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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
UMA APLICAÇÃO DO CUSTEIO
BASEADO EM ATIVIDADES PARA
FARMÁCIAS HOSPITALARES
Antônio Artur de Souza (UFMG)
[email protected]
Natália Cardoso de Souza (UFMG)
[email protected]
Simone Leticia Raimundini (UFRGS)
[email protected]
Fabrícia de Farias da Silva (UFMG)
[email protected]
Gustavo Ganem Achtschin (UFMG)
[email protected]
Os problemas financeiros, administrativos e de estrutura
organizacional destacam-se entre aqueles mais freqüentes na área de
saúde no Brasil. A presença de profissionais não qualificados em
gestão empresarial pode acarretar erros no processso de tomada de
decisões estratégicas também contribuem para agravar esta situação.
Diversos estudos realizados no Brasil apresentam o Sistema de Custeio
Baseado em Atividades como a ferramenta mais adequada para a
gestão dos custos em hospitais. Este trabalho identificou e analisou as
atividades desenvolvidas em Farmácias Hospitalares com o intuito de
validar a modelagem do Sistema ABC neste setor. O método de
pesquisa adotado foi o estudo de caso descritivo. Os resultados
indicam que as atividades são idênticas nos três estudos de casos,
validando a modelagem.
Palavras-chaves: Organizações Hospitalares; Atividades; Custos
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Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007
1. Introdução
Muitas mudanças ocorreram na área de saúde do Brasil nos últimos vinte anos. Com a
Constituição de 1988, algumas garantias foram enunciadas pelo Estado, dentre as quais se
destacam a preservação e a recuperação da saúde individual e coletiva. Com essa alteração,
caberia ao Estado garantir aos cidadãos brasileiros a assistência à saúde, obedecendo aos
princípios da universalidade, eqüidade e integralidade. O Sistema Único de Saúde (SUS),
criado a partir da Constituição de 1988, foi uma iniciativa do Estado para que todos tivessem
acesso às ações e serviços na área da Saúde. Assim, cada município deve possuir seu próprio
hospital público para atender à demanda dos serviços de saúde (ANDRADE, PONTES e
MARTINS JUNIOR, 2000; e CHERUBIN e SANTOS, 1997).
A evolução tecnológica relacionada a medicamentos, equipamentos e tratamentos no campo
da saúde, somada ao aumento do número de internações em hospitais públicos nos últimos
anos (BRASIL, 2007), têm contribuído para que os custos dos serviços hospitalares fiquem
cada vez mais elevados. Devido a esse aumento, os hospitais filantrópicos, públicos,
universitários e privados, conveniados ou contratados, estão passando por graves problemas
financeiros, agravados pela falta de investimentos para suprir o aumento da demanda. A
Federação Brasileira de Hospitais (FBH, 2007) divulgou em seu sítio uma pesquisa sobre o
endividamento dos hospitais. Segundo a FBH, o endividamento dos hospitais é de,
aproximadamente, R$ 250.649.000,00, contra um faturamento que representa apenas 17,2%
desse valor. Além disso, a FBH calcula que a necessidade de recursos para sanear as finanças
dos hospitais pode ser estimada em aproximadamente R$222.525.000,00. A referida pesquisa
engloba hospitais particulares, universitários, filantrópicos e Santas Casas de todo o Brasil.
Segundo Hitt et. al. (2002), o que mais se constata nas organizações hospitalares brasileiras é
a falta de uma administração exercida por profissionais qualificados em gestão. Para os
hospitais privados, uma administração eficaz e eficiente é também fundamental, diante de um
mercado que hoje é caracterizado pelo grande avanço da globalização e pela alta
competitividade entre as organizações. A busca pelo menor custo, sem afetar a qualidade e a
funcionalidade dos serviços, é um objetivo permanente das empresas que buscam vantagens
no mercado.
Dessa forma, as informações de custos devem representar, ao máximo, a realidade vivenciada
pela empresa, para que as decisões relacionadas a custos sejam tomadas corretamente. Temse, contudo, que a qualidade das informações de custos está estreitamente ligada ao sistema de
custeio utilizado para gerá-las. Dentre os sistemas de custeio existentes, o sistema ABC
(Activity-Based Costing/Sistema de Custeio Baseado em Atividades) é indicado por diversos
autores, tais como Brimson (1996), Flinker e Ward (1999) e Upda (1996), como superior aos
demais sistemas de custeio em termos de capacidade de gerar informações para dar suporte à
decisão gerencial. O sistema ABC surgiu como uma alternativa para auxiliar o processo
decisório, tornando-o mais eficaz e eficiente, em lugar dos sistemas de custeio tradicionais.
Devido às suas características, o sistema ABC demonstra ser uma alternativa para melhorar o
processo decisório das empresas e, principalmente, para as organizações hospitalares, que
necessitam de informações de custos no processo decisório.
Em vista do que foi apresentado, este artigo teve por objetivo identificar e analisar as
atividades desenvolvidas em Farmácias Hospitalares com o intuito de validar a modelagem do
Sistema ABC neste setor hospitalar. Para isso, além da pesquisa de campo em hospitais
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privados, utilizou-se um estudo empírico sobre a aplicação do Sistema ABC no Hospital
Universitário Clemente de Faria (HUCF).
2. Farmácia como unidade interna de organizações hospitalares
Durante muitos séculos, a finalidade de um hospital restringia-se unicamente ao tratamento de
patologias, ou seja, a restauração da saúde do indivíduo. Com a evolução das ciências da
saúde, outras funções foram atribuídas aos hospitais. Segundo a Comissão de Peritos em
Assistência Médica da Organização Mundial da Saúde (OMS), criada, em Genebra, em 1956,
o hospital foi definido como “uma parte integral de uma organização médica e social, cuja
função é prover completa assistência de saúde à população curativa e preventiva e cujos
serviços de ambulatório atingem até a família e seu meio ambiente” (apud MAUDONNET,
1988, p. 3 e MIRSHAWKA, 1994, p. 24).
Os hospitais também são considerados organizações prestadoras de serviços, devido à
simultaneidade entre a produção e o consumo do bem. Segundo Raimundini (2003), de
maneira geral, podem-se identificar quatro conjuntos de serviços prestados, simultaneamente,
nos hospitais para que um cliente (o paciente) seja atendido: serviços administrativos, serviços
gerais, serviços técnicos/especializados e serviços de internação.
Considerando os diversos serviços de apoio realizados em uma organização hospitalar,
destaca-se a farmácia. A farmácia hospitalar, assim denominada, é um órgão de abrangência
assistencial, técnico-científica e administrativa onde se desenvolvem atividades ligadas às
atividades de produção, armazenamento, controle e dispensação de medicamentos, materiais
médico-hospitalares e correlatos às diversas unidades de um hospital. É igualmente
responsável pela orientação de pacientes internos e ambulatoriais, visando sempre à eficácia
terapêutica, voltando-se também para o ensino e a pesquisa. Os serviços prestados pelo setor
de Farmácia em um hospital representam atividades de apoio clínico integrado, funcional e
hierárquico, em um grupo de serviços que dependem diretamente da Direção Central e estão
em constante e estreita relação com sua administração (SBRAFH, 1997).
A Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (SBRAFH, 1997) define o serviço da farmácia
hospitalar como um componente sistêmico da organização hospitalar, caracterizando-a como
uma unidade clínica, administrativa e econômica. Seu funcionamento adequado depende da
existência de uma área para administração, de uma área para armazenamento e de uma área
para dispensação/orientação farmacêutica.
3. O Sistema ABC
O Custeio Baseado em Atividades é um sistema que identifica as atividades como meio para
alocar mais eficientemente os custos dos produtos ou qualquer outro objeto de custo (como
clientes, por exemplo). Hansen e Mowen (2006) sustentam que este sistema de custeio
pressupõe que as atividades consomem recursos e que os produtos (ou um objeto de custo
qualquer) consomem as atividades. Esta é a principal diferença do ABC para os demais
sistemas de custeio utilizados pela contabilidade tradicional, que alocam os custos dos
recursos diretamente ao produto.
O Sistema ABC, embora originário da indústria, teve desde o início sua aplicação voltada
para a área de prestação de serviços (KAPLAN e COOPER, 1998). Essa ênfase deve-se ao
fato de na área de prestação de serviços os custos indiretos (overhead) terem maior
participação no custo total do serviço prestado do que na área industrial ou comercial (produto
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fabricado ou comercializado). Como o sistema ABC concentra sua ação na alocação dos
custos indiretos aos produtos e/ou serviços, foi na área de prestação de serviços que mais se
difundiu.
Segundo Horngren et. al. (2004) e Jonhson e Kaplan (1993), o fato do sistema ABC aprimorar
a alocação dos custos indiretos aos serviços permite evitar distorções de subavaliação ou
superavaliação desses custos aos serviços, além de permitir o controle de sua causa. Assim,
sendo as organizações hospitalares empresas prestadoras de serviços em saúde, são grandes
candidatas ao sucesso com a implantação do Sistema ABC.
3.1 Atividade nas organizações
De acordo com Horngren et. al. (2004) e Jonhson e Kaplan (1993), a definição das atividades
em uma organização constitui um ponto crucial no desenvolvimento do sistema ABC, já que
as atividades desenvolvidas configuram-se como o centro de análises e estudo deste sistema.
Flinker e Ward (1999a), Kaplan e Cooper (1998) e Hansen e Mowen (2006) definem
atividade como a unidade de trabalho realizado na organização que utiliza recursos (pessoas,
tecnologia e matéria-prima) para manufaturar um bem. Várias atividades agrupadas
constituem um processo, e a análise do processo e das respectivas atividades permite
distinguir os fatores responsáveis pelo consumo dos recursos e das atividades.
Uma forma de classificar as atividades seria de acordo com o valor agregado: a) de alto valor
agregado – atividades necessárias ao negócio; e b) de baixo ou nenhum valor agregado. As
atividades que agregam valor são aquelas que absorvem recursos, transformando-os em
produtos ou serviços compatíveis com as necessidades dos clientes e contribuem para atingir
o objetivo da organização. As atividades que não agregam valor são aquelas que não possuem
relevância na perspectiva dos clientes, porém essas atividades podem ser necessárias ou não
para a produção ou prestação do serviço (HANSEN e MOWEN, 2006 e KAPLAN e
COOPER, 1998).
Dessa forma, para que no momento da escolha das atividades de um setor não sejam
utilizadas atividades pouco relevantes, pode-se fazer uma seleção das mais importantes com
base nos custos de execução, no tempo ou na qualidade destas. O ABC não está preocupado
em segregar custos e despesas, mas procura separar atividades que adicionam valor daquelas
que não adicionam valor aos produtos.
4. Metodologia de Pesquisa
O método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, no setor de Farmácia Hospitalar, de dois
hospitais. Os dados primários obtidos, de natureza qualitativa, tiveram a finalidade de
descrever as atividades desenvolvidas no campo de pesquisa e compara-las com outro estudo,
realizado por Botelho (2006) no HUCF, tratado como dados secundários. Os dados primários
foram obtidos em setembro de 2005 (Hospital II) e outubro de 2006 (Hospital I).
O Hospital I é um hospital privado com fins lucrativos e o Hospital II é, também um hospital
privado, com natureza filantrópica, isto é, sem fins lucrativos. O HUCF é um hospital público,
vinculado a Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), em Montes Claros,
Estado de Minas Gerais.
As técnicas de coleta de dados utilizada nesta pesquisa foram: pesquisa bibliográfica (livros,
artigos, dissertações, teses e materiais disponíveis em sítios), observações não participantes,
entrevistas não estruturas e semi-estruturadas, consulta a arquivos e documentos. Além das
diversas fontes de coleta de dados, foi utilizado o protocolo de pesquisa, tanto para conduzir a
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coleta de dados como para a análise dos dados. Yin (2001) comenta que o protocolo de
pesquisa também é um mecanismo muito útil e importante para conduzir e aumentar a
confiabilidade do estudo de caso. A finalidade do protocolo de pesquisa é orientar o
pesquisador na condução do estudo, principalmente quando realiza estudos de casos
múltiplos.
5. Estudo de Casos
5.1 Setor Farmácia no Hospital I
A Farmácia Hospitalar do Hospital I, situado na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas
Gerais, é composta por uma farmácia central e três farmácias setoriais: a) a Farmácia da UTI,
que atende a UTI Adulto e a UTI Neo-natal; b) a Farmácia do Bloco, que atende o Bloco
Cirúrgico e as cirurgias do Bloco Obstétrico; e c) a Farmácia Central, onde são atendidas as
Unidades de Internação e o Pronto-Atendimento.
A Farmácia pode ser considerada um setor estratégico, pois recebe os materiais e
medicamentos, utilizando-os de forma a desempenhar sua função principal (dispensação de
medicamentos e materiais médico-hospitalares) e a contribuir para a redução dos custos
hospitalares, já que os estoques são considerados itens primordiais quando o objetivo é a
redução de custos, devido a sua relevância no ciclo operacional das organizações hospitalares.
A Farmácia configura como interface entre os serviços prestados pelo Almoxarifado - que tem
a finalidade de possibilitar o controle de estoque, por meio do recurso de leitura ótica e do
código de barras, sendo o responsável pela centralização de todos os fornecimentos de
medicamentos, abastecendo as Farmácias por meio de requisições eletrônicas emitidas a cada
24 horas - e o atendimento das demandas das diferentes unidades do hospital. É o elo entre os
médicos/pacientes e o Almoxarifado, e outros serviços administrativos de apoio.
Nesse hospital, procura-se sempre manter o estoque entre uma quantidade mínima e máxima
de todos os materiais e medicamentos, para que não haja faltas ou desperdícios. O sistema de
informações utilizado fornece a posição do estoque global de cada uma das três Farmácias e
do Almoxarifado. Mensalmente, é feito o inventário manual do estoque, para fins de controle
interno. Ocorrem, ainda, transferências de materiais e medicamentos entre as Farmácias.
Essas trocas são registradas no sistema, mas não pelo código de barras, já que os requisitantes
digitam diretamente no sistema o item que deseja ser trocado.
5.2 Setor de Farmácia Hospital II
O Hospital II também está localizado na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O Setor
de Farmácia, neste hospital, está subordinada à Gerência Administrativa e à Superintendência
de Gestão Hospitalar, e é subdividida em:
− Farmácia, também denominada de Farmácia Central: compreende a dispensação de
medicamentos e materiais, recebimento e armazenamento, informação, controle de
estoque, órteses e próteses, selagem e etiquetamento; coordenação do serviço de farmácia;
− Laboratório Farmacotécnico, também denominado de Manipulação: compreende a
produção e diluição, controle de qualidade e de estoque de materiais médicos-hospitalares
e medicamento farmacotécnicos, distribuição, preparo de nutrição parenteral,
fracionamento de injetáveis e comprimidos, coordenação.
Junto à Farmácia Central tem-se o Almoxarifado de materiais médicos-hospitalares e
medicamentos. A Farmácia Central é responsável pelo abastecimento das farmácias satélites.
Há um sistema de controle de estoque em cada farmácia satélite, e a reposição é de acordo
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com o relatório de consumo destas farmácias. A política de estocagem consiste em dispor de
um estoque que atenda à demanda média de trinta dias, não tendo uma política de estoque
mínimo. Neste período, faz-se uma verificação semanal de observação do estoque para efetuar
compras de materiais médicos ou medicamentos que estão na eminência de faltar. Ainda, o
sistema de controle de estoque apresenta falhas que prejudicam a confiabilidade do sistema. A
dispensação é diária, de acordo com as requisições recebidas dos requerentes, sendo entregue
no setor que solicitou.
5.3 Análise das atividades do Setor de Farmácia Hospitalar
De acordo com Botelho (2006), na pesquisa realizada no HUCF a Farmácia desenvolvia as
seguintes atividades: distribuição de medicamentos e materiais médico-hospitalares, gestão
logística, assistência farmacêutica em comissões, atenção farmacêutica aos pacientes e ao
corpo clínico, e administração do setor.
Depois de estabelecidas as atividades desenvolvidas pelo setor, Botelho (2006) identifica os
direcionadores de recursos responsáveis pela transferência de recursos consumidos no mesmo.
São eles: tempo (em minutos), estimativa gerencial e KWh, demonstrados no Quadro 1.
Recursos
Direcionadores de Recursos
Pessoal
Tempo em minutos
Material de Expediente
Estimativa Gerencial
Energia Elétrica
KWh
Telefone
Estimativa Gerencial
Recursos Recebidos de Outros Setores Tempo em minutos
Fonte: dados secundários (adaptado de BOTELHO, 2006)
Quadro 1 – Direcionadores de recursos da Farmácia
A partir disso, mensuram-se os custos de cada atividade. Em seguida, identifica-se o objeto de
custos do setor. De acordo com Botelho (2006), a Farmácia do HUCF presta os seguintes
serviços: gerenciar e dispensar os medicamentos para as análises clínicas e prestar assistência
em comissões e serviços e consultoria para os médicos. Dessa forma, como é o serviço que
requer maior quantidade de tempo dos funcionários, o gerenciamento e dispensação de
medicamentos ficou sendo o objeto de custo do setor.
Para Botelho (2006), as informações necessárias para a aplicação do ABC no setor de
Farmácia são: a) a quantidade de funcionários existentes no setor; b) as atividades
desenvolvidas; c) o tempo para executar as atividades; d) a quantidade de requisições
atendidas pelo setor; e) quais medicamentos são distribuídos para as clínicas e blocos; f) quais
os medicamentos são padronizados; e g) qual a periodicidade das consultorias dadas aos
médicos.
No Hospital I, verificaram-se todas as atividades identificadas por Botelho (2006), além de
serem identificadas outras três atividades desenvolvidas pelo setor de farmácia: compra de
medicamentos, emissão de relatórios e limpeza da área da própria farmácia. A descrição
dessas atividades é apresentada no Quadro 2.
Atividade
Distribuir/dispensar medicamentos
Atenção farmacêutica aos
pacientes e ao corpo clínico
Gestão logística
Descrição
Dispensar diversos medicamentos e materiais médico-hospitalares.
Orientar os pacientes e prestar informações sobre medicamentos.
Cadastro, aquisição, recebimento, armazenamento e controle de materiais
e medicamentos, registro de movimentação de estoque.
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Comprar medicamentos
Limpeza da área
Administração
Fonte: Dados primários
Emitir pedidos através de requisições eletrônicas.
A Farmácia é responsável pela limpeza do seu próprio setor.
Gestão administrativa, incluindo emissão de relatórios.
Quadro 2 – Descrição das atividades do Hospital I
Em relação aos recursos consumidos na Farmácia do Hospital I, os “Recursos Recebidos de
Outros Setores” são fornecidos por outros setores do hospital. Esses recursos se referem de
fato a serviços prestados, pois dizem respeito ao uso de mão-de-obra. No caso do Hospital I,
distribuir/dispensar medicamentos também deve ser o objeto de custos, já que este serviço é
único prestado pelo setor de Farmácia. Botelho (2006) afirma que quando o setor possui um
único objeto de custos, deve-se somar os custos de todas as atividades, alocando para o
referido objeto de custo.
No setor de Farmácia Hospitalar do Hospital II foram identificados dois objetos de custos:
material médico e medicamentos (Farmácia Central) e medicamentos manipulados
(Laboratório Farmacotécnico). O Quadro 3 demonstra as atividades desenvolvidas para cada
objeto de custos. Como o setor de Farmácia Hospitalar do Hospital II desenvolve dois
produtos, foi necessário identificar as atividades para cada um dos produtos. Observa-se que,
algumas atividades do Laboratório Farmacotécnico (distribuir/dispensar medicamentos,
atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico e gestão logística) são semelhantes
àquelas desenvolvidas pela Farmácia Central, mas devido a especificidade do produto não é
adequado, pelas normas de segurança em serviços de saúde, que estas atividades sejam
realizadas conjuntamente. Com isso, embora a Farmácia Hospitalar seja um único setor é
importante manter esta segregação de função.
Atividade Farmácia Central
Distribuir/dispensar medicamentos
Atenção farmacêutica aos
pacientes e ao corpo clínico
Orientar os pacientes e prestar informações sobre medicamentos.
Gestão logística
Comprar medicamentos
Assistência farmacêutica em
comissões
Administração
Laboratório Farmacotécnico
Manipular fórmulas
Distribuir/dispensar medicamentos
Atenção farmacêutica aos
pacientes e ao corpo clínico
Gestão logística
Controlar a qualidade
Administração
Fonte: dados primários
Descrição
Atender as prescrições médicas e requisições e dispensar os diversos
medicamentos e materiais médico-hospitalares requisitados.
Dar entrada e saída dos medicamentos e materiais médicos por
dispensação compra e/ou retorno.
Fazer a previsão e solicitação de compras.
Participar de comissões hospitalares
Gestão do laboratório (Farmácia Central).
Descrição
Desenvolver técnicas adequadas de manipulação.
Distribuir os produtos de acordo com a demanda.
Orientar os pacientes e prestar informações do correto uso dos
medicamentos e materiais-médicos preparados.
Dar entrada e saída dos produtos manipulados e controle dos estoques das
matérias-primas necessárias para a manipulação.
Fazer o controle de qualidade dos produtos manipulados e das matériasprimas utilizadas.
Gestão do laboratório (Farmacotécnica).
Quadro 3 – Descrição das atividades do Hospital II
Comparando as atividades do Hospital I e Hospital II com o HUCF foi observado que neste
último não há a atividade de atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico. Em alguns
hospitais, dependendo de sua estrutura, essa atividade está contemplada na atividade de
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assistência farmacêutica em comissões e aos pacientes e corpo clínico. Observou-se que a
atividade de atenção farmacêutica aos pacientes e ao corpo clínico é uma atividade importante
para que os medicamentos sejam melhores utilizados.
De modo geral, observou que o setor de Farmácia Hospitalar é essencial para a realização dos
procedimentos hospitalares, confirmando as afirmações da seção 2. A Farmácia Hospitalar
pode ser compreendida como um setor de apoio na realização dos serviços médicos e
tratamento terapêutico dos pacientes (os clientes), por fornecer, de forma contínua,
medicamentos, materiais médicos e, havendo o Laboratório Farmacotécnico, também a
alimentação parenteral. Ainda, a estreita relação com o setor de Almoxarifado é essencial para
a execução das atividades da Farmácia Hospitalar.
Analisando as atividades da Farmácia Hospitalar quanto ao objeto de custo final, o serviço
que o hospital presta ao paciente na perspectiva deste, somente a atividade de atenção
farmacêutica ao paciente agrega valor, de forma direta, porque o paciente interage com o
agente que está realizando a atividade. A atividade distribuir/dispensar medicamento agrega
valor, de forma indireta, por ser menos perceptível pelo paciente. As demais atividades da
Farmácia Hospitalar, sob a perspectiva do cliente não agregam valor, mas são essenciais para
o bom funcionamento do setor, isto significa que o hospital deve mantê-la para não prejudicar
as demais atividades.
6. Conclusão
A partir dos resultados descritos, conclui-se que o sistema ABC, além de proporcionar um
melhor custeamento dos serviços, como ferramenta de gestão financeira, configura-se como
uma ferramenta gerencial muito útil. A utilização desse sistema permite uma melhor
determinação do preço dos serviços, identifica custos relevantes, planeja atividades,
estabelece metas de custos e controla investimentos.
A pesquisa bibliográfica possibilitou concluir que existem passos que devem ser seguidos
para a implantação do sistema ABC em organizações hospitalares, sendo a primeira etapa o
envolvimento de todos os funcionários e a conscientização da necessidade de uso do sistema.
São necessários também o detalhamento das atividades e dos direcionadores de custos, o
conhecimento dos recursos e a identificação dos direcionadores de custo. Isso é confirmado
durante a realização das pesquisas no Hospital I e Hospital II quando o objetivo principal foi
mapear as atividades desenvolvidas em todas as áreas do hospital e identificar como estas
atividades se relacionam.
Pôde-se concluir que a Farmácia Hospitalar é um setor bastante estratégico, pois utiliza os
serviços oriundos do setor de Almoxarifado, de forma a desempenhar sua função principal
(dispensação de medicamentos e materiais médico-hospitalares), e de outros setores de apoio,
como a Limpeza. A Farmácia Hospitalar é compreendida como uma interface entre os
serviços prestados pelo Almoxarifado e o atendimento das demandas das diferentes unidades
do hospital, sendo o elo entre os médicos/pacientes e o Almoxarifado e outros serviços
administrativos de apoio. Desse modo, conclui-se que a Farmácia Hospitalar é um setor
importante no desempenho da atividade hospitalar e pode contribuir para a redução dos custos
hospitalares.
Neste sentido, conclui-se fundamentado nos resultados apresentados na subseção 5.3, que
Sistema ABC se mostra como uma ferramenta útil para este setor, pois possibilita identificar
com objetividade e clareza as diferentes atividades realizadas, agilizando o processo de
mensuração, análise dos custos, gestão financeira, planejamento e tomada de decisão.
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Os resultados da pesquisa possibilitam concluir que o setor de Farmácia Hospitalar dos
Hospitais I e II apresenta as informações necessárias para a aplicação do sistema ABC.
Algumas melhorias em controles internação serão necessárias são necessárias, mas não
inviabilizam a implementação deste sistema de custeio.
Conclui-se que a modelagem, objetivo principal deste artigo, é viável. A partir desta
modelagem é possível implementar o Sistema ABC em qualquer tipo de organização
hospitalar, tanto em hospitais públicos, como é o caso do HUCF, quanto em hospitais
privados com fins lucrativos ou não. É importante mencionar que a implementação do
Sistema ABC em outras unidades hospitalares demanda, previamente, de um estudo para
identificar quais são as adaptações necessárias e se há condições de infra-estrutura.
Percebe-se que a metodologia adotada foi adequada para a realização das pesquisas. Ela
proporcionou a realização do estudo em profundidade, a compreensão dos eventos ocorrido
no setor de Farmácia Hospitalar e sua relação com os demais setores do hospital, inclusive, o
serviço prestado ao cliente. Ainda, a comparação entre as pesquisas no Hospital I e Hospital II
(dados primários) e as pesquisas realizadas por outros autores (dados secundários) foi
importante para a aplicação da modelagem das atividades do Sistema ABC.
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