PIONEIRAS: VIAÇÃO GARCIA E PERNAMBUCANAS ACIL – SETENTA ANOS DE UNIÃO E LUTA AS Apenas duas empresas radicadas em Londrina conseguiram se manter ao longo das sete décadas de existência da Associação Comercial e Industrial. Uma é “caseira”, e mais antiga ainda que o município, pois foi criada em 15 de janeiro de 1934 – 10 meses e 25 dias antes de nossa emancipação -, e é a Viação Garcia. A outra, apesar de procedente do Nordeste e ramificada em todo o País, está de tal maneira incorporada à vida da Cidade que faz parte de sua paisagem e história social e econômica. São as Casas Pernambucanas, estabelecidas desde sua fundação, em 3 de fevereiro de 1935, no mesmo local – a esquina da avenida Paraná com a Rio de Janeiro. A Companhia Rodoviária Heim & Garcia, primeira denominação da Garcia, que passaria a ter o nome atual em 1955, surgiu da desistência da Companhia de Terras Norte do Paraná, colonizadora da região, de continuar efetuando o serviço de transporte de compradores dos lotes que comercializava do Rio Tibagi até a sede de seu empreendimento, que era aqui. A “jardineira”, caminhão Ford adaptado para o transporte de passageiros, utilizado no serviço foi oferecido ao mecânico alemão Mathias Heim que, por falta de recursos para tocar sozinho o negócio, associou-se ao espanhol Celso Garcia Cid, que, além de capital, possuía outro requisito para ser incorporado à empresa - sabia dirigir. A jardineira, batizada de “Catita”, transformou-se assim no embrião de uma PÁGINA 19 empresa que hoje possui uma frota de mais de 500 ônibus e controla outras empresas de transporte rodoviário, duas de passageiros – a Ouro Branco e a Princesa do Ivaí – e uma de encomendas, a H24. A sociedade de Heim e Garcia Cid durou apenas três anos. Heim tinha dificuldade em se adaptar à região. O Norte do Paraná era um povoado aqui, outro acolá, e todos cercados de mato por todos os lados cortados por trilhas estreitas por onde a Catita tinha que se esgueirar, e ele preferiu ir embora. Seu lugar na sociedade foi preenchido por outro espanhol. José Garcia Villar, que tomou conhecimento da empresa por meio de um anúncio publicado, a pedido de Celso Garcia, no jornal “O Estado de S. Paulo”. O anúncio oferecia em sociedade metade da empresa de transportes. “ O Norte do Paraná era um povoado aqui, outro acolá, e todos cercados de mato por todos os lados A sociedade dos dois Garcia está na terceira geração. A empresa é hoje comandada por José Paulo Garcia Pedriali e Gustavo Garcia Cid e os tempos do desconforto – não era fácil enfrentar a poeira e a lama a bordo da “Catita” e de seus primeiros sucessores e a fumaça expelida pelo consumo de gasogênio, combustível à base de carvão, durante a Segunda Guerra Mundial – estão definitivamente suplantados. A moderna frota de ônibus e o zelo no atendimento a seus clientes fizeram com que a Garcia fosse a melhor pontuada, nos últimos três anos consecutivos, pelos usuários do serviço das empresas de transporte coletivo de grande porte. As pesquisas foram realizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), órgão ligado ao Ministério dos Transportes. ” NA INAUGURAÇÃO, TRAJE DE GALA E BANDA DE MÚSICA A GRANDE LOJA DA ÁREA CENTRAL DO RECÉM-CRIADO MUNICÍPIO DE LONDRINA MANTÉM ATÉ O ENDEREÇO, A ESQUINA DAS AVENIDAS RIO DE JANEIRO E PARANÁ PÁGINA 20 A bandinha não poderia faltar, e ela estava lá naquele 3 de fevereiro de 1935, quando as Casas Pernambucanas abriram suas portas ao “distinto público” pela O prédio, de apenas um andar, possuía duas portas voltadas para a Rio de Janeiro, duas para a Paraná e uma para o entroncamento das duas. O gerente Jacob fora saudado pelo “Paraná Norte”, o pioneiro da imprensa escrita de Londrina, que lhe desejava, “pelas grandes sympatias que tem sabido conquistar em nosso meio”, a realização de “grandes negócios para a filial a seu cargo”. ACIL – SETENTA ANOS DE UNIÃO E LUTA primeira vez. Cerca de 200 pessoas, em trajes de festa, participaram da inauguração, comandada pelo gerente Jacob Carneiro da Ponte, que posou para a foto oficial postado numa das portas do estabelecimento, e ao lado de um subordinado, trajando paletó e camisa brancos e gravata-borboleta preta. O prédio, pintado de amarelo, era ornado com o símbolo que caracterizou a empresa durante décadas – um olho dentro de um losango – e em suas colunas apregoava-se, pintadas em preto, as vantagens oferecidas pelo estabelecimento: “preços baixos”, “tecidos resistentes”, “padrões modernos” e “máxima seriedade”. “ No dia da inauguração, não havia construção alguma abaixo do prédio da loja No dia da inauguração das Pernambucanas, abaixo da qual, na Rio de Janeiro, não havia construção alguma e a Praça Marechal Floriano não possuía calçamento ainda, o jornal noticiava o grande empenho das autoridades sanitárias em combater a malária, também conhecida na época por maleita, e trazia um anúncio enorme da Companhia de Terras sobre seu empreendimento, que propagava, entre as vantagens locais, a inexistência da saúva. José Ebiner, representante da Chevrolet, anunciava o modelo Tigre 131 e o Gigante 157, “adaptados ao que precisar”, e a coluna social trazia duas fotos – um “pic-nic” na Fazenda Palhano e as “senhoras e senhoritas da sociedade de Londrina, ante a nossa objectiva, no momento de iniciarem uma kermesse em benéfico da Igreja Matriz”. O relatório da Posto Médico de Jatahy, atual Jataizinho, registrara 508 pessoas infectadas com a malária no mês anterior e garantia que “o estado sanitário da zona dia a dia melhora”, prevendo “em breves dias (...) extinguir completamente o surto epidêmico (...) da malária na riquíssima zona por ella invadida”. PÁGINA 21 As Pernambucanas passariam por sua primeira grande reforma em 1942, ano em que, segundo o jornal, eram proprietárias de “quase todo um quarteirão na cidade”. O gerente Jacob fora substituído por José Longo, que “vivamente emocionado, transpirando alegria, entusiasmo (...) entregou ao público as construções novas”, informava o “Paraná Norte”. O jornal também anotaria que o gerente, “entre delirantes palavras como intérprete do pensamento de seu chefe (Frederico Lundgren, fundador da rede) asseverou que outras (lojas) de maior vulto e projeção serão dentro em pouco levantas para a glória e grandeza de nosso município”. A loja passaria por nova ampliação no ano seguinte. A profecia de José Longo, no entanto, não se concretizou, mas as Pernambucanas, agora cercadas por edifícios e concorrentes por todos os lados, era, desde o início, um empreendimento duradouro. MÁQUINA DE ARROZ LONDRINA, A “CAÇULA” Ela é a “caçula” dos empreendimentos pioneiros de Londrina e uma empresa de pequeno porte, mas soube resistir, mantendo-se fiel ao seu estilo, às transformações impostas pela vida moderna. A Máquina de Arroz Londrina ainda está instalada na modesta construção de madeira na qual se originou, em 1938, na esquina das ruas Uruguai e Santa Catarina, e a maioria de seus produtos – arroz, feijão e milho, principalmente – são expostos em tambores de ferro. Nada de prateleiras, freezeres, gôndolas, máquinas registradores, anúncios de ofertas aqui e ali: nada!, tudo ali é de uma simplicidade espartana. A empresa foi aberta pelo senhor Mishiama, cujo primeiro nome Cláudio Rodrigues Sales, o atual proprietário – que aluga o prédio dos sucessores do fundador -, não sabe informar. Sales preserva o estilo imposto pelo antecessor desde que assumiu o negócio, há 30 anos. O carro-chefe da Máquina de Arroz Londrina, administrada grande parte do tempo pelo filho do proprietário, Antonio Carlos, é o arroz extra-velho, selecionado ali mesmo numa máquina eletrônica e trazido do Rio Grande do Sul. O milho e o feijão são cultivados em duas propriedades da família, em Londrina e Ibiporã. PÁGINA 22 A empresa mantém o estilo original, mas ressente-se, admite Sales, da concorrência das grandes redes de supermercados e da diminuição do consumo de seus ingredientes básicos, o tradicional arroz-feijão. “Antes, todos almoçam e jantavam arroz e feijão, agora o jantar foi substituído pelo lanche”, comenta o proprietário. Prédio de madeira onde funciona a empresa foi construído em 1938, apenas um ano depois de fundada a ACIL