1492 Trabalho 3111 - 1/3 A EFETIVA INSTAURAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL PARA A EDUCAÇÃO E O CUIDADO EM ENFERMAGEM: CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA DE EDGARD MORIN Silva, Rose Mary Costa Rosa Andrade1 Pereira, Eliane Ramos2 Silva, Marcos Andrade 3 Peixoto, Sidney de Souza4 Trata-se de um trabalho que tem como objeto de estudo as contribuições da Filosofia de Edgard Morin para a educação e o cuidado em enfermagem por serem questões cruciais em nosso tempo na medida em que uma saúde e uma educação de qualidade se oferecem como possibilidades de reconstrução do tecido fragmentado do mundo e da humanidade. É preciso lembrar também que a educação e o cuidado em enfermagem devem propiciar o desenvolvimento de uma consciência ambiental dentro de uma política de sustentabilidade. Objetivouse levantar a partir bibliografia de Edgar Morin concepções filosóficas como contribuição para a educação e o cuidado em enfermagem no sentido de uma efetiva instauração da consciência ambiental. Metodologicamente trata-se de estudo reflexivo. Para maior embasamento teórico, realizou-se leitura compreensiva principalmente das obras como Os sete saberes necessários à educação do futuro, Introdução ao pensamento complexo e Ciência com consciência, evidenciando seus conceitos centrais. Como resultados, obtivemos que o conhecimento que recebemos, por mais exato que possa parecer, é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução. Portanto, temos percepções, ou seja, reconstruções, traduções da realidade. E toda tradução comporta o risco de erro. Neste sentido, o conhecimento pertinente é aquele que não mutila o seu objeto, nesse sentido, o conhecimento pertinente é aquele que não se limita à disciplina, mas é antes de tudo o que me permite ter uma visão capaz de situar o conjunto. Diante disso: "O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital." (MORIN, 2000 p. 35). A Identidade Humana é Enfermeira e filósofa. Doutora em Enfermagem-UFRJ/EEAN/Professor Associado da EEAAC/UFF. Email: [email protected] 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem-UFRJ/EEAN/Professor Associado da EEAAC/UFF. 3 Enfermeiro. Mestre em Enfermagem UNI-RIO- Professor da UGF/RJ. 4 Enfermeiro. Mestre em Educação. UGF- Professor da UGF/RJ. 1 1493 Trabalho 3111 - 2/3 de suma importância na medida em que somos indivíduos, mas como indivíduos somos, cada um, um fragmento da sociedade e da espécie Homo sapiens, à qual pertencemos. É importante frisar que “a educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral" (MORIN, 2000, p.39). Diante disso mister se faz compreender que é preciso que tanto na saúde como na educação levemos em conta a singularidade de cada sujeito que cuido e que também ensino. A compreensão humana em nossa práxis também é de suma importância, pois comporta uma parte de empatia e identificação com o outro, mas também comigo mesmo e com o mundo que me cerca. É preciso “culturalizar” o nosso entorno, a nossa práxis. Não podemos nos esquecer como nos ensina Morin (1999, p.10): “(...) Não se trata apenas de modernizar a cultura, mas de culturalizar a modernidade”. A incerteza também precisa ser ensinada, pois é necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na história, o surgimento do inesperado, daquilo que foge ao domínio, pois a educação clássica parece ter ensinado o mundo de certezas quando que na verdade esta não é a nossa realidade cabal. Com efeito: “daí decorre a necessidade de destacar, em qualquer educação, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer” (MORIN,1999, p. 31). A condição planetária hoje, mais do que nunca, não é mais a preocupação apenas de uma nação, todos fazemos parte de uma grande rede. Com Morin (2000, p. 23) aprendemos que: "O planeta Terra é mais do que um contexto: é ao mesmo tempo organizador e desorganizador de que fazemos parte". Tomando como base tal asseveração, é relevante mostrar que a humanidade vive agora uma comunidade de destino comum. Só poderemos vivenciar a efetiva conscientização ambiental se assumirmos a antropo-ética como estilo de vida e a admissão da alteridade radical do outro. A antropo-ética ajuda a tomada de consciência social que leva à cidadania e precisamos neste mundo globalizado, tecnicista, movido por uma razão instrumental e não dialógica, redescobrirmos e ressignificarmos a dimensão humana valorizando-a e primando por uma ética que admita a alteridade. É preciso, portanto, ter a coragem de compreender o outro: “Compreender inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projeção. Sempre subjetiva, a compreensão pede abertura, simpatia e generosidade” (MORIN, 1999, p. 95). Há 1494 Trabalho 3111 - 3/3 de se pensar e considerar em nosso tempo o legado da Antiguidade que ainda é presente e ordena a sociedade pós-moderna. Lembremos sempre que os ensinamentos renascentistas nos levaram ao Humanismo, cuja essência nos trouxe a valorização de todos os homens. Precisamos compreender que: “na direção de um assistir pautado na complexidade, que proporciona condições de participação dos clientes/atores no planejamento dos cuidados à sua saúde” (SILVA e CIAMPONI, 2003, p.13). Conclui-se que a enfermagem deve ter como preocupação primeira formar cidadãos planetários, solidários e éticos a fim de que possamos efetivamente desenvolver uma práxis livre, transdisciplinar e que sobretudo tenha como instância primeira e norteadora a auto-ética, a sócio-ética e a antropoética para que se instaure a verdadeira “planetarização”, o mundo global sem hegemonias e para além das geopolíticas.Ainda vale a pena reduzir as desigualdades para incluir, pois esse é o caminho da autêntica metamorfose. Descritores: Meio Ambiente, Ecologia Humana, Cuidados Básicos de Enfermagem, Educação em Enfermagem, Filosofia em Enfermagem Bibliografia: MORIN, E. Os sete saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Cortez, 1999. MORIN, E. Complexidade e Transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino fundamental. Natal: EDUFRN, 1999. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez; 2000. SILVA, Ana Lúcia da; CIAMPONE, Maria Helena Trench. Um olhar paradigmático sobre a Assistência de Enfermagem: um caminhar para o cuidado complexo. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 37, n. 4, Dec. 2003.