Universidade Estadual de Londrina SERGIO RICARDO VITIELLO A INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA EM LONDRINA: 1998 A 2008 LONDRINA 2009 SERGIO RICARDO VITIELLO A INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA EM LONDRINA: 1998 A 2008 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Profª. Drª. Tânia Maria Fresca LONDRINA 2009 SERGIO RICARDO VITIELLO A INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA EM LONDRINA: 1998 A 2008 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do título de Bacharel em Geografia. COMISSÃO EXAMINADORA ____________________________________ Profª. Drª. Tânia Maria Fresca Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Dr. Cláudio Roberto Bragueto Universidade Estadual de Londrina ____________________________________ Prof. Dr. Fábio César Alves da Cunha Universidade Estadual de Londrina Londrina, _____de ___________de _____. DEDICATÓRIA À minha avó Maria (em memória), sempre presente em minha vida. AGRADECIMENTOS À professora Drª. Tânia Maria Fresca, pela atenção, paciência, dedicação e empenho nas orientações deste trabalho. Aos professores Dr. Cláudio Roberto Bragueto e Dr. Fábio César Alves da Cunha, por aceitarem participar da comissão examinadora. Aos demais professores do curso, que muito contribuiram com sua experiência e dedicação. Aos diretores e gerentes das empresas, que forneceram informações imprescindíveis para a conclusão deste trabalho. Aos colegas de classe, companheiros sempre presentes nos momentos de alegria e nas dificuldades encontradas neste caminho. À minha esposa, por ter me incentivado a cursar esta faculdade e a não desistir nos momentos difíceis. Ao meu filho, por compreender a minha ausência durante estes últimos cinco anos. Aos meus pais, que concederam a base da minha formação. VITIELLO, Sergio Ricardo. A indústria eletroeletrônica em Londrina: 1998 a 2008. 2009. 76f. Trabalho de Conclusão de Curso (bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009. RESUMO Este trabalho parte do interesse desenvolvido em mais de vinte anos atuando em indústria eletroeletrônica e tem como objetivos analisar a importância deste tipo de indústria para a cidade de Londrina, através do levantamento e evolução do número de empregos a nível nacional, estadual, regional e local, bem como identificar os fatores de desenvolvimento e estagnação que agem sobre esta. Para atingir estes objetivos recorre a pesquisas quantitativa e qualitativa na qual levanta dados referentes ao setor junto às entidades correlacionadas, além de conversas com empresários e gerentes das empresas em Londrina. Faz também uma revisão bibliográfica em que trata do tema da industrialização brasileira, do norte do estado do Paraná e de Londrina. Palavras-chave: Industrialização. Indústria eletroeletrônica. Londrina. Tecnologia. Política econômica. VITIELLO, Sergio Ricardo. The electric/electronic industry in Londrina: 1998 to 2008. 2009. 76f. Monograph (baccalaureate in Geography) – State University of Londrina, Londrina, 2009. ABSTRACT This work developed from an interest in more than twenty years working in the electronics industry and aims at analyzing the importance of this type of industry to the city of Londrina, through the analysis and trends in the number of jobs at the national, state, regional and local and identify the factors of development and stagnation that act on this. To achieve these objectives relies on quantitative and qualitative research in which data up to the sector with the correlated entities, and conversations with entrepreneurs and management team in Londrina. It also makes a literature review that deals with the issue of industrialization Brazilian, of northern of Parana state and Londrina. Keywords: Industrialization. Electric/electronics industry. Londrina. Technology. Economic politic. LISTA DE FOTOS Foto 1 – Fachada da empresa Hayama....................................................................60 Foto 2 – Fachada da empresa Hayonik.....................................................................60 Foto 3 – Fachada da empresa GNB..........................................................................61 Foto 4 – Linha de produção da empresa Rondopar..................................................62 Foto 5 – Fachada da empresa Identech....................................................................66 Foto 6 – Linha de produção da empresa Electroman................................................66 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Índices Mensais do Pessoal Ocupado na Indústria Brasileira (dez. 2000 / dez. 2007) .................................................................................................................29 Gráfico 2 – Evolução do Faturamento do Setor Eletroeletrônico e do PIB Brasileiro ..................................................................................................................................43 Gráfico 3 – Número de Empregados no Setor Eletroeletrônico do Brasil entre 2001 2008 ..........................................................................................................................46 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Crescimento do Produto e Inflação Durante o Governo de JK .............. 20 Tabela 2 – Importações de Produtos do Setor Eletroeletrônico do Brasil por Áreas: 2007/2008 .................................................................................................................43 Tabela 3 – Principais Indicadores do Setor Eletroeletrônico no Brasil: 2008-2009 ..45 Tabela 4 – Faturamento da Indústria Eletroeletrônica por Estados Brasileiros em 2008 ..........................................................................................................................47 Tabela 5 – Número de Empregados na Indústria Eletroeletrônica por Estados Brasileiros em 2008...................................................................................................50 Tabela 6 – Evolução do Emprego Industrial no Município de Londrina de 1998 a 2008 ..........................................................................................................................54 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABINEE - Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica ACCs - Adiantamentos de Contrato de Crédito AEB - Agência Espacial Brasileira APL - Arranjo Produtivo Local BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CELEPAR - Companhia de Informática do Paraná CODEPAR - Companhia de Desenvolvimento do Paraná COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COHAPAR - Companhia de Habitação do Paraná COMAER - Comando da Aeronáutica COPEL - Companhia Paranaense de Energia CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSN - Companhia Siderúrgica Nacional EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FDE - Fundo do Desenvolvimento Econômico FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos GTD - Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPD Elétron - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Complexo Eletroeletrônico e Tecnologia da Informação IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica ITBI - Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PAEG - Plano de Ação Econômica do Governo PD & I - Pesquisa, Desenvolvimento e Informação PIB - Produto Interno Bruto PIS - Programa de Integração Social SANEPAR - Companhia de Saneamento do Paraná SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SINDIMETAL - Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Paraná SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste SUFRAMA - Superintendência da Zona Franca de Manaus TELEBRAS - Telecomunicações Brasileiras S.A. TELEPAR - Telecomunicações do Paraná S.A. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................13 2. ASPECTOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA .........................................15 3. A INDUSTRIALIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ NO CONTEXTO NACIONAL: ALGUNS APONTAMENTOS....................................................................................34 4. A DINÂMICA DA INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA NO BRASIL E NO PARANÁ ...................................................................................................................42 5. A INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA EM LONDRINA ......................................52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................72 13 1. INTRODUÇÃO Este trabalho foi elaborado a partir do interesse desenvolvido durante a vivência de mais de vinte anos atuando na indústria eletroeletrônica, dos quais a metade ocorreu em empresa de grande porte e de capital local, no interior do estado de São Paulo e a outra em empresa de pequeno porte, também de capital local, em Londrina – PR. Durante todo o período de atuação dentro da indústria eletroeletrônica, pudemos sentir as conseqüências de diferentes ações político-econômicas, tanto a favor do desenvolvimento como da estagnação deste tipo de indústria. Com relação à indústria em Londrina, esta se caracteriza como diversificada, sendo possível encontrar na cidade diversos ramos industriais que não permitem caracterizá-la como especializada em um ou outro ramo, diferentemente do que ocorre com outras cidades do norte do Paraná, como Arapongas, Apucarana, Cianorte, entre outras. Dentro desta diversificação, escolhemos como objeto de análise a indústria eletroeletrônica, a qual consideramos um importante segmento para fomento de tecnologia, uma vez que, atualmente, por conta dos avanços tecnológicos, os circuitos eletrônicos estão presentes em quase todos os produtos que fazem parte do cotidiano. Pode-se afirmar, também, que o setor demanda por trabalhadores qualificados deste o nível da produção até o de engenharia. O período analisado compreende os anos de 1998 a 2008, sendo selecionado, primeiro, porque se trata de um período pós-transferências industriais para a cidade, o que nos permite uma comparação da evolução da indústria local com as transferidas, em segundo lugar, permite comparações na evolução desta indústria com relação à política neoliberal dos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso (FHC) com a política voltada ao social e transferências de renda adotada pelo governo de Luis Inácio Lula da Silva (Lula) e, finalmente, por trata-se de um período recente, o que torna este estudo atualizado em termos de análise. Como objetivo principal deste trabalho, propomos identificar a importância da indústria eletroeletrônica para a cidade de Londrina durante o período de 1998 a 2008. Assim, analisaremos a evolução do emprego deste tipo de 14 indústria no âmbito nacional, estadual, regional e local identificando também os fatores responsáveis pelo desenvolvimento e estagnação deste tipo de indústria. Consideramos que tal estudo apresenta uma importante contribuição para pesquisas futuras, devido à escassez de trabalhos sobre este tipo de indústria presente em Londrina. Para atingirmos o objetivo proposto, contamos com uma revisão bibliográfica sobre o tema, recorrendo também a entidades específicas do setor como a ABINEE, o CREA, o SINDIMETAL, revistas IPESI, além de consultas a instituições governamentais como o Ministério do Trabalho e Emprego, o IPARDES, a Prefeitura Municipal de Londrina, entre outros. Para levantar os dados das empresas locais, optamos por conversas com empresários e gerentes das empresas pesquisadas, consultas aos seus respectivos sites e ao cadastro das indústrias do estado do Paraná elaborado pela FIEP. Para melhor organização do conteúdo, o trabalho será estruturado em quatro capítulos. No primeiro explanaremos sobre o processo de industrialização brasileira. No segundo capítulo abordaremos alguns aspectos da industrialização do norte do Paraná, identificando alguns pólos de produção industrial dentro deste recorte geográfico. No terceiro capítulo daremos ênfase à dinâmica da indústria eletroeletrônica no Brasil e no Paraná, apontando alguns aspectos referentes à evolução e aos entraves no desenvolvimento deste tipo de indústria em escala nacional e estadual. No quarto capítulo abordaremos a indústria eletroeletrônica em Londrina comparando o seu número de empregados ao das demais indústrias presentes na cidade, identificaremos, também, os diferentes tipos de indústrias que compõem este setor e sua localização por bairros, além de discorrermos sobre o processo histórico de consolidação deste segmento industrial em Londrina. Por fim, apresentamos as considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas. 15 2. ASPECTOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA O Brasil configurava-se até o final do século XIX como exportador em larga escala de produtos agrícolas. Porém, a esta época, este modelo econômico mostrava sinais de fraqueza por crises de super produção e desvalorização do café. Prado Jr. (2004, p.288) salienta que várias tentativas foram feitas para reerguer a atividade agrícola, as quais iam desde manobras artificiais de estímulo a esta atividade à substituição de cultura, fatos estes que logo se mostraram insuficientes para atingir o objetivo. A fragilidade deste sistema dependente do mercado externo e a falta de diversificação produtiva obrigariam a uma mudança na política econômica do país. Prado Jr. (2004, p.288) sustenta que o desenvolvimento do fator consumo interno foi fundamental para a manutenção da economia do Brasil nestas circunstâncias, privilegiando agora este fator (consumo) sobre o do sistema anterior (a produção). A demanda de consumo se deu principalmente pelo aumento da população e a elevação de seu padrão de renda, a abolição da escravidão e a imigração (PRADO Jr., 2004, p.289). As atividades produtivas, até então, eram direcionadas quase que exclusivamente para a agricultura de exportação, obrigando que fossem realizadas importações para suprir a demanda interna. Com o aumento do consumo o sistema financeiro tenderia a um desequilíbrio. Essa situação de desequilíbrio agiu na economia do país ocasionando desvalorização cambial e instabilidade financeira, condicionando o aparecimento de medidas que estimularam a produção interna e sua diversificação: tarifas alfandegárias, fomento oficial da produção, além de fortes restrições cambiais após 1930 (PRADO Jr., 2004, p.289). A imigração foi um fator que também motivou a criação de pequenos estabelecimentos industriais, pois, uma vez que não encontravam no mercado nacional alguns produtos específicos que estavam habituados em sua terra natal, os imigrantes começaram a produzi-los, destinando os excedentes à comercialização. Assim, surgem pequenas fábricas de alimentos, bebidas, chocolate, calçados, chapelarias, etc. 16 Com a crise de 1929 houve uma profunda desvalorização do café, reduzindo a receita com as exportações do produto. Além disso, salienta Prado Jr. (2004, p.292) que, o fluxo de capitais estrangeiros, essenciais para a economia do Brasil, sofre uma inversão, ou seja, começam a sair do país para atender aos grandes centros financeiros internacionais em crise. Como conseqüência, ocorre um desequilíbrio das contas externas do país e, mesmo com as restrições cambiais, a moeda brasileira sofre uma rápida desvalorização. Aliado a estes fatores, o café – base exportadora da economia do país e, até então, sempre estimulado por iniciativas governamentais de valorização artificial – passou a ficar estocado em grandes quantidades, pois o consumo ficou menor que a demanda, fato que obrigou o governo a queimar e lançar ao mar enorme quantidade do produto para eliminar o excesso: Depois de 1931 até as vésperas da guerra, incineraram-se 80 milhões de sacas, quatro milhões e oitocentos mil toneladas que serviriam para alimentar o mundo, no nível atual de consumo (1969) durante quase dois anos (PRADO Jr., 2004, p.294). Diante desta conjuntura econômica, os produtos fabricados no país tornaram-se economicamente viáveis para o atendimento da demanda interna, fato que, obviamente, contribuiu para o aumento da produção nacional e o deslocamento gradativo da atividade agrícola para a industrial. Iniciava-se neste momento, o processo conhecido como substituição industrial das importações, o qual se estende até 1960. Segundo Prado Jr. (2004, p.290-291) este processo de substituição industrial de importações vem se desenvolvendo desde o início do século XX, tendo um pico durante a 1ª Guerra Mundial em virtude das perturbações sofridas pelo comércio mundial. Contudo, o autor salienta que após a 1ª Guerra, situações favoráveis estimularam novamente a produção de gêneros para exportação, principalmente o café. A indústria brasileira, antes restrita a pequenos estabelecimentos locais durante a República Velha, começa a ganhar impulso após 1930 com a ascensão de Vargas, estabelecendo-se neste governo um novo pacto de poder, formado por latifundiários e industriais, no qual os primeiros são os “sócios” majoritários. O período da industrialização que vai de 1930 até 1960 teve como característica principal o fato de ser uma industrialização fechada, ou seja, visando somente o 17 mercado interno e dependente de medidas protecionistas (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO Jr., 2009, p.353-354). Salientamos, porém, que esta situação foi fundamental naquele momento, tendo em vista a necessidade de se criar as condições gerais para a expansão da produção industrial nacional. Assim, as indústrias foram sendo implementadas no país seguindo etapas, nas quais em determinada etapa um tipo de indústria é mais atingido que outro (com base na sua importância na pauta de importações). Assim, inicialmente dá-se prioridade para a indústria de consumo não durável (têxteis, calçados, alimentos, bebidas, etc), seguida da de consumo durável (automóveis, eletrodomésticos, etc) e da de intermediários (ferro, aço, cimento, petróleo, químicos, etc) e bens de capital (máquinas e equipamentos), respectivamente (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO Jr., 2009, p.355). Vasconcelos e Billi (2004) salientam que este processo de industrialização nacional deu continuidade à substituição industrial de importações contando com grande apoio estatal. Várias empresas estatais, como a CSN e a Petrobrás, foram implantadas durante a após o término da 2ª Guerra Mundial. Durante o governo de Vargas foi criado também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para financiar o crescimento industrial brasileiro. Ressalta-se, também, o grande avanço na área tecnológica, principalmente com a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em 1950, o qual teve por finalidade: [...] promover, por meio da educação, do ensino, da pesquisa e da extensão, o progresso das ciências e das tecnologias relacionadas com o Campo Aeroespacial e a formação de profissionais de nível superior nas especializações de interesse do COMAER [Comando da Aeronáutica] e do Setor Aeroespacial em geral (ITA, 2009). Botelho (1999) salienta que a pesquisa tecnológica com base científica implementada pelo ITA foi responsável, em grande parte, por alguns dos grandes programas tecnológicos perseguidos ao longo das décadas de 1960 e 1970 nos campos da aeronáutica, informática, microeletrônica e espacial. No governo de Juscelino Kubitschek (JK), de 1956 a 1961, o país foi marcado pela abertura econômica frente aos capitais internacionais sendo este governo responsável pela construção de Brasília, modernização da infra-estrutura de 18 transportes – principalmente o rodoviário – e aumento na geração de energia elétrica. A industrialização do país ganhou novo impulso, principalmente com a instalação das montadoras de automóveis (Volkswagen em 1959 e a segunda fábrica da General Motors em 1958), pois as mesmas demandavam fornecedores de autopeças para abastecer sua produção, estimulando, assim, o surgimento de outras indústrias. JK instituiu o Plano de Metas, que foi um projeto de governo que beneficiou o desenvolvimento da indústria de bens de consumo duráveis, intermediários e de capital, já que o setor de bens de consumo não duráveis já tinha sido implementado e estava, a esta altura, se encolhendo frente ao que Souza (2008, p.37) denomina de setor IIb1 – o qual refere-se aos bens de consumo duráveis – controlado pelo capital externo. Para financiar o Plano de Metas e a construção de Brasília o governo tomou empréstimos internacionais. Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2009, p.365-366) o Plano de Metas pode ser divido em três pontos principais: i. Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os setores de transportes e energia elétrica. No que diz respeito aos transportes, cabe destacar a mudança de prioridades, que, até o governo Vargas, centrava-se no setor ferroviário, e passou para o rodoviário, que estava em consonância com o objetivo de introduzir o setor automobilístico no país; ii. Estímulo ao aumento da produção de bens intermediários, como o aço, o carvão, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos específicos; iii. Incentivos à introdução dos setores de consumo duráveis e de capital. Merecem destaque, neste período, a integração do território nacional mediante construção de estradas de rodagem e um ousado programa de investimento em infra-estrutura e novos sistemas técnicos que viabilizariam a substituição de importações (SANTOS,1993, p.35). Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2009, p.367) demonstram que entre os anos de 1955 a 1962 houve um significativo crescimento da produção em alguns setores específicos, como: materiais de transporte (711%), materiais elétricos e de comunicações (417%), têxtil (34%), alimentos (54%) e bebidas (15%). 1 Souza (2008) classifica os setores industriais como: I – bens de capital e insumos básicos; IIa – bens de consumo não duráveis e IIb – bens de consumo duráveis. 19 Em que pese o crescimento das indústrias de produtos duráveis e alguns segmentos da indústria de produtos não duráveis, a indústria de bens de capital, que é a que produz os meios de produção, ainda permanecia inexpressiva no cenário industrial na década de 1950. Vários eram os fatores para o estancamento deste tipo de indústria, entre os quais, o fato de que, para o desenvolvimento deste setor haveria necessidade de transferência de tecnologia das empresas estrangeiras para as nacionais, o que para as primeiras não seria uma medida lucrativa, já que estas poderiam exportar com maiores lucros os produtos fabricados em suas matrizes (SOUZA, 2008, p.38-39). Mas o fundamental era o fato de que a iniciativa privada controladora do setor industrial ainda não havia alcançado uma condição de acúmulo de capital que permitisse a implantação deste ramo, haja vista o custo a ser pago pela tecnologia nova ou novíssima. Isso, no entanto, não significa que nesta época não houvesse máquinas fabricadas no Brasil, pois as próprias indústrias de bens de consumo não duráveis se encarregavam de criar internamente, através de suas oficinas, máquinas inovadoras que passavam a ser utilizadas para sua produção. Coube ao Estado o papel de desenvolver a indústria de bens de capital no país, pois como salienta Souza (2008, p. 39) é [...] uma condição geral de acumulação capitalista o desenvolvimento do setor I [indústria de base], tanto porque é ele que produz os elementos materiais (meios de produção) para acumulação quanto porque seu subproduto é a base real para dita acumulação: não se pode pensar em investimento em outros setores se o setor I não produzir um excedente em meios de produção, ou seja, se ele consumir todos os bens que produz. O autor afirma que esse desenvolvimento do setor I precedeu os demais setores nos países capitalistas, como nos EUA, Japão e Alemanha. Ele admite exceções, nas quais o setor IIb – bens de consumo duráveis – se desenvolve antes que o setor I, porém admite que estes países ficarão sob dependência de importações para este setor (SOUZA, 2008, p.39-40). Entretanto, não foi o que ocorreu no Brasil, pois mesmo tendo sido implantado antes o setor de bens de consumo duráveis, foi possível a implantação do setor de bens de capital – com o apoio estatal – criando condições para a dinâmica da economia industrial nacional. Souza (2008, p.40-42) chama a atenção também para a centralização do capital na economia brasileira, como nas demais economias capitalistas, o que 20 para ele foi muito mais acelerada que em outros países. Para o autor, há fortes evidências que esta centralização ocorrida nos anos de 1950 se deu, em grande parte, à penetração intensa do capital estrangeiro no período, fundamentando que os ramos onde ocorreu maior penetração estrangeira foram os que apresentaram uma concentração mais intensa. Afirma ainda que, como conseqüência deste processo, houve uma monopolização precoce da economia. Tal fato se mostrou importante como um dos caminhos para fazer frente ao processo de acúmulo de capital, o qual também foi intenso na economia japonesa e alemã (NIVEAU, 1969). É inegável que a economia do país apresentou um crescimento substantivo no governo de JK, porém, as contradições entre o modelo nacionaldesenvolvimentista (governo de Getúlio Vargas) e a abertura ao capital estrangeiro (governo de JK) ocasionaram fortes conflitos sociais e políticos no país, tendo o aumento da inflação contribuído para acirrá-los (SOUZA, 2008, p.43). A tabela 1 mostra o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação no período do governo de JK. Tabela 1 – Crescimento do Produto e Inflação Durante o Governo de JK Ano PIB (%) Indústria (%) Inflação* (%) 1955 8,8 11,1 23 1956 2,9 5,5 21 1957 7,7 5,4 16,1 1958 10,8 16,8 14,8 1959 9,8 12,9 39,2 1960 9,4 10,6 29,5 1961 8,6 11,1 33,2 Fonte: Para produção, IBGE; para inflação, ABREU, M. M. (Org.) apud Souza (2008, p.43) *Inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor do Rio de Janeiro O crescimento econômico brasileiro perdurou até 1963, momento em que o país entra numa crise econômica, no qual há queda nos investimentos e na taxa de crescimento da renda brasileira, além de um aumento significativo da inflação, a qual chegou a 90% ao ano em 1964 (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO Jr., 2009, p.371-372). 21 Com o golpe militar de 1964 ocorrem mudanças no direcionamento econômico no país sendo introduzido pelo governo de Castelo Branco o Paeg (Plano de Ação Econômica do Governo), que pode ser dividido em duas linhas de atuação: [...] políticas conjunturais de combate à inflação, associadas a reformas estruturais que permitiriam o equacionamento dos problemas inflacionários e das dificuldades que se colocavam ao crescimento econômico (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO Jr., 2009, p.376). Com medidas restritivas de salário, de crédito e redução no déficit público (por meio da redução dos gastos do governo e aumento das tarifas públicas), a inflação caiu de aproximadamente 92% em 1964 para 22% em 1968 (ABREU apud SOUZA, 2008, p.67). Todas estas medidas foram alinhadas e tornaram-se condições favoráveis à internacionalização da economia do país, pois atraíram o capital estrangeiro, o qual busca o menor custo de operacionalização com uma conseqüente taxa de lucro maior, assim, O golpe de Estado de 1964 [...] aprece como um marco, pois foi o movimento militar que criou as condições de uma rápida integração do País a um movimento de internacionalização que parecia como irreversível, em escala mundial. A economia se desenvolve, seja para atender a um mercado consumidor em célere expansão, seja para atender a uma demanda exterior. O País se torna grande exportador tanto de produtos agrícolas não tradicionais (soja, cítricos) parcialmente beneficiados, quanto de produtos industrializados (SANTOS, 1993, p.36). No início da década de 1970 a economia brasileira apresentava uma elevada taxa de crescimento do PIB. O período que vai de 1968 a 1973 ficou conhecido como o “milagre brasileiro”. Como características deste período destacam-se a baixa inflação para os padrões brasileiros (VELOSO; VILLELA; GIAMBIAGI, 2008, p.222), além do forte investimento do Estado em infra-estrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, portos, usinas hidrelétricas e usinas nucleares), na indústria de base (mineração e siderurgia), de transformação (papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes, etc), de equipamentos (geradores, sistemas de telefonia, máquinas, motores, turbinas, etc) de bens duráveis (veículos e eletrodomésticos) e na agroindústria (grãos, carnes e laticínios). Neste período foram fundadas a EMBRAER, a TELEBRAS e iniciada a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. 22 Veloso, Villela e Giambiagi (2008, p.225) enfatizam que os fatores determinantes do “milagre brasileiro” podem ser interpretados segundo três vertentes não excludentes entre si: a) a política econômica do período 1968-1973, com destaque para as políticas monetária e creditícia expansionistas e os incentivos às exportações; b) o ambiente externo favorável, devido à grande expansão da economia internacional, à melhoria dos termos de troca e ao crédito externo farto e barato; c) as reformas institucionais do Paeg (1964-1966), em particular as fiscais/tributárias e financeira, que teriam criado as condições para a aceleração subseqüente do crescimento. O Estado agiu neste momento juntamente com a iniciativa privada para implementar o que Santos (1993, p.35-36) denomina de meio técnico-científicoinformacional, o qual [...] é marcado pela presença da ciência e da técnica nos processos de remodelação do território essenciais às produções hegemônicas, que necessitam desse novo meio geográfico para sua realização. A informação, em todas as suas formas, é o motor fundamental do processo social e o território é, também, equipado para facilitar a sua circulação. Santos (1993, p.38-39) afirma que neste período o Brasil já era um exemplo da presença do meio técnico-científico e cujas evidencias foram: o desenvolvimento da biotecnologia, permitindo, por exemplo, que a soja fosse cultivada no cerrado; desenvolvimento dos sistemas de transporte, telecomunicações e energia; mudanças na estrutura de produção agrícola e industrial; desenvolvimento das formas de produção não-material, com destaque para a saúde, educação, lazer, informação e até mesmo das esperanças. Todas estas transformações culminaram em uma maior fluidez do território permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, a informação e o capital passassem a ter grande mobilidade. Diniz e Crocco (1996, p.85) concordam com Santos (1993) quando apontam também neste período o crescimento da produção agrícola e mineral com expansão de suas fronteiras – no caso da produção agrícola os autores apontam um aumento na produção de grãos no Sul do Brasil a partir do final da década de 1960, e posteriormente na região dos cerrados do Centro-Oeste do Brasil; já na produção mineral houve aumento em vários estados do Brasil, com destaque para o Complexo 23 Carajás – o que induziu o estabelecimento de um conjunto de atividades, como suporte urbano e industrial nestas regiões. Santos e Silveira (2008, p.106) afirmam que ocorreu entre as décadas de 1970 e 1980 uma desconcentração industrial, pois [...] a produção torna-se mais complexa estendendo-se sobretudo para novas áreas do Sul e para alguns pontos do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte (Manaus). Paralelamente, as áreas industriais já consolidadas ganham dinamismos diferentes dos que definiram a industrialização em períodos anteriores (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p.106). Os autores mensuram o ganho obtido pela região Sul do país neste processo de desconcentração industrial: [...] pois [esta] aumenta, entre 1970 e 1990, o número de estabelecimentos (de 14.534 para 43.969), o número de pessoal ocupado (de 358.100 para 2.520.493) e o valor da transformação industrial (de 1.343.666.303 dólares para 15.299.863.312 dólares). Em 1970, enquanto essa região acolhia apenas 14,79% do pessoal ocupado do país, São Paulo concentrava 50,97%. Vinte anos depois, São Paulo reunia 35,35% do emprego industrial e a região Sul, que já havia ultrapassado esse umbral, ostentava 36,49% do total nacional (SANTOS; SILVEIRA, 2008, p.107). Diniz e Crocco, (1996, p.85) apontam que neste processo de desconcentração houve também uma forte intencionalidade da política econômica através de incentivos fiscais nas regiões Nordeste e Norte do país, pelos mecanismos relacionados à Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA). O fim do milagre brasileiro foi marcado pela crise do petróleo em 1973, a qual não afetou de imediato o Brasil, pois os investimentos realizados em infraestrutura no período anterior conseguiram manter, de certa forma, o ritmo econômico do país, pois as encomendas destinadas às obras das estatais eram, em grande parte, fornecidas pela indústria nacional. O país começou a sentir de fato os efeitos da crise a partir da década de 1980 com o financiamento externo mais caro, levando ao desequilíbrio do balanço de pagamentos da dívida externa e ao descontrole da inflação. Passos (2007, p.96) destaca que a década de 1980 é marcada pela baixa taxa de crescimento e desenvolvimento econômico do país e também pela alta da inflação e das taxas de juros motivadas pela falta de investimentos produtivos, 24 culminando em um período de profunda recessão – este período ficou conhecido como a “década perdida” devido a tais fatos. Entre 1970 e 1980, o número de indústrias no país aumenta, enquanto que a partir da década de 1980 há uma redução. Entre 1970 e 1980, o numero de estabelecimentos industriais no Brasil cresceu 184,52%, enquanto o valor da transformação industrial aumentou 537,70% e o pessoal ocupado, 98,39%. Todavia, a partir dos anos 80 há um decréscimo do número de estabelecimentos industriais (-11,84% entre 1980 e 1990), graças em boa parte, ao processo de concentração da propriedade industrial (agravado pelos progressos da automação) e uma desaceleração no crescimento do valor da transformação industrial. (...). O planejamento econômico e regional estimulou a instalação de pólos de fabricação mediante fortes incentivos governamentais, como é o caso dos tecnopolos (LIMA, 1994 apud SANTOS; SILVEIRA, 2008, p. 106). Cano (1997) salienta, porém, que a partir de 1985 ocorreu uma diminuição no fenômeno de desconcentração industrial causada pelo período de crise econômica por qual passava o Brasil. Entre 1985 e 1995, quando convivemos, primeiro com a ‘crise da dívida’ e agora também com políticas neoliberais, o crescimento econômico de São Paulo (e do Brasil) tornou-se, na média, medíocre e, com isso, o arrefecimento da dinâmica de acumulação inibiu também o crescimento periférico. Isso causou uma inflexão no processo de desconcentração econômica que, em muitos casos, apresentou resultados mais ‘estatísticos’ do que efetivos (CANO, 1997, p.107). A década de 1990 é marcada pelo neoliberalismo do governo de Fernando Collor de Mello e Itamar Franco seguidos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Neste período ocorrem as privatizações das estatais e a abertura de mercado para os produtos estrangeiros através da redução das alíquotas de importação. Diniz (2000, p.7) enfatiza que a política desestatizante e a proposta de retomada de crescimento do governo Collor alinhada ao ideário neoliberal alteraram profundamente a forma de inserção da economia brasileira na economia internacional e na atuação do Estado na economia. As estatais foram vendidas a preços insignificantes através de uma articulação do governo para “driblar” impeditivos constitucionais e legais, além de satisfazer os anseios dos grupos estrangeiros quanto ao preço baixo a ser pago, pois algumas das privatizações 25 [...] dependiam [...] de mudanças constitucionais ou legais, o que não estava dentro da correlação de forças da época. Para contornar essa situação, o governo decidiu que começaria pelas empresas consideradas livres de impedimentos legais (SOUZA, 2008, p.212). Para solucionar a questão do preço que os grupos estrangeiros estavam dispostos a pagar, o governo lança mão da seguinte medida: [...] as estatais poderiam ser trocadas inteiramente pelo que se 2 convencionou chamar de ‘moedas podres’ . Uma empresa poderia, por exemplo, adquirir no mercado secundário um lote de títulos públicos por 30% de seu valor de face, e depois com ele adquirir uma estatal usando o valor de face (SOUZA, 2008, p.212-213). Souza (2008, p.213) salienta também que nas avaliações das estatais o preço era empurrado para níveis insignificantes pois eram realizadas, na maioria das vezes, por empresas ligadas indiretamente às compradoras. Somado a todos estes fatores em favor das privatizações, o Estado ainda disponibilizava aos adquirentes, financiamento público com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (SOUZA, 2008, p.213). A valorização do Real e a redução das alíquotas de importação foram fundamentais para que houvesse uma substituição dos produtos nacionais pelos importados. Muitas empresas nacionais encerraram suas atividades neste período ou recorreram às fusões com empresas estrangeiras devido à concorrência desigual com os produtos importados (principalmente os asiáticos), a qual se intensificou ainda mais ao se deparar com um parque industrial defasado tecnologicamente que não fazia frente a estes produtos, principalmente no que tange à capacidade de produção. Desde a abertura comercial iniciada nos anos 90, os produtos estrangeiros conseguiram aumentar sua inserção na economia nacional com preços mais competitivos e linhas de financiamento mais ágeis e juros mais baixos, o que deixou o produtor interno em franca desvantagem (ARAÚJO JR, 2003, p.60). Souza (2008, p.260) salienta também que em razão desta sobrevalorização do Real houve um aumento expressivo nas importações de máquinas e equipamentos, de 11,09% em 1990 para 42,09% em 1996; o consumo 2 “Títulos públicos em mãos do público, que atravessavam então profundo processo de desvalorização (‘deságio’), superando, em muitos casos, os 70%” (SOUZA, 2008, p.212). 26 aumentou de 12,6% para 33,3%, tendo a produção interna caído 26% no período. Em razão disso a indústria nacional operava com capacidade ociosa de 35% no ano de 1996. A estagnação da economia brasileira ficou ainda mais acentuada com a diminuição de investimentos em infra-estrutura necessária à produção industrial no país. Rangel (1986, p.38) aponta que o governo federal abandonou o modelo nacional desenvolvimentista deixando de atacar os nós de estrangulamento da economia, os quais traduzem-se em infra-estrutura que precisava de modernização, englobando os transportes, infra-estrutura urbana, energia e saneamento básico. Rangel propôs como forma de desenvolvimento econômico do país a transferência da capacidade ociosa dos setores beneficiados pelo Estado nos períodos anteriores – indústria de bens de capital, por exemplo – para os serviços públicos com nós de estrangulamento presentes nos [...] serviços de utilidade pública representado pela imensa infra-estrutura urbana, o setor de transporte e comunicação, a questão energética, dentre outros. Em outras palavras, esta infra-esturuta deve ser entendida de modo amplo, envolvendo o transporte urbano, como o metrô, saneamento básico, portos, ferrovias, geração de energia, entre outros (FRESCA, 2003, p.4). Esta estratégia de desenvolvimento, no mínimo, provocaria de imediato a geração de empregos em larga escala, desde os mais baixos aos mais qualificados postos de trabalho, principalmente no setor da construção civil. Observou-se que, na verdade, a transferência da capacidade ociosa não ocorreu e o cenário industrial brasileiro no início da década de 1990 obrigou as empresas a buscarem novas estratégias para se manterem no mercado. Programas e ferramentas da qualidade, de reengenharia e de redução de custos foram amplamente difundidos como formas de otimizar a produção reduzindo os custos de processo e de projetos. Entre eles destacam-se: a certificação ISO 9000 (normas para gestão da qualidade), o FMEA3, 5S4 e o controle estatístico do processo. 3 “A metodologia de Análise do Tipo e Efeito de Falha, conhecida como FMEA (do inglês Failure Mode and Effect Analysis), é uma ferramenta que busca, em princípio, evitar, por meio da análise das falhas potenciais e propostas de ações de melhoria, que ocorram falhas no projeto do produto ou do 27 Em consonância com estes programas, a desconcentração industrial, iniciada na década de 1970, arrefecida na década de 1980 se intensificou novamente após 1990, com as empresas buscando novas áreas para a instalação de suas fábricas, principalmente no interior dos estados do Sudeste e do Sul do Brasil (Londrina, particularmente, figura como uma receptora de indústrias vindas principalmente da região Metropolitana de São Paulo após meados de 1970). Esta fuga das regiões metropolitanas, principalmente de São Paulo, se deu por vários fatores, tais como: o encarecimento imobiliário, os entraves de transporte de cargas e de pessoas relacionados ao trânsito, a maior organização dos sindicatos na região metropolitana, como também aos incentivos concedidos pelas cidades do interior à instalação das unidades fabris e as condições favoráveis de vida que proporcionavam estas cidades em relação, principalmente, à metrópole paulistana. Estes fatores culminaram diretamente na formação do custo de fabricação do produto, assim, as empresas para baratearem sua produção – visando estabelecer a competitividade para concorrerem no mercado global – adotaram como uma das alternativas, a transferência de suas plantas fabris. O avanço da informática e das telecomunicações contribuiu decisivamente neste processo, pois ligam diversos pontos do território em tempo real, possibilitando que as decisões fossem tomadas em pontos geograficamente distantes, contribuindo para que a região Metropolitana de São Paulo, ainda concentre seu poder de decisão sobre o território nacional, independentemente das transferências das unidades fabris para o interior do país. Santos (1993, p.54) afirma que São Paulo ultrapassou a cidade do Rio de Janeiro, quanto ao poder de comando sobre o território brasileiro, já na década de 1930. A metrópole paulistana passava, então, a ser a área polar do Brasil, não só pela importância de sua indústria, mas sobretudo pela capacidade de produzir, classificar, coletar e distribuir as informações suas ou de outros as administrando segundo seus próprios interesses. O autor caracteriza São Paulo com a metrópole onipresente no território brasileiro. processo. Este é o objetivo básico desta técnica, ou seja, detectar falhas antes que se produza uma peça e/ou produto” (CAPALDO; GUERRERO; ROZENFELD, 2009). 4 “Ferramenta da qualidade utilizada com o intuito de organizar o ambiente de trabalho, na qual os ‘S’ são iniciais de palavras japonesas que traduzem tal objetivo: Seiri - senso de utilização; Seiton – senso de arrumação; Seiso – senso de limpeza; Seiketsu – senso de saúde e higiene e Shitsuke – senso de autodisciplina” (SILVA, 2005). 28 Corrêa, em concordância com Santos afirma que as metrópoles são o centro do poder, de onde emanam as ordens aos demais pontos do território nacional. [...] por concentrar a maior parte das sedes sociais das maiores corporações, a metrópole transforma-se, por excelência, em centro de gestão do território, ou seja, em centro de investimento e acumulação do capital, centro privilegiado do ciclo de reprodução do capital, onde se dá a gestão do processo de criação do valor e criação, circulação e apropriação da mais valia em amplo espaço geográfico (CORREA, 1996, p.68-69). Esse comando de São Paulo resultou numa maior divisão territorial do trabalho em todo o país, sendo ele dividido de acordo com as potencialidades de cada região, tendo sua integração facilitada graças aos avanços nos transportes e nas telecomunicações. Neste sentido, a criação de tecnopólos, a partir da segunda metade da década de 1980, espalhados em sua maioria pelo interior do país, exemplifica esta divisão territorial do trabalho, entre eles destacamos: as cidades de São Carlos, Campinas e São José dos Campos no estado de São Paulo, as quais detêm potencial considerável na área de ciência e tecnologia e a cidade de Santa Rita do Sapucaí em Minas Gerais que concentra 120 empresas do ramo de eletrônicos, denominando-se o “Vale da Eletrônica Brasileiro” (IPESI, 2009c, p.41). Os governos neoliberais de Collor e FHC deixaram marcas profundas na economia brasileira, entre as quais destacam-se a abertura do mercado a produtos estrangeiros, privatização em massa ocasionando perda no controle de setores estratégicos pelo governo, aumento dos juros como forma de atrair o capital estrangeiro (Plano Real), restrições aos direitos previdenciários, aumento de impostos e corte nos investimentos públicos e gastos sociais. Todos estes fatores resultaram, ao final do governo de FHC, na estagnação da economia e no aumento da inflação. No final do mandato de FHC havia uma desconfiança, principalmente da elite brasileira e dos investidores externos, com relação ao futuro político e econômico do país, pois o candidato da esquerda, Luis Inácio Lula da Silva (Lula), dava sinais de que iria ser o vencedor da disputa eleitoral de 2002. Assim, houve neste período uma diminuição dos investimentos no país e uma elevação do índice “risco país5”, alcançando, este, valores altíssimos. 5 “O termo risco-país foi criado em 1992 pelo banco americano JP Morgan Chase para permitir, a seus clientes (investidores), tomar a decisão de investir ou não em determinado país. É um número 29 Porém, as previsões pessimistas não se concretizaram, e Lula deu continuidade à política financeira do governo anterior durante seu primeiro mandato. Nas áreas econômica e social, o governo promoveu, de início, significativas mudanças, como: suspensão do processo de privatização que vigorava desde 1990; o BNDES deixou de financiar a aquisição de empresas estatais pelo capital estrangeiro para financiar o investimento das empresas nacionais; o Ministério das Minas e Energia recuperou parte do seu poder de comando no setor energético e a Petrobras estabeleceu um programa de compra de plataformas e navios brasileiros com o objetivo de estimular a produção nacional (SOUZA, 2008, p.292). Neste cenário de certa estabilidade financeira e com a moeda nacional desvalorizada, a situação da indústria se alterou, ocorrendo uma gradativa retomada do crescimento da produção nacional e da geração de empregos (gráfico 1). 20 00 /d 20 ez 01 / 20 abr 01 / 20 ago 01 /d 20 ez 02 / 20 abr 02 / 20 ago 02 /d 20 ez 03 / 20 abr 03 / 20 ago 03 /d 20 ez 04 / 20 abr 04 / 20 ago 04 /d 20 ez 05 / 20 abr 05 / 20 ago 05 /d 20 ez 06 / 20 abr 06 / 20 ago 06 /d 20 ez 07 / 20 abr 07 / 20 ago 07 /d ez 108 106 104 102 100 98 96 94 92 90 Índices mensais do pessoal ocupado na indústria - Indústria Geral (Base: janeiro de 2001=100) Gráfico 1 – Índices Mensais do Pessoal Ocupado na Indústria Brasileira (dez. 2000 / dez. 2007) Fonte: IBGE, 2009 Org.: Sergio Ricardo Vitiello O gráfico 1 faz uma comparação do nível de emprego do país de dezembro de 2000 a dezembro de 2007 com o mês de janeiro de 2001, atribuindo, para efeito de comparação, a este mês o valor igual a 100. que mede o nível de desconfiança ou risco dos mercados financeiros em relação aos países emergentes , o Brasil é um país emergente. O risco-país sinaliza para o investidor a capacidade do país honrar ou não seus compromissos [isto é, pagar ou não suas dívidas]” (SOUZA, 2009). 30 Observa-se que não há oscilações significativas no nível de emprego do período que vai de dezembro de 2000 a outubro de 2001; a partir deste período (com exceção de outubro de 2002) há queda até abril de 2004; o período que vai de maio de 2004 até abril de 2007 é marcado por ascensão com alguns picos positivos; já no período final, que vai de maio de 2007 até dezembro de 2007 ocorre um aumento significativo no nível de emprego, com os maiores níveis em outubro e novembro de 2007. Isto significa que entre o final do mandato do governo FHC e início do governo Lula, não ocorreram alterações significativas do ponto de vista de medidas e políticas para ampliação no número de empregos. Somente após 2004, é que várias medidas permitiram a expansão da oferta de empregos mediante retomada do crescimento, início da redução da taxa de juros, aumento das exportações, dentre outras. Souza (2008, p.308-309) justifica que o período de estagnação e queda do nível de emprego que vai de dezembro de 2000 a abril de 2004 foi decorrente da estratégia adotada por FHC e Lula para derrubar a inflação a partir da contenção dos investimentos e da demanda, além da pressão sobre a produção interna ao substitui-la por produtos importados. Para o autor, esta situação “impõe pesados sacrifícios à atividade econômica e ao emprego”. Em 2004 a produção industrial, alavancada pelas exportações (que avançaram 32% neste ano), volta a crescer no país, contribuindo decisivamente para a diminuição do desemprego. Tal situação foi favorecida pela redução do custo salarial6, pelo uso da capacidade ociosa de três anos de estagnação (2001 a 2003) e pelos ganhos obtidos com a diferença de juros entre o país e o resto do mundo através dos Adiantamentos de Contrato de Crédito (ACCs). Além disso, a economia mundial teve um crescimento neste período (2,5% em 2003 e 3,8% em 2004), estimulando o comércio internacional, o que contribuiu para o aumento das exportações brasileiras (SOUZA, 2008, p.311-312). Medidas de aumento do crédito financeiro ao consumidor serviram para ampliar a oferta de empregos no país em 2004. Contudo, a economia volta a desacelerar a partir de setembro daquele ano com a elevação dos juros, da carga tributária e do valor externo da moeda (SOUZA, 2008, p.314). 6 “A queda do salário real entre 1998 e 2004, a nível nacional, foi de 30,87% e, na região metropolitana de São Paulo, de 31,88%” (SOUZA, 2008, p.312). 31 Visando o crescimento econômico do país, o governo adota medidas para uma distribuição de renda mais justa, tendo como conseqüência o aumento do consumo interno. Souza (2008, p.321-324) aponta as medidas que serviram para este propósito: aumento do salário a partir de 2004, o programa Fome Zero, barateamento do crédito para trabalhadores e aposentados, fim da cumulatividade do PIS/Cofins e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), extinção da alíquota do PIS/Cofins sobre os produtos da cesta básica e sobre vários insumos para produção de alimentos, aumento do microcrédito produtivo, ampliação de recursos para o financiamento imobiliário e estabelecimento de instrumentos de financiamento específicos para a construção civil. A promulgação da lei 11.196 de 2005 (Lei do Bem) foi também um importante instrumento para dinamizar a economia e promover a “inclusão digital”, na medida em que conferiu importantes isenções tributárias sobre os computadores pessoais. Estimativas da ABINEE são de que os preços dos computadores baixaram pelo menos 9,25% com a instituição desta lei, contribuindo para que o número de computadores vendidos aumentasse de 4 milhões de unidades em 2004 (das quais apenas 25% eram legalizadas) para 12 milhões em 2008 (sendo 65% legalizadas) (IPESI, 2009b, p.32). Em que pese o aumento positivo do emprego entre 2004 e 2005, estas medidas, entretanto, não foram suficientes para garantir maior crescimento econômico nem a redução do nível de desemprego que na verdade: [...] aumentou de 7,958 milhões em 2002 para 8,942 [milhões] em 2005. Essa aparente contradição se explica pelo fato de que, no período, em face do crescimento da população economicamente ativa, 9,114 milhões de pessoas ingressaram no mercado de trabalho (SOUZA, 2008, p.324). No segundo mandato de Lula destaca-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) implementado em janeiro de 2007, o qual teve como objetivo atacar os entraves ao crescimento econômico do país, que estão em sua maioria na infra-estrutura física. Segundo Souza (2008, p.327-328) foram estabelecidos três objetivos para o programa: aceleração do crescimento econômico, aumento do emprego e melhoria das condições de vida da população brasileira. O autor enfatiza também que o PAC fixou meta de crescimento do PIB a uma taxa mínima de 4,5% em 2007 e 32 de 5% ao ano entre 2008-2010. Suas medidas foram organizadas em cinco blocos: investimento em infra-estrutura; estímulo ao crédito e ao financiamento; melhora do ambiente para investimento; desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário e medidas fiscais de longo prazo. Para manter o consumo durante a crise mundial de 2008 e evitar que setores de grande importância para a composição do PIB brasileiro entrassem em declínio econômico, o governo reduziu a alíquota de IPI, a partir de dezembro de 2008, para os automóveis e, a partir de abril de 2009, para os eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e materiais usados na construção civil. Em março de 2009, o governo federal anunciou o programa “Minha Casa, Minha Vida” com a previsão de construir um milhão de casas nos próximos anos com investimento previsto de R$34 bilhões (BRASIL, 2009). Em junho de 2009, o governo isentou mais 70 produtos do setor de bens de capital, o que representará, ao todo, uma renúncia fiscal da ordem de R$3,3 bilhões em 2009 (SECOVI – PR, 2009). As medidas adotadas, apesar de não evitarem por completo, serviram para amenizar o número de demissões na indústria e na construção civil, que certamente seria muito maior se estas não fossem implementadas, além de manter o ritmo econômico do país frente a uma relevante crise mundial. Em relatório divulgado em 08 de setembro de 2009, do Fórum Econômico Mundial – que mede a competitividade global e faz uma análise das condições que os países oferecem para que empresas neles instaladas consigam competir internacionalmente – o Brasil conseguiu avançar oito posições no ranking. Tal relatório apontou os pontos que ajudaram o país a galgar estas posições, os quais são: estabilidade macroeconômica, sofisticação do mercado financeiro e a eficiência do mercado de trabalho. Por outro lado indicou também os pontos fracos pertinentes ao país, os quais são: a confiança na classe política, a dificuldade em avançar em reformas estruturais e a má qualidade da educação (SALLES, 2009, p.3). Em que pese a melhora das condições socioeconômicas, vários setores ainda necessitam de aperfeiçoamentos para se atingir a condição de maior desenvolvimento econômico, tal como propõe Rangel na questão da ocupação da capacidade ociosa da indústria para a construção e a recuperação da infra-estrutura, 33 ou ainda em questões ligadas à abertura de mercado proporcionada no governo neoliberal pós 1990 e que ainda interferem negativamente em alguns segmentos, como é o caso do setor de eletroeletrônicos, no qual a maior parte de suas matérias primas são importadas ou, até mesmo, concorrem com os produtos acabados importados em desigualdade de preço. O capítulo seguinte abordará o processo de industrialização do norte paranaense, apontando também algumas indústrias presentes, bem como identificando os arranjos produtivos locais dentro desta região. 34 3. A INDUSTRIALIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ NO CONTEXTO NACIONAL: ALGUNS APONTAMENTOS Neste trabalho consideraremos como norte do estado do Paraná as mesorregiões noroeste, norte central e norte pioneiro, conforme estabelecidas pelo IBGE, já que as mesmas mantêm uma relativa proximidade geográfica entre si, processos históricos similares em termos de ocupação, de evolução das atividades produtivas agropecuárias e industriais, dentre outros. Como o presente trabalho não tem em seu enfoque uma abordagem teórica ligada à questão regional, considerar as mesorregiões já citadas como compondo o norte do Paraná, torna-se apenas uma referência em termos de localização. A figura a seguir identifica as mesorregiões do estado do Paraná. Figura 1 – Mesorregiões geográficas do Paraná Fonte: IPARDES, 2009b 35 O norte do estado do Paraná não tinha até a década de 1960 uma industrialização significativa. Apenas algumas empresas ligadas à agroindústria e outras de iniciativa local foram criadas na região até este momento. A partir dos anos de 1960 começa a ser fomentado a nível estatal um desenvolvimento econômico com base na substituição das importações, posto que o Paraná obtinha o segundo lugar entre os estados brasileiros que mais importavam produtos de São Paulo. [...] a partir dos anos de 1960, que emergiu com mais vigor a consciência política de eminentes crises locais face as sucessivas alterações na cafeicultura, tanto pelo esgotamento das frentes pioneiras, como pela perda dentre outros, de obtenção de impostos. Evidenciava-se com mais clareza o papel de segundo lugar entre os Estados brasileiros como maior importador de produtos industrializados de São Paulo (FRESCA, 2004, p.196). Contribuía, ainda, para esta empreitada em busca do desenvolvimento, o fato de que o estado do Paraná ainda não estava totalmente integrado por ferrovias e rodovias, fazendo com que a articulação do norte paranaense fosse mais forte com São Paulo do que com Curitiba. [...] ao poder estatal estava acrescido ainda o fato de o estado estar territorialmente não integrado, sendo muito mais rápida e fácil a articulação econômica-social e populacional do norte paranaense com São Paulo do que com Curitiba (FRESCA, 2004, p.196). Para superar os problemas de infra-estrutura do estado foi criada no final da década de 1960 a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR) que funcionaria e agiria com recursos do Fundo do Desenvolvimento Econômico (FDE) – um empréstimo compulsório em forma de alíquota adicional do Imposto sobre Vendas e Consignações (IVC) (FRESCA, 2004, p.197). A Codepar deveria cumprir três papéis: dotar o estado de infra-estrutura, viabilizar a implantação de indústrias e gerar projetos de desenvolvimento específico a partir do conhecimento da realidade local (AUGUSTO apud FRESCA, 2004, p.197). Foram criadas, então, em 1963, a SANEPAR, a TELEPAR, a CELEPAR, a COPEL, a COHAPAR, entre outras, com o objetivo de estabelecer esta infra-estrutura em termos de rodovias pavimentadas, energia elétrica, telefonia, etc (FRESCA, 2004, p.197). 36 Ainda, segundo Fresca (2004, p.197), os esforços para industrialização do estado resultaram, no norte, numa agroindustrialização, cujo objetivo era o de atender as demandas internas do país, assim como o mercado internacional. A autora elenca algumas unidades produtivas ligadas ao processamento da soja, trigo, café solúvel, sucroalcooleiro e pecuária, entre as quais, a Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (COCAMAR) e Cooperativa Agropecuária de Campo Mourão (COAMO); a Cia. Cacique de Café Solúvel, fundada em 1959 em Londrina, e a Cia. Iguaçu de Café Solúvel, fundada em 1967 em Cornélio Procópio, estas últimas, sob o controle do capital privado local/regional. A partir dos anos 1970, começa a se modificar perfil produtivo do norte do estado com o surgimento de outros setores de produção na região, os quais são descritos por Fresca (2004, p.197): “[...] Cianorte com confecções; em Arapongas com móveis; em Cornélio Procópio com fiação de seda [...]; em Londrina com fiação de rami [...] [e] com produtos químicos para agricultura [...]”. Contudo, apesar desta nova configuração produtiva, a esta época, as indústrias ainda não eram tão expressivas como viriam a ser nas décadas seguintes nesta região. Assim, afirma Fresca (2004, p.197) que: Chama-se a atenção para o fato da existência de inúmeras unidades produtivas dispersas por diversas cidades norte-paranaense, especialmente as maiores, mas que não permitiam em razão de seu volume produtivo, do número total de empregos gerados, da participação nas rendas municipais ou estaduais, caracterizá-las como cidades industriais ou como a existência de setores industriais significativos. Exceção eram as agroindústrias alimentícias, setor mais expressivo da produção industrial paranaense (grifo nosso). A situação se altera com o findar da década de 1980, com Arapongas se destacando na produção de móveis de linha reta – fabricados com painéis do tipo compensados e aglomerados, além de estofados, todos destinados ao mercado consumidor de menor poder aquisitivo – estabelecendo-se, assim, como o quarto pólo moveleiro do país (FRESCA, 2006, p.132). Apucarana e Cianorte também, neste período, afirmavam sua especialização industrial, sendo a primeira a partir de então denominada “capital nacional do boné”, enquanto que a segunda, tinha a maior parte de suas indústrias ocupadas no ramo de confecções, mais especificamente o jeans (FRESCA, 2006, p.132). 37 Merecem destaque também no cenário industrial do norte do Paraná, as cidades de Loanda como produtora de metais sanitários; Jaguapitã com mesas de bilhar; Terra Roxa com moda bebê e Campo Mourão, onde além da agroindústria representada pela COAMO, se ampliou também a produção de equipamentos médicos e odontológicos (FRESCA, 2008, p.235-236). Assim, ao findar a década de 1980 a indústria norte paranaense era muito mais expressiva e ligada principalmente a investimentos locais e regionais, estes ocorrendo via transferências de capital de outras atividades urbanas e rurais em direção a implantação de indústrias. A essa época havia três grandes setores industriais consolidados no norte do estado: setor agroindustrial alimentício e sucro alcooleiro, setor moveleiro e setor confeccionista (FRESCA, 2004, p.197). O período de 1970 a 1985 é considerado por muitos autores como o auge da desconcentração industrial no país, afirmando Bragueto (2007, p.103) que o Paraná, neste período, foi um dos estados brasileiros que mais apresentou crescimento industrial. Para o autor, nos anos seguintes (1985 a 2004), o desenvolvimento regional da indústria no estado foi bastante polarizado, havendo regiões que apresentaram ganhos em termos de valor adicionado, mas perderam participação quanto ao pessoal ocupado e vice-versa. A partir da década de 1990, afetadas pela situação econômica imposta pelo governo neoliberal de Collor, as indústrias nacionais começaram a intensificar novamente as transferências das unidades fabris das regiões metropolitanas – principalmente de São Paulo – para o interior do país. Fresca (2006, p.146) elenca as indústrias que transferiram suas plantas para o norte do Paraná no final da década de 1980 em diante: Milênia Agrociências em 1998; Cimplast Embalagens Imp. e Exp. Ltda. em 1999; Dixie Toga em 1998; Itap Bemis em 1998; Elevadores Atlas Schindler em 1998; Electroman Ind. e Com. Ltda. em 1998; JK Ind. Metalúrgica Ltda. em 1998; Prolind Componentes Ltda. em 1998; Wittur Ltda. em 2000; FIEL em 1998; Tornotécnica Jumbo em 1998; Hussmann do Brasil / Thermo King do Brasil 1996/2000; Base Metal Com. Ind. e Exp. em 1999; Pado Ind. e Com. e Imp. S.A. em 1997; Inquima Ltda. em 1999; Hexal do Brasil em 2002; Bunge Fertilizantes em 2000; Seara Alimentos em 1997; Macsol S.A. Manuf. de Café Solúvel em 1997; Tormec Fábrica de Parafusos e Peças Torneadas em 1993; Palumar Ind. e Com. de Peças Automotivas em 1994; FF Ind. e Com. de Polímeros em 1998; Trialtec Paraná Peças Técnicas Ltda. em 2002; Yoki 38 Alimentos (Indemil) em 1995; Ancor Flexible Brasil em 2003; Panco em 2000; Sonoco em 1995; Eliane Revestimentos em 1989; Yoki Alimentos em 1995; International Seals em 2004 e Kanon Espelhos e Vidros em 2000. Como fatores que motivaram essas empresas a escolherem o norte do Paraná, destacam-se: proximidade com São Paulo; região dotada de boas condições de infra-estrutura; mercado consumidor; fácil acesso para exportação para países da América do Sul; menor custo de mão de obra; incentivos recebidos dos municípios; boa logística de transporte; fácil acesso ao Porto de Paranaguá e transferências de clientes potenciais para a região, como é o caso da Atlas Schindler e Dixie Toga que motivaram a vinda de fornecedores para atendê-las (FRESCA, 2004, p.199-201). A divisão territorial do trabalho pode ser observada também pelos diversos Arranjos Produtivos Locais (APLs)7 presentes no estado. A figura 2 demonstra esta especialização territorial. De um modo geral, os APLs identificados no estado formaram-se a partir de dois processos: “[...] reinvestimentos de capitais locais/regionais e [...] fatores locacionais para transferências e implantação de novas unidades produtivas de capital nacional ou internacional” (FRESCA, 2008, p.235). 7 “Arranjos produtivos locais (APLs), caracterizados como aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, que têm foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos entre si, vem ganhando importância crescente como objeto de estudo acadêmico e de políticas públicas. Parte dessa atenção deriva da hipótese que essas aglomerações possibilitam ganhos de eficiência que os agentes que as compõem não podem atingir individualmente – ou seja, que nelas está presente uma 'eficiência coletiva' que confere às aglomerações uma vantagem competitiva específica” (ERBER, 2008). 39 Figura 2 – Localização dos APLs no Estado do Paraná Fonte: FIEP, 2009 No caso do Paraná, há uma predominância na formação de APLs pela iniciativa dos capitais locais/regionais. Fresca (2008, p.235-236) faz considerações sobre algumas destas APLs: Loanda, [...], é conhecida como cidade dos metais sanitários, colocando-se como a produtora de cerca de 700 mil peças/mês, o que significa cerca de 40% da produção nacional, [...]; gera cerca de 1500 empregos diretos na cidade que tinha uma população urbana de cerca de 19 mil habitantes. Jaguapitã, [...], é a cidade das mesas para bilhar, colocando-a como núcleo urbano nacional com maior número de estabelecimentos (46), controlando cerca de 30% da produção nacional, ofertando 510 empregos formais diretos para uma população de 8.707 habitantes urbanos. Apucarana, como a capital nacional do boné, produzindo cerca de 70% da produção nacional por intermédio de cerca de 320 estabelecimentos e aproximadamente 5 mil trabalhadores. Arapongas, como a capital moveleira do Sul do país, ou o quarto pólo moveleiro nacional, gerando cerca de 7 mil empregos em 150 estabelecimentos, cuja produção destina-se prioritariamente ao mercado interno, voltados para uma população com baixo poder aquisitivo. Cianorte, por sua vez, tornou-se a capital do vestuário, concentrando cerca de 380 estabelecimentos e gerando 3.200 empregos no setor. Uma produção diversificada que inclui além das grifes próprias criadas pelos empresários para distintos segmentos – moda praia, modinha, jeans, etc – 40 que por vezes alcançam mercado expressivo com o é o caso da Pura Mania, tem-se ainda as facções ou terceirização de mão-de-obra para grifes como Pierre Cardin, Zoomp, Fórum, Ellus, etc. Terra Roxa tornou-se a referência da moda bebê; Paranavaí e Cianorte também são os locais de agroindústrias da mandioca; Campo Mourão reconhecidamente uma cidade de forte produção agroindustrial gerando cerca de 4 mil empregos via Coamo e suas coligadas, mas é o lugar onde amplia-se a produção de equipamentos odontológicos e hospitalares. A autora também enfatiza a participação industrial ligada à agroindústria no norte do Paraná, relacionando sua participação na composição de renda e emprego para a região. Não se deve esquecer, entretanto, a forte produção industrial dispersa por todo o norte do Estado vinculado aos complexos agroindustriais, sejam eles de sistemas cooperativos ou da iniciativa privada de capital nacional ou internacional que responde por significativa participação na geração de renda, empregos, no PIB estadual, nas exportações do estado, dentre outras. Caso contrário não poder-se-ia entender o Paraná – e o norte do estado com importante presença de abatedouros avícolas como Comaves, Big Frango, Seara, Jaguafrango, Avebom, etc – como primeiro produtor nacional de frangos de corte; da produção sucroalcooleira no norte do estado como segunda colocada no ranking nacional de produção de açúcar e álcool; da participação na produção e transformação da soja; dentre outras tantas (FRESCA, 2008, p.236). Pelos dados citados, referentes aos APLs do estado do Paraná, observa-se que estes têm papel fundamental para o desenvolvimento local e regional, gerando empregos e renda para a população e dividendos para o município. Os APLs tem papel fundamental no desenvolvimento econômico, tecnológico e social de uma região, beneficiando todas a empresas e engajando comunidades locais, centros de tecnologia e pesquisa, instituições de ensino públicas ou privadas (LONDRINA, 2007, p.6). Os APLs constituem também um importante eixo de integração das empresas com instituições de pesquisa, permitindo que haja um desenvolvimento da ciência para que esta seja aplicada na atividade empresarial. Com relação ao desenvolvimento da indústria no norte do Paraná, Bragueto (2007, p.103) aponta que particularmente o aglomerado urbano-industrial de Londrina (Londrina, Ibiporã, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana) apresenta situações extremas, pois “por um lado teve os maiores índices de crescimento do pessoal ocupado no setor industrial, mas por outro lado teve perdas 41 significativas do valor adicionado, em termos relativos, em relação ao total do estado”. O autor atribui tal fato ao nível tecnológico verificado na indústria do norte do estado, a qual se iniciou a partir de indústrias de menor intensidade tecnológica – intensivas em mão-de-obra e com menor participação no valor adicionado – e que mesmo as transferências industriais ocorridas a partir da década de 1990 não foram suficientes para alterar profundamente a estrutura regional. A política governamental adotada pelo estado do Paraná foi fundamental para que esta característica se consolidasse no norte do estado, pois [...] no final dos anos de 1980 e nos anos de 1990, a abertura econômica, a desregulamentação e privatizações foram anunciadas pelo governo federal como uma nova política para alavancar a competitividade, fazendo com que ganhassem destaque as políticas de investimentos dos governos estaduais. O estado do Paraná colocou em prática uma política agressiva neste aspecto, a qual teve papel decisivo para o desenvolvimento regional polarizado do setor industrial paranaense, com concentração da indústria de maior conteúdo tecnológico na Região Metropolitana de Curitiba, modificando substancialmente a participação regional no valor adicionado pelo setor industrial (BRAGUETO, 2007, p.12). Bragueto (2007) aponta ainda que este processo se repetiu em outras regiões do estado, entretanto algumas tiveram tanto perdas em valor adicionado como em número de pessoal ocupado e de estabelecimentos. O capítulo seguinte abordará especificamente a indústria eletroeletrônica no âmbito nacional e estadual, analisando a dinâmica de seu desenvolvimento dentro destes dois recortes geográficos. 42 4. A DINÂMICA DA INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA NO BRASIL E NO PARANÁ Inicialmente cabe esclarecer que o termo eletroeletrônico empregado neste trabalho refere-se tanto a equipamentos elétricos como a equipamentos eletrônicos. Tal delimitação segue entendimento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), segundo definição de engenheiro desta organização, expressa em parecer da Gerência de Tributação da Coordenadoria da Receita Estadual do Estado de Rondônia: Produto elétrico: todo equipamento que para seu funcionamento necessita de energia elétrica. Produto eletrônico: todo equipamento elétrico que emprega componentes semicondutores. Produto eletroeletrônico: denominação genérica abreviada para designar produto elétrico e produto eletrônico nos termos definidos acima (YAKSIC apud COSTA; SILVA, 2009). Assim, concluem Costa e Silva que: [...] a definição emanada da área técnica (diga-se de passagem, criadora e usuária do jargão) [...] de que o termo eletroeletrônico tem significação genérica que designa tanto os produtos elétricos como também os produtos eletrônicos, isto é, eletroeletrônico é o gênero do qual produto elétrico e produto eletrônico são espécies (COSTA; SILVA, 2009). Desta forma, este trabalho abrangerá tantos as empresas que fabricam produtos elétricos como as que fabricam os eletrônicos. A indústria eletroeletrônica no Brasil, a exemplo de vários ramos industriais, enfrenta dura concorrência com os produtos importados desde o início da década de 1990, com a abertura de mercado pelo governo Collor. Segundo o presidente da ABINEE, Humberto Barbato (ABINEE, 2009c, p.8), a indústria eletroeletrônica nacional é prejudicada pelas importações. O ano de 2008, por exemplo, fechou com um déficit comercial de US$22 bilhões, muito maior do que os registrados em 2001 (US$ 9 bilhões) e 1996 (US$ 7 bilhões). A tabela 2 faz um demonstrativo das importações ocorridas nos anos de 2007 e 2008 pelas diversas áreas do setor eletroeletrônico. 43 Tabela 2 – Importações de Produtos do Setor Eletroeletrônico do Brasil por Áreas: 2007/2008 Áreas 2007 (US$ milhões) 2008 (US$ milhões) Var. (%) Automação industrial 1.757 2.276 30 Componentes 13.648 17.825 31 Equipamentos industriais 1.892 2.806 48 388 498 28 1.883 2.242 19 756 1.044 38 Telecomunicações 2.021 3.203 58 Utilidades domésticas 1.708 2.140 25 Total 24.053 32.034 33 GTD* Informática Material de instalação Fonte: ABINEE, 2009d *Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica Conforme se observa na tabela 2, todos os ramos que compõe o setor eletroeletrônico tiveram aumento nas importações entre os anos de 2007 e 2008. Entretanto, um estudo realizado pela mesma entidade, demonstra que mesmo afetado pelas importações, o setor industrial eletroeletrônico apresentou números crescentes com relação ao faturamento, aumentando sua participação no PIB a partir do ano de 2002, tendendo a queda em 2009 devido aos efeitos da crise econômica de 2008 (gráfico 2). Faturamento do setor (US$ bilhões) PIB Brasil (US$ bilhões) * Projeção Gráfico 2 – Evolução do Faturamento do Setor Eletroeletrônico e do PIB Brasileiro Fonte: ABINEE, 2009b 44 O faturamento da indústria eletroeletrônica cresceu 10% no ano de 2008, comparado com 2007, atingindo R$ 123,1 bilhões. Considerando que ocorreu deflação de 1,3% nos preços do setor, o crescimento do faturamento real atingiu 11,5%. Os setores com taxas positivas foram os das áreas de Telecomunicações (23%) e Equipamentos Industriais (18%), seguidos das de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica (GTD) e Informática (12%), Automação Industrial (11%) e Material Elétrico de Instalação (9%). Só não cresceram os faturamentos das áreas de Componentes Elétricos e Eletrônicos (-6%) e de Utilidades Domésticas (-7%) (ABINEE, 2009a). Um dos problemas enfrentados pela indústria eletroeletrônica no Brasil é que a indústria de componentes eletrônicos nacional – originada principalmente para produzir os aparelhos de televisão no final da década de 1950 – teve sua participação reduzida no início da década de 1980, com o colapso da reserva de mercado de informática e com a concorrência com a multinacionais instaladas no país desde a década de 1960, além da dificuldade de acompanhar a evolução dos micro circuitos eletrônicos empregados na fabricação das TVs a partir da década de 1970 (IPESI, 2009a). Assim, o país, vem desde o final da década de 1970, atuando como montador e importador de equipamentos eletrônicos, uma vez que os principais componentes utilizados nestes equipamentos como os transistores, circuitos integrados, capacitores, resistores, entre outros, são produzidos no exterior, principalmente na Ásia – poucos componentes são fabricados atualmente no Brasil, geralmente, somente os itens que não envolvem muita tecnologia, como chaves de comutação, transformadores, terminais, placas de circuito impresso, núcleos de ferrite, núcleos de ferro para transformadores, entre outros. Essa dependência faz com que o país perca em competitividade tanto no mercado interno quanto no externo, haja vista os dados do setor de componentes eletrônicos, que foi um dos que não apresentou aumento de faturamento no ano de 2008, ao contrário, teve queda de 6%. Com relação à inovação tecnológica na indústria eletroeletrônica, esta é um fator de competitividade frente às empresas estrangeiras. Em pesquisa realizada com 50 empresas de eletroeletrônica dos mais variados portes pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Complexo Eletroeletrônico e Tecnologia da Informação (IPD Eletron), constatou-se que o setor demanda por 45 inovação tecnológica, visto que 92% das empresas pesquisadas informaram que fazem referência à inovação tecnológica na declaração de missão e visão da empresa e, ainda, que 67% destas empresas possuem orçamento específico destinado a P,D & I (pesquisa, desenvolvimento e informação). A pesquisa constatou também que, 55% das empresas possuem centro de P&D próprios e, ainda, utilizam centros de terceiros, enquanto 34% utilizam somente os próprios centros e 11% utilizam somente os centros de terceiros (IPD ELETRON, 2009). A qualidade e a quantidade de mão de obra especializada em P&D é um fator de preocupação para as empresas que necessitam de inovação tecnológica, pois ambos, segundo a pesquisa do IPD Elétron (2009), são insuficientes para atender a demanda, conforme os resultados: 62% das empresas afirmaram que a qualificação dos recursos humanos disponíveis não atende às suas necessidades; 60% das empresas afirmaram que a quantidade de recursos humanos é insuficiente para atender às suas demandas. Como fatores indicados pelas empresas para reversão deste quadro, tiveram destaque na pesquisa (ambos com 46% de indicações): maior integração escola-indústria e mudança do currículo no ensino. Com relação às previsões para o ano de 2009, a ABINEE, divulgou os resultados esperados nos principais indicadores do setor. O que se observa é que de acordo com a projeção da entidade, a crise econômica mundial de 2008 causará um impacto maior nas importações, diminuindo o déficit comercial no fechamento do ano de 2009 (tabela 3). Tabela 3 – Principais Indicadores do Setor Eletroeletrônico no Brasil: 2008-2009 Indicador 2008 2009* Var. (%) Faturamento (R$ bilhões) 123,1 128,6 +4 Faturamento (US$ bilhões) 67,0 54,2 - 19 Exportações (US$ bilhões) 9,9 9,2 -7 Importações (US$ bilhões) 32,0 28,0 - 13 (22,1) (18,8) - 15 162 162 0 4,3% 4,2% Déficit (US$ bilhões) Nº de Empregados (em mil) Correspondência ao PIB Fonte: ABINEE, 2009a * Projeção 46 Com relação ao número de pessoas empregadas no setor, o estudo da ABINEE demonstra que houve uma evolução positiva ao longo dos últimos anos. A expectativa era que os números ao final de 2008 fossem maiores, mas houve uma queda significativa no número de empregados no mês de dezembro de 2008, fechando o ano em 161,9 mil, enquanto que setembro do mesmo ano contava com 165,1 mil, como já mencionamos anteriormente, esta queda foi causada principalmente pela crise econômica mundial de 2008 (gráfico 3). Evolução do Emprego na Indústria Eletroeletrônica no Brasil 180 160 140 120 100 (mil) 80 60 40 20 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Gráfico 3 – Número de Empregados no Setor Eletroeletrônico do Brasil entre 2001 2008 Fonte: ABINEE, 2009a Org.: Sergio Ricardo Vitiello A tabela 4 mostra o ranking da indústria eletroeletrônica por estados brasileiros de acordo com o faturamento. 47 Tabela 4 – Faturamento da Indústria Eletroeletrônica por Estados Brasileiros em 2008 Estados São Paulo Amazonas Paraná Santa Catarina Minas Gerais Rio Grande do Sul Bahia Rio de Janeiro Pernambuco Espírito Santo Ceará Mato Grosso do Sul Goiás Distrito Federal Mato Grosso Sergipe Paraíba Pará Rio Grande do Norte Maranhão Rondônia Alagoas Tocantins Piauí Amapá Acre Roraima Brasil Faturamento em 2008 Participação no total do Brasil (em milhões de Reais) 59.464 48,31% 25.881 21,03% 9.540 7,75% 8.502 6,91% 7.802 6,34% 4.347 3,53% 3.323 2,70% 1.714 1,39% 1.102 0,89% 418 0,34% 368 0,30% 226 0,18% 90 0,07% 87 0,07% 68 0,06% 53 0,04% 34 0,03% 23 0,02% 21 0,02% 11 0,01% 7 0,01% 4 0,00% 4 0,00% 2 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00% 123.092 100,0% Fonte: KELLER, 2009 Observa-se que o estado do Paraná tem uma significativa importância com relação ao faturamento das indústrias eletroeletrônicas nacionais, ficando atrás somente dos estados de São Paulo e do Amazonas – enfatizamos que o primeiro historicamente concentra a maior produção industrial do país desde a década de 1930, enquanto que o segundo conta com incentivos para instalação de empresas devido à Zona Franca de Manaus. 48 O estado do Paraná conta com 559 indústrias do ramo de material elétrico e comunicações (BRASIL, 2009); destas 267 estão localizadas na região Metropolitana de Curitiba destacando-se grandes empresas como Furukawa (www.furukawa.com.br), Siemens Positivo Informática (www.siemens.com.br), (www.electrolux.com.br), Britânia Bematech (www.positivoinformatica.com.br), (www.britania.com.br), Electrolux (www.bematech.com.br), Visum (www.visum.com.br), Serdia (www.serdia.com.br) e Knowha (www.knowha.com.br). O Norte do estado8 ocupa a segunda posição no ranking com 194 indústrias eletroeletrônicas, com o maior número na microrregião de Londrina com 77 empresas, sendo 53 no município de Londrina (IPARDES, 2009a). A seguir faremos alguns apontamentos com relação à localização de algumas indústrias eletroeletrônicas situadas no norte do estado do Paraná. Para Londrina, foco espacial deste trabalho, será dedicado um capítulo à parte destacando as empresas mais representativas do setor eletroeletrônico na cidade. Cambé possui uma indústria de grande porte, a Get (www.get.ind.br), fundada em 1999, produzindo aquecedores solares, aquecedores eletrônicos, controladores eletrônicos, equipamentos para cromoterapia e acionadores eletrônicos. Em Ibiporã está instalada a Grisotto & Grisotto (www.voxstorm.com.br), uma empresa familiar que teve origem em 1985 na cidade de Iporã, fabricante de equipamentos de áudio para instrumentos musicais, como caixas amplificadas e mesas de equalização destinadas a bandas musicais. Apucarana possui uma indústria de equipamentos de áudio para instrumentos musicais – a Open Eletroacústica, que produz caixas de som, amplificadores de áudio, mesas equalizadoras destinadas à banda musicais – e outra de baterias automotivas – a Eletran (www.eletran.com.br), fundada em 1962 e atualmente empregando 150 pessoas. Em Santo Antônio da Platina há uma indústria de cercas elétricas, a Pioneiro Cercas Elétricas (www.cercaspioneiro.com.br), fundada em 2006, empregando atualmente 15 pessoas. 8 Como norte do estado do Paraná estamos considerando as mesorregiões geográficas segundo o IBGE: mesorregião Norte Pioneiro, Norte Central e Noroeste. 49 Em Maringá há indústrias eletroeletrônicas fabricantes de semáforo e painéis indicadores, como a SDM, responsável pela instalação e manutenção dos semáforos e das câmeras de fiscalização de avanço no sinal vermelho em Londrina; a Microzon (www.microzon.com.br), fundada em 1985, produzindo painéis indicadores de leds utilizados como informativos em mercados, aeroportos, rodoviárias e ginásios de esporte; de antenas, como a Antenas Aquário (www.aquario.com.br), fundada em 1979, ocupando uma área construída de 12.500m² e com 260 empregados; de automação como a Indel (www.indelflex.com.br), fundada em 1984 fabricante de conectores, prensa cabos, eletrodutos, etc. Campo Mourão constitui-se em uma APL de equipamentos médicos e odontológicos composto por empresas da área, as quais geram 200 empregos (FUNDAÇÃO EDUCERE, 2009). Algumas empresas deste segmento desenvolvem equipamentos eletroeletrônicos voltados para área de saúde, como é o caso da ACME (www.acme.ind.br), MGE montadora de eletroeletrônicos (www.mge.ind.br), Alfa Eletrônica, Saubern Médica (www.saubern.com.br), Sieger (www.sieger.com.br) e Cristofoli (www.cristofoli.com). Há também, na cidade, empresas que desenvolvem e produzem equipamentos eletroeletrônicos para fins estéticos e lazer, como a R&A (www.raequipamentos.com.br) e a Sinapse (www.sinapse.ind.br), além de uma que fabrica medidores e instrumentos para a agroindústria, a Pro Solus (www.prosolus.com) e de outra que produz sistemas eletrônicos, a VRI (www.vri.com.br). Cornélio Procópio possui uma empresa fabricante de transformadores de alta potência destinados ao setor de distribuição de energia elétrica, a Comtrafo (www.comtrafo.com.br). Mandaguari, assim como Cornélio Procópio, possui uma empresa fabricante de transformadores de alta potência para distribuição de energia elétrica, a Romagnole (www.romagnole.com.br); uma empresa de grande porte que emprega mais de mil pessoas entre todas as suas unidades produtivas espalhadas pelo país. A unidade presente no município possui mais de 13.000m² de área construída. Nas demais mesorregiões do estado, a indústria eletroeletrônica se distribui da seguinte forma: 45 empresas no Oeste, 25 no Sudoeste, 12 no Centro Ocidental, 10 no Centro Oriental e 6 no Sudeste (IPARDES, 2009a). 50 Com relação ao número de pessoas empregadas na indústria eletroeletrônica no Paraná, a tabela 5 demonstra a posição do estado em relação aos demais estados brasileiros. Tabela 5 – Número de Empregados na Indústria Eletroeletrônica por Estados Brasileiros em 2008 Estados Número de Empregados Participação no Total (em mil) - Abinee - 2008 do Brasil São Paulo Amazonas 78,75 17,30 48,64% 10,68% Minas Gerais Santa Catarina Paraná 15,82 14,15 11,36 9,77% 8,74% 7,01% Rio Grande do Sul Rio de Janeiro 9,68 4,09 5,98% 2,52% Bahia Pernambuco Ceará Espírito Santo 3,67 2,56 1,17 0,77 2,26% 1,58% 0,72% 0,47% Goiás Distrito Federal Mato Grosso Paraíba 0,61 0,52 0,28 0,22 0,38% 0,32% 0,17% 0,14% Sergipe Mato Grosso do Sul Pará Rio Grande do Norte Maranhão Rondônia 0,21 0,20 0,19 0,13 0,08 0,06 0,13% 0,12% 0,12% 0,08% 0,05% 0,04% Piauí Alagoas Tocantins 0,04 0,02 0,02 0,02% 0,01% 0,01% Amapá Acre Roraima 0,00 0,00 0,00 0,00% 0,00% 0,00% 161,90 100,0% Brasil Fonte: KELLER, 2009 51 Quanto ao número de pessoas empregadas na indústria eletroeletrônica brasileira, observa-se que os dois primeiros estados mantêm relação entre faturamento da indústria e número de empregados, ou seja, as indústrias de São Paulo e do Amazonas são as que mais faturaram e as que mais empregaram. Por outro lado, o Paraná perde em números de empregados para os estados de Minas Gerais e de Santa Catarina. Tal situação pode estar ligada ao grau de automação presente nesta indústria – supostamente maior no Paraná – ou ao maior valor agregado dos produtos paranaenses com relação aos de Minas Gerais e de Santa Catarina. O estado do Paraná possui indústrias eletroeletrônicas que produzem equipamentos e componentes destinados a diversas outras áreas, o maior número de indústrias do setor está localizada na região Metropolitana de Curitiba, seguida da região Norte. A quantidade de indústrias deste segmento e o nível de tecnologia empregada na produção colocam o estado em 3º lugar no ranking de faturamento e em 5º no de pessoal ocupado no setor. Isso reflete a importância deste ramo industrial para o estado, tanto na composição do PIB estadual quanto no número de empregos gerados. O capítulo seguinte abordará a indústria eletroeletrônica em Londrina, apontando alguns aspectos importantes com relação a este setor na cidade. 52 5. A INDÚSTRIA ELETROELETRÔNICA EM LONDRINA Londrina é uma cidade que até a década de 1960 tinha um setor industrial pouco expressivo em termos numéricos. No entanto, havia algumas indústrias de grande porte como a Baterias Reifor, a Cia Cacique de Café Solúvel e uma unidade industrial da campineira Selmi & Cia. Contudo, após 1970 ocorre a expansão de agroindústrias na região Norte do estado; em Londrina destacam-se a Herbitécnica em 1970 (produtos químicos para agricultura) e Indústria Carambeí S.A. em 1973 (fiação de rami) (FRESCA, 2004, p.197). Em que pese o desenvolvimento em infra-estrutura que possuía em termos de ferrovias e rodovias – que foram priorizadas para o escoamento da produção de café para o porto de Paranaguá – e especificamente em Londrina, com a implantação do Serviço de Comunicações Telefônicas de Londrina (SERCOMTEL), tais fatores não foram suficientes para alavancar o setor industrial entre os anos de 1970 e 1980 no norte do estado do Paraná (BRAGUETO, 2007, p.29-30). Porém, tais condições foram importantes para o processo que se instaurou a partir de 1990, ou seja, as transferências industriais para o norte do estado, tendo Londrina como um dos principais destinos. Outros motivos para essas transferências foram os benefícios fiscais e a redução de custos de operação. [...] a transferência das plantas industriais para cidades do norteparanaense se configurou como uma saída de enfrentamento da crise nacional dos anos 1990, mediante redução de custos, e outras estratégias adotadas por empresas já presentes na área (FRESCA, 2004, p. 201). Londrina conta com lei específica para incentivo à indústria desde 1993 (Lei 5.669/93), a qual prevê como incentivos tributários em seu artigo 3°: I - isenção da Taxa de Licença para Execução da Obra; II - isenção da Taxa de Licença para localização do Estabelecimento, bem como sua renovação anual (Art. 49 do Código Tributário Municipal); III - isenção do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); IV - isenção do ITBI - Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis incidente sobre a compra do imóvel pela indústria e destinado à sua instalação (LONDRINA, 2009). 53 Segundo o artigo 5° da Lei 5.669/93, as isenções do IPTU e da taxa de licença para localização do estabelecimento serão de: “[...] até dez anos para indústrias instaladas na Zona Urbana; [...] até quinze anos para as indústrias instaladas na Zona Rural e nas sedes dos Distritos e Patrimônios” (LONDRINA, 2009). As relações econômicas da cidade são estabelecidas principalmente com o estado de São Paulo, mais especificamente com a região Metropolitana de São Paulo, onde inclusive se situam as sedes das maiores indústrias que transferiram suas plantas para Londrina, como é o caso das empresas Atlas Shindler, Electroman, Basemetal e Cimplast, além desta se constituir como a região que abriga um grande número de fornecedores e mercado consumidor para os produtos fabricados em Londrina. Assim, em que pese as transferências das plantas industriais produtivas para Londrina, a gestão destas unidades fabris ainda continua sendo executada, predominantemente, na região Metropolitana de São Paulo. Contudo, a cidade de Londrina se destaca no norte do estado, exercendo uma forte influência sobre diversos municípios do Paraná e alguns do estado de São Paulo, pois oferece uma gama de serviços comparados em alguns casos, com a capital paranaense, entre os quais destacam-se: a área de saúde, de ensino superior, de lazer e compras no varejo. Recentemente a cidade ocupa uma fatia significativa no mercado de alta tecnologia, principalmente no desenvolvimento de softwares de gestão empresarial, sendo considerada como um arranjo produtivo neste segmento pelo IPARDES (IPARDES, 2006). A tabela 6 mostra a evolução da indústria em Londrina no período de 1998 a 2008. Tabela 6 – Evolução do Emprego Industrial no Município de Londrina de 1998 a 2008 Tipo de indústrias 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Indústria de Extração de Minerais 67 81 79 82 65 60 86 86 54 51 57 Indústria de Produtos Minerais não Metálicos 529 554 603 551 563 487 501 496 503 391 488 Indústria Metalúrgica 951 1.023 1.063 1.111 1.416 1.406 1.026 1.150 1.047 1.158 1.365 1.079 Indústria Mecânica 1.597 1.501 902 1.085 1.302 1.445 1.635 1.105 1.066 1.246 Indústria de Materiais Elétricos e de Comunicação 849 597 1.011 971 941 705 876 897 Indústria de Materiais de Transporte 368 351 383 371 351 452 483 463 Indústria da Madeira e do Mobiliário 796 920 885 919 888 973 Indústria do Papel, Papelão, Editorial e Gráfica Indústria da Borracha, Fumo, Couros, Peles, Produtos Similares e Indústria Diversa 1.050 1.018 1.135 940 1.214 542 569 639 1.225 1.267 1.447 769 711 658 1.870 2.163 2.437 1.571 1.760 814 845 456 557 964 1.287 1.410 1.624 1.644 1.785 1.854 925 720 708 Indústria Química, Produtos Farmacêuticos, Veterinários, Perfumaria, Sabões, Velas e Matérias Plásticas 1.691 2.151 2.897 2.438 2.538 2.706 3.152 3.387 3.370 3.435 3.593 Indústria Têxtil, do Vestuário e Artefatos de Tecidos 4.985 5.106 5.929 5.581 6.204 6.063 6.374 6.009 6.043 6.558 6.965 Indústria de Calçados 21 17 11 3.402 3.588 12 10 15 3.732 4.328 4.934 17 20 5.534 6.425 13 5 4 Indústria de Produtos Alimentícios, de Bebida e Álcool Etílico 3.235 5.996 5.219 5.094 Total 16.195 16.991 19.482 18.921 20.644 20.931 22.795 23.947 24.568 24.805 26.669 Fonte: MTE apud IPARDES, 2009c Org.: Sergio Ricardo Vitiello 54 55 De acordo com os dados observa-se que houve um amento em torno de 65% no que diz respeito ao pessoal ocupado na indústria em Londrina durante o período de 1998 a 2008. Com exceção das indústrias de extração de minerais, de produtos minerais não metálicos e de calçados (pouco expressiva), as demais apresentaram ganhos em relação ao pessoal ocupado. Os ramos que mais apresentaram crescimento em pessoal ocupado no período foram: a indústria de materiais de transporte (em torno de 162%), a metalúrgica (em torno de 156%) e a química, produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria, sabão, velas e matérias plásticas (em torno de 124%). Ressaltamos, porém, que este último abrange um grande número de tipos diferentes de indústrias. Pelos dados é possível identificar também que a indústria que mais emprega em Londrina é a têxtil, do vestuário e artefatos de tecido, aliás, com exceção do ano de 2005, foi este tipo de indústria que teve o maior contingente em pessoal empregado durante todos os outros anos do período analisado. Considerando-se os números totais, observa-se um crescimento em torno de 10.500 postos de trabalho na indústria em Londrina durante o período analisado. Por outro lado, fica evidente também que a indústria de Londrina sofreu os efeitos negativos da política do governo federal durante o ano de 2001, pois muitos setores reduziram substancialmente o número de trabalhadores neste ano, ficando o saldo final do emprego na indústria em Londrina em 2001, com uma redução de 561 postos de trabalho com relação ao ano de 2000. Esta política do governo federal consistia em contenção dos investimentos e da demanda e pressão sobre a indústria nacional através da importação com o objetivo de baixar a inflação, o que acabou causando estagnação na atividade produtiva nacional com conseqüente redução no número de empregos (SOUZA, 2008, p.308-309). Entretanto, a indústria de Londrina mostrou sinais de rápida recuperação voltando a aumentar o nível do emprego já no ano seguinte (2002), e desde então apresentou apenas números positivos neste quesito, ano após ano, até 2008. Com relação à indústria eletroeletrônica em Londrina, esta é composta, predominantemente, por pequenas e médias empresas fabricantes de equipamentos para os mais diversos fins. 56 O quadro 1 demonstra a localização por bairro e o número de empregados da indústria eletroeletrônica em Londrina, segundo o tipo de produto fabricado. Tipo de Produto Empresa Número de Localização Empregados* Baterias automotivas Acumuladores 9 Indústrias Leves 4 Cafezal 350 Vivendas do Super Life Bianchini Baterias GNB Arvoredo Rondopar 160 Indústrias Leves Stumpf 14 Jamaica Desenvolvimento e produção Exontec não Fraternidade de equipamentos disponibilizado eletroeletrônicos Maxwell Bohr 16 empregados Centro Histórico e 4 estagiários Seprotelc 12 Higienópolis Swain Não Higienópolis Tecnologia disponibilizado Equipamentos Aeroter 38 Pizza agroindustriais Identech 45 Ipiranga Equipamentos de áudio Hayonik 173 Indústrias Leves RMS não Jamaica disponibilizado Equipamentos Eletromec eletromecânicos não Cilo 3 disponibilizado Susip 50 Autódromo Equipamentos para ensaios Capi 13 Inglaterra laboratoriais Evlab 10 Vivi Xavier Fulgare 20 Bandeirantes 57 Equipamentos para Padan Luz 10 Vila Casoni Esteiras de massagem e Aoyama 13 Indústrias Leves equipamentos para Delta Light 25 Vila Recreio fisioterapia Fisiolar 25 Centro Histórico Fuji Yama não Vila Recreio iluminação disponibilizado Phisical 60 Vivendas do Arvoredo W Fisio 14 Shangri-la Fios e condutores elétricos Brascoa 12 Autódromo Fontes de alimentação, Hayama 65 Indústrias Leves transformadores, geradores Hayonik 173 Indústrias Leves Nishi não Vila Nova disponibilizado Montadoras de placas de Electroman 75 Vila Casoni Sistemas de refrigeração Indrel 51 Cilo 2 Telecomunicações Identech 45 Ipiranga circuitos eletrônicos e painéis elétricos Quadro 1 – Principais Indústrias Eletroeletrônicas em Londrina em 2009 Fonte: Para empresas, CREA – PR, 2009; SINDIMETAL – LONDRINA, 2009; para número de funcionários, entrevistas realizadas pelo autor; FIEP, 2010. *Os dados referentes ao número de trabalhadores foram inseridos após a defesa do trabalho, no processo de correção do mesmo, permitindo a incorporação destas informações. Org.: Sergio Ricardo Vitiello O mapa 1 demonstra a distribuição espacial das indústrias eletroeletrônicas identificadas na cidade de Londrina. No mapa observa-se que as indústrias eletroeletrônicas estão bem dispersas na cidade, havendo uma pequena concentração no Parque das Indústrias Leves, com 5 empresas do ramo. 58 1 1 1 2 1 1 2 2 5 2 1 1 1 2 2 1 1 2 1 Mapa 1 – Distribuição Espacial das Indústrias Eletroeletrônicas em Londrina Org.: Sergio Ricardo Vitiello Apesar de contar com 53 indústrias do setor eletroeletrônico, segundo dados do IPARDES (2009a), foi possível identificar, através do site do CREA – PR e do SINDIMETAL, apenas 30 em Londrina. Isso pode ter ocorrido, em função da ausência do registro de algumas empresas no CREA e da não associação ao sindicato da categoria. A indústria eletroeletrônica em Londrina teve sua gênese na década de 1950. A Nishi Eletromecânica Ltda. fundada à esta época permanece em atividade até os dias atuais. A empresa tinha suas atividades voltadas inicialmente na manutenção de geradores e transformadores de grande porte e, mais tarde, passaria a produzir também componentes e produtos voltados a esta aplicação. A empresa foi fundada a partir da iniciativa do imigrante japonês Shozo Nishi, o qual teve o interesse despertado para a área aos vinte anos de idade. Estudou técnicas de eletricidade através de uma revista mensal, abandonando a lavoura e indo trabalhar em Ribeirão Preto numa oficina elétrica como aprendiz. Em 59 1939 se muda para Londrina, onde abre uma pequena oficina, sendo a precursora para a fundação da empresa atual (NISHI ELETROMECÂNICA LTDA., 2009). Outra contribuição importante para a indústria eletrônica em Londrina foi a iniciativa de Katsumi Hayama – também imigrante japonês – em fundar, no ano de 1965, a loja de componentes eletrônicos Eletrônica Vídeoson. Alice Reiko Hayama, proprietária da empresa Hayama Ind. e Com. de Prod. Eletrônicos Ltda. e filha do Sr. Katsumi Hayama, em entrevista, relata que o Sr. Hayama imigrou para o Brasil aos doze anos de idade indo trabalhar inicialmente na lavoura. Mais tarde, se especializou em mecânica de máquinas agrícolas na cidade de Assai - PR. Empolgado com as perspectivas econômicas que a eletrônica prometia na época, decidiu estabelecer-se em Londrina no início da década de 1960, entrando na sociedade da loja de componentes eletrônicos Asa da Eletrônica, até então de propriedade de seu cunhado. Com maiores ambições comerciais, saiu desta sociedade em 1965 para montar sua própria empresa, a Eletrônica Vídeoson. Inicialmente a empresa se constituía em uma loja de vendas no varejo de componentes eletrônicos (resistores, capacitores, válvulas para rádio, transformadores, etc), destinados à manutenção em oficinas de conserto de eletrodomésticos e a estudantes de eletrônica. A loja situava-se na Rua Souza Naves, no subsolo do edifício Centro Comercial. Em meados da década de 1970 a empresa passou a atuar também em vendas no atacado – adquirindo os componentes principalmente da cidade de São Paulo – atendendo a quase todo o estado do Paraná. Na década seguinte passou também a atender o estado de São Paulo e toda a região Sul do país. Em 1984 a loja foi transferida para um prédio na Rua Brasil, onde, no mesmo ano, deu-se início à produção de transformadores elétricos e fontes de alimentação para abastecimento interno e a outras lojas de eletrônica, originando a empresa Hayama Indústria e Comércio de Produtos Eletrônicos Ltda. Na década de 1990 as empresas Eletrônica Videoson e Hayama já atendiam a todo o Brasil. Ainda, segundo a entrevistada, no ano de 1992 a indústria é transferida para um galpão situado no Parque das Indústrias Leves (foto 1), onde permanece até os dias atuais. As empresas, após o falecimento de seu fundador em 1993, ficaram sob o controle dos filhos Alice e Ricardo Hayama até 1998, ano em que há uma divisão na sociedade dando origem às empresas: Hayonik Ind. e Com. de Prod. Eletrônicos Ltda. (foto 2) – indústria de transformadores, fontes de alimentação, 60 cabos para áudio e amplificadores de som – e Hayamax Componentes Eletrônicos Ltda. – atacado de componentes, equipamentos eletroeletrônicos e instrumentos musicais. Foto 1 – Fachada da empresa Hayama Autor: Sergio Ricardo Vitiello Foto 2 – Fachada da empresa Hayonik Fonte: HAYONIK, 2009 A Hayama passou, a partir de 1999, a atender, além das lojas e atacados de componentes eletrônicos, às indústrias dos mais diversos segmentos, tais como: telefonia, automação, informática, brinquedos, entre outras. Sua produção 61 concentra-se em transformadores monofásicos, fontes de alimentação, carregadores de bateria, filtros de linha e inversores de tensão. A empresa possui departamento de desenvolvimento próprio, contando com três profissionais para este fim, além de inspetores de qualidade para o processo de fabricação e de matéria-prima, pessoal administrativo e de produção, totalizando 65 empregados. Em 2002 conseguiu implantar um sistema de gerenciamento ERP e no ano seguinte conquistou a certificação do seu sistema de gestão da qualidade na norma ISO 9001:2000. Um setor de grande representatividade dentro da indústria eletroeletrônica em Londrina é o de baterias automotivas, o qual é composto por cinco empresas que, juntas, são responsáveis por quase 540 empregos. Dentro deste setor destacam-se a GNB (Grupo Nacional de Baterias) e a Rondopar Energia Acumulada Ltda. A GNB (foto 3) produz as baterias das marcas Heifor, Herbo e Yokohama e comercializa seus produtos em todo o território nacional, além de exportar para Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. A empresa conta com mais de 350 empregados e com uma capacidade produtiva de 1,5 milhões de baterias por ano (GNB, 2009). Foto 3 – Fachada da empresa GNB Fonte: GNB, 2009 62 A Rondopar (foto 4) produz as baterias da marca Max Life, a qual é comercializada em todo o país e exportada aos países do Mercosul. A empresa foi fundada em 1984 e atualmente conta com 160 empregados (RONDOPAR, 2009). Foto 4 – Linha de produção da empresa Rondopar Fonte: RONDOPAR, 2009 Outro segmento eletroeletrônico de grande presença em Londrina é a indústria fabricante de esteiras de massagem e equipamentos para fisioterapia. Na cidade existem seis empresas do tipo, sendo uma das pioneiras a Fisiolar, fundada há 30 anos. Algumas das outras empresas do ramo foram fundadas a partir da iniciativa de ex-empregados da empresa Fisiolar que, ao se demitirem desta, abrem empresas concorrentes a partir da experiência adquirida. Este processo muito se assemelha ao que ocorreu em Arapongas com as indústrias fabricantes de móveis de linha reta, na qual muitas foram abertas por iniciativa de ex-empregados de empresas moveleiras da cidade. Fresca (2004, p.198) denomina este processo de contato próximo. Destaca-se também, dentro do ramo de esteiras de massagem e equipamentos para fisioterapia presentes na cidade, a Aoyama Ind. e Com. de Aparelhos Eletrônicos Ltda., a qual, segundo seu diretor, Edson Yuji Aoki, é a pioneira no Brasil na fabricação destes produtos. A empresa foi fundada em 1966 no bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo, transferindo-se para Londrina em meados da década de 1980 devido às condições desfavoráveis de transporte e custos imobiliários na capital paulista e também por Londrina e região, já na época, possuírem várias empresas do ramo, concentrando clientes para estes produtos. 63 Atualmente a empresa conta com 13 empregados e adquire as matérias-primas principalmente do estado de São Paulo e vende seus produtos predominantemente na região Nordeste do país. Participam, ainda, do parque fabril eletroeletrônico de Londrina, empresas que agregam alto grau de tecnologia em seus produtos e soluções, como é o caso da Maxwell Bohr Instrumentação Eletrônica Ltda. e da Identech – Next Indústria e Comércio de Produtos Eletroeletrônicos Ltda. A Maxwell Bohr Instrumentação Eletrônica foi criada em 2002 com o objetivo de atuar no desenvolvimento de equipamentos que envolvam alta tecnologia, como microprocessadores e softwares. Os fundadores da empresa possuem formação em Engenharia Elétrica e Ciência da Computação, ambos pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Segundo um dos proprietários, Lucas Prado Lone, a união dessas duas áreas possibilitou o desenvolvimento de diversos produtos e projetos ao longo da trajetória da empresa. Inicialmente a empresa atuou no desenvolvimento de projetos em parceria com outras instituições e empresas. Entre 2002 e 2003 a equipe de P&D da Maxwell Bohr foi responsável pelo desenvolvimento de dois projetos para a Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), relacionados a atividades aeroespaciais. O primeiro foi um sistema de medida de acelerações em ambiente de microgravidade, em um projeto relacionado aos programas da Agência Espacial Brasileira (AEB), em que foi lançado em um foguete de sondagem, modelo VS-30, em dezembro de 2002. O segundo equipamento foi um satélite universitário, o UNOSAT, que seria lançado pelo VLS1-v03 em Alcântara - MA no ano de 2003 (nesta ocasião houve a explosão do foguete durante seu lançamento). Esses dois equipamentos foram testados e qualificados nos Laboratórios de Integração e Testes do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos - SP. A partir de 2004, além de atividades de P&D, foram iniciadas atividades de linha de produção na empresa, na qual foram inseridos alguns produtos de automação industrial e comercial. Alguns exemplos desses produtos são controladores de corte de embalagens, velocidade e tempo de processos de produção, coletores de dados, equipamentos para granjas e para o auxílio ao atendimento em bares e restaurantes. 64 Os controladores industriais são utilizados, por exemplo, em toda a linha de produção da Dori Alimentos, uma das maiores fabricantes e distribuidoras de doces do país. O sistema de auxílio ao atendimento em bares e restaurantes tem revolucionado o atendimento em todas as regiões do país, sendo composto por painéis eletrônicos e dispositivos de chamada sem fio em todas as mesas, o que facilita a chamada dos atendentes. Esse produto é comercializado em parceria com a empresa Syxtem Indústria e Comércio de Painéis Eletrônicos. Outros produtos que tiveram seu início em 2004 foram os de robótica educacional. Para esta linha foi desenvolvido um curso completo de robótica, o que incluiu dois equipamentos, sendo que um deles gerou uma patente de um produto (um livro, publicado pela Editora BQ), diversos materiais didáticos de apoio para a utilização dos equipamentos, aulas do curso, além de softwares e bibliotecas de controle para diversas linguagens de programação. Neste projeto foram firmadas parcerias com a PUC - PR, Campus Londrina e a Universidade Estadual de Londrina. Este produto é comercializado em parceria com o CDI, uma franquia de escolas de formação tecnológica presente em todo o país. Além disso, continuaram a ser desenvolvidos projetos para parceiros, na qual pode-se incluir o desenvolvimento de um sistema de coleta de dados e controle de um espectrômetro do Laboratório de Óptica do Departamento de Física da Universidade Estadual de Londrina. Para este mesmo departamento, no Laboratório de Filmes Finos, foi desenvolvido um equipamento para análise de baterias em um projeto financiado pela Fundação Araucária. Atualmente a Maxwell Bohr desenvolve produtos direcionados a projetos em parceria com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do INPE e projetos de P&D junto a hidrelétricas. Nesta linha, destacam-se os produtos de monitoramento ambiental, que incluem sensores meteorológicos, coleiras para monitoramento de animais silvestres e sensores de gases de efeito estufa. A parceria com a Embrapa já possibilita testes e qualificação de sensores em projetos dessa instituição, em particular, em uma unidade de pesquisa da Embrapa Pantanal, em uma região remota no Pantanal do Mato Grosso do Sul, o que caracteriza uma ótima oportunidade de qualificação e operação em situações reais e extremas. Um dado significativo para a avaliação do contexto atual da empresa é a aprovação, pela FINEP, de um projeto na área de segurança pública nacional que 65 envolve o desenvolvimento de sistemas eletrônicos e software com tecnologias extremamente avançadas. Os recursos da FINEP, que estão vinculados ao programa de Subvenção Econômica à Inovação - 2008, juntamente com a contrapartida da Maxwell Bohr, constituem a base para uma expansão significativa das atividades de P&D, permitindo a contratação de técnicos e pesquisadores e a modernização e ampliação dos meios materiais necessários para o alto nível de inovação tecnológica desenvolvido na empresa. A equipe de P&D é liderada e gerenciada pelos próprios fundadores da Maxwell Bohr. Os recursos humanos que dão apoio aos proprietários da empresa incluem uma equipe de P&D composta por dois pesquisadores da área de computação, três técnicos em eletrônica, um grande grupo de estagiários de engenharia elétrica e ciência da computação que auxiliam nos mais diversos trabalhos e vivenciam na prática a realização de atividades de P&D em suas áreas de estudos. A equipe está sendo complementada por mais dois pesquisadores das áreas de computação e eletrônica, que estão em fase de contratação. Para dar suporte a todas as atividades realizadas por essa equipe, a empresa possui ambientes de trabalho equipados para o desenvolvimento de projetos, produção de protótipos, testes e qualificação de produtos, além de uma linha de produção para pequenas escalas. O desenvolvimento dos sistemas eletrônicos e de softwares é apoiado pelos meios necessários aos projetos e testes, como computadores, programas de computador, kits de desenvolvimento, osciloscópio, gerador de sinais, multímetros e componentes eletrônicos. Existe ainda um ambiente com ferramental para a produção de componentes mecânicos. A Identech (foto 5) atua no ramo de telecomunicações, agricultura de precisão e energia tendo em sua linha mais de 20 produtos. A empresa foi fundada há 16 anos e atualmente emprega aproximadamente 50 pessoas, possuindo mais de 400 revendedores espalhados por todo o país. Como clientes destacam-se as operadoras de telefonia Telefônica, Brasil Telecom, Telemar e Sercomtel, além de empresas de renome internacional como Atlas-Schindler, Sumus, Siemens, Itaú e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) (IDENTECH, 2009). 66 Foto 5 – Fachada da empresa Identech Autor: Sergio Ricardo Vitiello A indústria eletroeletrônica de Londrina, como as demais indústrias do norte do estado do Paraná se desenvolveu a partir de iniciativas de capital local/regional (em sua maioria) e a partir de transferências industriais ocorridas na década de 1990, como é o caso da Electroman Indústria e Comércio Ltda. (foto 6), montadora de circuitos eletroeletrônicos que se instalou em Londrina a fim de atender à demanda produtiva da empresa Atlas Schindler. Foto 6 – Linha de produção da empresa Electroman Fonte: ELECTROMAN, 2009 67 É possível de se afirmar que a região de Londrina possui uma diversidade de indústrias em seu parque fabril, o que impede em caracterizá-la especializada em um determinado ramo, considerando-se o nível de faturamento e pessoal empregado. Contudo, dados do IPARDES (2003, p.51), sinalizavam que a indústria de equipamentos de instalação industrial, comercial e predial vinha se destacando no período de 1995 a 2000 na região podendo até a se consolidar como um arranjo produtivo no futuro: Outro segmento especializado regional que cresce na região com importantes investimentos é o de equipamentos para instalação industrial, comercial e predial, conectado com os segmentos metalúrgico e elétrico, através de empresas satélite de pequeno porte. Está relativamente estruturado na região e pode consolidar um importante arranjo produtivo. Em 1995, o Estudo do Plano de Desenvolvimento Industrial evidenciou que uma das áreas a serem priorizadas para atração de indústrias para Londrina seria a eletroeletrônica. Contudo um dos obstáculos à atração de empresas deste segmento para a cidade era a ausência de um curso de graduação na área. Assim, para suprir esta deficiência, foi implantado na UEL em 1997 o curso de Engenharia Elétrica, na modalidade Eletrônica. Além da graduação criou-se em 2002 duas especializações e um curso de mestrado em Engenharia Elétrica (IPARDES, 2006). Contribui também para o desenvolvimento da indústria eletroeletrônica em Londrina, a Feira Eletromecânica e Eletrônica, que em 2009 esteve em sua 5ª edição. A feira foi realizada pelo SENAI de Londrina contando com parceria do SINDIMETAL9 e do SEBRAE. O evento contou com a participação de 40 expositores em uma área de 1.200 metros (SISTEMA FIEP, 2009). Como mais um atrativo à indústria eletroeletrônica, destacamos a recentemente instalação, na cidade, de um laboratório de controle de medidas destinado a calibração de equipamentos utilizados nos mais variados ramos industriais: o Laboratório de Medida Exata, integrado ao SENAI. O SINDIMETAL mantém uma parceria com o SENAI e com o SEBRAE de Londrina para subsídios no serviço de calibração de equipamentos das empresas associadas, na qual estes serviços contam com desconto de 50% sobre seu preço, o 9 O SINDIMETAL é o sindicato que representa, além das empresas eletroeletrônicas, as metalúrgicas de Londrina e região, viabilizando cursos voltados aos setores eletroeletrônico e metalúrgico, promovendo visitas técnicas em empresas e feiras dos respectivos ramos fora da cidade, atuando na organização da Feira Eletromecânica e Eletrônica em Londrina além de assinar convenções coletivas de trabalho com o sindicato dos trabalhadores das categorias. 68 que viabiliza sua execução no laboratório do SENAI, evitando-se transtornos que podem ser ocasionados quando se envia esses equipamentos para que a calibração seja realizada em outras cidades, tais como: maior custo final, maior tempo para retorno dos equipamentos e danos sofridos nos equipamentos causados pelo transporte. “O convênio garantindo um subsídio de 50% na contratação dos serviços do laboratório é mais um passo importante na consolidação da região como referência no setor Metal Mecânico” (ORSI, 2009, p.5). A implantação do Parque Tecnológico de Londrina, com a presença de empresas de desenvolvimento de softwares torna-se também um atrativo para a instalação de indústrias em geral e de eletroeletrônicas especificamente, pois estas podem utilizar-se dos sistemas de gerenciamento em suas atividades de projeto e de produção, desenvolvidos pelas primeiras. A infra-estrutura consolidada, os benefícios tributários oferecidos pelo governo municipal, o grande número de instituições de nível técnico, tecnológico e superior, a proximidade com os maiores mercados consumidores do país (São Paulo e região Sul do Brasil), o menor custo de vida e o potencial industrial e de pesquisa já instalados na cidade constituem fatores que são fundamentais para a fundação e transferências de novas empresas para Londrina. 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS A indústria brasileira teve um desenvolvimento expressivo a partir de 1930, com a política implantada pelo governo Vargas de substituições das importações. A esta época as indústrias se concentravam principalmente em São Paulo. Inicialmente concentrou-se esforços para a implementação da indústria de consumo de bens não duráveis, seguida da de consumo de duráveis e de intermediários e por último a de bens de capital. Os governos que se sucederam após Vargas adotaram medidas diversas que interferiram diretamente no desenvolvimento da indústria no Brasil: a instalação de empresas estrangeiras no país no governo de JK; a integração do território pelas infra-estruturas de transporte e comunicações proporcionadas pelo governo militar, com o conseqüente processo de desconcentração ocorrido neste período; as privatizações e abertura às importações ocorridas nos governos de Collor e FHC e os programas voltados para o crescimento econômico via transferências de renda e investimentos sociais no governo Lula. A indústria do norte paranaense, por outro lado, inexpressiva até a década de 1960 tendo somente algumas indústrias ligadas à agricultura, se desenvolveu após este período apoiada principalmente por iniciativas de capital local e regional. As condições de infra-estrutura no estado foram criadas visando um projeto de desenvolvimento econômico do Paraná o qual previa a substituição das importações, visto que o estado era dependente de importações oriundas de São Paulo. Os esforços de industrialização geraram na verdade uma agroindustrialização com o objetivo de se atender as demandas internas do país e o mercado internacional (FRESCA, 2004, p.197). A partir de 1970 começa a se modificar o perfil industrial do norte do estado com o surgimento de outros setores de produção. Ao final da década de 1980 as cidades do norte do Paraná começam a se especializar em determinados produtos: Apucarana com boné, Arapongas com móveis de linha reta e Cianorte com confecções (FRESCA, 2006, p.132). A partir da década de 1990 ocorrem as transferências industriais para o norte do Paraná, como uma das formas de barateamento e escoamento da 70 produção. Várias indústrias transferiram suas plantas para a região, sendo Londrina a principal beneficiada. Ocorre, porém, que a sede da maioria destas empresas continua em São Paulo, ou seja, o poder de decisão sobre elas concentra-se na região Metropolitana de São Paulo. Este trabalho tem por objetivo analisar a dinâmica da indústria eletroeletrônica de Londrina durante o período de 1998 a 2008, ou seja após o início deste processo de transferências industriais. A análise se pautou em levantamentos do setor a nível nacional, estadual, regional e local procurando identificar se este tipo de indústria é relevante, principalmente em Londrina, o foco espacial do estudo. Constatamos que a indústria eletroeletrônica se constitui como base para outros tipos de indústria, pois o desenvolvimento das tecnologias obriga, necessariamente, o emprego de circuitos eletroeletrônicos em máquinas e equipamentos. No âmbito nacional este tipo de indústria tem uma importância significativa, pois apresenta um faturamento expressivo – em torno de R$123 bilhões verificado em 2008 – representando 4,3% do PIB nacional, além de gerar empregos a uma parcela expressiva da população brasileira – aproximadamente 162 mil postos de trabalho. Na escala estadual a indústria eletroeletrônica do Paraná ocupa a 3º posição em faturamento, correspondendo a 7,75% do faturamento deste tipo de indústria no país, além de ocupar a 5º posição neste segmento em número de empregos, correspondendo a aproximadamente 7% do total nacional. Com relação aos levantamentos regionais, a indústria eletroeletrônica situa-se predominantemente na região Metropolitana de Curitiba, ocupando o norte do estado, a segunda posição. Londrina caracteriza-se como a cidade que mais possui indústrias eletroeletrônicas no norte do estado – um total de 53 empresas – as quais possuem diferentes segmentações dentro deste ramo. Assim, em Londrina, as indústrias eletroeletrônicas são caracterizadas como: fabricantes de bateria, desenvolvimento e produção de equipamentos eletroeletrônicos, equipamentos agroindustriais, equipamentos de áudio, equipamentos eletromecânicos, equipamentos para ensaios laboratoriais, equipamentos para iluminação, esteiras de massagem e equipamentos para fisioterapia, fios e condutores elétricos, fontes de alimentação, transformadores 71 e geradores elétricos, montadoras de placas de circuitos eletrônicos e painéis elétricos, sistemas de refrigeração e telecomunicações. Com relação ao pessoal ocupado na indústria eletroeletrônica em Londrina, o total de 1.246 postos de trabalho no ano de 2008 representa aproximadamente 4,7% do total de pessoal empregado na indústria em geral, o que é expressivo para a cidade, que possui uma produção bem diversificada. Observa-se também que o número de pessoas ocupadas no setor aumentou aproximadamente 47% no período pesquisado (1998 a 2008), o que mostra que este tipo de indústria tem aumentado sua participação na geração de empregos na cidade. Como fatores que impulsionam a instalação deste tipo de indústria na cidade destacam-se as boas infra-estruturas de transportes, comunicação e urbana; os benefícios tributários oferecidos pelo governo municipal; o grande número de instituições de nível técnico, tecnológico e superior; a proximidade com os maiores mercados consumidores do país (São Paulo e região Sul do Brasil); o menor custo de vida; o potencial industrial e de pesquisa já instalados; a presença de feira voltada ao setor na cidade e a instalação do pólo tecnológico de Londrina com a implantação do APL de software. Esperamos que os levantamentos e análises realizados neste trabalho possam servir para aprofundamentos em setores dinâmicos da economia como é o caso dos tecnopólos e do recente APL de softwares implantado em Londrina. 72 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABINEE. Comportamento da indústria eletroeletrônica: ano 2008 / projeções para 2009. Disponível em: <http://www.abinee.org.br/informac/arquivos/fimano08.pdf>. 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