XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
PRÁTICA PEDAGÓGICA DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: SOBRE
A PRODUÇÃO DO SABER E DO SABER-ENSINAR
Francisca das Chagas Cardoso do Nascimento Santos – UFPI
[email protected]
Antonia Edna Brito/UFPI
[email protected]
Resumo
O presente estudo objetiva analisar como professores alfabetizadores produzem o saber
e o saber-ensinar, considerando que estes profissionais estão sempre construindo e
reconstruindo novos conhecimentos e, consequentemente, redimensionando suas
práticas e sua professoralidade. Deste modo, analisar como o professor produz saberes
sobre a profissão, implica compreender sua prática pedagógica, como palco de
experiências complexas e desafiadoras, revelando-se lócus de ressignificação destes
saberes e espaço de autoformação. Nesse sentido, compreendemos que na sua vivência,
os alfabetizadores elaboram e re-elaboram maneiras particulares de exercer a atividade
docente, e que, ao longo da carreira, se apropriam de saberes que cursionam suas
trajetórias profissionais, a partir do exercício da prática reflexiva. Portanto, para o
desenvolvimento da pesquisa tomamos como referência as contribuições de autores, tais
como: Tardif (2002), Giesta (2005), Ferreiro e Teberosky (1999), Soares (2010), Souza
(2006), Souza (2009), Mendonça e Mendonça (2009), Ghautier (2006), Brito (2006),
Berhrens (2003), entre outros. O estudo (que se encontra em andamento) caracteriza-se
como uma investigação de natureza qualitativa, pressupondo a compreensão das
características subjetivas dos sujeitos e de suas ações na relação de suas práticas com o
contexto social. A produção dos dados da pesquisa efetiva-se através da escrita de
memórias e de entrevistas narrativas, envolvendo cinco alfabetizadoras experientes das
escolas da rede municipal de ensino de José de Freitas-PI. Neste trabalho
compreendemos que a prática pedagógica alfabetizadora exige responsabilidade,
compromisso social na busca de aprimoramento do ensino da leitura e da escrita.
Ressaltamos, então, que os professores ocupam uma posição estratégica no âmbito da
educação, o que lhes possibilita adquirir importantes saberes para o enfrentamento da
diversidade de situações do trabalho docente, promovendo, assim, a alfabetização como
prática social.
Palavras-chave: Alfabetização. Saberes docentes. Saber ensinar. Prática pedagógica.
1 Introdução
A prática pedagógica alfabetizadora constitui ação intencional, alicerçada em
diferentes concepções e saberes, revelando o pensamento dos professores sobre o
processo de aquisição da língua escrita. A vivência dessa prática possibilita ao
alfabetizador, através das experiências professorais, a produção de uma gama de
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conhecimentos peculiares ao exercício da docência, notadamente no processo de
alfabetização.
Nesse sentido, analisar como o professor produz saberes sobre a profissão (o
saber e o saber-ensinar), implica compreender sua prática pedagógica, como palco de
experiências complexas e desafiadoras, revela-se locus de re-significação dos saberes
docentes e, consequentemente, espaço de autoformação que, conforme assinala Brito
(2007, p. 49) “[...] configura-se como importante elemento no processo de
desenvolvimento pessoal e profissional do professor”.
A partir do exposto, registramos que este estudo apresenta um recorte de
pesquisa empírica que se encontra em andamento, focalizando como professores
alfabetizadores efetivam a produção do saber e do saber-ensinar. Ou seja,
compreendemos que na vivência da prática pedagógica os alfabetizadores, dialogando
como as exigências dessa prática, elaboram e re-elaboram maneiras particulares de
exercer a atividade docente e que, ao longo da carreira, se apropriam de saberes que
redimensionam suas trajetórias profissionais, a partir do exercício da prática reflexiva.
Segundo Brito (2007) é consensual entre diferentes autores a percepção de que os
professores experientes produzem saberes originais relativos à profissão.
Razão por que, na concretização deste trabalho, analisamos como os
alfabetizadores experientes produzem o saber e o saber-ensinar no decurso de suas
vivências e práticas cotidianas na ação docente. Neste sentido, destacamos que o
professor experiente acumula conhecimentos, oriundos da rotina pedagógica, bem como
produz um repertório de saberes que consolida sua prática, propiciando uma reelaboração do saber e do saber ensinar.
Deste modo, ressaltamos que as experiências na profissão docente facultam ao
alfabetizador o desenvolvimento de aprendizagens docentes que subsidiam suas ações
cotidianas no contexto da escola e da sala de aula. A experiência docente, portanto,
representa, também, espaço de construção de um processo identitário, uma vez que na
organização do saber-fazer o professor constrói maneiras de ser e de estar na profissão
(BRITO, 2003).
Para o desenvolvimento do estudo tomamos como referência estudos e
pesquisas sobre alfabetização, prática pedagógica e saberes docentes, a partir de autores,
tais como: Bozza (2008), Brito (2003, 2007), Ferreiro e Teberosky (1999), Soares
(2010), Tardif (2002), Gauthier (2006), Giesta (2005), Charlot (2000), dentre outros.
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Assim, na perspectiva de analisar como professores alfabetizadores efetivam a
produção do saber e do saber-ensinar, o presente texto está estruturado em duas seções,
além de conter uma introdução e uma conclusão. A introdução apresenta o objetivo do
estudo e a estrutura do texto. A primeira seção apresenta uma discussão sobre formação,
saberes docentes, realçando que a prática pedagógica alfabetizadora requer do professor
conhecimentos especializados sobre aquisição da língua escrita. Na segunda seção,
referente ao delineamento metodológico da pesquisa, descrevemos a natureza da
pesquisa e o processo de produção de dados. Nas considerações finais, ratificamos que
os professores necessitam de formação permanente e que se configuram como
produtores do saber e de saber ensinar.
A propósito, destacamos a relevância da pesquisa por possibilitar a análise da
prática pedagógica alfabetizadora como atividade que demanda o desenvolvimento da
reflexão crítica, bem como a retradução do saber e do saber ensinar.
2 Apontamentos sobre formação e prática pedagógica alfabetizadora
A formação do professor avulta como processo que deve ser permanente e
integrado ao seu dia-a-dia nas escolas, consolidando uma perspectiva de re-significação
da cultura profissional, o que sugere a importância de refletirmos acerca da articulação
entre teoria e prática, bem como sobre a valorização da atitude crítico-reflexiva no
âmbito da prática de professores alfabetizadores. Acreditamos que, através de análises
críticas sobre essas práticas encontraremos pistas para compreendermos efetivamente as
necessidades formativas de docentes que atuam no processo de escolar de alfabetização.
Na verdade, evidenciamos a importância da formação profissional docente, seja
inicial ou contínua, destacando que essa formação possibilita ao professor o acesso aos
saberes da profissão. Entendemos, todavia, que formar professores (neste caso,
alfabetizadores) requer contemplar a relação teoria/prática, as demandas do trabalho
docente, bem como exige priorizar a reflexão crítica como fundamento do saber e do
saber ensinar. A esse respeito, recorremos ao pensamento de Giesta (2005) ao
evidenciar aspectos da prática cotidiana docente que explicitam a importância da
reflexão como mola propulsora da formação e do desenvolvimento profissional do
professor.
A autora argumenta que a cotidianidade do ato de ensinar, promovido na ação
pedagógica do professor, impede, na maioria das vezes, que o professor perceba as
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diferentes nuances de sua ação docente. Desse modo, sugere que, diante da
complexidade do ato de ensinar, as questões postas pela prática docente devem ser
analisadas de forma crítica a fim de qualificar e/ou aprimorar a prática pedagógica,
despertando o professor para a responsabilidade com sua autoformação.
Por este viés, é desejável proporcionar a continuidade da formação profissional
docente como forma de investir no aperfeiçoamento da prática pedagógica, a partir da
redução do distanciamento entre as teorias academicistas e os diferentes tempos/espaços
do cotidiano escolar. Assim, podemos pensar a formação de professores orientada
através do paradigma da prática reflexiva, o que sinaliza a necessidade de
considerarmos essa formação integrando diferentes dimensões do trabalho docente.
Trata-se, pois, de uma formação que possui uma dimensão técnica, mas que não se
restringe a ela.
Sob esta ótica, entendemos que os saberes da formação referem-se às diferentes
solicitações do trabalho docente. Por exemplo, o professor precisa saber planejar, saber
conduzir a gestão pedagógica do conteúdo, entre outras atividades. Portanto, a formação
do professor deve articular os fundamentos da educação aos aspectos metodológicos do
ensino e, de modo especial, deve considerar as práticas de ensinar que se efetivam na
sala de aula. Neste entorno, realçamos que a formação do professor alfabetizador inserese no contexto dessa análise e indica, também, a importância da pesquisa e da reflexão
crítica na formação docente.
Pensar a formação, com esse formato, nos remete a perceber a prática
pedagógica para além da transmissão de conteúdo, como atividade que não se reduz a
aplicação de métodos e técnicas de ensino, mas configurando-se uma prática social, cuja
finalidade é formar para o exercício da cidadania. No contexto dessa compreensão, a
prática pedagógica delineia-se como práxis, haja vista que “[...] assume-se que a práxis
pedagógica seja um tempus e um locus de realização intencional e organizada da
educação. Um locus de confrontos no qual se realiza a educação de maneira coletiva
[...]” (SOUZA, 2009, p.34).
É importante lembrar que o professor vive na prática pedagógica e, de modo
especial, na sala de aula um verdadeiro laboratório, que concorre com o
aperfeiçoamento do seu próprio saber, do saber ensinar e do saber-ser. Inserido neste
processo de aprendizagem na prática, o professor tem a oportunidade de ampliar
conhecimentos sobre os alunos e, ao mesmo tempo, sobre o ser professor e sobre o
saber ensinar, construindo saberes docentes. Tardif (2002) nos ajuda a entender essa
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ideia ao afirmar que é nas experiências que vivenciadas no trabalho docente, interagindo
com os pares, com os alunos que esses saberes são construídos e reconstruídos,
tornando-se fonte significativa para o redimensionamento da professoralidade.
Tardif (2002) referenda que os professores são, ao mesmo tempo, formadores e
produtores de saberes sociais, são eles que atuam diretamente no meio em contato com
os alunos e ao mesmo tempo com os seus pares. Para Tardif (2002) os saberes docentes
são oriundos de diferentes fontes e correspondem a: saberes disciplinares (da tradição
cultural e de grupos sociais produtores de saberes), saberes curriculares (programas
escolares que os professores devem aprender a aplicar), saberes experienciais (da
experiência), e saberes da formação profissional (transmitidos pelas instituições de
formação de professores).
Nesse âmbito, Tardif (2002) destaca o papel primordial da experiência de
trabalho na constituição de um sentimento de competência entre os professores de
profissão e na aquisição do saber experiencial, considerado pelos próprios professores
como a base do saber ensinar. Assim, a atividade docente caracteriza-se por um
contexto de diferentes relações com o saber. Trata-se, portanto, de compreender que os
professores, através da reflexão sobre a prática, produzem um saber que serve de base
ao desenvolvimento do trabalho docente.
O processo de formação de professores, no contexto dessas reflexões, deve ter
como eixo os problemas concretos do ensinar/aprender, as demandas profissionais
docentes e, principalmente, as necessidades formativas desses professores. Na
formação, portanto, comporta considerar que os professores são atores competentes e
sujeitos do conhecimento, “[...] sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer
provenientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele a estrutura e a orienta”
(TARDIF, 2002, p.230), o que requer que os processos formativos devem se basear num
diálogo fecundo com os professores e com suas práticas.
Contribuindo com as análises sobre a temática, Gauthier, (2006); Nóvoa, (1992);
Brito, (2006), discutem acerca dos saberes docentes, ratificando que os professores não
são meros transmissores de conhecimentos, mas são profissionais que produzem saberes
peculiares ao ofício vivenciado. Percebendo o professor como profissional, Brito
(2006), entende que seu processo de formação exige saberes específicos, dada a
singularidade de ensinar, destacando que esses saberes necessitam articular-se às várias
dimensões da prática pedagógica.
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Desse modo, a atividade docente é demarcada como ação que possui caráter
bastante específico e requer saberes e competências específicas. Nesse processo, é
válido atentarmos que a docência é ofício feito de saberes especializados, um ofício no
âmbito do qual o professor mobiliza vários saberes para responder às exigências das
situações concretas de ensino. Isto posto, ressaltamos que a formação de professores
deve privilegiar diferentes saberes (pré-profissionais, da formação acadêmica, os
saberes oriundos da experiência, entre outros), buscando a formação de um profissional
com autonomia para gerir sua prática e seus processos formativos.
2.1 Alfabetização: fundamentos e práticas
Os recentes estudos sobre alfabetização procuram elucidar aspectos relativos
ao processo de aprendizagem e, acima de tudo, buscam estabelecer diretrizes para a
prática pedagógica, na perspectiva de contribuir na compreensão dos limites e das
necessidades dos alunos, pautando-se promoção da criatividade e da eficiência ao
ensinar.
Mendonça e Mendonça (2009), em estudo baseado na proposta de freiriana de
alfabetização, buscam mostrar como se ensina transformando a consciência ingênua do
aprendiz em consciência crítica. Para tanto, os autores procuram articular a teoria da
psicogênese da língua escrita à metodologia Paulo Freire, como possibilidade para a
solução do fracasso na alfabetização de crianças. Vale ressaltar que Mendonça e
Mendonça (2009) apresentam duras críticas ao uso de cartilhas na alfabetização, em
face dos aspectos mecanicitas de algumas propostas de ensino da leitura e da escrita,
que durante décadas se constituiu o principal instrumento de alfabetização, em
detrimento da estimulação das crianças na produção textual.
Neste entorno, destacamos a importância de organização da prática pedagógica
por caminhos que priorizem o pensar, favoreçam o desenvolvimento da capacidade de
estabelecer relações, possibilitem a inferência em todas as atividades e tenham na leitura
e na escrita com função social. Desse modo, compreendemos o valor da língua escrita,
em sua dimensão sociocultural, reconhecendo que alfabetizar envolve, tanto a apropriarse da língua, quanto participar dos usos sociais que envolvem os atos de ler e de
escrever.
Por fim, apreendemos que se faz necessário que o profissional alfabetizador
desenvolva conhecimentos específicos para saber-ensinar, consolidando a construção de
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seus saberes no percurso profissional, tendo clareza das reais necessidades do aluno no
processo de alfabetização na escola. Saber ler e escrever é uma exigência da sociedade
letrada e, neste sentido, é responsabilidade da escola desenvolver práticas
alfabetizadoras que privilegiem as funções sociais da língua escrita.
A alfabetização, nesta perspectiva, deve efetivar-se a partir dos conhecimentos
prévios da criança para a escrita, aproveitando sua desenvoltura na oralidade e seu
interesse pelas histórias. Esses conhecimentos podem ser considerados como ponto de
partida para o desenvolvimento da produção de textos, para vivências concretas de
situações de leitura e de escrita. Mediante o exposto, entendemos que os usos das
cartilhas, se for necessário, deve associar-se à utilização de diferentes gêneros textuais,
envolvendo situações cotidianas de leitura e de escrita.
3 Delineamento metodológico da pesquisa
A pesquisa caracteriza-se como uma investigação de natureza qualitativa,
segundo a perspectiva de Bogdan; Biklen (1999, p. 49), como modalidade investigativa
que “[...] exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo
tem potencial para construir uma pista que nos permite estabelecer uma compreensão
mais esclarecedora do nosso objeto de estudo”. Desse modo, focalizaremos o que os
sujeitos expressam, em seus relatos, suas vivências, seus modos de pensar e agir, como
expressões legítimas de suas histórias de vida profissional, de suas condições de
trabalho e de seus conflitos e possibilidades na vivência da profissão.
Partindo dessas reflexões, empreendemos uma pesquisa qualitativa como
caminho investigativo, pressupondo a compreensão das características subjetivas dos
sujeitos e de suas ações na relação de suas práticas com o contexto social. Portanto,
nosso estudo se desenvolve respeitando a individualidade dos interlocutores,
considerando o cruzamento entre o eu-pessoal com o eu-profissional (NÓVOA, 2000).
Esses aspectos da pesquisa qualitativa coadunam-se com o nosso objeto de
estudo, uma vez que, nos possibilitará incluir crenças, valores e emoções que o percurso
profissional dos professores alfabetizadores imprime às práticas pedagógicas.
3.1 As narrativas como escolha para a investigação
Os caminhos a ser trilhados na investigação vinculam-se a compreensão do
percurso profissional dos sujeitos, assegurando que a voz do professor seja ouvida e
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articulada ao seu agir e pensar, criando espaço para compreender sua própria prática.
Portanto, nesta pesquisa optamos por uma metodologia baseada nas narrativas, segundo
o paradigma do pensamento do professor, tendo como suporte teórico, as
sistematizações construídas por Nóvoa (2000); Nóvoa e Finger (2010), Josso (2010),
Souza (2006), dentre outros.
As narrativas, segundo Souza (2006) compreendem uma descrição de si, que se
instaura em um processo metanarrativo, pois expressa o que ficou na memória, o que foi
vivido. A escrita da narrativa potencializa, pois, uma tomada de consciência acerca das
experiências formadoras e das práticas pedagógicas, distinguindo-as de diferentes
vivências cotidianas inscritas nas singularidades e subjetividades dos sujeitos,
argumenta. Isto é:
[...] o conjunto das narrativas expressa diferentes recordaçõesreferências, aprendizagens experienciais e experiências
formadoras, na medida em que coloca o autor numa dimensão
de investigador de si próprio e de sua trajetória de formação,
possibilitando-lhe compreender seus percursos formativos e
autoformativos ao longo da vida (SOUZA, 2006, p.137).
Partindo dessa afirmação sobre as narrativas, a produção dos dados da pesquisa
(que se encontra em andamento) efetiva-se através da escrita de memórias e de
entrevistas narrativas, envolvendo alfabetizadoras experientes. Entendemos que a
narrativa conduz os interlocutores na investigação da própria prática e das trajetórias
formativas, resultando na autoformação e no redimensionamento das práticas
pedagógicas e dos modos de ser e de estar na profissão.
4 Considerações finais: algumas constatações
Por meio dessa reflexão percebemos a prática pedagógica de alfabetizadores
deve ter como suporte diferentes saberes que permeiam o ato de ensinar. É pensar essa
prática como feita de saberes que são articulados e mobilizados pelos professores
alfabetizadores em seu trabalho diário com os alfabetizandos.
Diante do exposto, compreendemos que para promover um ensino significativo
no processo de alfabetização, é salutar a implementação de propostas de formação
docentes, buscando o diálogo com as práticas de ensinar, a fim de que haja a
reelaboração ou o redimensionamento das práticas desenvolvidas na escola. Ademais,
compreendemos que a formação deve criar espaços de reflexão e de trocas entre os
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pares, considerando os saberes, o contexto, os valores e as ideologias vivenciadas pelo
grupo.
Significa entender que o saber-ensinar é fruto da reflexão sobre o saber e o
fazer docente, componentes necessários à prática alfabetizadora, cuja dinâmica aponta
para variados caminhos, exigindo do professor a capacidade de adaptar-se
constantemente às transformações da sociedade, sem deixar de propagar as aquisições e
os saberes básicos resultantes das formações e da experiência humana.
Nesse sentido, como resultado dessa reflexão compreendemos que os
professores alfabetizadores em final de carreira são detentores de conhecimentos e/ou
saberes consolidados na prática, nas interações com os pares e com os alunos,
conferindo-lhes maior autonomia no desafio de saber ensinar. Neste caso, saber
alfabetizar. Assim, os diversos conhecimentos que compõe o reservatório de saberes dos
professores devem ser revestidos em referenciais que conduzam a um competente
processo de alfabetização.
Esses saberes, entretanto, devem estar em permanente reelaboração, pois a
escola contemporânea se caracteriza como heterogênea e complexa, o que implica dizer
que a prática está mergulhada num contexto social mais extenso, rompendo com o
espaço restrito do âmbito escolar. Os professores alfabetizadores, quando bem
formados, possuem importantes ferramentas para enfrentar a diversidade de situações
que permeiam as relações pedagógicas, pois ocupam uma posição estratégica no âmbito
da educação e da formação da criança para o exercício da cidadania.
Portanto, concluímos que os professores, na reflexão sobre a prática, tornam-se
produtores do seu próprio saber, do saber-fazer e do saber-ser. Essa constatação indica a
necessidade de envolver os professores em um constante processo de formação e de
reflexão sobre suas práticas, de modo a se tornarem aptos na formação cidadã de seus os
alunos em processo de alfabetização, visando, sobretudo, a formação de leitores e
escritores competentes.
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