2 Cabo Verde e UE desencalham acordo de pescas O novo acordo de pescas que a União Europeia propôs a Cabo Verde está encalhado. Depois de duas rondas negociais, uma na Praia em Abril, e outra em Bruxelas, em meados de Maio, os negociadores reiniciaram ontem à tarde a discussão na capital cabo-verdiana, para tentar superar as divergências que os separam. Em causa estão várias questões, entre as quais a relutância da UE em efectuar descargas de peixe em Cabo Verde. A UE também não quer sujeitar as suas embarcações a Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Actualidade inspecções técnicas das autoridades cabo-verdianas. Com o actual acordo de pescas entre Cabo Verde e a UE a expirar o seu prazo já no final deste mês, as duas partes tentam agora compatibilizar os interesses antagónicos que ditaram o insucesso das duas rondas anteriores. Embora a directora-geral de Pescas, Ermelinda Carvalho, negue que esta terceira ronda tenha sido “arrancada a ferros”, informações recolhidas por A Semana apontam para uma indefinição do processo após as conversações que terminaram em Bruxelas no passado dia 17 sem qualquer avanço. Um alegado impasse que terminou no início desta semana, quando a UE mostrou interesse em retomar as negociações, iniciadas entretanto. Na base da discussão está a proposta de um novo acordo de pescas e a consequente revisão dos pontos previstos no protocolo e anexo rubricado na Praia em 2001, que a União Europeia apresentou a Cabo Verde. Segundo A Semana apurou, são pelo menos duas as questões que estão a dificultar o alcance de um consenso entre Bruxelas e Praia - a descarga do peixe capturado pelos barcos europeus em Cabo Verde e a realização de inspecções técnicas. Tendo em conta o acordo de pescas actualmente em vigor, os pesqueiros europeus são obrigados a descarregar em Cabo Verde cinco por cento do pescado extraído das águas nacionais. No entanto, segundo o apurado por este semanário, a UE quer eliminar, pura e simplesmente, esta cláusula. A justificação é simples: com a quantidade “irrisória” de peixe capturado em Cabo Verde pelos pesqueiros europeus, esta obrigação deixa de fazer sentido. Segundo uma fonte, esta situação ape- nas se verifica porque Cabo Verde não controla a quantidade de pescado capturado pelas embarcações europeias, apesar do actual acordo prever a presença de um observador cabo-verdiano a bordo, para efeitos de fiscalização. Assim, assegura a fonte, é complicado confirmar se esta quantidade de pescado é assim tão irrisória quanto isso, uma vez que os pescadores europeus podem declarar o que quiserem, a seu bel-prazer. Talvez cientes desta questão, e decerto preocupados com a possível redução do abastecimento de pescado às indústrias nacionais de transformação de peixe, quando confrontados com esta pretensão, os responsáveis cabo-verdianos bateram o pé ao gigante europeu. Uma atitude que se repetiu face a uma outra pretensão da UE a que as autoridades cabo-verdianas também se opõem, e que a ser aprovada retiraria a Cabo Verde a possibilidade de fazer inspecções técnicas aos barcos europeus. Embora neste momento Cabo Verde não esteja a dar resposta à fiscalização das embarcações, a sua contemplação no diploma atribui-lhe, pelo menos, a possibilidade de exercê-la. Com a anulação dessa possibilidade, Cabo Verde ficaria, assim, de pés e mãos atados em matéria de fiscalização, ficando literalmente a ver os navios passar. A configuração da proposta europeia aproxima-se, desta forma, de um acordo de livre acesso e não de parceria, como a UE lhe pretende chamar. Uma espécie de camuflagem que encobriria a política que Bruxelas tem estado a desenvolver em matéria de pescas. Com os stocks piscícolas dos países membros em baixa, a UE tem-se virado progressivamente para os países menos desenvolvidos em busca de bancos de peixe que alimentem e suportem o mercado europeu. Em geral, conhecedor das fragilidades e deficiências desses países do Sul, Bruxelas procura, segundo um responsável cabo-verdiano, impor condições draconianas a troco de uma compensação mínima. “Esta tem sido uma forma de retirar dos países do Sul os seus recursos piscícolas sem muitas compensações. Ora, desta vez, queremos negociar muito bem o nosso acordo com a UE, e em condições mais vantajosas”, diz a fonte, para quem, num processo como este, “é coisa normal” as interrupções negociais. MONTE VENTOSO A falta de fiscalização das movimentações e actividades dos pesqueiros europeus em águas nacionais é real como, aliás, o admite a directora-geral de Pescas, Ermelinda Carvalho. Embora estejam previstas no acordo de pescas entre Cabo Verde e UE, medidas como a presença de um observador cabo-verdiano a bordo das embarcações, a comunicação da entrada e saída dos navios da Zona Económica Exclusiva cabo-verdiana ou o envio à DGP de diários com o tipo de pescado capturado e a indicação das zonas de faina “não são cumpridas pela maioria dos pesqueiros europeus que operam nas nossas águas ao abrigo do protocolo assinado entre a UE e Cabo Verde”, reconhece Carvalho, embora saliente que “existe um grande número que o cumpre”. A directora-geral das Pescas admite, entretanto, a necessidade de articular com as capitanias e com a Guarda Costeira novas formas de actuação em matéria de fis- calização, não adiantando, porém, qualquer tipo de calendarização com vista a este reforço. A inércia cabo-verdiana nesta matéria é, inclusivamente, apontada como uma das responsáveis pelo encalhe do pesqueiro espanhol “Monte Ventoso” em Pedra do Lume, no Sal, a 12 de Maio do ano passado. De acordo com o Protocolo e Anexo ao Acordo de Pesca de 2001, este “palangreiro de superfície” deveria operar “a partir das 12 milhas, a contar das linhas de base”, o que obviamente não foi cumprido. O redemoinho de reacções que se seguiu, com duas tentativas de desencalhe frustradas pelo meio, e a notificação feita pela autoridade marítima do Sal ao armador espanhol para que este retirasse o pesqueiro até ao dia 22 de Maio, em nada resultaram. Agora, mais de um ano depois, o Monte Ventoso continua encalhado, constituindo um risco para a saúde pública, para o ambiente e para a própria segurança das outras embarcações que circulam na zona. Isto quando há bem pouco tempo a UE impôs a Cabo Verde, como condição para importar o seu pescado, limpar a baía do Porto Grande, em São Vicente das sucatas que ali jaziam. Confrontada com esta questão, a directora-geral de Pescas afirmou que a DGP “está em conversações com o Governo espanhol para a retirada da embarcação”, e com a UE, “para fazer pressão sobre o armador”. Segundo Ermelinda Carvalho, esta questão será inclusivamente abordada na ronda negocial que agora decorre e onde também serão postas encima da mesa as constantes violações do acordo de pescas, por parte das embarcações europeias. ADEUS MIMINA Guilhermina Almeida Ribeiro (Mimina) partiu terçafeira deste mundo deixando para trás aquele que foi seu companheiro de vida durante 50 anos, Carlos Ribeiro, Cai. A Semana que na edição anterior rendia a sua homenagem ao casal que no sábado celebrou as suas bodas de ouro curva-se agora perante a ditadura da morte, a única culpada desta separação forçada. Miminha foi ontem a enterrar no cemitério da Várzea frente ao olhar inconsolável dos sete filhos, muitos netos, alguns bisnetos e acompanhada por uma multidão de amigos. Descanse em paz Mimina À família enlutada toda a solidariedade da equipa de A Semana. 3 Daniel Benoni, antigo inspector dos Negócios Estrangeiros, que viu a sua casa vasculhada por polícias que procuravam os documentos relativos ao célebre escândalo do “enxoval” do embaixador Eugénio Inocêncio, não mais irá responder sobre este processo na justiça. Isto porque a queixa contra ele formulada pelo Ministério Público, desde 1996, por alegada posse de documentos do Estado, prescreveu. Mas Benoni não é o único nesta situação. Vários outros casos, estes existência de tais crimes, desta vez por causa da entrada em vigor do Novo Código do processo penal NCP, a culpa voltou a morrer solteira. Novo Código Penal prescreve escândalos dos anos 90 Volvidos nove anos, Daniel Benoni ainda se lembra do dia em que sete agentes da Polícia Judiciária lhe bateram à porta, de manhãzinha, com um mandato da Procuradoria da República, para procederem à recolha de documentos relativos ao caso do enxoval do embaixador Eugénio Inocêncio que alegadamente se encontravam na sua posse. Antes, em Agosto de 1993, tinha transpirado para A Semana o célebre relatório feito pelo mesmo inspector à Embaixada de Cabo Verde em Lisboa, e no qual se dava conta dos gastos de Inocêncio, apodado na época de “embaixador estrela”, pelo então titular do MNE, Manuel Chantre. A bronca foi tal, que uma das suas consequências ditou a primeira cisão do MpD, já que este partido, recém-chegado ao poder e marcado por várias clivagens internas, se dividiu em dois grandes blocos: um a favor da defesa de Inocêncio e outro pela sua crucificação. Mas, como nestas coisas a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, Daniel Benoni acabou demitido e afastado do MNE. Com o tempo ao seu dispor, ele acabou por verter para o papel toda esta peripécia no seu livro “Escândalo e Bênção”. Os documentos procurados pelos agentes da PJ eram, alegadamente, o suporte da referida obra, publicada em Janeiro de 1997 e logo transformado num “best-seller”, ainda que nas dimensões de Cabo Verde. Daniel Benoni, que haveria de escrever um segundo livro (“Os clarins da perseguição e corrupção”, onde retoma o caso Inocêncio e outros mais), recorda que no dia em que foi detido e conduzido ao Tribunal o procurador Manuel Filipe apareceu na televisão “a dizer que eu ia apanhar o mínimo de dois anos de cadeia, por ter em meu poder os originais de documentos oficiais da embaixada de Lisboa e do MNE”. Detido, depois de ver durante quatro horas os agentes da PJ a vasculharem a sua casa, na presença do pai, um nonagenário aflito com a situação do filho, Daniel Benoni recorda também que, diante de um outro procurador encarregue de o ouvir, ficou provado que não havia nenhum original de documento oficial na sua posse. “Ficou provado que só tinha fotocópias e um exemplar do meu relatório”. Ainda assim, foi processado por posse ilegítima de documentos públicos. Decorridos nove anos sobre esse episódio, eis que Daniel Benoni recebe a comunicação de que o processo contra si prescreveu com a entrada em vigor do Novo Código Penal, e que, por isso, vai ser arquivado. O curioso, no entanto, como afirma, o antigo inspector do MNE, “o procurador Manuel Filipe continua na sua e insiste que desviei documentos oficiais. Mas nunca diz que documentos são. Se foram furtados, devem estar em falta nalgum lado”, comenta Benoni. No meio disto, Benoni não se esquece que por causa do escândalo Inocêncio viu a vida virada de cabeça para baixo, porque se recusou a reescrever o seu relatório de inspecção à embaixada de Lisboa, como lhe chegou a ser sugerido por alguns poderosos da época. “O Inocêncio, o primeiro responsável por tudo isto, que eu saiba, não teve processo nenhum de peculato, conforme o provado. O inspector, eu Daniel Benoni, é que pagou as favas. Depois de tudo o que passei, chega-me agora às mãos um despacho do MP a dizer que o meu processo prescreveu. Eu podia pegar nisto e pedir uma indemnização ao Estado. Mas com este tribunal não vou perder o meu rico tempo”. OUTROS CASOS Mas Daniel Benoni não é o único caso de prescrição ditada pela entrada em vigor do Novo Código Penal. A Semana tem informações de que várias comunicações do género têm chegado à Inspecção-Geral das Finanças, para desalento dos responsáveis e quadros desse serviço, para quem o MP tem funcionado como um cemitério de processos que sequer são despachados. Um desses processos que acaba de prescrever, e por isso arquivado, é o respeitante à gestão do então cônsul-geral de Cabo Verde em Boston, Alírio Vicente Silva, caso este vindo a público em 1991, nos primeiros meses de vida da chamada II República. Disso resultou um processo-crime, em 1994, pelo qual aquele diplomata, hoje embaixador na Áustria, era acusado do crime de abuso de confiança. Um outro processo, este de 1995, é o relativo a uma inspecção à Oficina Mecânica das FARP, realizada em Outubro de 1994, e da qual resultaram “indícios de utilização indevida de dinheiro público”. Em tudo isto vem mais uma vez ao de cima a morosidade ou a forma como funciona a justiça em Cabo Verde. Se por um lado é verdade que a entrada em vigor do NCP impõe a prescrição de casos há muito por julgar (em geral cinco anos), por outro resulta também claro que os mesmos processos apenas prescreveram, agora, porque ninguém se deu ao trabalho de pegar neles. Por conseguinte, lá onde poderia haver eventuais responsabilidades a assacar, a culpa simplesmente morreu solteira, uma vez mais. Para descrédito de todo o sistema judicial, poJVL lítico e social, cabo-verdiano. Actualidade desvios de recursos públicos, acabam também de prescrever. A ser verdade a Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 envolvendo inspecções a alegados DN DO MPD APROVA ESTRATÉGIA PARA LEGISLATIVAS Sexta-feira, 3 de Junho de de 2005 Sexta-feira, 3 de Junho 2005 Actualidade 4 A reunião da Direcção Nacional do MpD, realizada no final da semana passada na Praia, culminou com um pedido de Jorge Santos para um encontro com Agostinho Lopes, a fim de tratarem eventuais divergências entre a sua ala e o presidente do partido. A reunião da DN, que chegou a conhecer momentos acalorados, serviu ainda para aprovar as linhas gerais da estratégia do partido, que estabelece como meta ganhar as eleições legislativas de 2006 com maioria absoluta. Até lá, o MpD vai procurar cicatrizar as feridas, ainda abertas, deixadas pela sua última convenção. Reunião agitada volta a divergir alas Jorge baixa a bola diante de Agostinho A Direcção Nacional do MpD esteve reunida no úl- Para desfazer suspostos ous alegados mal-entendi- inhas para a próxima temporada política. Segundo a timo fim-de-semana, na Cidade da Praia, para analisar dos, Jorge Santos solicitou, durante a reunião, um en- vice-presidente, Filomena Delgado, declarou à impren- a vida interna do partido, a estratégia para as eleições contro com Agostinho Lopes, para discutirem os pro- sa, a DN estabeleceu como objectivo prioritário o MpD de 2006 e a situação política nacional. O encontro de- blemas existentes e relacionados com a vida do parti- ganhar as legislativas de 2006 “com maioria absolu- correu num ambiente quente, como previu este jornal do. Conforme as nossas fontes, ficou assente que esse ta”, estando, conforme ela, todas as estruturas a traba- na sua edição anterior. A reunião começou com Mário encontro será realizado logo assim que as partes acer- lharem para o efeito. Silva (do grupo de Jorge Santos) e António Pascoal San- tarem uma data para tal. tos (da ala de Ulisses Silva) “ao ataque”, criticando a A mesma reunião estabeleceu um prazo de quatro “Neste aspecto a reunião da DN foi esclarecedo- meses para a Comissão Política elaborar as listas para ra”, diz um membro daquele órgão do partido, afecto as legislavas de todos os concelhos, cujos cabeças se- Mas o que dominou realmente as atenções foi a po- ao grupo de Agostinho Lopes. “Demos alguns avisos rão designados com base nos resultados de uma sonda- lémica surgida, em Santo Antão, na sequência do posi- ao Jorge Santos e ao seu grupo, em especial ao seu gem, tal como aconteceu nas autárquicas de 2004. Isto cionamento público assumido por responsáveis afec- compadre Joel Barros. Foram também definidos os sem contar com o perfil dos candidatáveis, que mere- tos à tendência de Jorge Santos naquela ilha, com des- critérios para a elaboração das listas, e dentro de três ceu uma primeira abordagem na sessão da DN do pas- taque para o coordenador do Porto Novo, Osvaldino ou quatro meses a situação deverá estar harmoniza- sado fim-da-semana. Silva. Este, como A Semana deu conta no seu devido da. O que não podíamos fazer era aceitar a situação Mas as preocupações da cúpula do maior partido da tempo, tem vindo a propor que pessoas e quadros não em que estávamos, sob pena de prejudicarmos o pró- oposição não ficaram por aí. Esta analisou a situação residentes na ilha sejam excluídos da lista dos candida- prio MpD”. Para a mesma fonte, que se mostrou um política nacional que, segundo declarou Filomena Del- tos do MpD para as legislativas de 2006. Uma posição tanto ou quanto deconfiada quanto às reais intenções gado, caracteriza-se por uma “acentuada estagnação que é vista como uma tentativa de afastar certos ele- de Jorge Santos, “a convenção terminou há muito tem- económica”, com “indícios de corrupção” e “partida- mentos afectos a Agostinho Lopes da corrida em favor po e não podemos admitir lideranças paralelas de rização da comunicação social e da administração de outros próximos a Jorge Santos, de quem Osvaldino quem quer que seja”. pública”. A DN recomendou à CP criar um Grupo de forma como o partido vem sendo dirigido. Aliás, segundo essa e uma outra fonte por nós con- Trabalho para acompanhar e accionar os mecanismos Fontes deste jornal confidenciaram que, durante tactada, esta última pertencente a uma outra ala, a tóni- necessários de combate aos alegados “desmandos do a reunião, vários responsáveis, inclusive os de Santo ca da mensagem de Agostinho Lopes aos presentes na actual poder” tambarina. Uma outra preocupação dos Antão, dirigiram fortes críticas a Osvaldino Silva, reunião, muito especialmente ao grupo de Jorge San- ventoínhas prende-se com o recenseamento eleitoral, Joel Barros e Jorge Santos, estes dois últimos vistos tos, foi mostrar que é ele o líder do MpD, que também daí o apelo para que todos os militantes façam o acom- por alguns colegas como autores intelectuais da ideia tem um secretário executivo e outros órgãos para gerir panhamento desse dossier, de forma a garantir a trans- de excluir os não residentes das próximas listas elei- o seu dia-a-dia. É que alguns dos elementos de Jorge parência dos próximos actos eleitorais. torais do MpD. Diante do fogo cerrado, Barros e Santos são acusados de estarem em campanha aberta, Uma nota curiosa. Além da celeuma e das questões Santos demarcaram-se da posição assumida pelo co- especialmente em São Vicente e Santo Antão, contra a analisadas pela DN da semana passada, esta registou a ordenador do MpD no Porto Novo, deixando-o sozi- actual direcção do partido, com alguns deles a aventa- presença, pela primeira vez, de José Luís Livramento nho frente aos seus críticos. Jorge Santos também rem, inclusive, sobre a necessidade de uma convenção na reunião. Neste particular uma das fontes de A Se- negou que esteja a realizar uma liderança paralela a extraordinária, porque “com Agostinho não vamos a mana fala em “desconforto” dele, Livramento, e de Agostinho Lopes, conforme foi também acusado du- lugar nenhum”. muitos dos participantes da reunião. “Ficou-se com a é um fiel seguidor. rante a DN, por alegadamente não ter aceite os resultados da última convenção. O órgão máximo entre as convenções também apreciou e aprovou as linhas gerais da estratégia dos vento- impressão que a presença dele ainda não é bem aceite por todos”, conclui. ADP/JVL 5 DGCI muda de titular A directora-geral das Contribuições e Impostos, Alcinda Duarte, vai ser substituída por Emanuel Moreira (foto), quadro do Ministério das Finanças. Esta mudança de mãos na DGCI acontece um ano depois da nomeação de Duarte, e também numa altura em que decorre uma sindicância a todas as repartições de finanças. Maio, quando o antigo responsável da Repartição das Finanças, Jorge Lopes da Graça, escafedeu-se para os EUA, deixando o cofre fechado, depois de alienar mais de uma dezena de viaturas do Estado, algumas das quais em forma de casco, tal como o denunciado por A Semana, na sua edição de 15 de Abril passado. Por estas e por outras, há quem entenda que o buraco na moralização da DGCI é bem mais em baixo, cabendo agora a Emanuel Moreira ajudar a pôr cobro a esse quadro. JPAI-Ribeira Grande com nova equipa O jurista Nelson Cruz foi eleito esta semana para comandar os destinos da Juventude do PAICV no concelho da Ribeira Grande, Santo Antão, nos próximos três anos. À frente de uma equipa renovada, Cruz nomeia como prioridade trazer maior dinamismo àquele sector da JPAI, num momento em que é preciso “trabalhar para ajudar o PAICV a manter-se na governação do país em 2006”. Desde logo, Nelson Cruz e a sua equipa querem organizar debates e conferências “multifacetados” em todas as zonas da Ribeira Grande, para não só incentivar os jovens a participarem na vida sócio-política do país, como também reflectir sobre os problemas que afectam aquele concelho. Por um lado, “queremos combater o medo dos jovens quadros em assumir posições políticas;” e por outro, “daremos grande atenção à questão da saúde reprodutiva dos adolescentes, à gravidez precoce, cuja incidência na Ribeira Grande, além de bastante elevada, causa diversos problemas sócio-económicos e sanitários”. Considerando como objectivo estratégico apoiar o PAICV, para que o seu partido possa ganhar as próximas legislativas, Cruz pensa que é importante nesse contexto “desencadear acções que promovam um relacionamento saudável na sociedade, através do diálogo, do respeito e da ética política”. Um pensamento que ele e a sua equipa que- rem materializar, estabelecendo “boas relações com a Câmara Municipal da Ribeira Grande, que representa o poder local e é uma instituição próxima da população”. Assumir tal postura, reitera o jovem jurista, não significa que a JPAI estará sempre de acordo com as políticas camarárias para a juventude, mas antes indica que se vai colocar o interesse dos jovens em primeiro plano. É por isso que aquela organização partidária pretende trazer para o debate político temas como o alcoolismo, que atinge proporções “alarmantes” no seio da juventude ribeira-grandense, o consumo de outras drogas e a assistência jurídica a jovens que respondem a processos criminais. A eleição de Nelson Cruz acontece justamente na semana em que Felisberto Vieira e Josefá Barbosa, membros da comissão política nacional do PAICV, foram a Santo Antão “espevitar” as estruturas locais tambarinas, no sentido de trabalharem para promover a imagem daquele partido. Durante dois dias de intensa actividade, aqueles dois políticos reuniram-se com os militantes dos três concelhos, lançaram a revista que promove Porto Novo enquanto futura cidade de Santo Antão, e discutiram ideias com os quadros da ilha. E Filú aproveitou a sua estada em Santo Antão para reiterar a sua disponibilidade em candidatar-se à Presidência da RepúJAM blica. Actualidade através da efectiva cobrança junto das pessoas singulares, empresas e professionais liberais. Um desiderato que, a julgar pelos números avultados de dívidas ao fisco que transpiram para a opinião pública, está longe de ser atingido de forma célere e transparente. Isso, num país onde se diz que quem paga imposto é o pobre, porque os poderosos sempre encontram uma forma de “dar um feito” nas suas obrigações. Neste sentido encontra-se também em curso, há já algum tempo, uma sindicância a todas as repartições de finanças, para apurar situações consideradas impróprias ou pouco ortodoxas no funcionamento da própria instituição. Entre outras supostas anomalias, constam suspeitas de cumplicidade entre certos responsáveis ou funcionários com alguns operadores n a fuga ao fisco. Um outro facto, recente, é o que aconteceu na ilha do Sexta-feira, 3 Junho de Junho de 2005 Sexta-feira, 3 de de 2005 Alcinda Duarte, há um ano à frente da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos, vai ser substituída pelo economista Emanuel Moreira. A resolução nesse sentido deve sair a qualquer momento no Boletim Oficial, segundo o apurado por A Semana. Actualmente director dos Serviços de Contas da Direcção-Geral do Tesouro, Emanuel Moreira é licenciado em economia nos EUA e é quadro do Ministério das Finanças e do Planeamento, tal como a sua antecessora Alcinda Duarte. A DGCI é considerada um departamento nevrálgico no sistema das finanças públicas de Cabo Verde, sector que vem passando por uma profunda reforma. Cabe-lhe proceder à recolha das contribuições e impostos, estando em curso a sua modernização com vista a uma maior eficácia dos serviços que presta ao país, nomeadamente fazer com que os cofres do Estado entre para as receitas que precisa para funcionar, isso 6 JOSÉ PINTO ALMEIDA, presidente da Câmara da Boa Vista O sentimento do presidente da Câmara Municipal da Boa Vista não se ajusta com o retrato económico da ilha feito há dias, na capital, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que acusa alguma quebra nos seus principais indicadores. E fala de projectos em curso ou em vias de arrancar, sobretudo no sector do turismo, para contrariar a tendência do INE e mostrar que “Boa Vista está na moda”. processo de constituição e implementação da Sociedade Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Entrevista O autarca admite, entretanto, que é preciso agilizar o de Desenvolvimento Turístico da Boa Vista e Maio, entidade que vai gerir o processo nas duas ilhas porque, para não se, correr o risco de perder investimentos. Neste exclusivo, Pinto Almeida presta ainda esclarecimentos sobre os terrenos privados de Espingueira, que a Câmara vendeu a um investidor que quer construir aí um hotel para agriturismo, e nega que o estádio de Sal-Rei esteja vendido. — Por: CONSTÂNÇA DE PINA — “Boa Vista está na moda” A Semana - Recentemente foi apresentado um estudo na Praia (INE) que mostra que os principais indicadores económicos da Boa Vista estão a baixar, contrariando a lógica nacional. A que se deve esse “abrandamento” da ilha? José Pinto Almeida - Não conheço esse estudo mas duvido que os indicadores da Boa Vista tenham baixado, pois regista-se um grande volume de investimentos — nomeadamente na infra-estruturação e no turismo — traduzido no afluxo de pessoas e bens provenientes de outras ilhas e da Costa Ocidental Africana à procura de emprego. Por outro lado, os in- vestimentos e projectos que neste momento se encontram em fase de implementação são dos mais importantes do país, a nível do sector do turismo. Só para lhe dar um exemplo, Boa Vista é o terceiro maior consumidor de cimento do país, o que demonstra a grande dinâmica do mercado de construção civil. - Já agora, podia-nos indicar as primeiras consumidoras de cimento e em quê se baseou para fazer essa afirmação, tendo em conta que estamos a falar de uma ilha com pouco mais de quatro mil e 500 habitantes? - Trabalhamos com dados recolhidos de entre os maiores fornecedores de cimento do país, e o que afirmo também é visível no número e envergadura dos investimentos em curso na ilha. - Fala-se, há algum tempo, em bloqueios da CM ao investimento externo, inclusive há quem atribua alguma responsabilidade à autarquia pelo fecho do maior hotel da ilha, o Marine Clube. Será este um dos motivos para o não surgimento de novos investidores interessados em fixar--se na Boa Vista? - Isso é falso. A nossa CM apadrinha todos os investidores externos que preten- dem desenvolver actividades nesta ilha. Aliás, em tempos fui acusado por certas pessoas de dar um tratamento preferencial aos investidores, em detrimento dos nacionais. E agora acusam-me de bloquear? Não compreendo. Em relação ao Marine Clube devo dizer que temos boas relações com os proprietários. Tanto quanto sei, o encerramento deve-se a sucessivas mudanças de sociedade e de gestão. NOVOS INVESTIMENTOS - Apesar de discordar dos indicado- investimentos se percam por falta de condições mínimas para o seu funcionamento? - Temos dialogado com o governo, procurando parceiros externos, e posso dizer que tem surtido algum efeito. Se- … Boa Vista é o terceiro maior consumidor de cimento do país, o que demonstra a grande dinâmica do mercado de construção civil. não vejamos: a estrada Vila/Rabil vai ser construída com um novo traçado a partir da ponte da Ribeira-de-Água, no âmbito do projecto do novo aeroporto; a estrada Vila/Bofareira vai ser retomada no quadro de um contrato-programa que vamos assinar com o governo, segundo nos disse o primeiro-ministro aquando da recente visita que fez a esta ilha; vamos instalar um dessanalizador na Zona Norte, através da parceria com as Canárias e, também ainda no quadro da cooperação com as Canárias, já estamos a trabalhar num plano integrado de recolha e tratamento de resíduos sólidos, um projecto estruturante para a ilha da Boa Vista, na óptica do ambiente. - Como perspectiva o turismo na Boa Vista, numa altura em que o aeroporto internacional é visto por boa parte dos operadores como a “salvação da lavoura”? - Com tudo o que já se disse, não me nessas duas ilhas porque, caso contrário, corremos o risco de perder esses avultados investimentos. - Relativamente à Electra, alguns moradores e detentores de empreendimentos turísticos levantaram a questão da sua localização, bem no coração da Vila de Sal-Rei. Falam da poluição sonora e ambiental e do perigo para a segurança de toda a Vila. Há algum projecto a prever a sua deslocação para alguma zona mais afastada? - Temos vindo a dialogar com a Electra sobre esse assunto em particular, mas ainda não temos nada de concreto. - Nas traseiras da Electra há um vazadouro “clandestino” que em nada abona a favor da zona, que é uma das mais nobres da Vila, pois o cheiro se sente à distância. Que tipo de intervenção a Câmara pretende fazer para pôr cobro a esta situação? - Isso é um problema de educação cívi- ca. As pessoas sabem que não podem fazer isso mas fazem. Mas temos dois projectos em concreto: um de educação ambiental e o outro que já referi, que é estruturante. Estou a falar da recolha e tratamento dos resíduos sólidos, mas neste caso que fala, temos previsto uma intervenção rápida no local. - Mas a CMBV tem algum projecto para transferir o ‘Bairro Caserna’, subúrbio de lata que nasceu paredes-meias com as instalações da Electra, para um outro lugar com melhores condições de habitabilidade ou é para manter? - Sim, um projecto que pensamos ser de grande importância é o do realojamento de todos os habitantes, já identificados, dos bairros degradados que existem na Vila de Sal-Rei, quer os que vieram de outras ilhas, quer os da Costa Ocidental Africana. Nós fizemos um plano urbanístico numa zona definida, distribuímos lotes e projectos a essas pessoas e vamos, na medida do possível, apoiar quer tecnicamente quer com algum material a construção das suas habitações. Queremos que elas vivam com dignidade, porque estão aqui a apoiar o desenvolvimento da Boa Vista. Por isso, não devem ser excluídos e devem ter acesso aos bens e serviços que a autarquia procura disponibilizar a todos os munícipes. É esta a nossa filosofia. Claro que não temos meios para construir casas para toda a gente. Temos uma política de habitação social voltada essencialmente para a terceira idade, mas também apoiamos a auto-construção de todos aqueles que pretendam construir uma habitação, só que dentro do quadro definido pela autarquia, não de forma clandestina. - O lixo é um problema em todas as ilhas, sobretudo naquelas de vocação turística. Este foi aliás, um dos grandes problemas colocados ao jornal pelos hotéis e residenciais. Para quando o arranque do projecto de recolha e tratamento resíduos sólidos? - Recentemente visitei as Canárias e um dos dossiers que trabalhámos foi o de desenvolver um projecto integrado de recolha e tratamento de resíduos. Na sequência dessa minha visita, estiveram na ilha, provenientes das Canárias, dois técnicos do sector que, conjuntamente com o nosso gabinete técnico, recolheram dados para a elaboração desse projecto que será incluído no Intereg III, programa da União Europeia destinado à Macaronésia. Esse projecto engloba a recolha e tratamento dos resíduos em todos os povoados e permite acompanhar o desenvolvimento da ilha, com a introdução paulatina de mais viaturas de recolha, bem como a componente sensibilização, que para nós é fundamental para o sucesso deste projecto. Como vê, ao mesmo tempo que damos resposta imediata a essa problemática, estamos a trabalhar para o médio e o longo prazo. Os fracos recursos levam-nos a procurar soluções integradas na concepção e desenvolvimento destes projectos estruturantes para a ilha. - Enquanto isso, o que a CMBV pretende fazer para atenuar o problema do lixo? Existe algum projecto para se construir uma lixeira municipal? 7 Entrevista “ parece que a situação seja tão preocupante em termos de futuro. Agora, é necessário que se agilize o processo de constituição e implementação da Sociedade de Desenvolvimento Turístico da Boa Vista e Maio, entidade que vai gerir o processo Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 res, o que é preciso fazer para travar essa quebra e colocar Boa Vista de novo na rota do desenvolvimento/crescimento? - O que eu disse é que não tenho esse sentimento. Aliás, muito pelo contrário, Boa Vista está na moda. Tenho recebido vários investidores que querem desenvolver projectos nesta ilha. Por exemplo, recebi um grupo britânico que pretende desenvolver um projecto numa área de 1.400 hectares com vários campos de golfe, três hotéis cinco estrelas, uma marina, de entre outras coisas. Há ainda manifestações de interesse de um grupo irlandês e de um outro português, por isso não concordo com essa tese de abrandamento. - É no entanto visível que o sector do turismo, que é tido como o motor de desenvolvimento da ilha, está mais retraído. Os números mostram não só uma redução acentuada do número de camas e de unidades hoteleiras, como também o não surgimento de novos investidores para essa área. Quer comentar? - Claro que o sector se ressentiu com o encerramento da maior unidade hoteleira e com os estrangulamentos de que a ilha sofre em termos de ligação com as outras, principalmente com o Sal e a Praia. Mas se por um lado esse tipo de turismo baixou um pouco, por outro, começa a ser importante o sector imobiliário destinado a estrangeiros que agora têm tempo de permanência maior na ilha. Hoje temos centenas de pessoas que passam boa parte do ano na Boa Vista, e têm vindo a adquirir casa própria. - Uma queixa que pudemos constatar junto dos operadores desta ilha é a falta de infra-estruturas básicas como água, energia, esgoto e estradas. O que é que a CM tem feito de concreto para superar essas carências? - O poder local tem as suas competências próprias no tocante a esses serviços. Nós não podemos substituir o Estado ou o sector privado. Nós garantimos o fornecimento de água e energia às populações que não têm ligação ou aos povoados onde a Electra não opera, mas não temos capacidade nem vocação para fornecer água e energia a esses empreendimentos. As nossas maiores dificuldades, em termos de gestão desta autarquia, são precisamente o fornecimento de água e energia às populações. No tocante a esgotos, isso tem que ser um projecto estruturante, cujo orçamento deve ser aí umas sete vezes superior ao orçamento anual da Câmara. Não temos esses recursos. Quanto às estradas, temos vindo a fazer o que é da nossa competência. Nos povoados temos feito um esforço enorme de calcetamento de ruas e outras vias. Durante a nossa gestão aumentámos em cinco vezes o número de ruas calcetadas em toda a ilha. Agora, as estradas nacionais, como por exemplo Bofareira/Vila ou Vila/Povoação Velha não são da nossa competência e nem temos meios para as remodelar. Temos vindo, entretanto, a fazer reparos e manutenção pontuais mas mais não podemos fazer. - É verdade que alguns desses serviços são fornecidos por privados. Mas até que ponto a CMBV pode intervir/ pressionar de forma a evitar que alguns TERRENOS DA Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Entrevista 8 - Como já disse, estamos a trabalhar num plano integrado de recolha e tratamento de resíduos sólidos, um projecto estruturante para a ilha, na óptica do saneamento, do ambiente e do equilíbrio do nosso ecossistema, a aquisição de mais um camião de recolha do lixo, para além do já contemplado no projecto de água e saneamento em curso na ilha. CRÍTICAS AO “PARTENON” - Os resultados do projecto Partenon - Valorização paisagística da ilha da Boa Vista são perceptíveis em todas as povoações da ilha, o que é de louvar. Entretanto, em determinados bairros existem críticas quanto aos critérios de selecção das moradias que seriam beneficiadas, chegam até a apontar alguma politização do projecto. Quais os critérios que, de facto, pesaram na hora de escolher as casas que iriam sofrer intervenção? - Repare, esse projecto foi desenvolvido em parceria com o Cabildo do Tenerife. A primeira premissa é que não contempla todas as casas da ilha, por isso não se pode agradar a todos. Desde 2001 que se está a montar o projecto. Técnicos das Canárias e da CMBV fizeram visitas ao terreno, identificaram e fotografaram as casas. Posteriormente, foi feita uma selecção das casas e das cores nas Canárias. Já na fase de trabalho de terreno introduzimos o conceito de justiça nesse projecto. Vou-lhe dar um exemplo: havia casas pertencentes a emigrantes que aparentemente têm condições para fazerem esses trabalhos e que foram substituídas por casas de outras pessoas que não têm meios. Mais, conseguimos que todas as escolas e igrejas da ilha fossem contempladas pelo projecto. Nós não tivemos intervenção directa na escolha das casas e dos beneficiários. Isso de politização é falso. Nós não governamos com politiquices, e quem me conhece sabe que não faço isso. Posso- lhe dizer que ainda estamos em negociações para a implementação da segunda fase, agora em novos moldes, e com a participação mais forte da CMBV de forma a corrigir alguns aspectos com os quais não concordámos e que devem ser alterados. - A questão dos terrenos está a ser colocada um pouco por todo o Cabo Verde e Boa Vista não foge à regra. No caso desta ilha, existe um problema pendente que se arrasta há vários anos com os terrenos de Espingueira. Pode nos explicar esse dossier que, ao que parece, poderá desembocar no Tribunal? - O dossier Espingueira é claro como água. Fomos contactados por um investidor que pretendia desenvolver um projecto de ecoturismo na ilha e tentámos identificar se esses terrenos estavam dentro do perímetro das ZRPTS, e não estavam. A CMBV vendeu esse lote de terreno ao investidor. E, já agora, para esclarecer quero dizer que os procedimentos administrativos da venda de terrenos são os normais e correntes em qualquer autarquia, seja ela de que cor política for. Ou seja, é a CM e não o presidente que deliberou, em sessão, proceder à venda desse lote. Posteriormente, familiares das pessoas que viviam nesse sítio vieram reclamar a posse desses terrenos. Mas devo dizer que não estão inscritos na matriz, nem na Conservatória, em nome dos familiares dos reclamantes. A CMBV praticou, por isso, um acto legal da sua competência, ao vender o referido lote de terreno. Entretanto, tendo em conta que viveram nesse local, a CMBV fez uma nova configuração dos lotes reclamados e, na sessão do dia 16 de Setembro de 2003, deliberou atribuir a essas mesmas pessoas lotes de terrenos a título gratuito de forma a resolver esse problema. Após uma reunião efectuada em que concordaram com a solução por nós apresentada, recusaram-se a vir legalizar os terrenos cedidos gratuitamente. Mas pensamos que por detrás de tudo isso, há outros interesses… - Mas a quem pertencem, de facto, esses terrenos? - Esses terrenos estão abandonados há mais de 15 anos, porque as famílias foram viver essencialmente em João Galego. Se reclamam, como se diz, o direito Usucapião, não deveriam ter abandonado os lotes, pois essa figura só se aplica quando a ocupação é permanente, contínua e pública. E, porque estamos num Estado de direito democrático podem, se quiserem, recorrer aos Tribunais. Devo dizer ainda que os reclamantes nunca se dirigiram à CM para legalizar os lotes que lhes foram atribuídos gratuitamente. Por isso, não colhe a afirmação de que a CM já havia alienado os mesmos lotes a terceiros. Que fique claro que esses lotes atribuídos valorizaram-se automaticamente em virtude da proximidade desse empreendimento hoteleiro. Quanto às receitas provenientes da transacção atrás referida, foram aplicadas na execução de vários projectos de infra-estruturação do município, visando a melhoria das condições de vida da população de forma que, se por um lado directamente compensamos essas pessoas com outros lotes no mesmo local, por outro lado, também indirectamente foram beneficiados com a aplicação dessas verbas na melhoria das condições de vida da população. - Esses terrenos foram comprados por 4.500 contos - foi o comprador que forneceu ao jornal o valor da transacção - e o hotel construído sobre as bases das antigas casas será inaugurado em Agosto. Será que o dinheiro da venda não deveria ser distribuído pelos antigos moradores, já que não dá para voltar atrás? - Não, porque essas pessoas foram contempladas desde 2003 com lotes de terreno no mesmo local. Aqui nem se trata de expropriação, nem coisa parecida. Como disse, os terrenos estavam abandonados havia mais de 15 anos e não estavam inscritos na matriz nem na Conservatória. Foi por isso que agimos como agimos e pensamos ter agido correctamente. Mas estão no direito de pensar doutra forma e agir em conformidade. - Existe uma especulação imobiliária sem precedentes na Boa Vista, com terrenos a serem vendidos, sobretudo por privados, a preços altíssimos. Até que ponto a CM pode intervir para travar essa especulação? - Numa ilha que está despertando para o turismo, com pessoas proprietárias de 9 A DISCÓRDIA …os procedimentos administrativos da venda de terrenos são os normais e correntes em qualquer autarquia, seja ela de que cor política for. Ou seja, é a CM e não o presidente que deliberou, em sessão, proceder à venda desse lote… para serviços numa perspectiva de gerar receitas para a gestão e conservação dessa infra-estrutura. O remanescente será aplicado na construção de habitação social para os nossos idosos que vivem em condições precárias. Como vê, é gestão moderna e a rentabilização de um espaço sem se perder os princípios que norteiam a nossa gestão direccionada para a satisfação das necessidades dos nossos munícipes. - Voltando aos terrenos, dentro da Vila há várias pessoas que nos disseram terem feito pedidos de terreno que nunca são despachados, enquanto outros mais próximos da CM e do seu presidente têm sempre terreno? - Temos falta de terreno. A Vila está encurralada pelas ZDTIs e ZRPTS e ainda por terrenos privados. Por isso, não conseguimos dar vazão à demanda. Vai ser possível agora que assinámos com o governo a transferência dos terrenos da Zona de Fátima para a gestão municipal, onde iremos lotear e infra-estruturar, ceder aos interessados. Nesse espaço irão ser lançadas, as bases da futura cidade de Sal-Rei, numa integração plena da zona histórica onde estamos agora, com a modernidade. - Fiscalização inexistente, pouca e discriminatória. Esse é o retrato traçado por alguns investidores, pequenos operadores turísticos - agências de turismo, táxis, rent-a-car e motos -, comerciantes, para classificar esse serviço municipal, com claros prejuízos para a Câmara. Concorda com esta afirmação? - Nunca houve fiscalização nos executivos anteriores. Nós implementámos uma divisão de fiscalização com cinco fiscais. Tudo feito de raiz, com formação e estágio numa autarquia amiga. A implementação desse serviço, para além do trabalho pedagógico que acarreta no seio da população como no da equipa de fiscais, leva o seu tempo. Estamos a trabalhar no sentido de melhorar o seu desempenho e acreditamos que isso vai acontecer. A ac- tuação desse serviço não tem sido discriminatória. Como já disse, não é do nosso timbre essa forma de trabalhar. - Dentro de dias a Boa Vista vai acolher um fórum. Fala-nos um pouco desse certame? - Boa Vista foi durante muito tempo uma ilha fechada e abandonada por vários motivos: o isolamento a que foi sujeita, emigração em massa da população, etc. Hoje ela é a principal alavanca do sector do turismo. Neste contexto temos vindo a dar uma atenção especial à problemática do desenvolvimento do turismo e da gestão ambiental da Boa Vista. Com isso, pretendemos evitar erros de concepção, planeamento e gestão que foram cometidos noutras latitudes, por um lado, e, por outro, garantir um desenvolvimento equilibrado e sustentado, assente na justiça social e na promoção do homem boavistense, em particular. Sendo algo novo, pretendemos igualmente recolher subsídios de forma a desenvolvermos políticas municipais de promoção do turismo e de preservação do ambiente. O fórum “Turismo/Gestão Estratégica dos Recursos Naturais”, que decorrerá nos próximos dias 8 e 9 de Junho, contará com a presença de importantes personalidades nacionais e estrangeiras, e será um espaço onde o Governo, a sociedade civil, o poder local, técnicos dos mais diversos departamentos e serviços irão dissertar sobre temas importantes destes sectores, nomeadamente - “ZDTI/ZRPT Gestão estratégica na óptica do turismo”; “Que políticas de ambiente para um desenvolvimento sustentável”; “Turismo e as suas implicações no desenvolvimento social” e “Poder local - Que papel na promoção do turismo”. Para nós é um momento importante e por isso queremos que seja o mais participado possível, pois já convidámos várias personalidades, de entre elas o primeiro-ministro, os membros do governo dessa área, deputados, autarcas, etc. Entrevista ilha é a venda de apartamentos como segunda casa. Essa operação é vista como um investimento. Nós temos na ilha algumas empresas e investidores que têm um bom mercado internacional e convém salientar, por isso compram terrenos a privados naturais da ilha por um preço razoável e depois multiplicam o investimento na construção e venda desses apartamentos, uma solução normal, em que empresas nacionais com o IFH, Tecnicil ou Imotur estão a apostar. Ou vão-me dizer que fizemos especulação com o IFH ou que este esteja a fazer especulação? Não tem lógica. - O actual estádio de futebol estava à venda e foi comprado por um investidor. Pode-nos explicar os meandros desse processo? - É falso. O estádio está à venda em regime de short list, um método aplicado na gestão moderna. Entretanto, ainda não foi vendido porque o prazo terminou nesta semana, 31 Maio, por isso não corresponde à verdade a informação de que já vendemos o estádio. - Mas se é o próprio comprador que diz ter arrematado o estádio em hasta pública... Só que, pelas conversas que tivemos com algumas imobiliárias e pessoas, havia mais interessados e ninguém se apercebeu da realização de tal hasta pública… - Enviámos as propostas aos investidores que estão presentes na ilha e também a outros que estão a operar no país, porque, se por um lado achamos que os que cá estão devem ser incentivados a investirem mais, por outro, queremos que os grandes grupos do sector possam vir também desenvolver bons projectos nesta ilha. - Que destino terá o dinheiro da venda do estádio da Vila de Sal-Rei, os 70 mil contos conforme a base da licitação proposta pela própria Câmara? - Será investido na construção de um estádio moderno e relvado, com espaços Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 terrenos com baixo rendimento, e com uma grande procura de terrenos é normal que haja especulação. A CM vende os terrenos segundo a tabela aprovada pela Assembleia Municipal, tabela essa recentemente actualizada. Se o mercado imobiliário está em alta e a procura é grande, é natural que haja uma certa tendência para a especulação na venda dos terrenos, agravada ainda pela pouca disponibilidade de terrenos motivada pelas delimitações das ZDTIs e ZRPTs. - Quem está por detrás ou alimenta essa especulação imobiliária? - Não é a CM de certeza… - Mas a CM vende terrenos para estrangeiros por tabela, que são revendidos por preços exorbitantes lá fora, com ganhos apenas para as imobiliárias? - Se me disse há bocado que bloqueava o investimento externo, não entendo que me venha agora dizer que vendemos terrenos a estrangeiros… - Estou a falar concretamente das imobiliárias que compram terrenos na CM por tabela e vendem lá fora por até sete vezes o seu valor, segundo denúncia de algumas pessoas que estão no ramo da imobiliária… - A CMBV vende os terrenos seguindo uma tabela aprovada pela AM e publicada no BO. Nós não podemos controlar o que é feito depois. As leis do mercado ditam, depois, a procura e a oferta. Se hoje a procura é maior que a oferta é natural que vendam a quem pagar mais, da mesma maneira que há uns anos atrás terreno na Boa Vista era visto como um mau investimento. Hoje existe um mercado imobiliário forte, é natural que quem tenha comprado um terreno e não pode construir, venha a fazer negócio de modo a que fique com uma moradia e venda o direito de construção a alguém pelo preço dessa moradia. Temos conhecimento de várias situações e a Câmara não vê nenhum inconveniente. Por outro lado, o que está na moda na TACV premeia Agências de Viagens Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Correio das ilhas 10 Orbitur, Agência Nacional de Viagens, e Viagens de Cabo Verde, na Praia, e Verdemundo, Fly e ANV, em São Vicente, são as agências de viagens premiadas pela TACV, no início desta semana, pelo “desempenho e performance demonstrados” durante o ano 2004. E para premiar os melhores, a TACV elegeu como critério principal o factor crescimento no mercado. A direcção comercial da TACV Cabo Verde Airlines realizou nos dias 28, na Praia, e no dia 30, em São Vicente, duas galas destinadas a premiar as agências de viagens mais performantes. Ou seja, aqueles que mais cumpriram e contribuíram tanto para a carteira de negócios da transportadora aérea nacional como para o desenvolvimento da parceria estratégi- ca e privilegiada que deve existir entre as agências e as companhias aéreas. Assim, o crescimento em relação a 2003, o volume da vendas e o cumprimento do prazo na entrega do produto de venda foram os critérios escolhidos pela TACV para classificar as agências. De acordo com estes três critérios, na Praia venceram a agência Orbitur, a Agência Nacional de Viagens e a VCV - Viagens de Cabo Verde. A Orbitur encabeça a lista por ser aquela que mais passagens vendeu no ano transacto. Já em São Vicente a Verdemundo ficou em primeiro lugar, enquanto a Fly e a ANV ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente. A Verdemundo apresentou o maior nível de crescimento no mercado da zona norte. ELECTRA E SINDICATOS REÚNEM-SE SOB MEDIAÇÃO DA DGT Aumento salarial e Acordo colectivo empurrados para Julho Os sindicatos e a Electra encontraram-se, sob a arbritagem da Direcção-Geral do Trabalho (DGT), para acertar algumas questões pendentes, entre as quais o reajuste salarial de 2,5% decidido unilateralmente por essa empresa e que já motivou posicionamentos dos trabalhadores de Santiago e Sal que ameaçam partir para a greve. Mas, uma vez mais, da agenda de trabalhos dessa reunião discutiu-se apenas o problema dos horários de turno. Isso porque, segundo Julião Varela, a Electra alegou não estar preparada para debater o aumento salarial e o Acordo Colectivo de Trabalho. Um novo encontro foi marcado para Julho próximo. Sobre o horário de turno, Julião Varela, do Siscap, explica que os sindicatos apresentaram uma contra-proposta que mereceu uma apreciação positiva da Electra, tendo em conta que se encaixa perfeitamente no sistema de trabalho da empresa. A implementação desse novo horário de turno depende agora da sua aprovação pela DGT, devendo começar a vigorar nos próximos dois meses. “O horário de turno em vigor agrava a situação dos trabalhadores. Apresentámos uma proposta que contém mais folgas, é menos penosa para o trabalhador e as duas partes, e encaixa-se perfeitamente no sistema de trabalho desta empresa. Inclusive a Electra já diz que aceitará a nova proposta, desde que aprovada pela DGT”, afirma o dirigente do SISCAP. Relativamente à questão do reajuste salarial de 2,5% atribuído unilateralmente pela Electra no mês passado e ao acordo colectivo de trabalho, Varela explica que as duas partes agendaram um novo encontro para Julho próximo, dado que o presidente da Comissão Executiva da Electra alegou não estar preparado para, nesse encontro, discutir os outros assuntos em agenda. Assim, e a um ponto de cada vez, o novo horário de turno já reúne consenso, está quase a ser aprovado pela DGT, e deve começar a vigorar ainda este Verão. Constânça de Pina TENSÃO EM TORNO DO ENSINO PÚBLICO E PRIVADO Ameaças de manifestação e greve Com os exames à porta, o clima em torno do ensino público e privado é de extrema expectativa, devido a ameaças de greve lançadas pelos professores e que poderão coincidir com o período da realização das provas nacionais. Apanhados no meio deste fogo cruzado, os estudantes correm o risco de pagar um preço super elevado: o cancelamento dos testes por falta de condições básicas - como a fiscalização das salas - caso as intenções dos docentes vierem a prevalecer. O imbróglio envolve os professores da escola privada Willy, em S. Vicente, e os docentes do Instituto Pedagógico e do Ensino Básico Integrado, estes enquadrados no sistema de ensino público. As duas lutas são separadas, mas os docentes estão a utilizar basicamente as mesmas armas de pressão: a greve e o congelamento dos exames. “Toda a greve é para doer e tem de acontecer nos momentos cruciais. Contudo, neste caso, o Sindep sempre deixou claro que não assume a luta pela luta, nem cria situações artificiais para promover a greve”, diz o sindicalista Nicolau Furtado. Em termos sucintos, o Sindep está a exigir do MEVRH da a assinatura de um compromisso, a acontecer até hoje, sexta-feira, sobre a data da reclassificação dos docentes do EBI formados em Julho de 2004. Paralelamente, quer ver aprovado e implementado o Estatuto dos profissionais do IP e que os encargos deste instrumento sejam absorvidos pelo Orçamento Geral do Estado. Caso as reivindicações do professorado não sejam satisfeitas, a classe está na disposição de primeiro fazer barulho na rua e partir, depois, para uma greve, que poderá culminar com o congelamento dos próprios exames. Em princípio, a manifestação será realizada apenas na cidade da Praia, mas terá o apoio de vários pólos de ensino espalhados pelo país, como Nicolau Furtado deixa perceber. Como reacção à postura do Sindep, o MEVRH esclarece que tem vindo a trabalhar, desde 2001, na resolução dos assuntos pendentes relativos à carreira dos docentes. Deste pacote, o Ministério da Educação destaca itens como a progressão, a reclassificação, o pagamento de subsídios de carga horária, de isolamento e de horas extraordinárias… “Todos estamos recordados que o Estatuto do pessoal docente aprovado em 2004 veio permitir uma aceleração na tramitação dos processos de transição de professores e a resolução de outras situações como as férias, o regresso de licença de longa duração, a aposentação…”, sublinha o secretário-geral do MEVRH, para quem a situação do professorado mudou significativamente graças ao novo Estatuto. Aliás, o próprio Sindep reconhece “avanços alcançados na tramitação de vários processos dos professores” mas sublinha, por outro lado, que a classe só se sentirá satisfeita quando houver um compromisso sério e que satisfaça as suas reivindicações. Porém, por aquilo que uma fonte do Ministério da Educação afiança, a resolução das exigências dos docentes envolve também a esfera das Finanças. Face a isso, a mesma fonte defende que a postura do professorado devia ser de maior flexibilidade e compreensão, pois, na sua perspectiva, a tutela da Educação não está a negar nenhum direito a ninguém. Recorde-se, também, que os professores do Instituto Pedagógico estão a exigir que o impacto do Estatuto seja suportado pelo OGE de 2006, mas com retroactividade a este ano lectivo. E, segundo Nicolau Furtado, este ponto é inegociável. KzB REFORÇO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE reflexão para dotar os hospitais centrais Agostinho Neto e Baptista de Sousa de um quadro legal que lhes garanta uma maior autonomia administrativa e financeira. “É um processo que se arrasta desde 1980. E há a necessidade de melhorar e optimizar os recursos e dar maior autonomia financeira e administrativa aos Hospitais Centrais”. Enquanto isso, um conjunto de infraestruturas de saúde estão sendo construídos em vários pontos do território nacional. Neste particular, Carlos Brito destaca o caso dos três centros de Saúde da Praia, abandonados desde o ano passado pela empresa construtura. E a esse propósito diz: “A Direcção-Geral da Cooperação Internacional e a UE, que financiou tais projectos, estão a desenvolver esforços para que as obras sejam retomadas no decorrer deste ano”. Brito salienta ainda os projectos das infra-estruturas hospitalares da Região de Santiago Norte, com sede em Santa Catarina, que se encontram na fase de arranque. Isso sem contar com o começo, antes do fim deste ano, das obras do novo Hospital do Sal e das unidades da Oncologia e de Hemodiálise, na Praia. Alírio Dias de Pina Jorge Tienne é o novo director do HBS O ministro do Estado e da Saúde, Basílio Mosso Ramos, convidou, Jorge Tienne aceitou e o primeiro-ministro José Maria Neves despachou já o documento que credencia este psicólogo como director-geral do Hospital Baptista de Sousa. Tienne irá exercer o seu mandato em comissão ordinária de serviço durante um ano. A posse ainda não está marcada mas o despacho 17/2005 de José Maria Neves entrou em vigor no dia 1 de Junho e alega “motivos de interesse público” para a nomeação de Jorge Tienne no cargo de DG do Hospital Baptista de Sousa. Contactado por A Semana, Tienne confirma que recebeu há algum tempo um convite do MS para dirigir o HBS e que aceitou o desafio, mas ainda não decidiu em que moldes. “Tan- to quanto sei o ministro de Estado e da Saúde ficou de resolver a questão do assessor clínico”, afirma. Jorge Tienne é licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra, Portugal, e ocupa, neste momento, o cargo de director do gabinete de desenvolvimento dos Recursos Humanos da Enapor. Foi vereador pelos pelouros de Administração, Finanças e Cultura na gestão de Onésimo Silveira, consultor do Instituto de Emprego e Formação Profissional e lecciona no Instituto de Estudos Superiores Isidoro Graça (IESIG). Nas últimas eleições autárquicas, em 2004, alinhou com o grupo independente liderado por AlbertiConstânça de Pina no Graça, Titota. A SIDA É UMA REALIDADE EM CABO VERDE - JUNTEMO-NOS TODOS PARA VENCÊ-LA Correio das ilhas delegacias de saúde de todos os concelhos do país de pelo menos dois médicos e pôs termo ao isolamento técnico que se registava ao nível dessas estruturas, antes chefiadas sobretudo por cooperantes estrangeiros. “Com a chegada dos 80 novos médicos no ano passado, temos agora a possibilidade de libertar os colegas mais antigos para cursos de especialidade”, analisa o DGS, para quem uma média de 15 médicos encontra-se, neste momento, no estrangeiro a fazer especialidade nos domínios da infecciologia, medicina interna, epidemiologia, cirurgia, pediatria, oftalmologia, entre outras áreas. Cabo Verde conta, neste momento, com um média de um enfermeiro por cada 938 habitantes. Mas esse indicador sofrerá melhorias quando os 94 enfermeiros que acabaram de terminar a sua formação começarem a trabalhar. Carlos Brito acrescenta que neste mês de Junho será também lançado um novo concurso para enfermagem geral e de especialidade, para os hospitais Agostinho Neto e Baptista de Sousa. Estas acções todas obedeceram, explica o DGS, a um plano de formação previamente concebido, para responder às necessidades do MS. Aquele responsável avança, por outro lado, que o seu ministério vai iniciar uma O Ministério da Saúde, através do Centro Nacional de Desenvolvimento Sanitário e das Delegacias de Saúde, vai implementar, durante este ano, um leque de actividades para sensibilizar a sociedade civil e combater a epidemia do tabaco. Esta campanha surge num momento em que em Cabo Verde, apesar da falta de dados sistematizados sobre o consumo do tabaco, há indícios de estar a aumentar o número de fumadores. Aumento esse que vem acontecendo tipicamente nos países menos desenvolvidos. Está dado o primeiro passo na luta contra o tabagismo: trata-se da ConvençãoQuadro para a Luta Antitabágica, implementada pela Assembleia Mundial de Saúde em 2003. Esta convenção foi assinada por Cabo Verde encontrando-se, neste momento, na Assembleia Nacional para ser ratificada. A CQLA é o primeiro tratado da OMS que, além de impor restrições à publicidade, promoção e patrocínio do tabaco, apela a novos controlos nas embalagens dos produtos tabágicos, e pede uma legislação mais rigorosa no combate ao tabaco. Aliás, o próprio director regional da OMS para a África, Luís Sambo, apelou aos governos do continente africano no sentido de ratificarem a convenção, já que este dará um contributo significativo à luta contra a epidemia do tabaco e a seus efeitos nocivos. E se em Cabo Verde são desconhecidas as estatísticas sobre o consumo desta “droga lícita” — restando ao MS sensibilizar os potenciais fumadores e actuar sobre um público-alvo de que não sabe o número, a classe social, nem a faixa etária, ficando tudo a nível das hipóteses e ao sabor dos movimentos que chegam de fora — a situação a nível mundial é alarmante. É que existem, actualmente 1,3 bilhões de fumadores, sendo que o número de mortes causadas pelo uso do tabaco atinge os 4,9 milhões de pessoas. E se os padrões anuais persistirem, essa cifra aumentará para 10 milhões em 2020, com 70% dessas mortes a ocorrerem nos países em desenvolvimento, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No nosso continente, a prevalência do consumo do tabaco é de 29% nos homens e 7% nas mulheres. O inquérito mundial sobre o tabagismo entre os jovens dos 13 aos 15 anos mostra, para a região africana, uma prevalência entre 10 e 33%. Entretanto, este cenário deverá agravar-se ainda mais, já que as indústrias tabaqueiras estão a deslocar-se rumo ao Sul devido aos obstáculos impostos pelos países desenvolvidos. Este ano, para comemorar o 31 de Maio, Dia Mundial sem Tabaco, a OMS escolheu o lema “os profissionais de saúde contra o tabaco”. O objectivo desta insígnia é lembrar aos profissionais de saúde, de todas as categorias, a importância deste problema. Pretende-se que esses profissionais usem os seus conhecimentos sobre os males do tabagismo, bem como a relação privilegiada com os utentes da saúde, para diminuir os riscos do consumo do tabaco, que continua a ser a primeira causa de morte prematura evitável no mundo. Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Mais médicos e autonomia aos hospitais centrais Cabo Verde está a conhecer uma melhoria considerável na prestação dos cuidados de saúde. A constatação é do Director-Geral de Saúde, Carlos Brito, para quem tudo se deve à chegada ao país de 80 novos médicos, prevendo-se a vinda de outros 40 até Setembro deste ano. O Ministério da Saúde está ainda a trabalhar para, conforme aquele responsável, dotar os Hospitais Centrais da Praia e do Mindelo de maior autonomia administrativa e financeira, ao mesmo tempo que está empenhado na construção de infra-estruturas importantes, com destaque para as da Região Santiago Norte, o Hospital do Sal e as unidades da oncologia e hemodiálise, na Capital. Carlos Brito precisa que além dos 80 novos médicos que já estão colocados nas diferentes estruturas nacionais de saúde, outros 40 deverão chegar de Cuba até Setembro deste ano. Como consequência, Brito realça existir uma maior disponibilidade em termos de recursos humanos, cujo rácio médio oscila, neste momento, à volta de um médico por cada 2014 habitantes, que é considerado um bom nível, segundo os padrões universais. O regresso dos recém-formados permitiu, de acordo com a mesma fonte, dotar as 11 Profissionais da saúde contra o tabaco 12 RIBEIRA GRANDE ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Correio das ilhas Trabalhadores pedem indemnização ao Inerf Brava sem energia e água ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW pagão nas ruas, corte de energia nas residências e falta de água. Esta é a realidade com que a Brava tem convivido nos últimos tempos. Um cenário que o autarca Camilo Gonçalves não consegue entender, já que a Electra adquiriu um gerador novo há menos de dois anos. A empresa de electricidade e água, por seu lado, defende-se “com motivos de força maior” ao mesmo tempo que avança que nos próximos dias a situação estará normalizada. A Brava está a braços com a falta de energia e de água. Uma situação que além de condenar à escuridão leva os moradores a deitar fora a carne e o peixe que têm armazenado nos frigoríficos, penaliza duplamente as gentes da ilha que se vê assim privada de dois bens essenciais para viver no séc. XXI porque sem energia, a Aguabrava também não consegue fazer a distribuição da água. O clima de insegurança que também tem aumentado na pacata Brava, bem como a perda de electrodomésticos - originado pelos cortes bruscos durante o dia nas residências, e cujo prejuízo a Electra não se responsabiliza - são outros transtornos que a ilha vem amealhando. O presidente da CMB, não consegue explicar o porquê “destes problemas permanentes na Electra”. Camilo Gonçalves não compreende “como é que depois de um investimento tão significativo como a central Eléctrica, tenhamos situações permanentes de cortes de energia, de oscilação de energia e tantos outros problemas que têm surgido”. Segundo o edil bravense, “estamos há um mês sem luz, com apagão nas ruas, com cortes de energia nas residências, e levando a que a população perca os seus electrodomésticos. O mais grave é que a Electra não nos informa nem quando nem onde irão acontecer estes cortes”. Entretanto, esta situação deverá estar resolvida dentro de pouco tempo com a chegada de peças da Europa, isso a acreditar nas palavras de um responsável da Electra. Para o engenheiro Manuel Silva, neste momento a Brava só está a trabalhar com um gerador, o que “aguenta” a ilha. O problema verificase é à noite “quando paramos para fazer a manutenção da máquina, trabalhando assim com 50 kilowats”. Estrada São Domingos/Assomada em mau caminho ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW nquanto o governo gasta grandes somas para melhorar as infraestruturas rodoviárias do país, há pessoas que estão a vandalizar as estradas que já foram asfaltadas, especificamente a que liga São Domingos à Assomada. Este troço inaugurado ainda há pouco tempo para orgulho do país, já se encontra num “estado vergonhoso” conforme diz João Barros, um passageiro que faz diariamente este percurso. Asfaltada a estrada que liga São Domingos à Assomada, a viagem nesse percurso tem todas as condições para fazer-se numa verdadeira descontracção. Isso porque nessa rodovia acabaram-se os dribles para evitar os buracos, os condutores passaram a gastar menos molas, pneus e outros acessórios, poupa-se o tempo, enfim... Mas há quem esqueça ou simplesmente ignore esses “ganhos” que a boa estrada traz e por isso não preserva esse bem que é público. A Semana fez a trajectória São Domingos/Assomada e deparou com pedaços de blocos espalhados pela estrada, terra, pedra e cascalho deixados por uma derrocada descuidada que inutilizou quase toda uma via da estrada, pessoas que colocam os seus materiais de construção civil quase para dentro da via, sinalizações arrancadas e jogadas para o chão, etc, etc… “Tudo isto contribui para os acidentes de viação ocorridos naquele troço”, comenta um agente policial de São Domingos. A esse cenário de insegurança da via, para os condutores e passageiros, junta-se ainda a actuação de outros vândalos que por ali circulam e deixam outras marcas - protecção das estradas partidas e alguns postes de iluminação quebrados. Como se isso não bastasse, os lixos estão a invadir a estrada entupindo as lavadas. Na zona de Órgãos, frente ao mercado, a estrada está entulhada de lixo e restos de animais. É que ali há açougue, restaurante, cozinha, tudo numa sujidade só à berma da estrada, e perante os olhos de todos. Mas o cúmulo do “descaramento” e da grande “vendetta” em que se tornou a coisa pública acontece no troço São Domingos/Assomada. São sacos e mais sacos de cascalho à berma da estrada. E ao que este jornal conseguiu apurar, há pessoas a apanhar as britas que fazem parte da estrutura das estradas para as utilizar nas suas construções ou para vender aos interessados. Toda essa situação já é do conhecimento do Instituto de Estradas (IE), segundo o seu Administrador, Arlindo do Rosário. Para este responsável, é “lamentável” o que está a contecer, com pessoas a roubar britas e, desse modo, a danificar as estradas recém-construídas. Quanto à apanha de cascalho à berma das estradas, Arlindo do Rosário diz tratarse de “um problema sério” que já existia desde a fase da construção do troço. O próprio diz ter alertado várias vezes as autoridades policiais para o facto, mas os prevaricadores continuam a actuar na impunidade. Inclusive, diz possuir fotografias que testemunham pessoas apanhadas, em flagrante, com o carro cheio e pronto a arrancar e transportar materiais roubados nas estradas, cascalho e brita por exemplo. Foi para dar resposta a situações de actuação ilegal como as descritas – que os Serviços Rodoviários não conseguiam resolver — que foi criado em 2004, e instalado nos finais de 2005, o Instituto de estradas. Segundo o seu administrador, ao Instituto de Estradas compete fazer a manutenção e gestão das rodovias, mas explica que “a obra São Domingos -Assomada está na fase de entrega provisória, por isso ainda não temos todos os instrumentos jurídicos que nos permitem actuar, fazer a sua gestão”. O mesmo administrador salvaguarda que estão a ser preparados os contratos para a manutenção dessa estrada. E “com o instituto a funcionar em pleno vamos tentar melhorar esta situação”, assegura. Mas até lá e no ritmo que a desprodução continua, será que vai haver estrada para fiscalizar. A instalação do serviço de estatística é outro grande objectivo do Instituto visando produzir, sistematizar e disponibilizar informações pormenorizadas sobre o funcionamento das estradas. Para isso está a decorrer um estudo que, segundo Arlindo do Rosário, permitirá tanto caracterizar o estado e as necessidades de manutenção das estradas quanto medir a quantidade do tráfego em qualquer troço rodoviário do país. Aidê Carvalho mbrósio Santos e mais dois colegas reclamam uma indemnização por vinte e cinco anos de serviços prestados à antiga direcção regional do Ministério de Desenvolvimento Rural e, posteriormente, ao Inerf. Foram dispensados do trabalho em 2001 e, apesar de algumas tentativas para reivindicar os seus direitos, até hoje aguardam uma resposta dos responsáveis do Instituto Nacional de Engenharia Rural e Florestas. Ambrósio Santos conta que trabalhou como “ajudante de camião” na antiga direcção regional do MDRP, desde Maio de 1976 a Janeiro de 1994. Após aquela data, ele e mais quatro colegas foram transferidos para os serviços do então recém-criado Instituto Nacional de Engenharia Rural e Florestas (Inerf), onde permaneceram até meados de 2001. “Naquela altura tomos transferidos para as frentes de trabalho, como pedreiros de segunda classe, e depois que as obras terminaram deixámos de receber o nosso salário. Não tivemos nenhuma explicação de ninguém, embora tenhamos prestado cerca de vinte e cinco anos de serviço ao Ministério, com direito a férias e tudo mais”, realça aquele santantonense, de 50 anos. Tal como Santos, Silvestre Rodrigues diz não entender por que há mais de ano fizeram um pedido de indemnização juntamente com outros três colegas, dois deles foram atendidos e os restantes nem resposta obtiveram do Inerf. “Penso que mereceremos outro tipo de tratamento. E para os nossos direitos vamos lutar com as poucas armas que temos”, disse, ofegante, o ex-trabalhador do MDRP que hoje sofre de asma. Para já, A Semana sabe que esses extrabalhadores do INERF possuem uma declaração, assinada pela actual delegada do Ministério da Agricultura em Santo Antão, a comprovar que trabalharam cerca de 18 anos para o MDRP. Por outro lado, um advogado daquela ilha já se disponibilizou para negociar com o Inerf ou mesmo com o Ministério de Agricultura, uma recompensa para os citados cidadãos. Não se sabe, todavia, se irão conseguir provar que eram funcionários do Inerf, na medida em que não têm qualquer contrato assinado. De todo o modo, garantem que durante vários anos assinaram o “livro de ponto” na representação daquele instituto na Ribeira Grande, tiveram direito a férias pagas e gozaram de outras regalias destinadas aos servidores de administração pública. Sobre esse assunto, tentamos ouvir a actual presidente do Inerf na terça-feira passada, mas todas as nossas tentativas mostraram-se infrutíferas. JAM 13 OPERAÇÃO ESPERANÇA ARRANCA O lançamento da primeira pedra para reabilitar uma residência em Lém-Cachorro e a assinatura, no Palácio do Governo, de contratos-programa com associações de todos os concelhos de Santiago marcam, hoje, 3, na Praia, o arranque da Operação Esperança. O programa dispõe já de um fundo no valor de 137 mil contos e visa recuperar milhares de moradias degradadas proporcionando melhores condições de habitabilidade às famílias carenciadas dos que vivam tanto nos 22 municípios cabo-verdianos como nas comunidades BCDE K JHIG Milhares de casas de famílias pobres serão reabilitadas MNOP RSTU ZXW emigradas de São Tomé e Príncipe e Moçambique. cerca de 117 pessoas estão sem abrigo e mais de 1.500 agregados familiares vivem em barracas. “Há situações em que as barracas ou alojamentos construídos de pedra solta, com pavimento em terra batida e sem condições higiénicas, não apresentam a mínima segurança para os seus ocupantes: tectos e paredes em risco de desmoronamento, janelas e portas em pedaços e moradores, muitas vezes idosos e crianças, expostos à acção agressiva da natureza”. Para a presidente do ICS, escusado será dizer o impacto que o referido programa terá na vida dos beneficiários e nas suas respectivas comunidades. “O impacto do programa supracitado será bem visível, na medida em que haverá uma diminuição da pobreza e da pressão sobre os recursos naturais”. Assim, melhorando a “qualidade de vida das famílias contempladas se irá às condições subjectivas para uma maior participação nas actividades produtivas”. A diminuição da pressão e a melhoria do grau de desempenho das infra-estruturas e equipamentos; contribuição para a criação de emprego e melhoria da eficiência no funcionamento dos núcleos de povoamento rural são outros desideratos prosseguidos pela Operação Esperança. A Operação Esperança será supervisionada por um comissão nacional, dirigida pela presidente do ICS. Dada a sua natureza e as características da população alvo, a execução deste programa contará com o suporte técnico especializado dos Municípios, do Ministério das Infra-estruturas, da IFH, de instituições públicas e privadas, ONGs e outros organismos da sociedade civil. Estes podem, na perspectiva dos promotores da iniciativa, desempenhar um papel importante para mobilizar e organizar estratos populacionais desfavorecidos e levá-los a obter a ajuda das diversas associações comunitárias. A OE funcionará com base no princípio de “Djunta Mon”, em que o apoio financeiro e material dos cidadãos, entidades públicas e privadas são, conforme o governo, a chave do seu sucesso. Alírio Dias de Pina SANTO ANTÃO Direcção CRP e GTI sdesafinados ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW s relações entre o Conselho Regional de Parceiros em Santo Antão e o Gabinete Técnico Intermunicipal parecem azedas desde que a equipa do CRP passou a ter apenas uma sala para trabalhar no edifício do GTI. E por causa disso a direcção do CRP chega inclusive a afirmar que o coordenador daquele gabinete quer dificultar a actividade desse organismo que gere verbas do Programa Nacional da Luta contra a Pobreza. Mas Joel Barros defende dizendo que não há motivos para alaridos porque “procurou-se apenas fazer melhorias na gestão do GTI”. Humberto Freitas, da direcção do Conselho Regional de Parceiros em Santo Antão, mostra-se agastado com o facto de o coordenador do GTI ter disponibilizado apenas uma sala para os técnicos e o conselho directivo do CRP trabalharem. “É uma forma de dificultar o funcionamento do CRP que gere um importante programa de habitação social numa ilha carente como Santo Antão. Todos sabem que o manual do PNLP diz que as entidades locais devem ceder espaços para o CRP funcionar porque não há verba para pagar a renda de instalações, só que disponibilizar apenas uma sala é uma falta de respeito para com este órgão”, expressa aquele responsável. Por ora, os serviços do CRP vão funcionando naquela sala no GTI, mas Freitas diz que já pôs o Ministério do Trabalho e Solidariedade e o coordenador nacional do Progra- ma da Luta contra a Pobreza a par dessa situação, para que procurem uma alternativa. É que, no entender da direcção do CRP, da maneira como as coisas estão as actividades do programa serão prejudicadas, pois “num espaço tão exíguo” é quase impossível o conselho directivo e a equipa técnica funcionarem com a normalidade necessária. Contactado por A Semana, o coordenador do GTI afirmou que não vê motivos para que a direcção do CRP esteja tão descontente com o facto de “por conveniência de serviço” lhe terem retirado uma das salas onde funcionava. “Estamos a preparar o terceiro plano de desenvolvimento de Santo Antão e, como precisávamos de uma sala para fazer as reuniões pedimos ao CRP que nos cedesse aquele espaço. Nunca demonstraram nenhum inconveniente nisso; apenas sugeriram que ficasse com a sala maior e aceitámos. Nada mais do que isso”, explica Joel Barros. Aquele gestor refuta a ideia de que a GTI estaria a quer dificultar a vida aos membros do CRP mesmo porque, reitera, “há todo o interesse em que o conselho funcione, para o bem de Santo Antão”. Barros deixa a entender, no entanto, que o CRP deveria contribuir para os custos de energia e água, pois tais despesas “praticamente triplicaram desde que começaram a funcionar no GTI”. Na verdade, quando o GTI era o gestor local do Progra- ma Nacional da Luta contra a Pobreza havia uma verba de 20 mil escudos mensais para o uso das instalações do gabinete e mais dois mil escudos para as despesas com energia e água. Hoje não existe mais esta verba, mas Barros nega que esse seja o motivo para a suposta tentativa de expulsar o Conselho Regional de Parceiros. “Foi só uma necessidade temporária, enquanto durar a fase de preparação do plano de desenvolvimento; não queremos expulsar ninguém”, sublinha o coordenador do GTI. Entretanto, A Semana sabe que por trás dessa questão do espaço poderá existir uma antiga “pendência política”. É que aquando da formação do CRP para gerir as verbas do PNLP, as câmaras municipais de Santo Antão negaram pertencer aos órgãos directivos daquela entidade, alegando que haviam sido “relegadas para um segundo plano”. Sendo assim, as associações comunitárias assumiram maior protagonismo na política de habitação social naquela ilha. E, sabendo que o GTI é um órgão dos três municípios santantonenses, algumas pessoas entendem que o alegado “ensaio de expulsão dos serviços CRP” não passará de uma tentativa de um “devido ajuste de conta” com os dirigentes do conselho. Uma leitura possível, ainda mais quando se sabe que o actual coordenador do GTI e o presidente da direcção do CRP João Almeida Medina são conhecidos adversários políticos. Correio das ilhas reabilitadas. O programa visa, conforme a presidente do ICS, recuperar casas degradadas e diminuir o número de alojamentos sem as mínimas condições de habitabilidade. Uma situação que, na perspectiva de Nilda Fernandes, afecta principalmente as famílias sem nenhuns ou baixos recursos económicos. “Ou seja, é uma contribuição na luta contra a pobreza”. Assim se abrem novas perspectivas para “melhorar as condições e a qualidade de vida dos beneficiários”, para “uma maior justiça e equidade sociais, em nome do combate a situações extremas de exclusão e marginalização social e a bem do aprofundamento dos valores da democracia e da cidadania”. Esta iniciativa solidária é tanto mais necessária quanto se constata que o crescimento económico de Cabo Verde não conseguiu ainda proporcionar o acesso generalizado à casa própria. O censo de 2000 mostra que um em cada sete caboverdianos cerca de 14% da população, é considerado muito pobre, que Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Primeiro-Ministro, José Maria Neves, preside hoje, na Praia, ao arranque da Operação Esperança (OE). A cerimónia será marcada por dois actos distintos: o do lançamento da primeira pedra para reabilitar uma habitação em Lém-Cachorro e a assinatura, no Palácio do Governo, dos contratos-programa com associações de todos os municípios de Santiago e o Instituto das Comunidades. A esta instituição compete executar o referido programa junto das comunidades cabo-verdianas de Moçambique e São Tomé e Príncipe, vivendo em condições sub-humanas. A operação, esperança projecto de melhorias habitacionais, deverá percorrer o país de lés a lés. A execução da OE será por fases e está a cargo do Instituto Cabo-verdiano da Solidariedade que conta, neste momento, com um fundo de arranque no valor de 137 mil contos, 120 mil dos quais constantes do OGE deste ano. De acordo com o projecto, milhares de casas de famílias pobres em todo o Cabo Verde e junto das comunidades de São Tomé e Príncipe e Moçambique serão 14 ASSALTANTES “dominam” Achada Grande Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Social Zona de alto risco ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW ustigados por assaltos sistemáticos contra turistas, camionistas e transeuntes, os arredores do Porto da Praia e da Achada Grande são tidos como zona de alto risco. Delinquentes especialistas nesse tipo de crime, muitos deles ex-presidiários, criaram bandos que, segundo fontes abordadas por A Semana, estão a dominar a zona. “Chegam ao ponto de atacar viaturas em movimento. Saltam para dentro das caixas e atiram os produtos para o chão. Depois desaparecem como fumaça”, descreve um cidadão frequentador do Porto da Praia, para quem o problema atinge basicamente os arredores do cais e a zona da Achada Grande. Neste bairro da periferia da Praia, acrescenta a mesma fonte, os armazéns são também alvos de ataques constantes. “Eles sabem como e quando fazer um assalto e têm muito por onde escolher”. Nalguns casos, os assaltantes agem em grupo, armados com facas e outros instrumentos perigosos. As suas vítimas tanto podem ser turistas como camionistas, transeuntes desatentos ou então pessoas que vão fazer o seu exercício físico. “Nem sempre levam a melhor. Temos relatos de confrontos entre assaltantes e vítimas que, quase sempre, acabam em agressões com pedras ou garrafas”, conta uma fonte policial. Na perspectiva dessa fonte, as autoridades policiais têm dado atenção a esse foco de criminalidade, com resultados que poderiam ser mais palpáveis se não fosse a dificuldade que enfrentam em manter os suspeitos presos nas cadeias. Como explica, muitos dos delinquentes ficam a aguardar julgamento em liberdade, quando presentes a Tribunal, provocando um claro desconforto no seio dos agentes policiais. “Muitos deles já foram presos, mas regressaram à onda do crime. Alguns dos delinquentes residem na Achada Grande enquanto que outros frequentam essa zona porque conhecem bem esse terreno e têm várias vítimas à disposição. Basta ver o número de carros e de pessoas que frequentam o Porto da Praia”, elucida o polícia, assegurando ainda que os passadores e consumidores de droga montaram também a sua base nesse perímetro. Cerca de vinte delinquentes que costumavam actuar nessa zona foram presos pela Judiciária em 1997. Dezassete foram condenados, mas consta que mal cumpriram as penas regressaram às ruas e à delinquência. As nossas fontes desconfiam que parte significativa desse grupo voltou ao mundo da criminalidade. O índice de assaltos disparou nos últimos tempos, com graves prejuízos para os camionistas e transeuntes, como realçam as mesmas fontes de informação. Porém, os assaltos rondam também outros centros urbanos, caso da cidade do Mindelo, suscitando a intervenção das autoridades. Em São Vicente, a Judiciária montou operações direccionadas para o combate aos roubos e assaltos com recurso a armas brancas. Dois indivíduos, de 20 e 26 anos, foram detidos esta semana por suspeita de praticarem ataques em coautoria. As suas vítimas preferidas eram mulheres, que surpreendiam em lugares escuros da cidade. Os dois tinham também por hábito invadir residências e automóveis. Os mesmos são ainda suspeitos de terem cometido uma série de assaltos, razão porque ficaram retidos na cadeia de Ribeirinha. A Judiciária recuperou vários objectos subtraídos às vítimas, que estão disponíveis na inspecção de São Vicente. KzB Luta contra violência e criminalidade A B C D E Sociedade civil propõe a criação F J H I G Kde Observatório Independente LMNOP QRSTU VZXW rganizações da sociedade civil propõem a criação de um Observatório Independente da Violência e da Exclusão Social (OIVES) em Cabo Verde. Esta proposta foi já remetida, através da Associação Zé Moniz, aos principais órgãos da soberania, bem como às instituições nacionais com responsabilidade em matéria de combate à criminalidade e insegurança internas. Para o presidente da AZM, a proposta para a criação de um observatório independente da violência e da exclusão social segue as linhas básicas de intervenção delineadas pelas organizações da sociedade civil cabo-verdiana envolvidas na luta contra a violência no país. O OIVES deverá, segundo Manuel Faustino, integrar quase todas as organizações que promoveram, recentemente, a manifestação contra a violência, depois de vários casos de homicídio registados na Praia. Entre essas organizações estão a AZM, as igrejas Católicas, Nazarena e Adventista, a Morabi, OMCV e Associação das Mulheres Juristas. O Observatório deverá ainda incluir instituições como o ICM, o CCCD, a UNTC-CS, CCSL, a Comunidade Santo Egídio e a Organização de Apoio a Estrangeiros em Cabo Verde. Além de instituir o referido órgão, o documento já remetido aos principais órgãos de soberania e às entidades com responsabilidade no combate à criminalidade e insegurança internas, contempla sugestões várias para travar a onde da violência que ameaça tomar conta de Cabo Verde e que está, segundo Manuel Faustino, direccionada sobretudo contra crianças e mulheres e relacionada com fenómenos relativamente novos, como sejam a distribuição e o consumo de substâncias psicoativas. O mesmo documento apresenta as desigualdades sociais e as disfunções como sendo factores geradores da violência entre nós e salienta constatar alguma degradação de valores que sempre integraram o modo de ser do cabo-verdiano. Os mentores da dita proposta acreditam que as organizações da sociedade civil podem assumir um papel activo para reverter o actual estado de coisas devendo, entre outras, apoiar de forma activa todas as iniciativas tendentes a prevenir a violência, denunciar as medidas e práticas que tendam para a exclusão das camadas mais vulneráveis, com destaque para as crianças, mulheres, presos e estrangeiros. Isto sem contar com o apoio a famílias na sua tarefa de educar e preservar a segurança e bem- estar dos seus membros. Mas as recomendações remetidas aos órgãos da soberania não ficam por aí. O documento, que vimos citando, acha que o Estado deve, a diversos níveis, implementar políticas que previnam as distorções sociais e combatam a pobreza. Sobre este particular, os autores da referida proposta sugerem uma melhor distribuição das riquezas, o reforço do papel da educação enquanto factor que promove a tolerância, bem como a protecção das famílias mais pobres. Promover políticas efectivas de prevenção do uso e tráfego ilegal de substancias psicoativas, combater o tráfego de armas, tornar a justiça mais célere e adoptar medidas que permitam intervenções mais eficazes das polícias no quadro do respeito pelos direitos humanos são outras sugestões avançadas pelos subscritores do mencionado documento. O presidente da AZM diz, no entanto, regozijar-se com a detenção de alguns dos alegados suspeitos dos 16 crimes de homicídio registados de Janeiro a Maio deste ano, na Praia. “Isto mostra alguma eficácia da Polícia. Mas não devemos ter grandes ilusões, porque não sabemos se os detidos não serão meros executantes”, adverte Manuel Faustino, para quem ainda resta apurar sobre a exisetência de autores inteADP lectuais de tais crimes. 15 Cara Filó, Há alguns meses atrás, trouxe aqui para esta coluna o olhar de Patrícia lá das ladeiras de Atalaia, fixo num ponto qualquer da calçada a dizerme tristemente que não sabe assinar o seu nome. Patrícia tinha catorze anos na altura, Filó, e rabiscava traços sedentos de significado sobre uma velha calça jeans que trazia vestida enquanto vendia mangas à beira da estrada com mais dois irmãos (o Orlando e a Edelmira). ABCDE FJHIGK LMNOP QRSTU VZXW Por: PAULINO DIAS PATRÍCIA (NOVAMENTE!!) Nada mudou, Filó. Para além dos e-mails que me chegaram à caixa de correio, os rostos Guernica contorcidos de revolta, sensibilidade, pena, tristeza - e sei lá que mais! -, que pressentia por detrás de cada palavra. Palavras apenas, Filó. Palavras esgrimidas como sabão omo ou detergente cintila, para lavar nossa consciência e podermos assim nos esparramar cada vez mais nos sofás de pele de porco, com a confortável sensação de dever cumprido. Palavras, Filó. Palavras vazias a estrangular-me de revolta com suas tenazes de reluzente hipocrisia. Palaaaaaaaaaaaavras!!!!!. E continuamos depois tranquilamente a olhar para o lado e a assobiar com as mãos nos bolsos, as Patrícias deste torrão acomodando-se de volta às tabelas excell, em meras estatísticas que servirão depois para se promover mais um fórum e mais uma dúzia de estudos - que ironicamente a Patrícia não poderá ler, Filó! Nada mudou, afinal... Não quero pensar que estamos a perder a nossa capacidade de “ver o outro”, Filó. De nos indignarmos, de não aceitarmos passiva e tacitamente que não podemos mudar as coisas. Não quero pensar que por detrás deste verniz de morabeza que vendemos aos gringos nos livrinhos de promoção dessas ilhas, esconde-se uma sociedade de cada um por si Deus por todos, uma sociedade que - como desabafa o meu amigo Olavo com um rasgo de tristeza a atravessar os olhos enormes atrás dos óculos, ali na sala da sua casa em Mosteiros - pode manifestar-se de uma violência subtilmente destruidora, mas que não é notícia, porque profundamente enraizada nas nossas ATITUDES. Uma sociedade onde um puto a vasculhar um contentor nas esquinas de Palmarejo em busca de restos de comida não é mais do que estatística e justificação científica do lixo que se espalha pelo chão, ou uma velha demente semi-nua estendida no passeio na sombra de um prédio qualquer no Plateau não passa de uma... velha demente!, a perturbar a nossa circulação quotidiana de que precisamos para realizar o sonho do bom emprego, do carro zero no próximo ano, a casa própria num bairro chique da capital e viagens a Fortaleza em Agosto com a mulher e os filhos... O sonho da Patrícia é outro, Filó... O so- nho da Patrícia tem uma simplicidade desconcertante que nos deixa com um nó na garganta e mil perguntas em revolta na ponta da língua. O sonho da Patrícia ergue-se dia após dia num mundo incompreensível de rabiscos que se entrelaçam alegremente na fazenda da calça jeans a cair de roto, enquanto o olhar - aquele olhar perturbador da nossa comodidade, Filó! - queda-se em silêncio no mesmo ponto da calçada enegrecida pelas rodas dos carros, que ela fitava da primeira vez que a vi. Patrícia sonha apenas em poder escrever seu nome, dar um sentido aos rabiscos que continua a desenhar sobre suas calças com um velho toco de lápis preto, construir para si UR-GEN-TE-MEN-TE um outro mundo que não um filho nos braços a substituir o soletrar do abecedário e a tranquila sinfonia dos quocientes e pretéritos imperfeitos no quadro preto de uma sala de aula. O sonho de Patrícia não devia ser sonho, Filó!!! Patrícia sonha apenas em poder escrever seu nome, Filó... Praia, Maio de 2005 [email protected] Bebé órfão é disputado por pai e familiares D. é um lindo bebé de 18 meses, mas a tragédia atingiu-o já: acaba de perder a mãe, vitima, aos 42 anos, de cancro uterino. A orfandade vai certamente deixar nele marcas para toda a vida, sobretudo porque D. é alvo de uma desputa familiar, para ver quem o vai criar. O pai reclama o seu direito, enquanto a família do lado materno - a irmã de D, de 18 anos, apoiada pela tia, a irmã de sua falecida mãe - quer ver D. crescer junto dos seus seis irmãos. Uma questão que caberá à justiça decidir. A Semana não conseguiu localizar o pai biológico de D., mas pelo que pudemos apurar trata-se de um indivíduo chamado Miguel Livramento, natural de São Nicolau. De acordo com o que ouvimos de Lídia Ramalho, 45 anos, irmã da falecida mãe de D. o pai esteve todo este tempo ausente da vida de D. e embora mandasse à ex-companheira, todos os meses, dois contos para ajudar com as despesas do filho, nunca arcou com as suas responsabilidades afectivas para com a criança. “Quando a mãe do D. adoeceu, eu tive de falar com Miguel, sobre essa questão. Ele disse na altura que a mãe dele vive em Portugal e só tem um irmão em São Nicolau, de modo que teria que decidir depois...”, conta Lídia Ramalho. Só que após algum tempo, Miguel aparece a reclamar o filho, mas, segundo Lídia, para o entregar a uma família conhecida dele. Ora, visto que o pai não vai ficar com ele, “E a irmã do D. quer ficar com ele para estarem todos os irmãos juntos, nós que somos família achamos que ele poderia ficar connosco. Não queremos que ele cresça fora do seio familiar. E agora estamos à espera de uma decisão nesse sentido”, acrescenta Lídia. Diante da complexidade da questão, o ICM preferiu deixar a decisão para as instâncias judiciais. Ana Paula Brito, delegada regional do instituto, entregou o caso ao Ministério Público para que este encontre a melhor solução. É que há o pai biológico, que apesar de não ter estado de corpo presente até essa fase da vida do filho, tem o direito legal sobre o fim que está registado com o seu nome de família. E há a irmã mais velha de D., que sempre ajudou a mãe a tomar conta do “codê” e conta com o apoio da tia, que também está disposta a ficar com o sobrinho. Mas a jovem parece ter um forte obstáculo, que é a manifesta má vontade do pai dela em permitir que D. fique com eles. Aliás, rudemente, Adelino Soares impediu que falássemos com a filha e só a muita arte do repórter impediu que ele chegasse às vias de facto. De acordo com a delegada do ICM, Ana Paula Brito, Miguel Livramento foi no dia 16 de Maio ter com ela a reivindicar o seu direito à criança, “mas ele nos adiantou que queria entregar a criança a uma outra família que não a família biológica de D. Nós então quisemos um tempo para ver o que deveria ser feito, pois a criança já estava inserida na sua família biológica...”, adianta. Foi então que o ICM resolveu levar o caso ao Tribunal, que tem a competência de tomar decisões neste tipo de conflito. Entretanto, até ordem do Tribunal, D. permanece com a tia e os irmãos. D. parece feliz em casa da tia, brincalhão, agitado e inocente, num lar onde ele parece ser o centro das atenções. O pai de D., Miguel Livramento, alega que a irmã do filho, ainda estudante, tem mais cinco irmãos, fruto de uma relação anterior da falecida mãe e não tem condições económicas para arcar com a responsabilidade de criar o seu filho, que ele pode sustentar. “Foi o caso mais difícil que recebemos até hoje. Só o Procurador, ao ouvir, todos os intervenientes, pode decidir, diz a responsável local do ICM, que não descarta a possibilidade de a justiça lhe pedir a opinião”. E enquanto a sentença não sai, “D. fica sob a guarda da irmã maior, mediante a vigilância da tia”. Entretanto, A Semana não conseguiu localizar Miguel Livramento para saber da sua posição. A Procuradoria Regional ainda não ouviu as partes, daí não ter ainda opinião formada, mas dá a garantia de que em quaisquer circunstâncias vai levar sempre em conta os interesses da criança. Enquanto isso, esta corajosa menina e os outros cinco irmãos, segundo os vizinhos e familiares, vivem o inferno com o pai Adelino Soares, que obriga quatro de seus filhos a dormirem num quarto. Esta reportagem pôde conferir, antes de ser expulsa da casa, que o quarto não deve medir mais do que uns quatro metros de comprimento e um metro e meio de largura. Isto numa casa que tem mais dois quartos. No entanto, segundo consta, Adelino, que vive com outra mulher e tem pelo menos mais um filho dessa relação, resolveu alugar os quartos, sujeitando os filhos a uma condição sub-humana. Aliás, este também é um caso do conhecimento das instâncias judiciais e do próprio ICM, e que a mãe das crianças morreu esperando que se resolvesse. Pelo menos dois dos rapazes vivem hoje em “situação de rua”, passando mais de metade do seu tempo a vadiar. Kaunda Simas Social IRMÃOS ORLANDO, EDELMIRA E PATRÍCIA Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 oltei à ilha semana passada, Filó. E enquanto dirigíamo-nos pela estrada em direção a Mosteiros via Atalaia (propositadamente, para ver se tinha a sorte de reencontrar os três irmãos e saber como estavam), confesso que uma onda ingénua de esperança atravessava-me de ponta a ponta, ciente de que as dezenas de mensagens que me chegaram ao computador, de leitores que se diziam profundamente sensibilizados com a situação da Patrícia, do Orlando e da Edelmira, poderiam ter melhorado um tintinho assim a vida daqueles miúdos. Ainda mais porque várias das mensagens vieram de pessoas que têm o poder e a responsabilidade social de evitar que crianças de catorze anos, em pleno Século XXI nessas ilhas, ainda não saibam ao menos soletrar o seu nome! Mas nada mudou, Filó... Depois da “onda” de solidariedade, Patrícia continua com o mesmo olhar pousado timidamente num ponto qualquer da calçada, enquanto diz-me que não, desde a última vez que lá estive ninguém os contactou, a Edelmira - com dezassete anos, Filó!!! - já tem um filho de dois meses nos braços, substituindo o livro de matemática que abandonou numa sala qualquer porque sés pai cá tene ricurso, continuam doze pessoas a morar numa mesma casa em que apenas o irmão mais velho está empregado (à Edelmira não lhe deram trabalho porque disseram que tem paide-filho mercóne, por isso não precisa...), o Orlando continua na escola, teve o azar de dar uma queda que lhe provocou fractura num dos braços, esteve algum tempo na Praia por causa disso, mas já está de volta às aulas. 16 A paisagem de Flamengos, localidade rural de S. Miguel, apresenta-se como um retrato fiel do mal que faz a desenfreada extracção de areia e brita. São buracos escavados que já atingiram os quatro metros de profundidade e se perfilam desde a ponte de Calhetona até a Furna (são cerca de 10 quilómetros que abrangem toda a ribeira dos Flamengos). Estima-se em mais de cem as pessoas, incluindo grávidas e crianças que diariamente ali labutam em busca do “ganha-pão”. Uma dura realidade onde o perigo espreita a qualquer momento, a agricultura é ameaçada e é implacável a luta pela sobrevivência. Sexta-feira, 3 de Junho de 2005 Geral BCDE JHIGK MNOP RSTU ZXW reforço da fiscalização ao litoral da ilha impedindo a extracção de areia e brita das praias, levou os “garimpeiros” a refugiarem-se nas ribeiras. Alegando mau resultado agrícola e natural repercussão sobre o sustento para as suas famílias, pessoas há que arrancam das ribeiras tudo o que encontram pela frente, especialmente areia e brita. A sua única certeza é que o serviço de fiscalização ainda não chegou às ribeiras. Debaixo do sol inclemente, e sem segurança, esses homens, mulheres e crianças enfrentam diariamente as piores condições de trabalho. Em Flamengos, esta prática já existe há oito anos atrás, ultimamente tem-se intensificado bastante, por “falta de emprego e mau ano agrícola”, como justificam os apanhadores de areia e brita. Aos Flamengos afluem todos os dias tanto pessoas da freguesia quanto de vários outros pontos do concelho de S. Miguel, que chegam para extrair da terra dura os inertes que trocarão por pão. Trabalham ali mais de cem pessoas. São na sua maioria mulheres e crianças que se espalham pela ribeira. Segundo um curioso, que se posicionou perto da nossa reportagem, “qualquer dia destes a Ribeira dos Flamengos não terá lugar nem para um cristão pôr os pés”. Entretanto, o presidente da Câmara de São Miguel, João Duarte, mostra-se solidário para com as pessoas que labutam naquelas “péssimas condições para sobreviverem” e remete a culpa para o governo que “não cria opções de emprego no concelho”. “Este problema poderia ser resolvido com um programa que enviámos ao governo, solicitando mais postos de trabalho orçado em 118 mil contos”, acrescenta João Duarte, para quem o referido projecto enviado em Novembro de 2004 visa, entre outros objectivos, contribuir para a infra-estruturação do concelho, reabilitar os caminhos vicinais e outras infra-estruturas danificadas pelas chuvas e permitir às famílias ter uma actividade geradora de rendimentos. O autarca de São Miguel não poupa crí- SOBREVIVER na Ribeira dos Flamengos ticas ao executivo que nem deu resposta nem apresentou qualquer alternativa para resolver a situação desesperadas das famílias, em busca do seu sustento - num ano de solução, quando fome espreita? Ao mesmo tempo que critica o executivo, o edil João Duarte salvaguarda, contudo, que a sua autarquia “infelizmente, nada mais poderá fazer para impedir as pessoas de apanhar areia e brita nas ribeiras de Flamengos”, apesar de ter a consciência dos efeitos ambientais e dos riscos que as pessoas correm. VIDA ARRISCADA Enquanto não têm outros meios de sobrevivência, muitos dos são-micaelenses vão buscar à Ribeira dos Flamengos o seu sustento arriscando a vida para retirarem algum proveito dos poucos recursos que a natureza ainda lhes oferece nesta parcela da ilha de Santiago. Uma actividade árdua e arriscada porque, segundo alguns dos trabalhadores ouvidos por este jornal, quando a escavação chega a uma determinada profundidade costuma dar-se o desabamento de pedras e terras. Revelam ainda que “há pessoas que já tiveram desmaios por trabalharem debaixo do sol escaldante horas a fio. Outras desfalecem por não estarem bem alimentadas”. A escavação na ribeira dos Flamengos já atingiu os quatro metros de profundidade. Por isso, fundo é o perigo que, todos os dias espreita os trabalhadores. Como conta uma grávida, “noutro dia estava eu curvada a apanhar areia e de repente senti uma pedrada na cabeça. Quando acordei estava no hospital”. E era a própria quem, no meio deste relato deixava escapar umas gargalhadas. Uma outra extractora de inertes, Maria Socorro Mendes, conta-nos que é frequente haver gente a ser transportada para o centro de saúde por causa da derrocada de pedras. Ela própria viu Domingas Mendes a ser atingida e perder a consciência. Lembra que muita gente pensou que a vítima não ia escapar. Mas Domingas recuperou, saiu do centro de saúde e regressou a ribeira. É Socorro Mendes quem nos conta o episódio vivido por Domingas, uma vez que ela preferiu não falar para a nossa reportagem. O que vai no interior da alma dessa cidadã só ela o sabe, mas pelo o seu exterior não podia esconder certa dureza e frieza, manifestantes no rosto enraivecido, nos braços robustos e mãos ásperas. Além disso, a fúria com que batia a picareta no chão era de alguém a quem vida não tem poupado horas duras. A Semana deparou-se com casos de mulheres que levam crianças para o trabalho, inclusive as que ainda amamentam. A maior parte dessas mães explica que não têm com quem deixar os filhos enquanto outras justificam que têm que amamentar o bebé. TRABALHO INFANTIL A pobreza nos Flamengos é tanta que atinge todos, desde crianças e adolescentes que, ao invés de estarem na escola, enfrentam diariamente jornadas de trabalho muitas vezes mais duras do que as realizadas pelos adultos. A Semana encontrou nessa ribeira duas jovens - Kátia Sofia Lopes, de 17 anos, e Lúcia Cabral, de 16, que deixaram transparecer nas palavras e no olhar a mágoa de não poderem continuar a estudar como as suas colegas. Ambas deixaram a escola na 6ª classe para poderem ajudar os pais e os irmãos mais novos. Seila Soares teve ainda menos sorte que Kátia e Lúcia, nunca aprendeu o A, B, C… Não chegou a ir à escola, por isso não sabe sequer escrever o próprio nome. Cresceu a ver a mãe a trabalhar na lavoura e agora, com a “falta de chuva”, estão ambas na apanha de areia e brita. Esta pequena de apenas nove anos, mas que trabalha e se comporta em geral como adulta, explicou a este jornal como se processa a extracção da areia e brita: “Temos que tirar a terra, muita terra, até encontrarmos a areia. Depois, separa-se a areia da brita com ajuda de uma peneira”. Um trabalho árduo para uma criança que além de desconhecer o alfabeto, nunca ouviu a história do Lobo e do Chibinho. DANOS AMBIENTAIS Segundo os entendidos, o impacto que tem no ambiente, extracção de areia e brita nas ribeiras, é de longo alcance. Começa pela retirada de cobertura vegetal, prossegue com a erosão e o assoreamento e conduz a alteração paisagística. Ora, como a camada de areia funciona como filtro físico e biológico para as águas subterrâneas, a retirada desse material representa a diminuição destas importantes funções no ecossistema local. Outra perda importante ao se extrair grandes quantidades de areia e brita é a diminuição da pressão sobre os lençóis de água subterrâneos. No caso específico da Ribeira dos Flamengos, uma zona essencialmente agrícola, resulta desta desenfreada corrida aos inertes, a salinização do solo, como explica a assessora de imprensa do Ministério do Ambiente, Agricultura e Pesca, Vera Figueiredo: “Ao tirarem esses materiais no fundo das ribeiras, causam um desequilíbrio no terreno que vai aumentar o grau de salinização do solo, ou seja, leva à intrusão da água do mar no terreno prejudicando a agricultura”. Além da salobridade prejudicar o cultivo de qualquer planta, ela “provoca a morte da biodiversidade”, alerta aquela fonte, que aponta outros efeitos da escavação da terra, como a alteração no clima local e o aumento da erosão do solo. E, por isso, os agricultores temem o futuro. Tanto mais que já verificaram a diminuição da água nos poços directamente relacionada com a escavação e extracção de areia e brita. Ainda assim, acreditam que a chuva poderá ajudar a reverter a situação. A sua esperança é de poder armazenar mais água este ano. Uma esperança a que ecoa a do presidente do Instituto Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos (INRH), António Pedro Borges, que declara que a água da chuva vai empurrar a água do mar evitando a salobridade, e com maior intrusão de água facilitase a bombagem deste precioso líquido nos trabalhos agrícolas. Aidê Carvalho