O Estado do Maranhão - São Luís, 12 de agosto de 2012 - domingo
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Canções de Roberto Carlos embalam
hístoria de esperança no cinema
Divulgação
À Beira do Caminho, de Breno Silveira,
se assemelha a Central do Brasil;
Duda (Vinicius Nascimento) perde a
mãe vai a São Paulo em busca do pai
Alysson Oliveira
Do Cineweb
S
ÃO PAULO- Um road
movie (tipo de filme que
a história se desenrola em
uma estrada) pode ser o gênero
mais eficiente para discutir a transitoriedade entre o ser e o estar. A
estrada é o intermediário entre
essas duas condições. No caso de
À Beira do Caminho, seu protagonista, João (João Miguel, de
Xingu), não é um motorista de
caminhão, ele está motorista de
caminhão. E, como flashbacks
mostram, há um motivo sério.
Cair na estrada pode ser uma catarse, a superação de uma dor,
enquanto a chegada é o novo estado, a redescoberta de si.
Dirigido por Breno Silveira (2
filhos de Francisco), o filme tem
como ponto de partida - e, na
verdade, meio e ponto de chegada também - canções de Roberto Carlos. O título é inspirado pelo nome de uma música
que, embora não esteja no filme
(não foi liberada pelo cantor),
tem seus versos ecoando fortes
nas entrelinhas: "Preciso acabar
logo com isso, preciso lembrar
que eu existo". O título do longa, porém, não se limita a essa
interpretação: aponta também
para as margens, para os elementos que João acumula ao
longo de suas duas jornadas, a
física, nas estradas do Brasil, e a
espiritual.
A dicotomia do ser e estar
reaparece quando se pensa na
estrada como um referencial na
vida do protagonista. Para a
maioria das pessoas, a estrada é
apenas o meio do processo que
será concluído com a chegada.
No caso de João, que vive em fuga, a estrada é sua casa.
O elemento mais forte, o catalizador de suas mudanças, é o
pequeno Duda (Vinicius Nascimento), menino que perdeu a
mãe e foge para São Paulo em
busca de um pai que nunca conheceu, dele só tendo um retrato e um endereço. Muito se disse, em 1998, quando foi lançado Central do Brasil, de Walter
Salles, que somos um país em
busca de um pai. Aqui, a metáfora pode caber de novo, quase
15 anos depois. Há pontos de
contato entre os dois filmes mas tanto Walter Salles quanto
Breno Silveira possuem objetivos próprios. Em À Beira do Caminho, o foco é mais intimista,
é uma jornada pessoal.
Reencontro - De certa forma, o
que está à beira do caminho é
mais rico do que a estrada asfaltada. O reencontro com um examor da juventude, Rosa (a
grande Dira Paes), começa a delinear melhor o conflito que
consome João. Os personagens
nunca entram prontos na história. Tanto ela, quanto Duda, ou
mesmo dona Maria do Carmo
(Denise Weinberg) revelam-se
aos poucos e, na medida em que
se entregam, descobre-se por
eles a vida de João.
Na voz de Roberto Carlos, há
quatro músicas que ele liberou
para o filme em suas gravações
originais - A Distância, O Portão,
Amigo e Outra Vez - e são estas
que dão o tom ao filme e à jornada do caminhoneiro. Assumidamente emotivo, o longa não
se intimida em suscitar lágrimas
- até porque não haveria motivo para se acanhar disso.
O diálogo estabelecido com
as canções está mais no tom do
que no sentido literal. Evidentemente, não há nenhum cachorro que "sorri latindo" quando o
caminhoneiro retorna, mas a
melancolia da casa na qual as
pessoas parecem tocar a vida porque não têm outra coisa para fazer enquanto esperam - é
uma imagem que corresponde
com a mesma força aos versos
de O Portão.
Muitas outras músicas de Roberto podem não estar explicitamente no filme, mas são a força motriz da trama e dos personagens. Afinal, João é apaixonado pelas canções do Rei. Poderse-ia dizer que Estupidez ("sua
estupidez não lhe deixa ver que
eu te amo") ou Detalhes ("detalhes tão pequenos de nós dois
são coisas muito grandes para
O ator João Miguel contracena com Dira Paes no filme À Beira do Caminho que estreou nos cinemas brasileiros na sexta-feira (10)
esquecer") retratam os amores
que ele viveu. Mas é em É preciso saber viver que o recado é dado. E Roberto não podia estar
mais coberto de razão.
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• Filme
À Beira do Caminho
• Onde
Box Cinemas, sala 7
• Sessões
13h50, 16h20, 18h50 e 21h
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