VISIONÁRIOS DE UM NOVO TEMPO: MENTORES DA
INTERIORIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE NA BAHIA (1950-1960)
Ana Maria Fontes dos Santos
Universidade Estadual de Feira de Santana
e-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo deste artigo é discutir a participação de agentes intelectuais da capital e do interior
envolvidos na defesa da interiorização do ensino superior enquanto propostas de garantia da
expansão da oferta educacional no estado da Bahia, como direito social. No cenário baiano
entre os anos de 1950 e 1960, estão implicados os esforços pelo desenvolvimento econômico
do estado, a consolidação da Universidade da Bahia e suas contradições enquanto projeto
local de inserção do estado na modernidade. O foco norteador desta pesquisa consiste na
investigação sobre quais as idéias propostas pelos citados agentes e como os mesmos as
difundiam, situando as estratégias por eles utilizadas para adquirir ou manter uma posição no
campo da educação superior. As conclusões finais apontam que as práticas sociais desses
grupos de intelectuais emergiram como contribuições decisivas na definição posterior de
políticas públicas de interiorização do ensino superior na Bahia.
Palavras-chave: Historia da Educação; Ensino Superior na Bahia; Políticas Educacionais.
INTRODUÇÃO
Na virada dos anos 50 para os 60 do século passado, nomes como os de Jorge Calmon,
Geraldo Leite, Fernando Pinto, envolveram-se na defesa de concepções de ensino superior
num período em que se colocavam na ordem do dia a defesa do dispositivo constitucional de
que a educação era um direito social que deveria ser garantido a todos (Constituição de 1947,
Art.166) e em todos os níveis. Naquela conjuntura de intensa efervescência política e cultural,
destacava-se como principal pano de fundo a atuação do movimento estudantil protagonizado
pela entidade estadual União dos Estudantes da Bahia (UEB), que ganhara intensa
visibilidade nos três primeiros anos da década de sessenta.
Outras singularidades da situação social, política e econômica do estado baiano
estavam no conjunto de esforços voltados para o desenvolvimento da economia estadual e a
consolidação da Universidade da Bahia enquanto projeto cultural de inserção da Bahia na
modernidade nacional. Os nomes acima citados não estavam imunes a esses cenários da
conjuntura local, pois buscaram protagonizar a defesa de concepções de ensino superior
enquanto propostas de garantia da expansão da oferta educacional no estado da Bahia. Este
trabalho discute a participação desses sujeitos sociais, enquanto agentes que desempenharam
o papel de mentores, na ampliação do campo do ensino superior no referido estado, que, como
visionários, tanto provocaram a Universidade da Bahia (UBA), como buscaria a criação de
condições políticas de expansão da modernidade intelectual baiana para o ambiente
interiorano.
As ações empreendidas pelos mentores do citado projeto de interiorização
atravessariam a arena política de onde foram arregimentados deputados interioranos, como
Wilson Falcão, Áureo de Oliveira Filho.
O foco norteador desta pesquisa consiste na investigação sobre quais as idéias
propostas pelos citados agentes e como os mesmos as difundiam, situando as estratégias por
eles utilizadas para adquirir ou manter uma posição no campo da educação superior baiana. A
teoria dos campos de Bourdieu fundamenta a interpretação sobre as disposições do campo
educacional estudado. Os conceitos articulados por Chartier de apropriação e de representação
auxiliam na compreensão dos processos de construção, difusão e busca de legitimidade das
idéias defendidas pelo grupo. Na metodologia, além de entrevistas, foi utilizado o Livro
“Reminiscências” de Geraldo Leite. Também se priorizoua a análise de documentos escritos
elaborados pelos citados mentores, ou aqueles elaborados sobre os mesmos, difundidos
principalmente através dos jornais: A Tarde; Jornal da Bahia; Folha do Norte.
A PROVÍNCIA DA BAHIA
Em seu livro Avant-garde na Bahia, Antonio Risério (1995) discorre sobre o
movimento cultural baiano do período aqui estudado como um momento em que a “Cidade da
Bahia” despertou de seu secular estado de provincianismo para a modernidade urbana nos
âmbitos nacional e internacional. Conforme expressa-se esse autor: “Entre as décadas de
1950-60, a Cidade da Bahia, ancorada em práticas culturais tradicionais, achou-se de repente
sob um forte influxo de informações internacionais. Parte substancial delas vinha das
vanguardas estético-intelectuais européias [...]” (p.74). Naquele contexto, sob a regência do
reitor Edgard Santos, que articulava um “ambicioso projeto cultural”, a Universidade da
Bahia (UBA) foi um dos espaços essenciais dessa inserção na modernidade. Na opinião do
referido autor, a combinação de dois fatores produziriam “as condições necessárias para o
alargamento e excitação do horizonte mental da província, no campo da chamada cultura
erudita”, são eles:
Em primeiro lugar, a universidade baiana não era uma instituição
sedimentada, mas algo que estava sendo inventado. [...] Em segundo, no
comando desse fazer, dispondo de poder e verbas, encontrava-se uma figura
de fato incomum – isto é uma constatação, aviso, não uma opinião ou juízo
de valor. [...] A Bahia oferecia efetivamente condições institucionais para a
ousadia cultural. É por esse motivo que devemos gravar em cores vivas o
nome de Edgard Santos. Ele fez a universidade baiana – e a comandou entre
os anos de 1946 e 1962 (RISÉRIO, 1995, pp.77-78, grifos do autor).
A “Bahia” a que o autor se refere restringia-se à cidade de Salvador, capital do estado,
evidente que se trata do principal espaço territorial urbano de onde eram (e ainda são) geridos
os negócios relativos à administração do restante do território conhecido como estado da
Bahia – ou mais precisamente a imensa região interiorana, predominantemente rural que
abrigava a maioria da população baiana, naquele período. Ou seja, era forte o antagonismo da
“Cidade da Bahia” com o seu imenso interior rural, sobretudo a partir da implantação da
modernidade, anunciada acima por Risério. Por certo, que a invenção da modernidade na
Bahia precisaria ser fortalecida a partir de seu maior e mais tradicional eixo urbano, que fora a
primeira capital do Brasil colonial, a antiga cidade da “Bahia de São Salvador”. Como se vê, a
criação dessa modernidade aportou tardiamente em terras soteropolitanas, digo, baianas. Isso
ocorreria em meados do século passado, como nos lembrou acima o autor referido, pois, antes
disso, “a Cidade da Bahia, [encontrava-se] ancorada em práticas culturais tradicionais”.
Todavia ao “gravar em cores vivas o nome de Edgard Santos”, que dispunha de “poder e
verbas”, o autor citado reforça que a modernidade deve seu principal tributo à implantação da
Universidade e o situa na pessoa do reitor: “ele fez a universidade baiana” (op.cit.). Apesar
desse tom apologético sobre Edgard Santos, o autor sugere uma relação dinâmica entre
universidade e sociedade local. Veja-se o abaixo transcrito:
[...]. A produção universitária, os ateliês, o cineclubismo, os suplementos
jornalísticos, etc, configuravam uma teia elétrica de signos, injetando dados
e idéias novas no espaço cultural da província. O que significava que a
universidade, embora fosse um lócus fundamental nada tinha de farol
solitário [...]. Pelo contrário, cidade e universidade não eram, naquele
período, compartimentos estanques. (Idem. p.75).
Para acrescentarmos mais elementos à relação universidade e sociedade no estado
baiano, tomemos a expressão “a Bahia” como entidade federativa e, para ilustrá-la, pincemos
a seguinte frase do autor, retirada da primeira citação acima transcrita: “A Bahia oferecia
efetivamente condições institucionais para a ousadia cultural” (lembre-se que no contexto
desse texto o autor utiliza a expressão “a Bahia” como entidade individual, referindo-se a
Edgard Santos, como detentor de “poder e verbas”), e nos reportemos ao ano de 1946, de
criação da Universidade da Bahia. Esta instituição foi uma das duas universidades federais (a
outra, em Pernambuco) implantadas logo após a queda do Estado Novo. Parece evidente que
depois da implantação da Universidade de São Paulo (USP) e outras duas universidades na
antiga capital federal (a Universidade do Distrito Federal (UDF), criada por Anísio Teixeira, e
a Universidade do Brasil (UB), a reivindicação por universidade na Bahia tenha crescido. O
exemplo é o Projeto de Lei de autoria do deputado baiano Pedro Calmon (publicado no Diário
do Poder Legislativo de 3 de setembro de 1935), que propõe a criação de “Universidade
Federal da Bahia” e a “ampliação do regime universitário” aos, entre outros, “Instituto de
Música e Escola de Belas Artes”, áreas que projetariam a figura Edgard Santos como o grande
arquiteto da universidade baiana (CALMON, 1999).
Sobre a implantação da universidade em 1946, Pedro Calmon ainda destaca em seu
livro “Memórias”, onde busca inscrever o seu lugar no processo, o papel do Ministro da
Educação e Saúde, Ernesto de Souza Campos – substituído em dezembro de 1946 pelo
empresário baiano Clemente Mariani. Segundo Pedro Calmon, já no discurso de posse, o
Ministro Souza Campos “anunciou a intenção de patrocinar a fundação de mais duas
universidades, no Recife e na Bahia”. No mesmo texto também situa o seu próprio papel na
indicação de Edgard Santos para reitor, num leve indício de que esperava também obter parte
dos louros da propalada gestão do referido Reitor. Continua Calmon:
[...] Em seu nome [do ministro], fui à Bahia e ao Recife dar as providências
finais, de carta branca quanto à parte mais difícil da missão, a reunião da
assembléia em que se indicaria o futuro reitor. Tomei como condição (fora e
acima dos interesses eventuais) que fosse o diretor da Faculdade Federal,
unida naquele ato às escolas estaduais e particulares; vale dizer, na Bahia,
Edgard Santos (diretor da Faculdade de Medicina), em Pernambuco,
Joaquim Amazonas (diretor da Faculdade de Direito). (Cf. CALMON, Jorge.
“Pedro Calmon e a criação da Universidade da Bahia”. In BOAVENTURA
(org.), 1999, p.132).
Outra fonte acrescenta outros elementos que esclarecem sobre os trâmites de
implantação da referida Universidade, trata-se de Geraldo Leite, que na época era estudante
da Faculdade de Medicina:
[...] entrei na Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus em março de
1945. Naquela época, na antiga capital federal, andavam bem adiantados os
preparativos para a criação da Universidade da Bahia. O professor Azevedo
Amaral, reitor da Universidade do Brasil, presidia a Comissão Organizadora,
da qual faziam parte homens da mais alta projeção, tais como Pedro Calmon,
Cesário de Andrade e Edgard Rego Santos.
Finalmente naquela tarde de 8 de abril de 1946, às 3 horas da tarde, a Bahia
estava feliz. A luta chegara ao fim. A mais fina flor da sociedade, a mais
culta gente da nossa terra estava reunida no salão nobre da Faculdade.
(LEITE, 2007, p.144)
Afora esses elementos da memória construída por esses diferentes sujeitos, que situam
o envolvimento de outros agentes na implantação da UBA, aqui é acolhida a opinião contrária
à idéia cima esboçada por Risério de que Edgard Santos “fez a universidade baiana” e por
consequência o grande ou principal responsável pela modernidade cultural baiana. De acordo
com Dias (2005, p.3): “Outras lideranças e outros grupos também disputaram contra ele a
primazia de empunhar essa bandeira e de conduzi-la na direção que julgavam mais apropriada
ou conveniente, conforme as concepções que lhes eram próprias”.
Por outro lado, a confluência de projetos e interesses dos campos político e
econômico casava-se com objetivos da universidade nascente, de implantação da
modernidade. Imediatamente após a criação da Universidade, no ambiente social e político de
restabelecimento da ordem democrática na república brasileira, o estado da Bahia passaria a
ser governada por Octávio Mangabeira (gestão iniciada em 1947 até 1951). Naquele contexto,
Mangabeira seria uma liderança local respeitável, conhecido nacionalmente como um
militante opositor ao governo Vargas – algo que lhe havia amargado, aproximadamente, dez
anos de exílio (em dois diferentes momentos, primeiro em 1930, pouco mais de um ano,
anistiado logo depois, e, segundo, com a implantação do Estado Novo, por mais de oito anos)
passados entre a Europa e os Estados Unidos, mas, por outro lado, representava um dos
elementos significativos que o qualificavam para o cargo, como “renovador”.
Em relação a outros Estados do País, que já haviam passado pelo processo de
modernização (sobretudo, São Paulo), a Bahia se deparava, na segunda metade da década de
1940, com o histórico de um longo período de estagnação econômica, com reflexos em todos
os campos da vida social baiana – daí a definição de “província” à “Cidade da Bahia”, acima
aludida. A representação dominante entre as autoridades baianas era a de que, perante um
passado glorioso, “de berço da cultura nacional”, não era admissível que a Bahia já não
tivesse iniciado seu processo modernizador1. Então, a partir da gestão de Mangabeira,
iniciativas serão tomadas para viabilizá-lo. “Na verdade”, salienta Guimarães: “desenvolve-se
uma poderosa ação das classes burguesas” no sentido de realizar estudos na buscar de
soluções que visassem a inclusão do Estado no circuito industrial nacional. Essa ação ocorreu
“através principalmente da Associação Comercial da Bahia (ACB) e dos Bancos Econômico e
da Bahia, no sentido de influenciar e pressionar tanto o executivo quanto o legislativo na
busca de soluções convenientes para os problemas “baianos”” (GUIMARÃES, 1982, p. 54,
apud SANTOS e ROSA, 2012). Os governos estaduais eleitos desde 1946 até a ditadura
militar estarão comprometidos com esse projeto.
Enquanto momento de largada rumo ao projeto modernizador, o governo de Octávio
Mangabeira “soube aliar ao espírito liberal uma grande liderança econômica e moral”,
argumenta Guimarães (2003, p.107), para este:
Mangabeira encarnou o espírito de reconstrução. [...] O seu governo
respaldou-se na política federal de investimentos compensatórios, que lançou
as bases para a acumulação capitalista na Bahia através da construção da
refinaria de Mataripe, das ligações ferroviária e rodoviária com o sul do país
e de inversões vultosas em educação e saúde públicas.
Mas, sobretudo, Mangabeira soube encarnar símbolos duradouros para esse
espírito restaurador. Construiu a avenida que vai dar a Itapoã pela orla
marítima, o Hotel da Bahia, o Fórum Rui Barbosa, o Estádio da Fonte Nova,
tomou as primeiras providencias para a construção do Teatro Castro Alves,
etc. [o Aeroporto Dois de Julho]. (grifos nossos).
Nesse sentido, a gestão ficou conhecida pela qualidade do secretariado convocado por
Mangabeira, tidos como “as maiores inteligências da Bahia”. Entre os quais Anísio Teixeira,
que ocupou a estratégica Secretaria de Educação e Saúde.
Com um legado já reconhecido no campo da educação, Anísio Teixeira voltaria a
reassumir funções públicas em seu Estado natal2, nesse período de “renovação”, no centro do
qual estavam as preocupações com a instauração da modernidade na Bahia. Conforme salienta
Guimarães (op.cit.), a pasta por ele comandada teve ao seu dispor “vultosos” recursos
financeiros, que foram aplicados nos campos da educação e da saúde.
Embora o alcance dessa gestão de Anísio, nesse período da história da educação na
Bahia, ainda mereça aprofundamento, é possível inferir que os investimentos realizados na
capital baiana, no ensino ginasial e médio tivessem com foco a articulação da rede estadual
com a nascente Universidade.
Num cenário onde despontavam apenas duas unidades
públicas de ensino médio (o Colégio da Bahia e o Instituto Normal da Bahia) a gestão de
Anísio cuidou de ampliar e equipar o antigo Colégio da Bahia (implantação de gabinetes para
praticas de física e química, etc.). Além disso, na tentativa de manter e expandir esse
reconhecido e tradicional Colégio baiano cuidou de implantar "Secções" do mesmo nos
bairros de Nazaré, Liberdade e Itapagipe (são os conhecidos colégios “Severino Vieira”,
"Duque de Caxias" e, "João Florêncio Gomes", respectivamente). A administração dessas
“secções” coubera ao referido Colégio da Bahia, que passou a ser identificado com
“Central”3.
A idéia de Anísio Teixeira sempre foi a de pensar a democratização da oferta numa
rede de ensino articulada em todos os níveis, como experimentou no antigo Distrito Federal
(cf. NUNES, 2000). Há indícios de que tentou desenvolvê-la na Bahia. Nesta perspectiva
inscreve-se o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro (implantado em 1950), conhecido
como Escola Parque, o primeiro núcleo escolar construído no bairro da Caixa D´Água, bairro
popular de Salvador, enquanto parte de um projeto que previa a implantação de mais seis
núcleos dessas escolas na capital do Estado. Além da tentativa da gestão em foco de
elaboração de Anteprojeto de Lei Orgânica para Educação e Cultura do Estado Bahia, onde
pretendia instituir um conjunto de medidas com base nos princípios defendidos por Anísio, de
descentralização com autonomia, conforme assinala Santos (2000, p.114)
[...] propôs [no referido Anteprojeto de lei] a instituição do Fundo de
Educação com recursos provenientes das dotações orçamentárias do estado e
dos municípios. Os Conselhos Municipais de Ensino, sob a supervisão do
Conselho Estadual de Educação [...] Em 1950, contudo, ainda não havia sido
aprovada [...] Na gestão seguinte, [...] o Anteprojeto de Lei Orgânica para
Educação e Cultura foi transformado numa pura e simples lei de cargos,
vencimentos e vantagens.
Enquanto tramitava a O Projeto da Lei Orgânica, Anísio Teixeira conseguiu modificar
alguns aspectos da estrutura da Secretaria que administrava, entre eles a criação da
Superintendência de Difusão Cultural, provavelmente, articulando-se ou complementando o
projeto cultural da Universidade. Outro projeto relevante dessa administração foi a criação,
em 1950, da Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, com o objetivo de
“coordenar, estimular e assistir a pesquisa e o trabalho científico, em todos os seus ramos,
concorrendo para o desenvolvimento da ciência por todos os meios a seu alcance” (cf. Art. 1º
dos Estatutos). Através dessa Fundação foi estabelecido, nesse período, um convênio do
Estado da Bahia com a Universidade de Columbia (USA), “que tinha a intenção de conhecer a
vida social de três comunidades rurais próximas a Salvador com o objetivo de colher
subsídios para o desenvolvimento de futuras políticas públicas de modernização dessas áreas 4
(Wagley, Azevedo e Costa Pinto, 1950. In MAIO, 1999)”. No campo da saúde há o registro
da finalização da construção do Hospital Universitário, em 1949, com o auxílio de recursos
estaduais.
O espírito de instauração da modernidade que implantava a “cultura erudita 5” na
capital baiana através da Universidade, portanto, parece que não teria eco sem a confluência
do projeto das elites para a restauração da economia. Ou seja, a “Bahia”, enquanto entidade
representativa das camadas sociais hegemônicas, oferecia de fato “condições institucionais
para a ousadia cultural”, instaurada no final dos anos de 1940 e começo dos 50. Os indícios
parecem claros de que, desde os primeiros momentos de sua implantação, a Universidade,
sociedade política e projeto econômico de desenvolvimento estavam entrelaçados. Portanto,
“o poder e as verbas” de que dispunha o reitor da UBA eram parte de um contexto muito mais
complexo e abrangente no qual se destacava também o trabalho de Anísio Teixeira frente à
referida pasta da educação e saúde6.
VISIONÁRIOS DE UM NOVO TEMPO
O projeto de modernização da educação de Anísio Teixeira, não encontrou na Bahia as
necessárias condições institucionais para sua efetivação – a não aprovação da Lei Orgânica é
um indicador do tipo de modernização que interessava aos grupos sociais hegemônicos. O
grave quadro educacional baiano praticamente permaneceu inalterado. Contudo, as ações
possíveis de serem efetivadas pela gestão em foco, contribuíram sobremaneira para a
ampliação, do então rarefeito, campo educacional baiano no âmbito do ensino médio público,
sobretudo na capital, com a criação das “secções” do Colégio da Bahia.
De outro lado, aquela “teia elétrica de signos”, que injetava “dados e idéias novas no
espaço cultural da província” (cf. RISERIO, op.cit.), ao longo do tempo expunha as
contradições e os limites daquela proposta de modernidade. O reitorado de Edgard Santos,
que atravessou os primeiros quinze anos da instituição universitária baiana, foi encerrado em
1961 numa conjuntura em que grande parte dessas contradições atingiria o limite. Por outro
lado, as gestões estaduais subsequentes à de Octávio Mangabeira (Regis Pacheco 1951-1955;
Antonio Balbino 1955-1959; Juracy Magalhães 1959-1963), mantiveram os objetivos de
modernizar a economia baiana, mas, perante a conjuntura do período, os principais esforços
concentraram-se mesmo na capital do Estado. Inclusive as populações interioranas das
camadas dominantes de centros urbanos como os da cidade de Feira de Santana permaneciam,
ou eram mantidas, alheias às possíveis benesses do projeto de modernização baiana, até
aquele período, concretizada na UBA (SANTOS, 2009).
No seio dessa instituição a camada estudantil acumulava um histórico de lutas. Desde
os anos de 1930 os estudantes baianos, sobretudo os da antiga Faculdade de Medicina da
Bahia, os da Faculdade Livre de Direito, os do Colégio da Bahia (antes Ginásio da Bahia) já
demonstravam fôlego. Por exemplo, o movimento constitucionalista de 1932 teve
repercussões entre os estudantes na Bahia – é conhecida na história local a revolta de
estudantes daquelas instituições, em 22 de agosto daquele ano, que resultou na prisão de toda
estudantada que estava amotinada na Faculdade de Medicina 7. Daí até o final dos anos de
1950, os estudantes baianos participaram ativamente do processo de constituição da UNE, em
1937. Neste ano, também havia sido criada a União dos Estudantes da Bahia (UEB),
agrupando todos os estudantes, inclusive secundaristas, em substituição à Associação dos
Universitários da Bahia (AUB). (cf. SANTOS, 2011). Nesses eventos estavam presentes
como estudantes, Jorge Calmon, como testemunha ocular do 22 de agosto, (depois estudante
de Direito) e Fernando Pinto de Queiroz, como estudante da ala moderada (estudava na
Faculdade de Direito), que compôs a primeira diretoria da UEB, criada em 1937, ao lado,
segundo ele, de “comunistas fichados”, como os irmãos João e Wilson Falcão (da Faculdade
de Medicina).
Na virada dos anos de 1950 para os 60, a questão da educação como direito,
propugnada na Carta de 1947, emergiu na Bahia de modo mais contundente. Jorge Calmon,
na condição de professor da Faculdade de Filosofia da UBA, Pinto Queiroz, exercendo a
advocacia na cidade de Feira de Santana, e Wilson Falcão, como deputado estadual,
defendiam a bandeira de interiorização da modernidade baiana, singularizada na universidade,
enquanto parte essencial do direito à educação em todos os níveis.
Era comum entre as pessoas das camadas dominantes da burguesia baiana, ate o início
dos anos 60, a representação de que, fora da capital, o que existia era apenas uma imensa
região rural, que representava o atraso, o conservadorismo, a resistência à mudança, diferente
da modernidade urbana da capital onde habitavam. Essa representação perpassava também a
instituição universitária, tanto que o pesquisador Rollie E. Poppino (1968), do “Programa de
Pesquisas Sociais do Governo Estadual – Columbia University”, ao estudar Feira de Santana,
em 1951, adverte no Prefácio de seu trabalho sobre a existência de duas Feiras de Santana:
“uma é o município (mais ou menos equivalente ao country dos Estados Unidos) e a outra é a
cidade”. Pois o objetivo do referido “Programa” era estudar a “região rural da Bahia”, posto
para o pesquisador como se não houvesse diferenciações naquele contexto classificado todo
ele como “rural”. A Feira de Santana, cidade, o surpreende, em suas conclusões explica que,
apesar dos problemas estruturais, verificou-se nela: “Em menos de um século e meio [...] uma
combinação feliz de fatores geográficos e humanos, o município saíra da condição de uma
comunidade rural insignificante para as alturas de um grande centro comercial e industrial em
estratégico cruzamento de estradas na Bahia” (p.311). Na época da pesquisa de Poppino, os
sinais dos esforços de modernização no campo educacional, empreendido por Anísio
Teixeira, aparecem em Feira de Santana com a criação do primeiro Colégio Estadual no
município, implantado ao lado da então Escola Normal. A criação desse Colégio foi um
elemento significativo para criação da Associação Feirense dos Estudantes Secundaristas
(AFES), no início dos anos de 1960.
No mesmo ano de 1951 em que o historiador Poppino realizava “entrevistas com
pessoas de Feira de Santana” para complementar as fontes para seu trabalho, aportava na
mesma cidade o jovem médico Geraldo Leite:
Em 3 de julho, cheguei a Feira de Santana. Fiquei encantado com a cidade, a
qual conhecia através das maravilhas descritas por Waldy Pitombo e Joselito
Amorim, dois companheiros de pensão do tempo de estudante. Cheguei na
boléia do caminhão que transportou meus livros, equipamentos e
instrumental necessário ao meu laboratório de patologia clínica.
Fui apresentado ao Dr. Áureo de Oliveira Filho, proprietário do Edifício
Santanópolis, do qual aluguei duas salas para laboratório. Comecei a dar
aulas de Biologia no Colégio Santanópolis e a trabalhar no Posto [estadual]
de
Higiene
[implantado
na
gestão
de
Anísio
Teixeira]
(LEITE, 2007, p.253).
O referido Posto de Higiene corresponderia hoje aos chamados Centros de Saúde, ou
uma espécie de “centro de referência” regional, nele atuavam diversos médicos com os quais
Geraldo Leite manteria contatos próximos e sob sua liderança criaram a seção regional da
Associação Baiana de Medicina (ABM). Também havia o Hospital da Santa Casa “D. Pedro
de Alcântara”, que também recebera auxílio da gestão estadual, naquele período, agregando,
assim, à cidade um número razoável de médicos. O diferencial do jovem médico patologista
era o de que o mesmo havia presenciado a criação da Universidade da Bahia (mediante relato
acima) e, no último ano do curso de medicina vivenciou plenamente a experiência formativa
no, recém inaugurado, Hospital Universitário.
É possível inferir, de acordo com trabalho de investigação efetuado (SANTOS, 2011),
que as estratégias utilizadas por Leite para aproximar a “medicina do interior”, com o centro
formativo – sobretudo o citado Hospital – na pessoa do Reitor Edgard Santos, foram
fundamentais para incrementar um movimento de interiorização da Universidade da Bahia.
Além da estratégia de utilização da ABM, para atrair para a cidade palestras, congressos
médicos, no sentido de garantir o lugar político dos médicos do interior, enquanto território
político de atuação na saúde pública, Geraldo Leite também escreveu artigos no Jornal Folha
do Norte, de Feira de Santana – na época importante meio de comunicação – de onde lançou a
idéia de “Interiorização da medicina” (jornal Folha do Norte, 06/08/1960).
O as condições políticas e sociais que culminaram com o afastamento de Edgard
Santos do cargo de Reitor, em 1961, nos ajudam a entender que a aludida “interiorização” não
fazia parte dos planos daquele reitorado. A conjuntura de mobilizações estudantis, cuja
agenda questionava o projeto cultural da gestão universitária como elitismo, teve como ponto
alto a deflagração de greve em meados de 1960. Para reivindicar melhorias na qualidade do
ensino, ampliação de vagas na universidade baiana, os estudantes forçariam o reitorado a
negociar e a “instituição de um grupo de trabalho” constituiu-se em ponto de negociação para
o final da greve (BRITO, 2008, p.32, in SANTOS e ROSA, 2012).
Na composição desse grupo de trabalho estava Jorge Calmon, que, além de professor,
tivera uma passagem, pela Assembléia Legislativa, como deputado estadual por duas
legislaturas (1947-51 e de 1951-55). Mas, naquela época, era vice-diretor da Faculdade de
Filosofia, jornalista (atuava como redator-chefe do jornal A Tarde). Provavelmente esta
última condição colocaria Jorge Calmon no cenário das lutas de defesa da interiorização da
universidade. Num momento em que a discussão de implantação de universidade no interior
extrapolava os anseios dos médicos interioranos (de interiorizar a medicina), para as
discussões na Assembléia Legislativa de criação de Universidade Rural – sugerido no Plano
de Desenvolvimento de Desenvolvimento Econômico da Bahia (PLANDEB) – isto, no
começo dos anos de 1960. Pelas mãos de Jorge Calmon, que acumulava a experiência de
compor o “grupo de trabalho” de reestruturação da UBA (fruto das exigências estudantis e
com a LDB de 1961, as universidades públicas criaram comissões de reestruturação), foi
elaborada uma proposta concreta de interiorização do ensino superior, sugerindo a criação de
Faculdade de Filosofia para Feira de Santana como ponto inicial para criação de
“Universidade do Interior” – não se defendia a interiorização da UBA, provavelmente ele
próprio deveria ser contra essa idéia. Ou seja, por algum tempo o jornal A Tarde vendeu a
idéia de criação de ensino superior no interior baiano – algo considerado impensável no
contexto cultural da capital baiana naquele período. Para empreender a ação Calmon criou
uma “Fundação” nominada de “Ministro Simões Filho”, patrono e fundador do referido
jornal.
Geraldo Leite assumiu a proposta de “Universidade Rural” de imediato e, junto com
Jorge Calmon, fazia parte da “diretoria” da citada “fundação”. O jornal da cidade de Feira de
Santana, Folha do Norte, trazia ampla cobertura e mobilizava sindicatos, estudantes, políticos,
enfim, grande parte da sociedade feirense. Em nome da “Fundação Simões Filho”, ao lado de
Urcício Santiago, professor da Escola Baiana de Medicina, que também fazia parte da
“diretoria” daquela “Fundação”, Leite participou da implantação dos Comitês de Estudantes e
Operários, em defesa da proclamada “Universidade”. A partir daí alguns intelectuais da
cidade passariam a criar condições na tentativa de consolidar a idéia de implantação de ensino
superior.
O novo Reitor da UBA, Albérico Fraga, que substituiu Edgard Santos cuidou de
implantar, no início de 1962, nas cidades de Feira de Santana e Itabuna, Departamentos dos
Seminários Livres de Música da Universidade da Bahia – ação que tinha o objetivo de
popularizar o setor artístico da instituição e interiorizá-lo e, ao mesmo tempo, aplacar as
críticas dos estudantes8.
A criação desses Departamentos não atenderia exatamente as
ambições interioranas, mas ensejara, em Feira de Santana, a organização dos setores artísticos
locais. Logo depois foram criados a Associação Feirense de Arte (AFA), dirigida por Dival
Pitombo (formado em odontologia, dedicou-se ao magistério e à promoção das artes) e a
Sociedade Cultural e Artística de Feira de Santana (SCAFS), reunindo artistas que
desenvolviam atividades teatrais.
À GUISA DE CONCLUSÃO
A ação comandada por Jorge Calmon desapareceu das páginas do jornal A Tarde, meses após
a mobilização, o que não significava que o debate se havia encerrado. Pois fora significativa
a colheita da breve “Fundação Simões Filho”9. O primeiro fruto resultou na promulgação da
Lei Estadual n 1.802 de 25 de outubro de 1962, deliberando a criação de seis Faculdades de
Filosofia, sendo uma delas prevista para Feira de Santana. Medida que do ponto de vista
institucional veio atender aos interesses do grupo sediado em Feira de Santana – Fernando
Pinto Queiroz, o deputado Wilson Falcão e Geraldo Leite. Ocasião em que outros agentes do
campo político local passariam a atuar com mais veemência. Assim, após as eleições de
outubro de 62, o então novo deputado estadual Áureo de Oliveira Filho, de Feira de Santana,
apresentou à Assembléia Legislativa, em 08 de junho de 1963, Projeto de Lei de autoria dos
deputados Hamilton Cohin e Wilson Falcão, que autorizava o governo do Estado a instalar,
dentro de curto prazo a Faculdade de Filosofia Feira de Santana (Folha do Norte, 15 de junho
de 1963). O segundo resultado e mais significativo foi a organização da luta na cidade de
Feira de Santana a favor da implantação da referida Faculdade de Filosofia.
Assim, foi criada em 1963 a Associação Cultural Filinto Bastos, liderada na cidade por
Fernando Pinto Queiroz, que passou a desenvolver ações efetivas para a implantação do
ensino superior na cidade. Para isso a mesma fora oficialmente registrada, constituída por
sócios – pessoas representativas dos campos: intelectual, religioso, socioeconômico e político
do município. Sobre o constante nos Estatutos, nos diz Queiroz:
[...] mas, de que se verá que o artigo segundo é o que Wilson queria: “a
Associação tem por fim colaborar para a melhoria educacional do
Município, promovendo movimentos de caráter educacional, especialmente
a criação e ampliação de estabelecimentos de ensino médio, técnico e
superior, inclusive a fundação de uma universidade”. Na verdade é aí pela
primeira vez que em Feira propriamente se escreve a intenção de criação de
uma universidade, graças a Wilson Falcão [...]. Esta entidade nos serviu
agora de apoio para prosseguimento de toda campanha pela Faculdade de
Filosofia (pronunciamento de Fernando Pinto em 27 de maio de 1996 ).
De fato, os agentes dessa entidade foram pródigos na busca da concretização do
constante nesse artigo de seus estatutos. Comissões de implantação da Faculdade de Filosofia
foram criadas, entendida como passo inicial para criação de universidade. Primeiro com os
próprios sócios locais tentou-se constituir um fundo financeiro e comprometê-los,
envolvendo-os nas Comissões. Sem resultados, apenas pequenas subvenções vinham através
do deputado Wilson Falcão, a mobilização envolveu estudantes e buscou-se outra alternativa.
Como ainda relata Queiroz:
Então, apresentado por eles [membros do Lions de Feira de Santana] a Paulo
Sarazate, eu fiz gestões, com o apoio deles, para que a Campanha [Nacional
de Educandários Gratuitos] assumisse o compromisso de instalar em Feira
de Santana uma Faculdade de Filosofia. [...], ele iria propor ao Conselho
Nacional da Campanha o patrocínio desta Faculdade de Feira de Santana, e o
Conselho aprovou, e disso nós tivemos notícia. E aí já vamos entrar em
1964, [...], notem bem, porque a coisa vai se expandindo e nós vamos
fazendo com que a comunidade participe do movimento, ofício firmado por
Normando Leão, presidente da AFES [...]. Neste ofício, nós estávamos
pretendendo que Dr. Luiz Rogério, que era o presidente da Campanha em
Salvador, apressasse a vinda a Feira de Santana do grupo da CNEG para que
nós cuidássemos da implantação da nossa Faculdade (Pronunciamento de
Fernando Pinto Queiroz, 1996, op. cit).
Em entrevista ao Jornal da Bahia (20/06/1965), Queiroz reconhece “que a idéia não
estava suficientemente amadurecida” e informava que “adiou-se a execução dos planos”. Mas
completa que a Associação já dispunha de “outra fórmula para encaminhamento da solução
do problema, mais à „moda da casa‟, sem comissões, além de sua própria diretoria e, a ela
ligados, os elementos mais interessados” e, completa: “simplificou-se o trabalho, conquanto
se jogasse maior carga sobre menor número” – sobretudo ele mesmo, Geraldo Leite e Wilson
Falcão.
Importa lembrar que as ações junto ao CNEG ocorreram poucos dias antes do golpe
militar e fora um período conturbado na cidade com a deposição do prefeito Francisco Pinto –
muito embora os agentes envolvidos com a questão do ensino superior fossem afinados com
os do campo político que defendiam e sustentavam a nova ordem no município. Mas, mesmo
nesse período do início da ditadura a Associação Filinto Bastos demonstraria uma capacidade
de mobilização que ultrapassava as demandas daquela conjuntura.
Uma das “fórmulas” da entidade era manter-se constantemente em evidencia,
semanalmente saíam notas nas “colunas sociais” (com destaque as do Diário de Notícias e
Jornal da Bahia, do colunista Antonio José Laranjeiras, jornalista de Feira de Santana). Por
outro lado, envolveu o prefeito eleito em 1966, João Durval Carneiro, que abraçou a proposta
de criação de universidade e a defendeu como plataforma política. Naquela época a cidade de
Feira de Santana ganhava cada vez mais fisionomia de cidade próspera e cosmopolita, as suas
largas ruas tinham sido asfaltadas e outras pavimentadas, o comércio se expandia, bem como
o setor bancário; o campo educacional e o campo cultural da cidade se ampliavam, novos
jornais foram criados. A proposta de modernização que se empreendia naqueles primeiros
anos de ditadura para a Bahia, já incluía a cidade de Feira de Santana com a implantação de
distrito industrial local. Entre as escaramuças da Associação Filinto Bastos, escudadas pelo
prefeito, destaca-se primeiro: a do episódio em que o governo estadual descartou a
possibilidade de criação de Faculdade de Filosofia e a “Faculdade de Formação de
Professores” que a gestão estadual criaria na cidade não teria nenhum vínculo com referida
Associação. Na ocasião, esta entidade conseguiu mobilizar grupos de pressão do município e
levar o governo a alterar a sua proposta para “Faculdade de Educação”, algo que seria mais
compatível para uma futura universidade. A segunda escaramuça também fez alterar os planos
do governo, que antecipou a criação de universidade para Feira de Santana em 1968, quando o
plano estadual a previa para o Sul do Estado.
REFERÊNCIAS
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CALMON, Jorge. “Pedro Calmon e a criação da Universidade da Bahia”. In BOAVENTURA,
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CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Trad. Maria
Manuela Galhardo. 2. ed. Lisboa: Difel, 2002
CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Porto
Alegre: Editora da UFRGS. 2002. p. 60.
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(revisão de estilo feita em 2003). Disponível em:
http://www.fflch.usp.br/sociologia/asag/Formacao_e_crise_da_hegemonia_burguesa_na_Bahi
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LEITE, Geraldo. Reminiscências. Feira de Santana: UEFS, 2007.
MAIO, Marcos Chor. O projeto UNESCO e a agenda das Ciências Sociais no Brasil dos anos
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PIRES, Murilo José de Souza. O Termo Modernização Conservadora: Sua Origem e
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POPPINO, Rollie E. Feira de Santana. Tradução de Arquimedes Pereira Guimarães;
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SANTOS, Ana Fontes dos; ROSA, Dora Leal. Um legado Sobre a formação de Professores:
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SANTOS, Ana Maria Fontes dos. Uma aventura universitária no sertão baiano: da Faculdade
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Faculdade de Educação. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2011.
___________________________ Ensino Superior na Bahia: aspirações universitárias para
Feira de Santana (1950-1960). XIX Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste.
João Pessoas, 5 a 8 de julho de 2009.
SANTOS Heloisa Occhiuze dos. Ideário pedagógico municipalista de Anísio Teixeira Cadernos de Pesquisa, nº 110, p. 105-124, julho/ 2000.
1
Grosso modo, o processo de modernização que viria a ser implantado na Bahia é compreendido enquanto uma
proposta conservadora, que visava alterar o padrão de desenvolvimento econômico, sobretudo com o incremento
da industrialização, mas conservando as tradicionais relações sociais de produção. Outras informações sobre o
conceito de modernização conservadora no Brasil consultar Pires (2009). Acerca do debate sobre essa questão na
Bahia encontra-se em Guimarães (1982/2003).
2
Anísio iniciou sua vida pública de educador a partir do governo Góes Calmon (1924-1928) como Inspetor
Geral do Ensino da Bahia, também ocupou o cargo de Diretor-Geral da Instrução da prefeitura da cidade do Rio
de Janeiro, de 1931 até o início do Estado Novo, a partir de quando se tornou insustentável sua permanência –
ficando afastado da vida pública ate 1946. Descrito por Nunes (2000) como um intelectual de ação, na capital
federal, ele criou uma rede municipal de educação, da escola primária à Universidade, e, segundo a autora, “fez
dela, junto com seus colaboradores, um poderoso campo cultural que interferiu sobre a vida urbana e, ao mesmo
tempo, produziu conhecimento sobre ela” (p.581).
3
Os dados aqui utilizados sobre essa gestão de Anísio Teixeira foram obtidos na biblioteca virtual Anísio
Teixeira: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/livro11/pagina26.htm Visita em janeiro de 2012.
4
Dentre essas “comunidades” pesquisadas estava Feira de Santana, publicada em livro com esse título, em 1968,
de autoria do americano Rollie E. Poppino, para sua tese de doutorado. Publicado, pela Secretaria de Educação e
Cultura da Bahia, na gestão de Luiz Viana Filho.
5
Expressão utilizada por Risério, conforme citação acima, para referir-se ao projeto cultural implantado na
Bahia no período em estudo (p.78).
6
No início da administração de Anísio Teixeira, a Secretaria de Educação e Saúde contava com dois grandes
Departamentos: o de Saúde comandado pelo médico Antônio Simões, mais tarde Secretário de Saúde Pública e
Assistência Social, com o desdobramento da Secretaria; e o Departamento da Educação (desdobrado em duas
Superintendências, a de Ensino Primário e a de Ensino Médio, ligadas diretamente ao gabinete do secretário)
dirigido inicialmente pela Prof.ª Anfrísia Santiago e depois pelo bacharel em direito Milton Tavares.
7
Segundo Jorge Calmon, que estava entre os amotinados, como estudante secundarista do Colégio Antonio
Vieira, que por curiosidade encontrava-se local, foram presos naquele dia entre 400 e 500 estudantes, inclusive
ele (cf. Calmon, Jorge. Memória do 22 de Agosto. In A Tarde, Caderno 2, de 22 de agosto de 1982) .
8
No jornal estudantil “Unidade” (encarte do Jornal da Bahia de 27 de julho de 1962), há uma declaração do
coordenador dos Seminários Livres de Música, o músico Koellreuter, sobre a necessidade de uma reforma
universitária “mais radical” e de “popularização do ensino universitário, principalmente através da interiorização
da Universidade”.
9
Mediante pesquisa no referido jornal (SANTOS, 2011), a divulgação de notícias sobre o assunto durou poucos
meses do primeiro semestre de 1962.
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MENTORES DA INTERIORIZACAO DA UNIVERSIDADE NA BAHIA