Evidências da influência do Clima Organizacional e do Contexto Capacitante na criação do conhecimento: estudo de caso em uma empresa pública de tecnologia da informação e comunicação Lima, André G. B.; Melo, Jairo S. S.; Faustino, José; Braga Filho, Mário O.; Silva, Sandro Tavares Abstract The actions developed by the human resources manager’s aim motivate and to transform this area in a profit center, having active, efficient participation and aligned to the organization business process. Quantify the motivation in himself is a really complicated task. Any organizations use instruments that help to if they approach this concept, through any other tools more tangible trying to evaluate the employer’s satisfaction level about the company, about the leadership and about the working environment. One of the most common this instrument is the Climate Research Organizational. The study finding evidence the existing relation between organizational climate and Krogh’s Enabling Context, analyzing if the created environment facilitates the knowledge management. It concludes with this work that is prudent to pay attention to the relation between organizational climate and the enabling context in order that it can provide the knowledge organizational creation and the generation possibility of a competitive differential. Keywords: Organizational Climate, Enabling Context, Human resources, Knowledge Management, competitive differential. Resumo As ações empregadas pelos gerentes de recursos humanos visam motivar e transformar essa área em um centro de lucro, tendo participação ativa, eficiente e alinhada ao processo de negócio da organização. Quantificar a motivação em si é uma tarefa realmente complicada. Algumas organizações utilizam instrumentos que ajudam a se aproximarem deste conceito, através de sua operacionalização em outros mais tangíveis, procurando avaliar o nível de satisfação do colaborador em relação à empresa, em relação à liderança e em relação ao ambiente de trabalho. Um dos instrumentos mais utilizados é a Pesquisa de Clima Organizacional. O estudo busca evidenciar a relação existente entre o clima organizacional e o contexto capacitante de Krogh, analisando se o ambiente criado facilita a gestão de conhecimento. Conclui-se com este trabalho que é prudente atentar para a relação entre o clima organizacional e o contexto capacitante a fim de que possa proporcionar a criação do conhecimento organizacional e a possibilidade da geração de diferencial competitivo. Palavras Chaves: Clima Organizacional, Contexto Capacitante, Recursos Humanos, Gestão do conhecimento, diferencial competitivo. Introdução No ambiente organizacional atual, o binômio tempo e informação estão sempre em sintonia, por meio do uso de tecnologias cada vez mais avançadas. As parcerias estabelecidas entre as empresas, têm se mostrado como fonte de criação do conhecimento coletivo sobre o negócio, sobre a concorrência e sobre os clientes à medida que as pessoas envolvidas se dispõem a compartilhar o que sabem. Segundo Figueiredo (2005, p. 83), para terem sucesso às empresas precisam, cada vez mais, que o conhecimento se movimente com razoável velocidade. Verifica-se, porém, que sem o reconhecimento da importância das pessoas que compõem internamente essas empresas, considerando-as fonte do aprendizado e interatividade entre os processos organizacionais, o uso intensivo da tecnologia não significa propriamente uma criação efetiva do conhecimento organizacional. Para CAVALCANTE (2001, p. 69) as empresas baseadas em conhecimento, que entendem a importância da capacitação do capital intelectual, estimulam seus gerentes a entenderem que o conhecimento é um ativo que deve ser valorizado e compartilhado. Para obter o sucesso esperado, as organizações precisam valorizar o capital humano, contar com colaboradores motivados, sabedores da importância de suas ações na manutenção da qualidade de vida no trabalho e principalmente capazes de entender que a troca de conhecimentos favorece o crescimento individual e coletivo. Empresas prestadoras de serviços de tecnologia da informação, que necessitam manter pessoal locado nas instalações do cliente, comprovam que o clima organizacional é tão importante quanto sua qualidade técnica e a capacidade de cumprir níveis de serviço. Não existem caminhos pré-definidos para implantação de gestão do conhecimento, no entanto, algumas organizações demonstram preocupação em criar políticas e estratégias de gestão de pessoas, as quais levem em consideração a criação de um ambiente corporativo, favorável ao surgimento do conhecimento organizacional. Em função das considerações apresentadas, o presente estudo se propõe a discutir os desafios enfrentados pela gestão de recursos humanos, em avaliar a motivação dos colaboradores e desenvolver ações que promovam um ambiente favorável à criação de conhecimento. O artigo tem como objetivo geral evidenciar a relação existente entre clima organizacional e contexto capacitante, para que possam representar, de fato, um diferencial competitivo para as organizações. Os objetivos específicos são: apresentar a importância da pesquisa de clima organizacional e do contexto capacitante, expor os fundamentos de contexto capacitante e de clima organizacional e investigar a relação entre eles. Não será objeto de estudo deste artigo, com relação à gestão do conhecimento: estudar seus antecedentes; analisar as melhores práticas para sua identificação; propor modelo de pesquisa de clima organizacional ou de avaliação de contexto capacitante; relacioná-lo – de forma direta – com as demais ferramentas da gestão empresarial. Este artigo mostra-se relevante em função de procurar evidenciar a importância do clima organizacional e do contexto capacitante os quais provêm informações necessárias para que os executivos de recursos humanos possam alinhar suas decisões à estratégia de crescimento da organização e a facilitação da gestão de conhecimento. Para atingir tais objetivos, partiu-se da análise dos resultados de uma pesquisa de clima organizacional realizada por uma empresa pública de tecnologia da informação e comunicação, em suas unidades operacionais localizadas em diferentes estados da federação. Para aplicação da pesquisa do contexto capacitante, foram selecionadas as que apresentaram o maior e o menor índice de satisfação dos colaboradores. Segundo MORESI (2004, p. 11) as pesquisas podem ser classificadas quanto aos fins e quanto aos meios. No que se refere aos fins, este trabalho é descritivo porque expõem 2 características do clima organizacional e do contexto capacitante, buscando evidenciar a relação entre eles. Quanto aos meios, enquadra-se como pesquisa de campo uma vez que foram aplicados questionários nas unidades estudadas. Contexto Capacitante O atual panorama do mundo dos negócios sugere uma alta competitividade entre as empresas. Através do planejamento estratégico as empresas procuram analisar de forma permanente o ambiente onde estão inseridas, estudar a concorrência atual e potencial, avaliar estratégias de parcerias tanto com clientes quanto com fornecedores ou até com empresas do mesmo ramo de atuação, sempre buscando alcançar o cumprimento das metas estabelecidas. Internamente procuram observar o comportamento das pessoas como ponto de partida para entender sua forma de interação e a maneira que elas trocam informações. Embora a competitividade seja uma característica inerente ao ser humano, ela pode minar o espírito de solidariedade entre os membros da empresa, tornando desagradável e improdutivo o ambiente de trabalho. Tal situação induz o individuo a agir de maneira não confiável, a resistir sobremaneira às mudanças, adotar postura reativa, a negar ajuda e a não compartilhar suas experiências. O que se mostra positivo é a adoção de ações que visam combater as práticas condenáveis, marcadas por condutas antiéticas e que enfatizam cada vez mais a necessidade de interação entre os membros de uma organização. Para tanto as organizações buscam a adoção de políticas de gestão de pessoas que fomentem a interação e a confiança mútua. Von Krogh (2001, p. 61) afirma que as pessoas compartilham conhecimento quando sentem que os outros estão dispostos a ouvi-las e suas idéias são consideradas, logo, em um ambiente organizacional não é diferente, as pessoas tendem a compartilhar seus conhecimentos na medida em que se sentem estimuladas a confiarem umas nas outras. Isso explica a importância do contexto capacitante, que, segundo Von Krogh (2001, p. 220), “... é um espaço de conhecimento compartilhado, que encoraja e fomenta a participação em muitos níveis diferentes promovendo a convivência em organizações de alta solicitude”. O conceito de solicitude, embora pareça incompatível com o ambiente de negócios, Von Krogh (2002, p. 66) identifica que ela pode ajudar os gerentes em relação às pessoas, está ligado às ações em que o indivíduo auxilia o outro a aprender, a se desenvolver e a crescer. Ela é fundamental para o processo de criação de conhecimento e, segundo Von Krogh (2002, p. 66 a 71) pode ser definida a partir de cinco elementos: a) Confiança Mútua: sentimento recíproco em que as pessoas aceitam ajuda acreditando nas boas intenções de quem a oferece; b) Empatia Ativa: buscar compreender os outros de forma proativa, atenciosa e sincera. Por meio da observação atenta e da formulação de perguntas explícitas; c) Acesso a Ajuda: disponibilidade tempestiva e eficaz de ajuda aos que necessitam, por parte dos indivíduos que alcançaram elevado nível de excelência pessoal, sendo detentores de relevante conhecimento e que se julguem responsáveis pelo compartilhamento desse conhecimento. É a manifestação concreta da solicitude; d) Leniência no Julgamento: capacidade de levar em consideração todas as circunstâncias ao se emitir juízo sobre uma determinada atitude ou idéia. É a capacidade de ajudar alguém a crescer por meio da experimentação, e aceitando o erro como parte desse processo; 3 e) Coragem: diz respeito à capacidade do indivíduo de admitir a propriedade das experimentações dos outros; submeter suas opiniões e conceitos ao julgamento dos demais e de oferecer opiniões francas e construtivas o longo de todo o processo de criação do conhecimento. Observa-se que o contexto ideal para criação do conhecimento é o que apresenta alto nível de solicitude, contudo, o conhecimento também pode ser gerado em ambientes onde o grau de solicitude é baixo. Esse fenômeno determina a forma como indivíduo captura e/ou transmite conhecimento, conforme demonstrado na tabela a baixo: Conhecimento Individual Conhecimento Social Baixa Solicitude CAPTURA Cada um por si Alta Solicitude TRANSFERÊNCIA Ajuda pelo compartilhamento de insights TRANSAÇÃO Troca de documentos ou de outros conhecimentos explícitos CONVIVÊNCIA Vivendo juntos com um conceito Tabela 1: Criação de conhecimento quando a solicitude é alta ou baixa. Fonte: VON KROGH, George, Facilitando a criação do conhecimento: reinventando a empresa com o poder da inovação contínua. Rio de Janeiro: Campus 2001, p. 72. Clima Organizacional Segundo CHIAVENATO (2000, p. 94) “O conceito de motivação – no nível individual – conduz ao de clima organizacional – no nível da organização.”. O clima organizacional está intimamente ligado ao grau de motivação das pessoas da organização. Quanto melhor for o nível de satisfação das pessoas numa organização, melhor será o clima organizacional, que se traduz em relações de satisfação, de motivação, de interesse e de colaboração. Por outro lado, quando a motivação é baixa, seja por frustrações ou mesmo por dificuldades das pessoas em conseguirem satisfazer suas necessidades, o clima organizacional tende a ser igualmente baixo, caracterizando-se por estados de depressão, apatia, desinteresse, insatisfação e até mesmo por agressividade, quando os membros confrontam a organização abertamente. CHIAVENATO (2000, p. 95) também diz que: “O conceito de clima organizacional envolve um quadro amplo e flexível da influência ambiental sobre a motivação O clima organizacional é a qualidade ou propriedade do ambiente organizacional que: a) É percebida ou experimentada pelos membros da organização; e b) Influencia o seu comportamento.”. Observa-se que Clima Organizacional é a qualidade da relação entre a empresa e seus colaboradores, sob a ótica dos mesmos e que influenciam o seu comportamento e está ligado, diretamente, à maneira como o colaborador PERCEBE a organização com a sua cultura, suas normas, seus usos e costumes, como ele INTERPRETA tudo isso e como ele REAGE, positiva ou negativamente, a essa interpretação. Conclui-se que o Clima Organizacional não pode ser “criado” pela organização, no sentido literal de se produzir alguma coisa num determinado momento, mas é algo que já existe, vivo e atuante, dentro dela, resultante, principalmente, de fatores internos, das decisões tomadas e da maneira como o pessoal é administrado pelos seus chefes, e atinge o colaborador, diretamente, no que diz respeito à percepção que ele tem da empresa, induzindoo a determinado comportamento. 4 É importante ressaltar que os indivíduos se comportam segundo suas necessidades e buscam, ainda que de modo não intencional, alcançar meios de suprir tais necessidades. Isso é perfeitamente descrito na pirâmide das necessidades humanas de Maslow e Herzberg: Figura 1: Pirâmide das necessidades humanas. Fonte: traduzida e adaptada do original disponível na Internet no endereço http://en.wikipedia.org/wiki/abraham_maslow, acessado em 19 out. 2006, às 20:03. Conforme pode ser visto, na base da pirâmide estão às necessidades mais imediatas (ou primárias) dos indivíduos e que dizem respeito aos fatores de manutenção do seu bem estar. No topo estão as mais sofisticadas (ou secundárias) e que focam a motivação propriamente dita. Vale ressaltar que os fatores de manutenção não são capazes de motivar as pessoas, contudo, se eles não forem atendidos, podem levar à desmotivação. Ter conhecimento dessa dinâmica permite aos gerentes de recursos humanos compreenderem o funcionamento desse fenômeno e desenvolverem políticas que explorem esses aspectos do comportamento humano em benefício da coletividade. Evidências da Influência do Clima Organizacional no Contexto Capacitante Segundo BRESCANCINI (2004), o clima organizacional pode ser entendido como a atmosfera do ambiente de trabalho. Refere-se a uma complexa rede de expectativas e percepções individuais e de grupo, permeada por referências estratégicas, organizacionais e por componentes estruturais do contexto do trabalho, que orienta e determina o comportamento de seus integrantes, criando um ambiente com características próprias. Esse princípio incentiva as organizações a definirem processos que estimulem a inovação. Neste aspecto, o contexto capacitante proposto por (KROGH, et al., 2001, p 19), é fundamental para qualquer iniciativa de criação de conhecimento e enfatiza a necessidade de uma atmosfera de solicitude e de bom relacionamento, onde são eliminados os componentes de desconfiança e medo que impedem a criação e o aprendizado mútuo. É possível observar uma proximidade significativa entre o clima organizacional e o contexto capacitante. Ambos possuem em comum o foco no estabelecimento de um ambiente no qual as pessoas se sintam estimuladas a interagirem livremente umas com as outras. A busca por uma atmosfera impregnada pela solicitude é comum aos dois conceitos e serve bem ao processo de gestão e criação do conhecimento organizacional. 5 A figura 2 demonstra a relação entre o clima organizacional e o contexto capacitante na produção de conhecimento: Clima Organizacional Favorece Favorece Contexto Capacitante Favorece É condição Interação entre as pessoas Criação de Conhecimento Figura 2 - Conexão entre Contexto Capacitante e Clima Organizaciona. Fonte; os autores Análise dos Resultados Para a realização deste trabalho foram consideradas duas pesquisas, sendo uma usada para verificar o nível de clima organizacional e a outra para verificar o nível de contexto capacitante. A primeira é denominada Pesquisa de Clima Organizacional – PCO é voltada para verificação do nível do clima organizacional e é realizada pela própria empresa em estudo. Ela ocorre no âmbito de toda a organização, mas para efeito deste estudo consideramos somente os resultados obtidos no âmbito de duas áreas de desenvolvimento de software, de uma das superintendências da organização. As duas áreas foram selecionadas por haverem apresentado, respectivamente, o maior e o menor nível de clima organizacional. A segunda pesquisa, voltada para a mensuração do nível de contexto capacitante, foi elaborada neste trabalho e aplicada nas áreas de desenvolvimento de software selecionadas, com o objetivo de obter a percepção das pessoas com relação a ocorrência dos cinco fatores do contexto capacitante e a disposição para compartilhar e documentar conhecimento. A PCO é realizada a cada biênio, ou por solicitação da alta direção da organização. No ano de 2006 a pesquisa foi aplicada no período de 18 a 29 de setembro, durante duas semanas, utilizando um sítio disponível em sua intranet, como instrumento de coleta e análise dos dados. Um dia após o período de aplicação da pesquisa, os resultados são disponíbilizados aos gestores da pesquisa nas superintendências para consulta. Os resultados usados neste estudo foram obtidos junto à área responsável pela aplicação e análise da PCO no âmbito da superintendência. 6 De acordo com a metodologia da PCO, o nível de clima organizacional é representado pelo nível de satisfação das pessoas. A figura 3 mostra o nível de satisfação de pessoas nas localizações da superintendência escolhida. As unidades localizadas em Fortaleza e no Rio de Janeiro representam os pólos de desenvolvimento de software selecionados para o presente estudo. No pólo de Fortaleza a pesquisa indicou a existência do melhor clima organizacional, com 72,28% de pessoas satisfeitas. No pólo Rio de Janeiro a PCO indicou o clima organizacional mais inferior, com nível de satisfação de pessoas igual a 57,19%, conforme demonstrado na figura 3. Nível de Satisfação de Pessoas no âmbito da Superintendência 80% 72,28% 71,44% 59,70% 57,19% 60% Pólo Fortaleza Sede Pólo Brasília Pólo Rio de Janeiro 40% 20% 0% Nível de Satisfação Figura 3 - Nível de satisfação de pessoas no âmbito da superintendência escolhida Fonte: Pesquisa de Clima Organizacional, ano 2006. A pesquisa direcionada para a mensuração do nível de contexto capacitante foi aplicada numa amostra de 20% do total de pessoas que responderam à PCO, no âmbito dos pólos de desenvolvimento selecionados. Como instrumento de coleta foi utilizado um questionário estruturado, sendo aplicado duas semanas após a realização da PCO. As questões foram agrupadas em três perspectivas: compartilhamento de conhecimento, espaço do contexto capacitante e fatores do contexto capacitante. Na perspectiva “fatores do contexto capacitante” as alternativas de resposta consideraram um intervalo de inteiros de 1 a 5, conforme descrito a seguir: 1.raramente ocorre; 2.ocorre algumas vezes; 3.ocorre moderadamente; 4.ocorre muitas vezes; 5.ocorre freqüentemente. Para calcular o percentual de nível de contexto capacitante considerou-se a quantidade de respostas nas quais foram assinalados os itens 4 e 5 sobre a quantidade de respostas totais daquela área, conforme equação a baixo. 5 NCC QF i 1 i TR 5 Equação 1 - Cálculo do nível de contexto capacitante. onde: NCC = nível de contexto capacitante; QF = quantidade de respostas iguais a 4 ou 5 para o fator do contexto capacitante; TR = total de respondentes da pesquisa de nível de contexto capacitante. 7 O resultado obtido foi comparado, qualitativamente, aos índices de satisfação de pessoas dos dois pólos de desenvolvimento de software. A pesquisa de verificação do nível de contexto capacitante procurou, também, identificar as características dos pólos de desenvolvimento escolhidos, em relação ao compartilhamento de conhecimento e espaço do contexto capacitante, questões de 1 a 9 do questionário, constante no anexo 1. Para definir essas características foi utilizado o modelo de questionário de MERKT (2005, p. 123 a 126), com adaptações para o enfoque deste artigo. Os resultados mostraram que os colaboradores do pólo de desenvolvimento em Fortaleza trocam informações freqüentemente com os colegas do próprio pólo, sobre assuntos técnicos ou dos projetos, na realização de suas tarefas. O que mais estimula a troca de informações é o espírito de equipe e a maior barreira é o ritmo forte de trabalho. Com relação ao interesse pela documentação dos projetos e sistemas, o pólo tem um grau forte, estimulado pelo atendimento obrigatório aos processos corporativos e, mais uma vez, enfrentando como barreira o ritmo forte de trabalho, conforme o tabela 2 que mostra as alternativas com maior pontuação. Característica Freqüência com que as pessoas trocam informações Com quem as pessoas trocam informações Sobre que assuntos as pessoas trocam informações Situações em que as pessoas trocam informações Estímulos para a troca de informações Dificuldade para a troca de informações Grau de interesse em documentar o conhecimento Alternativa - Pontuação Freqüentemente – 62% Colegas do próprio pólo – 77% Técnicos ou dos projetos – 92% Realização das tarefas – 62% Espírito de equipe – 38%; Aquisição de know-how – 31% Ritmo forte de trabalho – 54% Forte – 46% Estímulos para a documentação do conhecimento Atendimento obrigatório dos processos corporativos – 38% Utilização futura na manutenção dos sistemas ou serviços – 31% Dificuldade para a documentação do conhecimento Ritmo forte de trabalho – 54% Tabela 2: características sobre compartilhamento de conhecimento e espaço do contexto capacitante do pólo Fortaleza Para o pólo com menor nível de satisfação de pessoas o resultado mostrou que os empregados trocam informações com a liderança, ocasionalmente, sobre assuntos técnicos ou relativos aos projetos. Para isso são utilizadas as conversas de assuntos pessoais. O que mais estimula a troca de informações é o espírito de equipe e a maior barreira é a falta de um plano de comunicação. Com relação ao interesse pela documentação dos projetos e sistemas, o pólo tem um grau moderado, estimulado pelo atendimento obrigatório aos processos corporativos e enfrentando como barreira, a rigidez e a burocracia desses processos, conforme descreve a tabela 3 que mostra as alternativas com maior pontuação: Característica Freqüência com que as pessoas trocam Alternativa – Pontuação Ocasionalmente – 67% 8 informações Com quem as pessoas trocam informações Sobre que assuntos as pessoas trocam informações Situações em que as pessoas trocam informações Estímulos para a troca de informações Dificuldade para a troca de informações Grau de interesse em documentar o conhecimento Estímulos para a documentação do conhecimento Dificuldade para a documentação do conhecimento Líderes de projetos, gerente sênior ou chefia imediata – 75% Técnicos ou dos projetos – 50% Conversas de assuntos pessoais – 50% Espírito de equipe – 50%. Falta de um plano de comunicação – 50% Moderado – 67% Atendimento obrigatório dos processos corporativos – 100% Processos corporativos formais rígidos e burocráticos – 50% Tabela 3: características sobre compartilhamento de conhecimento e espaço do contexto capacitante do pólo Rio de Janeiro As tabelas 2 e 3 mostram algumas características comuns aos dois pólos de desenvolvimento de software. Em ambos os pólos as pessoas trocam mais informações sobre os assuntos técnicos ou ligados a projetos. Elas são estimuladas a compartilhar pelo espírito de equipe e documentam o conhecimento devido a um sentimento de obrigatoriedade previsto nos processos corporativos. Apesar de existirem características comuns, as referidas tabelas apresentam características discordantes que mostram uma diferente disposição para compartilhar e documentar conhecimento. O pólo Fortaleza apresentou maior freqüência na troca de informações e maior interesse em documentar o conhecimento, em relação ao pólo Rio de Janeiro. Esse resultado apresenta-se coerente com o nível de satisfação de pessoas apontado pela PCO, evidenciando a influência do clima organizacional na formação do contexto capacitante. Conforme demonstrado na tabela 4, a área com maior nível de clima organizacional apresentou maior disposição para compartilhar e documentar conhecimento, enquanto a área com nível de satisfação de pessoas mais baixo apresentou menor disposição para compartilhar e documentar conhecimento. Pólo de Desenvolvimento de Software Fortaleza Rio de Janeiro Nível de Satisfação de Pessoas 72,28% 57,19% Freqüência de Troca de Informações Frequentemente Ocasionalmente Interesse em Documentar Conhecimento Forte Moderado Tabela 4: comparação das características com o nível de satisfação dos pólos de desenvolvimento de software A verificação dos cinco fatores do contexto capacitante – confiança mútua, empatia ativa, acesso à ajuda, leniência nos julgamentos e coragem – evidenciou diferenças consideráveis de um pólo para outro. Conforme a figura 4, o pólo Fortaleza apresentou valores que representam maior nível de contexto capacitante em quatro fatores, a saber: confiança mútua, empatia ativa, acesso à ajuda e coragem. No fator leniência nos julgamentos o pólo Rio de Janeiro apresentou maior nível de contexto capacitante, com 23,08% contra 25% do pólo Fortaleza. 9 Esse resultado demonstra que o nível de ocorrência de leniência nos julgamentos está baixo em ambos os pólos, segundo a percepção dos seus empregados. O fator com maior nível de ocorrência no pólo Fortaleza foi a confiança mútua, com 69,23%, enquanto que no pólo Rio de Janeiro foi o acesso à ajuda que obteve o maior nível, tendo atingido 50%. O fator com menor nível de ocorrência no pólo Fortaleza foi a leniência nos julgamentos, enquanto que no pólo Rio de Janeiro foram a confiança mútua, empatia ativa, leniência nos julgamentos e coragem. Nível de Contexto Capacitante por Fator 80% 60% 40% 20% 0% Confianç Empatia Acesso à Leniência Contexto Coragem a mútua ativa ajuda nos Capacita Fortaleza 69,23% 46,15% 61,54% 23,08% 38,46% 47,69% Rio de Janeiro 25,00% 25,00% 50,00% 25,00% 25,00% 28,57% Figura 4 - Nível de contexto capacitante por fator Considerando o contexto capacitante, o resultado da pesquisa, conforme demonstrado na figura 4, apontou maior índice no pólo Fortaleza. Comparando com o nível de satisfação das pessoas, esse resultado apresentou comportamento coerente, evidenciando, também, uma influência do clima organizacional na formação do contexto capacitante. Na mensuração do nível de clima organizacional, os resultados apontaram uma diferença de 15,09 pontos percentuais entre os pólos, enquanto o nível de contexto capacitante apresentou diferença de 19,12 pontos percentuais, conforme demonstrado na figura 5. Essa considerável diferença percentual entre os pólos valida as conclusões deste estudo. A verificação da coerência entre o nível de clima organizacional, a disposição para compartilhar e documentar conhecimento e o nível de contexto capacitante nos pólos valida, considerado o escopo deste trabalho, a relação entre o clima organizacional e o contexto capacitante na criação de uma atmosfera de relacionamento organizacional favorável à criação do conhecimento. Nível de Satisfação x Contexto Capacitante 80% 60% 40% 20% 0% Nível de Satisfação Nível de Contexto Capacitante Fortaleza 72,28% 47,69% Rio de Janeiro 57,19% 28,57% Figura 5: comparação do nível de satisfação com o nível de contexto capacitante 10 Conclusão Os resultados deste trabalho confirmaram a existência de uma relação entre o clima organizacional e o contexto capacitante, na criação de uma atmosfera de relacionamento organizacional favorável à criação do conhecimento. As análises realizadas apontaram oportunidades para desenvolver os fatores do contexto capacitante em ambos os pólos pesquisados, identificando aqueles que possuem menor nível de ocorrência do contexto capacitante, segundo a percepção das pessoas das respectivas áreas. A aplicação do presente estudo em outras organizações poderá verificar se a relação observada entre as variáveis estudadas se repete e consequentemente subsidiar o desenvolvimento de um modelo teórico que identifique as variáveis do relacionamento entre o clima organizacional e a formação do contexto capacitante. A realização de iniciativas para a melhoria do clima organizacional e do nível de contexto capacitante produzirão efeitos positivos na criação e na gestão de conhecimento nas organizações. 11 Referências bibliográficas BRESCANCINI, Ana Maria. Insatisfeito, satisfeito e motivado. Revista SP.GOV, São Paulo, a. 1, n. 2, out. 2004. Disponível em: <http://www.revista.fundap.sp.gov.br>. Acesso em: 04 nov. 2006. CAVALCANTE, Marcos & GOMES, Elizabeth Braz Pereira & PEREIRA NETO, André Faria de. Gestão de empresas na sociedade do conhecimento: um roteiro para a ação. – Rio de Janeiro – Campus, 2001. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos. – Ed. Compacta, 6. ed. – São Paulo: Atlas, 2000. KROGH, G. V. & Nonaka, I. & Ichijo, K. Facilitando a criação do conhecimento.Rio de Janeiro. Campus, 2001. FIGUEIREDO, Saulo Porfirio. Gestão do Conhecimento: estratégias competitivas para a criação e mobilização do conhecimento na empresa: descubra como alavancar e multiplicar o capital intelectual e o conhecimento da organização. Rio de Janeiro. Qualitymark. 2005. MASLOW, Abrahn. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/abraham_maslow> Acesso em: 19 out. 2006. MORESI, E. A. D. (Org). Manual de Metodologia da Pesquisa. Brasília-DF: Universidade Católica de Brasília – UCB, mar., 2003. MERKT, Mônica. A influência do contexto capacitante no estilo de interação de equipes virtuais: um estudo de caso no setor automotivo. Curitiba, 2005. 138 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifica Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2005. 12 Anexo 1 – Questionário da pesquisa Adaptado de MERKT (2005, p. 123 a 126). Compartilhamento de Conhecimento 1. Como você avalia a freqüência com que as pessoas do seu pólo trocam informações? ( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Ocasionalmente ( )Freqüentemente ( ) Sempre Nas questões de 2 a 3 você pode marcar mais de uma opção, colocando em ordem de prioridade. Ordene seqüencialmente começando com o número 1 (maior prioridade). 2. Com quem as pessoas do seu pólo trocam informações? Área de negócio Clientes Especialistas de outras áreas Líderes de projetos, gerente sênior ou chefia imediata Colegas do mesmo pólo 3. Sobre que assuntos as pessoas do seu pólo trocam informações? Discussão de assuntos técnicos ou dos projetos Coordenação de atividades Alinhamento estratégico Compartilhamento de dicas e experiências Discussão de assuntos administrativos Discussão de assuntos pessoais Espaço do Contexto Capacitante Nas questões de 4 a 6 você pode marcar mais de uma opção, colocando em ordem de prioridade. Ordene seqüencialmente começando com o número 1 (maior prioridade). 4. Em que situações as pessoas do seu pólo trocam informações? Em reuniões formais Situações emergenciais Em fóruns técnicos, treinamentos, seminários e palestras Em encontros informais Nas aulas na universidade Na realização das tarefas Nas revisões ou avaliações de projetos Em vídeo ou áudio conferências Nas conversas de assuntos pessoais 5. Que fatores mais estimulam a troca de informações entre as pessoas do pólo? Espírito de equipe Necessidade de aquisição de know-how Discussão de assuntos pessoais Satisfação com o ambiente de trabalho Cultura organizacional 13 Acompanhamento das atividades das equipes pela liderança Estilo de gestão Valor agregado da informação Qualidade agregada ao produto Qualidade agregada ao atendimento do cliente Instalações físicas (layout, iluminação, acústica, temperatura) 6. Que fatores mais dificultam a troca de informações entre as pessoas do pólo? Falta de espírito de equipe Distância geográfica das áreas de negócio e clientes Falta de um plano de comunicação Diferenças culturais Ritmo forte de trabalho Instalações físicas (layout, iluminação, acústica, temperatura) Cultura organizacional Não agrega qualidade ao produto Não agrega qualidade ao atendimento do cliente Estrutura organizacional Estilo de gestão 7. Como você avalia o grau de interesse em documentar o conhecimento 1 existente no pólo? ( ) Muito fraco ( ) Fraco ( ) Moderado ( ) Forte ( ) Muito forte Nas questões de 8 a 9 você pode marcar mais de uma opção, colocando em ordem de prioridade. Ordene seqüencialmente começando com o número 1 (maior prioridade). 8. Que fatores mais estimulam a documentação do conhecimento existente no pólo? Atendimento obrigatório dos processos corporativos Atendimento aos contratos comerciais com clientes Cultura organizacional Valor agregado da documentação Auto-motivação dos envolvidos Manutenção da segurança dos dados, sistemas ou serviços Interesse em compartilhar o conhecimento adquirido Apoio a tomada de decisão Registro da história do projeto Utilização futura na manutenção dos sistemas ou serviços 9. Que fatores mais dificultam a documentação do conhecimento existente na empresa? Ritmo forte de trabalho Baixo valor agregado da documentação Necessidade de atualizações constantes Natureza tácita do conhecimento Processos corporativos formais rígidos e burocráticos Desigualdade de conscientização sobre a importância da documentação do conhecimento Inadequação das tecnologias de comunicação ou informação no cliente Cultura imediatista Clientes não fazem questão da documentação 1 Pode ser tanto individual como coletivo, tanto tácito como explícito. Exemplo: competências existentes, produtos desenvolvidos, requisitos dos usuários. 14 Fatores do Contexto Capacitante Ocorre freqüentemente Ocorre muitas vezes Ocorre moderadamente Fatores Ocorre algumas vezes Grau de ocorrência Raramente ocorre 10. Avalie as questões abaixo marcando um “X” na opção correspondente, segundo a forma como você percebe o seu ambiente de trabalho. Confiança mútua (comportar-se de maneira coerente com relação aos outros) Empatia ativa (procurar compreender os outros proativamente) Acesso à ajuda (oferecer apoio real e tangível a quem necessita dele) Leniência nos julgamentos (compreender o valor da experimentação e deixar que se cometam erros) Coragem (para admitir a experimentação dos outros, para submeter seus conceitos ao julgamento dos demais, para manifestar opiniões e oferecer feedback) 15