“Não há lucro que pague uma vida” Carta de Maceió Documento elaborado e aprovado no II Seminário sobre Saúde, Segurança e Meio Ambiente. A Rede de trabalhadores e trabalhadoras da Braskem e todos os seus sindicatos realizaram em Maceió (AL), nos dias 04 e 05 de abril de 2013, o II Seminário “Saúde, Segurança e Meio Ambiente” (SSMA), com o objetivo de compartilhar experiências, fazer diagnósticos e propor soluções relacionadas à SSMA na Braskem em suas diferentes unidades industriais em todo o Brasil. Neste evento, foi possível a tomada de conhecimento das diversas realidades relacionadas às condições de trabalho na Braskem e para o destaque de medidas que tornem seus ambientes seguros, elaborou-se a “Carta de Maceió”, que elenca as demandas apresentadas pelos trabalhadores(as), a partir da prática diária no local de trabalho e relatos realizados sobre as estruturas das unidades industriais. Um diagnóstico já havia sido elaborado em junho de 2010, quando aconteceu a primeira edição do seminário SSMA, em Porto Alegre/RS. E neste segundo seminário, ficou evidenciada a ampliação dos problemas de saúde, segurança e meio ambiente. O seminário comprovou que a política sistemática de redução dos gastos com SSMA da Braskem tem provocado sucateamento em suas unidades industriais em todo Brasil. Essa política vem causando acidentes químicos ampliados como: os ocorridos na UNIB-2, os quais provocaram o vazamento de vapores de Nafta e gás combustível, levando em dois momentos a evacuação de todo o complexo do Rio Grande do Sul; e na UCS-1, ocorreu vazamento de cloro, que contaminou mais de 130 pessoas da comunidade do entorno da fábrica em Maceió. Na UNIB-1/Bahia, houve acidente com morte de um trabalhador. É importante salientar que ocorreram vários acidentes com afastamentos e mutilações em toda a Braskem, inclusive nas PE’s, PP’s e PVC’s. Detectou-se que a política de gestão imposta pela Braskem também tem gerado centenas de demissões, redução de postos de trabalho, aumento da rotatividade, diminuição da senioridade, sobrecarga de trabalho e desvio de funções. Tal atitude potencializa os riscos de acidentes nas unidades, bem como oculta os seus registros, colocando seus trabalhadores(as) sobre pressão psicológica, gerando adoecimento mental e diversas doenças ocupacionais. É importante ressaltar a inexistência de política específica para mulheres – a classe trabalhadora na Braskem é formada pelos gêneros masculino e feminino, sendo necessário que a empresa desenvolva estruturas e mecanismos efetivos de combate à essa situação. Além disso, também se faz urgente adotar ações concretas para evitar os assédios moral e sexual que continuam ocorrendo. Outra questão relevante diz respeito ao apoio e participação da Braskem, em conjunto com as demais empresas que compõem a bancada dos empregadores na Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNPBz), na tentativa de mudar a atual Legislação e Acordo do Benzeno, o que resultaria um enorme retrocesso nas condições de exposição deste agente cancerígeno. Lembramos que trabalhadores(as) morreram em decorrência da exposição ao benzeno e que a atual legislação é uma conquista dos movimentos sociais e não admitiremos em mudá-los para pior. Já em relação ao mercúrio e ao amianto, denunciamos o descaso à planta UCS-2 (BA), que trabalha com Mercúrio - metal pesado altamente contaminante que já provocou no mundo várias mortes por “Hidrargirismo”; e à utilização ainda de amianto – fibra perigosa que provoca Asbestose - na planta de Alagoas (UCS-1). Por isso, é necessário promover medidas urgentes para que as plantas se tornem realmente seguras. Além disso, identifica-se uma submissão da área de SSMA em função da lógica de obter maiores lucros e produtividade para a empresa, mas provocando efeitos perversos sobre os trabalhadores(as), como as subnotificações das Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT). Os trabalhadores(as) são orientados a continuar trabalhando, sob o risco de perder o prêmio de Participação nos Lucros e/ou Resultados (PLR), uma vez que este pagamento está condicionado aos índices de acidente registrados, orientação que também se estende aos trabalhadores(as) terceirizados através do Índice de Prevenção (IP). Essas subnotificações também dificultam a obtenção de dados sobre os acidentes e adoecimento, contribuindo para a invisibilidade e o silêncio sobre os acidentes relacionados. Precarização das condições de trabalho é abuso do poder econômico A indústria petroquímica é intensiva em capital, com elevado nível de automação em seu processo produtivo. Ao longo da década de 1990, o setor passou por um profundo processo de reestruturação produtiva sustentado na flexibilização do trabalho e viabilizado principalmente pela implementação generalizada dos programas de qualidade total e da terceirização, cujo resultado mais visível e dramático foi a redução brutal do número de empregos no setor. Os efeitos dessa gestão orientada pela redução de custos trouxeram também outros danos nocivos, como a extinção de cargos, redução na política de remuneração direta, indireta, benefícios, bem como a implementação de planos de cargos e salários que achataram salários e diferenciaram ainda mais os valores de remuneração dos trabalhadores(as). Atualmente, aliada a essa gestão e organização do trabalho, a Braskem - que ocupa a oitava posição entre as maiores petroquímicas do mundo - se somam, perversamente, as práticas antissindicais da sua controladora, a Odebrecht. Participação dos trabalhadores é urgente e necessária A redução do ambiente inseguro de trabalho e, consequentemente, do número de acidentes, depende de uma série de fatores e mudanças de princípios e práticas que orientam a ação em SSMA no trabalho. Estas ações passam por melhorias no treinamento e na motivação dos trabalhadores, adoção de medidas preventivas com investimentos em novas tecnologias em SSMA, alteração na postura da direção da empresa para reconhecer o problema, abrir espaços e apoiar a participação dos trabalhadores na organização e gestão do processo de trabalho e redução da jornada de trabalho. Para contribuir com a superação das condições de trabalho aqui apresentadas e dialogar com a direção da Braskem sobre ações a serem implementadas para solucionar as difíceis situações enfrentadas atualmente na empresa, propomos: • Excluir dos acordos de Participação nos Lucros e/ou Resultados qualquer meta relacionada à acidente de trabalho, bem como qualquer outro tipo de avaliação com este tipo de tratamento; • Desburocratizar o acesso às informações pessoais e coletivas de trabalho; • Realizar monitoramento no ambiente de trabalho e mapeamento de risco, garantindo acesso aos laudos e programas de SSMA pelos Cipeiros e Sindicatos; • Emitir obrigatoriamente todas as CAT´s, havendo ou não afastamento de trabalhador(a) em decorrência do acidente, e exigir o mesmo tratamento das empresas terceirizadas; • Garantir a presença dos Sindicatos nas comissões de análises que envolvem acidentes de trabalho de todos os trabalhadores(as) próprios e terceiros; • Redução e controle do excesso de horas extras; • Aumento do investimento em SSMA com informações abertas aos sindicatos; • Realização presencialmente nas empresas dos cursos aperfeiçoamento e atualização técnica; • Desenvolver condições específicas para as mulheres trabalhadoras; regulamentares, • Desburocratizar a retirada dos EPI’s; • Democratizar nas relações interpessoais no ambiente de trabalho; • Fortalecimento da participação dos Cipeiros/GTB nos fóruns de discussão regional e nacional sobre o Benzeno; • Aumento dos postos de trabalho, priorizando as áreas de Segurança Industrial, Operacional e de Manutenção. Acreditamos que, com este diagnóstico e propostas descritas, frutos de dois seminários nacionais, possam contribuir para que as questões que envolvem saúde, segurança e meio ambiente no trabalho passem a se constituir, de fato, em prioridades para a Braskem. Com isso, possa evitar os acidentes químicos ampliados, as mortes, mutilações e doenças ocupacionais e psicossomáticas. Ressaltamos ainda que é de fundamental importância uma efetiva política nacional de saúde, segurança e meio ambiente no trabalho, através do diálogo com os trabalhadores e trabalhadoras! Maceió-AL, 05 de abril de 2013. José Marcondes Torres Machado da Silva Coordenador da Rede de Trabalhadores(as) da Braskem • • • • • • • • • CNQ – Confederação Nacional do Ramo Químico; Sindicato Químico do ABC; Sindipetro AL/SE; Sindipolo-RS; Sindiquímica Duque de Caxias-RJ; Sindiquímica-BA; Químicos Unificados de Campinas e Região-SP; Químicos de São Paulo; Sindquim-Baixada Santista.