Juan Carlos Cubeiro Leonor Gallardo Código Mourinho Decifrar o êxito do Special One Tradução Ana Maria Pinto da Silva «Mourinho fez ver ao Real Madrid o que significa o poderio e a autoridade.» Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, CF «Tenho muito respeito por Mourinho como treinador, com tudo aquilo que conseguiu, mas nunca será o técnico da minha equipa.» Johan Cruyff, ex-treinador do FC Barcelona Índice Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 A. Liderança real: um treinador que obtém resultados . . . . . . . . 1. Palmarés. Pelos seus títulos o conhecerão . . . . . . . . . . . . . . . 2. Três es são suficientes para o êxito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Esboçar o futuro que se deseja: transformar a estratégia num desafio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4. Equipa, para além dos indivíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5. Energia. Como ser um «mago» da motivação . . . . . . . . . . . . 6. Em conclusão, eficácia e eficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . B. A exibição do coach. Mourinho como treinador-espectáculo. . . 7. Como se forja uma lenda: o Special One . . . . . . . . . . . . . . . . 8. Apresentações oficiais. Um «programa eleitoral» (na língua dos adeptos). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9. As conferências de imprensa: interacções com o grande público, com os meios de comunicação social como intermediários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10. O silêncio da intimidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11. Elegância estudada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12. As provocações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13. Apelar ao inimigo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 21 23 27 33 41 51 69 77 83 91 99 103 109 117 123 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo 14. Como conseguir que a «nossa tribo» nos adore . . . . . . . . . . 141 15. Uma identidade inesquecível. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 C. Do valor ao talento (e não o inverso). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16. Nem resultados nem valorização. O estranho caso do sofredor anónimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17. Valor sem valorização. Capacidade e compromisso, na pessoa desconhecida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18. Sem resultados, com auto-elogio. O fumo cega os nossos olhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19. Grandes resultados, transmitidos com eficácia: Mourinho como talento-estrela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . D. As lições de Mourinho em oito tópicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Motivação interna. Só nós nos «Mou-tivamos» a nós mesmos . . . . . . . . . . . . . . . Orientação com vista a resultados. «Mou-bilizar» as nossas energias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uniformizar critérios. A nossa «Mou-chila» precisa de estar repleta . . . . . . . . . . . . . Resposta surpreendente. O mundo não é dos «Mou-derados». . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Iniciativa total. O «Mou-vimento» é demonstrado em andamento . . . . . . . . Nadar entre tubarões. «Mou-dificar» as nossas atitudes para nos adaptarmos . . . . Humanidade para com os semelhantes. Não esquecer que somos «Mou-rtais» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Orquestrar a sinfonia. Ser um «Mou-delo» para os outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 157 161 165 171 175 177 178 179 181 182 183 185 186 Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 10 Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a Lua toda Brilha, porque alta vive. Fernando Pessoa Odes (1914-1934) de Ricardo Reis Introdução «Um cínico é um homem que conhece o preço de todas as coisas sem lhes conhecer o valor.» Oscar Wilde O talento é uma moeda Está amplamente demonstrado que investir no próprio talento de cada um é a actividade mais rentável que existe. O economista George Psacharopoulos demonstrou que investir em educação gera lucros anuais entre 10% e 25%. Art Rolnick e Rob Grunewald, do Banco da Reserva Federal de Minneapolis, avaliaram o retorno do investimento no desenvolvimento do talento em 16% anuais, o que significa na prática que por cada euro investido obtêm-se oito. Em relação ao desenvolvimento do talento, o Prémio Nobel da Economia James Heckman insistiu na existência de «círculos virtuosos» (aprender cada vez mais) e de «círculos viciosos» (depreciar o talento de forma contínua), assim como no facto de que uma boa parte da desigualdade (salarial, económica, social) provém de diferenças de aprendizagem. Raghuram Rajan, que foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional entre 2003 e 2007 e é autor do livro Linhas de Fractura, assegura que no momento actual de desenvolvimento tecnológico e globalização é impossível atingir um elevado nível de vida sem possuir grandes capacidades. Uma moeda que flutua Existe um enorme paradoxo em relação ao talento. A professora da Universidade de Stanford Carol Dweck, que anda há mais de quatro 13 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo décadas a analisar em que consiste o talento, explica-nos que a maior parte das pessoas tem uma mentalidade fixa nesta questão: «Ou se tem ou não se tem.» Segundo Carol Dweck, «as pessoas com mentalidade fixa acreditam que as suas qualidades básicas, tais como a inteligência ou o talento, são características fixas. Que possuem uma certa quantidade delas, e pronto. Esforçam-se o tempo todo para demonstrar que são inteligentes ou talentosas, que são vencedoras e não perdedoras. Tentam que ninguém lhes chame a atenção para as suas deficiências, e amarguram-se se as suas aptidões não são reconhecidas da maneira que elas pensam que seriam merecedoras». Pelo contrário, as pessoas com mentalidade de crescimento «são as que acreditam que as suas qualidades básicas podem ser cultivadas mediante o esforço e a aprendizagem. Procuram experiências que impliquem desafios, com o objectivo de que as suas aptidões evoluam até um nível superior». A chave é, por conseguinte, considerar o talento a partir de uma mentalidade de superação, de melhoria, de desenvolvimento, de aprendizagem. Nas palavras de Dweck: «As pessoas com uma mentalidade de crescimento são melhores pais, professores, chefes, companheiros e amigos. Acham que as pessoas podem crescer e, portanto, são melhores para estimular o crescimento e a aprendizagem nos outros.» Por que razão se valoriza tão pouco o esforço? Porque menos de 20% da população possui uma autêntica mentalidade de superação; mais de 80% assume totalmente ou em grande parte a mentalidade fixa (também se aplica o Princípio de Pareto de 80-20 em relação ao talento). De novo nas palavras de Carol Dweck: «Quando os pais ou os docentes elogiam a inteligência de uma criança em lugar do seu esforço ou das suas estratégias, estão a ensinar-lhe uma mentalidade fixa.» No Evangelho segundo São Mateus (13:12) podemos ler, como conclusão da parábola dos talentos: «Pois, àquele que tem, ser-lhe-á dado e terá em abundância; mas àquele que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado.» O talento aprecia-se ou deprecia-se, mas nunca se mantém constante. O sociólogo da ciência Robert K. Merton chamou «efeito de Mateus» (devido ao versículo da Bíblia) a este círculo virtuoso ou 14 Código Mourinho vicioso. O professor Jorge Jiménez Rodríguez, da Faculdade de Psicologia da Universidade de Granada, explica o «efeito de Mateus» como «a contribuição de uma maior quantidade de benefícios, tanto materiais (económicos e outros recursos, prémios) como imateriais (privilégios, considerações, confiança, poder, fama), pelo facto de ter o máximo valor num determinado parâmetro que se considera relevante. Situa-se na primeira posição de uma certa classificação ou categoria de âmbito local, regional, nacional ou global. Como consequência de ser classificado como o melhor, resulta o mais beneficiado, supervalorizado e, frequentemente, eclipsa o resto». Por outro lado, «reduzem-se ou anulam-se os benefícios de qualquer tipo às pessoas ou entidades que menos valor possuem de um determinado parâmetro que é considerado como sendo relevante. Em muitos casos criam-se processos de marginalização, porque a consideração destas pessoas ou entidades muda quando se apercebem como estando situadas nos últimos degraus da classificação. Com frequência, observa-se que ficam muito aquém do esperado, considerando os recursos com que contavam no princípio. Num caso extremo, o que menos tem é despojado dos seus pertences, que paradoxalmente são entregues ao que mais tem». Em 1993, a historiadora da ciência Margaret Rossiter inventou a expressão «efeito Matilda» (em honra da activista Matilda J. Gage), como corolário do «efeito de Mateus», para denunciar a situação social das mulheres cientistas que recebem menos crédito e reconhecimento pelo seu trabalho do que os seus congéneres masculinos. Crescer ou decrescer? Você decide. José Mourinho não tem dúvidas de espécie nenhuma. «Mourinho é um treinador próximo e atento. Sempre tenta melhorar e está em cima de nós, corrigindo os erros e incentivando-nos quando fazemos tudo bem.» Esteban Granero médio do Real Madrid, 17-7-2010 15 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo O valor de Mourinho Quanto vale José Mourinho como treinador de futebol de elite? Na realidade, não podemos sabê-lo (com certeza, no mercado alguns donos de clubes da Premier League, da liga russa ou de equipas dos Emiratos Árabes Unidos estariam dispostos a pagar-lhe o que fosse necessário). O que sabemos realmente, de certo modo, é o quanto aufere no Real Madrid. Em Fevereiro de 2011, Pep Guardiola renovou o seu contrato com o FC Barcelona e passou de sete milhões e meio de euros a ganhar dez milhões, igualando o que oficialmente auferia Mourinho como treinador do Real Madrid. No dia 19 de Outubro de 2010, na entrega dos prémios da Associação de Jornalistas de Economia, «escapou» ao presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, que Mourinho recebia quinze milhões de euros por temporada («Quinze milhões, porém brutos», esclareceu), ao que Emilio Botín, presidente do Grupo Santander, que estava ao seu lado, respondeu: «Bolas, recebe mais do que eu!» Mourinho pratica a «doutrina Capello», segundo a qual o treinador deve receber mais do que qualquer jogador do plantel. Deste modo, a demissão terá de ser uma decisão ponderada (por mais difícil que seja) e não fruto do «arroubo momentâneo» do presidente. Fabio Capello recebia como treinador do Real Madrid mais um euro do que o jogador mais valioso, e como seleccionador inglês a bagatela de nove milhões de euros (Vicente del Bosque, que fez de La Roja campeã do mundo, aufere pouco mais de dois milhões). Capello demitiu-se do cargo de treinador da selecção de Inglaterra no dia 8 de Fevereiro de 2012. Com efeito, José Mourinho é o mais bem pago dos treinadores e o executivo com o salário mais elevado de toda a Espanha. E pensar que, quando chegou a Espanha pela primeira vez, recebia sessenta euros (dez mil pesetas) por mês! Joan Gaspart, vice-presidente principal do FC Barcelona naquela época, recorda que ele «ficou hospedado de graça num quarto de um hotel meu, o Arenas, porque mal tinha dinheiro para viver. Tínhamos-lhe oferecido dez mil pesetas por mês; mais tarde, 16 Código Mourinho quando se demonstrou que era algo mais do que um mero tradutor, aumentámos-lhe ligeiramente o salário». Em apenas quinze anos, da miséria ao estrelato. De acordo com a Lainformación.com, o ano em que o treinador português foi contratado pelo Real Madrid, os executivos mais bem pagos eram: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Alfredo Sáenz (Santander): 10,23 milhões de euros. Ignacio Sánchez Galán (Iberdrola): 8,2 milhões de euros. César Alierta (Telefónica): 6,96 milhões de euros. Julio Linares (Telefónica): 6,96 milhões de euros. José María Álvarez-Pallete (Telefónica): 6,96 milhões de euros. Francisco Luzón (Santander): 5,81 milhões de euros. Francisco González (BBVA): 5,3 milhões de euros. Emilio Botín (Santander): 3,99 milhões de euros. José Ignacio Goirigolzarri (ex-BBVA): 3,99 milhões de euros. Ana Patrícia Botín (Banesto): 3,64 milhões de euros. Segundo o diário El Economista (22 de Março de 2012), os executivos mais bem pagos de Espanha eram Pablo Isla (20,3 milhões de euros), Alfredo Sáenz (11,6), José Ignacio Sánchez Galán (9,5), Juan Luis Cebrián (8,2), César Alierta (8,2) e Antonio Brufau (7,08). Longe de Leo Messi (que aufere cerca de 33 por ano) e como é evidente do que aufere em dividendos Amancio Ortega, a quinta fortuna do mundo (atrás de Carlos Slim, Bill Gates, Warren Buffett e Bernard Arnault): 665,2 milhões de euros. «Para mim o jogador de que mais gosto é Leo Messi. Sou fã de Messi.» Emilio Botín, presidente do Banco Santander 17 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo A moeda mais cara, o Double Eagle O talento é uma moeda; no entanto, existem moedas e moedas. A moeda por que mais se pagou num leilão público é o Double Eagle de 1933, comprada por 7,59 milhões de dólares. O Double Eagle de ouro, moeda desenhada por Augustus Saint-Gaudens, esteve em circulação desde 1907 até 1932. Devido à crise financeira, em 1933 o presidente Franklin D. Roosevelt ordenou a retirada do padrão-ouro. Todos os proprietários de moedas de ouro deviam entregá-las antes do dia 28 de Abril ao Banco da Reserva Federal (a sua posse passou a ser ilegal). Das 445 500 moedas cunhadas em 1933, todas deveriam ter sido destruídas para fazer lingotes, menos duas que ficaram na Colecção Numismática Nacional do Museu Smithsonian. No entanto, por alturas de 1952, os serviços secretos já haviam confiscado oito desses Double Eagles. Um joalheiro de Filadélfia chamado Israel Sweet chegou a ter na sua posse dezanove dessas moedas e vendeu pelo menos nove a coleccionadores particulares. O rei Farouk do Egipto comprou uma; foi deposto num golpe de Estado em 1954 e o governo dos Estados Unidos reclamou a moeda. Não obstante, o novo governo egípcio declarou que esta se havia perdido. A moeda reapareceu quarenta anos mais tarde, numa operação da CIA contra um traficante britânico no hotel Waldorf Astoria de Nova Iorque. Foi enviada então para ser custodiada nas Torres Gémeas, mas em Julho de 2001, dois meses antes do atentado terrorista do 11 de Setembro, foi transladada, sem razão aparente, para Fort Knox. No dia 30 de Julho de 2002, na sala de leilões Sotheby’s, o Double Eagle de 1933 foi vendido a um comprador anónimo por 7 590 020 dólares, o dobro do anterior recorde alcançado por uma moeda. Em 2004 apareceram mais outras dez moedas, que se encontram actualmente sob custódia em Fort Knox, ao mesmo tempo que perdura a batalha legal entre o governo dos Estados Unidos e o herdeiro de Israel Sweet. No golfe, um double eagle (também chamado albatroz) consiste em completar o buraco com 3 pancadas abaixo do par (por exemplo, em 2 pancadas se o par for 5, ou em 1 se o par for 4). É mais difícil do que 18 Código Mourinho concluir o «buraco em uma pancada» (ás): a probabilidade é de um entre seis milhões. Num ano, não se fazem nem seis albatrozes em todo o circuito PGA. Mourinho é não só um talento: é um double eagle. Segundo a Escola de Marketing IPAM (da localidade portuguesa de Aveiro), a reputação de José Mourinho é de 74 pontos sobre 100, ao passo que a de Pep Guardiola é de 56, o que se traduz em cerca de mais cinco milhões de euros anuais em valor de mercado. «Esta vantagem de José Mourinho explica-se pelo estilo, pelas mensagens e pelos discursos que utiliza normalmente nas suas conferências de imprensa», explica Daniel Sá, autor do estudo. Mourinho recebe, para além dos treze milhões de euros líquidos, cerca de cinco milhões por ano em direitos de imagem. Aos seus dez milhões, Guardiola acrescenta mais três em direitos de imagem. Verifica-se um empate técnico no que respeita a triunfos desportivos (65-62 a favor do português), uma percentagem um pouco mais elevada de Guardiola em vitórias (72%-68%), mas José Mourinho apresenta cerca de quinhentas partidas oficiais disputadas na qualidade de treinador de elite, face a duzentas de Pep Guardiola. 19 A LIDERANÇA REAL: UM TREINADOR QUE OBTÉM RESULTADOS «A liderança e a aprendizagem são mutuamente indispensáveis.» John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), ex-presidente dos Estados Unidos 1 Palmarés. Pelos seus títulos o conhecerão «Parece-me que o Real Madrid não pode ter um treinador sem palmarés. Agora há um treinador com duas vitórias na Champions, com seis campeonatos conquistados em países diferentes, com taças, com 17 títulos, e gera tantas dúvidas que, se chegar aqui um pobre treinador sem títulos, por melhor que seja, por mais fenomenal que seja, matam-no.» José Mourinho De acordo com a Federação Internacional de História e Estatística de Futebol (IFFHS, pelas suas siglas em inglês), José Mourinho destacou-se como sendo o maior treinador de clubes da última década. Ganhou o prémio de melhor treinador em 2004 (como coach do Futebol Clube do Porto, com Arsène Wenger, treinador do Arsenal, como finalista) e em 2005 (dirigindo o Chelsea, à frente de Rafa Benítez, na altura técnico do Liverpool). Foi finalista em 2006, atrás de Frank Rijkaard, que treinava o Barcelona. Já no Real Madrid, venceu em 2010 o título de melhor treinador (devido aos seus êxitos no Inter de Milão), com Guardiola como finalista. Em 2011 foi Pep Guardiola quem obteve o título, e Mourinho ficou em segundo lugar. Nos últimos dez anos, desde que se encarregou e tomou as rédeas de uma equipa da elite internacional, José Mário dos Santos Mourinho Félix venceu seis títulos com o FC Porto (uma Champions League, uma Taça da UEFA, duas Ligas de Portugal, uma Taça de Portugal, uma Supertaça de Portugal), seis títulos com o Chelsea (duas Ligas de Inglaterra, uma Taça de Inglaterra, uma Supertaça de Inglaterra, duas Taças da Liga), cinco títulos com o Inter de Milão (uma Champions League, duas Ligas de Itália, uma Taça de Itália, uma Supertaça de Itália) e até 23 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo ao momento dois títulos com o Real Madrid (uma Taça do Rei, uma Liga). Um total de dezanove troféus em quatro países. Quem supera esse palmarés? Sir Alex Ferguson, considerado o melhor treinador de futebol da história segundo a IFFHS, que nos últimos trinta anos conseguiu um campeonato nacional da Escócia com o St. Mirren, oito títulos nacionais e dois internacionais com o Aberdeen, e 31 títulos nacionais (doze Premier League, cinco FA Cup, dez Community Shield, quatro Football League Cup) e 6 internacionais (duas Champions, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças, uma Supertaça, uma Intercontinental e uma Mundial de Clubes). Um total de 48 títulos. Alex Ferguson é, não por acaso, o melhor amigo de José Mourinho entre os treinadores. Também possuem melhor ou igual palmarés que Mourinho: • Sven-Göran Eriksson: vinte e dois títulos (duas Ligas e duas Taças suecas, com o Göteborg; três Ligas portuguesas, uma Taça e uma Supertaça de Portugal, com o Benfica; uma Série A, uma Supertaça e quatro Taças de Itália com a Roma, a Sampdoria e a Lazio; uma Taça da UEFA, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças e uma Supertaça da Europa). • Ottmar Hitzfeld: vinte títulos (duas Ligas e três Taças suíças; sete Bundesliga, três Taças e uma Supertaça da Alemanha, duas Champions e duas Intercontinentais, com o Borussia de Dortmund e o Bayern de Munique). • Giuseppe Trapattoni: sete Série A (seis com a Juventus, uma com o Inter), duas Taças de Itália, uma Supertaça de Itália, uma Bundesliga (com o Bayern), uma Liga portuguesa (com o Benfica), uma Bundesliga da Áustria (com o Salzburgo), uma Champions, uma Intercontinental, uma Taça dos Clubes Vencedores de Taças, uma Supertaça, três Taças da UEFA. No total, vinte títulos nacionais e internacionais. Acontece que Trapattoni nasceu em 1939, Ferguson em 1941, Eriksson em 1948 e Hitzfeld em 1949, sendo portanto entre quinze e vinte 24 Código Mourinho e cinco anos mais velhos do que José Mourinho. O treinador português é da geração de Pep Guardiola, André Villas-Boas, Unai Emery, Rafa Benítez… Guardiola possui treze títulos e Benítez nove. Uma questão de orgulho Num anúncio publicitário de 2011 da entidade financeira portuguesa Millenium BCP (www.youtube.com/watch?v=rKvh_ILnbs4), Mourinho passeia-se por um mapa da Europa, desde Portugal até ao Leste, e comenta: «Ganhei duas Champions League, dois campeonatos nacionais de Portugal, a Taça do Rei em Espanha, duas Premier League e duas Ligas de Itália. Sou o centro de todas as críticas, de todos os comentários. De toda a atenção. Sou o melhor treinador do mundo… e sou português. Acredito no meu país, apesar das dificuldades actuais. Acredito nos nossos profissionais, porque somos gente preparada, com talento e determinação. No Millenium acreditamos que o futuro pertence a todos aqueles com paixão. Sinto-me orgulhoso de ser português. Mostra o teu orgulho também.» «A economia de Portugal é como Mourinho, mas ao contrário: falta-lhe carácter.» Federico Jiménez Losantos, jornalista radiofónico «Onde há uma empresa de êxito, há sempre alguém que tomou uma decisão corajosa.» Peter Drucker, pai da gestão empresarial «Os resultados abonam em favor de Mourinho.» Xavi Hernández, médio do FC Barcelona, 9-9-2011 25 Juan Carlos Cubeiro • Leonor Gallardo Onde se detém a ambição? José Mourinho tem energia para dar e vender. No dia 11 de Abril de 2011 declarou aos meios de comunicação social acerca da Champions, antes do desafio dos quartos-de-final contra o Tottenham (depois esperá-lo-ia o Barcelona): «Uma coisa é ganhar três vezes com o mesmo clube, e outra muito distinta é ganhar em três ocasiões com equipas de diferentes países e em períodos isolados. É evidente que gostaria de consegui-lo, mas não quero ficar obcecado com isso.» Ganhar a décima Taça da Europa do Real Madrid? Ganhar uma quarta Champions com uma das grandes equipas britânicas? Ganhar o Campeonato do Mundo como seleccionador do seu país, Portugal? A sua ambição não se detém. Por isso, insiste: «Adoro fazer as coisas bem feitas e fazer as pessoas felizes. Ganhar a Champions League é algo que causa um grande impacte nos adeptos. Antes do final da minha carreira vou tentar vencê-la, pelo menos, mais uma vez, mas sem deixar que isso se transforme numa obsessão.» Força, vigor, mentalidade e ambição são precisamente as armas de que José Mourinho dispõe para conseguir obter aquilo que se propõe. «Age como um pensador. Pensa como um homem de acção.» Thomas Mann (1875-1955), escritor alemão 26