Texto parcial da palestra apresentada durante o 7º Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias em novembro de 2014, publicado com autorização da autora. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM BIBLIOTECONOMIA DOCUMENTAÇÃO: DESAFIOS E CAMINHOS POSSÍVEIS E Isabel Cristina Ayres da Silva Maringelli 1) INTRODUÇÃO A problematização do acesso à informação contida nos acervos culturais é um dos pontos de maior interesse para o estudo da produção e circulação do conhecimento em contextos sociais. Diante das questões advindas com a pósmodernidade, elementos como multiculturalidade e interculturalidade devem ser considerados para a elaboração de novas estratégias de comunicação desses acervos com os públicos. Além disso, esses grupos sociais também são produtores de cultura e têm buscado novos usos das tecnologias para a legitimação de seus produtos culturais. A apropriação do conhecimento por diversos grupos se dá de maneira particular e nem sempre a mediação leva em consideração a diversidade. Esses fatores têm demandando um questionamento constante desses equipamentos culturais que buscam se reinventar e repensar seu papel na sociedade atual. Diante dessa premissa, descreveremos a seguir alguns pontos para reflexão sobre a importância da participação em órgãos internacionais, como a International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA) e o Grupo de Informação e Documentação em Arte Latinomericana (arteLA), duas instâncias que contam com a participação de profissionais de diversas partes do mundo que atuam em gestão de acervos culturais e buscam formas de cooperação que possam aproximar experiências e possibilitar o intercâmbio de informações. 2) COMITÊ DE BIBLIOTECAS DE ARTE DA INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS (IFLA) A IFLA é o órgão de maior representatividade das instituições vinculadas às bibliotecas e centros de informação e sua conferência anual congrega profissionais de vários países. Ela está organizada em comitês e grupos de interesse, os quais têm incentivado discussões e a elaboração de diretrizes para o desenvolvimento das práticas bibliotecárias em geral, o que pode ser comprovado nos diversos guias e diretrizes já publicados em língua portuguesa, além da recente Declaração de Lyon sobre o Acesso à Informação e Desenvolvimento, que busca envolver a Organização das Nações Unidas e inserir temas de acesso à informação na agenda do desenvolvimento sustentável mundial. O Comitê de Bibliotecas de Arte busca representar bibliotecas e organizações que atuam na área de documentação textual e visual para as artes visuais, incluindo artes plásticas, artes aplicadas, design e arquitetura. O Comitê se esforça para melhorar o acesso à informação sobre arte aos usuários das bibliotecas de museus, bibliotecas de arte ligadas a departamentos de arte das instituições educacionais, bibliotecas públicas, departamentos e agências governamentais, bibliotecas em centros culturais nacionais, faculdades, universidades dentre outros. Existe também a preocupação com a criação, estudo e fruição das artes visuais por meio da atuação dessas bibliotecas e por meio do incentivo de atividades das sociedades nacionais e regionais de bibliotecários e curadores de recursos visuais. Uma das premissas do Comitê é atuar como um fórum internacional para o livre intercâmbio de informações e materiais sobre a arte e promover os objetivos das atividades centrais da IFLA. Seguindo os princípios de atuação da IFLA, a Seção de Bibliotecas de Artes busca consolidar a representatividade de países ao redor do mundo. Descrevemos a seguir alguns tópicos discutidos na última reunião interna do Comitê, realizada em agosto de 2014, em Lyon, na França: a) Apresentação do projeto Art Discovery Group Catalogue, realizado em parceria com a Online Computer Library Center (OCLC). O projeto apresenta um catálogo especializado em artes, que pode ser consultado no portal Worldcat. b) Discussão de assuntos internos, tais como a atualização das informações no site da IFLA e a possibilidade de criação de um blog para publicação dos conteúdos do Comitê. c) Planejamento da Conferência Anual de 2015, que será realizada na Cidade do Cabo, na África do Sul, e perspectivas para a Conferência Anual programada para 2016, em Ohio, nos Estados Unidos. 3) ARTELA - GRUPO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO EM ARTE LATINOAMERICANA O Grupo de Informação e Documentação sobre Arte Latinoamericana foi formado durante a 41ª Conferência Anual da Art Libraries Society of North America (ARLIS/NA), realizada em Pasadena, Califórnia, nos Estados Unidos. Participar da Conferência foi uma oportunidade única de entrar em contato com as discussões mais atuais que permeiam os serviços de informação em arte. A Conferência também serviu como uma plataforma para a discussão de questões técnicas, de pesquisa e desenvolvimento relacionados à Ciência da Informação. Esta experiência foi possível graças a uma bolsa integral da Getty Foundation, oferecida a 15 profissionais da informação na América Latina. Este grupo, depois de ter participado dessa conferência, resolve, por meio da criação do arteLA, continuar e ampliar sua rede de contatos na América Latina. Um dos objetivos, de longo prazo do grupo é a organização de um Portal de Arte Latinoamericana que tenha como premissas os seguintes objetivos: investigar, reconhecer, coletar, organizar, documentar e difundir o patrimônio artístico da região. O Grupo pretende ampliar as conexões entre os profissionais da informação arte da América Latina, pois uma de nossas crenças é a de que o compartilhamento de conhecimento especializado contribui para o desenvolvimento integral da sociedade e de seus membros. 4) BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS EM MUSEUS Diversos autores têm buscado uma aproximação entre a biblioteconomia, arquivística e museologia, como é o caso da Professora Johanna Smit.1 Contudo, nossa apresentação não pretende abordar essa questão. Almeida (2007, p. 254), abordou a questão da fronteira tênue entre o museu, arquivo e biblioteca: "Em razão da diversidade de tipos de documentos, objetos e obras de arte que constituem as coleções de arte, a diferenciação clássica entre biblioteca, arquivo e museu nem sempre se aplica". Nesse contexto, propomos a reflexão do papel e função das bibliotecas especializadas em museus. É sabido que as bibliotecas e museus compartilham missões semelhantes: eles adquirem, descrevem e tornam acessíveis registros da experiência humana (KOOT, 2001, p. 248, tradução nossa). Segundo Robinson (2012), as bibliotecas, arquivos e museus estão alinhados na função básica de acumulação e preservação de informação, portanto eles podem ser agrupados como ‘instituições de memória’, já que eles compartilham processos similares para administrar suas coleções e mantêm processos básicos de catalogação e descrição de coleções. Assim sendo, pressupõe-se que o que está em jogo são os desafios de tornar esses acervos acessíveis ao público. O papel da Biblioteca, Arquivo e Centro de Documentação dentro do museu é de inquestionável relevância para a pesquisa e documentação. Diante disso, elencamos alguns dos desafios que se apresentam para os profissionais que atuam em arquivos, centros de documentação ou bibliotecas de museus: vinculada; 1 SMIT, Johanna W. O documento audiovisual ou a proximidade entre as 3 Marias. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 26, n. 1/2, p. 81-85, jan./jun. 1993. Desenvolver as atividades de apoio à pesquisa – sua função primária; inseridas; externos; e dar visibilidade à atuação das bibliotecas e arquivos especializados, para que eles possam ser fortalecidos ser reconhecidas para além da função de apoio. A informação gerada pelo museu, seja por meio da produção de documentos arquivísticos, ou pela publicação de catálogos e outros tipos de impressos ou documentos eletrônicos, ao lado de publicações sobre determinada obra ou artista, além das obras raras e especiais, compõem um corpus de fontes e recursos de pesquisa que requerem a mesma atenção para os aspectos de conservação e preservação que o objeto museológico demanda. 5) CONCLUSÕES Os equipamentos culturais aqui mencionados devem buscar uma integração entre os acervos existentes em uma mesma instituição que priorize o acesso às coleções. Novos serviços devem ser planejados sob essa perspectiva, levando-se em conta que o usuário busca informação, não importa se esta se encontra na biblioteca, arquivo ou museu. Ainda que os visitantes dos museus nem sempre correspondam ao público dos centros de informação especializados, o diálogo se faz necessário, tendo em vista que todas as instituições mencionadas têm seu compromisso com a preservação e difusão de patrimônio cultural. Nessa direção, a troca de experiências com colegas de outros países pode trazer novas ideias e contribuições para uma reflexão mais ampla sobre o tema. 6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Maria Christina Barbosa de. A informação nas áreas de arte: um olhar além das práticas. In: LARA, Marilda Lopes Ginez de; FUJINO, Asa; NORONHA, Daisy Pires (Orgs.). Informação e contemporaneidade: perspectivas. Recife: Néctar, 2007. HERNÁNDEZ, Francisca Hernández. El lugar de la biblioteca en el museo. Revista General de Información y Documentación, v. 7, n. 2, p. 277, 1997. SMIT, Johanna Wilhelmina. Arquivologia/Biblioteconomia: interfaces das Ciências da Informação. Informação & Informação, v. 8, n. 2, dez. 2003. Disponível em: <www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/1713/1464>. Acesso em: 8 jun. 2014. Isabel Cristina Ayres da Silva Maringelli Isabel Cristina Ayres da Silva Maringelli Isabel Cristina Ayres da Silva Maringelli é mestranda em Ciência da Informação na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Especialista em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Bacharel em Biblioteconomia e Documentação pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Coordenadora da Biblioteca Walter Wey e do Centro de Documentação da Pinacoteca do Estado de São Paulo. E-mail: [email protected]