1º de julho de 1951 Montevidéu A guerra do Uruguai No histórico estádio Centenário, o maior do Uruguai, o Bangu desafiou a lógica e os 22 mil torcedores do Peñarol. No início dos anos 50, após o “Maracanazo” da Copa do Mundo, em que a seleção uruguaia bateu o Brasil na final por 2 x 1, diante de 200 mil incrédulos torcedores, a rivalidade entre os dois países aumentou absurdamente. Enquanto o Uruguai podia se gabar do bicampeonato, para os brasileiros qualquer confronto contra eles era uma espécie de revanche de 50. Nesse clima, Vasco e Palmeiras estiveram em Montevidéu em abril de 1951. Os vascaínos venceram o Peñarol por 3 x 0. O Palmeiras conseguiu uma vitória por 2 x 1 contra o time amarelo e negro. Em junho, foi a vez de Corinthians e Bangu desembarcarem na capital uruguaia, para participar de um torneio quadrangular, que acabou não ocorrendo, já que os paulistas se opunham a ter seus jogos apitados por árbitros locais. Entretanto, no dia 30 de junho, em caráter amistoso, o Corinthians venceu um combinado uruguaio (formado por jogadores do Cerro, do Central Español e do Danúbio) por 4 a 1. Essa goleada só acirrou a rivalidade entre os dois países para o jogo que ocorreria no dia seguinte: Peñarol x Bangu, no estádio Centenário. Naquele domingo de muito frio, fazendo jus a uma tarde típica de inverno, 22.619 torcedores uruguaios compareceram para ver um duelo inédito na história do futebol. O Peñarol aparecia em campo sem o seu grande capitão Obdúlio Varela, mas com seis jogadores que tinham sido campeões mundiais no Maracanã: Juan González, Washington Ortuño, Alcides Ghiggia, Oscar Miguez, Juan Schiaffino e Ernesto Vidal. O Bangu tinha um único vice-campeão da Copa: o craque Zizinho. A partida começou mal para o Bangu. Logo aos 5 minutos, Ernesto Vidal fez 1 a 0 para o Peñarol. Parecia que os cariocas não iriam suportar a pressão. Mas o nervosismo passou, os comandados de Ondino Viera (coincidentemente um técnico uruguaio no comando dos banguenses) passaram a desenvolver o seu belo jogo de passes e dribles e, aos 40 minutos, Teixeirinha empatou, levando a igualdade de 1 a 1 para o intervalo. O 2º tempo, porém, começou igualzinho ao primeiro. Logo aos 8 minutos, o carrasco do Brasil, Ghiggia, fez 2 a 1. Mais uma vez era preciso correr atrás do marcador, até que Joel conseguisse empatar, aos 17 minutos: 2 a 2. A partir daí, a partida tornou-se mais violenta, e as jogadas ríspidas foram permitidas pelo árbitro Juan Carlos Vicarito, que não expulsou ninguém de campo. Zizinho, bem vigiado, apanhou mais que os outros. E o Bangu, receoso de perder, satisfez-se com o empate, que era um ótimo negócio, frente ao poderio do Peñarol. Uma semana depois, em 8 de julho, a sorte dos brasileiros mudaria e no jogo-desempate, o Peñarol venceria por 2 a 0, em partida em que as maiores lembranças levadas pelos banguenses foram as escoriações nas pernas. Depois disso, quem “vingou” o Bangu foi justamente o América que, no dia 18 de julho, ganhou do Peñarol por 3 a 1, no mesmo estádio Centenário, em amistoso que fazia parte das comemorações de um ano do título mundial da “Celeste” sobre os brasileiros. Um “tiro que saiu pela culatra”. Domingo, 1º de julho de 1951 2x2 Competição: Amistoso Internacional Local: Centenário (Montevidéu) Juiz: Juan Carlos Vicarito Público: 22.619 Bangu: Pedrinho, Rafanelli e Mendonça; Mirim, Pinguela e Djalma; Moacir Bueno, Zizinho, Joel, Teixeirinha e Nívio. T: Ondino Viera. Peñarol: Natero, Unzal e Etchegoyen; Juan Carlos González, George e Ortuño; Ghiggia, Hohberg, Miguez, Schiaffino e Vidal. T: Emérico Hirsch. Gols: No 1º tempo: Vidal (5) e Teixeirinha (40). No 2º tempo: Ghiggia (8) e Joel (17). A frase “Os jogadores se digladiaram, brigaram como feras e o juiz permitiu tudo.” Zizinho, camisa 8 do Bangu, em 1951. Já em território inimigo, o técnico uruguaio Ondino Viera orienta o atacante Teixeirinha, autor do primeiro gol do Bangu. Cartão postal do charmoso Hotel Colón, em Montevidéu, local onde a delegação banguense ficou hospedada durante a rápida excursão internacional. O palacete foi construído em 1909, pelo magnata Leoncio Gandós.