DEMOCRACIA COGNITIVA E AS CIÊNCIAS AMBIENTAIS
Philippi Jr et al. (2000) e Rocha (2010) apontam as Ciências Ambientais
(CA) como a forma de suscitar a integração das diferentes interfaces de
saberes para tomada de decisões e atitudes, frente aos problemas
socioeconômicos e as questões ambientais. Para Rocha (2010), as CA visam
ultrapassar o reducionismo acadêmico e atingir patamares complementares,
para formulação de hipóteses férteis nas áreas humanas, com preceitos
biológicos, assim como novos olhares sobre a natureza, a partir do fenômeno
humano. Assim, Philipi Jr. et al. assinalam que as CA permitem uma percepção
pluridimensional e abrangente. O mesmo autor afirma que as pesquisas
relacionadas ao meio ambiente raramente ultrapassam os limites de uma
cultura de disciplinas estanques, o que Morin (2002; 2008) chamaria de Cultura
Científica – que suscita um pensamento na maioria das vezes extremado, de
consagração e sacralização em um pensamento baseado em teorias e
métodos científicos, nas linguagens específicas das respectivas disciplinas
e/ou ciências: Física, Economia, Medicina, Geologia, Geografia, Biologia,
História, Sociologia, Química, entre outras. Com isso, vem aos poucos
aumentando a distância entre a cultura científica e cultura das humanidades,
sendo que essa última nutrindo-se pela inteligência geral e que revitaliza as
obras do passado (é uma cultura geral, que por meio da filosofia, do ensaio e
da literatura coloca problemas fundamentais e incita a reflexão). Junto a isso,
como forma de religare dos saberes (e os seres), Petraglia (2006, p.34),
pautada em Morin, sugere uma democracia cognitiva “que compreende a
ampliação do acesso aos saberes das múltiplas áreas, assim como
compreende a diversidade e o pluralismo teórico e sem preconceitos, sem o
determinismo da certeza que, na complexidade, é entendida como relativa,
efêmera e ilusória”. Desse modo, o objetivo do nosso trabalho é identificar e
analisar as articulações (interconexões), e consequetemente a democracia
cognitiva (cultura científica e cultura das humanidades) nas disciplinas
obrigatórias (Climatologia Geral, Interação solo-planta-atmosfera, o Ciclo do
Carbono no Contexto Amazônico, Metodologia de Pesquisa Interdisciplinar e
Análise Integrada de Problemas Sócio-Ambientais na Amazônia) do Programa
de Pó-Graduação em CA (Mestrado Interinstitucional Universidade Federal do
Pará - UFPA; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA; e,
Museu Paraense Emílio Göeldi - MPEG) junto aos discentes.
Metodologicamente se fará pela tradução dos discentes remanescentes da
turma de 2008 e a turma 2009 e 2010 em formulários e posteriormente em
questionários como forma apontar através de suas “observações
assistemáticas” das aulas, a análise condução das disciplinas pelos docentes e
todo o material didático pedagógico que baseava suas aulas (slides em Power
Point, artigos científicos e apostilas elaboradas pelos docentes) como forma de
visualizar os processos e as práticas em sala de aula. Como reflexões dos
resultados parciais, constata-se uma desvincularidade da compreensão e
integração e complexificação da Cultura Científica e da Cultura das
Humanidades, ao não estabelecer “ponto institucional” (MORIN, 2002) e
circuitos relacionais entre saberes, principalmente nas disciplinas Climatologia
Geral, Interação solo-planta-atmosfera em sala de aula; outras reflexões sobre
os resultados é a super-valorização dos conhecimentos científicos (a Cultura
Científica), e marginalização da Cultura das Humanidades reveladas além
citadas acima, nas disciplinas Metodologia de Pesquisa Interdisciplinar e o
Ciclo do Carbono no Contexto Amazônico. E por último o extremado apego da
disciplina Análise Integrada de Problemas Sócio-Ambientais na Amazônia a
cultura das humanidades e pouca relevância a cultura científica apesar
interconexões realizadas por essa disciplina. Sob conclusões parciais, segundo
os discentes há na maioria das disciplinas obrigatórias o não estabelecimento
de articulações (interconexões), e consequetemente a democracia cognitiva
(cultura científica e cultura das humanidades), e isso segundo enfatizado pelos
próprios discentes ocorre à dificuldade em realizar uma análise sistêmica
(como a conjunção e interação de múltiplas determinações) sobre a
problemática socioambiental.
REFERÊNCIAS
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Tradução de Maria D. Alexandre e
Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
____________. Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento: A Cabeça
Bem Feita. Tradução de Ana Paula de Viveiros. Lisboa: Instituto Piaget, 2002.
PHILIPPI JR, Arlindo; TUCCI, Carlos E. Morelli; HOGAN, Daniel Joseph;
NAVEGANTES, Raul. Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais. São
Paulo: Signus Editora, 2000.
ROCHA, Paulo Ernesto Diaz. Interdisciplinaridade & Ciências Ambientais:
articulação disciplinar e o potencial sócio-participativo da universidade.
Disponível
em:
http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT10/paulo_rocha.pdf.
Acesso em: 25 Abr. 2010.
PETRAGLIA, Izabel Cristina. Sete idéias norteadoras da relação Educação
Complexidade. In: ALMEIDA, Cleide; PETRAGLIA, Izabel Cristina. Estudos de
Complexidade. São Paulo: XAMÂ, 2006.
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