r! Perdoa-nos por tantos erros e acertos insanos. Perdoa-nos por tanto so
os, almejarmos, sem olharmos para o nosso semelhante. Se nem
mos olhar para nossas próprias almas!
Amor e
Preconceito
Amor e Preconceito
Uma Obra de
Carlos José Soares
Revisão Literária de
Nonata Soares
Amor e Preconceito
ACADOC
Arte. Cultura. Desenvolvimento
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Amor e Preconceito
AMOR E PRECONCEITO
Uma Peça de Carlos José Soares
Revisão Literária de Nonata Soares
A vida é constituída por diferenças. Algumas mais
gritantes, que incendeiam mentes e corações...
Então, o preconceito vem à tona e os problemas
surgem de forma contundente. Maltratando a todos.
E diante de costumes, religiões, tradições... Tudo
parece ficar mais difícil! Agora vamos contar a
história de Isaac e João. Dois opostos que se
cruzam. E a partir desse momento, tanto a vida
deles quanto de todos os que os cercam se torna um
pesadelo diário... Constante. Mas, ao mesmo tempo
são essas diferenças que nos conduzem ao
questionamento e a reavaliação de do que
realmente vela à pena. O amor deve ser o único foco
de qualquer questão a ser apresentada ou discutida.
Isaac e João... João e Isaac. Eles representam o
grito calado de quem sofre todos os tipos de
preconceitos e mesmo assim ainda acreditam no
amor e na vida.
Isaac pertence a uma família judaica... Praticante da
fé e extremamente rigorosa. Família tradicional e
muito bem relacionada. O pai de Isaac é um
conceituado comerciante, que alcançou sua fortuna
à custa de muito trabalho. Casou-se com Sarah,
também filha de uma família rica e muito conhecida
fora e dentro da comunidade judaica. Isaac tem
Amor e Preconceito
irmãos mais velhos, mas mesmo assim é a paixão
dos pais. Principalmente da mãe, que é capaz de
qualquer coisa pelos filhos. Isaac mora em um bairro
elegante, em uma mansão... Porém, conhece João
que frequenta a mesma Praça, onde brincam e
acabam se tornando grandes amigos. Nessa época,
Isaac e João têm catorze anos. A mesma idade, os
mesmos sonhos, ilusões... Porém, com realidades
bem diferentes.
João é filho de uma família Evangélica. Família
pobre e favelada, que devido às circunstâncias da
bandidagem da favela onde morava, foi protegida
por uma tia, que morava em outra comunidade
próxima a residência de Isaac. Eles começam uma
amizade simples. Então, vão se descobrindo entre
conversas e anseios, sexualmente. Eles acabam a
princípio, como brincadeira, se tornando parceiros
também de prazeres. E se tornam essenciais um
para o outro. Mas, o sentimento vai crescendo e se
torna uma relação afetuosa e apaixonada. E dessa
forma se tornam inseparáveis. Quando completam
dezesseis anos, a relação de ambos é descoberta,
quando flagrada. Então, a vida de ambos se torna
um verdadeiro horror. E ambos são expulsos de
suas casas. Tudo em nome da moral. Ficam
perdidos... Passam dois dias andando pelas ruas, e
se se encostam à casa de conhecidos da família
Isaac. Depois de tudo silencioso, Sarah consegue
localizar o filho, por ter recebido a ligação de uma
vizinha. Sarah, então, aluga um apartamento para
que o filho morasse. E lá coloca todo o conforto,
Amor e Preconceito
empregada... E tudo o mais que fosse necessário.
Isaac, porém, declara que só iria se João pudesse ir
junto, pois jamais o deixaria sozinho. Sarah,
pressionada e também com certa piedade do
menino João, acaba aceitando. Ela assume, então,
toda a responsabilidade pela vida de ambos.
Sustenta o filho com uma farta mesada, e esse por
sua vez sustenta João, em tudo o que ele precisa.
Mas, esse fato é mais confortável para Isaac do que
para João, que acaba se revoltando anos mais
tarde. Eles vivem dez anos juntos... E quando
completam vinte e seis anos de idade, acumulam
pressões e acabam entrando em uma crise muito
séria, na qual discutem os próprios limites e
preconceitos.
Amor e Preconceito
Montagem de AMOR E PRECONCEITO, em 2007,
no CENTRO CULTURAL DORIVAL CAYMMI, no
Campus Dorival Caymmi da Universidade
Estácio de Sá, com Direção de Lia Farrel.
Produção ACADOC. Atores Yuri Simões (Isaac) e
Marcelo Valentim (João).
No apartamento de Isaac e João:
Isaac e João acordam. Isaac acorda primeiro e
chama João, que custa a despertar. Isaac o
Amor e Preconceito
desperta entre afagos, palavras carinhosas e
brincadeiras de cócegas.
Isaac:
- Anda rapaz, acorda!
João:
- Me deixa dormir...
Isaac:
- Nada disso, ta na hora! O dia está lindo e quero ir
para praia.
João:
- Ontem eu quis ir para a praia e você não se
manifestou. Nem pensar... Hoje eu quero dormir.
Isaac:
- Você sabe que aos sábados eu fico meditando.
Não dorme, não! Vamos para a praia. Afinal, a vida
nos espera!
João:
- O sono também! E demais a mais, hoje é dia da
minha reflexão!
Isaac:
- Não brinca com coisa séria!
(Isaac se aconchega a João, enche ele de pequenos
e rápidos beijos e pede):
Amor e Preconceito
- Vamos, vai, vamos!
João:
- Está bem... Mas só se você fizer o café.
Isaac:
- Já está pronto! Uma mesa linda... Cheia de coisas
gostosas, está a nossa espera!
João:
- Já disse pra não gastar dinheiro á toa.
Isaac:
- Mas não é á toa! É pra nós dois. Deixa de ser
chato!
João:
- Eu acho que você gasta dinheiro á toa. Não é
nossa vida real.
Isaac:
- Mas a nossa vida não é real. Vem, vamos tomar
café!
João finalmente se levanta, vai ao banheiro. Isaac
vai para mesa, cheio de entusiasmo. João chega.
Senta-se e começa a comer.
João:
- Hoje eu sonhei com guerra!
Amor e Preconceito
Isaac:
- Eu não sonhei com nada!
João:
- Impossível!
Isaac:
- Na verdade, eu amanheci muito feliz! Abri a janela,
vi o Sol e lembrei que estamos á dez anos juntos.
Começamos cedo, hein! (Risos).
João:
- Você me levou para o mau caminho.
(JOÃO APERTA A CINTURA DE ISAAC)
Isaac:
- Nem tanto! Eu já acho o contrário. (ironizando...)
Eu era um menino, inocente, puro, quase um anjo!
João (SORRINDO):
- Você era tão bonito
Isaac:
- Era?
João:
- Ainda é.
Amor e Preconceito
Isaac:
- Jura?
João:
- Não precisa jurar. Bonito, gostoso, charmoso.
Enfim, o meu amor.
Isaac:
- A recíproca é real.
João:
- A nossa vida é um mistério. A nossa história toda.
Será que você me ama de fato ou pensa que ama?
Isaac:
- Ih! Que papo mais estranho!
João:
- Não, eu não vou à praia. Vou ficar no computador,
estudando, enviando currículo.
Isaac:
- Pra que fazer isso hoje, agora?
João:
- Pra ver se consigo alguma “mesada”. Quero
conseguir meu emprego público.
Isaac:
- Não entendi a ironia da “mesada”.
Amor e Preconceito
João:
- Não é ironia. É fato. Sua mãe lhe envia uma farta
mesada, para sustentar a sua filosofia de vida.
Isaac:
- E para ajudar você a ser tão esforçado em ser
comum. A diferença é que você quer ser apenas
mais um.
João se ofende se levanta bruscamente e olha
fixamente para Isaac, com mágoa.
Isaac nervoso:
- Me desculpe, eu não quis...
João:
- Eu sei, mas disse.
Isaac:
- Vamos à praia e pronto!
João:
- É. E pronto! O mar leva o resto.
Isaac:
- Quem sabe? Perdoe-me, vá!
João:
Amor e Preconceito
- Está perdoado. Vá sozinho, eu fico.
Isaac:
(COM IRONIA E RAIVA)
- Está bem, eu vou.
(Isaac se arruma em silêncio e vai para a praia
“puto” da vida.).
João vai para o computador e começa a trabalhar.
Vai falando em voz alta:
Prezados Senhores... Eu sou um Profissional
adequado para ocupar o cargo...
(SAI DA CADEIRA E SE DIRIGE AO PÚLICO)...
““... - Eu sou negro. Feliz, sóbrio e Evangélico de
nascença. Fanático por conquistar uma vida melhor.
Preciso de um caminho novo. Provar não só a mim,
mas ao mundo que sou gente! Todos dizem que
sou. Contudo, os meus direitos se perdem sob a
reflexão do preconceito, que permanece. Ainda
preciso carregar a culpa de estar me distanciando de
Deus! Meu Deus! Fui criado por ti, meu Deus! Sou
negro... Gay, pobre e tive a graça de conhecer um
cara. E que cara é esse? – Me ama me ajuda me
sustenta até! Mas, me condena a ser abstrato. Sou
escravo, afinal! Minha família continua na favela.
Não pude fazer nada. Meu pai me despreza. Meus
irmãos, eu nem sei! São todos tão perfeitos! São
Amor e Preconceito
santos. Talvez só pelo fato de serem “homens” e
“mulheres”. Parece tão simples!
VOLTA PARA O COMPUTADOR E DIGITA:
“... Portanto, Senhores e Senhores, eu estou apto.
Ou não? Lamento, mas não vou pedir perdão por
existir e ser o que sou ou como sou. Afinal, foi Deus
quem me criou...!”
MÃE DE JOÃO ENTRA EM CENA, NÃO É UMA
VISITA,
MAS
SIM
UMA
CONVERSAÇÃO
PSICOSSOMÁTICA.
DNA. MARIA
- Meu filho!
JOÃO:
- Me deixa viver pelo amor de Deus! Ah, Dona Maria,
minha mãe!
DNA. MARIA:
- Meu filho! Peça perdão a Deus! Volta pra casa.
Venha! Jesus vai te libertar. Aí, eu falo com o teu pai
e teus irmãos... E tudo vai ar certo!
:
JOÃO:
- Mãe, eu trabalhei. Estudei... Estou quase me
formando.
Amor e Preconceito
DNA. MARIA:
- Mas está longe do Senhor! E depois, meu filho,
você é meu filho mais velho. Teu pai ta doente. Ele
nem quer ouvir falar o teu nome. Mas, eu sei que ele
está doente por tua causa. Volta! Assim, quem sabe
ele te perdoa, e você arruma um emprego e nos
ajuda.
(MARIA SAI DE CENA)
JOÃO SE MANTÉM PARADO. EM CENA ENTRA
ISAAC, NO SUBCONSCIENTE DE JOÃO (RELATO
REFERENTE AO PASSADO. JUVENTUDE DE
AMBOS. INÍCIO DO ROMANCE), E DIZ:
- Somos jovens! Temos apenas 16 anos. Temos a
vida pela frente, deixa eu te ajudar, viver com você.
Deixa-me fazer parte de você.
JOÃO FALA, SEM OLHAR PARA ISAAC:
- Vamos, vamos! Traz-me o teu colo, Me deixa
repousar ao teu lado. Tira-me dessa agonia! Levame nessa fantasia. Transforma-a em realidade.
ISAAC (em off – recordação do que disse na época):
- Minha mãe disse que ajuda. Meu pai não quer me
ver mais! Minha família, parentes e amigos, juraram
me esquecer. Dói tanto, que me dá falta de ar!
(JOÃO SE AJOELHA)
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