XXXII DOMINGO Tempo Comum – Ano C
Evangelho: Lc 20, 27-38
Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.
Ir. Genoveva Fogaça.
Conteúdo e contexto
O texto do Evangelho deste dia é Lucas 20, 27-38 que traz para a nossa reflexão o tema da
ressurreição, na qual os fariseus acreditavam e os saduceus não.
Os saduceus eram um grupo de famílias ricas que formavam a elite de Jerusalém. Eram muito
conservadores. Politicamente eram aliados do poder romano opressor. Na religião se destacavam
pela negação da ressurreição. Não se preocupavam com a vida após a morte. Já estavam
satisfeitos com a vida rica que levavam, com seu bem estar, à custa dos impostos altíssimos pagos
pelo povo.
O objetivo dos saduceus ao se aproximarem de Jesus não era outro senão ridicularizar a crença
na ressurreição. O caso inventado por eles para Jesus resolver se baseia na lei chamada do
levirato (Conferir: Dt 25,5; Gn 38,8; Rt 4) que tinha o objetivo de garantir a descendência da família.
Segundo essa lei, “se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a
viúva para garantir a descendência para seu irmão” (v 28).
Jesus começa corrigindo a falsa imagem de ressurreição apresentada por eles, deixando claro
que a verdadeira ressurreição não é prolongamento ou repetição da vida presente, mas consiste na
passagem a uma categoria nova, comparável aos “filhos de Deus” da tradição (Sl 91,1; 82,6), ou
seja, os anjos.
Jesus diz que o casar-se e o procriar é próprio desta vida terrena, mas quando as pessoas
estiverem junto a Deus, não há mais necessidade de prolongar as estruturas patriarcais que, no
caso, beneficiam os saduceus (os varões ricos). Eles é que precisam garantir a descendência para
que suas riquezas não saiam de suas mãos.
Jesus lembra ainda que, na tradição bíblica, Deus é chamado “Deus de Abraão, de Isaac e de
Jacó”. Estes patriarcas morreram e Deus não deixou de ser o Deus deles. E Jesus conclui: “Deus
não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para Ele” (v. 38). Os patriarcas estão
vivos em Deus.
A primeira leitura, tirada do Segundo Livro dos Macabeus (2Mc 7,1-2. 9-14) traz o relato do
martírio de sete irmãos e sua mãe. O povo judeu, 160 anos antes de Cristo, estava dominado pelo
rei Antíoco IV Epífanes que decidiu acabar com a religião judaica. Utilizando de duras torturas
queria obrigar os jovens a comer carne de porco que lhes era proibida.
Os jovens, sempre apoiados por sua mãe, permaneceram firmes e preferiram morrer a pecar.
Retrucavam com vigor: “Estamos prontos a morrer antes que violar a lei de nossos pais” (v 2); “Tu,
ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o rei do universo nos ressuscitará para uma vida
eterna, a nós que vivemos por suas leis” (v 9); “Do céu recebi estes membros (...), do céu espero
recebê-los de novo” (v 11); “Prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por
Deus, que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida” (v
14).
Na narração, está evidente que só é possível o martírio por causa da fé na ressurreição. Os
jovens confiavam na fidelidade do Deus que jamais os abandonaria!
Na segunda leitura, 2ª Carta de São Paulo aos Cristãos de Tessalônica, o apóstolo os exorta a
ter fé firme enquanto ainda caminham neste mundo que não tem fé e, muitas vezes é hostil à
pregação do Evangelho. E continua o apóstolo advertindo-os a seguir em frente, apesar das
dificuldades, pois o Senhor dirigirá os seus corações “ao amor de Deus e à firme esperança em
Cristo”(v 5).
Concluindo, podemos dizer que a reflexão da Palavra, neste domingo, traz a afirmação de
central importância para a nossa fé cristã: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos”. O autor
José Antonio Pagolla retoma o livro da Sabedoria (Sb 11,23-26) que afirma esta mesma verdade,
dizendo que “Deus é amigo da vida, não detesta nada do que criou, ama todos os seres; do
contrário não os teria feito. Perdoa a todos, se compadece de todos, quer a vida de todos, porque
todos são seus”. Diante desta maravilhosa realidade do amor misericordioso de Deus, Pagolla traz
este questionamento: “Como não amamos com mais paixão a criação inteira? Por que não
cuidamos da vida de todos os seres e não a defendemos mais energicamente de tanta depredação
e agressão? Como podemos continuar pensando que nosso bem estar é mais importante do que a
vida de tantos homens e mulheres que se sentem estranhos e sem lugar nesta Terra criada por
Deus para eles?” (p. 320-321).
E o autor continua questionando o fato de olharmos pouco para o céu: “Não sabemos levantar
nosso olhar para além do imediato de cada dia. Não nos atrevemos esperar muito de nada e de
ninguém, nem sequer desse Deus revelado como Amor infinito e salvador em Cristo ressuscitado.
Esquecemos que Deus ‘não é um Deus de mortos, mas de vivos’. Um Deus que só quer uma vida
feliz e plena para todos e por toda eternidade” (p. 323).
Bibliografia
- Bíblia do Peregrino-Paulus/2002 (Rodapé)
- O Caminho Aberto por Jesus- José Antonio Pagolla - Lucas – ( p.317-323)
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