Capítulo 111 - Desfecho - João Domador Carolina e sua avó subiram em suas costas e João as levou até o castelo. Dias depois, João morreu por causa da fumaça exalada pelo vulcão. A avó de Carolina foi acolhida a contragosto pelo rei e estava a cada dia mais forte. Mas a menina chorava desconsolada pela morte de João. Carolina e o Domador de Feras Um dia, tempos depois da erupção do vulcão, Carolina teve um sonho. Um velho sábio em uma gruta, oferecia João de volta se pudesse ter os sete fios de cabelos mágicos. Em sonho Carolina aceitou. E não é que acordou sem os fios? Naquela mesma manhã, Carolina recebeu uma notícia sobre um príncipe que viera dos mares do sul para conhecê-la. Era João. Ele estava em formato humano. Ainda se lembrava do voo e disse a ela que algo o havia desenfeitiçado. João pediu Carolina em casamento e ela aceitou! Porém, o rei descobriu que ela havia perdido os fios dourados e a baniu do reino. Livre de seu destino escrito desde o nascimento e livre dos fios dourados, Carolina podia descobrir o que queria ser e João ficou mundialmente conhecido como o grande domador de feras. — As feras trazem no coração um desamparo. Elas têm medo de sua própria força, dizia ele. Juntos viajaram muitos reinos e começaram uma nova vida em cada um deles. Ministério da Cultura e Endesa Brasil apresentam Patrocínio Realização Capítulo 1 - Introdução O nascimento de João Filhote A primeira vez que viu o mundo João-Filhote era tão pequeno que nem poderia imaginar quantos mundos veria depois. Morava em um lugar tranquilo e protegido. Ouvia, do lado de fora, o tititi dos outros bichos e via o tempo que clareava e escurecia sua casa. Um dia a casa de João rachou. Ele estava apertado demais lá dentro e ao se esticar um pouquinho rachou as paredes. Quem o esperava lá fora era sua mãe. Ela observava e torcia para o filho nascer. João sentiu um abraço apertado e molhado da mãe. E o mundo agora era ela. Quente e macia. Para ele a mãe era o mundo. Todo mundo, quando é filhote, é muito bonito. João também era. Até começar a crescer. Um dia, nasceram em João duas patas dianteiras fortes. A mãe se assustava com tanta mudança, mas ela o amava e tentava não olhar muito. A cauda de João também crescia a olhos vistos. Mas foi depois de nascerem seus dentes novos que João ficou sozinho. É que cada dia que passava, ele se transformava um tanto. Era como se de dentro dele nascesse outro e mais outro e outro ainda. Depois de tanta transformação, aquele que nasceu João- Filhote se tornou João- Jacaré. Um dia João-Jacaré estava abrigado da chuva dentro de uma gruta, quando viu um homem magro e frágil. Acostumado a assustar todo mundo com seu tamanho, João olhou o homem. Perguntou ao homem se sabia de que espécie ele era, pois não se sentia um jacaré, embora parecesse um. O homem disse que ele teria que descobrir a que espécie pertencia. Que todos os bichos eram uma mistura das espécies que seus avós e tataravós já foram. E que ele se transformaria muito ainda até se tornar um...um... Já sem forças, o homem morreu. João ficou paralisado diante do homem. Nunca tinha visto alguém morrer e queria tanto, tanto, saber o nome da espécie que o homem teria dito se não morresse. Nesse mesmo dia, João despediu-se de casa. Avisou apenas sua mãe, que chorou, não sei se de tristeza ou alívio pois, embora o amasse, não era fácil ser sua mãe. Capítulo 11 - Transformação-João, João, João- Jacaré ou... João andou sozinho muito tempo até encontrar Carolina. Carolina era uma princesa escolhida. Passava os dias se preparando para se tornar rainha. Embora não fosse filha de nenhum rei, a menina nascera com sete fios de cabelos dourados, o que no reino foi lido como prenúncio de um destino glorioso. Carolina estava muito triste naquele dia, pois sua avó estava doente. A avó havia criado a menina antes de todos descobrirem seus cabelos encantados. E agora estava sozinha na casa simples em que nascera. João ouviu o choro da menina e sua história e, para sua surpresa, Carolina não temia seu tamanho nem sua força. — Você é doce, João. Conto minha história e você chora! Era mesmo engraçado ver um bichão daquele tamanho choramingando. — É que nunca senti um amor assim, como o seu por sua avó, Carolina! E nem ao menos sei o que o mundo me reserva! — Mais isso é muita sorte! - dizia Carolina. - Pense em mim, que já tenho um destino determinado desde que nasci! Ah, se eu pudesse contar com uma vida de começos inesperados, surpresas e mudanças! - sonhava a menina Carolina. João nunca havia pensado assim e, para falar a verdade, ele temia o nascimento de novas patas, ou dentes ainda maiores. — Não tenha medo, João, afinal de contas você é um... Não deu tempo de terminar a frase. Ouviu-se um estrondo muito forte. Era o vulcão vizinho ao reino que entrara em erupção. Carolina se desesperou! Sua avó morava pertinho do Monstro de Fogo, como era chamado o vulcão. Quando ele entrava em erupção, a lava quente petrificava tudo que estava ao seu alcance: bichos, casas, florestas. Carolina abraçou João, que nunca havia sido abraçado. Ele sentiu seu peito esquentar, sentiu uma dor cortante e percebeu que haviam nascido duas asas. — Me leve até a minha avó, pediu Carolina. João voou com a menina até a aldeia. Pousou perto da casa, que estava em chamas. Mas antes, João viu o mundo do alto. Viu sua antiga casa. Viu o mar, o castelo e sua própria imagem refletida. Ele era um dragão!