QUEM PRECISA DE JESUS?
José Pio Martins
A propósito do Natal e do seu personagem, Jesus Cristo, eu debatia com um
amigo ateu convicto sobre essa figura, que é religiosa, política e histórica. O amigo
dizia que, não suportando a ideia de morrer e desaparecer por completo, o ser
humano inventou Deus e a alma. Para ele, isso é bobagem, a vida termina aqui, o
cérebro morre e, com ele, morrem a consciência e todas as nossas sensibilidades.
Costumo brincar com os ateus dizendo-lhes que eles são pessoas de fé. Eles têm fé
que não existe Deus e a alma também não.
Pensando sobre o aniversariante, cabe perguntar: que importância tem Jesus e
quem precisa dele? Começo dizendo que, mesmo na hipótese de nada existir depois
desta vida, Jesus Cristo é necessário. A ética cristã é necessária. Vamos refletir! A
vida na Terra somente terá um sentido de civilização social e elevação moral se o
ser humano puder viver junto, usufruir da presença do outro, felicitar-se no contato
com o semelhante, cooperar, competir sem destruir, distribuir o bem e minimizar o
sofrimento seu e dos outros. Para alguns filósofos, esses comportamentos poderiam
ser conseguidos pela reflexão intelectiva e pela ética, sem necessidade de Deus e
da alma. Nesse ponto é que o problema começa.
O ser humano, em geral, não tem inclinação natural e instintiva para ser
solidário, ter compaixão pela dor alheia e doar-se em favor de outrem, pois no reino
animal, o egoísmo, a disputa e a competição são a regra. Embora o homem seja um
animal dotado de consciência, cabe perguntar: caso tudo acabe aqui, que razões
haveria para a compaixão e a solidariedade? Por que haveríamos de dar de nós em
favor do outro se, do nascimento até a morte, nossos semelhantes teriam uns
poucos anos de sofrimento, depois tudo viraria pó? Ainda que alguns filósofos
tenham razão teórica em dizer que a bondade e o amor não dependem de Deus
nem da alma, na prática o homem é um animal que tem dificuldade em fazer o bem
e ser solidário sem levar em conta o que pode ocorrer depois da vida.
Pois aí é que entra Jesus. Até o seu nascimento, há dois mil e tantos anos, os
homens não eram iguais em dignidade, a vida humana valia pouco, a escravidão era
considerada natural, os reis e os imperadores oprimiam o povo sem remorso, o
respeito ao semelhante não era um valor maior, as mulheres eram servas dos
homens e os doentes eram abandonados para morrer. A ética cristã subverteu toda
essa ordem, ao dizer que todos são iguais perante Deus e que a vida de qualquer
pessoa é um bem a ser respeitado e protegido. Nisso residiria a justificativa do amor,
da solidariedade e do bem.
Uma das definições cristãs de “caridade” dá uma boa medida da ética de Jesus.
Ela diz que a caridade consiste em “benevolência para com todos; indulgência para
com as imperfeições alheias e perdão das ofensas”. “Benevolência”, como vontade
de fazer o bem; “indulgência”, como a capacidade de aceitar as imperfeições dos
outros; e “perdão”, como a capacidade de superar as ofensas sem mágoa, sem
rancor e sem desejo de vingança. Aduzia Jesus que devemos agir assim, pois que
da indulgência e do perdão nós mesmos necessitamos. Daí, a sua maior máxima:
“Não faça a outrem tudo aquilo que não gostaria que outrem lhe fizesse; e mais: faça
a outrem tudo o que gostaria que outrem lhe fizesse”. Resumo: não basta deixar de
fazer o mal; é preciso fazer o bem.
Pensadores religiosos afirmam que seria muito difícil atingir a evolução ética da
humanidade e a disposição do homem para o bem, o amor e a solidariedade sem a
crença em Deus e em algo mais depois desta vida. Discussões filosóficas à parte, o
fato é que a ética cristã contribui para tornar o homem melhor. O amor pelo
semelhante é mais provável no coração do homem que vê o ser humano como algo
mais do que matéria finita. Há sociedades onde muda o mestre espiritual, mas a
crença em Deus e na ética cristã do amor e da solidariedade são similares.
Mesmo se não existir Deus, a ética cristã é necessária. Se a forma de obtê-la é
pela filosofia ou pela religião, pouco importa, o fato é que os ideais de amor, de
solidariedade, de humildade, de bondade e de disposição para cooperar e fazer o
bem são os valores que nos tornam humanos, civilizados e fazem a vida valer a
pena. Sem isso, seria o retorno à barbárie e à destruição dos fracos pelos fortes;
seria um mundo que não mereceria existir.
A influência histórica de Jesus é tão grande que mesmo o arrogante Napoleão
Bonaparte a reconheceu e a expressou numa frase: “Alexandre, César, Carlos
Magno e eu fundamos impérios... mas em que baseamos nossas criações geniais?
Na força! Aquele pregador indigente de Nazaré fundou seu império baseado no
amor e, até hoje, milhões de pessoas o seguem e morreriam por Ele”.
Se você faz o bem e faz alguma coisa pelo seu semelhante, de qualquer forma
você ganhará. Se existir Deus, você ganhará; se não existir, você também ganhará,
pois terá passado pela vida com sentimentos nobres e atitudes elevadas. Bom Natal!
José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.
Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade
dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas.
É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.
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