José Carlos Oliveira NO JARDIM DAS ROSAS Continuando o Festival Brasileir" de Almeida, apresentaremos hoje o Matitaperê, música de Antônio Carlos Jobim e poema escrito em parceria com Paulinho Pinheiro Trata-se de uma homenagem a João Guimarães Rosa, aludindo constantemente à novela A Hora e a Vez de Augusto Matmga. Segundo Tom. na letra se encontram alguns "roubos" (referências) do próprio Guimarães Rosa e de Carlos Drummond de Andrade. (Drummond é uma arca, com um tesouro, que Tom Jobim guarda no sótão. No monólogo interior do maestro, o verso drummondiano funciona como refrão). Matitaperê é um passarinho. Conforme a região do Brasil, variam as onomato 'ías ue o designam: Sem-Fim, Pei- e-Frito, Tempo-Quente, Matintapereira" aci, Fem-Fem, Matitaperera, etc. "É um passarinho que gosta do ermo", explica o maestro. "No verão, canta de noite, e tem o poder mágico de sumir do lugar onde está o seu pio." A letra é esta: "No jardim das rosas, De sonho e medo, Pelos canteiros de espinho e flores, Lá, quero ver você. Olerê, olará, Você me pegar. . Madrugada fria de estranho sonho, <:. O''Lcl oão abriu a porta, o sonho existia: Co.C! 1 Que João fugisse, que João partisse, j{' Que João sumisse do mundo, De nem Deus achar. Olerê, olará. E manhã noiteira de força-viagem Leva em dianteira um dia de vantagem O chão na palma da mão. o chão . I c& E manhã redonda nas pedras altas, Cruzou fronteira da servidão. <Ã \ Olerê, quero ver você me pegar. r~.. ~ ..... E por maus caminhos de toda sorte Buscando a vida, encontrando a morte Pela meia rosa do quadrante Norte, ' João, João. Um tal de Chico chamado Antônio, Num cavalo baio que era um burro velho Que na Barra Fria, já cruzado o rio, ' Lá vinha Matias cujo nome é Pedro, Aliás Horácio, vulgo Simão. Lá um Chamado Tião, chamado João. Recebendo aviso entortou caminho De Nor-Nordeste pra Norte-Norte.' Na meia vida de adiadas mortes, Esse um João. o clarão das águas, no deserto negro, perder mais nada, corajoso medo. á, quero ver você, olerê, olará, Você me pegar. Por sete caminhos de setenta sortes, Setecentas vidas e sete mil mortes, sse um João, João, João. deu dia claro, e deu noite escura, . deu meia-noite no coração. Olerê. olará. Passa Sete Serras, passa Cana Brava, No Brejo das Almas tudo terminava. 'VI o C' á, 110 Todo-Fim-É-Bom, U.el~~ ""'" e acabou João. 52 No jardim das rosas, de sonho e medo, o clarão das águas, no deserto negro, á, quero ver você. olerê, olará, A f", h . "Pio'" ""3 r ocê me negar." ~r'