!"#$" %'&)(*&)+,.- /10.2*&4365879&4/1:.+58;.2*<>=?5.@A2*3B;.- C)D 5.,.5FE)5.G.+&4- (IHJ&?,.+/?<>=)5.KA:.+5MLN&OHJ5F&4E)2*EOHJ&)(IHJ/)G.- D - ;./);.& Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 UMA APLICAÇÃO DO CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES PARA FARMÁCIAS HOSPITALARES Antônio Artur de Souza (UFMG) [email protected] Natália Cardoso de Souza (UFMG) [email protected] Simone Leticia Raimundini (UFRGS) [email protected] Fabrícia de Farias da Silva (UFMG) [email protected] Gustavo Ganem Achtschin (UFMG) [email protected] Os problemas financeiros, administrativos e de estrutura organizacional destacam-se entre aqueles mais freqüentes na área de saúde no Brasil. A presença de profissionais não qualificados em gestão empresarial pode acarretar erros no processso de tomada de decisões estratégicas também contribuem para agravar esta situação. Diversos estudos realizados no Brasil apresentam o Sistema de Custeio Baseado em Atividades como a ferramenta mais adequada para a gestão dos custos em hospitais. Este trabalho identificou e analisou as atividades desenvolvidas em Farmácias Hospitalares com o intuito de validar a modelagem do Sistema ABC neste setor. O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso descritivo. Os resultados indicam que as atividades são idênticas nos três estudos de casos, validando a modelagem. Palavras-chaves: Organizações Hospitalares; Atividades; Custos PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 1. Introdução Muitas mudanças ocorreram na área de saúde do Brasil nos últimos vinte anos. Com a Constituição de 1988, algumas garantias foram enunciadas pelo Estado, dentre as quais se destacam a preservação e a recuperação da saúde individual e coletiva. Com essa alteração, caberia ao Estado garantir aos cidadãos brasileiros a assistência à saúde, obedecendo aos princípios da universalidade, eqüidade e integralidade. O Sistema Único de Saúde (SUS), criado a partir da Constituição de 1988, foi uma iniciativa do Estado para que todos tivessem acesso às ações e serviços na área da Saúde. Assim, cada município deve possuir seu próprio hospital público para atender à demanda dos serviços de saúde (ANDRADE, PONTES e MARTINS JUNIOR, 2000; e CHERUBIN e SANTOS, 1997). A evolução tecnológica relacionada a medicamentos, equipamentos e tratamentos no campo da saúde, somada ao aumento do número de internações em hospitais públicos nos últimos anos (BRASIL, 2007), têm contribuído para que os custos dos serviços hospitalares fiquem cada vez mais elevados. Devido a esse aumento, os hospitais filantrópicos, públicos, universitários e privados, conveniados ou contratados, estão passando por graves problemas financeiros, agravados pela falta de investimentos para suprir o aumento da demanda. A Federação Brasileira de Hospitais (FBH, 2007) divulgou em seu sítio uma pesquisa sobre o endividamento dos hospitais. Segundo a FBH, o endividamento dos hospitais é de, aproximadamente, R$ 250.649.000,00, contra um faturamento que representa apenas 17,2% desse valor. Além disso, a FBH calcula que a necessidade de recursos para sanear as finanças dos hospitais pode ser estimada em aproximadamente R$222.525.000,00. A referida pesquisa engloba hospitais particulares, universitários, filantrópicos e Santas Casas de todo o Brasil. Segundo Hitt et. al. (2002), o que mais se constata nas organizações hospitalares brasileiras é a falta de uma administração exercida por profissionais qualificados em gestão. Para os hospitais privados, uma administração eficaz e eficiente é também fundamental, diante de um mercado que hoje é caracterizado pelo grande avanço da globalização e pela alta competitividade entre as organizações. A busca pelo menor custo, sem afetar a qualidade e a funcionalidade dos serviços, é um objetivo permanente das empresas que buscam vantagens no mercado. Dessa forma, as informações de custos devem representar, ao máximo, a realidade vivenciada pela empresa, para que as decisões relacionadas a custos sejam tomadas corretamente. Temse, contudo, que a qualidade das informações de custos está estreitamente ligada ao sistema de custeio utilizado para gerá-las. Dentre os sistemas de custeio existentes, o sistema ABC (Activity-Based Costing/Sistema de Custeio Baseado em Atividades) é indicado por diversos autores, tais como Brimson (1996), Flinker e Ward (1999) e Upda (1996), como superior aos demais sistemas de custeio em termos de capacidade de gerar informações para dar suporte à decisão gerencial. O sistema ABC surgiu como uma alternativa para auxiliar o processo decisório, tornando-o mais eficaz e eficiente, em lugar dos sistemas de custeio tradicionais. Devido às suas características, o sistema ABC demonstra ser uma alternativa para melhorar o processo decisório das empresas e, principalmente, para as organizações hospitalares, que necessitam de informações de custos no processo decisório. Em vista do que foi apresentado, este artigo teve por objetivo identificar e analisar as atividades desenvolvidas em Farmácias Hospitalares com o intuito de validar a modelagem do Sistema ABC neste setor hospitalar. Para isso, além da pesquisa de campo em hospitais 2 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 privados, utilizou-se um estudo empírico sobre a aplicação do Sistema ABC no Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF). 2. Farmácia como unidade interna de organizações hospitalares Durante muitos séculos, a finalidade de um hospital restringia-se unicamente ao tratamento de patologias, ou seja, a restauração da saúde do indivíduo. Com a evolução das ciências da saúde, outras funções foram atribuídas aos hospitais. Segundo a Comissão de Peritos em Assistência Médica da Organização Mundial da Saúde (OMS), criada, em Genebra, em 1956, o hospital foi definido como “uma parte integral de uma organização médica e social, cuja função é prover completa assistência de saúde à população curativa e preventiva e cujos serviços de ambulatório atingem até a família e seu meio ambiente” (apud MAUDONNET, 1988, p. 3 e MIRSHAWKA, 1994, p. 24). Os hospitais também são considerados organizações prestadoras de serviços, devido à simultaneidade entre a produção e o consumo do bem. Segundo Raimundini (2003), de maneira geral, podem-se identificar quatro conjuntos de serviços prestados, simultaneamente, nos hospitais para que um cliente (o paciente) seja atendido: serviços administrativos, serviços gerais, serviços técnicos/especializados e serviços de internação. Considerando os diversos serviços de apoio realizados em uma organização hospitalar, destaca-se a farmácia. A farmácia hospitalar, assim denominada, é um órgão de abrangência assistencial, técnico-científica e administrativa onde se desenvolvem atividades ligadas às atividades de produção, armazenamento, controle e dispensação de medicamentos, materiais médico-hospitalares e correlatos às diversas unidades de um hospital. É igualmente responsável pela orientação de pacientes internos e ambulatoriais, visando sempre à eficácia terapêutica, voltando-se também para o ensino e a pesquisa. Os serviços prestados pelo setor de Farmácia em um hospital representam atividades de apoio clínico integrado, funcional e hierárquico, em um grupo de serviços que dependem diretamente da Direção Central e estão em constante e estreita relação com sua administração (SBRAFH, 1997). A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH, 1997) define o serviço da farmácia hospitalar como um componente sistêmico da organização hospitalar, caracterizando-a como uma unidade clínica, administrativa e econômica. Seu funcionamento adequado depende da existência de uma área para administração, de uma área para armazenamento e de uma área para dispensação/orientação farmacêutica. 3. O Sistema ABC O Custeio Baseado em Atividades é um sistema que identifica as atividades como meio para alocar mais eficientemente os custos dos produtos ou qualquer outro objeto de custo (como clientes, por exemplo). Hansen e Mowen (2006) sustentam que este sistema de custeio pressupõe que as atividades consomem recursos e que os produtos (ou um objeto de custo qualquer) consomem as atividades. Esta é a principal diferença do ABC para os demais sistemas de custeio utilizados pela contabilidade tradicional, que alocam os custos dos recursos diretamente ao produto. O Sistema ABC, embora originário da indústria, teve desde o início sua aplicação voltada para a área de prestação de serviços (KAPLAN e COOPER, 1998). Essa ênfase deve-se ao fato de na área de prestação de serviços os custos indiretos (overhead) terem maior participação no custo total do serviço prestado do que na área industrial ou comercial (produto 3 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 fabricado ou comercializado). Como o sistema ABC concentra sua ação na alocação dos custos indiretos aos produtos e/ou serviços, foi na área de prestação de serviços que mais se difundiu. Segundo Horngren et. al. (2004) e Jonhson e Kaplan (1993), o fato do sistema ABC aprimorar a alocação dos custos indiretos aos serviços permite evitar distorções de subavaliação ou superavaliação desses custos aos serviços, além de permitir o controle de sua causa. Assim, sendo as organizações hospitalares empresas prestadoras de serviços em saúde, são grandes candidatas ao sucesso com a implantação do Sistema ABC. 3.1 Atividade nas organizações De acordo com Horngren et. al. (2004) e Jonhson e Kaplan (1993), a definição das atividades em uma organização constitui um ponto crucial no desenvolvimento do sistema ABC, já que as atividades desenvolvidas configuram-se como o centro de análises e estudo deste sistema. Flinker e Ward (1999a), Kaplan e Cooper (1998) e Hansen e Mowen (2006) definem atividade como a unidade de trabalho realizado na organização que utiliza recursos (pessoas, tecnologia e matéria-prima) para manufaturar um bem. Várias atividades agrupadas constituem um processo, e a análise do processo e das respectivas atividades permite distinguir os fatores responsáveis pelo consumo dos recursos e das atividades. Uma forma de classificar as atividades seria de acordo com o valor agregado: a) de alto valor agregado – atividades necessárias ao negócio; e b) de baixo ou nenhum valor agregado. As atividades que agregam valor são aquelas que absorvem recursos, transformando-os em produtos ou serviços compatíveis com as necessidades dos clientes e contribuem para atingir o objetivo da organização. As atividades que não agregam valor são aquelas que não possuem relevância na perspectiva dos clientes, porém essas atividades podem ser necessárias ou não para a produção ou prestação do serviço (HANSEN e MOWEN, 2006 e KAPLAN e COOPER, 1998). Dessa forma, para que no momento da escolha das atividades de um setor não sejam utilizadas atividades pouco relevantes, pode-se fazer uma seleção das mais importantes com base nos custos de execução, no tempo ou na qualidade destas. O ABC não está preocupado em segregar custos e despesas, mas procura separar atividades que adicionam valor daquelas que não adicionam valor aos produtos. 4. Metodologia de Pesquisa O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, no setor de Farmácia Hospitalar, de dois hospitais. Os dados primários obtidos, de natureza qualitativa, tiveram a finalidade de descrever as atividades desenvolvidas no campo de pesquisa e compara-las com outro estudo, realizado por Botelho (2006) no HUCF, tratado como dados secundários. Os dados primários foram obtidos em setembro de 2005 (Hospital II) e outubro de 2006 (Hospital I). O Hospital I é um hospital privado com fins lucrativos e o Hospital II é, também um hospital privado, com natureza filantrópica, isto é, sem fins lucrativos. O HUCF é um hospital público, vinculado a Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), em Montes Claros, Estado de Minas Gerais. As técnicas de coleta de dados utilizada nesta pesquisa foram: pesquisa bibliográfica (livros, artigos, dissertações, teses e materiais disponíveis em sítios), observações não participantes, entrevistas não estruturas e semi-estruturadas, consulta a arquivos e documentos. Além das diversas fontes de coleta de dados, foi utilizado o protocolo de pesquisa, tanto para conduzir a 4 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 coleta de dados como para a análise dos dados. Yin (2001) comenta que o protocolo de pesquisa também é um mecanismo muito útil e importante para conduzir e aumentar a confiabilidade do estudo de caso. A finalidade do protocolo de pesquisa é orientar o pesquisador na condução do estudo, principalmente quando realiza estudos de casos múltiplos. 5. Estudo de Casos 5.1 Setor Farmácia no Hospital I A Farmácia Hospitalar do Hospital I, situado na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, é composta por uma farmácia central e três farmácias setoriais: a) a Farmácia da UTI, que atende a UTI Adulto e a UTI Neo-natal; b) a Farmácia do Bloco, que atende o Bloco Cirúrgico e as cirurgias do Bloco Obstétrico; e c) a Farmácia Central, onde são atendidas as Unidades de Internação e o Pronto-Atendimento. A Farmácia pode ser considerada um setor estratégico, pois recebe os materiais e medicamentos, utilizando-os de forma a desempenhar sua função principal (dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares) e a contribuir para a redução dos custos hospitalares, já que os estoques são considerados itens primordiais quando o objetivo é a redução de custos, devido a sua relevância no ciclo operacional das organizações hospitalares. A Farmácia configura como interface entre os serviços prestados pelo Almoxarifado - que tem a finalidade de possibilitar o controle de estoque, por meio do recurso de leitura ótica e do código de barras, sendo o responsável pela centralização de todos os fornecimentos de medicamentos, abastecendo as Farmácias por meio de requisições eletrônicas emitidas a cada 24 horas - e o atendimento das demandas das diferentes unidades do hospital. É o elo entre os médicos/pacientes e o Almoxarifado, e outros serviços administrativos de apoio. Nesse hospital, procura-se sempre manter o estoque entre uma quantidade mínima e máxima de todos os materiais e medicamentos, para que não haja faltas ou desperdícios. O sistema de informações utilizado fornece a posição do estoque global de cada uma das três Farmácias e do Almoxarifado. Mensalmente, é feito o inventário manual do estoque, para fins de controle interno. Ocorrem, ainda, transferências de materiais e medicamentos entre as Farmácias. Essas trocas são registradas no sistema, mas não pelo código de barras, já que os requisitantes digitam diretamente no sistema o item que deseja ser trocado. 5.2 Setor de Farmácia Hospital II O Hospital II também está localizado na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O Setor de Farmácia, neste hospital, está subordinada à Gerência Administrativa e à Superintendência de Gestão Hospitalar, e é subdividida em: − Farmácia, também denominada de Farmácia Central: compreende a dispensação de medicamentos e materiais, recebimento e armazenamento, informação, controle de estoque, órteses e próteses, selagem e etiquetamento; coordenação do serviço de farmácia; − Laboratório Farmacotécnico, também denominado de Manipulação: compreende a produção e diluição, controle de qualidade e de estoque de materiais médicos-hospitalares e medicamento farmacotécnicos, distribuição, preparo de nutrição parenteral, fracionamento de injetáveis e comprimidos, coordenação. Junto à Farmácia Central tem-se o Almoxarifado de materiais médicos-hospitalares e medicamentos. A Farmácia Central é responsável pelo abastecimento das farmácias satélites. Há um sistema de controle de estoque em cada farmácia satélite, e a reposição é de acordo 5 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 com o relatório de consumo destas farmácias. A política de estocagem consiste em dispor de um estoque que atenda à demanda média de trinta dias, não tendo uma política de estoque mínimo. Neste período, faz-se uma verificação semanal de observação do estoque para efetuar compras de materiais médicos ou medicamentos que estão na eminência de faltar. Ainda, o sistema de controle de estoque apresenta falhas que prejudicam a confiabilidade do sistema. A dispensação é diária, de acordo com as requisições recebidas dos requerentes, sendo entregue no setor que solicitou. 5.3 Análise das atividades do Setor de Farmácia Hospitalar De acordo com Botelho (2006), na pesquisa realizada no HUCF a Farmácia desenvolvia as seguintes atividades: distribuição de medicamentos e materiais médico-hospitalares, gestão logística, assistência farmacêutica em comissões, atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico, e administração do setor. Depois de estabelecidas as atividades desenvolvidas pelo setor, Botelho (2006) identifica os direcionadores de recursos responsáveis pela transferência de recursos consumidos no mesmo. São eles: tempo (em minutos), estimativa gerencial e KWh, demonstrados no Quadro 1. Recursos Direcionadores de Recursos Pessoal Tempo em minutos Material de Expediente Estimativa Gerencial Energia Elétrica KWh Telefone Estimativa Gerencial Recursos Recebidos de Outros Setores Tempo em minutos Fonte: dados secundários (adaptado de BOTELHO, 2006) Quadro 1 – Direcionadores de recursos da Farmácia A partir disso, mensuram-se os custos de cada atividade. Em seguida, identifica-se o objeto de custos do setor. De acordo com Botelho (2006), a Farmácia do HUCF presta os seguintes serviços: gerenciar e dispensar os medicamentos para as análises clínicas e prestar assistência em comissões e serviços e consultoria para os médicos. Dessa forma, como é o serviço que requer maior quantidade de tempo dos funcionários, o gerenciamento e dispensação de medicamentos ficou sendo o objeto de custo do setor. Para Botelho (2006), as informações necessárias para a aplicação do ABC no setor de Farmácia são: a) a quantidade de funcionários existentes no setor; b) as atividades desenvolvidas; c) o tempo para executar as atividades; d) a quantidade de requisições atendidas pelo setor; e) quais medicamentos são distribuídos para as clínicas e blocos; f) quais os medicamentos são padronizados; e g) qual a periodicidade das consultorias dadas aos médicos. No Hospital I, verificaram-se todas as atividades identificadas por Botelho (2006), além de serem identificadas outras três atividades desenvolvidas pelo setor de farmácia: compra de medicamentos, emissão de relatórios e limpeza da área da própria farmácia. A descrição dessas atividades é apresentada no Quadro 2. Atividade Distribuir/dispensar medicamentos Atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico Gestão logística Descrição Dispensar diversos medicamentos e materiais médico-hospitalares. Orientar os pacientes e prestar informações sobre medicamentos. Cadastro, aquisição, recebimento, armazenamento e controle de materiais e medicamentos, registro de movimentação de estoque. 6 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 Comprar medicamentos Limpeza da área Administração Fonte: Dados primários Emitir pedidos através de requisições eletrônicas. A Farmácia é responsável pela limpeza do seu próprio setor. Gestão administrativa, incluindo emissão de relatórios. Quadro 2 – Descrição das atividades do Hospital I Em relação aos recursos consumidos na Farmácia do Hospital I, os “Recursos Recebidos de Outros Setores” são fornecidos por outros setores do hospital. Esses recursos se referem de fato a serviços prestados, pois dizem respeito ao uso de mão-de-obra. No caso do Hospital I, distribuir/dispensar medicamentos também deve ser o objeto de custos, já que este serviço é único prestado pelo setor de Farmácia. Botelho (2006) afirma que quando o setor possui um único objeto de custos, deve-se somar os custos de todas as atividades, alocando para o referido objeto de custo. No setor de Farmácia Hospitalar do Hospital II foram identificados dois objetos de custos: material médico e medicamentos (Farmácia Central) e medicamentos manipulados (Laboratório Farmacotécnico). O Quadro 3 demonstra as atividades desenvolvidas para cada objeto de custos. Como o setor de Farmácia Hospitalar do Hospital II desenvolve dois produtos, foi necessário identificar as atividades para cada um dos produtos. Observa-se que, algumas atividades do Laboratório Farmacotécnico (distribuir/dispensar medicamentos, atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico e gestão logística) são semelhantes àquelas desenvolvidas pela Farmácia Central, mas devido a especificidade do produto não é adequado, pelas normas de segurança em serviços de saúde, que estas atividades sejam realizadas conjuntamente. Com isso, embora a Farmácia Hospitalar seja um único setor é importante manter esta segregação de função. Atividade Farmácia Central Distribuir/dispensar medicamentos Atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico Orientar os pacientes e prestar informações sobre medicamentos. Gestão logística Comprar medicamentos Assistência farmacêutica em comissões Administração Laboratório Farmacotécnico Manipular fórmulas Distribuir/dispensar medicamentos Atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico Gestão logística Controlar a qualidade Administração Fonte: dados primários Descrição Atender as prescrições médicas e requisições e dispensar os diversos medicamentos e materiais médico-hospitalares requisitados. Dar entrada e saída dos medicamentos e materiais médicos por dispensação compra e/ou retorno. Fazer a previsão e solicitação de compras. Participar de comissões hospitalares Gestão do laboratório (Farmácia Central). Descrição Desenvolver técnicas adequadas de manipulação. Distribuir os produtos de acordo com a demanda. Orientar os pacientes e prestar informações do correto uso dos medicamentos e materiais-médicos preparados. Dar entrada e saída dos produtos manipulados e controle dos estoques das matérias-primas necessárias para a manipulação. Fazer o controle de qualidade dos produtos manipulados e das matériasprimas utilizadas. Gestão do laboratório (Farmacotécnica). Quadro 3 – Descrição das atividades do Hospital II Comparando as atividades do Hospital I e Hospital II com o HUCF foi observado que neste último não há a atividade de atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico. Em alguns hospitais, dependendo de sua estrutura, essa atividade está contemplada na atividade de 7 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 assistência farmacêutica em comissões e aos pacientes e corpo clínico. Observou-se que a atividade de atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico é uma atividade importante para que os medicamentos sejam melhores utilizados. De modo geral, observou que o setor de Farmácia Hospitalar é essencial para a realização dos procedimentos hospitalares, confirmando as afirmações da seção 2. A Farmácia Hospitalar pode ser compreendida como um setor de apoio na realização dos serviços médicos e tratamento terapêutico dos pacientes (os clientes), por fornecer, de forma contínua, medicamentos, materiais médicos e, havendo o Laboratório Farmacotécnico, também a alimentação parenteral. Ainda, a estreita relação com o setor de Almoxarifado é essencial para a execução das atividades da Farmácia Hospitalar. Analisando as atividades da Farmácia Hospitalar quanto ao objeto de custo final, o serviço que o hospital presta ao paciente na perspectiva deste, somente a atividade de atenção farmacêutica ao paciente agrega valor, de forma direta, porque o paciente interage com o agente que está realizando a atividade. A atividade distribuir/dispensar medicamento agrega valor, de forma indireta, por ser menos perceptível pelo paciente. As demais atividades da Farmácia Hospitalar, sob a perspectiva do cliente não agregam valor, mas são essenciais para o bom funcionamento do setor, isto significa que o hospital deve mantê-la para não prejudicar as demais atividades. 6. Conclusão A partir dos resultados descritos, conclui-se que o sistema ABC, além de proporcionar um melhor custeamento dos serviços, como ferramenta de gestão financeira, configura-se como uma ferramenta gerencial muito útil. A utilização desse sistema permite uma melhor determinação do preço dos serviços, identifica custos relevantes, planeja atividades, estabelece metas de custos e controla investimentos. A pesquisa bibliográfica possibilitou concluir que existem passos que devem ser seguidos para a implantação do sistema ABC em organizações hospitalares, sendo a primeira etapa o envolvimento de todos os funcionários e a conscientização da necessidade de uso do sistema. São necessários também o detalhamento das atividades e dos direcionadores de custos, o conhecimento dos recursos e a identificação dos direcionadores de custo. Isso é confirmado durante a realização das pesquisas no Hospital I e Hospital II quando o objetivo principal foi mapear as atividades desenvolvidas em todas as áreas do hospital e identificar como estas atividades se relacionam. Pôde-se concluir que a Farmácia Hospitalar é um setor bastante estratégico, pois utiliza os serviços oriundos do setor de Almoxarifado, de forma a desempenhar sua função principal (dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares), e de outros setores de apoio, como a Limpeza. A Farmácia Hospitalar é compreendida como uma interface entre os serviços prestados pelo Almoxarifado e o atendimento das demandas das diferentes unidades do hospital, sendo o elo entre os médicos/pacientes e o Almoxarifado e outros serviços administrativos de apoio. Desse modo, conclui-se que a Farmácia Hospitalar é um setor importante no desempenho da atividade hospitalar e pode contribuir para a redução dos custos hospitalares. Neste sentido, conclui-se fundamentado nos resultados apresentados na subseção 5.3, que Sistema ABC se mostra como uma ferramenta útil para este setor, pois possibilita identificar com objetividade e clareza as diferentes atividades realizadas, agilizando o processo de mensuração, análise dos custos, gestão financeira, planejamento e tomada de decisão. 8 PPQRSRUT8VWXYVAZ\[XVA]WRSXYVA]^F_Y`6`.aYbY`8aYcY%dYe %f_Y`6gUdhY_Yijk%h l'mMn?mIo p?q rsut9mvwJx*myrz9o w9{?t9|~}~w??t?v{9q ~ w?p9w~w9?o myq nO mMp9o r~|u}~w9>z?o wOm NwmyIt?N mMnJ rM?q q {?r~{9m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 Os resultados da pesquisa possibilitam concluir que o setor de Farmácia Hospitalar dos Hospitais I e II apresenta as informações necessárias para a aplicação do sistema ABC. Algumas melhorias em controles internação serão necessárias são necessárias, mas não inviabilizam a implementação deste sistema de custeio. Conclui-se que a modelagem, objetivo principal deste artigo, é viável. A partir desta modelagem é possível implementar o Sistema ABC em qualquer tipo de organização hospitalar, tanto em hospitais públicos, como é o caso do HUCF, quanto em hospitais privados com fins lucrativos ou não. É importante mencionar que a implementação do Sistema ABC em outras unidades hospitalares demanda, previamente, de um estudo para identificar quais são as adaptações necessárias e se há condições de infra-estrutura. Percebe-se que a metodologia adotada foi adequada para a realização das pesquisas. Ela proporcionou a realização do estudo em profundidade, a compreensão dos eventos ocorrido no setor de Farmácia Hospitalar e sua relação com os demais setores do hospital, inclusive, o serviço prestado ao cliente. Ainda, a comparação entre as pesquisas no Hospital I e Hospital II (dados primários) e as pesquisas realizadas por outros autores (dados secundários) foi importante para a aplicação da modelagem das atividades do Sistema ABC. Referências: ANDRADE, L. O. 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