonte: Elaborada pelo autor Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS Antes de serem doados para as instituições, esses resíduos eletrônicos ficam armazenados em uma área já definida dentro da Universidade, conforme mostrado na Figura 3. 46 cânicos. Esses componentes serão testados e, se aprovados, serão utilizados nos macroprocessos de reuso para a confecção de Kits didáticos para treinamento. Os diversos componentes eletrônicos, elétricos ou mecânicos, removidos das sucatas, serão usados para confecção de artefatos para 1.5 | Definição dos macroprocessos a serem desenvolvidos na Escola Politéc- serem utilizados, como ferramenta de treinamento, por estudantes de engenharia e técnicos, pernica de Pernambuco mitindo que se realizem experimentos práticos de Após entender como funciona o atual pro- acordo com os conceitos teóricos abordados em cesso de descarte/reutilização dos equipamentos sala de aula, conforme proposto na pesquisa de eletroeletrônicos na Escola Politécnica de Pernam- Andrade, Oliveira e Campello (2011). buco, foram definidos três principais macroproPor outro lado, o macroprocesso de recicessos (coleta e triagem, reuso, reciclagem) para melhoria da captação e tratamento desse material. clagem considera que as eventuais sobras da desmontagem e separação (plásticos, vidros, O primeiro macroprocesso – coleta e tria- placa de circuitos defeituosa, metais) deverão gem - é a etapa relacionada com a entrada do lixo ser vendidas para empresas de reciclagem que eletrônico no centro. Os equipamentos obsoletos e serão levantadas após os contatos da primeira defeituosos serão recebidos e organizados para a fase desse projeto. Na maioria dos casos, as empróxima atividade. A entrada desses equipamen- presas de reciclagem trabalham com um único tos deverá ser acompanhada por um inventário tipo de material, e, por isso, elas serão contatapara controle e identificação do lixo eletrônico. das de acordo com o tipo de lixo coletado. A reNa triagem, será avaliado o funcionamento dos ciclagem desses materiais possibilita a geração equipamentos recebidos. O objetivo do teste é re- de matéria-prima, que pode ser novamente utilializar uma checagem rápida, apenas para saber se zada pelas indústrias para a produção de outros eles podem ser reutilizados, sem a necessidade de equipamentos eletrônicos. grandes modificações. O macroprocesso de reciclagem possibilita Se o teste for satisfatório, os equipamentos também parcerias com associações e cooperatiou componentes serão reutilizados no macropro- vas de catadores de lixo, trazendo para os envolcesso de reuso para a confecção de PCs remanufa- vidos oportunidades de emprego e geração de turados, que serão encaminhados a ONGs e a pro- renda. Essa atividade demonstra, mais uma vez, jetos sociais. Deverão ser definidas configurações a importância do centro como um elemento de mínimas para esses computadores montados, para transformação social. É importante que os catapermitir que eles ainda desempenhem suas fun- dores sejam treinados para realizar a separação ções com qualidade. De acordo com a Microsoft® dos componentes com segurança, sabendo dos (2014), se for escolhido como sistema operacional riscos associados aos materiais manuseados. o Windows 7, a configuração mínima seria a seVale lembrar que, no Brasil, há alguns guinte: processador de 1 gigahertz (GHz) ou supeanos, não existia possibilidade de reciclar plarior de 32 bits (x86) ou 64 bits (x64); 1 gigabyte (GB) de RAM (32 bits) ou 2 GB de RAM (64 bits); cas de circuito impresso. A maioria das placas 16 GB de espaço em disco disponível (32 bits) ou eram simplesmente incineradas ou jogadas em 20 GB (64 bits); dispositivo gráfico DirectX 9 com aterros sanitários. A solução mais viável era o acúmulo desse tipo de material para posterior driver WDDM 1.0 ou superior. envio a empresas de outros países, especializaCaso os equipamentos não funcionem duran- das nesse tratamento, como a Umicore® (2014). te os testes, será necessário iniciar a desmontagem Hoje, com filial no Brasil, a multinacional possui e a separação dos componentes. Essas ativida- tecnologia metalúrgica inovadora para realizar des resultarão em diversos elementos separados, a correta destinação de placas de circuito imcomo: plástico, vidro, placas de circuito impresso, presso por meio da unidade de refino de metais metais, componentes eletrônicos, elétricos e me- preciosos. Lotes, contendo exclusivamente plaRevista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 cas de circuito impresso ou telefones celulares 2 cujas informações foram obtidas por meio de sem bateria, são recebidos para processamento fontes on-line. na sua planta matriz em Hoboken, Bélgica. Essas organizações serão contactadas para verificar o grau de interesse em firmar um acor1.6 | Projeto conceitual do com a universidade para criação e participaPara elaborar o projeto conceitual do cen- ção efetiva nos diversos processos do centro de tro de reciclagem, faz-se necessário considerar e recolhimento, devendo agir como verdadeiros descrever três fases principais. A primeira delas parceiros e desenvolvendo uma relação de longo é identificar e contatar organizações públicas, prazo que tenha como principal objetivo a efetiprivadas e do terceiro setor que sejam capazes va realização de ações e práticas alinhadas com de agir como parceiros para as fases de recolhi- o desenvolvimento sustentável. mento, avaliação, encaminhamento para reuso, Após a efetivação dos primeiros contatos desmonte para reaproveitamento das peças e Tabela 2. - Organizações que recolhem Lixo Eletrônico em Recife 47 com as organizações citadas, será necessário estabelecer um cronograma de visitas para negociar as diversas formas de atuação dos futuros parceiros. Para organizar esses processos e as tarefas do projeto conceitual, foi escolhida a metodologia PERT-CPM. PERT é a sigla derivada do idioma inglês (program evaluation and review technique), da mesma maneira, CPM é a sigla para (critical path method), também conhecido como método do caComo parte inicial do primeiro processo – minho crítico. Ambas são amplamente utilizadas identificar e contatar organizações públicas, pri- no planejamento e na coordenação de projetos vadas e do terceiro setor – foi elaborada a Tabela (DAVIS, 2001; STEVENSON, 2001). ou descarte do lixo eletrônico. A segunda é referente à coleta e classificação do lixo eletroeletrônico em si, a mensuração do tempo gasto nos diversos processos de desmonte, separação e armazenamento de componentes que podem ser reutilizados. A terceira e última fase é a de avaliação e elaboração da proposta de criação de um centro de recolhimento permanente. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS Tabela 3.Atividades para Determinação do Caminho Crítico/Designação e Estimativas de tempo 48 Ao utilizar o PERT ou o CPM, um gerente pode obter: (1) Um gráfico das atividades do projeto; (2) Uma estimativa do tempo de duração do projeto; (3) Uma indicação de quais atividades são as mais críticas para o término do projeto dentro do prazo e (4) Uma indicação de quanto tempo se pode atrasar uma atividade qualquer sem estender a duração do projeto (STEVENSON, 2001, p.592). Para o primeiro dos processos, naquele referente à pesquisa para identificar e contatar organizações potencialmente parceiras, foram identificadas as atividades (A até C descritas logo adiante). Utilizando-se as prescrições da metodologia PERT-CPM, chegou-se à proposta de sequência de atividades, conforme Tabela 3. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 De acordo com Stevenson (2001), o caminho crítico é a sequência mais longa de atividades conectadas. Para determinar o caminho crítico, faz-se necessário identificar todos os caminhos através da rede e, logo em seguida, calcular seus respectivos tempos de conclusão. O caminho que possuir o maior tempo de conclusão será então o caminho crítico. A Tabela 4 ilustra a determinação do caminho crítico de acordo com a sequência das atividades. 49 uma excelente oportunidade para ocupar espaços na mídia e, consequentemente, vincular a imagem da universidade e da escola às boas práticas de desenvolvimento sustentável e defesa do meio ambiente. É preciso ter em mente que esse projeto é um projeto social e que, diferentemente de projetos de ciências exatas e da natureza, o fator humano certamente é um dos mais críticos. Portanto, as lideranças da Escola Politécnica e da UPE precisam se O caminho A até O, com 29 dias leva mais engajar nesse projeto para que tanto a comunidatempo para conclusão. Consequentemente esse de interna como as diversas parcelas da sociedade, processo, como foi inicialmente previsto, não pode mais diretamente ligadas à universidade, possam ser concluído em menos de 29 dias. Caso fosse de- contribuir, de forma efetiva, para a criação e manusejada a conclusão do processo em menos de 29 tenção desse centro e para a causa ambiental que é dias, uma ou mais atividades do caminho crítico o foco desse projeto. deveriam ser “colididas”, ou mesmo, até aceleraPor fim, caso implantado, o projeto signifidas para atender à data almejada para a conclusão cará a inclusão de um novo conjunto de possibilide todo o processo. dades para a escola, universidade e comunidade. A possibilidade de alunos, professores e funcio1.7 | Resultados esperados e conclusões nários aprenderem novas formas de lidar com o As expectativas em relação aos resultados aumento do lixo eletroeletrônico; a possibilidade da implantação do centro de reciclagem, idealiza- de atrair empresas recicladoras de placas de cirdo pela Escola Politécnica de Pernambuco, variam cuito impresso para instalar suas fábricas no país, desde o ganho de imagem institucional diante tornando o processo de tratamento desse tipo de da sociedade pernambucana, passando pelo ali- lixo mais viável; a possibilidade de minorar a denhamento com as diretrizes de desenvolvimento sigualdade social por meio de doações de equipasustentável preconizadas pela universidade, até a mentos remanufaturados para organizações de sensibilização e a melhoria da consciência da po- apoio e caridade, a possibilidade de sensibilização pulação, no tocante aos problemas relacionados de políticos e de agentes econômicos para a adocom o lixo eletroeletrônico. ção de políticas públicas e de práticas alinhadas com o desenvolvimento sustentável; e, por fim, a Até o presente momento, as ações governapossibilidade de mudar os hábitos de consumo da mentais e do terceiro setor no tocante à reciclasociedade local, conscientizando as pessoas a pragem e ao reuso de equipamentos eletroeletrônicos ticarem formas de consumo responsável que pretêm sido esparsas. Isso pode ser aproveitado como servem o meio ambiente para as gerações futuras. Tabela 4.Determinação do Caminho Crítico Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM CENTRO DE RECICLAGEM E REUSO DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS Referências ANDRADE, Mércio A.O.; OLIVEIRA, Sérgio Campello; CAMPELLO, Michelle M. da C. Barboza Campello; Utilização de kits montados a partir de equipamentos obsoletos ou defeituosos em aulas práticas de engenharia da computação. Anais... XXXIX Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia. Blumenau (SC): COBENGE, 2011. Disponível em: < http://www.cobenge2011.com.br/cobenge/?p=123>. Acesso em: 14 de abril de 2014. ASSOCIAÇÃO DOS TRAPEIROS DE EMAÚS RECIFE. Disponível em: < http://www.emausrecife.org/> Acesso em: 9 de maio de 2014. BERGAMASCHI, R.A.; COHN, J. The A to Z of SoCs. In: International Conference on Computer Aided Design (ICCAD), 2002, pp. 791-798. BRÜSEKE, Franz Josef; A Economia da Sustentabilidade: Princípios – O problema do desenvolvimento sustentável. Recife: INPSO/FUNDAJ, 1994. 50 CARVALHO, Tereza Cristina M. B.; Sustentabilidade de TI; USP; Apresentação ao CONEI; São Paulo: USP, 2009. Disponível em: < http://www.google.com.br/url?sa=t&rct= j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=2&ved=0CFgQFj AB&url=http%3A%2F%2Fwww.conei.sp.gov.br%2Fusp_ tereza_getic_230609.ppt&ei=5ICsT6WBMMWa6QHJqJ2r BA&usg=AFQjCNGjb4nqnKmX3WKDg96AQ5G2FFzOtg>. Acesso em: 02 de maio de 2014. CRC MARISTA DO RECIFE. Disponível em: <http://marista.edu.br/> Acesso em: 9 de maio de 2014. DAVIS, Mark M.; Fundamentos da administração da produção; Porto Alegre: Bookman Editora, 2001. EASTMAN KODAK COMPANY. Disponível em: < http:// www.kodak.com.br/ek/BR/pt/Global_Sustainability/Innovation.htm > Acesso em: 9 de maio de 2014. dows.microsoft.com/pt-br/windows7/products/system-requirements > Acesso em: 9 de maio de 2014. OST, Luciano Copello; Redes intrachip parametrizáveis com interface padrão para síntese em hardware. PUC; Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC, 2004. Disponível em: < http://www.inf.pucrs. br/moraes/my_pubs/dissertacoes/dissertacao_ost.pdf>. Acesso em: 01 de maio de 2014. PNUMA. Sustainable Innovation and Technology Transfer Industrial Sector Studies: Recycling – From E-Waste to Resources, 2009. Disponível em: < http://www.unep.org/ pdf/Recycling_From_e-waste_to_resources.pdf> Acesso em: 9 de maio de 2014. SELIGER, Günther; KERNBAUM, Sebastian; ZETTL, Marco. Remanufacturing approaches contributing to sustainable engineering. Gestão da Produção. São Carlos; v. 13, n. 3, Dec. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X200600030000 2&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 de abril de 2014. STEVENSON, William J. Administração das Operações de Produção. Rio de Janeiro: LTC, 2001. UMICORE. Disponível em: < http://www.umicore.com.br/ nossosNegocios/recycling/pmr/sucataeletronica/> Acesso em: 9 de maio de 2014. XEROX CORPORATION. Disponível em: <http://www.xerox.com/about-xerox/environment/ptbr.html > Acesso em: 9 de maio de 2014. FERREIRA, J., FERREIRA, A.; A sociedade da informação e o desafio da sucata eletrônica. Revista de Ciências Exatas e Tecnologia, SARE – Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas, V.3, N. 3, dez. 2008. Disponível em: <http:// sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rcext/article/ view/417/413>. Acesso em: 16 de abril de 2014. FINCO, Andrei; BRASIL, Gianfranco. Projeto “E-Waste – Lixo Eletrônico” do SENAI/SC em São Miguel do Oeste. Revista E-Tech. Tecnologias para competitividade industrial; V. 3; N. 1, Florianópolis: E-Tech, 2010. Disponível em: < http://revista.ctai.senai.br/index.php/edicao01/article/ view/125/73>. Acesso em: 16 de abril de 2014. GUARNIERI, Patrícia. Logística Reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Recife: Ed. Clube de Autores, 2011. HOSPITAL DE CÂNCER DE PERNAMBUCO. Disponível em: < http://www.hcp.org.br/index.php?i=5> Acesso em: 9 de maio de 2014. MICROSOFT CORPORATION. Disponível em: <http://win- Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 41–50, mar, 2015 Estimativa do Desperdício de Metais Pesados Advindos do Descarte de Equipamentos Eletroeletrônicos nos Países do G7 e do BRICS SANTOS, Jenyffer da Silva Gomes1. GUIMARÃES, Elisângela da Silva2. VIEIRAEL-DEIR, Soraya Giovanetti3. Resumo Os metais pesados se configuram como um grave risco à saúde humana e ao equilíbrio ambiental, tendo em vista o seu potencial impactante e a característica de bioacumular na teia trófica, gerando danos aos organismos vivos de topo de cadeia. Os eletroeletrônicos possuem esses elementos na sua composição, porém o mercado não repassa essa informação aos consumidores. Por outro lado, o estímulo excessivo para o consumo faz com que haja uma velocidade de compra e troca de equipamentos eletroeletrônicos por causa de novos modelos ou sistemas operacionais. Realizou-se um estudo estimativo e comparativo do potencial produtivo de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos entre os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) e do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em uma década, sob a ótica do consumo, consumo sustentável e consumerismo. Dados secundários foram analisados, percebendo-se que a quantidade desses resíduos produzida não se relaciona diretamente com o tamanho da população de um país, mas com o modelo de consumo estimulado pela economia de cada país. Palavras-chave: REEE; Ouro; Prata; Paládio; Cobre. 51 Abstract Heavy metals are configured as a serious risk to human health and the environmental balance due to its impactful potential and feature bioaccumulate in the food web, causing damage to living organisms from the top of the chain. The electronics have these elements in its composition, but the market does not pass this information to consumers. On the other hand, excessive stimulation to the consumer means that there is a speed purchase and exchange of electronic equipment because of new models or operating systems. A comparative and estimate study of the productive potential of electronic waste among G7 countries (United States, Japan, Germany, UK, France, Italy and Canada) and the Brics (Brazil, Russia, India, China and South Africa) was conducted, in a decade, from the perspective of consumption, sustainable consumption and consumerism. Secondary data were analyzed, sensing that the amount of this waste produced is not directly related to the size of a country population, but to the model of consumption stimulated by the economy of each country. Key - words: WEEE; Gold; Silver; Palladium; Copper. Graduada em Engenharia Agrícola e Ambiental pela UFRPE . e-mail: ( [email protected]) UFRPE - [email protected]. UFRPE [email protected] 1 2 3 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 ESTIMATIVA DO DESPERDÍCIO DE METAIS PESADOS ADVINDOS DO DESCARTE DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS PAÍSES DO G7 E DO BRICS 1 | Introdução 52 O modelo de consumo e a crescente demanda por modernização e informatização dos processos produtivos vêm gerando um aumento na busca por equipamentos eletroeletrônicos (EEE). Esse fato tem relação direta não só o modelo produtivo como também a evolução tecnológica, além da pressão consumista difusa da população, advinda dos processos midiáticos, da evolução tecnológica e das novas formas de produção. Entretanto, não há o estabelecimento de preceitos de responsabilidade socioambiental referente ao uso e descarte desses aparelhos eletroeletrônicos, o que consequentemente gera resíduos, rejeitos e, por vezes, a contaminação ambiental com metais pesados. Uma parte desses metais representa um elevado desperdício quanto a recursos naturais finitos, como é o caso do ouro, prata, cobre e paládio, que apresentam valor de mercado significativo. O presente artigo visa realizar uma estimativa do desperdício potencial em relação aos países formadores do Brics e G7, se comparados os três modelos de consumo em uma década. 2 | Fundamentação teórica O processo da industrialização agregou às civilizações humanas um perfil profundamente tecnológico. As pessoas procuram estar sempre portando aparelho de celular moderno, o qual possua todos os aplicativos dos quais necessita. Porém, esses aparelhos geralmente não duram muito tempo. Segundo Silva (2012), a obsolescência programada é uma estratégia utilizada pela indústria, para que haja uma diminuição no ciclo de vida dos produtos, com a intenção de que sejam substituídos por produtos novos. O que geralmente acontece é que o preço para se consertar e o tempo que a pessoa fica sem usar o aparelho nem sempre compensam e logo se avalia que será mais “útil” comprar outro. Não é só esse o fator principal para o descarte de aparelhos eletrônicos, já que, na maioria das vezes, o aparelho ainda está em bom estado de funcionamento, porém é considerado ultrapassado, visto como algo que já não serve mais. 2.1 | Brics e G7 O G7 e o Brics são dois grupos de países divididos em desenvolvidos e em desenvolvimen- to, respectivamente. O G7 é o conjunto de países formados por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, considerados os mais desenvolvidos, e o Brics é o conjunto de países, formado Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. De acordo com Baumann (2010), o Brics possui um peso diferenciado e crescente no que diz respeito ao cenário internacional, decorrência de as economias destes possuírem certas peculiaridades, devendo-se isso ao seu tamanho (espaço territorial) ou ao seu dinamismo. Segundo Lastres (2007), o Brics tem possibilidade de crescimento na economia mundial, nas décadas que estão por vir devido às oportunidades que esse grupo de países representa tanto econômica, social e politicamente. 2.2 | Metais pesados Nos equipamentos eletroeletrônicos, existem vários componentes como metais, vidros e plásticos. Nesses equipamentos se encontram diversos tipos de metais, em sua maioria, alguns considerados metais pesados como a prata, o ouro, o cobre e o paládio, que, muitas vezes, descartados de forma errônea, podem trazer grandes prejuízos tanto para o meio ambiente como para os seres humanos. O ouro é o elemento químico de número atômico 79; constitui-se em um dos metais mais nobres empregados em equipamentos eletrônicos. Trata-se de um metal do Grupo 1B. Na tabela periódica, é geralmente encontrado na natureza, no estado nativo. O ouro é o mais maleável e o mais estável dos metais, usado, principalmente, em moedas, joias e decoração. A prata tem símbolo químico Ag e possui número atômico 47 na tabela periódica. De acordo com Pascalicchio (2002 apud LEITE et al., 2013), a prata possui ação orgânica relacionada aos metabolismos do cobre e do selênio, reagindo com substâncias orgânicas derivadas do grupo Thiol. Segundo Liporini (2012), a prata é bastante utilizada em indústrias de fotografia e imagem e eletroeletrônicos em geral. Se esses metais pesados forem descartados erroneamente e em grande quantidade, podem gerar diversos malefícios não só para as plantas, os animais e os seres humanos mas também para Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 o meio ambiente como um todo. 2.3 | Modelos de consumo Partindo do modelo de consumo adotado, observa-se uma velocidade distinta na aquisição e descarte, gerando diferentes potenciais impactantes. Segundo Campbell (1995), “consumo” é qualquer atividade, que envolva selecionar, comprar, usar, fazer manutenção, reparar e destruir qualquer produto ou serviço. Para o Ministério do Meio Ambiente, “consumo sustentável” significa comprar o necessário, estendendo a vida útil dos produtos tanto quanto possível. O termo “consumerismo” se relaciona com o consumo responsável, solidário e ético, segundo critérios apropriados e racionais, observando-se a origem dos produtos e os impactos socioambientais. Partindo-se dessas tipologias de consumir, a geração de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) deve ter perfil diferente, especialmente a quantidade de metais, os quais são potencialmente impactantes (SANCHES, 2008). 53 3 | Material e métodos ses, foi analisado o potencial de WEEE e a quantidade de metais relativos com base nos três modelos de consumo. Para o modelo “consumo”, foi usada como padrão a aquisição de 1 personal computer a cada ano; para “consumo sustentável”, 1 a cada 2 anos, e para “consumerismo”, 1 a cada 3 anos. Em seguida, foram comparadas as quantidades de WEEE produzidas pelos dois grupos, assim como a quantidade de metais pesados produzidos por ambos no decorrer de uma década. Para fins de cálculo, apenas a população que tem renda acima da linha de pobreza (U$ 3.00 por dia) foi considerada para tal consumo, visto que a faixa abaixo dificilmente teria condições financeiras para isso. Como corte etário, foram considerados fora desse tipo de consumo idosos (acima de 65 anos) e crianças (abaixo de 6 anos), totalizando cerca de 50% da população, dos que estão acima da linha de pobreza. O valor dos metais (ouro, prata, cobre e paládio) foi mensurado com base na cotação internacional em Euro e transpostos para o presente artigo, por serem commodities internacionais. 4 | Análise e discussão dos resultados Com base nos dados secundários, resultantes Os países do Brics apresentaram, em 2010, pode levantamento bibliográfico, foram realizados cálculos para a determinação da população do Brics e do pulação total de 3.038.269.869 habitantes, sendo que G7. Considerando invariável a população desses paí- destes 6,64% no Brasil, 4,67% na Rússia, 42,15% na Tabela 1.População abaixo e acima da linha da pobreza dos países do G7 e Brics em números e em porcentagens. Fonte: diversos dados de censo dos países. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 ESTIMATIVA DO DESPERDÍCIO DE METAIS PESADOS ADVINDOS DO DESCARTE DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS PAÍSES DO G7 E DO BRICS Índia, 44,87% na China e 1,64% na África do Sul. Nos países do G7, a população totalizou 752.854.871 habitantes, sendo destes 10,85% na Alemanha, 4,66% no Canadá, 42,73% nos Estados Unidos, 8,5% na França, 8,17% na Itália, 16,67% no Japão e 8,41% no Reino Unido. A população consumidora do Brics representa pouco mais de 2 bilhões de habitantes, e a do G7, quase 700 milhões de habitantes (Tabela 1). Em geral, vemos que o Brics possui uma maior quantidade de consumidores que o G7, porém, observando-se casos isolados como o da África do Sul e o da Itália e de populações próximas, se vê que a Itália possui mais que o dobro de consumidores em potencial que a África do Sul, cuja diferença populacional entre elas é de 10 mil habitantes. 54 serão adquiridas, responsabilizando-se os Estados Unidos por 46% dos produtos consumidos (Tabela 2). No modelo consumo sustentável, serão consumidas mais de cinco bilhões de unidades no Brics, e quase 2 bilhões de unidades no G7. Por fim, no consumerismo, nos países do Brics, observa-se um consumo de três bilhões e seiscentos milhões de unidades, e no G7, 980 milhões de unidades, mostrando, em ambos os casos, uma diminuição entre o consumo e o consumerismo de 60 % de produtos consumidos. Os equipamentos eletroeletrônicos possuem, na sua composição, diversos tipos de metais pesados, como o cobre, a prata, o ouro e o paládio, que, descartados de forma errônea, podem trazer Observando os três modelos de consumo riscos para o ser humano e o meio ambiente. Por (consumo – aquisição de 1personalcomputer a apresentarem efeito acumulativo, os metais pesacada 1 ano, consumo sustentável – 1 a cada 2 anos, dos chegam a provocar várias doenças (FERREIRA, consumerismo – 1 a cada 3 anos), haverá uma dife- ANJOS, 2001). Segundo a Chile Resíduos, a quantirença na aquisição de computadores pela amostra dade desses metais pesados em um computador da população em potencial, num final de 10 anos. pode ser de 1g, a exemplo da prata (Tabela 3). No modelo consumo, 11,9 bilhões de unidades Analisando-se os dados das quantidades de serão adquiridas pelo Brics, sendo a China consumidora de quase metade desses produtos (Tabela computadores pessoais produzidos nos três mo2). Por outro lado, no G7, 3 bilhões de unidades delos de consumo, durante 10 anos, tanto no Brics como no G7, obtiveram-se valores significativos da Tabela 2.Quantidade de computadores adquiridos em 10 anos, de acordo com os três tipos de consumo: consumo (C), consumo sustentável (CS) e consumerismo (CM), nos países do G7 e Brics. Fonte: pesquisa dos autores. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 Tabela 3.Quantidade de metais na constituição de um computador pessoal (PC) Fonte: Chile Resíduos (s/a) 55 quantidade de metais pesados que são descartados com esses equipamentos. Com relação à Prata, aplicado o modelo consumo, o Brics usaria quase 6 mil toneladas, sendo 87,13% pela China e Índia (Tabela 4). Por outro lado, no G7, no mesmo período de tempo, seriam usadas 3,2 toneladas, sendo destas 41,8% pelos Estados Unidos. Observa-se que China e Índia juntas usariam 59% a mais de prata que todos os demais países do Brics. Se ambos os grupos diminuíssem seu consumo e adotassem o consumerismo, os dois grupos juntos utilizariam quase o mesmo que o G7 sozinho. Essa discussão, refletida em Euros, representa um total geral de mais de 1 bilhão para os países do G7 e 2 bilhões para os do Brics, sendo que esse valor seria reduzido em mais da metade, se alterado o modelo de consumo para consumerismo. No caso do paládio, sendo adquirido o modelo consumo, a quantidade consumida em 10 anos para a fabricação de computadores pessoais nos países do Brics será de 4,8 mil toneladas, chegando a diminuir em 40%, se o modelo utilizado for o consumerismo (Tabela 6). Por outro lado, no G7, sendo utilizado o modelo de consumo, serão usadas 2,6 mil toneladas de paládio, que seriam diminuídas em 30%, se o modelo consumerismo fosse utilizado. Esses dados vistos em valores monetários, em Euros, apresentam um montante superior a 58 bilhões para os países do G7 e 100 bilhões para os do Brics. Se utilizado o modelo de consumo sustentável, os dois blocos es- Tabela 4.Quantidade de prata em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics. Fonte: pesquisa dos autores. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 ESTIMATIVA DO DESPERDÍCIO DE METAIS PESADOS ADVINDOS DO DESCARTE DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS PAÍSES DO G7 E DO BRICS Tabela 5. Quantidade de ouro em toneladas e valor total do metal em Euros, encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics. 56 Fonte: pesquisa dos autores. Tabela 6.Quantidade de paládio em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics. Fonte: pesquisa dos autores. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 tariam economizando mais de 30 e 60 bilhões de Euros no modelo consumerismo, respectivamente. Por outro lado, para o cobre no modelo de consumo no Brics, a quantidade usada no consumo de computadores pessoais em 10 anos seria de quase 1,5 mil toneladas, que cairia para 800 toneladas, se fosse adotado o modelo consumerismo, sendo a China e a Índia responsáveis por praticamennte 90% desse material utilizado (Tabela 7), no G7 seriam utilizados aproximadamente 700 toneladas de cobre no modelo consumo, que diminuiria se o modelo consumerismo fosse utilizado para 215 toneladas que é 80% menor que a China produziria nesse mesmo modelo. Esses dados, expressos em valores monetários, em Euros, apresentam um valor superior a 15 bilhões para os países do G7 e 29 bilhões para os do Brics. Se utilizado o modelo consumerismo, os dois blocos gastariam menos da metade desse valor. 57 Os dados consolidados de volume dos metais (ouro, prata, paládio e cobre), em uma década, no modelo consumo, refletem o total de 4.632.945,74ton. para o total dos países do G7 e Brics. Em valores monetários, em Euros, esse volume significa 236.527.980.439. Esses valores reduziriam em mais da metade, se esses dois grupos de países utilizassem o modelo consumerismo. Observa-se que existe um desperdício de metais pesados, advindo do descarte de EEE nos países do G7 e do Brics e que esse volume poderia ser reduzido em mais de 50%, caso houvesse uma política de alteração do modelo de consumo. Tal iniciativa teria um reflexo significativo na apropriação antrópica de recursos naturais, derivados da extração desses metais, atividade que apresenta significativo impacto ambiental. Tabela 7.Quantidade de cobre em toneladas e valor total do metal em Euros encontrado em computadores pessoais, de acordo com os três modelos de consumo (Consumo – C, Consumo sustentável – CS e Consumerismo – CM), em 10 anos, nos países do G7 e Brics. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 ESTIMATIVA DO DESPERDÍCIO DE METAIS PESADOS ADVINDOS DO DESCARTE DE EQUIPAMENTOS ELETROELETRÔNICOS NOS PAÍSES DO G7 E DO BRICS 5 | Conclusões Os EEE possuem grande quantidade de metais pesados, que, muitas vezes, parecem ser mínimos, quando observados em uma unidade, porém, quando analisados em grande escala, consegue-se perceber o nível de desperdício desses metais. O modelo de consumo adotado pelo país é definidor da quantidade de produtos eletroeletrônicos que este consumirá. Comparando consumerismo ao modelo consumista atual, observou-se que há um decréscimo de mais de 50% do EEE consumidos e, por consequência, dos metais pesados utilizados. 58 Dados consolidados de volume dos metais ouro, prata, paládio e cobre, se analisados em uma década, a depender do modelo de consumo nos países do G7 e Brics, poderá refletir numa economia significativa de recursos naturais derivados da extração desses metais. Visto que a atividade extrativista apresenta significativo impacto ambiental, recomenda-se que seja estabelecida política pública nas esferas internacional e nacional, visando ao incentivo da migração referente à visão consumista atual para um consumo consciente e, por fim, o consumerismo. É importante que se dê continuidade à pesquisa, utilizando-se de ferramentas estatísticas, com vistas ao estudo da econometria. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 Referências BAUMANN, Renato, org. O Brasil e os demais Brics. Comércio e Política. Brasília, DF: Cepal. Escritório no Brasil/ IPEA, 2010.180p. DICIONÁRIO MICHAELIS [on-line]. s/d. Disponível em:<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues>. Acesso em: 13/01/ 2014. FERREIRA. João A.; ANJOS. Luiz A. dos. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública, v. 17, n. 3, Rio de Janeiro, 2001. LEITE, Maria Rosa Mística Correia; LIMA, Agnis de Oliveira; SILVA, Dagmar Landim; GUIMARÃES, José Leonardo da Silveira; SABIA, Rodolfo José. Estudo da concentração de metais pesados no rio salgado e a contribuição da indústria de folheados do Cariri. Anais... XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, p.1 – 15, 2013. LIPORINI, A. Q.; MION, C. F.; CAVALHEIRO, M. C. H. T. Tratamento químico e reciclagem de chapas de raio-X. Anais... 4º Simpósio de Tecnologia em Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Recife: Fatec. Disponível em: <http://issuu.com/ rimaeditora/docs/anaisjahu>. Acesso em: 29/03/2012. 59 SILVA, Maria B. O. da. Obsolescência programada e teoria do decrescimento versus direito ao desenvolvimento e ao consumo (sustentáveis).Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.9, n.17, p.181-196, 2012. LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. MATOS, M.; SZAPIRO, M.; ZUCOLOTO, G.; KOELLER, P. Estudo comparativo dos sistemas nacionais de inovação no Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics). RedeSist, 23 de janeiro de 2007 (segunda versão). Disponível em: <http://www. redesist.ie.ufrj.br>. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 51–59, mar, 2015 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos no Centro de Tecnologia da UFRJ Suemitsu, Walter Issamu 1. Araújo, Marcelos Guimarães2. Resumo O artigo apresenta o processo de gestão de resíduos no Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com foco particular nos resíduos eletroeletrônicos – REEE. São apresentados os programas e as ações realizadas desde 1994, com o objetivo de aproveitar e recuperar os resíduos. Finalmente, discorre-se sobre o projeto do Centro de Tecnologia em Reciclagem, que tem como objetivo criar um ambiente de desenvolvimento de tecnologia para a recuperação de materiais dos resíduos eletroeletrônicos. Palavras-chave: Gestão ambiental; Resíduos eletroeletrônicos; Universidade; Educação ambiental Abstract 60 This article presents the process of the management of waste generated at the Technology Center of the Federal University of Rio de Janeiro – CT/UFRJ, with focus on waste of electrical and electronic equipment – WEEE. The programs and actions developed since 1994 at CT/UFRJ are presented to recover the waste. Finally, the project of the Technology Center of Recycling is introduced. It aims to create a structure for the development of innovative technology for the recovery of materials from WEEE. Key - words: Environmental management; Waste of electrical and electronic equipment; University, Environmental education. Doutorado em Engenharia Elétrica pela École National Supérieur D’ingénieurs Électriciens de Grenoble. Professor Associado da Escola Politécnica e da COPPE, UFRJ. ([email protected]). Doutorado em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Colaborador da UFRJ. 1 2 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ 1 | Introdução O tratamento adequado de resíduos eletroeletrônicos tem sido alvo de preocupação dos órgãos ambientais e outros atores da sociedade diante do crescente aumento dos volumes de REEE devido, principalmente, à presença de substâncias perigosas contidas nesses resíduos, como mercúrio, cádmio e aditivos, como retardadores de chama e outras (SteP/UNEP, 2009), e à complexidade dos materiais presentes nesse produto. 61 O setor de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil representava no ano de 2008 4,5% do PIB nacional ou 15% da produção industrial do país. A geração desses resíduos eletroeletrônicos no Brasil é estimada em mais de 760 mil toneladas por ano, para os equipamentos com maior penetração no país: televisores, geladeiras e freezers, computadores, máquinas de lavar roupa e celulares. Dessa quantidade, 105 mil toneladas por ano são referentes a computadores, incluindo monitores (ARAÚJO et al., 2012). A gestão de REEE no Brasil é incipiente e predomina a disposição final em aterro controlado ou lixão, nos quais milhares de toneladas de materiais nobres são perdidas anualmente. Segundo estimativas de BANDINI (2009), a reciclagem de REEE não ultrapassa 2% do total de resíduos gerados, concentrando-se em resíduos oriundos dos próprios processos industriais das empresas manufatureiras dos equipamentos eletroeletrônicos e enviados para tratamento no exterior. As universidades são grandes geradores de resíduos, particularmente de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, com tendência crescente de aumento da geração. Ao mesmo tempo, as universidades dispõem de capacitação técnica para participar do gerenciamento e desenvolver tecnologia para o adequado tratamento dos REEE. 2 | - Fundamentos da gestão de resíduos nas Universidades Públicas O descarte de qualquer resíduo deve atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Essa lei dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. Devem-se destacar os seguintes pontos relevantes para o tema dos REEE: Art. 6 - São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública; VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. Art. 7 - São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final, ambientalmente adequada dos rejeitos; IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais. Assim, além dos aspectos ambientais, devem ser considerados os aspectos sociais e econômicos, entre outros. Os resíduos passam a ter um status econômico mais relevante e sugere-se que a hierarquia da gestão de resíduos privilegia a reciclagem em detrimento da incineração e disposição em aterro. Ainda no artigo nº. 30, a PNRS institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com o objetivo de promover o aproveitamento dos resíduos sólidos, estruturando uma cadeia de logística reversa. Por outro lado, o Decreto nº. 5.940, de 25 de outubro de 2006 obriga a separação dos resíduos recicláveis, descartados pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal direta e indireta na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis e dá outras providências. Essas leis conferem o arcabouço legal para a gestão dos resíduos em uma universidade públi- Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 ca e, a partir delas, foram estruturados programas e ações no CT/UFRJ. 3 | Materiais e Métodos Dentre os equipamentos eletroeletrônicos que são mais comuns em uma universidade, destacam-se os computadores desktop, utilizados em praticamente todos os laboratórios, salas de aulas e outras instalações de uma universidade. As aplicações desse equipamento podem ser bastante variáveis: do simples uso do computador para elaboração de documentos administrativos ao uso de computadores potentes de última geração para cálculos complexos de modelagem. Essa diversidade faz o parque instalado ser diverso, dificultando sua gestão. 62 Apesar de o controle dos equipamentos eletroeletrônicos ser realizado conforme os princípios contábeis da administração pública, não ocorre uma centralização da gestão de ativos de equipamentos eletroeletrônicos que permita uma gestão integrada dos seus resíduos. Assim, a estimativa da vida útil dos equipamentos é prejudicada. Da mesma forma, não é fácil a previsão da geração dos resíduos e a possibilidade de reuso de partes e componentes dos computadores obsoletos para o usuário original. Frequentemente ocorre o sucateamento de computadores com o reuso de partes e componentes em computadores reparados localmente. Quando não há mais o interesse, o equipamento deve ser direcionado ao setor de ativos para a sua baixa contábil. Essa, em princípio, só deve ser feita após a depreciação convencional de cinco anos do equipamento. Esse fato pode dificultar o reuso das partes e componentes em bom estado fora da universidade, pois somente após a baixa do ativo contábil, os equipamentos podem ser doados para reuso, reciclagem ou envio para tratamento adequado. Ocorre que frequentemente os computadores se tornam obsoletos para os laboratórios e, embora não tenham mais utilidade para esses, não podem ser doados antes do prazo da depreciação contábil. sejam demandados pelo mercado produtivo. No caso específico da UFRJ, verifica-se um crescimento do Parque Tecnológico na Cidade Universitária e, consequentemente, um aumento da demanda para destinação dos REEE. Tem-se, também na cidade universitária da UFRJ, a comunidade no entorno que é carente de recursos e aprendizado de informática, de emprego e de capacitação, o que estimula ainda mais o desenvolvimento de projetos nessa área. A estruturação de um programa para a adequada gestão dos REEE na UFRJ demanda uma articulação entre diversos atores da instituição e parceiros externos e está embasada nas experiências dos programas e ações do CT/UFRJ para a gestão de resíduos gerados em suas instalações. 3.1 | Recicla CT O Recicla CT é um programa do Centro de Tecnologia da UFRJ, instituído pela Decania e patrocinado pela Petrobras. Foi criado para atender o Decreto no. 5.940/2006, referente à obrigatoriedade nas autarquias federais da coleta seletiva de resíduos recicláveis e posterior doação à cooperativa de catadores. Nesse programa, os resíduos são coletados por intermédio de contentores coloridos espalhados pelo CT/UFJ e diretamente nos departamentos e laboratórios. O programa teve a adesão de diversas unidades do CT/UFRJ, tendo atingido volumes representativos de coleta de recicláveis, gerando renda para as cooperativas e redução de impactos ambientais (ANDRADE, 2014). 3.2 | RIPeR - Rede de Informações e Pesquisa em Resíduos A RIPeR é uma unidade do SOLTEC – Núcleo de Solidariedade Técnica, que tem como objetivo um trabalho de extensão, com bolsistas da graduação, em gestão de resíduos, que inclui o desenvolvimento de estudos no tema e o apoio às cooperativas de catadores de resíduos recicláveis (BARBOSA et al. 2012). Dentre as ações da RIPeR, destaca-se a as O tratamento adequado dos REEE demanda sessoria à Rede Recicla Rio, que reúne cinco coopeconhecimento em diversas áreas da engenharia e, rativas de catadores que atuam na cidade do Rio de principalmente, o desenvolvimento de processos Janeiro. Junto com o Recicla CT, realizou o diagnósinovadores para a recuperação dos materiais e sua tico preliminar dos resíduos da UFRJ que permitiu transformação em novos materiais compósitos, que identificar as fontes geradoras, os processos de coRevista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ leta, o armazenamento e a destinação final dos resíduos gerados na UFRJ (LUZARDO, 2012; LUZARDO et al., 2013). A RIPeR também pesquisa, junto com especialistas em Segurança do Trabalhado, os riscos e as medidas de proteção necessárias para quem trabalha com reciclagem, de modo a tornar essa atividade mais segura. soletos do CT/UFRJ mas também a inclusão digital da comunidade do entorno. São formados membros da própria comunidade que serão os disseminadores do conhecimento. A formação dos professores começa com uma introdução a algumas ferramentas da informática, como editores de texto, planilhas, correio eletrônico e busca e navegação na internet. Esse treinamento tem sido realizado pelos alunos Um dos produtos conceitualmente desen- monitores da UFRJ que assessoram os professores volvidos no RIPeR é o RECICLADADOS. Trata-se de durante um período. um software criado para auxiliar o acompanhamento e controle das operações das cooperativas de caAdicionalmente o LIpE tem ministrado cursos tadores de resíduos recicláveis. O sistema roda em de aprendizagem em relação ao uso do RECICLAplataforma Web, demandando somente o uso de DADOS para os membros das cooperativas de cataum computador com acesso à internet e pouco trei- dores. Além do próprio Recicla CT, algumas coopenamento. Esse programa vem sendo utilizado pelo rativas da região metropolitana do Rio de Janeiro já Recicla CT como forma de registro e administração estão usando esse programa para aumentar a eficidos resíduos gerados no Centro de Tecnologia. A ência da gestão de sua operação. melhoria da gestão nas cooperativas contribui para o aumento do índice de reciclagem no país, a redução do envio de resíduos para aterros e o aumento 4 | Análise e Discussão dos de renda das cooperativas. Resultados: Cenário futuro 3.3 | LIpE - Laboratório de Informática 63 para a Educação da gestão de Resíduos Eletroeletrônicos na UFRJ As experiências bem sucedidas dos programas implantados servem de motivação para expansão das atividades de coleta seletiva e para o planejamento objetivando o adequado gerenciamento dos REEE. As ações e os programas realizados sinalizaram que a gestão dos REEE é complexa e necessita de um enfoque mais abrangente, direcionando para o desenvolvimento de um projeto o Centro de Esse histórico se inicia em 1994 quando co- Tecnologia em Reciclagem em Resíduos Eletroelemeçou o projeto Minerva do Departamento de trônicos. Eletrônica da Escola Politécnica da UFRJ com o obDevido ao grande número de substâncias e jetivo de auxiliar na introdução da Informática Edumateriais usados nos equipamentos eletroeletrôcacional em escolas públicas. Com o atendimento nicos, o tratamento adequado dos REEE demanda aos trabalhadores da UFRJ, jovens e adultos da Vila conhecimento em diversas áreas da engenharia e, Residencial da Ilha do Fundão em 2002, foi organiprincipalmente, o desenvolvimento de processos zado o Laboratório de Informática para a Educação inovadores para a recuperação dos materiais e sua – LIpE, que passou a englobar o Minerva e essas notransformação em novos materiais compósitos, que vas atividades. Entre estas, o LIpE com uma equipe sejam adequados ao mercado produtivo. de alunos e técnicos da UFRJ realizam a remanufatura de computadores usados para a doação às Os computadores e monitores serão o foco do comunidades carentes nos moldes do projeto de projeto devido à alta complexidade das misturas de Computadores para Inclusão do Governo Federal materiais dos seus componentes e partes. Para esse (PATRÍCIO, 2013). projeto, sob a coordenação do Decano do Centro de Tecnologia, foi criado um grupo de pesquisa que Desde então, as atividades do LIpE englobam congrega os vários laboratórios da UFRJ que, nos não somente a remanufatura de computadores obAlém da reciclagem dos computadores, as políticas de resíduos sólidos recomendam o reuso dos resíduos como prioridade na hierarquia de gestão de resíduos. No CT/UFRJ, o reuso se concretiza por meio da remanufatura dos equipamentos que são remontados com o aproveitamento das peças de equipamentos usados. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 últimos anos, produziram pesquisas em tratamento e gestão de resíduos: Instituto de Macromoléculas na área de polímeros (FARIA E PACHECO, 2011, PACHECO et al., 2012; e outros), o Departamento de Engenharia de Materiais e Metalurgia da COPPE/ UFRJ (DUTRA et al., 2008; FERNANDES et al., 2012) e o Instituto de Química da UFRJ (CÂMARA et al., 2012; entre outros). to de tecnologia para o gerenciamento de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro para o seu reaproveitamento e reciclagem, especificamente equipamentos de informática e monitores de tubos de raios catódicos. Essa estrutura englobará os programas e as ações que já são realizadas na UFRJ, como o LIpE, RIPeR, e Recicla CT. Também serão perseguidos alguns objetivos específicos, como: redução do volume de resíduos • Coleta de peças e equipamentos de infor- eletroeletrônicos na UFRJ; consolidação das pesmática que tenham origem na Cidade Uni- quisas dos laboratórios da UFRJ sobre reciclagem versitária, em empresas instaladas na Ilha de REEE; reaproveitamento de computadores para do Fundão e trazidas por alunos, professo- uso em projetos de inclusão digital; destinação aderes e funcionários; quada de componentes para reciclagem; promoção • Empréstimo, com destinação preferencial, da educação ambiental para as pessoas que trabados equipamentos remanufaturados para lham e estudam na Cidade Universitária e para as projetos de inclusão digital da comunida- comunidades do entorno. de do entorno; Dessa forma, a abordagem construída para a O centro de Tecnologia de Reciclagem prevê: 64 • Destinação dos materiais Classe II segre- solução do problema da gestão de resíduos eletroegados manualmente para as cooperativas letrônicos do CT/UFRJ contribuirá também para a redução de custos da Universidade com a destinade catadores (Decreto no.5.940/2006); ção dos resíduos, atendendo também aos aspectos • Convênio para destinação dos materiais sociais, recuperação de materiais secundários, minão segregados manualmente, com alto nimizando impactos ambientais e desenvolvimento valor agregado, para empresas de recicla- de inovações tecnológicas. gem especializadas; • Conhecimentos sobre novas rotas tecnológicas para separação dos materiais não segregados manualmente (metais raros, por exemplo); • Diminuição dos impactos ambientais e custos associados à destinação final dos equipamentos que atualmente terminam em aterros ou em tratamento ambientalmente inadequado por reciclagem informal; • Desenvolvimento de tecnologias inovativas para a produção de novos materiais compósitos a partir dos materiais não utilizáveis. 5 | Conclusões A trajetória do CT/UFRJ na gestão de resíduos apresenta uma evolução que está culminando com o projeto do Centro de Tecnologia de Reciclagem. Esse tem como objetivo principal o desenvolvimen- Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 GESTÃO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO CENTRO DE TECNOLOGIA DA UFRJ Referências ANDRADE, E.A.T de. Avaliação do Ciclo de Vida na Gestão de Resíduos Sólidos: Um estudo de caso da coleta seletiva do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, Programa de Engenharia de Produção, COPPE/UFRJ, 2014. ARAUJO, M.G.; MAGRINI, A; MAHLER, C.F.; A model for estimation of potential generation of waste electrical and electronic equipment in Brazil. Waste Management. Waste Management Volume 32, (2), 335-342, 2012. StEP SOLVING THE E-WASTE PROBLEM. Recycling – From e-Waste to Resources: Sustainable Innovation and Technology Transfer Industrial Sector Studies. UNEP, UNU-ISP, Bonn – Alemanha, 2009. BANDINI, M. Seminário Internacional de Resíduos Eletroeletrônicos. Acesso em: 12.12.2009. Disponível em: http://www.seminarioree.com.br/, 2009. Barbosa, C.N.; Guilherme, V.S.; Suemitsu W.I. Riper – Apoio às Cooperativas na Implantação da Coleta Domiciliar de Óleo de Cozinha Usado no Município do Rio de Janeiro. 9º Congresso de Extensão da UFRJ, 2012. CÂMARA, S.C.; AFONSO, J.C.; SILVA, L.I.D.; DOMINGUES, N.N.; ALCOVER NETO, A. Simulação do intemperismo natural de pilhas zinco-carbono e alcalinas. Química Nova, v. 35, p. 82-90, 2012. 65 DUTRA, A.J.B.; ROCHA, G.P.; POMBO, F.R. Copper recovery and cyanide oxidation by electrowinning from a spent copper-cyanide electroplating electrolyte. Journal of Hazardous Materials, v. 152, p. 648-655, 2008. FARIA, F.P.; PACHECO, E.B.A.V. A reciclagem de plásticos a partir de conceito de Produção Mais Limpa. GEPROS Gestão da Produção, Operações e Sistemas 6(3), 93-107, 2011. FERNANDES, A.; AFONSO, J.C.; DUTRA, A. J. B. Hydrometallurgical route to recouver nickel, cobalt and cadmium frome spent Ni-Cd batteries. Journal of Power Sources, v. 220, p. 286-291, 2012. LUZARDO, T.T. Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (PGIRS): uma proposta. 9º Congresso de Extensão da UFRJ, 2012. LUZARDO, T.T.; Araújo, M.G., Vieira, A.O.P. Diagnóstico UFRJ: uma proposta de manejo dos resíduos do Campus. 10o ENEDS – Rio de Janeiro, setembro de 2013. PACHECO, E.B.A.V.; Ronchetti, L.M.; Masanet, E. An overview of plastic recycling in Rio de Janeiro. Resources, Conservation & Recycling.60, 140-146, 2012. PATRÍCIO, B.M.K.. Lixo eletrônico é matéria-prima para pesquisa, educação e cooperação social. EREDS Governador Valadares, junho de 2013. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006. Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis e dá outras providências. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 60–65, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos SANTOS, Jenyffer da Silva Gomes1. VIEIRA, Priscila Lemos2. BELTRAME, Leocádia Terezinha Cordeiro3. EL-DEIR, Soraya Giovanetti4. Resumo Os metais pesados podem acarretar sérias disfunções na saúde humana e causar graves problemas em plantas e animais. Este trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo sobre o risco potencial que os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos podem trazer para os seres humanos e o meio ambiente como um todo, devido à grande quantidade de metais pesados que estes possuem em sua composição e, ao serem descartados de forma errônea, trazem preocupantes danos ao planeta. Analisando-se o potencial produtivo de microcomputadores pelos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) em uma década, no consumo de menor demanda ecológica de matéria-prima e recursos naturais, sendo este de 3 computadores por década, pretende-se observar a quantidade de metais pesados que podem ser produzidos nesse espaço de tempo por esses países. Palavras-chave: REEE; Impacto ambiental; Metais pesados. 66 Abstract Heavy metals can cause serious dysfunctions on human health and cause serious problems in plants and animals. This paper aims to make a study on the potential risk that waste of electrical and electronic equipments can bring to humans and the environment as a whole, due to the large amount of heavy metals that they have in their composition and when wrongly discarded bring worrisome damage to the planet. Analyzing the productive potential of microcomputers by the BRICS countries (Brazil, Russia, India, China and South Africa) and the G7 countries (United States, Japan, Germany, UK, France, Italy and Canada) in a decade, in ecological lower consumption demand of raw materials and natural resources, which is 3 computers per decade, the aim is to observe the amount of heavy metals that may be produced within that time by these countries. Key - words: Waste Electrical and Electronic Equipment; Environmental Impact; Heavy Metals. Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental pela UFRPE- ([email protected]) UFRPE - ([email protected]) 1 4 Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos 1 | Introdução 67 Com o avanço da tecnologia, o consumo de equipamentos eletroeletrônicos tende a aumentar naturalmente. O número desses tipos de equipamento, que incluem computadores, impressoras, fotocopiadoras, aparelhos de televisão, celulares, jogos eletrônicos dentre outros, cresce continuamente, em escala global, seja pela inovação seja pela obsolescência programada, fazendo com que tenham uma vida curta. Assim, o alto consumo leva, portanto, a uma crescente geração, 2 a 3 vezes mais rápida que qualquer outro tipo de resíduo (GROSSMANN, 2006). De acordo com Robinson (2009), a produção global de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (WEEE) em 2006 foi estimada entre 20 a 50.000.000 t. Apenas nos Estados Unidos, 500.000.000 computadores se tornaram obsoletos entre 1997 e 2007 (GUAN et al., 2010), com expectativas atuais de 17.000.000 por ano (YAMANE, 2011). Estima-se que a geração mundial de WEEE seja superior a 50.000.000 t (NI, ZENG, 2009), correspondendo de 5 a 8% dos resíduos municipais (UNEP, 2005; WIDMER, 2005), dos quais os computadores pessoais estão em maior número (KOLIAS, K.; HAHLADAKIS, J. N.; GIDARAKOS, 2014). Esse aumento no consumo tem reflexo no descarte desses equipamentos, que poderá ser realizado de maneira correta ou não. O comércio internacional de WEEE para disposição é proibido mundialmente pela Convenção de Basileia no Controle dos Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação, de 1989. Contudo, a comercialização para reutilização e reciclagem ainda é realizada, fazendo com que países como a China, prioritariamente, e outros países da Ásia (Índia, Paquistão, Vietnã, Filipinas, Malásia), África (Nigéria e Gana) e América Latina (Brasil e México) estejam entre os principais importadores (ROBINSON, 2009). Devido à falta de legislação a respeito, essa recuperação é realizada, em sua maior parte, por pequenos empreendedores, sem critérios de proteção individual ou ambiental. O descarte incorreto dos equipamentos eletroeletrônicos ocasiona um grande volume de resíduos , gerando assim uma significante quantidade de metais pesados os quais estão presentes na composição desses equipamentos.Os impactos relacionados à disposição inadequada ou à má ges- tão de resíduos, oriundos de processos, serviços e materiais usados, têm sido uma das principais preocupações quanto às questões ambientais, especialmente em ambientes corporativos. Resíduos tratados ou dispostos de forma inadequada podem levar à contaminação do sítio onde está disposto, assim como, devido à dispersão pelo ar, pela água ou ainda pela lixiviação, a uma área de abrangência maior que a usada para disposição ou tratamento. Embora resíduos, de forma geral, mereçam atenção, especial cuidado deve ser dado aos resíduos perigosos. Entre os resíduos perigosos, estão os resíduos eletroeletrônicos (WEEE). Em contato com o meio ambiente, os estragos causados pelos metais aos seres vivos são graves. Uma das formas de esses metais chegarem aos seres vivos ocorre por meio do solo que absorve esses metais dos equipamentos eletroeletrônicos que foram descartados de forma incorreta. As plantas, quando retiram os nutrientes do solo, terminam, junto com os nutrientes, absorvendo esses metais; os animais, ao ingerirem várias plantas já contaminadas, acumulam também em seu organismo os metais; os seres humanos, ao se alimentarem desses animais ou dessas plantas, acabam também absorvendo grande quantia desses metais que, mesmo em pequenas quantidades, geram grandes danos à saúde humana, sendo esse processo conhecido como bioacumulação. Este artigo tem como objetivo desenvolver estudo sobre o risco potencial que os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos podem trazer aos seres humanos e ao meio ambiente como um todo, devido à grande quantidade de metais pesados que estes possuem em sua composição e que, ao serem descartados de forma errônea, trazem preocupantes danos ao planeta. Analisando-se o potencial produtivo de microcomputadores pelos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) em uma década, no consumo de menor demanda ecológica de matéria-prima e recursos naturais, sendo este de 3 computadores por década, pretende-se observar a quantidade de metais pesados que podem ser produzidos nesse espaço de tempo por esses países. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 2 | Fundamentação Teórica 68 Os processos hidrometalúrgicos e pirometalúrgicos apresentam passivos ambientais expresA recuperação de metais a partir de WEEE sivos, pois, além da geração de dioxinas, furanos pode ser estimulada pela presença de metais que e liberação de outros compostos orgânicos a parapresentem valor significativo de mercado e por tir dos componentes plásticos e de retardantes de metais-base. O processo de recuperação pode chama presentes nos WEEE por processos piroocorrer por processos mecânicos ou químicos, metalúrgicos, provocam malefícios à saúde e ao como pirometalúrgicos e hidrometalúrgicos (WIDambiente (ZHANG, WU & SIMONNOT, 2012). Para MER, et al., 2005). Embora essas tecnologias esteevitar ou minimizar tais emissões, são necessájam bem estabelecidas na reciclagem de metais rerios investimentos em equipamentos específicos. lativamente puros, a reciclagem de metais a partir Por sua vez, processos hidrometalúrgicos utilizam de WEEE, devido a sua complexidade, composição reagentes tóxicos, com sérios riscos tanto ao opee presença de materiais tóxicos, dificulta o procesrador quanto ao ambiente. Para gerenciar tal siso. De acordo com Hong e Valix (2014), um númetuação, são necessários tratamentos de efluentes ro limitado de processos térmicos está disponível específicos e de alto custo. Essas tecnologias de para tal fim, desenvolvidos pela Fundição Aurubis, tratamento não são usadas por pequenas emprena Alemanha (KAHHAT & WILLIAMS, 2009), assim sas de reciclagem, seja pela ignorância do risco, como pela Fundição Noranda de cobre, no Canapela falta do conhecimento tecnológico ou pelos dá, e Fundição Ronnskar, na Suécia (CUI & ZHANG, altos investimentos que se fazem necessários. 2008). Considerando que esses metais não estão em sua forma pura, mas como ligas metálicas, A concentração dos contaminantes em WEEE durante a fusão, é preciso um consumo maior de depende do tipo de resíduo, da data de fabricação, energia (NAKAJIMA et al., 2010), podendo ser ne- da quantidade de resíduos processados e do métocessário utilizar processos hidrometalúrgicos (CUI do escolhido para a recuperação dos metais, senE ZHANG, 2008). do embora os metais pesados a principal causa de contaminação (Tabela 1) Processos hidrometalúrgicos aplicados no processamento de WEEE apresentam algumas A contaminação pode ocorrer com o solo vantagens, como menor custo de implantação e sendo contaminado (ZHANG, WU, SIMONNOT, operação, que são mais precisos e mais simples. 2012; LI et al., 2010; ZHAO et al., 2009 a, b) ou pela Esses processos se baseiam na solubilização e re- dispersão dos metais no ambiente, seja pela solucuperação dos metais em ácido, cianetos, tioureias, bilização em água, seja pela adsorção em partícutiossulfatos e halogenetos (CUI & ZHANG, 2008; las sólidas provenientes da queima de materiais TUNCUK et al., 2012; ZHANG et al., 2012) por meio contendo metais, o que leva à contaminação de da precipitação, extração por solvente, extração uma área maior que a dos sítios de deposição ou eletrolítica, adsorção e troca iônica (COMAN et al., de reciclagem. Entretanto, a presença de metais na 2013; CUIE ZHANG, 2008; RIMASZEKIETAL, 2012; água, ar e solo fornece uma visão sobre a contaminação, porém a mobilidade, biodisponibilidade ROBOTIN et al., 2012). Tabela 1. Fontes dos metais nos WEEE Fonte: (Qingbin, Li, 2014) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos 69 e toxicidade dos metais dependem das condições citados ao longo do artigo. ambientais locais, como o pH da água e do solo, o O universo analisado neste trabalho foram potencial redox e componentes da matriz, como a os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e matéria orgânica presente. África do Sul) e os países do G7 (Estados Unidos, A liberação dos metais aumenta a exposição Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Capela ingestão de água contaminada, entrando as- nadá), à luz do que estabelece Santos et al. (2014), sim na cadeia alimentar ou pelo contato dérmico considerando o consumo de menor demanda ecoe inalação (FU et al., 2008; LUO et al., 2011). Con- lógica de matéria-prima e recursos naturais, sendo siderando a cadeia alimentar, o teor de Chumbo e esse o consumo de 3 microcomputers por década. Cádmio em arroz (FU et al., 2008) e em hortaliças Foi analisada a quantidade de computadores que (LUO et al., 2011), cultivados em regiões de WEEE, os países desses dois grupos consumiriam, em se mostraram muito superiores, às vezes muito cima do valor obtido foi calculada a a massa em acima do limite aceitável, aos cultivados em outras toneladas de metais pesados que seria gerada. Em regiões tomadas como referência. Mas a absorção seguida, utilizando como base dados do Chile Rede metais pelo homem é um fenômeno complexo, síduos (Tabela 2), foi analisada a quantidade dos pois se deve observar a rota e a fonte desse metal, seguintes metais pesados: cobre, prata, paládio e o tempo de exposição dos seres vivos e possíveis ouro considerados em nosso objeto de estudo. efeitos inibidores, sinergéticos e aditivos que cada Em seguida, analisou-se a quantidade máxium dos metais pode provocar nos organismos ma de prata e cobre permitida em águas doces, (FRAZZOLI et al., 2013; NI et al., 2013). Nesse sentido, um maior aprofundamento do processo de salobras e salinas de classe 1 (segundo Ministécontaminação ambiental e dos seres vivos deve ser rio do Meio Ambiente - 2005) e em água potável (Ministério da Saúde - 2004) (Tabela 2). Com esse objeto de pesquisas. valor, foi analisada a quantidade de litros que os resíduos eletroeletrônicos conseguiriam contaminar com o dobro da quantidade de prata e co3 | Material e Métodos A presente pesquisa, de caráter qualitativo bre permitida. (OLIVEIRA, 2008; MINAYO, 2010), foi realizada por meio de levantamento de dados secundários mediante a copilação, compreendida como “a reunião sistemática do material contido em livros, revistas, publicações avulsas ou trabalhos” (LAKATOS & MARCONI, 2010, p. 48). Esse material foi encontrado em bases virtuais ou impressos, sendo produzido com o auxílio de fontes primárias (pesquisa documental) e secundárias (pesquisa bibliográfica). Os dados levantados foram copilados a partir de dados disponíveis em sites oficiais 4 | Análise e discussão dos resultados Analisadas as quantidades de equipamentos eletroeletrônicos produzidos pelos países do G7 e do BRICS (Tabela 4), foi possível analisar que, mesmo utilizando o modelo de consumo que cause menos impacto ao meio ambiente, a quantidade de resíduos produzidos é consideravelmente extensa. Tabela 2.Quantidade de metais na constituição de um computador pessoal (PC). Fonte: Chile Resíduos (s/a) Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Tabela 3.Concentração máxima para boa qualidade de águas doces e potabilidade de água. Quadro 1.Fontes: (1) Ministério do Meio Ambiente; (2) Quimíca Nova Escola Tabela 4.Quantidade de equipamentos eletroeletrônicos gerados pelos países do BRIC e do G7. 70 Analisando-se a quantidade de Prata, Ouro, Paládio e Cobre que esses países produziriam no espaço de uma década (Tabela 5), pode-se verificar que, entre os países do G7, os maiores produtores seriam o Japão e os Estados Unidos; no BRICS, entretanto, os maiores produtores seriam a China e a Índia. que todos os países do G7. Por outro lado, a África do Sul poderia provocar uma contaminação quase 150% a mais que todos os países do G7 adotando o mesmo processo (Tabela 6). Em comparação à prata, pode-se analisar que, devido à quantidade de cobre encontrada nos equipamentos eletroeletrônicos ser muito maior Observa-se que há uma quantidade de água que a de prata, esse metal pesado atingiria um voque apresenta potencial para ser contaminada lume significativo de água a mais que a prata (Tapela prata produzida através dos resíduos eletro- bela 7). Conclui-se que o volume de água atingido eletrônicos do BRICS e G7. Nesse cenário, o caso pelo cobre é quase 3 vezes mais que o volume atinmais grave é representado pela China, que sozinha gido pela prata. conseguiria desqualificar maior volume de água Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos Tabela 5.Quantidade de metais pesados em toneladas, produzidos pelos países do BRICS e G7. 71 Tabela 6.Quantidade de metais pesados em toneladas, produzidos pelos países do BRICS e G7. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Tabela 7.Volume (m3) de água que poderia ser contaminada por cobre advindo de WEEE. 5 | Conclusões 72 Percebe-se que a quantidade de volume de água que seria prejudicada com o descarte errôneo dos equipamentos eletroeletrônicos é expressiva, em particular em localidades onde ocorre estado de indigência hídrica, como em muitas localidades do Brics. Grande volume de água poderia ser atingido, inclusive água potável, o que significaria uma grande perda hídrica, agravando a situação de insegurança com a qual muitas populações convivem. Além disso, se essa água chegasse a entrar em contato com os seres humanos, animais ou plantas, ela poderia trazer sérios problemas devido ao processo de bioacumulação, que ocorre em diferentes níveis da cadeia trófica. Pode-se ainda perceber que o problema da poluição de rios e lagos está inteiramente ligado ao descarte errado dos resíduos. Dessa forma, cuidados com a qualidade ambiental devem incluir a gestão integrada dos resíduos sólidos, em particular formas de diminuir o volume dos WEEE, buscando reciclar e reaproveitar todos os seus componentes constituintes. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos Referências COMAN, V.; ROBOTIN, B.; ILEA, P.. Nickel recovery/removal from industrial wastes: a review. Resour. Conserv. Recycl., v. 73, pp. 229-238, 2013. X. D. 2011. Heavy metal contamination in soils andvegetables near an e-waste processing site, south China.J.Hazard. Mater.186: 481–490. FRAZZOLI, C.; MANTOVANI, A.; ORISAKWE, O.E. Electronic waste and human health.Reference Module in Earth Systems and Environmental Sciences.Elsevier; 2013 Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005. Diário Oficial da União 053, de 18/03/2005, págs. 58-63. Disponível em: < http://www. mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf> NAKAJIMA, K.; TAKEDA, O.; MIKI, T.; MATSUBAE, K.; NAKAMURA, S.; NAGASAKA, T. 2010. Thermodynamic analysis of contamination by alloying elements in aluminumrecycling. Environ. Sci. Technol. 44, pp.5594-5600. NI et al., 2013). CUI, J. R.; ZHANG, L. F. 2008.Metallurgical recovery of metals from electronic waste: areview. J. Hazard. Mater. 158, 228-256, 2008. Fu, J. J.; Zhou, Q. F.; Liu, J. M.; Liu, W.; Wang, T.; Zhang,Q. H.; Jiang, G. B.2008.High levels of heavy metals inrice (Oryza sativa L.) from a typical E-waste recycling areain southeast China and its potential risk to human health.Chemosphere.71: 1269–1275. GROSSMAN, E.. High Tech Trash: Digital Devices, Hidden Toxics, and HumanHealth. Island Press, Washington, DC, pp. 336-352, 2006. GROSSMANN, 2006). 73 GUAN, Y. F.; WANG, J. Z.; NI, H. G.; LUO, X. J.; MAI, B. X.; ZEN, E. Y. Riverine inputs of polybrominateddiphenyl ethers from the Pearl River Delta (China) to the coastal ocean, Environ. Sci. Technol. 41 (2007) 6007–6013. In: TANG, X.; SHEN, C.; SHI, D.; CHEEMA, S. A.; KHAN, M. I.; ZHANG,C.; CHEN, Y. Heavy metal and persistent organic compound contamination in soil from Wenling: An emerging e-waste recycling city in Taizhou area, China. Journal of Hazardous Materials, 173, pp. 653–660, 2010. HONG, Y.; VALIX, M. Bioleaching of electronic waste using acidophilic sulfur oxidizing Bactéria. Journal of Cleaner Production, v. 65, p.465-472, 2014. HONG, Y.; VALIX, M. Bioleaching of electronic waste using acidophilic sulfur oxidizing Bactéria. Journal of Cleaner Production 65, 465-472, 2014. KAHHAT, R.; WILLIAMS, E. 2009.Product or waste?Importation and end-of-life processingof computers in Peru. Environ. Sci. Technol. 43, 6010-6016.In: HONG, Y.; VALIX, M. Bioleaching of electronic waste using acidophilic sulfur oxidizing Bactéria. Journal of Cleaner Production 65, pp.465-472, 2014. KOLIAS, K.; HAHLADAKIS, J. N.; GIDARAKOS, E. Assessment of toxic metals in waste personal computers. Waste Management, XXX, p.XXX, 2014. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed., São Paulo: Atlas, 2010. Li, J.; Duan, H.; Yu, K.; Liu, L.; Wang, S. Characteristic of low-temperature pyrolysis of printedcircuit boards subjected to various atmosphere. ResourConservRecycl, 2010;54:810–5. Luo, C. L.; Liu, C. P.; Wang, Y.; Liu, X.; Li, F. B.; Zhang, G.; Li, MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social; teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. NI, H. G.; ZENG, E. Y. Lawenforcement and global collaboration are the keys to containinge-waste tsunami in China, Environ. Sci. Technol. 43 (2009) 3991–3994. Ni, K.; Lu, Y.; Wang, T.;Kannan, K.;Gosens, J.;Xu, L.A review of human exposure topolybrominateddiphenyl ethers (PBDEs) in China.Int J Hyg Environ Health 2013;216:607– 23. OISHI, T.; KOYAMA, K.; ALAM, S.; TANAKA, M.; LEE, J.C. 2007.Recovery of high puritycopper cathode from printed circuit boards using ammoniacal sulfate or chloride solutions. Hydrometallurgy 89, 82-88. OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA. Vol. 33, N° 4, NOVEMBRO 2011. RIMASZEKI, G.; KULCSAR, T.; KEKESI, T.2012. Application of HCl solutions for recoveringthe high purity metal from tin scrap by electrorefining. Hydrometallurgy 125,55-63. ROBINSON, B. H. 2009. E-waste: An assessment of global production and environmental impacts. Sci. Total Environ. 408: 183–191. ROBOTIN, B.; COMAN, V.; ILEA, P. 2012. Nickel recovery from electronic waste III iron nickel separation. Stud. Univ. Babes-bolyai Chem. 57, 81-90. SONG, Q.; LI, J.A systematic review of the human body burden of e-waste exposure in China. Environment International, 68, p.82–93, 2014. TUNCUK, A.; STAZI, V.; AKCIL, A.; YAZICI, E.Y.; DEVECI, H. 2012. Aqueous metal recovery techniques from e-scrap: hydrometallurgy in recycling. Minerals Eng.25, 28-37. UNEP DEWA/GRID-Europe, E-waste, the hidden side of IT equipment’s manufacturing gand use. Early Warning on Emerging Environmental Threats, 2005 (chapter 5). Disponível em: http://www.grid.unep.ch/product/publication/download/ew ewaste.en.pdf. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Impactos Causados por Metais em Humanos Devido à Disposição Inadequada de Equipamentos Eletroeletrônicos WIDMER, R.; OSWALD-KRAPF, H.; SINHA-KHETRIWAL, D.; SCHNELLMANN, M.; BÖNI, H.Global perspectives on e-waste. Environmental Impact Assessment Review 25, 436–458. 2005. YAMANE, H. L.; MORAES, V. T.; ESPINOSA, D. C. R.; TENÓRIO, J. A. S.; 2011. Recycling of WEEE: characterization of spent printed circuit boards from mobile phones and computers. Waste Manage 31, 2553–2558. Zhang, J. H.; Min, H. 2009. Eco-toxicity and metal contamination of paddy soil in an e-wastes recycling area. J. Hazard.Mater.165: 744–750. ZHANG, W. H., WU, Y. X. and SIMONNOT, M. O. Soil contamination due to e-waste disposal and recycling activities: A review with special focus on China. Pedosphere.21(4): 434–455, 2012. ZHANG, Y.H.; LIU, S.L.; XIE, H.H.; ZENG, X.L.; LI, J.H. 2012. Current status on leachingprecious metals from waste printed circuit boards. In: Jinhui, L., Hualong, H.(Eds.), Seventh International Conference on Waste Management and Technology. Elsevier Science Bv, Amsterdam, pp. 560568. 74 Zhao, G.; Wang, Z.; Zhou, H.; Zhao, Q. Burdens of PBBs, PBDEs, and PCBs in tissues of the cancerpatients in the e-waste disassembly sites in Zhejiang, China.Sci Total Environ2009b;407:4831–7. Zhao, G.; Zhou, H.; Wang, D.; Zha, J.; Xu, Y.; Rao, K. PBBs, PBDEs, and PCBs in foods collected from e-waste disassembly sites and daily intake by local residents. Sci Total Environ. 2009a;407:2565–75. Revista Pernambucana de Tecnologia, Recife, v. 3, n. 3, p. 66–74, mar, 2015 Realização Parque Tecnológico Co-realização Inovação e Sustentabilidade Patrocinadores Apoio