UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” COMO A PSICOMOTRICIDADE PODE FACILITAR A APRENDIZAGEM DO JIU-JITSU POR CRIANÇAS ENTRE DOIS ANOS E MEIO E QUATRO ANOS DE IDADE? ANDRÉ CARVALHO PINTO ORIENTADORA Mª. DINA LÚCIA CHAVES ROCHA Rio de Janeiro 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” COMO A PSICOMOTRICIDADE PODE FACILITAR A APRENDIZAGEM DO JIU-JITSU POR CRIANÇAS ENTRE DOIS ANOS E MEIO E QUATRO ANOS DE IDADE? Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por: ANDRÉ CARVALHO PINTO Rio de Janeiro 2010 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me capacitar em todas as minhas vitórias. Agradeço a Professora Helena Daniel, que através do Colégio MOPI me impulsionou em direção a novos horizontes, ao Grande Mestre Francisco Mansor por me transmitir, ao longo de 20 anos de convivência, as mais ricas experiências psicomotoras e a todos os Professores que tornaram o curso de Pós-Graduação em Psicomotricidade da Universidade Candido Mendes agravável e muito proveitoso. 4 DEDICATÓRIA Este trabalho é dedicado aos meus filhos, Kayla e Korey e a todos os meus alunos, por serem os melhores professores com quem um educador pode aprender. 5 RESUMO O que se pretende com este trabalho é tornar notória a riqueza psicomotora do Jiu-Jitsu e atrelar valores entre a prática e a ciências na tentativa de se esclarecer condutas que dêem aos profissionais de Jiu-Jitsu condições de melhorar suas aulas, tornando-as adequadas às necessidades de seus alunos, respeitando suas individualidades de acordo com sua faixa etária e grau de desenvolvimento, tendo como proposta principal atender crianças entre 2 anos e meio e 4 anos de idade, preparando-os em suas bases psicomotoras para a prática do Jiu-Jitsu. 6 METODOLOGIA O presente trabalho tem o compromisso de pesquisar, investigar, verificar, comparar e demonstrar a importância da Psicomotricidade, como facilitadora, na aprendizagem do jiu-jitsu. Esta pesquisa se desenvolveu de uma forma, não apenas baseada na literatura encontrada, mas também, tentando transmitir ao leitor todo sentimento, experiência e vivência do Pesquisador com o jiu-jitsu, nos mais de 20 anos de convivência com a prática do jiu-jitsu, dentro e fora da Academia Kioto. Entre os autores pesquisados, estão: Oliveira, Mansor, Machado, Nunes, entre outros, pois demonstraram profundo conhecimento dos efeitos que psicomotricidade exerce sobre o comportamento humano não só sobre os aspectos das atividades corporais, mas cognitivas e afetivas integrando um ser biofisicopsicoemocional e sociohistórico. Foram realizadas entrevistas, com o grande Mestre Mansor e conversas não formais com o Grande Mestre Hélio Gracie, quando vivo. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 A PSICOMOTRICIDADE CAPÍTULO 2 O JIU-JITSU CAPÍTULO 3 A PSICOMOTRICIDADE DO JIU-JITSU CAPÍTULO 4 ATIVIDADES PSICOMOTORAS PARA DESENVOLVER O APRENDIZADO DO JIU-JITSU EM CRIANÇAS ENTRE 2 ANOS E MEIO E 4 ANOS. CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ÍNDICE 8 INTRODUÇÃO No decorrer de mais de cem anos, estudos vêm sendo elaborados e consequentemente vão chegando as mais variadas conclusões, que em alguns momentos se completam e em outros divergem. Estas pesquisas têm em comum buscar respostas sobre o funcionamento dos mecanismos da psicomotricidade, como estes podem ou devem ser trabalhados para a produção de resultados cada vez melhores na sua aplicação no processo educativo, na reeducação psicomotora ou ainda para o acompanhamento ou monitoramento das fases de desenvolvimento. É notório e tradicionalmente relevante que a prática desportiva contribua para o desenvolvimento psicomotor da criança, principalmente quando se leva em conta a necessidade da realização de uma infinidade de movimentos, específicos ou não, que são exigidos durante o transcorrer de tais atividades. Contudo, que esporte escolher? Com que idade se deve introduzir a criança à prática desportiva? E como esta atividade deve ser apresentada de forma a atingir não só as suas expectativas, mas também as suas necessidades psicomotoras? Sabe-se que as artes marciais, e em particular o Jiu-Jitsu, em consequência das exigências motoras relacionadas às suas técnicas e movimentos diferenciados promovem vantagens ao desenvolvimento psicomotor daqueles que o praticam. No Brasil, esta modalidade vem sendo praticada desde o inicio do século 20, mas só foi introduzida oficialmente ao publico infantil em 1965, pelo então professor Francisco Mansor considerado por muitos, na época, um “louco” por seu feito. Ainda se discute muito a idade mínima recomendada para o início de sua prática dada complexidade e especialização de seus movimentos, ou ainda pelas dificuldades apresentadas, pelos profissionais da área, em alcançar as necessidades de crianças com menos de 4 anos. Por isso, um olhar mais 9 atento pretende unir os conhecimentos e as ferramentas da Psicomotricidade e a extraordinária riqueza de movimentos do Jiu-Jitsu permitindo assim, que crianças a partir dos 2 anos e meio possam ter seus primeiros contatos com os benefícios desta arte. 10 CAPÍTULO 1 PSICOMOTRICIDADE Define-se como psicomotricidade a ciência que estuda os movimentos humanos a partir de suas projeções psíquicas, ou ainda como a ciência que estuda a relação entre os pensamentos e os movimentos humanos. Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade – SBP (1999), “A psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas”. 1.1 O que é Psicomotricidade? O termo mencionado por Dupré na primeira década do século XX, pretende tornar, ainda mais evidente, a impossibilidade de se estudar ou de se avaliar os movimentos humanos separando-os dos atos cognitivos, quer seja como estimulo, quer seja como resposta, principalmente ao se constatar uma estreita relação entre as anomalias psicológicas e as anomalias motrizes denominadas por Dupré como “debilidade motriz”. 1.2 Objetivos da Psicomotricidade A psicomotricidade não se limita, a um simples olhar avaliador sobre os processos de aprendizagem, ou na simples busca pela harmonização entre o sentir e o fazer. Muito, além disso, sob os olhares atentos dos mais conceituados estudiosos, esta ciência vem evoluindo através do tempo e transpondo os continentes em busca de criar e recriar instrumentos que atuem como agentes facilitadores do desenvolvimento em sua essência. 11 Aristóteles já possuía um pensamento psicomotor, ao defender a pratica da ginástica para preparar o corpo e o espírito bem como a escolha da pratica adequada ao indivíduo, afim de que esta lhe proporcionasse melhores resultados. Harrow (1972) observa os desafios da vida primitiva e sinaliza que a luta pela sobrevivência esta ligada ao desenvolvimento motor, através das necessidades evidentes nas atividades básicas como caça, pesca, colheita e até autodefesa. Hoje o homem ainda necessita dessas habilidades, embora tenha se aperfeiçoado, em função de melhor se adaptar ao meio em que vive, buscando um melhor domínio corporal, boa percepção áudio-visual, orientação espaço-temporal, percepção de forma, tamanho, número, coordenação fina, global, equilíbrio e outras faculdades. 1.3 Áreas de Atuação da Psicomotricidade 1.3.1 Estimulação Psicomotora A estimulação psicomotora segundo Bueno (1998, p. 83): É o programa que envolve contribuições para o desenvolvimento harmonioso da criança no começo de sua vida, caracterizando-se por atividades que se preocupam e vão ao encontro das condições que o individuo apresenta acima de tudo na sua capacidade maturacional, procurando despertar o corpo e a afetividade por meio de movimentos e jogos e buscando a harmonia constante. Estimulação quer dizer despertar, desabrochar o movimento. Dirigir-se prioritariamente a recém-natos e pré-escolares. Neste momento, tudo o que se passa ao redor da criança é percebido por ela e influenciará diretamente na forma como tais estímulos serão absorvidos e principalmente como serão interpretados, fazendo parte de suas atitudes e na formação de seu caráter e personalidade. Piaget (1987) faz menção sobre a importância de se identificar e de se acompanhar as fases tanto do desenvolvimento motor quanto cognitivo, 12 frente à integralidade entre estas, afim de que se possam perceber suas recíprocas influências. Piaget (apud Oliveira, 1997, p.31) menciona que o desenvolvimento mental, se constrói paulatinamente, passo a passo, “É uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior”. Este equilíbrio para Piaget (op. cit.) significa “[...] uma resposta do sujeito frente às perturbações exteriores ou interiores”. Os desafios do meio podem acarretar perturbações e provocar um desequilíbrio. Em resposta, o individuo vai procurar novas formas de equilíbrio no sentido de maior adaptação ao meio e com isso atinge um maior desenvolvimento. O desafio então é o estimulo que provoca a necessidade da adaptação. 1.3.2 Educação Psicomotora O ser humano esta apto a se desenvolver e a aprender a partir de sua concepção até o momento de sua morte. Por meio das percepções vivenciadas, sejam estas direcionadas ou não, especializadas, cotidianas, condicionadas, arbitrarias as suas vontades ou ainda que por vontade própria. A humanidade vem sendo educada a se adaptar ao meio em que vive e isso ocorre a todo instante. Conforme Bueno (1998, p. 84) “A educação psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas e especificas conforme o desenvolvimento geral de cada individuo”. De acordo com Le Boulch (1982, p. 24), diz: A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base na escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados escolares; leva a criança a tomar a consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir a coordenação de seus movimentos. 13 Vayer (apude Beuno, 1998, p. 84) coloca que. “Do ponto de vista educativo, o papel e o lugar da educação psicomotora na educação geral corresponderá, naturalmente, as diferentes etapas de desenvolvimento da criança”. Lapierre (apude Bueno, 1998, p.84) relata que a educação psicomotora “É uma ação psicopedagógica que utiliza os meios da educação física, com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento do indivíduo”. 1.3.3 Reeducação Psicomotora Quando indivíduos sofrem com perturbações ou distúrbios psicomotores, entra em ação a reeducação psicomotora. Esta tem como objetivo retomar as vivências anteriores, identificando e recuperando suas falhas. A atribuição da reeducação psicomotora está contida nas mais diversas áreas profissionais: pedagogia, educação física, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia educacional, psicologia e psicomotricistas entre outros. De Fontaine ( in Bueno,1998, p.85) diz: A reeducação psicomotora embasa sua eficiência no fato de que se remonta às origens, aos mecanismos de base que estão na origem da vida mental, controle gestual e do pensamento, controle das reações tônico-emocionais, equilíbrio, fixação na atenção, justa preensão do tempo e do espaço. 1.3.4 Terapia Psicomotora A diferença entre terapia e reeducação psicomotora esta no enfoque do problema e nos ambientes em que estas são realizadas. Segundo Bueno (1998, pg. 85). A terapia psicomotora envolve crianças com quadro de hipercinese associado a outras dificuldades do tipo: 14 agressividade acentuada, punções motoras incontroladas, deficiências neurológicas, dificuldades de relacionamento, transtornos psicomotores associados com transtornos de personalidade e que por isso mesmo deve ser desenvolvida em centros médicos psicopedagógicos, em hospitais psiquiátricos, em clinicas terapêuticas, ou estabelecimentos especializados em psicomotricidade. Além disso, é essencial que a qualidade do relacionamento corporal e da comunicação afetiva entre terapeuta e paciente seja ritmada de acordo com o “time” daquele que esta sendo tratado. 1.4 Psicomotricidade Funcional São áreas da psicomotricidade funcional, como: esquema corporal; lateralidade; equilíbrio; coordenação motora global; coordenação motora fina; estruturação espacial; estruturação temporal, ritmo. Para um melhor entendimento, serão citados alguns autores e suas compreensões sobre cada área supracitada. Segundo Oliveira (1997, p. 47) o conceito de esquema corporal se traduz na idéia de que “O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. [...] Ela passa a distingui-lo em relação aos objetos”. Percebe-se a importância de se conhecer o próprio corpo, e daí partir para novas descobertas a fim de relacionar este corpo com o que se passa ao seu redor, quando observamos o que dizem Machado e Nines (2010, p. 30). “É de fundamental importância que se estimule o reconhecimento do corpo da criança, pois sem o desenvolvimento dessa função psicomotora, provavelmente as outras que se seguirão ficarão comprometidas”. Quanto à lateralidade, se sabe que todos nós possuímos um lado do corpo que se destaca em relação ao outro quando precisamos realizar alguma atividade corporal. Este lado é chamado de dominante e chamamos de 15 destros as pessoas que utilizam seu lado direito e de canhotos os que se utiliza do lado esquerdo. É sabido, no entanto, que mesmo em se tratando de um atributo neurológico desenvolvido durante nossa formação intra-uterina, muitas pessoas acabam sendo obrigadas a desenvolverem seu lado direito mesmo sendo canhotas, por questões de crendice e tabus. O equilíbrio segundo Machado e Nines (2010, p. 31) “É um tipo de resposta acionada para contrapor-se às forças que tendem a gerar o desequilíbrio causado por toda e qualquer atividade motora realizada”. Ainda conforme Machado e Nines (2010), existem dois tipos de equilíbrio, o equilíbrio estático que ocorre, por exemplo, quando precisamos nos manter em equilíbrio ao andarmos de skate ou surfarmos, e o equilíbrio dinâmico que ocorre durante a marcha humana ou ao salto em distancia. Mesmo ao estarmos em pé e imóveis o corpo busca uma tentativa de equilíbrio constante em relação às forças da gravidade. A coordenação motora global é tida por Almeida (2006, p. 43), como “O trabalho que vai apurar os movimentos dos membros superiores e inferiores”. Na verdade esta relacionada às diversas atividades do nosso cotidiano e a outras áreas da psicomotricidade funcional já mencionadas, e as que ainda serão discutidas neste capitulo. Tanto as atividades mais simples como andar, sentar-se e levantarse, levar um copo com água à boca ou vestir e tirar uma camisa fechada, assim também as mais complexas como dirigir um carro mecânico, tocar piano ou executar um salto triplo são ações neuromusculares que requerem uma combinação de varias áreas psicomotoras. Segundo Oliveira (2000, p. 42), “Uma criança desde cedo pratica atividades que lhes propiciam certa coordenação global de seus movimentos”. De fato quanto mais natural e de fácil execução for um movimento, menor serão o esforço e consequentemente o dispêndio de energia para a realização 16 do mesmo. Logo a destreza com que este seja realizado pode interferir em seu resultado final. Já a coordenação motora fina requer mais destreza e habilidade, principalmente a manual, sendo as mãos as principais ferramentas utilizadas por nós seres humanos para a realização das mais variadas tarefas cotidianas. Sabe-se ainda, a importância da Educação Física Escolar no auxílio do desenvolvimento desta coordenação, haja vista que Machado e Nines (2010, p. 33), revelam “Mudanças consideráveis no gestual motor fino da criança, auxiliando no desenvolvimento da escrita”. Em Almeida (2006, p. 49), “Esta coordenação diz respeito aos trabalhos mais finos, aqueles que podem ser executados com o auxilio das mãos e dedos, especificamente aqueles com importância entre olhos e mãos”. A estruturação espacial é aquela em que, segundo Meur e Staes (apud Machado e Nines 2010, pg. 33), “A criança deve conhecer o espaço imediato em que vive e nele se movimentar sem esbarrar nos móveis, ir sozinho de um lugar para o outro”. Segundo Oliveira (2000, p. 74), A estruturação espacial é essencial para que vivamos em sociedade, É através do espaço e das relações espaciais que nos situamos no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações entra as coisas, em que fazemos observações, comparando-as, vendo as semelhanças e diferenças entre elas. Nesta comparação entre os objetos constatamos as características comuns a eles ( e as não comuns também). Através de um verdadeiro trabalho mental, selecionamos, comparamos os diferentes objetos, extraímos, agrupamos, classificamos seus fatores comuns e chegamos aos conceitos destes objetos e as categorizações. Quando se fala em estruturação temporal, Oliveira (2000, p. 85), diz que: “As noções de corpo, espaço e tempo têm que estar intimamente ligadas se quisermos entender o movimento humano. O corpo coordena-se, movimenta-se continuamente 17 dentro de um espaço determinado, em função do tempo, em relação a um sistema de referência”. É possível que se analise o funcionamento da estruturação temporal de uma pessoa quando esta, por exemplo, narra uma história. A organização dos fatos, o nível de eloqüência e do ritmo da fala na coordenação entre a fala e os gestos. No entanto para se afirmar que alguém tem um distúrbio em sua estrutura temporal, bem como de quaisquer uma das outras coordenações já mencionadas neste trabalho é preciso que sejam realizados testes psicomotores específicos. Quanto ao ritmo, este estará sempre presente em qualquer atividade motora, ainda que indiretamente, e quando solicitado como ação motora principal ditará o “andamento” do evento estando diretamente relacionado com o tempo e com o espaço. De acordo com Machado e Nines (2010, pg. 34 apude Conceição 2003), ritmo “é a organização constante e periódica de um ato motor. É forma de se deslocar no espaço obedecendo a uma determinada seqüência de sons ou musicas. Para ter ritmo é preciso ter organização espacial”. 1.5 Psicomotricidade Relacional Como o próprio termo sugere a psicomotricidade relacional esta baseada nas relações entre os indivíduos, ou seja, nas trocas de informações geradas por suas vivencias práticas que vão sendo passadas reciprocamente entre adultos e crianças e entre as próprias crianças. Conforme Machado e Nines (2010, pg. 28), “A brincadeira faz parte do cotidiano da criança. Com isso esta atuação relacional utiliza-se do brincar como recurso motivador”. É evidente então que a brincadeira se tornou uma ferramenta indispensável para o “estimulo da exteriorização corporal” daquilo que se esta aprendendo ou desenvolvendo. 18 Para Lapierre (apude, Machado e Nines 2010, pg. 28) a base da psicomotricidade relacional consiste em: Criar um espaço de liberdade propicia aos jogos e brincadeiras. O objetivo é fazer a criança manifestar seus conflitos profundos, vivê-los simbolicamente. No âmbito educativo, esse tipo de atuação servira de precaução contra o surgimento de distúrbios emocionais, motores e de comunicação que dificultem a aprendizagem. Para Lapierre (1984), O ser que sente, age e reage diante dos acontecimentos a sua volta é o reflexo de sua construção psicomotoras a partir de suas experiências, aprendizagens a desenvolvimentos adquiridas nas diferentes fases de sua vida. Em suma, pode-se refletir sobre a importância da psicomotricidade relacional acontecer de forma gradual e natural, mas para que suas contribuições sejam, realmente, atuantes e facilitadoras para o desenvolvimento geral da criança, é preciso um mediador atento e ativo quanto às necessidades eminentes durante a contextualização da aprendizagem e ainda que estas ações sejam continuadas em casa pela família. 19 CAPÍTULO 2 O JIU-JITSU 2.1 História do Jiu-Jitsu De acordo com o site da Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu, esta modalidade que traduzida quer dizer arte suave foi criada ao norte da Índia a algumas milhas acima de Benares em 2.500 a.C. quando então nascia o príncipe Sidhartha Gautama (Buda). Em virtude da necessidade de se ausentarem dos monastérios, tanto para o comércio quanto para a disseminação da religião, os monges eram constantemente abordados por salteadores que usavam de violência física para tomar seus pertences e até mesmo matá-los. Com sua essência, baseada em conhecimentos sobre o corpo humano e princípios tais como: equilíbrio, momento de força, sistemas de alavancas, inércia etc., o Jiu-Jitsu surgiu como o mais completo sistema de defesa pessoal do mundo, possuindo naquela época 113 estilos, dos quais somente 64 são conhecidos em nossos dias. 2.1.1 Jiu-jitsu no Brasil No Brasil, esta arte marcial foi introduzida no início do século XX por Mituio Maeda (Conde de Koma), e difundida pelos irmãos Gracie, em especial pelo Grande Mestre Hélio Gracie. Contado pelo próprio Mestre Hélio Gracie, sua primeira façanha em relação ao jiu-jitsu foi aos 12 anos de idade quando surpreendeu a todos quando decidiu dar aula a um aluno de seu irmão mais velho, Mestre Carlos Gracie, que se atrasou para o inicio da mesma e ao chegar foi comunicado 20 pelo então aluno, que dali por diante este só faria aulas com seu irmão mais novo. Em depoimentos a revistas e canais esportivos de televisão Hélio Gracie contou que se considerava um “papagaio”, ou seja, somente imitava o que via seus irmãos fazendo, mas por se tratar de um garoto doente e frágil, de pouca força física e nenhum preparo atlético teve que adaptar os movimentos da luta para que os pudesse realizar com êxito. Tamanha foi a surpresa, quando se observou que tais adaptações transformaram o Jiu-Jitsu que tradicionalmente exigia muito das qualidades físicas em uma arte marcial que pudesse ser praticada por qualquer pessoa e mais, se tornou mundialmente conhecido como Jiu-Jitsu brasileiro. Hoje, é um esporte muito praticado pelos brasileiros que detêm a hegemonia mundial, tanto no âmbito esportivo quanto profissional e educacional. 2.2 O Grande Mestre Francisco José Mansor Em seu livro, A BÌBLIA DO BRAZILIAN JIU JITSU editado em 2006, O Grande Mestre Francisco Mansor relata fatos conhecidos e particularidades que transcorreram a história do jiu-jitsu no Brasil. A grande maioria desses eventos foi presenciada pelo Grande Mestre Mansor, que os vivenciou ativamente. Ele conta que a pesar de toda tradição o jiu-jitsu não era ensinado para crianças, pelo menos não nas academias. Somente os mais íntimos dos professores tinham contato com o esporte, por vivenciarem-no em âmbito familiar. 21 Em meados dos anos 50 ele saiu de Minas Gerais e chegou ao Rio de Janeiro onde teve seu primeiro contato com o jiu-jitsu aos 16 anos de idade. Ele mesmo conta que era metido à valente e foi até a academia do Mestre Hélio Gracie para provar sua valentia. Resultado... Apanhou, mas registrou seus valores aos olhos do mestre que lhe ofereceu uma bolsa para treinar em sua academia. Mais tarde veio a se tornar um dos cinco homens fora da família Gracie que recebeu o diploma de faixa preta do amigo e Grande Mestre Hélio Gracie. É membro fundador da Federação de Jiu-Jitsu do Estado do Rio de Janeiro e da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, nas quais atuou em diferentes departamentos chegando a presidir os conselhos de mestres e de ética e ao cargo de vice-presidente do departamento técnico. É um dos responsáveis pela criação dos regulamentos para competições e das novas regras de arbitragem e hierarquia de faixas, no Brasil e no mundo. Suas contribuições na área acadêmica continuam através de palestras e seminários sobre “As artes Marciais” e “Vivendo uma vida saudável”. Tanto em escolas como em universidades. É fundador e proprietário da Academia Kioto de Jiu-Jitsu, no Brasil e Estados Unidos, uma das mais conhecidas, tradicionais e respeitadas academias, de jiu-jitsu do mundo e a primeira a ensinar jiu-jitsu para crianças. Já recebeu inúmeras homenagens, comendas e títulos de Hall da Fama nos Estados Unidos da América e também na Europa em reconhecimento ao seu trabalho e dedicação para o desenvolvimento das artes marciais, especialmente o Jiu-Jitsu brasileiro e teve seu primeiro livro de técnicas, “A BÍBLIA do BRAZILIAN JIU JITSU” publicado em três continentes e seis idiomas além de vários DVDs. 22 2.2.1 Hierarquia de faixas do jiu-jitsu Faixa Branca (Iniciante de qualquer idade) Faixa Cinza (Graduados até 6 anos de idade) Faixa Amarela (Graduados entre 7 e 15 anos de idade) Faixa Laranja (Graduados entre 10 e 15 anos de idade) Faixa Verde (Graduados entre 13 e 15 anos de idade) Faixa Azul (Graduados a partir de 16 anos de idade) Faixa Roxa (Graduados a partir de 16 anos de idade) Faixa Marrom (Graduados a partir de 18 anos de idade) Faixa Preta (Graduados a partir de 19 anos de idade) Faixa Vermelha e Preta (Mestre) Faixa Vermelha (Grande Mestre) 2.3 O Sistema Kioto de Jiu-Jitsu Em 1965 o ensino do jiu-jitsu para crianças começou a se tornar “oficial”. Com sua didática experimental Mansor pode verificar necessidades de adaptações e de se organizar as aulas de jiu-jitsu para que estas pudessem ser melhor aproveitadas tanto pelo o professor quanto para o aluno. Nascia então o Sistema Kioto de Jiu-Jitsu, que com o passar dos anos veio sendo atualizado pelo próprio Mestre Mansor, que detêm todos os direitos sobre a metodologia que auxiliou no desenvolvimento e formação de mais de 20.000 alunos. O Sistema Kioto de Jiu-Jitsu enfatiza o auto desenvolvimento e o reconhecimento individual, sendo isso o mais importante que a vitória sobre o oponente. Não existe pré seleção de praticantes. O treinamento do Sistema utiliza métodos que procuram aumentar ou melhorar a percepção, o equilíbrio e 23 a força física, objetivando desenvolver o potencial do indivíduo para que este possa se defender. O Sistema Kioto de Jiu-Jitsu não é simplesmente um estilo de arte marcial. É um complexo sistema de defesa, que requer o uso de reflexos e inteligências para que a aplicação de suas técnicas seja correta, ampliando as qualidades físicas e mentais de seu praticante. O nosso Sistema não pretende criar super homens, ou super crianças, no entanto seus praticantes tornam-se extremamente confiantes em suas habilidades facilitando a resolução de situações mesmo sob grandes pressões resultantes do medo da dor física. Aqueles que praticam nosso Sistema aprendem a lidar com situações difíceis em quaisquer aspectos da vida, inclusive no aspecto psicológico. Este é um dos pontos mais importantes do Sistema para a educação da criança e do adolescente, que são os que mais sofrem com a baixa auto estima e com a falta de autoconfiança. Porém através dessa pratica eles aprendem a respeitar a si mesmos e mostrar o alto nível de desenvolvimento em esportes e interações sociais, fenômeno que também atinge ao público adulto e está diretamente relacionado ao sucesso em qualquer situação da vida. (GRANDE MESTRE MANSOR, 2006, p. 8). Torna-se evidente que a prática do Jiu-Jitsu através do Sistema Kioto, é facilitada e recomendada para todos os indivíduos, não havendo prérequisitos ou favorecimentos diferenciados. 2.3.1 Os níveis de aprendizado do Sistema Kioto de Jiu- Jitsu.. O Sistema Kioto de Brazilian Jiu-Jitsu é composto de 42 níveis de aprendizado sendo cada nível elaborado de 42 ou 30 aulas, progressivamente preparadas, contendo exercícios diferenciados para adultos ou crianças de ambos os sexos e até mesmo para portadores de necessidades especiais. Os níveis de aprendizado são assim distribuídos: 15 Níveis contendo 42 aulas cada, com uso de kimono, para adultos. 9 Níveis contendo 42 aulas cada, com uso de kimono para crianças de 4 a 12 anos. 6 Níveis contendo 42 aulas cada, sem uso de kimono para adultos. 24 3 Níveis contendo 42 aulas cada, de Vale tudo para adultos (profissionais). 3 Níveis contendo 30 aulas cada, de Defesa pessoal. 3 Níveis contendo 30 aulas cada, de Defesa ante-estupro 2 Níveis contendo 30 aulas cada, de Práticas policiais. 2 Níveis contendo 42 aulas cada, de Defesas de finalizações. As turmas são divididas em faixas etárias para que o conteúdo, assim como a dinamização das mesmas possam atender tanto as expectativas quanto as necessidades e o grau de desenvolvimento de cada uma delas, sendo distribuídas da seguinte forma: 4 a 6 anos 7 a 9 anos 10 a 12 anos 13 a 15 anos 16 anos em diante 2.3.2 Os benefícios do jiu-jitsu Bem como qualquer outra atividade física o jiu-jitsu contribui para a manutenção da saúde e do bem estar geral daqueles que mantém uma vida fisicamente ativa. A saber, Pollock E Wilmore relatam em seu livro: Exercícios na Saúde e na Doença (1993) que as mudanças de hábitos trazidas pela revolução industrial poderiam ser um importante motivador do sedentarismo que consequentemente é o principal ocasionador de problemas com a saúde. De acordo com Mansor (2006, p. 10), O Sistema Kioto de Jiu-Jitsu possui exercícios exclusivos e movimentos especializados, que obedecem a uma didática progressiva estimulando o reflexo, o auto controle e as inteligências. O estudo e a prática desse sistema têm sido constantemente recomendados por médicos, psicólogos e educadores, porque é uma atividade que contribui para o processo da educação, funciona como paliativo de tensões psíquicas e atua como fator de desenvolvimento físico e mental daqueles que o praticam. 25 Segundo Mansor (2006), os movimentos do Sistema Kioto de JiuJitsu ajudam a corrigir alterações psicomotoras, desenvolvendo e regulando as áreas da psicomotricidade e causando uma influência positiva no indivíduo a respeito de sua auto-estima e confiança, que são geralmente considerados ingredientes fundamentais para a sua saúde emocional, e fisiológica. Mansor acredita que assim como uma boa coordenação e habilidades bem exploradas contribuem no desempenho acadêmico o treinamento do Sistema Kioto de Jiu-Jitsu, também ajuda no condicionamento dos reflexos, capacitando o individuo a tomar decisões rápidas e seguras em situações caóticas, eliminando suas inseguranças e complexos. São constantes os depoimentos de pais em relação a seus filhos e dos próprios alunos sobre o que o jiu-jitsu tem feito por estes em relação às seguintes competências: Equilíbrio emocional, relacionamento inter e intrapessoal, disciplina, respeito, desenvolvimento da responsabilidade com alimentação, horários, estudos e no cotidiano em geral. Muitos são levados até a Academia Kioto com dificuldades de aprendizagem, falta de capacidade de concentração, mau comportamento e até síndromes que, com o passar do tempo, o ambiente proporcionado pelo que é conhecido como Família Kioto consegue produzir resultados dos quais se orgulha muito. Em outros âmbitos, porém não menos importantes, a prática deste esporte, através deste Sistema auxilia na manutenção e melhoria dos conhecimentos, da estrutura músculo esquelética, da própriocepção, do sistema cardiovascular, neuro motor e em tantas outras valências físicas, qualificando o jiu-jitsu uma atividade desportiva completa. Para as crianças, principalmente as menores, os estímulos são ricos e constantes, além de divertidos e altamente enriquecedores quanto às áreas da coordenação motora funcional e afetiva, o que permite se propor seu 26 ensino, atrelado aos conhecimentos da psicomotricidade como ciência e procedimento, para crianças na faixa etária definida pelo título deste trabalho. Não se pretende formar campeões de jiu-jitsu nesta idade, até porque não há competições previstas para as mesmas, por se tratar de um grupo que requer atenções especiais e visa outros objetivos na escala de um desenvolvimento normal. O que se permite elaborar é um “mix” de atividades que atendam principalmente às necessidades dos estímulos e educação psicomotoras das crianças entre 2 anos e meio e 4 anos de idade, trazendo até estas uma vivência de experiências, consciências, contatos com materiais e principalmente brincadeiras que ajudem no desenvolvimento de suas competências e que, além disso, em havendo possibilidades e qualidades individuais, além de boa percepção e controle do professor, seja possível se criar bases que venham facilitar o aprendizado do jiu-jitsu. 27 CAPÍTULO 3 COMO TRABALHAR A PSICOMOTRICIDADE DO JIU-JITSU? Neste momento são de fundamental importância os conhecimentos e a especialização do profissional que irá conduzir as atividades. Viu-se que a psicomotricidade possui elementos que precisão ser conhecidos, estudados e desenvolvidos de acordo com suas finalidades e estas de acordo com as necessidades do aprendiz. Para isso, saber identificar, avaliar, interpretar e aplicar as estratégias mais acertadas acerca das solicitações do momento é imprescindível, mas que não acontecem como por “milagre”. É exigido que o profissional tenha recursos tais como bom senso, equilíbrio, paciência conhecimento teórico e prático, conhecimento emocional de seus alunos e habilidade em expor desafios possíveis de serem alcançados. 3.1 Espaço Físico Para o bom andamento de uma aula de jiu-jitsu é preciso que se disponha de um bom espaço para o desenrolar das atividades. Uma boa área corresponde a algo em torno de 2m² por aluno e que um professor mais um instrutor atendam no máximo 10 alunos por turma. Este deve ser seguro, bem iluminado, limpo e bem arejado, o que são exigências mínimas para a prática desportiva. É ideal que o solo seja revestido de tatames ou materiais similares e que seja coberto por um tipo de vinil que possa ser higienizado com facilidade. As paredes também devem ser revestidas da mesma forma, pois o contato com estas é constantemente 28 desafiador e atrativo podendo causar acidentes se estas não forem devidamente protegidas. 3.2 Material Além do Kimono, a vestimenta utilizada nas aulas de jiu-jitsu, para o transcorrer de uma aula atrativa e envolvente, pode-se utilizar desde os materiais mais comuns e multifuncionais como cordas, bolas, bastões infláveis ou de espuma, cones, luvas e manoplas, até materiais mais elaborados de uso para psicomotricidade. As musicas também são muito bem vindas para manter a atenção das crianças voltadas para as atividades, fazendo com que sua participação seja mais ativa. Logo, pode-se utilizar um aparelho de som. 3.3 Brincando de Luta As aulas de jiu-jitsu para crianças, bem como quaisquer outra s atividades para crianças, em especial com idade entre 2 anos e meio e 4 anos, devem ser divertidas, atrativas, coloridas, desafiadoras e sugestivas ao desenvolvimento e a exploração. Deve instigar a curiosidade, aguçar os sentidos, trabalhando o corpo e a mente em conjunto, revelando por si só as relações deste corpo com o ambiente ao seu redor. É possível se verificar estas condições nas aulas de jiu-jitsu da escola kioto em qualquer que sejam os dias e horários, através do comportamento dos alunos e daqueles que acompanham as mesmas ainda que somente como acompanhantes, como é o caso dos pais, avós, tios, irmãos mais velhos e mais novos que frequentemente circulam pela recepção da escola. Com freqüência há uma interação dos professores e dos alunos com tudo que se passa em sua volta transformando um simples jogo num grande 29 evento de desafios e superações, mas que ao mesmo tempo gera muitas e sonoras gargalhadas. 30 CAPÍTULO 4 ATIVIDADES PSICOMOTORAS PARA DESENVOLVER O APRENDIZADO DO JIU-JITSU EM CRIANÇAS ENTRE 2 ANOS E MEIO E 4 ANOS. É importante que o professor defina previamente o conteúdo das aulas a fim de estabelecer o seu tempo de duração e a distribuição das atividades propostas para a mesma. Uma aula bem elaborada geralmente é dividida em aquecimento, parte específica e volta à calma ou relaxamento. Para a faixa etária em questão as aulas devem durar no mínimo 30 minutos e nunca devem passar de 60 minutos para que se evite dispersão e falta de interesse, o que é muito comum nesta faixa etária. Conforme Bueno (1998 pg. 52), Com cerca de 3 e 4 anos a criança está com uma boa noção do espaço a sua volta e de seu corpo em relação a esse espaço, e com isso as atividades recomendadas para a idade devem envolvam a noção de amplitude de movimentos [...] Referes-se como movimentos amplos do corpo as atividades como correr, andar, rolar, saltar, rastejar engatinhar e etc. 4.1 Planejando uma Aula Experimental A aula experimental é o primeiro contato do aluno com um novo ambiente, novos amiguinhos, novas brincadeiras, um uniforme diferente e um novo professor. Logo é comum que este manifeste as mais diferentes, porém esperadas reações provenientes de sua “longa experiência de vida”. Resistência para entrar no tatame, se esconder atrás das pernas do responsável, ausência momentânea da fala, pedir para ir pra casa, dizer que não gostou, são algumas das reações mais comuns apresentadas pelos 31 “pequeninos”. Mas dependendo do grau de insistência e duração de determinadas reações pode indicar que o determinado aluno irá precisar de mais atenção e cuidados. Por outro lado o aluno que se dispõe a participar imediatamente das atividades que estão acontecendo, mas que ao adentrarem ao tatame não interagem de fato com o que esta ocorrendo, procuram pelo papai ou mamãe o tempo todo ou não aceitam ordens diretas, também são comuns, mas que nem por isso são merecedores de menos atenção. 4.1.1 Aula experimental de 30 minutos ATIVIDADE ESTRATÉGIA UTILIZADA PROPOSTA E MATERIAL E TEMPO OBJETIVOS Conhecendo o (s) aluno (s) Fazer uma rodinha para apresentar o(s) novo(s) amiguinho(s) solicitando a ajuda dos demais para conduzir algumas informações importantes como: a maneira de se sentar, cumprimentar o professor, o momento de beber água ou ir ao banheiro e outras... Saltar com os dois Música da pulguinha assanhada: Estava dormindo qdo. algo aconteceu, pés. Avaliar coordenação veio uma pulguinha e a danada me mordeu... Pula pulguinha pula danada motora global, equilíbrio e ritmo. pula pulguinha que pulguinha assanhada. Observar o Obs.: A música pode ser adaptada desenvolvimento do substituindo-se o momento “dormindo” esquema corporal por outro gesto motor, por ex. mão na cabeça ou em outras partes do corpo. Correr. Desafiar as crianças para uma Verificar emocionante corrida do ponto “A” ao “B” coordenação motora o mais rápido que elas puderem ou correr global e para apanhar um objeto e retornar (O deslocamento mestre mandou...) espacial Pique cachorrinho Ser o cachorrinho ou eleger um para que Avaliar coordenação em 4 apoios se desloque pelo tatame motora global, tentando tocar em seus amiguinhos que velocidade de estarão correndo livremente. Ao ser reação, tocado pelo cachorrinho este se deslocamento transforma e assume a postura do 5 minutos 5 minutos Materiais diversos 5 minutos 10 minutos 32 espacial pegador até que todos virem cachorrinho. Volta à calma Beber água ir ao banheiro e perfilar para a despedida. Obs. É bom que cada aluno tenha sua garrafinha. 5 minutos Observação: As aulas nunca devem ser “engessadas” ou seguir criteriosamente o que está escrito. É importante que o professor tenha bom senso e percepção para adequar-se e promover uma “zona de conforto” para o bom andamento das atividades. 4.2 Planejamento de Aulas 4.2.1 Aula de 40 minutos ATIVIDADE ESTRATÉGIA UTILIZADA PROPOSTA E MATERIAL E TEMPO OBJETIVOS Recebendo os alunos. Pique cachorrinho. Avaliar coordenação motora global, velocidade de reação, deslocamento espacial. Ukemi I (caída de costas). Trabalhar auto defesa coordenação motora global e velocidade de reação. Fazer uma rodinha para comentar sobre o dia e reforçar as normas e condutas de comportamento. Ser o cachorrinho ou eleger um para que em 4 apoios se desloque pelo tatame tentando tocar em seus amiguinhos que estarão correndo livremente. Ao ser tocado pelo cachorrinho este se transforma e assume a postura do pegador até que todos virem cachorrinho. Demonstrar o movimento de forma fragmentada. Primeiro imitar a cadeirinha da vovó (sentados no solo, abraçar os joelhos e rolar para trás e para frente = a cadeira de balanço). Em seguida fazer a caída propriamente dita começando ainda sentado, depois agachado e por fim começando pé. O detalhe final da técnica é bater com os braços estendidos ao longo do corpo no solo para evitar que o aluno bata com a cabeça no chão. Neste momento é importante que se chame a atenção para este detalhe, o que pode ser facilmente alcançado com o barulho que se faz neste momento. 5 minutos 10 minutos 7,5 minutos 33 Corrida de soldadinho. Coordenação motora global, velocidade de reação, deslocamento espacial Ukemi II (caída de costas). Trabalhar auto defesa coordenação motora global e velocidade de reação. Volta a calma Demonstrar o movimento, que reproduz o deslocamento de um soldado se arrastando de barriga para baixo alternando braços e pernas. 5 minutos Demonstrar o movimento de forma fragmentada. Primeiro mostrar o posicionamento dos mmss e da cabeça, em seguida chamar a atenção para os mmis e depois reproduzir o movimento começando ajoelhado, passando para agachado e por fim em pé. Ordenar para que as crianças arrumem seus kimonos e perfilem para o cumprimento final. 7,5 minutos 5 minutos Observação: Quando os alunos já dominam as técnicas de Ukemi (caídas) as mesmas podem ser aplicadas como contestes que lembrem a brincadeira do morto e vivo testando assim a velocidade de reação da criança. 4.2.2 Aulas de 45 minutos ATIVIDADE ESTRATÉGIA UTILIZADA PROPOSTA E MATERIAL E TEMPO OBJETIVOS Recebendo os alunos. Pique Tubarão. Avaliar coordenação motora global, velocidade de reação, deslocamento espacial. Ukemi III (caída Fazer uma rodinha para comentar sobre o dia e reforçar as normas e condutas de comportamento. Ser o tubarão ou eleger um para que em pé se desloque pelo tatame tentando tocar em nas sardinhas. O tubarão se posiciona no centro do tatame e os demais encostados a uma das paredes. Ao sinal as sardinhas deverão se deslocar para o outro lado do tatame até tocarem na parede, em quanto o tubarão tenta alcançar uma das sardinhas, que deverá ir para a “panela” caso seja pego. Cabe ao professor controlar o tempo da brincadeira para que o aluno que foi pego não fique muito tempo afastado (excluído). Demonstrar o movimento de forma 5 minutos 10 minutos 34 lateral) Trabalhar auto defesa coordenação motora global, velocidade de reação e lateralidade. fragmentada. É bastante semelhante a caída de costas, podendo ser representada como uma caída de costas em que somente um dos braços estendido bata no chão. Iniciar o movimento deitado em decúbito dorsal alternando a batida dos braços. Em seguida girar o tronco para o lado do braço que irá bater no solo. Este último movimento será repetido, agora com acompanhamento dos mmis, ou seja, ao se estender o braço esq. A perna esq. Também deve ser estendida em quanto o braço dir. fica colado ao peito e a perna dir. fica encolhida e vai se alternando este movimento. Quando for observado o domínio do movimento no solo, pode-se então partir para as etapas seguintes na posição sentado, agachado e por fim em pé. È uma técnica complexa que não deve ser apresentada toda em uma única aula. Corrida macaquinho. Demonstrar o movimento, que reproduz o Coordenação motora deslocamento de um macaquinho que se global, velocidade de desloca usando mãos e pés em contato reação, com o solo. (Deslocar-se em 4 apoios deslocamento com auxilio dos pés e das mãos.) espacial. Cambalhotas para É divertido e prepara o aluno para frente quando este for aprender o Ukemi IV ou rolamento para frente. A criança pode ser colocada de joelhos, com os mesmos bem afastados para diminuir a altura do contato da cabeça com o solo, que deve ser auxiliado pelo professor que irá acompanhar todo o movimento em cada um dos alunos individualmente. Deve-se colocar uma das mãos nacabeça da criança, mantendo-a na posição adequada para o movimento e com a outra mão acompanhar a elevação dos quadris até o final do movimento. Volta à calma Ordenar para que as crianças arrumem seus kimonos e perfilem para o cumprimento final. Se necessário fazer comentários sobre a aula, principalmente fazendo elogios. 10 minutos 5 minutos 10 minutos 5 minutos 35 Obs.: Os ukemis ou as caídas como são mais comumente conhecidas, podem e devem ser ensinadas de forma fragmentada e não precisam ser apresentadas de uma só vez dentro de uma única aula. O professor pode apresentar cada estágio comentado dentro da estratégia de aulas em dias diferentes. A caída de costas, por exemplo, pode ser realizada até o momento em que o aluno inicia o movimento agachado num dia, ser recapitulado na aula seguinte quando então a técnica será apresentada até o estágio de seu início em pé. ATIVIDADE ESTRATÉGIA UTILIZADA PROPOSTA E MATERIAL E TEMPO OBJETIVOS Pique Jiu-Jitsu: Trabalha a coordenação motora global, deslocamento espacial, Ukemi IV (rolamento) Trabalhar auto defesa coordenação motora global e velocidade de reação. Soldadinho foi pra guerra. Trabalha velocidade de reação, esquema corporal e auto controle Pega frango. Deslocamento Ser o pegador e correr atrás dos alunos que poderão impedir que sejam pegos ao realizarem uma das técnicas de caídas. É como um pique parede ou pique alto só que o ao invés de tocar em uma parede ou subir em alguma coisa o aluno deve realizar uma técnica de Ukemi e permanecer nesta posição até que o pegador se afaste para tentar pegar outro que está correndo. O professor pode aproveitar o momento para observar se as caídas estão sendo realizadas corretamente. Demonstrar o movimento de forma fragmentada. Primeiro mostrar o posicionamento das mãos no solo e começando ajoelhado fazer o movimento de rolar para frente em cima dos ombros, respeitando a direção para onde os dedos estão apontando, sendo que as duas mãos são posicionadas para o mesmo lado. Os movimentos vão sendo repetidos nas posições agachado, em pé, caminhando e correndo. Ao comando do professor os alunos devem iniciar uma corrida livre em quanto este canta “soldadinho foi pra guerra e foi ferido na”... diz a parte do corpo em que o soldadinho foi ferido e imediatamente os alunos devem colocar as mãos no local e congelarem feito estátua. Com uma faixa ou corda na mão, o professor se colocará no centro do 10 minutos 10 minutos 10 minutos 10 minutos 36 espacial e habilidades motoras como correr, saltar e coordenação óculopedal. Volta a calma tatame e pedirá que as crianças corram ao seu redor. Neste momento mesmo tentará alcançar os pés dos alunos com o material utilizado e os alunos devem tentar fugir do caçador correndo e saltando. Ordenar para que as crianças arrumem seus kimonos e perfilem para o cumprimento final. Se necessário fazer comentários sobre a aula, principalmente fazendo elogios. 5 minutos 4.3 Técnicas de Movimentação no Solo Sendo o jiu-jitsu uma luta de solo, como é conhecido, seus praticantes precisam desenvolver a capacidade de se locomoverem neste ambiente em todas as direções, fazendo giros em seu eixo longitudinal, lateral e frontal e até muitas vezes combinando tais movimentos, tornando sua execução extremamente rica em habilidades psicomotoras. Os dos movimentos mais exigidos e conhecidos no meio desta arte são as fugidas de quadril e de ombros. Tais movimentos são perfeitamente visíveis a seus praticantes, mas podem passar despercebidos por espectadores leigos e muitas vezes são automatizados durante os combates sem que seu executor se dê conta de sua importância e da necessidade de aperfeiçoar sua execução. No Sistema Kioto, no entanto, o Grande Mestre Mansor fez questão de introduzir tais movimentos como exercícios que podem ser praticados como aquecimento ou contestes proporcionando, por exemplo, para as crianças, divertidos desafios de imitarem uma cobrinha ou uma aranha, um limpador de pára-brisas, um caranguejo, um samurai e outros componentes lúdicos que estimulem o aprendizado das técnicas de forma atrativa. Levando em conta que o professor conhece as técnicas, sabendo realiza-las e ensiná-las, o Sistema Kioto ensina 13 atividades diferentes denominadas de fugidas que preparam os alunos para aplicação das mais variadas técnicas de ataques e defesas que se desenvolvem durante um 37 combate. No entanto para trabalhar com a faixa etária proposta, somente 4 destas técnicas são aconselhadas. 4.3.1 Fugidas 1 - Fugida de quadril - O professor deve primeiro demonstrar a técnica se movimentando de um lado para o outro do tatame e em seguida pedir que os alunos tentem fazê-lo. É possível que algum aluno reproduza a técnica ou algo bem parecido, o que já é um grande avanço. Em seguida se pede que todos tentem fazer novamente e neste momento o professor deverá auxiliar individualmente cada aluno se posicionando em pé com as pernas afastadas mantendo a criança entre as mesmas para então com as mãos ajudar nos movimentos os corrigindo e estimulando. O aluno deverá estar deitado lateralmente com o pé de apoio indicado fixo ao solo para impulsionar o quadril para cima e para trás em quanto o ombro que toca o tatame serve de eixo fixo para o movimento e o deslocamento acontece em direção à cabeça 2 - Fugida de quadril inversa - O professor deve primeiro demonstrar a técnica se movimentando de um lado para o outro do tatame e em seguida pedir que os alunos tentem fazê-lo. Embora os movimentos sejam os mesmos realizados na fugida de quadril a direção do deslocamento é inversa, ou seja, em direção aos pés. Logo o que parece ser bem mais complexo para os alunos mais velhos e mais difícil de ser realizado pelos adultos, o que se percebe na prática é que as crianças mais novas o fazem com mais facilidade talvez por ser um movimento parecido com aqueles das pernas que faziam quando eram deitados de barriga para cima pouco antes de começarem a engatinhar. 38 3 e 4 - Retomada de joelhos e em pé – Novamente o professor deve primeiro demonstrar a técnica se movimentando de um lado para o outro do tatame e em seguida pedir que os alunos tentem fazê-lo. A técnica é parecida com a utilizada por uma espécie de aranha, que ao se defender de seu agressor se deita de barriga para cima e imediatamente ao ser atacada retorna a posição em pé, envolvendo seu oponente. Devesse colocar a criança em decúbito dorsal com os joelhos flexionados em seguida fazer um movimento parecido com o da cadeira de balanço já mencionada, tentando que este fique de joelhos e em seguida fique de pé com o auxilio das mãos. Mais tarde, em outra oportunidade repetir os mesmos gestos motores, porém sem o auxilio das mãos. 39 CONCLUSÃO È perceptível que por meio dos movimentos utilizados durante as aulas ou mesmo durante um combate o jiu-jitsu apresenta inúmeros gestos motores, que por si só ajudam no desenvolvimento psicomotor. Mas para a faixa etária em questão muitos desses gestos estão além de sua compreensão e inadequadas para suas vivencias até então. É exatamente neste momento que entram os conhecimentos dos profissionais, especializados em psicomotricidade ou com experiência suficiente capazes de preparar o aluno e adequar atividades que venham facilitar o aprendizado do jiu-jitsu. 40 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Geraldo P. de e GUIMARÃES, Marcelo H. Psicomotricidade: Pratica para Sala de Aula. Pró Infantil, 2006. BUENO, J. M. Psicomotricidade Teoria e Prática: Estimulação, Educação e Reeducação psicomotora com Atividades Aquáticas. Lovise, 1998. LE BOULCH, J. O Desenvolvimento Psicomotor: do nascimento aos seis anos. Artes Médicas, 1982. MACHADO, José Ricardo M. e NUNES, Marcus Vinícius da S. Recriando a Psicomotricidade. Sprint, 2010. MASSON, Suzanne. Generalidades Sobre a Reeducação Psicomotora e o Exame Psicomotor. Manole, 1985 MANSOR, Francisco José. A Bíblia do Brazilian Jiu Jitsu. Budo Internacional, 2006. OLIVEIRA, Gislene de C. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num Enfoque Psicopedagógico. Vozes, 1997. POLLOCK, Michael L. e WILMORE, Jack H. Exercício na Saúde e na Doença: Avaliação e Prescrição para Prevenção e Reabilitação. MEDSi, 1993. 41 WEBGRAFIA CBJJ - Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu – O Jiu-Jitsu. História do JiuJitsu [s/d]. Disponível em: <http://www.cbjj.com.br/home.htm>. Acesso em: 22/07/10 – 14h37min. ABPP – Associação Brasileira de Psicopedagogia. Disponível em : <http://www.abpp.com.br/faq_oquee.htm>. Acesso em 20/07/10 – 22h32min. 42 ÍNDICE AGRADECIMENTOS 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPITÚLO 1 10 PSICOMOTRICIDADE 10 1.1 O Que é Psicomotricidade 10 1.2 Objetivos da Psicomotricidade 10 1.3 Áreas de Atuação da Psicomotricidade 11 1.3.1 Estimulação Psicomotora 11 1.3.2 Educação Psicomotora 12 1.3.3 Reeducação Psicomotora 13 1.3.4 Terapia Psicomotora 13 1.4 Psicomotricidade Funcional 14 1.5 Psicomotricidade Relacional 17 CAPÍTULO 2 19 O JIU-JITSU 19 2.1 História do Jiu-Jitsu 2.1.1 O Jiu-Jitsu no Brasil 2.2 O Mestre 2.2.1 Hierarquia de faixas do jiu-jitsu 2.3 O Sistema Kioto de Jiu-Jitsu 19 20 22 22 2.3.1 Os Níveis de Aprendizado Sistema Kioto de Brazilian Jiu-Jitsu. 23 2.3.2 Os Benefícios do Jiu-Jitsu 24 43 CAPÍTULO 3 27 COMO TRABALHAR A PSICOMOTRICIDADE DO JIU-JITSU? 27 3.1 Espaço Físico 27 3.2 Material 28 3.3 Brincando de Luta 28 CAPÍTULO 4 30 ATIVIDADES PSICOMOTORAS PARA DESENVOLVER O APRENDIZADO DO JIU-JITSU EM CRIANÇAS ENTRE 2 ANOS E MEIO E 4 ANOS. 30 4.1 Planejando uma Aula Experimental 4.1.1 Aula experimental de 30 minutos 4.2 Planejamento de Aulas 30 31 32 4.2.1 Aula de 40 minutos 32 4.2.2 Aulas de 45 minutos 33 4.3 Técnicas de Movimentação no Solo 4.3.1 Fugidas 36 37 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA 40 ÍNDICE 42