MMA é o Seu Próximo Desafio Texto: Worney Almeida de Souza Foto: Sandro de Castro TAINARA LISBOA Trajetória Vivendo o seu melhor momento, Tainara Lisboa está colhendo os frutos de anos de treinos, dedicação e competência como atleta. Com 1,70 de altura e lutando na categoria 63,50 kg a 65,00 kg, consolida sua carreira internacional como Bicampeã Mundial de Muay Thai. Ela também se destaca ministrando concorridos seminários sobre a arte tailandesa de luta em todo o País. Surpreendendo tanto o público feminino, como o masculino pelo seu conhecimento e desenvoltura. Onde está presente, a atleta é reverenciada. Agora a guerreira encara um novo desafio, o MMA. Se prevalecer a lógica, ela vai trazer grandes emoções para o público aficionado por lutas. A seguir traçamos um breve perfil da atleta seguido de uma entrevista onde ela conta todo o seu envolvimento com as artes marciais e seu empenho para conquistar seus objetivos. T ainara Barati de Almeida Lisboa nasceu em dois de março de 1991, na cidade de Santos (SP). Filha de Maria Janete e Carlos Alberto, ela tem duas irmãs: Tabata, 29 anos e Luana, 26 anos. Sua infância foi brincando na rua. Era uma Maria moleque, empinando pipa e andando de carrinho de rolemã. Na escola ela ia mais ou menos e diz que: “Era uma aluna querida, não uma boa aluna!”. Os esportes sempre estiveram na vida da atleta: “Pratiquei Natação, Futebol, Handebol e Nado Sincronizado. Sempre gostei de esportes, mas nunca me dediquei a um em especial, até que comecei a praticar Muay Thai, com 14 anos, com o Sandro de Castro, no Thai Center.” Criada na classe média guerreira, nada foi muito fácil, mas ela nunca passou necessidades. Tainara desde cedo teve como perspectiva ser lutadora profissional. Assim ela assinala: “Nunca trabalhei formalmente, mas fazia dinheiro vendendo brigadeiros, pão de mel e rifas. Minha família ajudou no orçamento das viagens para a Tailândia. Eu promovia festas para levantar o dinheiro necessário. Sempre batalhei para poder me dedicar aos treinos. Eu nunca fiquei parada!” Os familiares de Tainara Lisboa são os maiores fãs da atleta, mas sua mãe no começo resistiu. Segundo a campeã: “Minha mãe não queria que eu fosse lutadora, mas como ela viu que eu estava num lugar sério e depois que ela assistiu meu primeiro seminário, viu que era meu objetivo de vida e passou a me apoiar ainda mais! Me abraçou definitivamente como atleta e filha.” Hoje Tainara Lisboa é Bicampeã Mundial de Muay Thai e, além de um cartel invejável de 24 lutas e 23 vitórias (sendo 13 por nocaute), a atleta dá aulas de May Thai e ministra seminários sobre a arte marcial. Mas para chegar a esse momento ela teve que renunciar à algumas vivências normais para uma adolescente: “Quando eu tinha 15 anos via todas as amigas saindo e tinha que ficar em casa, tendo horário para estudar e para dormir. O Sandro sempre me direcionou. Óbvio que eu queria aquilo, hoje em dia eu não sinto falta de nada. Olhando para trás não perdi nada em minha vida, frente às minhas escolhas.” A família é o grande combustível para a carreira de Tainara Lisboa A carreira da atleta começou com a dedicação do mestre Sandro de Castro que treina a campeã até hoje. “Ele é extremamente enérgico, pega no pé, tem uma personalidade forte, mas é um cara que faz acontecer. Todos os atletas que treinaram com ele são vencedores. Sandro é considerado um dos melhores treinadores de Muay Thai do Brasil. Ele é uma enciclopédia ambulante. Estuda muito e tem uma história muito bonita. Veio da periferia e venceu na vida. O mestre é um espelho para mim e para os outros atletas.” A rotina da atleta é dura: “Treino Musculação, faço funcional para aprimorar o físico, tenho preparador físico (Sandro Draco), nutricionista (Daniele Figueiredo), professor de Jiu-Jitsu (Marcelo Ribeiro) e fisioterapeuta (André Saito). Faço um dia inteiro de treino: Muay Thai das 7 às 8hs, depois corrida, barra, abdominal na academia. Depois vou para a Musculação. Descanso à tarde. Depois às 15hs treino Muay Thai novamente”. A rotina de treino vai de segunda a sábado. A planilha de treino varia de acordo com à proximidade das competições. Para as lutas, a campeã muda a intensidade e o treino específico que dura três semanas antes da contenda, de segunda a domingo, em dois períodos, reservando quatro dias antes para perder peso. Com a perspectiva de lutar MMA no ano que vem, Tainara Lisboa começou a treinar Jiu-Jitsu para aperfeiçoar a parte do chão, desde julho desse ano. - 25 Trajetória “Fui para a Tailândia seis vezes, entre 2009 e 2014 e vivi no país, em média, três meses em cada viagem.” Entrevista com Tainara Lisboa Combat Sport: Como você se situa no mundo das lutas profissionais? Tainara Lisboa: Sou Bicampeã Mundial profissional de Muay Thai. A primeira brasileira a ganhar várias lutas na Tailândia. Isso foi a minha faculdade pessoal, o que conquistei naquilo que eu escolhi, que é muito mais valoroso. Hoje, com 24 anos, financeiramente tenho uma vida estável. Foram pelas escolhas e pelas renúncias para chegar no momento que estou hoje. Eu tenho orgulho, vou melhorar, mas tenho certeza em tudo que eu investi. Todos os quesitos foram compensadores. Graças às artes marciais conheci várias cidades e países diferentes, como a França, a Itália e a Tailândia. Você é Bicampeã Mundial. Descreva essas lutas e conquistas. O primeiro título foi pela WPMF, a entidade mais respeitada no mundo do Muay Thai, em 2013, onde lutei contra uma tailandesa muito conhecida e que era a top da categoria. A luta foi em um evento de grande expressão, televisionado, onde aconteceram algumas lutas de títulos mundiais. Fashitonhg foi a adversária mais técnica e com um jogo de Muay Thai perfeito. Eu estava bem preparada e muito bem treinada, foi uma luta dinâmica do começo ao fim. Eu a nocauteei com uma joelhada pulando no abdôme, no quarto round. 26 - O segundo título foi pela WWBA, em 2014, contra a lutadora Petchdará. Eu estava muito calma e consciente. Acredito que assim como na vida, no esporte também amadurecemos e executei todas as orientações de meu treinador, durante a luta. No terceiro round, com uma sequência explosiva de joelho pulando com cotovelada, nocauteei a minha adversária! Você disse que a luta mais difícil foi do primeiro título mundial. Comente um pouco sobre esse combate. Costumo dizer que essa luta foi a mais difícil, por conta de toda a expectativa que depositei em cima. Desde quando decidi que queria ser uma lutadora, meu foco sempre foi chegar ao topo, no caso ser Campeã Mundial. Claro que fui construindo degrau por degrau, mas quando finalmente a oportunidade chegou, pensei que não poderia perder o combate de maneira alguma. Graças a Deus, ao meu treinador, à equipe e à minha família, eu consegui ser a primeira brasileira Campeã Mundial Profissional de Muay Thai. Você foi algumas vezes treinar e lutar na Tailândia. Quais foram os eventos que participou? Fui para a Tailândia seis vezes: entre 2009 e 2014 e vivi no país, em média, três meses em cada viagem. Lutei nos seguintes eventos: dois Cinturões do Bangla Boxing ,WBC One Songchai, Fairtex Boxing Stadium, One Songchai World Title, King’s Birthday, Elite Fight Night, The Champions e algumas competições provinciais. “A Tailândia foi e sempre será minha paixão. Cresci muito cada vez que tive a oportunidade de ir para lá.” Comente os períodos de treinamentos e de lutas que você viveu na Tailândia. As primeiras vezes em que viajei (sempre junto do meu treinador Sandro de Castro), ficamos em um campo no interior, bem retirado de tudo e à algumas horas da capital. Lá os treinos eram bem árduos. Nesse campo não treinavam estrangeiros, então pude respirar bem a realidade e a vida de um tailandês. Apesar de já ser adaptada pelo Sandro de Castro (que tinha ido outras vezes para lá e que inseriu o método de trabalho na academia), viver aquele ambiente, junto com os melhores lutadores, foi íncrível! Das outras vezes, ficamos em Bangkok, onde tínhamos mais oportunidades e eventos de maior expressão. A Tailândia foi e sempre será minha paixão. Cresci muito cada vez que tive a oportunidade de ir para lá, tanto como atleta, quanto pessoa: novos costumes, cultura, língua e ficar longe da família. Estar em contato com um país que respira, respeita e valoriza a luta, me fizeram uma nova pessoa. Posso dizer que todas as vezes que fui para Tailândia voltei um pouco melhor, pelas histórias que vivi, dificuldades que passei e pelas pessoas que encontrei no caminho. Você também lutou no Chile, Peru e Itália. Quais foram os eventos? No Chile lutei o Sulamericano, em setembro de 2009; no Peru foi Inka FC, em abril de 2010 e na Itália o evento foi o MPL Muay Thai Premier League, em 2011. “Posso dizer que todas as vezes que fui para Tailândia voltei um pouco melhor, pelas histórias que vivi, dificuldades que passei.” Você disse, como é uma atleta mais competitiva, treina com homens. Esse fato ajuda a aprimorar seu trabalho atlético? Exige mais em sua preparação? Na Tailândia você também treinava com homens? Como sou uma atleta mais competitiva, não consigo atletas mais avançadas para treinar. Assim sempre treinei com homens de categorias mais leves. Com certeza o fato de treinar com homens ajudou e ajuda bastante, exatamente por exigir mais, tanto na parte de força, quanto a resistência. Assim quando estou em um combate, por melhor que seja a adversária, eu estarei preparada para dar o meu melhor e fazer uma grande luta, por estar habituada com certas dificuldades. Na Tailândia também treinava com homens, até mesmo porque nos campos que fiquei, haviam poucas mulheres competidoras. A escolha do Jiu-Jitsu está ligada a perspectiva de entrar no MMA? Como foi a decisão técnica e pessoal para começar a treinar Jiu-Jitsu? Sim. Me dediquei totalmente durante esses 11 anos ao Muay Thai. Nunca misturei nenhuma outra arte marcial. Tinha minhas metas e sou inteiramente focada no que quero. Hoje os planos são para o MMA e não teria como migrar sem ter noção da luta de chão. Eu e meu treinador decidimos que o Jiu-Jitsu era a parte que eu precisava somar para meu conjunto de técnicas de luta e tentar ser o mais completa possível. No que o Jiu-Jitsu pode aprimorar sua técnica de luta? - 27 Trajetória O Jiu-Jitsu é indispensável para que eu possa ter uma carreira bem sucedida no MMA, como consegui no Muay Thai. Pretendo trazer o Jiu-Jitsu como antijogo, para conseguir manter a luta onde é a minha praia, em pé! Mesmo no MMA, a partir do ano que vem, você continuará lutando Muay Thai? Eu não estou fechando uma porta, apenas abrindo outra. O Muay Thai sempre fará parte da minha vida. É o esporte que eu amo! Tenho um enorme respeito e gratidão. Afinal, graças ao esporte ganhei uma identidade e uma história gloriosa. Então, quando aparecer boas oportunidades lutarei Muay Thai com muito prazer. Tem alguma luta agendada para esse ano? Não. Eu e meu treinador decidimos dedicar esse tempo para fazer essa transição e adaptação, para quando chegar a hora de estrear no MMA, estar o mais preparada possível. Como você se sente em relação às suas origens? A arte marcial virou uma terra de ninguém, muitos migram e abandonam suas origens. Eu acho que a lealdade às suas origens é o grande segredo de um campeão. Ninguém se faz sozinho. Você deve se lembrar de onde começou. Não precisa fechar portas, sempre devemos ter gratidão e dignidade. Quais são seus patrocinadores e apoiadores? Fupes (Fundação Pró Esporte). É um projeto da prefeitura que apoia os atletas de destaque da cidade de Santos; Full Fighter, que produz todos os tipos de equipamentos de luta, tanto para o público iniciante, quanto para atletas profissionais; Academia Thai Center, que há 11 anos proporciona todo suporte técnico que preciso; Academia Marcel Ribeiro Jiu-Jitsu Team (MRJJ), que está me dando o apoio técnico no Jiu-Jitsu; Bracco Academia, com o meu preparador físico Sandro Bracco; André Saito, meu fisioterapeuta e Daniela Rodrigues, minha nutricionista. Mande uma mensagem para as atletas que querem entrar no mundo profissional das lutas. Que tenham consciência que o caminho é difícil, mas que vale cada momento! Sendo ele bom ou ruim. Que levem sempre em conta os bons exemplos para o mundo da luta, para que nosso esporte cresça e invada o coração de todas as pessoas. Que tenham gratidão por quem ajudar a construir a sua estrada até a vitória, e que mantenham sempre a fé e ação em primeiro lugar! Porque é preciso acima de tudo acreditar e realizar, para que as coisas aconteçam. Apresentando o Mestre Sandro de Castro Tainara Lisboa e Sandro de Castro, uma parceria de grandes resultados 28 - O mestre Sandro de Castro nasceu em 1973 e iniciou a prática do Boxe Tailandês com o professor Emerson Naja. Sua primeira luta foi em 1990 e ele alcançou o grau preto em 2003, depois de 14 anos de treinamento. Em 1998, Sandro de Castro começou a ministrar aulas e a aprimorar campeões como Tainara Lisboa, Thiago Bom, Renato Búfalo, Walace Jones, Cosmo Alexandre, Alex Cobra, Diego Sebastião, Rodrigo Amatha, Ivani Ferreira, Luiz Rico, Saulo Sauge, Renan Cortes, Jackson Alves, João Fernandes, Rafael Sodré, Wagner Lucena, Anderson Aranha, Paulo Carvalho e muitos outros. Já levou sua equipe para treinar 11 vezes na Tailândia para aprimorar a prática do Muay Thai.