O GLOBO ● ESPORTES ● AZUL MAGENTA AMARELO PRETO PÁGINA 28 - Edição: 15/07/2009 - Impresso: 14/07/2009 — 20: 44 h 28 Quarta-feira, 15 de julho de 2009 O GLOBO ESPORTES . O páreo mais difícil de J. Ricardo Jóquei revela que está com câncer e vai parar de montar por seis meses Marcos Ramos/16-8-2003 C Marco Aurélio Ribeiro Doença tem uma grande chance de cura ampeão nas pistas e segundo maior ganhador do turfe mundial, com 10.570 vitórias, Jorge Antônio Ricardo, o Ricardinho, tem pela frente, aos 47 anos, o maior desafio de sua vida. Radicado há dois anos e meio na Argentina, depois de vencer a estatística no Hipódromo da Gávea por 24 temporadas consecutivas, o jóquei revelou, em entrevista coletiva em Palermo, na segunda-feira, que tem câncer, diagnosticado por especialistas. — Este é o páreo mais difícil de minha vida, mas vou vencê-lo — disse Ricardo na coletiva. Após participar das corridas do dia, tendo vencido um páreo, o brasileiro, acompanhado de Ricardo Benedicto, dono do Stud Rubio B., seu contratante, reuniu a imprensa e revelou que se afastaria das pistas de quatro a seis meses para o tratamento de um linfoma, diagnosticado por vários especialistas. Ele afirmou que há dois anos teve uma espécie de íngua no pescoço e, na oportunidade, foi comprovado que o gânglio era de baixa agressividade, podendo ser controlado com medicamentos. Ricardo preferiu esconder o fato da família, para não causar preocupação: — Mas após cair em Cidade Jardim (São Paulo), em março, na disputa do GP Latinoamericano, creio que sofri uma baixa no sistema imunológico, e o problema se agravou. Ricardinho voltou a montar normalmente nos hipódromos argentinos, mas começaram a surgir gânglios doloridos no pescoço, o que o levou a consultar diversos especialistas. — O diagnóstico foi unânime entre todos os médicos que me atenderam. Preciso fazer de quatro a seis meses de quimioterapia — explicou o jóquei. Antônio Marinho Oncologistas não veem qualquer relação entre o acidente sofrido por J. Ricardo e a piora de seu câncer. O jóquei disse no site do Jockey Club Brasileiro que sofre de linfoma há dois anos e que estava controlando a sua doença apenas com medicamentos orais. Mas agora terá que passar por sessões de quimioterapia. Há vários tipos de linfomas, como de Hodgkin e não-Hodgkin (o mais comum). J. Ricardo não revelou qual é o seu caso. O da ministra Dilma Roussef, por exemplo, é o não-Hodgkin. Este câncer afeta o sistema linfático, uma rede de tubos muito finos por todo o corpo e que transporta a linfa (líquido que contém os linfócitos, glóbulos brancos, que fazem parte do sistema de defesa do organismo). J. Ricardo tem se queixado de dores insuportáveis. Às vezes o linfoma é de baixo grau e o paciente fica anos sem manifestar a doença, e o médico decide tratar apenas com drogas orais e observar. Porém o tumor pode sofrer alguma transformação e se tornar agressivo, exigindo uma ação mais eficaz, como a quimioterapia, pelo menos durante quatro meses, diz Daniel Herchenhorn, chefe do Serviço de Oncologia Clínica Hospital do Câncer do Inca. — Não acredito que a queda tenha agravado o câncer. Na fase de quimioterapia, geralmente pedimos ao paciente para reduzir o seu ritmo de trabalho. Só o médico dele poderá avaliar isso. A doença tem grande chances de cura. Estudos indicam que linfomas podem estar associados ao estilo de vida moderno, à poluição e ao consumo de alimentos industrializados ou com agrotóxicos. ● Confiança em uma plena recuperação O piloto espera que o tratamento comece imediatamente. Segundo informação de parentes, deve ocorrer em Buenos Aires. Dona Maria Possamai Ricardo, mãe do jóquei, está com ele em Buenos Aires desde o mês passado, no apartamento onde vive com a atual mulher, Renata, e a filha, de 2 anos: — Pretendo ficar ao lado de meu filho durante o tratamento e espero vê-lo completamente recuperado e de volta ao trabalho — disse. Jorge Ricardo, um campeão nas pistas, ganhador de quase todas as provas importantes da América do Sul, garante que vai se recuperar e voltar a fazer o que mais gosta, montar cavalos de corrida: — Estou confiante e os médicos me garantiram que, após a quimioterapia, deverá acontecer a remissão da doença e poderei voltar às minhas atividades normais. Peço às pessoas que torçam por mim, porque eu estou convicto de mais essa vitória. Assim que der, vou ao Rio. ● A solidariedade dos colegas e amigos ● Logo após a entrevista, Ricardinho recebeu o apoio de quase todos os profissionais de turfe. Jóqueis, treinadores e o público presente ao hipódromo mostraram solidariedade ao campeão, que mesmo em pouco tempo se transformou em grande ídolo no país vizinho. A notícia da doença de Jorge Ricardo, que chegou à Gávea por volta das 22h de segunda-feira, caiu como uma bomba entre profissionais de turfe, jornalistas e turfistas. Apesar do choque, todos se mostraram confiantes na recuperação do ídolo. No centro de treinamento do Vale do Itajara, os profissionais tomaram conhecimento da notícia por intermédio do treinador Venâncio Nahid, amigo de infância de Ricardo. Todos estão torcendo pela recuperação do grande campeão. ■ JORGE RICARDO: com 10.570 vitórias, o maior nome do turfe brasileiro vive um drama e luta para se recuperar totalmente . Uma carreira brilhante e de muitos recordes Um botafoguense campeão na Gávea por 24 anos consecutivos Carioca do Leblon, torcedor do Botafogo, 47 anos, Jorge Ricardo é o maior ganhador da história do Hipódromo da Gávea. Pai de três filhos, ele venceu a estatística por 24 temporadas consecutivas e foi campeão logo no primeiro ano na Argentina, batendo o recorde do ídolo local, Pablo Falero. Ricardo afirma que a receita do seu sucesso é muito simples: trabalho, obstinação e prazer de exercer a profissão. — Acho que rende muito mais quem faz o que gosta. E não há nada que eu goste mais do que montar cavalos de corrida. Acostumado a bater recordes, o piloto já montou e ganhou na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Peru, além de ter participado de algumas provas nos Estados Unidos e na França. Na Argentina, onde está radicado, já foi agraciado com prêmios importantes como o Olímpia de Plata, dado a esportistas de várias modalidade, e, em maio deste ano, recebeu o Pellegrini do Ano, título mais importante dado a um jóquei no turfe argentino. Um dos primeiros desafios do grande campeão foi vencer o GP Brasil. Os anos se passavam e o jovem profissional não conseguia aquele que é o sonho de todo La Nación/10-1-2008 ● RICARDINHO EM ação: um colecionador de títulos e de recordes carreira jóquei, ganhar a maior prova do turfe nacional. Algumas derrotas foram incríveis, como a de Bowling para Grimaldi, montado pelo arquirrival da época, Juvenal Machado da Silva. Mas, finalmente em 1992, por intermédio de Falcon Jet, obteve uma conquista sensacional, em páreo disputadíssimo, derrotando o mesmo Juvenal. Dois anos depois, com Much Better, do Stud TNT e também treinado por João Luiz Maciel, obteve a segunda vitória. Outro período marcante na carreira de Ricardinho foi a busca pelo recorde mundial, que per- tencia ao panamenho Laffite Pincay Jr. O maior adversário era o canadense Russell Baze, radicado nos Estados Unidos. Em dezembro de 2006. Baze alcançou o topo do mundo, mas Ricardinho superou o adversário dois meses depois. Com a queda do brasileiro, em março, no GP Latino, Russel Baze recuperou o lugar de maior ganhador do turfe mundial, mas Ricardinho vinha se aproximando. Até a última segunda-feira, quando anunciou que vai parar para tratamento de saúde, alcançou a marca de 10.570 vitórias — 21 atrás de Baze. (M. A. R.) Principais títulos GP BRASIL: Venceu duas vezes. Com Falcon Jet, em 1992, sua primeira conquista, em final emocionante com Flying Finn, montado por Juvenal Machado da Silva, seu principal adversário nas pistas. Dois anos depois, ganhou com Much Better, desta vez, uma vitória fácil, com muita tranquilidade. ● GP LATINO: Foram cinco vitórias na prova mais importante do continente. Com Falcon Jet, em Cidade Jardim; Jinwaki, em San Isidro, duas vezes com Much Better (Gávea e La Plata); e com Good Report, também no Hipódromo de La Plata. ● GP PELLEGRINI: Foi bicampeão da maior carreira do turfe argentino. Sua primeira conquista aconteceu com o craque Much Better, do Stud TNT, em 1994. Depois, com outro cavalo brasileiro, Gorylla, ganhou a prova em 2003. ● GP RAMÍREZ: Na maior prova do turfe uruguaio, Ricardinho brilhou no dorso de Good Report, em 2007. ● GP BENTO: Uma das provas que ainda faltavam ao currículo do campeão era o GP Bento Gonçalves, maior carreira do Rio Grande do Sul. A vitória veio em 2007, com Starman, que repetiu o feito em 2008, garantindo o bi a Ricardinho. ● GP SÃO PAULO: Na maior prova do turfe paulista, Jorge Ricardo brilhou em duas oportunidades. Com Much Better, num dia muito triste, 1 o- de maio de 1994, quando morreu Senna, e com Mackbeth em 2005. ●