Quaresma é o tempo que vem e vai,
Tempo para ser vivido em caminho,
sem se instalar, sem o reter, sem lamento,
com a esperança sempre à flor de pele
e o olhar fixo noutro tempo,
a Páscoa, que é definitiva.
Florentino Ulibarri
Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto,
a fim de ser tentado pelo diabo.
Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome.
Jesus caminhará sempre movido pelo Espírito. Pode levá-l’O ao Jordão, ao Tabor, a
Getsémani, ao Deserto. Tudo responde ao plano de Deus.
A nós também nos convida o Espírito a ir, com Jesus, ao deserto.
No poderia ser este tempo quaresmal uma estupenda ocasião para procurarmos um
pouco de deserto? Para buscar momentos de solidão, de silêncio, de busca, de
escuta, de decisões, de austeridade, de discernimento, de oração, de encontro
consigo mesmo e com Deus.
A Jesus, o Espírito fá-l’O sentir fome de serviço, de humildade, de compaixão, de
entrega, de confiança... Também a mim?
O tentador aproximou-se e disse-Lhe:
- Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães.
Jesus respondeu-lhe:
- Está escrito: Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Jesus foi tentado pelos familiares e pelos discípulos,
pelo povo e pelas autoridades civis e religiosas.
O objectivo é que Jesus actue à margem do plano de Deus.
A tentação está em considerar a satisfação das necessidades materiais como o
objectivo último e definitivo. Como se o material fosse o principal.
De que vivo? Qual é o meu alimento para amadurecer e crescer?
Um bom alimento podia ser buscar o encontro com a Palabra de Jesus, escutá-l’O
nas pessoas que encontrar
e nas circunstâncias e acontecimentos de cada dia.
Então o diabo conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe:
- Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito:
Deus mandará aos seus anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em
alguma pedra.
Respondeu-lhe Jesus:
- Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
É a tentação do desejo de domínio, a sede de poder, o desejo de submeter os
outros, de exigir obediência. A alternativa que Jesus propõe a esta espalhada
tentação é o serviço. No lava-pés deixa-nos em testamento a maneira de exercer o
poder.
Jesus não nasceu para que os anjos O levem em bolandas, mas para abraçar, tocar
leprosos, sarar feridas, carregar sobre os seus ombros a ovelha perdida e mostrar a
compaixão do Pai para com as pessoas necessitadas.
De novo o diabo O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos
do mundo e a sua glória, e disse-Lhe:
- Tudo isto Te darei, se, prostrado, ma adorares.
Respondeu-lhe Jesus:
- Vai-te, Satanás, porque está escrito:
Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto.
Continua a ser actual a tentação de tentar utilizar e manipular Deus,
de querer ser como Deus, fazer Deus à nossa medida,
pretender que faça a nossa vontade de forma mágica.
A tentação da arrogância, os privilégios, o poder, a prepotência,
o prestígio, a manipulação de consciências e do monopólio da verdade,
pode-se apresentar até baseando-se na Escritura.
Adorar só a Deus torna-nos pessoas felizes, livres e fraternas.
Então o diabo deixou-O e aproximaram-se os anjos e serviram-n’O.
Com a sua vitória Jesus mostra-nos que todas as debilidades,
que sem dúvida teremos, podem ser superadas.
Como Ele, contamos com a força do Espírito e a luz da Palavra.
Sentir a tentação-prova é bom.
Ajuda-nos a crescer e a amadurecer, a ser mais realistas, mais fortes,
mais compassivos, mais compreensivos,
e necessitados de oração constantemente e conversão permanente.
“Jesus tolera ser tentado para que n’Ele
aprendamos todos a triunfar”
(Santo Ambrósio).
Bendito sejas, Pai, por este tempo tão oportuno,
para a conversão e o encontro, que Tu concedes grátis
a todos os teus filhos que andamos desorientados pelos caminhos da vida.
Bendito sejas, Pai, porque chamas a cada homem e mulher,
seja qual for a sua história ou a sua vida, a empreender cada dia,
de maneira mais pessoal e consciente, o seu compromisso de seguir Jesus,
teu Filho e nosso Irmão.
Bendito sejas, Pai, por nos despertares dos nossos doces sonhos,
tão vaporosos e infecundos, por nos interpelares no radical da vida,
por nos libertares das nossas falsas seguranças,
por pores a descoberto os nossos ídolos secretos que tanto defendemos
e tentamos justificar.
Bendito sejas, Pai, porque nos dás o teu Espírito,
o único que nos pode converter, o único que nos pode dar um coração de filhos,
o único que pode atravessar os nossos pensamentos,
o único que nos pode guiar pela senda do Evangelho,
o único que torna possível que voltemos ao teu seio.
Bendito sejas, Pai, por este tempo tão propício!
Ulibarri Fl.
Download

Continua