Empreendimentos Inovadores, Nova Mentalidade? Um Estudo Exploratório sobre a
Sustentabilidade Empresarial em uma Incubadora de Empresas
Autoria: Leonardo de Jesus Melo, Marcos Cohen
Resumo
Este artigo tratou do tema Estratégia e Sustentabilidade Sócioambiental, por meio da
investigação das percepções, atitudes e comportamentos das gerências de uma incubadora de
empresas de base tecnológica do Rio de Janeiro, em relação aos empreendimentos inovadores
nela incubados. Além das categorias citadas acima, a pesquisa também utiliza o
enquadramento teórico do desenvolvimento sustentável aplicado à organizações privadas.
Num contexto que tem a inovação como estratégia principal, as incubadoras se empresas têm
cada vez mais adotado o discurso da sustentabilidade empresarial como um fator de
estratégico de diferenciação daquelas organizações que se iniciam fora do contexto do
empreendedorismo inovador. No entanto, a primeira parte desta pesquisa feita junto às
gerências da incubadora estudada demonstra que as gerências tendem a valorizar mais o
aspecto econômico, do que o social ou o ambiental em suas percepções sobre o assunto. Em
relação às atitudes, concluiu-se que no geral a mesma é positiva, enquanto que o
comportamento não reflete, sempre, suas percepções e atitudes. Por fim, conclui-se que a
afirmação de que os empreendimentos inovadores já nascem com o “DNA da
sustentabilidade”, dentro da perspectiva estudada, pode não ser um fato real para a incubadora
pesquisada.
1.
Introdução e Definição do Problema
Quando se tenta entender o atual processo de globalização, é possível elencar a
inovação e o conhecimento como fatores que definem o desenvolvimento e a competitividade
de nações, regiões, setores e empresas no presente estágio do capitalismo mundial
(CASSIOLATO & LASTRES, 1999). No momento em que os fatores de produção
tradicionais – como terra, capital, trabalho e matéria prima - paulatinamente deixam de ser os
principais criadores de riqueza, substituídos pelo uso intensivo da informação, pode-se inferir
que está em curso uma transição da Sociedade Industrial para a Sociedade do Conhecimento
(DRUKER, 1999).
Por sua vez, estas mudanças transformam e são transformadas pelas instituições, pelas
organizações, suas estratégias e por suas estruturas de governança.
No âmbito da geração de novos empreendimentos baseados na inovação como
estratégia de competitividade, um bom exemplo de mudança institucional tem sido o
fortalecimento das incubadoras de empresas e parques tecnológicos como resposta a este novo
contexto.
De acordo com a ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de
Empreendimentos Inovadores, no Brasil existem atualmente cerca de 400 incubadoras, que
movimentam R$ 1,88 bilhão ao ano na economia e totalizam mais de 6,3 mil
empreendimentos gerados. Foram gerados mais de 33 mil postos de trabalhos, que nacional e
internacionalmente produzem inovações reconhecidas na forma de contratos, premiações e
parcerias. O panorama levantado pela ANPROTEC (2007) com dados de 2006 indicou
crescimento de 20% em relação ao ano de 2005, sendo 20% a taxa de mortalidade das
empresas geradas em incubadoras, frente a 59,9% de mortalidade entre as empresas não
participantes de Incubadoras (SEBRAE, 2004).
Por focarem sua atuação no desenvolvimento de empreendimentos inovadores, as
incubadoras podem ser consideradas como um mecanismo de desenvolvimento desta “nova
economia”.
1
Embora sejam extremamente relevantes os resultados alcançados, as marcas deixadas
pela relação entre o desenvolvimento econômico e o conhecimento científico ao longo do
século XX causaram efeitos perversos, refletidos na degradação ambiental, na fragilização do
tecido social e na concentração de renda nas mãos das elites.
Neste contexto, de acordo com Baumgarten (2003, p.7) esta noção de
sustentabilidade desenvolveu-se em meio a uma longa crise instalada nas últimas décadas do
século XX, durante o processo contraditório e diverso da formação da sociedade global.
A partir de 1987, por meio do Relatório Brundtland, também conhecido como “Nosso
Futuro Comum”, começa a ser discutido com mais intensidade o conceito de desenvolvimento
sustentável, hoje tido como sinônimo de sustentabilidade, sendo definido como aquele “que
atende às necessidades do presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras”
(WCED, 1987 p.12). De acordo com o Relatório, o conceito se operacionalizaria inicialmente
por meio de três dimensões: econômica, social e ambiental.
Esta mudança de direcionamento, considerando algumas importantes transformações
ocorridas no Brasil nas últimas décadas (a abertura da economia, a estabilização monetária e a
reestruturação produtiva), tem contribuído para transformações nas práticas de competição,
dentre as quais se destacam a inovação tecnológica e a diferenciação de produto.
Embora a principal entidade do segmento, ANPROTEC (2007, p. 36), afirme que as
“empresas provenientes de incubadoras de empresas já nascem com o DNA da
sustentabilidade”, refletindo esta consciência no portfólio de produtos, na prática gerencial e
no comportamento dos empreendedores, na prática o quadro pode ser bem distinto.
Entendendo o empreendimento sustentável como aquele que equilibra variáveis econômicas,
sociais e ambientais (WECD, 1987), alguns estudos recentes apontam que este “DNA” pode
ainda não estar internalizado de maneira satisfatória (OECD 1999; HILLARY, 2000; CSES,
2002; BLANKENSHIP, KULHAVÝ e LAGNERYD, 2007).
Na prática, a incorporação da sustentabilidade nas estratégias empresariais, e em
particular em empresas nascentes, encontra uma série de desafios práticos (CASSIOLATO e
LASTRES, 1999; HILLARY,2000). Uma vez identificados, estes podem fornecer indicativos
de políticas e diretrizes para uma melhor operacionalização da sustentabilidade empresarial,
fornecendo elementos que contribuam para a mudança de atitude e de comportamento dos
agentes inseridos neste segmento e das políticas públicas e privadas direcionadas ao setor.
Propostos estes dois temas em evidência, a saber: a) Fortalecimento de um padrão de
acumulação baseado no conhecimento e na inovação; b) Emergência da discussão sobre
desenvolvimento sustentável na perspectiva de negócios – sustentabilidade empresarial; este
artigo investigou quais seriam as percepções, atitudes e comportamento das gerências de uma
incubadora de empresas de base tecnológica em relação à sustentabilidade empresarial e em
relação à sua incorporação pelos empreendimentos inovadores nela incubados.
Para isso, assumiu as seguintes premissas: i) Que está em curso um processo de
mudanças organizacionais e culturais no âmbito das empresas globais, que apontam para o
desenvolvimento sustentável como um elemento-chave em suas estratégias relacionais
(HILARY, 2000; VINHA, 2001; BAUMGARTEN, 2003); ii) Que futuras tecnologias e
inovações tecnológicas impulsionarão negócios mais sustentáveis, propiciando às empresas
novas opções de criação de valor (ALMEIDA, 2006); iii) Que mudanças como estas indicam
a necessidade de construção de uma nova mentalidade do empresariado brasileiro e de uma
nova agenda de pesquisa sobre estes empreendedores (CEBRAP, 2008).
De modo que a questão central que a pesquisa busca responder é: Quais são as
percepções, atitudes e comportamento das gerências da incubadora pesquisada em relação à
sustentabilidade empresarial e em relação à sua incorporação pelos empreendimentos
inovadores nela incubados?
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Os resultados apresentados neste artigo são parciais (referente a uma incubadora de
empresas de base tecnológica), pois fazem parte de uma proposta de pesquisa ampliada, em
andamento, que tem como objetivo investigar as mesmas variáveis junto às 22 incubadoras
existentes no Estado do Rio de Janeiro.
2. Referencial Teórico
Desenvolvimento sustentável na perspectiva dos negócios
A noção contemporânea sobre desenvolvimento sustentável, ou simplesmente
sustentabilidade, teve início na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
Humano, sediada em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972, ocasião na qual a comunidade
internacional começou a discutir outras possibilidades de desenvolvimento (GUIMARÃES,
2003; RIO+10, 2008). A partir de então, a tendência globalizante dos mercados (CASTELS,
1999), passou a ser integrada por grandes conferências mundiais sobre o meio ambiente. Em
1983 foi criada Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. Como
fruto do trabalho desta Comissão, em 1987, foi apresentado o relatório “Nosso Futuro
Comum” – ou simplesmente “Relatório Brundtland” que define o desenvolvimento
sustentável como aquele “que atende às necessidades do presente sem comprometer as
necessidades das gerações futuras” (WECD, 1987 p. 12). Apesar de ser a mais aceita, é certo
que seu escopo é amplo e sua operacionalização depende de como a mesma é interpretada.
De acordo com Almeida (2006 p.15), a discussão sobre a sustentabilidade corporativa,
em grande medida, emergiu nos anos 70, quando um intenso processo de crescimento
econômico se deu em meio à explosão demográfica e ao uso indiscriminado de recursos
naturais nas esferas produtivas.
Percebe-se que nos primeiros estágios, até meados dos anos 90, as atitudes
empreendidas foram acompanhadas de elementos como desconhecimento sobre o tema,
seguida de uma perspectiva legalista – adaptação às novas legislações ambientais. Somente a
partir da década de 90 passaram a ser abordadas por meio de um direcionamento estratégico –
em curso – ao tratar a questão do desenvolvimento sustentável não como um problema, mas
como uma abordagem de desenvolvimento possível e necessária.
De forma prática, o desenvolvimento sustentável na perspectiva dos negócios vem
sendo concretizada através da Responsabilidade Social Empresarial, que pode ser definida de
maneira breve pela World Business Council for Sustainable Development como o
comprometimento permanente dos empresários ao contribuírem para o desenvolvimento
econômico melhorando de maneira simultânea a qualidade de vida de seus funcionários e suas
famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo (WBCSD, 2000, p.2).
Sob o ponto de vista mais operacional, este conceito começou a ser trabalhado através
de ações estrategicamente desenvolvidas em três esferas (social, ambiental e econômico)
compiladas por um modelo chamado Triple Bottom Line (ELKINGTON, 1998).
Este modelo foi proposto inicialmente por John Elkington, em 1997, tendo o objetivo de
auxiliar empresas da indústria de óleo e gás a integrarem as três dimensões do
desenvolvimento sustentável em suas estratégias de negócio.
Apesar de existirem outras sugestões de operacionalização deste conceito, como a de
Sachs (1995) que adiciona às três dimensões existentes os fatores territorial, cultural e
política, este trabalho foi desenvolvido considerando somente as três dimensões abordadas
pelo modelo de Elkington (1998).
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Incubadoras de Empresas
De acordo com o Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, responsável pelo
Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas – PNI, uma Incubadora é um
mecanismo que estimula a criação e o desenvolvimento de “micro e pequenas empresas
industriais ou de prestação de serviços, de base tecnológica ou de manufaturas leves” por
meio da “formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais e
que, além disso, facilita e agiliza o processo de inovação tecnológica nas micro e pequenas
empresas.” (MCT, 2008).
Em outras palavras, Dornelas (2002) define incubadora de empresas como um ambiente
flexível e encorajador, que oferece facilidades para o surgimento e o crescimento de novos
empreendimentos.
Ao prover serviços, infra-estrutura, assessoria técnica e de gestão ao mesmo tempo em
que auxilia no desenvolvimento de capacidades necessárias à sobrevivência da organização,
“a incubadora pode ser percebida como um ambiente temporário de aprendizagem visando o
desenvolvimento de competências auto-sustentáveis”. (FIATES et al 2008, p. 2).
De maneira geral e mais tradicional, o processo de incubação envolve a seleção das
futuras empresas mediante análise de seu plano de negócios e a prestação de serviços às
empresas pré-incubadas e incubadas.
Iniciado com foco total em empresas de base tecnológicas, ao longo desses anos, o
conjunto de incubadoras foi se diversificando, existindo atualmente incubadoras de base
tecnológica, de setores tradicionais, mistas, setorial, cultural, social, agroindustrial e de
cooperativas, realizando pré-incubação, incubação, pós-incubação e incubação externa
(LAHORGUE, 2002; INOVATES 2008). As incubadoras estão espalhadas em 25 unidades da
federação. Abaixo, alguns resultados significativos sobre o movimento de acordo com
Anprotec (2007):
• 100% dos municípios brasileiros com mais de 1 milhão de habitantes possui uma
incubadora e/ou parque tecnológico; 64% dos municípios com menos de 1 milhão e
mais de 300 mil habitantes possuem uma incubadora e/ou parque tecnológico; 16 das
20 melhores universidades públicas do país contam com incubadoras de empresas e 11
estão vinculadas a projetos de Parques Tecnológicos; 88% das incubadoras priorizam
o desenvolvimento econômico regional; Mais de 40% dos colaboradores com nível
superior; Taxa de mortalidade das empresas abaixo de 20%; Faturamento estimado das
empresas INCUBADAS: R$ 400 Milhões Percentual do custo assumido pelas
entidades gestoras ou empresas incubadas: 65%; Estimativa de impostos gerados
anualmente: R$ 400 Milhões.
Percepção, atitude e comportamento
Percepção
Percepção pode ser definida como a função cerebral que atribui significado a estímulos
sensoriais, a partir de histórico de vivências passadas, tendo seus significados explorados com
mais profundidade em psicologia, neurociência e ciências cognitivas (DAVIDOFF, 1983;
SCHIFFMAN, 1997; SOLOMON, 2002).
Para estes campos de estudo, é por meio as percepção que um indivíduo atribui
significado ao seu meio. Ou seja, o processo consiste na aquisição, interpretação, seleção e
organização das informações obtidas pelos sentidos humanos (visão, audição, olfato, paladar,
tato) e complementadas pela percepção espacial e pela propriocepção. Os processos mentais e
memória também estão diretamente relacionados à percepção, pois influenciam na
interpretação dos dados percebidos.
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Sua importância reside no fato de que os comportamentos das pessoas são baseados, em
larga medida, na interpretação que estas fazem da realidade, mas não necessariamente da
realidade em si. De tal sorte que a partir desta compreensão é possível apreender que a
percepção é algo estritamente pessoal, que diz respeito à interpretação que cada pessoa
executou a partir de suas sensações (visuais, auditivas, olfativa etc.).
No caso específico da percepção sobre sustentabilidade empresarial, esta pesquisa
intentou compreender qual era a percepção das gerências das incubadoras sobre este conceito.
Embora seja compreensível que as percepções sejam diferentes, de maneira equivalente é
possível considerar que por estarem em um mesmo contexto institucional, os gerentes sofram
estímulos parecidos, seja através do direcionamento estratégico da própria incubadora, das
leis que regem o movimento, das crescentes tentativas de difusão deste tema por parte da
Anprotec etc.
Atitude
De acordo com Mowen e Minor (2003) apud Lopes (2006), atitude pode ser definida
como a quantidade de afeição ou sentimento a favor ou contra um estímulo. É possível
também descrevê-la como “respostas avaliativas relativamente estáveis que são dadas a uma
entidade ou situação” (PÉREZ-NEBRA, 2007).
O estudo sobre atitudes é uma das áreas mais pesquisadas no campo da psicologia social
e nos estudos de marketing, sendo no geral explicada através das componentes que a
integram, a saber: a) cognição, b) afeto e c) comportamento. Sendo o primeiro referente ao
conhecimento explícito sobre um determinado fato, o segundo referente ao segmento
emocional ou sentimental de uma atitude e o terceiro à intenção de comportar-se de
determinada maneira com relação a alguém, alguma coisa ou evento (SHETH, MITTAL &
NEWMAN, 2001).
No geral, as atitudes têm um papel importante na definição do comportamento, mas não
necessariamente o determinam. O que significa dizer que atitudes e comportamentos nem
sempre são coerentes, apesar de não haver nada que impeça este fato.
Por fim, de acordo com a revisão dos autores que tratam desta discussão, a
compreensão que mais se aproxima da que se usa neste trabalho é que atitudes são
predisposições aprendidas para responder a um objeto ou classe de objetos de uma maneira
favorável ou desfavorável (DAVIDOFF, 1983; SHETH, MITTAL e NEWMAN, 2001;
SOLOMON, 2002). Ou seja, a atitude não é o comportamento em si, mas sim uma prédisposição a agir.
Comportamento
No tópico anterior definimos atitude como a intenção de fazer algo ou se comportar de
determinada maneira, o que compreende uma avaliação prévia sobre um objeto, uma pessoa,
um lugar, um novo paradigma etc.
A partir dessa definição é possível diferenciar atitude de comportamento e ao mesmo
tempo defini-lo: comportamento não é a intenção de fazer algo, mas sim a ação em si. O
comportamento tem sido objeto de estudo a várias décadas, tendo seu início datado do início
do XX, com o movimento chamado Behaviorista, proposto por John Broadus Watson e
desenvolvido com mais profundidade por B.F Skinner (DAVIDOFF, 1983).
Especificamente no campo da administração e do marketing, o estudo do
comportamento é utilizado para compreender como os indivíduos tomam as suas decisões em
relação ao ato de consumir. De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2000) apud Lopes
(2006, p. 42), o comportamento do consumidor poderia ser definido como “as atividades
diretamente envolvidas em obter, consumir e dispor de produtos e serviços, incluindo os
processos decisórios que antecedem e sucedem estas ações”.
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No entanto, como base de compreensão para esta pesquisa, optou-se pela definição de
Sheth, Mittal e Newman (2001), na qual o comportamento do consumidor pode ser entendido
como as atividades físicas e mentais, que resultam em decisões e ações.
No caso específico da pesquisa, comportamento implica em decisões práticas de adotar
princípios de sustentabilidade na estratégia de negócios.
3. Metodologia
Delimitação do Estudo
De acordo com a pesquisa Panorama 2006, realizado pela Anprotec (2006), 41% das
incubadoras no Brasil atuam exclusivamente na área tecnológica. No Estado do Rio de
Janeiro esta característica segue a mesma tendência. Das 22 incubadoras filiadas à Rede de
Incubadoras, Parques Tecnológicos e Pólos do Rio de Janeiro – ReINC, 16 são voltadas para a
área tecnológica (o que inclui nanotecnologia, biotecnologia, informática, eletrônica, robótica,
mecânica entre outras).
Sendo esta a característica - base tecnológica – a mais comum entre as incubadoras do
Estado do Rio de Janeiro, foi escolhida uma incubadora de base tecnológica como estudo de
caso. Optou-se também pela investigação inicial junto às gerências da incubadora, dado ao
alto grau de influência que estas têm sobre os empreendimentos gerados, bem como pela
compreensão ampliada sobre o movimento de incubadoras no Estado e no País. O objetivo
deste recorte foi entender melhor o funcionamento do segmento, amadurecendo algumas
reflexões, levantando novas hipóteses e questões de pesquisas para serem trabalhadas nas
outras fases deste estudo (ampliação para todas as incubadoras do Estado).
Relevância do Estudo
Entende-se que as questões apresentadas são atuais e de grande importância para o
desenvolvimento do movimento de incubadoras de empreendimentos inovadores, dada a
necessidade premente de as empresas emergentes buscarem modelos sustentáveis de negócio
e romperem o círculo vicioso que gerou a atual crise sócio-ambiental de caráter global
(POLANYI, 1980; SACHS, 1995).
A compreensão tácita de que empresas nascentes, em especial empresas inovadoras, não
teriam tempo ou interesse em pensar questões relacionadas à sustentabilidade por terem que,
unicamente, se preocupar com questões de sobrevivência no curto prazo (obter recursos,
desenvolver tecnologias etc.) nos remete a um possível paradoxo: é razoável considerar que
empresas inovadoras, que desenvolvem produtos e processos de ponta, trabalhando no estado
da arte em seus campos de atuação possam ser ao não considerarem o equilíbrio entre
desenvolvimento econômico, social e ambiental como uma ação estratégica para o
desenvolvimento de suas atividades junto aos diferentes públicos com os quais se relaciona? É
possível sobreviver no cenário atual apenas com a preocupação na sustentação econômica?
Ao identificar qual é o nível de entendimento acerca do tema entre as gerências da
incubadora (nesta primeira etapa da pesquisa), esperou-se oferecer uma contribuição para a
reflexão sobre o tema entre as respectivas gerências, além da divulgação dos resultados
parciais para obter junto a um público interessado pontos de vista diferenciados para o
enriquecimento dos próximos resultados a serem obtidos.
Desenho da pesquisa: modelo conceitual
De acordo com taxonomia sugerida por Creswell (2003), esta pesquisa pode ser
classificada como exploratória, com abordagem qualitativa e quantitativa, considerando-se o
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fato de que os temas são emergentes e sua abordagem de forma conjunta ainda seja pouco
consolidada, tanto na prática de negócios quanto na Academia.
O método utilizado para esta pesquisa foi o Estudo de Caso único, tendo em vista a
finalidade de aprofundar o conhecimento sobre o tema proposto. De acordo com Mattar
(1996, p. 84), o estudo de caso é indicado para situações exploratórias, nas quais os dados
podem ser obtidos em um bom nível de profundidade, fornecendo informações importantes
para um melhor entendimento acerca do assunto e possibilitando a elaboração de (novas)
hipóteses e busca de informações e não por conclusões ou verificações. Já para Yin (2001), o
estudo de caso é potencializado quando utilizado em conjunto com abordagens qualitativas e
quantitativas.
Desenho da pesquisa: modelo conceitual
As fases da pesquisa seguiram a sugestão feita por Remenyi et al (2003), que indica
uma série de etapas para a realização de um processo de pesquisa aplicado à administração.
Na primeira etapa foi realizada a revisão da literatura, principalmente para obter
definições claras sobre os conceitos trabalhados na pesquisa. Sendo assim, foram escolhidas
as categorias de percepção, atitude e comportamento, além do tema central, desenvolvimento
sustentável e sustentabilidade empresarial e o contexto específico da investigação, as
incubadoras de empresas. Na segunda etapa a questão de pesquisa foi formalizada: Identificar
quais são as percepções, atitudes e comportamentos das gerências das incubadoras em relação
à incorporação da visão de sustentabilidade econômica, social e ambiental em relação aos
empreendimentos inovadores.
Os esforços da terceira etapa se concentraram na elaboração de um modelo conceitual
que permitisse evidenciar a relação entre os conceitos trabalhados. Partindo do tema central
da pesquisa – desenvolvimento sustentável – optou-se por investigar quais eram as percepções
dos entrevistados sobre o constructo, com o objetivo de identificar o que os mesmos
entendiam pelo conceito antes da intervenção da pesquisa. A intenção foi investigar o quanto
as percepções existentes se distanciavam da abordagem mais comumente aceita. Feito isto,
passou-se à análise das atitudes, com o fim de identificar uma possível pré-disposição de
comportamento. Por fim, ao debruçar-se especificamente sobre o fator comportamental,
procurou-se identificar se havia desvios entre as atitudes (propensão a agir) e os
comportamentos (ação em si). A figura abaixo resume esta etapa:
O
modelo
trabalha com o entendimento de que muitas vezes as pessoas se comportam de maneira
diferente em relação às suas atitudes (DAVIDOFF, 1983). De modo que é possível a que uma
atitude específica, na figura representada por uma Atitude A – por exemplo – resulte num
Comportamento A (indicando um possível alinhamento entre atitude e comportamento) ou
ainda sim num Comportamento A1, ou num Comportamento Ax (indicando, nos dois últimos
casos, um provável desalinhamento entre atitude e comportamento).
Figura 1: Modelo Conceitual
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Ao identificar este fato através da aplicação de um questionário de múltipla escolha,
com uma questão aberta, foi possível formular questões específicas, para a investigação junto
aos respondentes. No entanto, a pesquisa não procurou explicar o porquê deste
desalinhamento entre atitude e comportamento, por entender que o mesmo já foi
suficientemente explorado na literatura destinada à psicologia social (LANE, 1995;
DAVIDOFF, 1983; McDAVID, 1980).
Antes, o interesse metodológico esteve em, uma vez identificados (percepção, atitudes e
comportamentos), saber quais eram os aspectos que potencializam ou dificultam a
operacionalização do conceito desenvolvimento sustentável pela ótica das gerências da
incubadora analisada.
Seleção da amostra, coleta e tratamento dos dados
Para fins de análise foi escolhida uma Incubadora de base tecnológica de uma
prestigiada universidade filantrópica carioca. A opção pela referida Incubadora se deu pelo
seu reconhecimento nacional e internacional, filiada à REINC - Rede de Incubadoras, Parques
Tecnológicos e Pólos do Rio de Janeir, além do fato de ter sido precursora do movimento no
país.
Com base em um estudo de caso, a estratégia de pesquisa adotada foi a de survey em
profundidade por meio de entrevistas em profundidade, além de questionário próprio. Os
dados coletados sofreram tratamento e análise qualitativos, e tratamento quantitativo, através
do software Microsoft Excel, para a tabulação das questões fechadas. As informações
coletadas foram trianguladas com outras fontes de dados, como documentos e registros das
incubadoras, estatísticas do setor, etc. a fim de garantir maior confiabilidade à análise.
O questionário base foi composto por doze questões, sendo uma delas aberta, além de
informação sobre faixa etária e sexo. As questões foram divididas em três grupos: questões
referentes à percepção às atitudes e o comportamento. O mesmo sofreu um pré-teste, sendo
alterado antes da aplicação final.
No grupo referente às perguntas sobre percepção, foi utilizada a técnica denominada
associação ou evocação livre (VERGARA e FERREIRA, 2005). Em ordem, pediu-se que os
entrevistados apresentassem três palavras que remetessem à sustentabilidade empresarial e em
seguida as organizasse por ordem de importância. A bateria de questões sobre percepção
contou ainda com uma questão aberta e com dois conjuntos de questões que utilizaram escala
Likert, de cinco níveis, tabuladas de 1 (percepção negativa) a 5 (percepção positiva).
No grupo referente às perguntas sobre atitude, foram utilizadas somente perguntas
graduadas em escala Likert, também de cinco níveis, tabuladas de 1 (percepção negativa) a 5
(percepção positiva).
Limitações do método
A opção inicial por um estudo de caso trouxe consigo algumas limitações do próprio
método. De acordo com Remenyi (1998) e Yin (2001), a principal limitação de um estudo
desta natureza é que ela não pode estabelecer generalizações robustas. Ou seja,
metodologicamente não é possível estabelecer inferências sobre a percepção, atitudes e sobre
o comportamento em relação às demais incubadoras tecnológicas do Rio de Janeiro.
No entanto, faz-se relevante frisar que a intenção da pesquisa não foi estabelecer
generalizações a partir do caso estudado, mas sim compreender o funcionamento do setor e
estabelecer possíveis hipóteses e questões de pesquisa a serem testadas junto às demais
incubadoras do Estado.
4. Resultados
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A Incubadora pesquisada
A Incubadora é focada em negócios da produção e distribuição da informação,
privilegiando empreendimentos que forneçam informações sob as formas verbal, sonora,
impressa, digital ou em vídeo, que sejam inovadores e intensivos em capital intelectual e
tecnologia. Sua missão é gerar empresas de base tecnológica auto-sustentáveis, que
apresentem algo novo no seu processo ou produto e ser um canal de transferência de
conhecimento da Universidade para a Sociedade, assumindo sua responsabilidade social para
com a região em que se insere.
Em sua parte estratégica, a Incubadora conta com um diretor e seis gerentes,
responsáveis por todas as atividades desenvolvidas em seu âmbito. Todos foram entrevistados
para a realização da pesquisa.
Percepções sobre sustentabilidade empresarial
Conforme discutido no referencial teórico, a noção mais aceita sobre sustentabilidade
empresarial, apesar de possuir inúmeras variações, é aquela que integra as dimensões social,
ambiental e econômica à sua compreensão.
Como primeira ação de pesquisa, intentou-se identificar junto aos gerentes suas
percepções sobre o construto, seu alinhamento com esta noção mais aceita e se haveria
diferenças de percepção entre os entrevistados.
Os primeiros resultados foram obtidos através da técnica de evocação livre de palavras,
técnica muito utilizada quando se investiga as representações sociais acerca de assuntos
variados (SÁ, 1996). Em nosso caso, a técnica foi utilizada como suporte de captação da
percepção dos sujeitos. A mesma consistiu em solicitar que citassem três palavras que lhes
viessem imediatamente à cabeça a partir do termo indutor “sustentabilidade empresarial”.
Na fase de tabulação, foi realizada a atribuição de pesos: peso 3 para a primeira palavra
citada; peso 2 para a segunda palavra citada e peso 1 para a terceira palavra citada, uma vez
que segundo a técnica as palavras que citadas em primeiro lugar podem representar melhor a
percepção sobre o conceito.
Em alguns casos foram utilizadas por um dos respondentes uma expressão ao invés de
uma palavra, o que não interferiu na análise dos resultados dado sua conotação e posterior
esclarecimento pelo respondente, sendo, portanto, computadas.
As palavras citadas, por ordem de evocação foram:
Gerente
1
2
3
4
5
6
Tabela 3: Palavras citadas por evocação livre
Palavra 1
Palavra 2
Dinheiro
Dinheiro
Fluxo de Caixa
Plano de Negócios
Auto-suficiência Responsabilidade sócio-ambiental
Responsabilidade Responsabilidade
Sobrevivência
Política
Responsabilidade Social
Fonte: Dados da pesquisa, elaboração própria
Palavra 3
Competitividade
Fluxo de Caixa
Integração com o entorno
Continuidade
Competitividade
Meio ambiente
Ao todo foram citadas 18 palavras/expressões, multiplicadas por seus pesos
correspondentes e distribuídas em uma tabela segmentada em três categorias: social,
ambiental e econômico, conforme se pode conferir no gráfico abaixo:
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Figura 1: Evocação livre de palavras, por conotação
Das palavras citadas de forma espontânea e ponderadas de acordo com sua ordem de
evocação, no total por evocação, 56% foram classificadas como tendo conotação econômica,
enquanto 42% tiveram conotação social e apenas 3% conotação ambiental.
A partir de então, foi solicitado ao respondente que as hierarquizasse por ordem
crescente de importância. Mantendo o padrão, na fase de tabulação foi realizada a atribuição
de pesos: peso 3 para o primeiro lugar; peso 2 para segundo lugar e peso 1 para o terceiro
lugar.
O objetivo com esta ação foi identificar se após ter citado as palavras, o respondente de
maneira racional modificaria a ordem, dando mais importância a uma palavra ou outra.
Após a ordenação, a dimensão ambiental que antes contava com apenas 3% no total de
evocações, aumentou para 11% no total. Dentro deste aumento, um dado interessante é que
uma palavra com conotação ambiental que inicialmente foi evocada como a terceira palavra,
após a organização, passou a ocupar o primeiro lugar.
Dado o número da amostra escolhida frente à população de incubadoras no Rio de
Janeiro, ainda não é possível elaborar generalizações por meio desta informação. No entanto,
de qualquer maneira, ela indica um ponto importante a ser observado quando da aplicação da
pesquisa junto a todas as Incubadoras do Rio de Janeiro. Ou seja: Será que os gerentes tendem
a querer se adequar a algum padrão (dado massiva exposição da mídia, pressões
institucionais) que determine que a dimensão ambiental seja mais importante do que a
econômica ou a social, por exemplo?
Com o objetivo de reduzir falhas na interpretação das questões fechadas, foi sugerida
no instrumento utilizado uma questão aberta, que de maneira breve, solicitava aos gerentes
que escrevessem livremente sobre o que pensavam ser sustentabilidade empresarial. Esta
questão foi posicionada logo após a evocação livre de palavras, com o objetivo de captar a
percepção do entrevistado antes que sofresse a influência das possíveis reflexões geradas no
momento de preenchimento do questionário.
No geral as respostas confirmaram a tendência das questões fechadas: o viés
econômico foi sempre tido como muito importante, sobressaindo sobre as dimensões social e
ambiental. Existe a preocupação recorrente de que para ser sustentável cuidando de aspectos
sociais e ambientais, a empresa deve antes cuidar de manter-se, principalmente no que diz
respeito à questão financeira.
Esta noção fica evidente na resposta transcrita do sujeito 2, para o qual a
“(...) sustentabilidade empresarial mais esperada e pretendida pelo
empreendedor é a própria. A preocupação em ser um empresário que
cumpra suas principais obrigações é a mais importante; e no início as
principais obrigações são: Pagar impostos, pagar corretamente os
funcionários, estar de acordo com as leis trabalhistas, entregar os
10
produtos/serviços que vendeu. Enfim, coisas básicas, mas não fáceis
para o início de um negócio. Atualmente, a responsabilidade pelo
desenvolvimento do entorno não é muito levada em consideração no
processo de desenvolvimento dos negócios; esta questão ainda não
nasce como estratégica na maioria dos negócios chamados inovadores
na área de tecnologia.”
Todavia, as demais respostas consideraram a interação entre as três componentes da
definição de sustentabilidade empresarial: econômica, social e ambiental.
No entanto, apesar de uma compreensão possivelmente alinhada com o conceito mais
aceito, pode-se dizer que as percepções dos respondentes convergem para o consenso de que
apesar de importante, a interação entre esses elementos ainda não está no “DNA” das
empresas. De acordo com o sujeito 1, mesmo a gerência tendo esta compreensão mais
ampliada, a mesma acredita “que na prática as empresas ainda não conseguem integrar estas
variáveis”.
Resultados sobre: Atitudes e comportamentos acerca da sustentabilidade empresarial
Analisadas as diferentes percepções acerca de sustentabilidade empresarial, nesta etapa
da investigação buscou-se entender, com base nas questões levantadas, se haveria entre as
gerências atitudes favoráveis ou desfavoráveis ao conceito.
Para isso, as questões sete, oito e nove do questionário tiveram a intenção de investigar
os três componentes da atitude: cognitivo, afetivo e comportamental, na ordem em que
aparecem no gráfico abaixo:
Figura 2: Atitudes em relação à sustentabilidade empresarial, por grau de
concordância
Fazendo a leitura do gráfico, fica claro que houve uma concentração de respostas na
categoria mais concordo que discordo, o que invariavelmente aponta para uma possível
tendência de avaliação positiva sobre sustentabilidade empresarial.
Em relação à primeira afirmativa, “sinto-me seguro...”, dois gerentes afirmaram que
mais discordam que concordam. Ao conversar com os respondentes, ficou claro que esta
posição, na verdade, refletiu certa cautela de quem já tem dimensão sobre a complexidade e
diversidade dos conceitos, uma vez que os mesmos são pessoas que já expostas previamente
11
ao conceito de sustentabilidade empresarial, por trabalharem em áreas mais ligadas ao setor
social e cultural.
Outro ponto que merece destaque é a pré-disposição em implementar a legislação
pertinente ao tema, assim como contribuir para que novas ações sejam desenvolvidas.
A conclusão parcial sobre esta parte da investigação é que no geral as gerências têm
uma atitude positiva sobre a sustentabilidade empresarial, pois acreditam ter conhecimentos
sobre o tema, assim como envolvimento pessoal e pré-disposição na aplicação de ações
relacionadas a ele.
Cabe ressaltar, por fim, que após a aplicação do questionário algumas observações
sobre a validade dessas interpretações foram questionadas. Elas são abordadas com detalhes
na seção limitação do método.
Comportamento
No campo do comportamento, a investigação teve o objetivo de identificar a presença
de determinados aspectos considerados como importantes para uma estratégia que envolva os
elementos da sustentabilidade empresarial.
Para isso, a questão 10 do questionário foi utilizada para avaliar o grau de importância
de diversos elementos para os empreendimentos na visão das gerências. Em seguida, a
questão 11 do mesmo instrumento investigou o status da implementação dos mesmos
aspectos na própria Incubadora.
Embora existam diferentes indicadores de sustentabilidade corporativa, como o Global
Reporting Initiative (GRI), os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial
dentre outros, a opção pelo DJSI se deu por entender que os aspectos abordados pelo
indicador seriam de mais fácil entendimento pelos respondentes. Além disso, o índice foi o
primeiro indicador de nível global usado para este fim, desde 1999, apresentando bons
resultados.
No primeiro caso (questão 10) foi solicitado que os respondentes expressassem sua
opinião sobre a importância de cada elemento para um empreendimento inovador, por meio
de uma escala de cinco níveis, variando da opção “nunca” até a opção “sempre”. O
procedimento adotado para a análise foi a média aritmética simples, com arredondamento
para o valor posterior ou anterior (por exemplo: quando o elemento Modelo de Governança
obteve média 4,5, foi automaticamente arredondado para 5; Nos casos em que obteve média
4,4, foi arredondado para 4).
No segundo caso (questão 11) foi solicitado que para o mesmo conjunto de elementos
apresentados na questão 10, os sujeitos respondessem – agora em relação à própria
Incubadora e não mais sobre os empreendimentos – se os mesmos estavam não
implementados, em fase de implementação ou totalmente implementados. O procedimento de
aproximação também foi utilizado na análise da média, que serviu para classificar os
elementos na escala proposta.
A Tabela 4 é a síntese dessas duas questões (10 e 11), e foi apresentada desta maneira
com o objetivo de evidenciar, ao mesmo tempo, os aspectos valorizados pelas gerências para
um empreendimento inovador e o status de implementação desses mesmos aspectos pela
própria incubadora. Abaixo podemos conferi-la:
Tabela 4: Cruzamento entre percepção de importância para os empreendimentos
incubados e status de implementação na incubadora na visão dos gerentes
Importância para os Status de Implementação na
empreendimentos, na própria incubadora, na visão
visão das gerências das gerências
12
Código de Conduta, Corrupção e
Alta
Em Fase de Implementação
Suborno
Modelo de Governança
Alta
Em Fase de Implementação
Gestão de Riscos e Crises
Relativamente Alta Não Implementado
Política e Gestão Ambiental
Relativamente Alta Não Implementado
Performance
Ambiental
(EcoRelativamente Alta Não Implementado
eficiência)
Relatório Ambiental
Relativamente Alta Não Implementado
Responsabilidade Social
Alta
Em Fase de Implementação
Gestão da Relação com os
Alta
Em Fase de Implementação
Stakeholders*
Indicadores de prática laboral
Relativamente Alta Não Implementado
Desenvolvimento
do
Capital
Alta
Em Fase de Implementação
Humano
Relatório Social
Relativamente Alta Em Fase de Implementação
Atração e Retenção de Talento
Relativamente Alta Em Fase de Implementação
* Grupos de interesse que interagem com a empresa (investidores, sociedade, governo etc.)
Fonte: Dados da pesquisa, elaboração própria
Analisando os dados, chamamos a atenção para o fato de as gerências entenderem que
todos os elementos apresentados têm uma importância alta ou relativamente alta para os
empreendimentos.
Notadamente, seguindo uma tendência já presente nas primeiras questões, dentre os
cinco itens que obtiveram classificação alta, dois deles estão diretamente relacionados à
perspectiva econômica ou de gestão (Código de conduta, corrupção e suborno; Modelo de
governança) e o terceiro ligado em parte a esta dimensão: Gestão da relação com os
stakeholders (envolvendo clientes e investidores).
Outro aspecto interessante é que, na média, as respostas sobre o status de
implementação não retornaram a categoria totalmente implementado, embora alguns
respondentes tenham afirmado a implementação de alguns aspectos (modelo de governança,
gestão da relação com os stakeholders, desenvolvimento do capital humano e relatório social).
Para dirimir esta possível dúvida, analisando alguns documentos internos, foi
constatada a presença de indícios sobre todos os elementos acima. No entanto, esta falta de
unanimidade entre os gerentes sugere que mesmo ocorrendo, estes elementos podem estar
restritos a algumas áreas, não serem utilizados com freqüência ou mesmo não serem
representativos.
O conjunto de elementos que representam a perspectiva ambiental (Política e Gestão
Ambiental e Performance Ambiental), também seguiu o padrão das primeiras respostas do
instrumento: foram subvalorizados. De acordo com a tabela, ambos são encarados como tendo
importância relativamente alta para os empreendimentos enquanto que de acordo com o
status, ainda não foram implementados pela própria incubadora.
Algo que possivelmente revela alguma coerência em termos de comportamento é que
entre os elementos classificados como tendo alta importância para os empreendimentos, todos
obtiveram o status de em fase de implementação pela própria incubadora.
Partindo da mesma lógica, dos sete itens classificados como tendo importância
relativamente alta para os empreendimentos, cinco deles obtiveram o status de não
implementado pela própria incubadora.
Todavia, esta análise deve ser feita com cautela, uma vez que o é importante para um
empreendimento pode não ser para o funcionamento da incubadora, embora os itens
investigados aparentemente sejam de aplicação real nos dois ambientes.
13
A conclusão parcial sobre esta parte da investigação é que no geral as gerências têm
um comportamento que tende a se diferenciar de suas atitudes, identificadas no tópico anterior
como positivas. Esta conclusão fundamenta-se na falta de unidade nas respostas sobre o status
da implementação dos elementos propostos na incubadora e também por obterem o status de
não implementado em 41,7% deles.
5. Conclusões e Recomendações
Este estudo tratou do tema sustentabilidade empresarial, por meio da investigação das
percepções, atitudes e comportamentos das gerências de uma incubadora de empresas em
relação aos empreendimentos inovadores nela incubados.
Para isso assumiu algumas premissas: a compreensão de que está em curso o
fortalecimento de um padrão de acumulação baseado no conhecimento e na inovação; de que
a emergência da discussão sobre desenvolvimento sustentável na perspectiva de negócios –
sustentabilidade empresarial – está se tornando cada vez mais um elemento-chave na
condução dos negócios e por fim, que mesmo havendo relação entre percepção, atitude e
comportamento, é perfeitamente possível que os comportamentos dos indivíduos não sejam
necessariamente alinhados às suas atitudes ou discursos.
A análise foi realizada com o cuidado de observar possíveis contradições, geração de
hipóteses e questões de pesquisa a serem utilizada nas outras duas fases futuras deste estudo.
Por se tratar de um estudo de caso único, não foram feitas inferências sobre as demais
incubadoras do Estado ou País.
No campo da percepção, buscou-se identificar se havia divergência entre o conceito
mais aceito de sustentabilidade e o entendimento pelas gerências da incubadora estudada.
Com base na técnica de evocação livre de palavras e na sua posterior hierarquização, ficou
evidente que entre os três elementos que compõe o conceito de sustentabilidade trabalhado na
pesquisa (econômico, social e ambiental), o aspecto econômico foi identificado como o fator
que teve mais atenção. Percebeu-se também que esta tendência é verdadeira quando os
sujeitos são convidados a falar a primeira coisa que vem à sua cabeça, mas possivelmente
falsa quando os mesmos elaboram a questão racionalmente. Foi assim com a dimensão
ambiental do constructo trabalhado. Este fato pode demonstrar que apesar de haver um
esforço organizacional para que uma determinada questão seja inserida no cotidiano de
trabalho, na prática a mesma pode ainda não ter sido internalizada por seus executores.
Sendo as percepções um elemento muito pessoal, possíveis divergências entre as
respostas dos gerentes pode ser um fato aceitável. No entanto, cabe a observação que de
maneira objetiva, não foi identificado na Incubadora nenhum processo de formação ou espaço
de discussão para unificar o entendimento do que de fato vem a ser sustentabilidade
empresarial e como esta pode ser aplicada na própria Incubadora e em seus empreendimentos.
Ficou claro com base nos resultados desta pesquisa, das entrevistas realizadas e da
bibliografia consultada que os empreendimentos inovadores são diferenciados dos
empreendimentos tradicionais, muito mais devido ao ambiente no qual é gerado e pela
formação de seus dirigentes do que pelo tipo específico de negócio.
No campo das atitudes, identificou-se boa recepção à idéia da sustentabilidade
empresarial, pois os respondentes demonstraram segurança e coerência entre os aspectos
cognitivo, afetivo e conativo relacionados ao tema.
Apesar desta possível atitude positiva, com base nos elementos investigados os
comportamentos tenderam a se distanciar das atitudes. Por tanto, o modelo conceitual
proposto inicialmente ilustrou essa divergência entre atitude e comportamento.
Por fim, a conclusão deste estudo é que afirmar que um empreendimento inovador já
nasce com o “DNA” da sustentabilidade – nas palavras da Anprotec - assumindo que o
mesmo é portador de uma nova mentalidade na condução dos negócios, talvez seja algo que
14
ainda não possa ser feito com segurança e nem com validação científica, pelo menos para o
caso estudado. Antes, é algo que demanda uma maturação de reflexão sobre os diferentes
conceitos disponíveis, por uma ação estratégica atenta por parte da incubadora no sentido de
discutir junto com os empreendimentos possíveis ações que de fato operacionalizem a
sustentabilidade empresarial.
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Empreendimentos Inovadores, Nova Mentalidade? Um