A FORMAÇÃO ACADÊMICA DOS ANIMADORES SÓCIOCULTURAIS EM NAVIOS DE CRUZEIRO ALIPIO RODRIGUES PINES JUNIOR, PAULO HENRIQUE SILVA DE OLIVEIRA HIEKATA, FELIPE BRIOTO DIAS, TIAGO AQUINO DA COSTA E SILVA RESUMO O presente trabalho teve como objetivo verificar se os animadores socioculturais possuem formação acadêmica em nível superior, bem como a apresentação dos cursos mais realizados. Como categorias teóricas foram estabelecidas as relações entre os navios de cruzeiros, a infraestrutura oferecida, os serviços prestados a bordo, o porquê de sua procura, importância no universo do turismo e dados e números substanciais. Em seguida foi explorado o entretenimento dentro do navio, as opções, as atrações e tipos de atividade que ocorrem. Na sequência foi estudado sobre quem é essa pessoa que trabalha para o lazer e entretenimento dos turistas e passageiros que vão realizar a viagem em um navio de cruzeiro e, um subcapítulo abordando sobre sua formação profissional. Como procedimentos metodológicos foram aplicados questionários mistos para a obtenção e quantificação de dados acerca da formação acadêmica dos animadores socioculturais que trabalham em cruzeiros marítimos. Os resultados mostram que 88% dos entrevistados possuem curso superior, com ênfase nos cursos de Turismo e Educação Física, mas que tal formação não é pré-requisito para contratação destes profissionais. Palavras-chave: Cruzeiros marítimos. Animador sociocultural. Formação acadêmica. GRADUATION OF ENTERTAINERS IN CRUISE SHIPS ABSTRACT This study aimed to verify if the entertainers have graduation, and if they have, which course is the most picked. As theoretical categories were established relations between the cruise ships, the infrastructure provided services onboard, the reasons to search for it, the importance on the tourism universe and some substantial data. Then the entertainment onboard were explored, the options, attractions and types of activity occurring inside. Following, the focus was the person who is working for the leisure and entertainment of tourists and passengers that will make a trip on a cruise ship, and a subchapter addressing about his training. As methodological procedures were used mixed questionnaires to obtain and to quantificate some data about the graduation of the entertainers who work on cruise ships. The results show that 88% is graduated, with emphasis in Tourism and Physical Education, but the graduation is not a prerequisite for hiring these professionals. Keywords: Cruises. Entertainers. Graduation. INTRODUÇÃO Cada vez mais, tem se falado sobre os cruzeiros marítimos como opção de viagem, tanto com intuito predominante de vivência no lazer, como com o intuito de trabalho. No âmbito do lazer, as viagens em cruzeiros propiciam oportunidade de se desfrutar inúmeras opções de entretenimento a bordo e, em terra firme, nos possíveis portos de escala e em paradas em algumas cidades, previamente programadas no roteiro escolhido, pode-se escolher o nada a fazer, simplesmente relaxar e desligar-se do cotidiano, de sua vida habitual. No contexto do trabalho, tem-se como intuito reunir colaboradores, funcionários e ou especialistas de uma determinada empresa ou associação, para a realização de convenções, palestras, congressos, treinamentos empresariais e afins. Cada vez mais, pode-se encontrar eventos deste caráter dentro dos navios de cruzeiro, pela atratividade do mesmo, bem como, pela possibilidade de diversão e entretenimento pós-períodos de trabalho. Dentre os profissionais que atuam na animação e no entretenimento a bordo, estão os conhecidos animadores. São aqueles que atuam com as atividades de animação propriamente ditas, lidando diretamente com o público, socializando com o mesmo, atuando com diversas atividades para todas as faixas etárias a bordo, tais como: jogos, gincanas, oficinas manuais, aulas esportivas e de dança entre outras. Pela complexidade e peculiaridade do trabalho ofertado pelos animadores, indica-se que os profissionais tenham uma formação ampla e contínua, já que lidam os valores e com a expectativa de vivência dos conteúdos culturais do lazer como os interesses artísticos, os físicos esportivos, os manuais e os sociais propostos por Dumazedier (1980); e os interesses turísticos (CAMARGO, 1986) e os virtuais para Schwartz (2003). É indispensável que as empresas, ao contratar os profissionais de lazer deem preferencia aos universitários e/ou aqueles com formação acadêmica em que os aspectos da teoria do lazer são discutidos, para Ribeiro (2011). A inclusão no mercado de trabalho com o foco no lazer reitera a necessidade de preparar cada vez mais os profissionais, ainda mais para um segmento que cresce a cada ano, que fomenta milhões de reais à economia brasileira, que atrai turistas de todas as partes do Brasil e de preencher as oportunidades de trabalho que cada vez mais surgem nesse segmento. Existem diversos estudos que buscam comprovar que o Ensino Superior pode ser um caminho para o melhor preparo desse profissional, porém, poucos tratam especificamente sobre a formação acadêmica do animador sociocultural para atuar em navios de cruzeiro, o que motivou o desenvolvimento desta reflexão. Este estudo teve como objetivo primário verificar se os animadores socioculturais possuem formação acadêmica em nível superior, e se tiverem, qual é o curso superior mais procurado. Como objetivos secundários: • Estabelecer uma comparação se, os profissionais quando atuaram nos navios de cruzeiro, possuíam formação acadêmica (completa). • Quantificar quantos profissionais possuíam formação quando atuaram a bordo. • Identificar, dentre aqueles que tiverem Ensino Superior Completo, quais os cursos mais evidentes. Sabe-se que a maioria das empresas de cruzeiro marítimo contratam profissionais de lazer sem ou pouca formação acadêmica e técnica, e essa foi a problemática deste trabalho. Por fim o trabalho tem o objetivo de verificar se os animadores socioculturais que atuam em navios de cruzeiro possuem formação acadêmica em nível superior. Nesse estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica por meio de livros, teses, artigos científicos, trabalhos de conclusão de curso, sites da internet e também foi desenvolvida uma pesquisa exploratória, para a qual foram aplicados, questionários mistos, para a obtenção e quantificação de dados do estudo em questão. REVISÃO DE LITERATURA CRUZEIROS MARÍTIMOS É cada vez mais comum que as pessoas, em seu período de férias ou em seu tempo livre, queiram viajar, conhecer outros lugares, culturas e tradições. Há uma grande preocupação e planejamento para onde se vai, para com a forma de deslocamento, em como são as formas de acomodação, tipo de alimentação e culinária, o que se faz lá, tipos de atividades vivenciadas no lazer, caracterizando-o como passivo, ativo, contemplativo, com as atividades que possam entreter a todos da família, de diversas faixas etárias. O turista, cada vez mais, exige do local escolhido todos esses requisitos, além, de ser bem atendido e, uma opção cada vez mais procurada e que tem ganho uma grande fatia do mercado de turismo, são os navios de cruzeiro. Segundo Amaral (2002), “[...] pela variedade de opções de lazer, pelo conforto e pela qualidade das acomodações que oferece, um navio de cruzeiro pode ser definido como um Resort Flutuante”. Um navio de cruzeiro consegue atingir e oferecer as quatro áreas da hospitalidade, as quais Camargo (2004) descreve como: receber, hospedar, alimentar e entreter o hóspede. Os hóspedes, ou passageiros, como são mais conhecidos nos navios de cruzeiro, têm a possibilidade de se acomodar, alimentar (a qualquer momento, já que sempre há um restaurante ou um buffet funcionando no navio) e de escolher diversas opções de atividades do contexto do lazer e entretenimento, as quais estão ocorrendo simultaneamente a bordo. Muitos passageiros optam por voltar a viajar com a mesma companhia de cruzeiros pela diversidade e qualidade dos serviços de entretenimento prestados. Ainda, há o mito, por parte de algumas pessoas, que não gostariam de realizar um cruzeiro pelo fato de serem viagens longas e que, se não se adaptarem ao navio e suas particularidades, ficarão “presos” a ele até o término da viagem. Entretanto, essa concepção pode ser apoiada na falta de informação adequada, já que existem cruzeiros de 15 ou mais dias que são as travessias de um país, continente a outro, mas também, cruzeiros de uma semana, ou, ainda, os mini-cruzeiros, que duram 3 ou 4 dias (RIBEIRO, 2011). Silva e Gonçalves (2010) acreditam que os navios de cruzeiro são diferentes dos outros meios de transporte, uma vez que o deslocamento, o turismo e o divertimento ocorrem ao mesmo tempo. Certamente esses aspectos citados contribuíram para o aumento do número de navios no Brasil, bem como, do seu tempo de permanência na costa brasileira. “Vale lembrar que o mercado de cruzeiros marítimos é o que mais cresce no segmento de turismo no Brasil e no mundo hoje em dia” (MORAES, 2010). Segundo dados da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (ABREMAR, 2011), o número de turistas neste tipo de viagem tem aumentado 33% ao ano. Estes dados mostram um número impressionante de aproximadamente 720 mil passageiros na temporada 2009/2010 e a estimativa da última temporada foi de 884 mil pessoas. Além disso, a ABREMAR mostra que houve também um enorme impacto econômico no setor, na temporada 2009/2010 foram gerados 44 mil empregos e 534 milhões de reais de renda. O setor ainda gerou R$ 57 milhões em comissões para agências de viagens brasileiras e os turistas consumiram 40% a mais no comércio local, nas cidades onde os navios atracaram. Não faltam argumentos e dados para comprovar e afirmar que é uma área que está em constante expansão, que ocupa uma grande lacuna no mercado e que precisa, cada vez mais, de preparação, orientação e formação contínua dos profissionais nela envolvidos. ENTRETENIMENTO E ANIMAÇÃO NOS CRUZEIROS MARÍTIMOS As atrações e as opções de entretenimento em um navio de cruzeiro são quase infinitas. Além de seus espaços e equipamentos de lazer, o passageiro encontrará diversas atividades voltadas para o seu entretenimento. Para Dumazedier (1980) a maioria delas atinge as expectativas sobre os conteúdos culturais do lazer, como os interesses físicos (ginástica, hidroginástica, alongamento, esportes diversos e outros.), sociais (festas e jantares temáticos), intelectuais (biblioteca, aulas de idiomas, jogos de carta, de mesa, outros.), artísticos (shows de música, dança, humor, contorcionismo, mágica e outros.) e manuais (oficinas de artesanato, de gastronomia, de alimentos e bebidas e outros). Dentro de um navio poderão ser encontrados espaços como: bares, piscinas, saunas, jacuzzi, academia de ginástica, salão de jogos, cyber café e lan house, brinquedoteca, kids e teens club (espaço destinado para atividades dirigidas para o público infantil e adolescente, geralmente orientadas pelo animador da respectiva faixa etária, porém nem todos os navios possuem) cassino, fliperama, discoteca, quadra poliesportiva, biblioteca, teatro e cinema. Variam de navio para navio esses espaços, não existindo algum padrão, ou regra que obrigue os mesmos a possuírem essa ou aquela opção e/ou equipamento de lazer. Como exemplo, pode-se destacar o navio “Voyager of the Seas”, um cruzeiro que oferece pista de patinação, estúdio de TV, parede de escalada, quadra poliesportiva, uma rua, com quatro andares de altura e 09 metros de largura, teatro para mais de 1.800 pessoas. Quando foi criado, oferecia atrações, benefícios impensáveis, mas que hoje já é possível observar em vários navios de cruzeiro e até, alguns com mais atrações, como é o caso do “Oasis of the Seas”. Muitos navios oferecem serviços como massagens, tratamentos de beleza, salão de cabeleireiros, spas, personal trainer e alguns já contam com o serviço de “concierge”. A ideia de se ter tantas opções no lazer é fazer com que o passageiro possa ter sempre uma atividade, uma atração para entreter-se e, consequentemente, aumentar o consumo e os gastos, aumentando também sua permanência a bordo. Muitas vezes, os passageiros optam por não desembarcar nas escalas e portos que fazem parte do roteiro, para poderem aproveitar mais as opções ofertadas. Mas, neste ambiente de entretenimento diferenciado que o passageiro irá encontrar, juntamente com o ambiente de bordo, existem às pessoas que irão conduzir as atividades de recreação, que são os animadores, estes que, para muitos passageiros, são o ponto forte do cruzeiro, são a referência social para com o navio (MORAES, 2010). A animação dentro dos navios de cruzeiro é dividida por faixa etária, tendo seus animadores específicos para cada grupo (infantil, adolescente, adulto e muitas vezes para os idosos também). ANIMADOR SOCIOCULTURAL Com a crescente indústria do entretenimento, e cada vez mais se ouve falar da importância do lazer na vida das pessoas, em especial aos trabalhadores, foi percebida a necessidade da existência de um profissional capacitado para atuar nesse segmento. A nomenclatura dada a estes profissionais é extensa e variada, tanto encontrada na literatura quanto no mercado de trabalho: recreacionista, recreador, agente cultural, gentil organizador (GO), programador de lazer, instrutor, animador sociocultural, monitor, “tio”. Há também uma nomenclatura que vem sendo utilizada e que, talvez, seja a que consiga ser a mais abrangente em seu significado, que são os profissionais de entretenimento (PE). Existem alguns autores que discutem as características dos animadores, bem como, suas atribuições. O animador é: Aquele que tem contato direto e estrito com o público participante e com as atividades lúdicas desenvolvidas, e tem como principais funções: auxiliar o planejamento, operacionalizar e coordenar as atividades lúdicas; liderar para que todos participem e explicar o funcionamento das mesmas; propiciar a integração dos grupos; arbitrar quando se fizer necessário; zelar pelo material; e outras responsabilidades com o seu trabalho (CAVALLARI E ZACHARIAS, 2009, p.18) Segundo Camargo (1998) os profissionais de recreação devem gostar de gente e de cultura, se gostarem de gente e não de cultura, podem se sair melhor em outras formas de trabalho social. Se apenas gostarem de cultura, podem ser produtores culturais (artistas, esportistas, cientistas e artesãos). Mas, para serem profissionais de recreação, devem ter o feeling, a intuição da ludicidade e a capacidade de dotar as programações dessa característica. Nem todos os profissionais da área sabem, mas existe uma associação que vem crescendo e, que busca a regulamentação da profissão, bem como a capacitação e formalização dos direitos e deveres do recreador, chamada ABRE – Associação Brasileira de Recreadores, e nela traduz-se recreador como: Aquele que interage com pessoas, sobretudo com grupos, diretamente, e traduz a cultura em atividades de recreação e lazer, de modo a atrair e mobilizar pessoas em programações fixas, regulares e de eventos, dispondo, para isso, de sua capacidade de sintonizar com o gosto do público. O profissional dessa área precisa ter presente a sensibilidade da ludicidade e a capacidade de interpretar as expectativas do grupo, desenvolvendo na sua plenitude a ação pedagógica e didática do educador não formal (ABRE, 2011). As três definições apresentadas (CAVALLARI E ZACHARIAS, 2009; CAMARGO, 1998; ABRE, 2011) se inter-relacionam tendo a mesma visão de que o profissional que atuar nessa área deve lidar com clareza e domínio com os aspectos culturais, lúdicos e as particularidades de cada grupo que estiver participando de uma atividade recreativa. Como Ribeiro (2011) cita, nos cruzeiros, o profissional do lazer é conhecido como animador, e quem o supervisiona é o chefe da animação, em alguns casos, um chefe de animação infantil e um adulto. Acima do chefe de animação encontra-se o assistente de diretor de cruzeiro e, por último, temos o diretor de cruzeiro. É o cargo máximo da área de lazer dentro de um cruzeiro, ele somente se reporta ao diretor de hotelaria e ao próprio comandante. O diretor de cruzeiro é considerado um anfitrião a bordo do navio e toda a equipe de animação, artistas, bailarinos e cantores estão sob seu comando. A programação de lazer e as atividades que irão ocorrer a bordo, planejadas pelo chefe de animação e a equipe de animadores, devem ser discutidas e autorizadas pelo diretor de cruzeiro. Além das características supracitadas do profissional de lazer, o animador de navio deverá estar atualizado com o mundo e com fatos que aconteçam fora do ambiente de navio (mesmo muitas vezes estando impossibilitado de ter acesso direto a essas informações). Uma condição marcante do animador a bordo é que ele deverá saber que, muitas vezes, o próprio navio já é um divertimento para o passageiro e que sua participação nas atividades propostas será uma opção e não uma obrigação. Para Moraes (2010), a animação de navios é uma maneira de divertir sem ser intrometido. Essas peculiaridades e diferenças de outros locais de trabalho fazem com que os navios de cruzeiro não sejam o passo inicial de sua carreira profissional, mas o culminante de uma crescente preparação e dedicação em um diferencial de grande destaque no mercado de trabalho, com bons rendimentos, reconhecimento e aprimoramento profissional. FORMAÇÃO ACADÊMICA DO ANIMADOR SOCIOCULTURAL Hoje, existem inúmeras possibilidades de atuação do animador no campo de trabalho. Em clubes, escolas, eventos, festas, buffets, resorts, navios, acampamentos, hotéis de lazer e muitos outros. Também, existe o trabalho com atividades do contexto do lazer ambientes corporativos, para atuar como agente antiestressante ou, até mesmo, para divertir e ser um caminho para a socialização entre os colaboradores. Com tantas opções de atuação e a tendência de expansão, o mercado de trabalho exige que os profissionais do lazer se capacitem, especializem e continuamente participem de reciclagens, porém esta não é a realidade. Para Isayama (2010) lamentavelmente, ainda se pensa que, para atuar na área, não é necessário ter formação específica e aprofundada sobre o tema. É necessária a formação universitária, para que o profissional adquira informações e conhecimentos precisos para um desenvolvimento mais qualificado do seu trabalho, como apontam Silva e Gonçalves (2010). Muitos cursos universitários apresentam disciplinas específicas: Turismo, Lazer, Serviços Sociais, Pedagogia, Hotelaria, Sociologia, Artes Cênicas e Educação Física, agregando conhecimentos específicos e técnicos na sua respectiva formação. Ao discutir sobre a formação acadêmica dos profissionais para atuar com o lazer, é necessário ressaltar que o lazer é um campo multidisciplinar, ou seja, é enriquecedor conhecer e aprofundar-se nos diversos conteúdos culturais do lazer. No Brasil, a formação profissional no âmbito do lazer vem concretizando-se, principalmente, por duas perspectivas: a primeira tem como ênfase a preocupação em formar um profissional mais técnico, que tenha como orientação primordial o domínio de conteúdos específicos e metodologias. A segunda aponta a formação centrada no conhecimento, na cultura e na crítica, que se dá por meio da construção de saberes e competências, os quais devem estar alicerçados no comprometimento com os valores disseminados numa sociedade democrática. Somente existirá um indivíduo capacitado e pronto para atuar quando for rompida essa dicotomia teoria e prática, esses dois eixos devem ser trabalhados simultaneamente (teoria-prática), como elementos indissociáveis. Segundo Isayama (201) é preciso superar uma das tendências encontradas no campo do lazer que considera a recreação como a prática e o lazer como as teorias. Focalizando especificamente os animadores de cruzeiro, a formação universitária não tem sido requisito na hora da contratação dos mesmos. O estudo de caso realizado por Ribeiro (2006a) mostrou que a maioria dos animadores do navio MSC Armonia não possuía formação, não sendo esta uma exigência deste navio. Isto comprometeu a atuação dos animadores da área adulta no cruzeiro de Reveillon, que constrangeram alguns passageiros a participar da programação. Apesar de pouco material na literatura sobre os profissionais de lazer em navios de cruzeiro, é inquestionável que a formação acadêmica deste profissional o auxiliará e lhe possibilitará seu crescimento e entendimento na área. Sendo assim, este estudo procurou ampliar as reflexões na área, buscando maior compreensão sobre este universo pesquisado. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Em um primeiro momento, foi feita uma revisão de literatura. A revisão de literatura feita de maneira empírica, realizada por meio de um levantamento de dados secundários, com o intuito de se conhecer dados e informações acerca dos temas propostos (LAKATOS e MARCONI, 1992). Foram verificadas fontes como: livros, periódicos, sites e artigos científicos. Em seguida, foi realizada uma pesquisa exploratória, de natureza quantitativa, aplicando questionários mistos, contendo 13 perguntas, a uma amostra intencional composta por 25 profissionais, sendo eles, 22 homens e 03 mulheres, com idades entre 24 e 43 anos, que atuaram e/ou continuam atuando como animadores socioculturais em navios de cruzeiro, todos de nacionalidade brasileira. Os participantes do estudo receberam um termo de consentimento livre e esclarecido, explicando os objetivos, as características e a importância do estudo. As perguntas do questionário foram relacionadas à formação acadêmica do entrevistado, ao curso escolhido, à quantidade de contratos realizados enquanto animador de cruzeiros, cargos exercidos a bordo, se o mesmo realizou cursos de recreação e lazer como forma de capacitação e aprimoramento, os motivos que o levaram a trabalhar como animador e, se no momento de seleção e contratação, foi exigida alguma formação acadêmica do profissional em questão. O questionário também contou com espaço para breves comentários acerca de algumas questões. O software utilizado para a criação do questionário foi o Microsoft Word versão 2000 e, para realizar a tabulação dos dados e o desenvolvimento dos gráficos, foi o Microsoft Excel versão 2000. Todas as informações dos entrevistados foram mantidas em sigilo. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Conforme mostra a tabela 1, dos 25 entrevistados, apenas 12% (n=3) não apresentaram formação acadêmica completa, confirmando, assim a hipótese básica que, a maioria dos animadores de navios de cruzeiro possui formação acadêmica completa. Entrevistados f % Com formação acadêmica Sem formação acadêmica TOTAL 22 3 25 88 12 100 Tabela 01: freqüência e porcentagem dos entrevistados (n=25) com e sem formação acadêmica completa Dentre aqueles que apresentaram Ensino Superior Completo, conforme a tabela 2, verificou-se a incidência de profissionais que continuaram sua formação acadêmica, optando pela realização de cursos de pós-graduação (lato sensu ou stricto sensu). Entrevistados F % Sem Incidência Pós-Graduação Pós-Graduação Incompleta Pós-Graduação Completa 14 3 3 63,63 13,63 13,63 Mestrado Doutorado TOTAL 2 0 22 9,09 0 100 Tabela 02: freqüência e porcentagem dos entrevistados que possuem Ensino Superior Completo (n=22) e incidência em cursos de pós-graduação (n=8) No gráfico 01 pode-se observar a quantidade e os tipos de cursos acadêmicos apontados pelos participantes. Houve participantes que apresentaram mais de uma formação acadêmica completa em seu questionário. Gráfico 01: Cursos Superiores apontados pelos participantes. *O campo outros representam cursos que foram identificados uma única vez (Recursos Humanos, Eventos, Teatro, Rádio e TV, Letras, Filosofia, Administração, Fisioterapia) Os cursos mais evidenciados na pesquisa foram os cursos de Turismo e Educação Física. Apesar de a hipótese básica do estudo indicar que a maioria dos entrevistados seria da área da Educação Física, pelo tipo de trabalho exercido dentro do navio, as características das atividades desenvolvidas a bordo, e, seguindo os conteúdos culturais do lazer (DUMAZEDIER, 1980; CAMARGI, 1986; SCHWARTZ, 2003), é perfeitamente compreensível que haja muitos profissionais da área do Turismo e da Hotelaria atuando como animador de navios de cruzeiro. O que desperta a curiosidade é evidenciar a quantidade de profissionais de outras áreas que, em um primeiro momento, não possui ligação com a área da recreação, lazer e/ou entretenimento. Percebese assim, que os recrutadores, selecionadores de animadores de cruzeiro não levaram totalmente em conta o tipo de curso realizado pelo candidato, na hora da contratação. É possível observar pelo gráfico 02 a quantidade de contratos completos que cada entrevistado realizou. Compreende-se por contrato completo o cumprimento do período para o qual o profissional foi contratado. Existem contratos de duração variados, que podem compreender entre 03 meses até 10 meses de duração. A duração dos contratos pode variar também, em relação à temporada para a qual o profissional foi contratado, temporada brasileira, sul americana, mediterrânea, região do caribe, oriente médio, mares bálticos, asiática. Gráfico 02: Quantidade de contratos completos por entrevistado. Pelo gráfico 02 é percebido que grande parte dos animadores realiza poucos contratos a bordo. Esses entrevistados apontaram alguns motivos para não permanecerem embarcados por mais de dois contratos: São eles: a longa duração do contrato, saudades da família e amigos e dificuldades de adaptação à bordo. A última pergunta do questionário indagava se, no momento da seleção/contratação do profissional, era exigida alguma formação acadêmica. 22 entrevistados afirmaram que não era exigido nenhum tipo de formação acadêmica, bastando a experiência, currículo, ou uma mostra de seu “talento”, apresentando algum tipo de atividade ou performance para o recrutador. Apenas 03 entrevistados disseram que foi exigido deles algum tipo de formação acadêmica, mas em contrapartida, alegaram que grande parte da equipe de animação que atuou juntamente com eles, não possuía Ensino Superior. Sendo assim, nota-se que não foi um padrão adotado pelos seus recrutadores. Gráfico 03: Exigência de formação acadêmica no momento da contratação. Esse último resultado vai ao encontro do que Isayama (2010) afirma, de que grande parte dos profissionais da área não considera necessário ter formação específica e aprofundada sobre a área. Sobretudo, quando esse pensamento parte de quem seleciona e contrata, dificilmente a mentalidade do profissional contratado irá contra, gerando uma falta de preparo, de conhecimentos imprescindíveis, de uma mente criativa e não reprodutora, podendo gerar descontentamento e desconforto por parte do público-alvo, como menciona Ribeiro (2006a e 2006b) em seus estudos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se que, atualmente, a maior parte dos animadores de navio entrevistados apresenta formação acadêmica, muitos até indo além nos seus estudos acadêmicos, porém não sendo possível concluir se, de fato, o curso escolhido é o mais adequado, e que preparará melhor o indivíduo para atuar em navios de cruzeiro, já que o ambiente de trabalho é bem peculiar em relação à outros ambientes. Foi perceptível que quase todos os cursos que apareceram em evidência são cursos que possuem a disciplina “Recreação e Lazer” na grade curricular, exceto o curso de Propaganda e Marketing. É possível pensar que boa parte desses animadores obteve um conhecimento mínimo e necessário nessa área de atuação, deixando de ser meros reprodutores de atividades e serem indivíduos que sabem elaborar, criar, adequar atividades em relação ao espaço, tempo, público-alvo, material, objetivos propostos. É questionável o porquê da não exigência de Ensino Superior e de conhecimentos acadêmicos na escolha e seleção do profissional de Recreação, Lazer e Entretenimento, não somente no setor de cruzeiros marítimos, como em várias áreas do âmbito do Lazer. Será o despreparo, falta de conhecimento de quem seleciona, recruta os profissionais, mão de obra qualificada cada vez mais escassa, ou ainda, a quantidade de oportunidades nesta área em constante crescente, a valorização do Lazer na vida das pessoas, não havendo tempo para a capacitação e preparação deste profissional? O fato é que existe um grande processo de evolução, de conscientização que o Lazer deve fazer parte da vida das pessoas, em todas as fases da vida, havendo a necessidade de profissionais aptos a garantir a qualidade das atividades oferecidas, com conhecimentos específicos, multidisciplinares e o aprofundamento dos mesmos, em que a formação acadêmica pode e deve ser um agente facilitador deste conhecimento. REFERÊNCIAS ABRE – Associação Brasileira de Recreadores. Disponível em: <http://www.abrerecreadores.com.br>. Acesso em: 15 set. 2011. ABREMAR – Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. Disponível em: <http://www.abremar.com.br>. Acesso em: 06 ago. 2011. AMARAL, R. Cruzeiros Marítimos. Barueri: Manole, 2002. CAMARGO, L. O. L. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998. _______________. Hospitalidade. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2004. _______________. O que é Lazer? São Paulo: Brasiliense, 1986. CAVALLARI, V. R.; ZACHARIAS, V. Trabalhando com Recreação. 3. ed. 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