XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 GESTÃO DE CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU Maria Cecilia Damas Gaeta, Centro Universitário SENAC. Martha Maria Prata-Linhares, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Este artigo pretende contribuir para reflexões sobre os cursos latu senso pensando-os como espaços propícios para atualização, aperfeiçoamento, revisão da pratica e desenvolvimento em áreas específicas de conhecimento. Partimos do pressuposto tratase de um processo de educação continuada, de desenvolvimento profissional que pode ser retomado em várias e diferentes fases da vida conforme as necessidades da carreira profissional. Porem este processo, na visão das autoras, requer a utilização de metodologias ativas que tiram o aprendiz da passividade e proporcionam aos professores e alunos a co-responsabilidade pela construção do conhecimento e aprendizado. Para que cumpram, com qualidade, o papel a eles designados no processo de ensino é imprescindível que sejam gerenciados pedagogicamente em uma perspectiva inovadora, com foco principalmente em: (i) flexibilidade de estrutura curricular; (ii) atualização constante de conteúdos específicos; (iii) utilização de metodologias ativas; (iv) equipe docente qualificada. Apresentamos as características pedagógicas da pós-graduação lato sensu para a qualificação profissional e discutimos a gestão inovadora e os processos de formação docente necessários para uma atuação qualificada nos cursos de Pós-graduação lato sensu. Chamamos a atenção para o apelo atual à inovação e a ilusão de que as tecnologias de informação e comunicação podem dar, trazendo a falsa idéia que sua introdução aos cursos já trazem a inovação. Para essa discussão nos apoiamos em: Masetto (2009), Tardif (2004) e Zeichner (1997). Nossas pesquisas mostram que um dos aspectos responsáveis pelo êxito destes cursos são os aspectos de interação entre as dimensões pedagógicas e administrativas, entre os interesses acadêmicos e de mercado, entre docentes e gestores de forma contínua e dialogal. Palavras-chave: Pós-graduação lato sensu. Gestão inovadora. Formação de professores. Introdução Durante longo período, foi considerada eficiente e eficaz a participação de profissionais, de uma maneira eventual e descontinuada em programas complementares, do tipo treinamento, reciclagem ou formação, com o objetivo de suprir as falhas da formação inicial e as deficiências de um ensino desatrelado da dinâmica do mercado de trabalho, assim como para superar as necessidades de atualização e qualificação profissional. No contexto atual de busca por conhecimento e competência adequadas as demandas sócio-econômicas, os profissionais de todas as áreas começam a admitir que precisam aperfeiçoar as suas habilidades, os seus conhecimentos e experiências, ao longo da vida. A definição de formação continuada/permanente passa a ser a de um processo cujo propósito é desenvolver o indivíduo, oferecendo oportunidades para aprender, se Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001404 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 atualizar, se re-qualificar e obter uma melhora profissional e humana, de modo que os profissionais possam adequar-se às mudanças sociais, políticas, econômicas e científicas do mundo em que vivem. È nesse cenário que se distinguem os cursos de pósgraduação, especialização, aqueles chamados lato sensu, pois apresentam vantagens pedagógicas que favorecem a qualificação profissional. No entanto para que cumpram, com qualidade, o papel a eles designados no processo de ensino é imprescindível que sejam gerenciados pedagogicamente em uma perspectiva inovadora, com foco principalmente em: (i) flexibilidade de estrutura curricular; (ii) atualização constante de conteúdos específicos; (iii) utilização de metodologias ativas; (iv) equipe docente qualificada. São essas questões que procuraremos discutir no desenvolvimento desse artigo. As vantagens pedagógicas da pós-graduação lato sensu Em termos amplos a pós-graduação, especialização, lato sensu, é uma das possibilidades de continuidade de estudos na educação superior. Seu objetivo é propiciar atualização, aperfeiçoamento ou mesmo desenvolvimento em áreas específicas de conhecimento favorecendo a inserção ou requalificação profissional. Trata-se de um processo de educação continuada, de desenvolvimento profissional que pode ser retomado em várias e diferentes fases da vida conforme as necessidades da carreira profissional. As condições de oferta de uma pós-graduação favorecem sob diferentes aspectos o alcance desses objetivos. Normalmente, os cursos de especialização lato sensu têm objetivos práticoprofissionais específicos, sem abranger o campo total do saber em que se insere a especialidade. São cursos destinados ao aperfeiçoamento nas partes de que se compõe um ramo profissional ou científico. Caracterizam-se por flexibilidade curricular o que permite o foco em temas específicos. Possibilitam aprofundar ou atualizar o conhecimento, desenvolver competências voltadas ao atendimento restrito de uma necessidade concreta e aperfeiçoar capacidade de trabalho. Por serem os temas desenvolvidos no curso relacionados com a atuação profissional dos alunos, estabelece um retorno profissional rápido. No Brasil, a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu independe de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento por parte da CAPES, porém deve atender às exigências da Resolução CNE/CES nº.1 de junho de 2007. Os processos de seleção e ingresso são simples, tendo como exigência formal a posse do Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001405 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 diploma do ensino superior. Oferecem certificado de conclusão de curso que legitima o exercício da especialização obtida, com validade nacional São cursos de curta duração, comumente 360 h. o que permite sua conclusão em 12 ou 15 meses, dependendo da freqüência estipulada, que em geral não excede dois encontros de 4 horas aulas semanais, ou aos sábados ou em atividades virtuais, permitindo a compatibilização com a jornada de trabalho. Dessa forma acompanham o tempo profissional dos participantes e conseqüentemente atendem suas necessidades com agilidade. Em raros casos são necessários altos investimentos em equipamento para a realização de cursos lato sensu. Concentram-se os diferenciais em recursos humanos, pois a troca de experiência entre pares é o fator essencial quando se discute atuação profissional o que permite a qualificação profissional não apenas sob o viés da titulação e da pesquisa, mas da realidade de seu cotidiano. As condições de oferta, assim como o aumento de demanda e as características de formação generalistas dos cursos de graduação, provocaram grande expansão dos cursos de especialização. As regulamentações sobre lato sensu, como pudemos observar, são flexíveis e genéricas, indicando total autonomia para a proposição de currículos, e repassando às Instituições de Ensino a responsabilidade pela qualidade destes cursos, representando assim, grande vantagem para desenvolvimento de projetos pedagógicos inovadores. Gestão Inovadora É importante dizer que ao falarmos em inovação, em desenvolvimento pedagógico para atuação em currículos inovadores, estamos nos referindo a necessidade não do novo por si só, mas à importância da mudança para suprir necessidades ainda não alcançadas, articulando o currículo como um todo. Os cursos lato sensu, como dissemos anteriormente, estão ligados não só à atualização de conteúdo, mas, também ao modo de desenvolver a aprendizagem sobre temas específicos. Ou seja, na proposição curricular devem ser considerados o embasamento teórico e o processo contínuo de diálogo com o mercado profissional para a atualização de assuntos a serem trabalhados. Não menos importante é procurar transpor para as salas de aula, sejam elas presenciais ou não, o dinamismo do dia-a-dia do profissional, discutindo as competências para as melhores práticas, analisando as Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001406 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 peculiaridades e especificidades da área, promovendo intersecção entre teoria e prática, entre saber e saber-fazer, para facilitar a aprendizagem ou aperfeiçoamento dos alunos. Na área educacional o reconhecimento dos saberes experienciais é recente e alguns estudiosos, como Tardif ( 2004) e Zeichner (1997) reconhecem e valorizam a prática identificando-a como um movimento de reação à supervalorização da teoria. Não pretendemos aqui um movimento contrário, de desprestigio dos referenciais teóricos e a análise da pratica pela prática, sem legitimá-la com processos reflexivos. Isso imprimiria aos cursos de especialização um esvaziamento oposto àquele que tentamos aqui defender. Mas é possível reconhecer o lato sensu como um espaço propício para a atualização, aprimoramento e revisão da prática. Processo esse que requer a utilização de metodologias ativas que tiram o aprendiz da passividade e proporcionam aos professores e alunos a co-responsabilidade pela construção do conhecimento e aprendizado. Metodologias ativas são entendidas como aquelas que incentivem e dão apoio aos processos de aprender. São situações de aprendizagem planejadas pelo professor em parceria com os alunos que provocam e incentivam a participação, postura ativa e crítica frente à aprendizagem. (GAETA e MASETTO, 2009) As reflexões sobre a prática possibilitam, por outro lado, aproximar e trazer para o curso, profissionais atuantes em suas profissões, profissionais do mercado. O corpo docente pode ser um excelente diferencial de qualidade de um curso lato sensu se forem equilibradas as competências acadêmicas-didáticas, com o aproveitamento dos talentos existentes fora da academia cujos saberes são originários e/ou construídos nos ambientes de trabalho e nas trajetórias de vida. O que nos remete a outro aspecto da gestão pedagógica: a formação de professores para uma atuação inovadora nos cursos lato sensu. Formação de professores para atuação inovadora em cursos lato sensu Por toda parte temos visto um apelo grande à inovação. Podemos ver isto não somente nas prateleiras dos super mercados onde os produtos que tem a palavra “novo” vendem mais, como também nos editais das agencias de fomento solicitando projetos inovadores. Nas salas de aula não é diferente, há também a reivindicação dos alunos por aulas criativas e inovadoras. Parece amplamente aceito que nós estamos vivendo em uma época em que os avanços tecnológicos transformaram, ou tem a capacidade de transformar as salas de Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001407 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 aula e em particular as metodologias de ensino e aprendizagem. Esta afirmação no entando, deve ser avaliada criticamente. As tecnologias de informação e comunicação aparecem neste ambiente como uma solução para a inovação por pensar-se que simplesmente introduzindo o uso das tecnologias de informação e comunicação pode-se tornar o processo ou o produto final inovador. Chamamos a atenção para a diferença da novidade e do inovador. Nem sempre a novidade traz a inovação. Como exemplo podemos citar os quadros negros, que foram sendo substituídos pelas novidades dos quadros brancos, pelos projetores multimídias e mais recentemente pelas lousas digitais. Mas, o que trará a inovação será a maneira como estas novidades serão usadas. Assim, devemos estar atentos, pois a mera transmissão de informações que muitas vezes combatemos poderá continuar a mesma, com a diferença que estará inserida em um mundo digital. É importante que os professores tenham formação para tirar o máximo de proveito das mais avançadas tecnologias, assim como também é importante lembrar que embora a tecnologia possa ser nova, temos que cuidar das escolhas metodológicas, para que não sejam sempre as mesmas apenas com uma roupagem diferente. Assim, a formação de professores para a atuação inovadora nos cursos latu sensu é necessária, valorizada e será sempre fundamental. Algumas vezes os professores envolvidos nos cursos precisam melhorar ou até mesmo modificar suas prática pedagógicas e uma das maneiras de promover estas mudanças é introduzindo-os às metodologias ativas. De nada adianta novos currículos se os professores continuam somente na perspectiva da transmissão de informações. Como exemplos de metodologias ativas podemos citar a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) ou PBL - Problem Based Learning, Estudos de Casos, Cases Study e a Aprendizagem Colaborativa. Não são metodologias propriamente novas. A Aprendizagem Baseada em Problemas, por exemplo, originou-se na Faculdade de Medicina da Universidade McMaster em Ontário, Canadá em 1960. Uma de suas características principais é o desenvolvimento do curso por problemas formulados pelos participantes, professores e alunos. O Estudo de Caso envolve um estudo aprofundado de uma situação ou evento. Os participantes são chamados a estudar e avaliar como os conhecimentos teóricos Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001408 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 podem ser aplicados a uma determinada situação real. Já a Aprendizagem Colaborativa para se realizar precisa da participação do outro. As tecnologias de informação e comunicação, a cultura digital, têm promovido muito esta maneira de aprender. Um programa de formação de professores para a atuação inovadora deve também promover o entendimento de conceitos relativos à aprendizagem como autoaprendizagem, inter-aprendizagem, aprendizagem colaborativa, aprendizagem por descoberta com pesquisa e aprendizagem significativa, para que possam criar experiências de aprendizagens que tenham significado para seus alunos. Esses também são princípios norteadores de um paradigma curricular inovador, conforme nos orienta Masetto (2011, p. 17): Num paradigma curricular inovador a construção do processo de aprendizagem se orienta pelos princípios da auto-aprendizagem e da inter-aprendizagem, da aprendizagem colaborativa, da aprendizagem por descoberta com pesquisa, da aprendizagem significativa, da aprendizagem que efetivamente integra a prática profissional com as teorias e princípios que a fundamentam em todo o tempo de formação. Para que esses princípios norteadores sejam entendidos pelos professores é necessário a promoção de espaços de formação do professor universitário onde possa haver troca de vivências e experiências, onde os professores possam gerar seus próprios significados e atuar sobre suas própria vivências , desenvolvendo um pensamento crítico em relação às suas práticas. A promoção destes espaços que se transformam em lugares de formação para os professores ainda é um desafio nas instituições de ensino superior. Muitas vezes os Cursos de Especialização em Docência Universitária se constituem nestes lugares dentro dos espaços universitários: O lugar se constitui quando atribuímos sentidos aos espaços, ou seja, reconhecemos a sua legitimidade para localizar ações, expectativas, esperanças e possibilidades. Quando se diz “esse é o lugar de” extrapolamos a condição de espaço e atribuímos um sentido cultural, subjetivo e muito próprio ao exercício de tal localização (CUNHA, 2009, p.119) Mas como criar propostas com estas características? Este tem sido um dos focos do Grupo Formação de Professores e Paradigmas Curriculares (FORPEC) que se compõe de alunos e professores investigadores de instituições públicas e particulares. Citamos aqui como exemplo uma das pesquisas do grupo a respeito de um curso de Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001409 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 Especialização em Docência Universitária que foi desenvolvido durante 4 anos, formou 4 turmas, e foi objeto de pesquisa de doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação: Currículo da PUC- SP. Um dos diferenciais deste curso foi a inclusão da arte através de oficinas de criatividade e expressão e visitas à galerias de arte e museus. Uma das contribuições da presença da arte no currículo do curso foi trazer e proporcionar o uso de outras linguagens, de metáforas, facilitando o questionamento dos conhecimentos dos indivíduos envolvidos, promovendo a reflexão e análise crítica, que são de fundamental importância para que uma transformação ocorra. Na seqüência procuramos descrever uma experiência de gestão inovadora de currículo em cursos de pós-graduação lato sensu, que possuem estruturas curriculares flexíveis, com foco nas necessidades do mercado, utilizam metodologia ativa e preocupam-se e desenvolvem processos de formação de professores. Uma experiência de curso lato sensu na área de Turismo No início dos anos 90 começa a se evidenciar a preocupação com uma melhor formação do profissional em Turismo. Os cursos eram desenvolvidos com a perspectiva de formação para a inserção no mercado de trabalho direcionada para o treinamento operacional e para a aprendizagem de técnicas específicas para o desempenho de uma tarefa ou conjunto de tarefas. Os cursos superiores a partir dessa época adotam o currículo abrangente e generalista o que promoveu a procura por capacitações paralelas que abriram espaço para os cursos de pós-graduação lato sensu. Nesta época, os graduados em Turismo que procuravam os cursos de pósgraduação eram geralmente egressos de cursos superiores de diversas áreas do conhecimento e muitos já trabalhavam no ecoturismo ou no turismo ou tinham interesse em trabalhar, sendo a especialização uma oportunidade de conhecer as particularidades do setor turístico ou aperfeiçoar e otimizar sua atuação profissional. Desta forma a estrutura curricular era constituída por disciplinas com a simples preocupação com a multidisciplinaridade, organizados de forma seriada, unicamente com disciplinas diretamente vinculadas às profissões, visando a formação de profissionais competentes em determinada área ou especialidade. Havia também a preocupação de fazer a aproximação dos cursos com o mercado através de estudos de casos e de contratação de profissionais da área com uma bem sucedida atuação profissional para exercerem a docência. A metodologia que embasava o curso era a prática reflexiva, baseada em Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001410 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 pesquisas teóricas, trocas de informações e experiências com professores-profissionais e estudos de caso. O produto final era uma monografia apresentando como inserir ou incorporar sua aprendizagem à prática do turismo. Em 2000 percebeu-se que este processo de qualificação era discutível: primeiro por se considerar pouco exigente, com propostas de conteúdos e de desenvolvimento de habilidades limitadas e ainda por direcionar para uma atuação fragmentada e isolada em um posto de trabalho. A re-organização da produção decorrente da nova economia globalizada provocou uma mudança no paradigma de qualificação profissional, verificando-se uma demanda crescente por profissionais que associassem ao conhecimento específico uma visão geral da área, propiciando uma atuação polivalente. Criou-se nova estrutura curricular, interdisciplinar, que apesar de ainda estar baseada em disciplinas já trazia a preocupação de que os conteúdos conversassem entre si. Foram criados: um núcleo comum (disciplinas integradoras), um específico e um optativo. Essa metodologia exigiu mudança nos papeis dos professores e alunos. Os primeiros passaram a mediadores de uma aprendizagem mais global sem perder a especificidade, tiveram que ampliar seus conhecimentos por meio de pesquisa e aprender a integrar teoria e pratica de modo mais efetivo, utilizando metodologias diferenciadas e apropriadas a públicos variados. Aos alunos foi exigido maior comprometimento com a construção do conhecimento, maior entendimento do currículo como um todo para ampliação de sua visão da área, maior compreensão de cada componente para integração de temas específicos entre si e com os temas integradores e optativos. Como trabalho final deveriam elaborar um projeto analise de um produto turístico com as etapas diagnóstico e proposição de melhorias a partir dos temas cursados. Em 2007, o contexto de sociedade global participativa e integradora enfatiza o processo de educação continuada, onde todos são constantemente estimulados a aprender, se atualizar, se re-qualificar na busca por conhecimento e competência adequada para responder aos novos desafios, propostos diariamente ao profissional, de forma eficiente no processo e eficaz nos resultados. O aumento do número de formados em turismo e a diminuição de postos de trabalhos do setor tornaram o mercado cada vez mais competitivo, exigindo profissionais atualizados e com pleno domínio dos conhecimentos de sua área de atuação. A expectativa era que o profissional não fosse “treinado” em especificidades, mas, que compreendesse todo o processo produtivo em Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001411 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 que está inserido, se desenvolvesse além do domínio operacional de um determinado fazer e estivesse preparado para enfrentar qualquer tipo de situação e desafios profissionais, e com autonomia no processo de tomada de decisão de como desempenhar suas funções com qualidade. Nesta perspectiva, não basta mais aprender a fazer. É preciso também saber selecionar o quê, o como e o porquê fazer, ou seja, a capacidade de raciocínio, autonomia intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria e espírito empreendedor, bem como capacidade de visualização e de resolução de problemas e firmeza e segurança nas decisões e ações. A proposta do curricular previa a oferta dos componentes de forma integrada, não obrigatoriamente linear, mas, que fosse subsidiando o desenvolvimento da competência para a gestão sustentável do turismo Essa metodologia pressupunha a elaboração de um projeto individual de pesquisa teórica e de campo. Os professores, em atividades colaborativas, em ambientes acadêmicos ou profissionais, presenciam ou virtuais, discutiam os fundamentos, conceitos, metodologias de pesquisa e ferramentas de gestão, acompanhando o trabalho de cada aluno. Esse por sua vez, tinha para si a responsabilidade de construir conhecimento que o diferenciasse competitivamente no mercado e buscava nas atividades do curso e orientações dos professores os subsídios necessários. Em 2010 novas perspectivas se apresentam para o Turismo, com os eventos esportivos e ambientais a serem realizados no Brasil, com a incorporação dos conceitos de Turismo de Experiência e Saúde e bem-estar, com a expansão dos cursos em EAD. Parcerias internacionais com países em estagio de desenvolvimento das práticas de Turismo diferenciadas poderão agregar diferenciais nesse contexto. Sendo assim novo estudo teve inicio para implantação de formatação diferenciada nos curso de pósgraduação em turismo a partir de 2013. A formação de professores para atuarem nesses currículos também passou por processos diferenciados que foram se aperfeiçoando ao longo do percurso. Em 1998 fazia parte da equipe docente “professores-profissionais de mercado” que tiveram sua formação específica de forma empírica. Eram os Turismólogos pioneiros, que havia acreditado nas perspectivas mercadológica da área e haviam investido em pequenos e médios negócios. A docência era a oportunidade de organizar seus conhecimentos e transmiti-los para a formação dos profissionais que consideravam os ideais. Pouco ou nada conheciam sobre didática. O processo de formação estava focado na conscientização do seu papel de professor do ensino superior enquanto Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001412 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 gerentes de situações de aprendizagem, na necessidade de integrar seus conhecimentos com os colegas, na dosagem de suas expectativas de formação de profissionais, no equilíbrio na relação professores e alunos. Nas questões pedagógicas o que pretendia era o uso adequado dos recursos didáticos, o aprimoramento das aulas expositivas dialogadas, a inserção de algumas dinâmicas, e a compressão das possibilidades de aprendizagem nos ambientes profissionais e nas visitas técnicas. Em 2006 o quadro docente já tinha outras características, sendo composto por pesquisadores e estudiosos do turismo para o trabalho pedagógico, mas ainda e sempre contando com o apoio dos profissionais que atuavam no mercado e levavam as discussões da realidade de suas vivências, de suas práticas. O processo de formação já contava com ações coletivas pontuais, como palestras, workshops, participação em congressos. As reuniões de planejamento didático tornaram-se freqüentes para a troca de experiências e reuniões individuais antes do inicio das aulas de cada um, para plenejamento, e ao final das mesmas para avaliação foram implantadas. Já havia disponível na IES para os professores que por iniciativa própria quisessem se inscrever, o Curso de pós-graduação lato sensu em Docência para o Ensino Superior em Turismo, Hotelaria e Gastronomia Em 2010 a instituição decidiu ofertar como educação corporativa gratuita a todos os professores interessados o curso de pós-graduação lato sensu em Docência Universitária citado anteriormente. Para os professores de turismo foram mantidas as reuniões de planejamento coletivas (no início e final do semestre) e individuais a cada início e fim de disciplina. Considerações finais Como foi destacado no início deste artigo, existem vários fatores que tornaram os cursos de especialização lato sensu atraentes, como a possibilidade de conclusão do curso em pouco mais de um ano e a facilidade para sua implantação, pois independem de autorização e na maioria das vezes não necessitam de altos investimentos. Assim, sua expansão tem sido inevitável. Chamamos a atenção que estes aspectos proporcionam uma vantagem para o desenvolvimento de projetos pedagógicos inovadores, mas que é preciso olhar com cautela ao que está se chamando de inovador. Projetos pedagógicos inovadores necessitam de gestores e professores inovadores. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001413 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 Ao trazermos nossa investigação e reflexões sobre gestão de currículos e formação de professores em cursos de pós graduação lato senso esperamos estar estimulando e contribuindo com o debate sobre a pós-graduação lato sensu, a gestão destes cursos, a formação de professores e sua relação com a inovação. Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES nº1 de 08/06/2007. Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 8 de junho de 2007, Seção 1, p.9. CUNHA, Maria Isabel. Trajetórias e lugares da formação do docente da educação superior: do compromisso individual à responsabilidade institucional. Revista Brasileira de Formação de Professores – RBFP. v. 1, n. 1, p.110-128, maio 2009. Disponível em <http://www.facec.edu.br/seer/index.php/formacaodeprofessores/article/view/21/67> Acesso em 01/02/2012. FORPEC – Grupo de Formação de Professores e Paradigmas Curriculares. Disponivel em <http://www.pucsp.br/forpec/> Acesso em 15/02/2012 MASETTO, Marcos T. Inovação curricular no ensino superior. Revista e-curriculum. São Paulo, v.7 n.2, agosto 2011. Disponível em http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum Acesso em 01/02/2012. GAETA, Cecília; MASETTO, Marcos T. Metodologias Ativas e o Processo de Aprendizagem na Perspectiva da Inovação. Anais do Congresso Internacional PBL, USP, SP, 2010. TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional (Professors‟ Knowledge and Professional development). SP: Vozes (2004) ZEICHNER, K. Novos caminhos para o praticum: Uma perspectiva para os anos 90. In A. Nóvoa (Ed.), Os professores e a sua formação (3ª ed.). Lisboa: Dom Quixote, 115138. 1997. Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.001414