LeaderSHIP 2015 Definição do futuro do sector europeu da construção naval e da reparação naval - Competitividade através da excelência Introdução Com o LeaderSHIP 2015, o sector europeu da construção naval deu início a um ambicioso programa para garantir a sua prosperidade a longo prazo num mercado em crescimento dinâmico. O sector europeu da construção naval é constituído por um grande número de empresas e entidades - estaleiros navais, fabricantes de equipamento, serviços de engenharia e outros fornecedores de conhecimento - envolvidos numa vasta gama de actividades marítimas, desde a construção de navios novos até à reparação e reconversão e à engenharia mecânica, assim como uma grande variedade de serviços especializados, incluindo tecnologias offshore. Muitas destas empresas são PME. Nos sectores industriais de alta tecnologia, como a construção naval, o êxito baseia-se, sobretudo, no conhecimento. Só na Europa existe uma rede tão densa de estaleiros navais, fornecedores de equipamento, centros de investigação e outros fornecedores de tecnologias avançadas e serviços de engenharia. Esta vantagem particular dá ao sector da construção naval europeia boas razões para ter confiança quanto ao seu futuro. No que respeita às actividades económicas baseadas no conhecimento, o LeaderSHIP 2015 dá uma resposta com especificidade sectorial à estratégia de longo prazo da UE para uma renovação económica, social e ambiental, como apresentado no Conselho de Lisboa de Março de 2000. A estratégia de Lisboa lança as fundações para uma melhor competitividade, novas oportunidades de negócio e um desenvolvimento económico equilibrado, através de um investimento maior e mais direccionado no conhecimento e na inovação e numa interacção mais estreita entre o sector e as instituições de investigação. Entre outros, são elementos-chave da estratégia - confirmada mais uma vez nas conclusões do Conselho de Salonica de Junho de 2003 e na recentíssima Iniciativa Crescimento e Investimento da Comissão - um maior investimento em I&D, com uma meta de 3% do PIB, um melhor acesso das empresas ao financiamento, um menor peso da regulamentação, a 1 atracção de jovens para empregos na indústria numa Europa alargada. O LeaderSHIP 2015 faz recomendações concretas sobre todos estes pontos. No roteiro do LeaderSHIP 2015, apresentado à Comissão Europeia em Outubro de 2002, o sector sublinhou a sua visão a mais longo prazo, apresentando uma robusta estratégia com vista a dar respostas aos principais desafios e a garantir um papel de liderança na construção naval mundial até 2015. O Presidente Prodi saudou esta iniciativa e ofereceu-lhe todo o seu apoio. O LeaderSHIP 2015 é agora reconhecido pelo Comissário Liikanen como uma das questões prioritárias para a transposição sectorial da política industrial revista da Comissão, que visa melhorar as condições-quadro para as empresas e facilitar os necessários processos de ajustamento. A construção naval é de importância estratégica em vários sentidos. Desenvolve tecnologias avançadas que oferecem efeitos derivados (spin-offs) consideráveis a outros sectores; fornece meios de transporte essenciais para o comércio internacional; e fornece navios avançados para marinhas modernas, um elemento-chave para operações militares eficazes. É por isso que vários países em todo o mundo consideram a construção naval como um sector industrial particularmente sensível que continua a receber apoio político. Infelizmente, nem todos os intervenientes na matéria respeitam os princípios da concorrência leal. A União Europeia utiliza todas as medidas da política comercial disponíveis para garantir uma concorrência leal no mercado global. No entanto, essas medidas têm de ser complementadas com acções concretas e um apoio político decisivo de forma a garantir a competitividade em toda a linha. A Comissão Europeia saudou o facto de todos os interessados participarem no Grupo Consultivo LeaderSHIP 2015 com o objectivo de elaborarem acções concretas e propostas políticas adequadas em estreito diálogo. O presente relatório resume os resultados desse processo construtivo, com base em oito áreas-chave identificadas pelo Grupo Consultivo em que são necessárias novas medidas específicas, respondendo directamente às 2 questões e objectivos avançados no roteiro LeaderSHIP 2015, nomeadamente os seguintes: • • • • • Manter e continuar a desenvolver uma posição forte em segmentos do mercado seleccionados de valor mais elevado Garantir a liderança mundial na inovação de produtos e processos Desenvolver uma forte orientação para o cliente Continuar a melhorar a estrutura em rede do sector Optimizar os processos de produção e focar cada vez mais a atenção em produtos baseados no conhecimento. O LeaderSHIP 2015 demonstrou ser uma abordagem eficaz na identificação de linhas de acção, com vista a reforçar o carácter vibrante, o dinamismo e a competitividade a nível mundial do sector, garantindo desse modo um crescimento sustentado. Através do LeaderSHIP 2015 são levadas em consideração as condições específicas resultantes das características únicas do sector da construção naval. Lançado num momento crucial, o LeaderSHIP 2015 faz as primeiras recomendações para enfrentar os desafios actuais, as quais deveriam ser implementadas rapidamente. Assim, o LeaderSHIP 2015 serve como bom exemplo para uma política industrial europeia eficiente a nível sectorial. Dados-chave da indústria de construção naval europeia ¾ Um volume anual de cerca de € 34.000 milhões, mais de metade dos quais através de exportações ¾ Uma rede industrial de mais de 9.000 empresas ¾ Uma força de trabalho de mais de 350.000 pessoas ¾ Um impulsionador-chave da excelência no sector marítimo, com 10% do volume de negócios atribuídos à investigação, desenvolvimento e inovação, através de um nível elevado de criação de protótipos e da predominância de produtos únicos. ¾ Fortes posições no mercado mundial de navios complexos e reparação de navios. 3 Estabelecimento de condições de concorrência equitativas a nível mundial na construção naval A construção e reparação naval comercial sempre operou num mercado verdadeiramente global, com os estaleiros a concorrerem a contratos dentro e fora dos seus próprios países. Esta exposição, desde muito cedo e a todos os níveis, às forças da globalização e a inexistência de uma disciplina anti-dumping tornaram a construção naval substancialmente diferente da maioria das outras indústrias transformadoras. Os investimentos estratégicos com apoio estatal na Ásia levaram a um desequilíbrio entre a oferta e a procura. Se não for eliminada a tempo, a sobrecapacidade deverá continuar a ser um problema grave para o sector, afectando negativamente o enquadramento comercial aberto que caracteriza o mercado altamente cíclico da construção naval mundial. É particularmente certo o seu impacto nos preços de mercado. O excesso de capacidade de produção, criado por razões estratégicas, é, pois, o problema-chave da construção naval mundial. O mercado não está a trabalhar de forma optimizada, devido a práticas desleais, incluindo preços nocivos e a concessão de subsídios em diversos países. Embora, na UE, exista uma forte disciplina quanto às ajudas estatais, a nível internacional não se aplica qualquer disciplina específica. Mantém-se uma capacidade insustentável e os estaleiros aceitam encomendas com prejuízo para utilizar as capacidades de produção. As perdas resultantes levam a novas intervenções estatais para salvar os estaleiros da bancarrota, criando-se um ciclo vicioso. Os níveis de preços muito baixos e em queda proporcionam aos proprietários de navios um incentivo para fazerem novas encomendas. No entanto, os baixos preços da construção de novos navios têm também uma influência negativa no valor contabilístico da frota existente encomendada a preços superiores. Ao passo que a maioria dos sectores está efectivamente abrangida pelas regras comerciais multilaterais existentes, a construção naval, devido às suas características próprias, não se adequa facilmente à aplicação dessas regras. Actualmente, a construção naval não está sujeita a uma disciplina 4 anti-dumping ou a direitos alfandegários. Em conclusão, o sector da construção naval é praticamente a única indústria sem este tipo de protecção eficaz contra práticas comerciais desleais. A indústria de construção naval da UE enfrenta muitas formas de distorções comerciais: diferentes formas de subsídios directos e indirectos e outras medidas de apoio, praticadas especialmente por um dos grandes países da construção naval, como o perdão de dívidas, a conversão de dívidas em capital e a bonificação de juros por bancos pertencentes ao ou controlados pelo Estado; práticas desleais na formação de preços, sob a forma de dumping; áreas cinzentas relativas ao financiamento da construção naval; reserva do mercado nacional para estaleiros locais; restrições do acesso ao mercado, tais como restrições gerais às importações, impostos sobre as importações e preferências dadas aos navios construídos no país para serviços de navegação nacionais; empréstimos e garantias de empréstimos a armadores abaixo das condições normais do mercado. Em geral, qualquer ajuda aos armadores pode também constituir uma ajuda aos estaleiros, se se verificar uma condição, de direito ou de facto, de compra de novos navios no país. Nos casos em que tal ligação não exista sob nenhuma forma, essas ajudas estatais normalmente apenas beneficiam os armadores nacionais. A indústria de construção naval da UE entende que um acordo internacional de construção naval, a celebrar a nível da OCDE, deveria regulamentar os subsídios e as práticas nocivas na formação de preços. Devia incluir disposições no sentido de que as ajudas à restruturação apenas possam ser concedidas em troca de uma redução significativa da actividade do estaleiro beneficiário, tal como é prática corrente na UE. Qualquer acordo tem também de prever um remédio eficaz em caso de incumprimento das obrigações do acordo. Além disso, o actual acordo sectorial da OCDE sobre créditos à exportação para navios, assim como outros acordos da OCDE com ele relacionados, precisa de uma interpretação clara e inequívoca, de forma a excluir qualquer potencial distorção do mercado e a discriminação dos construtores navais da UE. Recomenda-se que a UE procure uma implementação unificada destas 5 regras em todos os países signatários e o alargamento das regras a todas as regiões com construção naval. Outros elementos que deveriam levar a condições equitativas na construção naval a nível mundial têm de ser desenvolvidos a nível da OMC, com a aplicação integral do Acordo sobre as subvenções e medidas de compensação à construção naval. Condições equitativas na construção naval a nível mundial Problemas: ¾ A construção naval mundial sofre de um desequilíbrio persistente entre a oferta e a procura. ¾ As práticas de fixação de preços nocivos aumentam a distorção da concorrência. ¾ A redução e a contenção dos preços daí resultantes estão a levar a perdas e, em última instância, a subsídios estatais e a proteccionismo sob várias formas. ¾ As regras comerciais internacionais são difíceis de aplicar à construção naval. Recomendações: ¾ Continuação da orientação actual da política comercial da UE com determinação ¾ Aplicação integral da regulamentação da OMC à construção naval ¾ Desenvolvimento de disciplinas da OCDE que possam ser aplicadas através de um novo acordo sobre a construção naval até 2005 e uma interpretação inequívoca da regulamentação existente 6 Aperfeiçoamento do investimento em investigação, desenvolvimento e inovação na indústria da construção naval europeia O investimento em investigação, desenvolvimento e inovação (“IDI”) é crucial para a renovação do crescimento económico, o reforço da competitividade e o aumento do emprego. O artigo 157.º do Tratado UE sublinha o objectivo comunitário de reforçar a base científica e tecnológica das indústrias da UE e de incentivá-las a tornarem-se mais competitivas a nível internacional. Este objectivo foi repetidamente sublinhado e complementado com recomendações concretas pelo Conselho Europeu nas cimeiras de Lisboa, Barcelona e, muito recentemente, Salonica. A IDI é de particular importância para uma indústria de alta tecnologia como a construção naval. Embora os construtores navais europeus estejam actualmente já a investir anualmente cerca de 10% do seu volume de negócios nesta área, são necessários mais esforços para se cumprir eficazmente este objectivo comunitário. A este respeito, reconhece-se que os programas-quadro de investigação da Comunidade Europeia têm apoiado cada vez mais os esforços de IDI da indústria de construção naval europeia. Este apoio proporciona benefícios especiais, reunindo uma massa crítica de investigação europeia para desenvolver soluções a mais longo prazo para problemas relativos à formação, ambiente, segurança e competitividade e levar em consideração as perspectivas mais amplas a nível comercial, ambiental e regulamentar. O projecto “InterSHIP”, sendo o maior projecto integrado apoiado pelo programa-quadro comunitário em termos de transportes de superfície, pode servir como um bom exemplo. Com base nas experiências encorajantes feitas no âmbito do Fórum das Indústrias Marítimas e nos crescentes requisitos tecnológicos, é essencial continuar a centrar a atenção numa visão estratégica de longo prazo para a IDI relativa à construção naval. Esta visão tem de ser comensurável com o longo ciclo de vida operacional dos navios e deve incentivar uma participação activa sustentada de todos os interessados nas questões marítimas, de forma a abordar todos os problemas (industriais, regulamentares, operacionais, etc.) no âmbito do quadro mais amplo da IDI da construção naval. Essa visão pode ser usada para orientar o desenvolvimento das políticas, para afectar recursos de forma eficaz e para 7 garantir o máximo benefício a longo prazo para a indústria de construção naval europeia. No entanto, um obstáculo fundamental a um melhor investimento em IDI continua a resultar da aplicação da regulamentação comunitária vigente. O quadro comunitário para as ajudas estatais à investigação e desenvolvimento tem sido eficaz para garantir as regras de concorrência da UE, mas, devido a certas características do sector, a construção naval não conseguiu receber ajuda adequada nesta base. Assim, são necessárias novas formas e meios para se coadunar os interesses da IDI e as necessidades do sector, garantindo simultaneamente o respeito integral dos princípios do mercado interno. A Comunidade já reconheceu este problema em 1998, altura em que foi introduzido um novo instrumento destinado a proporcionar ajudas ao investimento para inovações. No entanto, esta disposição enfrentou dificuldades de carácter prático na implementação e, de facto, nunca foi aplicada. As possíveis soluções poderão derivar do facto de que, na construção naval, uma parte significativa das actividades de inovação está integrada no próprio processo de concepção e produção, ao passo que, em muitos outros sectores, as actividades de IDI são realizadas antes de começar a produção em série. Os navios novos são grandes produtos sofisticados, geralmente lançados como produtos únicos ou em séries muito reduzidas. Os construtores de navios e os fornecedores têm de realizar actividades de IDI antes de uma encomenda específica para definir sistemas e componentes inovadores. Ao mesmo tempo, os clientes pedem navios talhados para as suas concepções empresariais específicas. A adopção de soluções inovadoras e específicas durante a fase de concepção cria vantagens competitivas cruciais e é a única forma de os construtores navais europeus terem êxito ao concorrerem com construtores navais do Extremo Oriente que oferecem soluções “prontas a usar”. Os navios são vendidos com base no seu tipo de concepção, o que está longe de representar uma definição de produto completa. Assim, a maior 8 parte do desenvolvimento de um produto e das actividades de inovação é realizada após a assinatura do contrato de venda. Na verdade, só após a celebração do contrato é que o estaleiro pode clarificar as necessidades de IDI específicas que surgem durante a fase de concepção. Estas actividades têm de ser realizadas no prazo mais curto possível com os custos mais baixos possíveis. Este processo implica um risco industrial e tecnológico muito significativo para o estaleiro. O grosso das actividades de IDI na construção naval é sempre parte integrante do desenvolvimento, concepção e construção de protótipos de navios que, sem excepção, são mais tarde utilizados comercialmente. O mercado de navios complexos, em que se concentram os estaleiros europeus, caracteriza-se, em particular, por uma procura limitada no número de navios, a construção de protótipos com muito poucos navios idênticos, um processo de produção por medida e baseado no conhecimento, um volume considerável de despesas técnicas e um elevado número de subcontratantes especializados. Nos navios complexos, até 70-80% do seu valor e das inovações pertinentes foram desenvolvidos e implementados pelos estaleiros juntamente com os fornecedores no seio de uma ampla rede de agentes que operam através de uma engenharia concorrente. Estas condições de operação estão a provocar uma carga económica e financeira significativa na indústria de construção naval da UE. Um número crescente de construtores navais europeus opera em e depende de nichos de mercado de alta tecnologia, que exigem investimentos em IDI em constante crescimento para a manutenção da liderança actualmente detida. Nas actuais condições da regulamentação, os sistemas de apoio à IDI apenas têm sido utilizados em grau muito limitado. As especificidades da indústria de construção naval no que respeita às actividades de concepção funcionais e de planificação dos detalhes não se reflectem na regulamentação aplicável. O objecto de qualquer contrato de construção naval é um navio, mas não os conhecimentos de investigação, desenvolvimento e inovação que são indubitavelmente necessários para 9 construir esse navio. Consequentemente, as actividades de IDI específicas da construção naval, incluindo a concepção, testes e ensaios de novas classes de navios, têm de ser adequadamente reconhecidas em termos práticos em qualquer sistema de apoio, incluindo conceitos específicos da construção naval adequados e os custos particulares não recorrentes que deles resultam. O melhor quadro para esta situação seria ao abrigo de disposições de ajuda à inovação. Considerando que, em qualquer outra indústria, o desenvolvimento de novos produtos, incluindo protótipos, é habitualmente considerado como uma actividade de desenvolvimento anterior à concorrência, podendo receber apoios até 25%, é necessário garantir que a construção naval goze, basicamente, das mesmas condições que outros sectores. Embora mantendo os conceitos básicos do quadro regulamentar em vigor e sem prejuízo da concorrência do mercado interno, as especificidades do sector da construção naval não deveriam ser um obstáculo à aplicação dos níveis de ajuda usados em outros sectores com actividades comparáveis. Isto pode exigir a clarificação das despesas elegíveis, incluindo os custos com protótipos, e o estabelecimento de um incentivo para a adopção de soluções técnicas inovadoras em todo o sector europeu da construção naval e do equipamento marítimo. Isto produziria efeitos positivos para a manutenção e melhoria da liderança tecnológica dos construtores navais europeus e ajudaria a garantir a sua forte posição em mercados de navios complexos de alta tecnologia. Os estaleiros europeus aumentariam os seus investimentos em saber-fazer de engenharia e no desenvolvimento de novos navios, criando novas oportunidades comerciais. As barreiras que actualmente dificultam a aplicação integral dos sistemas de apoio à IDI desapareceriam. A melhoria dos sistemas de apoio à IDI permitiriam à indústria de construção naval europeia passar para um nível tecnológico ainda mais elevado, vendendo ideias mais ambiciosas e realizando-as de acordo com as obrigações contratuais. Tornar-se-ia possível aceitar o risco técnico de novas actividades de desenvolvimento e inovação e, simultaneamente, os requisitos do cliente quanto a soluções inovadoras poderiam ser satisfeitos de uma forma economicamente viável. 10 Consequentemente, o objectivo do artigo 157.º de reforçar a competitividade da economia europeia incentivando a exploração da investigação, inovação e desenvolvimento tecnológico poderia ser perseguido de forma mais adequada no sector da construção naval. A inexistência de um quadro de regulamentação adequado que possa ser aplicado eficazmente poderia levar a que os construtores navais europeus tivessem cada vez menos meios de oferecer soluções tecnológicas altamente desenvolvidas. Consequentemente, o desenvolvimento de novos tipos de navios deixaria de ser rentável. Dado o risco ligado às actividades de IDI em geral e a crescente indisponibilidade das instituições financeiras para financiarem projectos inovadores, os estaleiros poderiam não ser capazes de corresponder a exigências cada vez mais elevadas dos seus clientes. Em combinação com os já magros lucros, as receitas poderiam diminuir ainda mais e existe um sério risco de as tecnologias de construção naval da UE serem apanhadas numa espiral descendente, caso não sejam tomadas medidas adequadas para fomentar o investimento em IDI. 11 Melhoria do Investimento, Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI) Problemas: ¾ Os construtores navais europeus têm de concorrer internacionalmente através de soluções tecnológicas avançadas e não através de custos baixos. Assim, o investimento em IDI é fundamental. ¾ Na IDI, a contribuição naval difere de outras indústrias transformadoras, mas isto não se reflecte na aplicação da regulamentação comunitária em vigor. ¾ A criação de conhecimentos sobre a construção naval, quase sempre integrados no desenvolvimento de protótipos, não é suficientemente apoiada. Recomendações: ¾ A dimensão europeia da IDI na construção naval deveria ser reforçada através da integração e concentração de esforços, com vista a criar Plataformas de Tecnologia. O trabalho em curso no quadro do Fórum das Indústrias Marítimas deveria constituir a base para esta abordagem. ¾ A construção naval deveria, substancialmente, gozar das mesmas condições que outras indústrias que se dedicam a contratos de trabalho de IDI semelhantes. ¾ Os níveis de ajuda têm de reflectir os riscos tecnológicos reais assumidos em todas as fases da concepção, desenvolvimento e produção. ¾ Têm de ser desenvolvidas, quando for necessário, novas definições, nomeadamente no que respeita à ajuda à renovação. ¾ O apoio ao investimento em IDI tem de visar a melhoria da liderança tecnológica europeia e deveria recompensar a assunção de riscos. 12 Desenvolvimento de sistemas avançados de financiamento e garantia Para a conclusão com êxito de um contrato de nova construção ou de grande reconversão, os estaleiros têm de estar envolvidos activamente no financiamento do projecto. Os armadores necessitam de empréstimos até 80% do preço do contrato numa moeda à sua escolha - normalmente, a moeda das suas receitas - continuando o dólar norte-americano a ser predominante. Normalmente, o valor da produção anual de um estaleiro ultrapassa o seu próprio valor como empresa em funcionamento e um navio parcialmente construído não é reconhecido como um activo. Com grandes volumes de equipamento comprado, o valor acrescentado pelas actividades próprias do estaleiro corresponde à parte mais pequena do montante total do contrato, embora o estaleiro tenha de assumir toda a responsabilidade pelo conjunto do projecto. A maioria dos armadores exige garantias bancárias para qualquer pagamento parcial feito durante a construção do navio, aumentando assim ainda mais o montante necessário para o financiamento total do projecto. Alguns bancos comerciais estão a reduzir o seu interesse na construção naval e, assim, o seu envolvimento numa indústria vital, mas volátil. Esse menor interesse levará a uma menor especialização na matéria, o que, por sua vez, acelera este processo. Todos estes factores conduzem a dificuldades crescentes para a organização do financiamento dos navios, tanto durante a construção (o financiamento pré-entrega) como após o navio ser entregue ao seu proprietário (o financiamento pós-entrega). Estes problemas, embora possam variar em função do tipo de navio, constituem uma séria barreira à competitividade dos construtores navais da UE. Três questões são cruciais para as necessidades de financiamento dos estaleiros europeus: garantias cobrindo o período entre o calendário de financiamento pós-entrega e os empréstimos normais com base em hipotecas por bancos comerciais; garantias para o financiamento pré-entrega do projecto, abrangendo o capital circulante e as garantias de reembolso 13 emitidas pelos bancos do construtor; e um instrumento de cobertura dos riscos cambiais. Na abordagem destas questões, têm de se aplicar alguns princípios-chave: todos os instrumentos têm de ser auto-sustentados e transparentes. Os prémios aplicáveis têm de reflectir o risco que está a ser assumido. A operação dos instrumentos tem de ser eficaz, devendo as decisões ser claras e previsíveis. Qualquer acção proposta tem de cumprir estritamente a regulamentação da UE. A regulamentação da OMC e da OCDE deve também ser respeitada. Na maior parte dos países com construção naval, as instituições estatais fornecem apoio ao financiamento de barcos, embora com variações consideráveis. Enquanto a US Maritime Administration garante empréstimos pós-entrega até 87,5% do valor do contrato por um período de 25 anos e o Banco KEXIM coreano oferece pacotes completos de financiamento, abrangendo empréstimos pré- e pós-entrega e garantias, até um nível de 90% do preço do contrato, só alguns Estados-Membros da UE operam fundos especializados. Na maioria dos Estados-Membros, as garantias pelos organismos de crédito à exportação (OCE) estão disponíveis para o financiamento de projectos de construção naval. No entanto, os OCE foram concebidos para realizar empréstimos para encomendas de exportação para países que apresentam um risco político ou económico. Para a grande maioria dos armadores que fazem encomendas a estaleiros europeus não existe tal “risco do país”. Nestes casos, uma garantia do crédito à exportação ou não existe ou não é a resposta adequada para cobrir a diferença entre as reais necessidades de financiamento do proprietário e os empréstimos hipotecários facultados por bancos comerciais. Assim, é conveniente explorar a possibilidade de estabelecer um fundo de garantia a nível da UE, a gerir para um organismo europeu de uma forma que seja compatível com as regras do mercado comum e os princípios da OCDE. Os prémios deveriam reflectir a qualidade do armador, o tipo de propriedade, a utilização do navio, o tipo e a duração do afretamento e outros factores que 14 possam influenciar o nível de risco do empréstimo. Para este fim, poderia aplicar-se um sistema com um número limitado de categorias de classificação. A diferenciação das taxas com base nessa classificação garantirá que o sistema de garantias cumpre as regras da OCDE. Uma solução alternativa poderia ser a aplicação, por todos os Estados-Membros da UE, de uma norma comum (ou aproximada) para os sistemas de garantia, segundo os princípios-chave acima indicados. No entanto, a harmonização de tais instrumentos financeiros é um exercício muito difícil. De qualquer modo, as ferramentas implementadas deveriam reflectir as necessidades práticas, garantindo um processo de decisão rápido e eficaz. No que respeita ao financiamento pré-entrega, poderia seguir-se uma abordagem similar. É absolutamente essencial uma garantia que cubra a diferença entre o preço de custo real e os pagamentos parciais feitos pelo proprietário, acrescida do valor do saldo das garantias bancárias dadas para esses pagamentos. Mais uma vez, seria conveniente, como alternativa mesmo que difícil de conseguir - um instrumento de garantia a nível europeu, com normas comuns ou aproximadas nos Estados-Membros da UE. No que respeita à gestão dos riscos cambiais, a situação na UE varia grandemente. Certos países, como a Alemanha, a Bélgica e a Espanha, já não oferecem instrumentos a este respeito, ao passo que outros países, nomeadamente a França, o Reino Unido e os Países Baixos, operam instrumentos específicos. Para garantir condições leais e equitativas, também relativamente a concorrentes de fora da UE, parece essencial um seguro que abranja os riscos corridos nos concursos e contratos em moedas estrangeiras. Uma vez que os bancos não oferecem tal instrumento a um custo razoável, as companhias de seguros de crédito à exportação, cobertas por resseguros adequados, são a escolha óbvia. Uma vez que as taxas de câmbio são em grande parte dominadas pela política de juros nas principais moedas, um papel-chave nos resseguros dos riscos cambiais poderia caber a uma entidade europeia. 15 Sistemas de financiamento e garantia avançados Problemas: ¾ Os projectos de construção naval são capital-intensivos, mas os estaleiros não estão bem preparados para organizar todos os elementos de financiamento necessários. ¾ Vários bancos comerciais estão a abandonar o financiamento de navios. ¾ Os concorrentes de fora da UE podem recorrer a instrumentos de financiamento avançados com apoio estatal. ¾ Os princípios de financiamento das exportações não são totalmente aplicáveis aos projectos de construção naval. Recomendações: ¾ Explorar a possibilidade de estabelecer um fundo de garantia a nível da UE para o financiamento pré- e pós-entrega. A alternativa de harmonizar as normas nos Estados-Membros da UE, em conformidade com as regras do mercado comum e da OCDE, poderia também ser considerada, embora difícil de realizar integralmente. Qualquer instrumento deste tipo tem de ser de fácil aplicação. ¾ As empresas de seguros de crédito à exportação, cobertas por resseguros adequados, deveriam oferecer instrumentos de cobertura dos riscos cambiais. 16 Promoção de navios mais seguros e ecológicos Ao longo da última década, a União Europeia perfilou-se mais nas áreas da segurança marítima e da protecção do ambiente marinho, elaborando um número apreciável de leis. A indústria de construção naval e de reparação naval na UE apoiou sempre a adopção dessa legislação, em particular no que respeita à criação de uma Agência Europeia de Segurança Marítima (AESM) e ao reforço do regime de Inspecção pelo Estado do Porto. A indústria é de opinião que os navios modernos são concebidos e construídos de forma a resistir com segurança às condições meteorológicas mais adversas e que uma manutenção adequada realizada por estaleiros fiáveis poderia ter evitado desastres ecológicos recentes. Infelizmente, o estado actual dos negócios nos sectores da construção naval e da reparação naval caracteriza-se, nos últimos anos, por baixas taxas de frete e por uma diminuição significativa dos preços de construção de navios novos. Estas tendências podem vir a afectar a qualidade dos navios novos e a manutenção da frota existente. Perdas recentes de navios mostraram deficiências significativas tanto estruturais como operacionais. Existe uma clara tendência, na concepção de navios, para reduzir os custos de construção e/ou de operação. É necessário analisar em que medida estas alterações estão a comprometer a integridade do navio e da sua carga em condições meteorológicas difíceis. Nestas circunstâncias, é necessário um reforço dos requisitos de segurança marítima na UE e a nível mundial para garantir navios mais seguros, para minimizar a perda de tripulantes e para proteger o ambiente marinho. Neste contexto, propõem-se quatro linhas de acção concretas para continuar a melhorar a segurança do transporte marítimo e restaurar um enquadramento competitivo normal nos sectores dos transportes marítimos e da construção naval: A primeira linha de acção é continuar os esforços comunitários para proibir nas águas da UE, através de uma política obrigatória, os navios que estejam abaixo dos padrões. As propostas da Comissão Europeia de, entre outras coisas, reforçar o regime de Inspecção pelo Estado do Porto, acelerar a 17 extinção progressiva dos navios-tanque de casco simples e reforçar e desenvolver os requisitos do sistema de avaliação condicional para os navios mais velhos terão um efeito claro a este respeito. O sector apoia totalmente a nova regulamentação proposta pela UE e considera essencial o papel da AESM. A segunda linha de acção diz respeito às responsabilidades acrescidas a enfrentar pelos operadores. A indústria entende que, com base em regras claras, os operadores e responsáveis têm de estar sujeitos a sanções e deveriam ser excluídos da actividade. Em termos de mercado, esta acção resultaria no incentivo de “transportes marítimos de qualidade” por meio de compensações de mercado adequadas, estimulando uma tendência para o investimento em navios melhores e mais seguros. A terceira linha de acção possível é promover um sistema mais transparente, uniforme, eficaz e independente de inspecções técnicas dos navios. Em particular, têm de ser avaliadas as condições em que se realiza o trabalho das empresas de classificação e têm de ser adoptadas todas as medidas possíveis para aumentar a efectividade do sistema. A independência das empresas de classificação em relação a pressões comerciais é uma condição necessária para um sistema saudável das inspecções de navios. A este respeito, é necessário garantir uma aplicação estrita da legislação comunitária já existente, e recentemente alterada, sobre as empresas de classificação. A quarta linha de acção é promover um sistema de avaliação da qualidade aplicável aos estaleiros a nível mundial. Tal sistema deveria poder identificar e classificar os estaleiros que satisfazem os requisitos de boas práticas do sector e que entregam navios que satisfazem os requisitos mínimos de qualidade. Esta medida incentivaria padrões ambientais e de segurança mais elevados e forneceria um guia útil para os armadores, operadores e inspectores, indicando os estaleiros cujos navios correm o risco de passarem a estar muito em breve abaixo dos padrões ou que suportam custos elevados de manutenção e de reparação. 18 Os padrões de segurança para a construção e manutenção de navios estabelecidos pelas empresas de classificação não devem ser usados por estas organizações como instrumentos comerciais, dando origem a uma “corrida para o fundo”. Deve ser previsto um possível papel da OMI neste contexto e terá de ser atentamente acompanhada a aplicação adequada da legislação da UE. Estas acções devem ser desenvolvidas a nível comunitário, mas também no quadro dos fóruns internacionais competentes. O sector saúda o facto de a UE estar disposta a desempenhar um papel mais activo na OMI e espera que, após a UE adoptar as novas normas, estas sejam também rapidamente implementadas pela OMI. A Comissão Europeia saúda a oferta do sector em proporcionar apoio técnico, em particular à AESM. Para este fim, será constituído um comité conjunto de peritos, dedicado principalmente às tarefas seguintes: avaliar o impacto industrial da legislação da UE existente ou pendente relativa ao transporte marítimo e, em particular, à segurança marítima; analisar possíveis novas propostas para reforçar a segurança marítima; e apoiar a UE no seio da OMI. Neste contexto, foram já feitos os primeiros esforços, no quadro do LeaderSHIP 2015. Finalmente, deve mencionar-se que os sectores dos transportes marítimos e a construção naval, em conjunto, podem desempenhar um importante papel no aumento da segurança geral dos transportes europeus e na redução do impacto negativo sobre o meio ambiente, através de um programa de transporte marítimo de curta distância (Short Sea Shipping - SSS). O SSS e a indústria de construção naval europeia podem oferecer-se mutuamente novas oportunidades de mercado. O transporte marítimo de curta distância e a sua integração intermodal requerem, em geral, navios novos ou especialmente adaptados e concepções navais avançadas e flexíveis, que são parte das competências dos estaleiros europeus. A dimensão relativamente menor destes navios dá uma vantagem aos estaleiros domésticos. Para desenvolver e explorar integralmente esta oportunidade de um sistema de transportes de superfície sustentável através de toda a Europa, os políticos da UE têm de criar um enquadramento adequado, levando em conta as condições específicas das águas costeiras europeias. 19 Promoção de navios mais seguros e mais ecológicos Problemas: ¾ As baixas taxas de frete e a diminuição dos preços da construção de navios novos têm um efeito nocivo na segurança marítima e na protecção do ambiente marítimo. ¾ Os operadores sem escrúpulos continuam a poder operar impunemente no mercado. ¾ O sistema de inspecção da qualidade da concepção, construção e reparação precisa de ser melhorado. ¾ Não se está ainda a usar todo o potencial do transporte marítimo de curta distância. Recomendações: ¾ A legislação já existente e futura da UE tem de ser estritamente implementada e “exportada” para o âmbito internacional. ¾ É necessário promover um sistema de inspecções técnicas dos navios mais transparente, uniforme, eficaz e independente. ¾ Deve ser desenvolvido um sistema de avaliação da qualidade dos estaleiros a nível mundial, abrangendo a construção de navios novos e a reparação. ¾ A manutenção e o reforço das capacidades de reparação naval na Europa são importantes para garantir um elevado nível de segurança dos transportes e de protecção ambiental. ¾ Deve ser criado um comité de peritos para dar apoio técnico à Comissão Europeia e à AESM. ¾ O grande potencial de transporte marítimo de curta distância tem de ser explorado através de condições-quadro adequadas a nível político e económico. 20 Uma abordagem europeia das necessidades da construção naval militar Os construtores navais militares europeus fornecem um equipamento essencial para a estratégia de defesa europeia. Os produtores europeus não detêm em nenhuma outra área da indústria do armamento uma liderança tão forte a nível mundial em termos de rentabilidade. Em comparação com os estaleiros navais militares dos EUA, os construtores navais europeus estão a produzir plataformas que são até 2,5 – 3 vezes mais rentáveis. No que respeita a produtos tecnologicamente avançados, os estaleiros navais militares europeus são lideres incontestados em algumas áreas, tais como os submarinos convencionais e os barcos de patrulha rápidos. Esta liderança deve-se, em certa medida, à forte fertilização cruzada entre a construção naval para a marinha de guerra e a construção naval para a marinha mercante, que é altamente competitiva. No entanto, em comparação com outros sectores da defesa, a construção naval militar europeia é dominada por empresas nacionais. Sem uma maior cooperação e consolidação, os europeus correm o risco de serem marginalizados em termos globais, o que pode reduzir futuras opções de defesa da UE. A criação de uma forte intervenção europeia integrada ajudará a competitividade da Europa também no que respeita à sua actual posição dominante nos mercados internacionais de exportação de navios militares. Merecem atenção imediata três áreas-chave: a cooperação industrial entre estaleiros e entre os estaleiros e os fornecedores, o acesso aos mercados de exportação e a consolidação do sector. Uma cooperação alargada continua a ser dificultada por requisitos operacionais divergentes entre as diversas marinhas de guerra nacionais. A normalização dos componentes e subsistemas poderia e deveria ser amplamente aumentada, o que levaria a uma redução considerável dos custos totais de propriedade. Os ciclos de encomendas também diferem, provocando nos estaleiros um fluxo de trabalho irregular. As primeiras experiências com programas comuns que foram lançados com vista à redução de custos e à partida de custos não-periódicos levaram a resultados encorajadores, mas são possíveis melhorias substanciais. 21 Os Estados-Membros e as suas armadas têm de chegar a acordo quanto a um conjunto mínimo de requisitos operacionais comuns e a uma harmonização dos ciclos de encomendas, de acordo com a Comunicação da Comissão sobre “Defesa europeia – Questões ligadas à indústria e ao mercado”, de Março de 2003. Estes requisitos mínimos devem basear-se nos objectivos de Petersberg e nos “Helsinki Headline Goals”. Os esforços iniciais com vista a requisitos comuns devem centrar-se em navios de superfície de menor dimensão, abaixo da dimensão das fragatas, e devem posteriormente exceder esta dimensão. A normalização dos componentes e subsistemas deve basear-se numa abordagem voluntária e sistemática. A normalização deve, em certa medida, abranger também uma abordagem conjunta da garantia da qualidade e do apoio durante o ciclo de vida. As empresas de classificação têm um papel importante na normalização, com base na sua experiência na construção naval comercial. O objectivo último destes esforços tem de ser a interoperabilidade dos sistemas, navios e frotas, levando a reduções significativas dos custos de propriedade. A cooperação deve ser organizada em volta de um número limitado de grandes projectos, utilizando a reunião de recursos de I&D e um mercado único europeu de equipamento de defesa. Os mercados de exportação podem ser bastante limitados e específicos. No entanto, estes mercados são cruciais para a recuperação dos custos de desenvolvimento feitos à cabeça. A inexistência de regras de exportação harmonizadas nos Estados-Membros, devido a tradições diferentes e a objectivos geopolíticos divergentes, leva à distorção da concorrência e a barreiras a uma maior cooperação industrial. A falta de aplicação integral das regras do mercado comum ao comércio intra-UE pode ter efeitos negativos similares. Assim, as regras de exportação (e a sua aplicação e interpretação) têm de ser harmonizadas entre os Estados-Membros. Os estaleiros militares europeus servem sobretudo um mercado nacional limitado, com um elevado grau de adaptação ao cliente e requisitos navais apertados e específicos. Em alguns Estados-Membros, os estaleiros militares são propriedade do Estado ou controlados pelo Estado, embora isto não 22 exclua a utilização de paradigmas comerciais. É necessário analisar em mais pormenor os pontos fortes e fracos do sector na UE, incluindo a questão das compensações, ou seja, acordos contratuais compensatórios relativos às encomendas de construção naval militar. Existem diferenças estruturais consideráveis entre os produtores europeus, com os grandes organismos pertencentes ao Estado a concorrer nos mesmos mercados com estaleiros privados, de média dimensão, que reclamam que a propriedade privada é uma premissa para se ter êxito em qualquer esforço de consolidação. Neste contexto, deveria ser apoiada a privatização dos estaleiros de construção naval militar detidos pelo Estado, embora se reconheça inteiramente que não deve ser dada qualquer preferência particular a qualquer forma de propriedade. A criação de um mercado comum para o equipamento de defesa, incluindo a constituição de um organismo conjunto para as compras, é crucial. Isso favoreceria a consolidação a prazo mais longo. Uma abordagem europeia das necessidades da construção naval militar Problemas: ¾ Uma maior cooperação entre os estaleiros militares é dificultada por requisitos operacionais divergentes entre as marinhas nacionais. ¾ Potencialmente, a inexistência de regras de exportação harmonizadas, assim como a sua aplicação e interpretação, distorce a concorrência. ¾ A ausência de um mercado verdadeiramente comum para o equipamento de defesa torna difícil a consolidação do sector. Recomendações: ¾ Devem ser estabelecidos requisitos conjuntos para se constituir um certo número de grandes projectos que permitam a cooperação entre estaleiros e levem à interoperabilidade de sistemas, navios e frotas. ¾ Os Estados-Membros devem abordar a questão da harmonização das regras de exportação. ¾ Têm de ser desenvolvidas regras comuns para criar um mercado europeu para o equipamento de defesa, com base no pedido do Conselho de se criar uma agência intergovernamental na área do desenvolvimento das capacidades de defesa, investigação, aquisição e armamentos. 23 Protecção dos direitos de propriedade intelectual do sector europeu da construção naval Os estaleiros europeus e os seus fornecedores confrontam-se com uma crescente concorrência internacional. Nesta situação, a competitividade só pode ser mantida através de concepções inovadoras de navios, subsistemas optimizados e métodos sofisticados de concepção, produção e planeamento. A tecnologia com base no conhecimento cria-se numa das primeiras fases do relacionamento entre os estaleiros e os seus fornecedores. Os estaleiros têm de revelar aos seus fornecedores soluções e requisitos técnicos detalhados de forma a calcular o projecto com segurança, tanto em termos técnicos como comerciais. Além disso, os estaleiros e os fornecedores têm de garantir uma gestão adequada das interfaces a todos os níveis e de cooperarem estreitamente nos pormenores técnicos de cada dispositivo ou subsistema pertinente. Os estaleiros navais têm também de partilhar os seus conhecimentos com as empresas de classificação, que realizam diversas funções. As relações entre os estaleiros e os armadores caracterizam-se igualmente por uma troca ampla e directa de informações pormenorizadas sobre o navio. Os armadores recolhem essas informações, por exemplo, ao receberem as especificações técnicas dos estaleiros, os planos gerais, etc. E fazem circular essa informação em todo o mundo com vista às suas oportunidades comerciais e técnicas. Finalmente, os estaleiros estão a cooperar estreitamente com universidades e outros peritos, especialmente na área da concepção assistida por computador, da produção integrada por computador e de outras componentes das TI, com vista a explorar resultados de I&D, revelando, por esse meio, saber-fazer correspondente dos estaleiros navais. Em resultado disso, os estaleiros enfrentam um risco permanente de violação dos direitos de propriedade intelectual (DPI) próprios e de terceiros. Actualmente, os direitos de autor, os projectos registados, as marcas e patentes são os principais instrumentos para proteger os direitos de propriedade intelectual. Medidas adicionais são os acordos de não divulgação e de colaboração específica, embora as características únicas 24 que frequentemente se encontram em projectos de construção naval possam tornar esses acordos onerosos e com perspectivas menos compensadoras. Para explorar integralmente estes instrumentos já existentes, os estaleiros e fornecedores têm de estar mais conscientes das ameaças para o seu saber-fazer e das vantagens competitivas daí resultantes. A criação de bases de dados de conhecimentos poderia tornar-se uma actividade central para os estaleiros europeus alcançarem esse objectivo. Essas bases de dados deveriam não só abranger as características e componentes específicos de navios, mas também indicar as pessoas-chave e relações específicas importantes entre clientes e fornecedores. As bases de dados de conhecimentos ajudariam a constituir uma entidade para os DPI, que poderia ser encarregada de salvaguardar e proteger os conhecimentos da construção naval europeia. Daria aos estaleiros e fornecedores informações sobre os conhecimentos disponíveis (a nível internacional, documentados e não documentados) sobre componentes de navios específicos, os requisitos de uma protecção dos DPI de soluções técnicas específicas, as patentes existentes nas áreas técnicas pertinentes, a posição tecnológica dos concorrentes e a potencial exposição dos estaleiros e fornecedores à pirataria de produtos e outras ameaças. Todos os pedidos enviados a essa entidade terão, naturalmente, de ser tratados confidencialmente. Os custos de tal entidade para os DPI seriam partilhados entre os parceiros da construção naval europeia. Através de uma entidade para os DPI, os estaleiros e fornecedores melhorariam as suas possibilidades de reforçar os seus direitos de propriedade intelectual a custos aceitáveis. Essa entidade poderia mesmo pedir e deter patentes directamente, reduzindo assim ainda mais, de forma significativa, os custos respectivos. Devido à sua validade relativamente longa e ao seu reconhecimento internacional, as patentes continuam a ser um instrumento essencial que os construtores navais europeus precisam de explorar o máximo possível, incluindo nos países dos seus principais concorrentes. Além disso, os armadores deveriam ser proibidos de operar navios que tenham a bordo dispositivos construídos em violação de patentes existentes. No entanto, o complexo e verdadeiramente globalizado mercado da construção naval 25 contrasta com o actual enquadramento da protecção das patentes (para dispositivos em navios), estabelecido em 1925 e nunca mais alterado substancialmente desde então. Actualmente, muitas das regras então estabelecidas parecem anacrónicas e injustificadas. Um reexame do quadro actual, o qual não permite às autoridades nacionais tomarem medidas contra um navio que tenha um dispositivo construído em violação de uma patente e que escale um porto em que tal patente esteja registada e protegida, poderia dar aos estaleiros a ferramenta certa para protegerem as suas invenções e inovações, fazendo disparar os investimentos em I&D e estimulando o interesse dos estaleiros na aquisição de patentes. Protecção dos direitos de propriedade intelectual europeus Problemas: ¾ Os construtores navais e fornecedores europeus estão mais dependentes da liderança tecnológica do que os concorrentes do Extremo Oriente. ¾ A complexa e abrangente interacção, nos projectos de construção naval, entre estaleiros, fornecedores, armadores, empresas de classificação, universidades e outros fornecedores de serviços abre numerosas oportunidades para a fuga de conhecimentos. ¾ O sector não tem uma cultura suficientemente estabelecida quanto à protecção dos direitos de propriedade intelectual (DPI). Recomendações: ¾ Os instrumentos existentes para a protecção dos DPI (direitos de autor, projectos registados, marcas, patentes, acordos de não divulgação e de colaboração específica) têm de ser explorados integralmente. ¾ Deveriam ser criadas e operadas, por entidades de DPI específicas, bases de dados de conhecimentos para a construção naval, contendo informações sobre as últimas novidades, as patentes existentes, a situação concorrencial específica para certos produtos e soluções e os detentores de conhecimentos-chave. ¾ As normas internacionais relativas a patentes aplicáveis à construção naval têm de ser examinadas e, possivelmente, reforçadas. 26 Garantia do acesso a uma mão-de-obra especializada A manutenção, transmissão e aperfeiçoamento do saber-fazer é da máxima importância para a competitividade do sector da construção naval. Embora a descentralização de competências nas áreas da educação e formação limite o âmbito das iniciativas que vão do topo para a base a nível da UE, deveria haver espaço para o apoio a actividades realizadas conjuntamente por organizações interessadas na promoção do saber-fazer. Actualmente, é dado apoio financeiro a iniciativas transnacionais pelo programa Leonardo da Vinci. Este programa pode apoiar e já apoiou o desenvolvimento de módulos de formação para o sector dos transportes marítimos e para os estaleiros. Através do co-financiamento de projectos-piloto e de bolsas de mobilidade, este programa contribui para a melhoria das capacidades dos trabalhadores mais velhos do sector, a transferência de conhecimentos e a reintegração no sector de pessoas com experiência em transportes marítimos. Além disso, investiga quais serão os futuros requisitos em termos de competências. A UE promove também o intercâmbio e o desenvolvimento de conhecimentos entre os investigadores e entre o sector da investigação e a indústria. O principal instrumento para esse fim é o programa Marie Curie, que apoia a formação no estrangeiro e a transferência de conhecimentos por meio de bolsas a nível de pós-graduação e pós-doutoramento. A indústria marítima pode beneficiar deste apoio para formar investigadores dentro do sector, permitir o desenvolvimento de conhecimentos de investigação comerciais, transferir conhecimentos da investigação para a indústria e facilitar o intercâmbio de conhecimentos entre a indústria e as universidades. As iniciativas susceptíveis de serem desenvolvidas a nível da UE podem também dizer respeito à criação de centros para pós-graduados, com actividades de investigação e ensino, ou à criação de centros regionais de excelência, nos quais participariam tanto empresas como instituições de educação. Essa situação poderia facilitar os intercâmbios de estudantes, a transferência de conhecimentos, a difusão de boas práticas e o reconhecimento de qualificações em toda a UE. Ajudaria também a 27 desenvolver intercâmbios de experiências entre o pessoal técnico do sector marítimo. A evolução da indústria em direcção a uma estrutura com um número reduzido de grandes empresas e muitos subcontratantes exige cada vez mais novas atitudes de gestão para fomentar a adaptabilidade e a inovação. A gestão tem de reforçar a sua capacidade de dirigir empresas baseadas em funções relacionadas com projectos e não em funções organizadas estaticamente. Esta abordagem seria um veículo para as inovações sociais e técnicas necessárias para permitir à indústria continuar a oferecer emprego de elevada qualidade a longo prazo. O sector está agora a criar formalmente um comité para o diálogo social sectorial, reconhecido pela Comissão, de acordo com a sua comunicação sobre o diálogo social e nos termos do artigo 138.º do Tratado. Este desejado desenvolvimento poderia conduzir a empreendimentos conjuntos e a acordos no que respeita às técnicas e à inovação social no sentido mais amplo, em particular no que respeita à adaptabilidade dos trabalhadores e empresas à mudança e a implementação de estratégias de aprendizagem ao longo da vida. Assim, independentemente da abordagem escolhida, é necessário abordar quatro aspectos-chave concretos: formação de gestores; promoção de intercâmbios de especialistas de construção naval; apoio ao desenvolvimento de técnicas; e uma política de comunicação adequada para atrair pessoal especializado nas áreas da produção e da gestão. A formação de gestores deveria ser oferecida tanto no contexto regional como internacional. É preciso organizar uma interacção entre os gestores mais antigos e os mais jovens. O intercâmbio de conhecimentos, incluindo, em certa medida, a sua normalização, é importante. Finalmente, a formação em gestão deveria incluir conhecimentos das políticas e regulamentações da UE. O pessoal técnico, de gestão e de investigação da indústria da construção naval, incluindo os produtores de equipamento e os serviços, deveriam ter a 28 oportunidade de trabalhar e aprender em outro lugar na UE. O mesmo se aplica aos estudantes e professores a vários níveis. Uma plataforma específica da UE em que os empregadores e os empregados se reúnam, por exemplo no quadro do diálogo social sectorial, poderia promover o desenvolvimento das habilitações e uma inovação social ajustada às necessidades regionais. Uma campanha publicitária a nível da UE poderia ajudar a sublinhar a importância de manter e continuar a desenvolver o sector da construção naval e da reparação de navios. Campanhas publicitárias regionais poderiam ser acrescentadas, para reforçar o efeito da campanha a nível de toda a UE. Garantia do acesso a uma força de trabalho especializada Problemas: ¾ A natureza do sector está a mudar, colocando novos desafios no que respeita às competências. ¾ O intercâmbio de pessoal e de saber-fazer através da Europa continua a ser limitado. ¾ O sector não tem transmitido suficientemente uma imagem positiva e atraente. Recomendações: ¾ Têm de ser desenvolvidos e implementados programas para a formação em gestão específica da construção naval. ¾ Têm de ser analisados e satisfeitos novos requisitos quanto às competências, de preferência através de um diálogo social sectorial. ¾ O intercâmbio de pessoal e de saber-fazer precisa de ser organizado a todos os níveis, desde as oficinas às universidades. ¾ Tem de ser implementada uma campanha publicitária demonstrando a vitalidade e a sustentabilidade do sector da construção naval. ¾ Centros regionais de excelência poderiam fornecer um contributo crucial para a realização das recomendações acima indicadas. 29 Construção de uma estrutura industrial sustentada As considerações sobre a futura estrutura da indústria de construção naval europeia têm de abranger todas as áreas de actividade, desde a construção de todos os tipos de navios mercantes ou militares até projectos de reparação e reconversão e ao fabrico de sistemas e componentes-chave, porque todas estas actividades estão estreitamente ligadas. As considerações quanto à segurança estabelecem necessidades claras para certas capacidades de construção naval, tendo em conta as tarefas tanto para a navegação comercial como para a defesa. As capacidades de manutenção e reparação devem seguramente ser consideradas como indispensáveis, devido aos requisitos de segurança e à natureza topográfica da Europa. Os estaleiros europeus actualmente em operação no mercado mundial diferem consideravelmente em termos de dimensão e de nível tecnológico aplicado. Em geral, tanto os estaleiros de grande como de pequena dimensão podem ser operados de forma rentável. Embora a construção naval deva continuar a ser um sector com uma intensidade de mão-de-obra relativamente elevada, a mão-de-obra pode, em certa medida, ser substituída por tecnologia, tornando economicamente viáveis padrões tecnológicos mais baixos em ambientes com baixos custos de mão-de-obra e empreendimentos de alta tecnologia em ambientes de custo elevado da mão-de-obra. As oportunidades são menores na reparação e na reconversão, uma vez que as tarefas são menos susceptíveis de repetição. Os marcos de um desenvolvimento são e sustentado do sector a nível mundial são investimentos razoáveis que satisfaçam a verdadeira procura do mercado. As instalações economicamente menos eficientes deveriam abandonar o mercado e os investimentos deveriam concentrar-se em segmentos onde possam ser obtidos retornos suficientes. Estes aspectos fundamentais para um equilíbrio entre a oferta e a procura seriam normalmente predominantes, se os mecanismos de mercado pudessem funcionar. No entanto, na ausência de um acordo internacional e tendo em conta a persistente intervenção estatal em alguns países concorrentes, a 30 Europa precisa de desenvolver uma abordagem que responda às suas necessidades e preocupações específicas. A construção naval tem características próprias no que respeita aos seus produtos e aos seus métodos de produção. Além de uma grande volatilidade do mercado e da natureza cíclica do sector, os estaleiros navais têm de enfrentar objectivos contraditórios: para optimizarem a produtividade, os estaleiros têm de se especializar; para serem capazes de fazer frente à volatilidade do mercado e aos ciclos de negócios, os estaleiros deveriam diversificar-se. Por razões históricas, os estaleiros navais da Europa são, em média, de dimensão consideravelmente inferior à dos estaleiros do Extremo Oriente. Em princípio, isto é uma vantagem competitiva, no que respeita à especialização em certos produtos. Ao mesmo tempo, a volatilidade do mercado constitui uma séria ameaça para os estaleiros altamente especializados. A diminuição da procura em segmentos de mercado específicos pode obrigar um estaleiro especializado a envolver-se em produtos alternativos para os quais está menos adequado e a juntar-se a outros estaleiros. A nível de empresa, as mudanças estruturais estão já a produzir-se. Elas dizem respeito, especialmente, ao relacionamento entre o estaleiro e os fornecedores. Actualmente, cabem aos fornecedores cerca de 70-80% da produção de um estaleiro. Os estaleiros europeus têm adoptado esta evolução activamente, criando desse modo a base para uma indústria europeia de equipamento marítimo plena de vida. No futuro, o relacionamento entre os estaleiros e os fornecedores evoluirá no sentido de parcerias de projectos, afastando-se da relação tradicional entre cliente e fornecedor. Na Europa existe uma grande diversidade de estaleiros e de produtos, especialmente se se levar também em conta a situação dos futuros Estados-Membros da UE. O emprego total na construção para a marinha mercante nos países candidatos é cerca de 20% mais elevado do que no conjunto da UE-15, ao passo que a produção realizada é apenas ligeiramente superior a um quarto do valor da referência da UE-15. Com custos de mão-de-obra ainda muito inferiores, os estaleiros navais dos países 31 candidatos centram-se numa carteira de produtos diferente. Os diferentes conjuntos de vantagens competitivas incentivam já uma ampla cooperação entre estaleiros de Estados-Membros actuais e futuros da UE. No entanto, isto não pode esconder o facto de que o processo de alargamento da UE aumentará a necessidade de uma consolidação industrial geral na Europa. A experiência do passado em processos de reestruturação fundamentais, como na Alemanha de Leste, indica que as políticas não estão ainda optimizadas a este respeito. A reestruturação da indústria tem de dar mais ênfase aos investidores comerciais, que proporcionam um saber-fazer adicional e um melhor acesso ao mercado. Se se tornar inevitável o encerramento de alguns estaleiros, isso deverá ser feito e apoiado na perspectiva da criação de novos investimentos. A alteração das normas actuais da UE sobre ajudas ao encerramento de estaleiros de construção naval (cobrindo o encerramento parcial e total), com base na ideia de uma “ajuda à consolidação” e possivelmente uma abordagem transnacional, é uma primeira proposta com o objectivo de se iniciarem medidas pró-activas e se corrigirem deficiências do passado. A futura política para o sector deverá ser revista sem enviesamentos e com uma clara compreensão das consequências. Dois caminhos extremos, ambos indesejáveis, ilustram os perigos possíveis. Na ausência de medidas específicas para a construção naval deveria mesmo levar ao desaparecimento dos estaleiros de construção para a marinha mercante na Europa em menos de uma década. Por outro lado, um proteccionismo extremo, como, por exemplo, o exercido nos EUA, levará inevitavelmente a uma perda irreversível de competitividade. 32 Construção de uma estrutura industrial sustentada Problemas: ¾ Embora a construção naval e a reparação de navios sejam, por muitas razões, uma indústria estratégica para a Europa, a estrutura do sector não está optimizada de forma a alcançar os resultados desejados. ¾ As distorções do comércio internacional, as decisões de investimento problemáticas, em particular na Ásia, e a alteração dos padrões de negócios têm de ser enfrentadas com uma resposta europeia abrangente. ¾ O alargamento da UE criará necessidades adicionais para a consolidação do sector, mas proporcionará também oportunidades. ¾ Os esforços de reestruturação no passado nem sempre produziram resultados sustentáveis. Recomendações: ¾ A não-acção não é uma opção, do mesmo modo que não o é o proteccionismo: a UE a 25 tem de continuar a desenvolver a sua abordagem política do sector, em conformidade com os seus princípios sobre políticas industriais. ¾ Deve ser facilitado um processo de consolidação entre os produtores europeus, através de incentivos para eliminar capacidades de produção menos eficientes e, desse modo, da libertação de recursos para novos investimentos. ¾ As actuais regras de ajuda ao encerramento de empresas na UE deve ser analisado com vista a facilitar uma abordagem mais pró-activa, com base na ideia de uma “ajuda à consolidação”. 33