Contribuições da Psicologia e da Pedagogia para o Ensino a Distância em Cursos do Exército Brasileiro CAROLINE CUNHA DA SILVA, NÁRPIA MARIA DE ARAÚJO SILVA, PAOLO ROSI D'AVILA1 Resumo. O Ensino a Distância vem sendo muito utilizado em Instituições de Ensino, pelas inúmeras vantagens que oferece, e atualmente, Exército Brasileiro investe no aprimoramento profissional de seus militares, através de cursos e estágios nessa modalidade de ensino.O presente trabalho tem por finalidade o estudo das contribuições teóricas da Psicologia e da Pedagogia relevantes ao aperfeiçoamento da modalidade de Ensino a Distância no âmbito do Exército Brasileiro, contextualizando este ensino no cenário educacional atual e sua utilização no contexto do Exército Brasileiro. No desenvolvimento do trabalho será feita análise dos temas: aprendizagem autônoma, aprendizagem segundo a Teoria do Desenvolvimento de Vygotsky, motivação, o papel do professor no Ensino a Distância e avaliação no Ensino a Distância. Dentro dos aspectos estudados, verificou-se que a mediação pedagógica, o construtivismo e a motivação são fatores contribuintes para o sucesso do Ensino a Distância. As contribuições deste trabalho poderão servir de base para um futuro aperfeiçoamento no processo de ensinoaprendizagem em cursos a distância no Exército Brasileiro. Palavras-chave: Psicologia, Pedagogia, Ensino à Distância, Exército Brasileiro. Abstract. The Distance teaching has been used quite a lot by teaching institutions due to the great amount of advantages that it offers. The Brazilian Army has invested in the qualification of the military, through courses and trainee programs centred on this way of teaching. This work aims to study the theorical contributions of psychology and pedagogy to the improvement of the distance teaching in the Brazilian Army, as well as to consider this tipe of teaching in the context of the present day education and also in the context of the Brazilian Army. In the development of the work, it will be done the analysis of the following subjects: independent learning, learning according the Development Theory by Vygotsky, motivation, and the role of the teacher and the evaluation in Distance Teaching. Witin the aspects considered, it was observed that pedagogical mediation, constructivism and motivation are factors that contribute to the success of distance teaching. The contributions of this cientific article will serve as basis to a future improvement in the teatching-learning process in distance courses in the scope of the Brazilian Army. ... Key-words: Psychology, Pedagogy, Distance Teaching, Brazilian Army. 1 Introdução A Educação a Distância (EAD) apresentase como uma modalidade de educação adequada para atender às novas demandas educacionais decorrentes das mudanças científicas e tecnológicas do século XXI. A utilização dessa nova modalidade de ensino, decorrente do novo panorama mundial, relaciona-se diretamente com as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC’s). Segundo Burnham (2004), há a existência de dois mundos, um real virtual e outro real concreto, sendo estes mundos espaços onde o indivíduo pósmoderno flexibiliza-se e adapta-se a essas 1 novas tecnologias, condicionando novas formas de atuar, ser e pensar do indivíduo. O ensino a distância oferece um ambiente virtual onde o discente re-elabora o significado do conhecimento, através dos objetos técnicos e artificiais que são por ele criados (Bairon & Petry, 2000). As TICs permitem simulações em realidade virtual, possibilitando autoconhecimento e autoaprendizagem. As vantagens encontram-se na autonomia do aluno em construir seu próprio conhecimento e de se autogerenciar, deixando de ser aquele que somente reproduz o que é ensinado pelo professor. Professor e aluno trabalham de forma EsAEx - Escola de Administração do Exército, Rua Território do Amapá, Nº 455, Pituba, Salvador – BA, Brasil. [email protected], [email protected], [email protected] interativa, em comunidades e espaços simultâneos de aprendizagem. O Exército Brasileiro vem empregando esta modalidade com sucesso e possui como órgão responsável pela execução, planejamento, implementação e avaliação dos cursos e estágios a distância o Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP). Os cursos desenvolvidos no âmbito do Exército devem ser bem planejados e adaptados às normas da instituição e do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Isso fornece aos cursos maior fidedignidade, credibilidade e reconhecimento perante a sociedade e o próprio Ministério. Frente a essa demanda de se empregar essas novas tecnologias no ensino e por uma constante avaliação destas, vê-se a necessidade de aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem no âmbito do Exército Brasileiro em todas as modalidades de ensino. É necessária uma avaliação corretiva, objetiva e crítica da realidade pedagógica existente. No presente trabalho serão estudadas contribuições teóricas da Psicologia e da Pedagogia relevantes ao aperfeiçoamento da modalidade de Ensino a Distância no âmbito do Exército Brasileiro. A Psicologia, com as contribuições teóricas que abrangem as áreas da Psicologia da Educação, do Desenvolvimento e da Aprendizagem, oferece fundamentos teóricos úteis para a estruturação de programas de Ensino a Distância. A Pedagogia, com conhecimentos que permeiam o campo do processo ensinoaprendizagem, passando pela abordagem construtivista e pelos fundamentos da didática no ensino também favorecem o aperfeiçoamento do EAD no Exército Brasileiro. No desenvolvimento (parte 3 e 4) deste trabalho serão feitas análises sobre os temas: aprendizagem autônoma, aprendizagem segundo a Teoria do Desenvolvimento de Vygotsky, motivação, o papel do professor no Ensino a Distância e a avaliação no Ensino a Distância. A metodologia utilizada para a elaboração do presente trabalho foi a pesquisa bibliográfica acerca da utilização do EAD, das práticas pedagógicas adotadas nesta modalidade, das contribuições da Psicologia para otimização dessas práticas, bem como um estudo sobre o contexto do Ensino a Distância no Exército Brasileiro. Os objetivos deste artigo são: contextualizar a Educação a Distância no cenário educacional atual e sua utilização no contexto do Exército Brasileiro; descrever as contribuições da Psicologia e Pedagogia para elaboração de programas e cursos a distância no âmbito do Exército Brasileiro. A relevância deste estudo está pautada na produção de conhecimento científico próprio para ser aplicado no ensino do Exército Brasileiro, fazendo-se valer das peculiridades encontradas nessa Instituição. 2. O Contexto da Educação a Distância no cenário educacional atual. Segundo Gonzalez (2005), a modalidade de Ensino a Distância vem sendo muito utilizada pelas Instituições de Ensino, pelas inúmeras vantagens que oferece, tais como: diminuir as distâncias geográficas, possuir maior flexibilidade e maior rapidez na transmissão de informações, reduzir os custos, atingir maior número de brasileiros nas partes mais remotas do país e acelerar a preparação de profissionais da área de ensino. Essa preparação de profissionais de ensino, de acordo com Perrenoud (2000), é necessária devido à transferência do impresso para os suportes digitais, que supõe que o professor saiba o que está disponível nesse campo, obrigando-o a uma constante atualização. Há a passagem de um universo documental limitado (dentro da sala de aula), para um ilimitado, o do hipertexto. Burnham & Mattos (2004), também argumentam sobre esse tópico, descrevendo que a EAD impõe a necessidade de uma nova forma de aprendizagem por parte de quem planeja, desenvolve e avalia, e também requer a construção de uma nova maneira de compreender o processo de ensino-aprendizagem. Alguns dos aspectos relevantes nos cursos em EAD são o contexto de ensino, ou seja, a separação física de quem ensina e de quem aprende; a relação aluno/professor, sendo esta diferenciada do ensino presencial justamente pela questão espaço/tempo; e a metodologia utilizada, em que há a necessidade de se buscar estratégias de ensino contextualizadas para esse novo ambiente, visando a redução da distância interpessoal. Com base nessa diferenciação entre a modalidade de ensino presencial e a modalidade a Distância, procurou-se pensar em uma regulamentação da prática desta última. A Educação a Distância foi oficializada no Brasil em 1996 pela lei de Diretrizes e Bases da Educação NacionalLDB (lei nº9394, de 20 de dezembro de 1996). Após esse fato e com o advento da internet, os antigos cursos por correspondência se modernizaram, utilizando novos recursos técnicos de comunicação, como CD-ROMs, tele e videocoferências interativas, DVDs, e-mail, hipertextos (HTML), dentre outros. A oferta de programas de pós-graduação stricto sensu, mestrado e doutorado a distância, ainda será objeto de regulamentação específica, onde os critérios de reconhecimento ainda estão em fase de definição pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Capes/MEC. Os cursos de pósgraduação lato sensu, chamados de “especialização” também necessitam de regulamentação para que seus certificados tenham validade . Como o Ensino a Distância é algo novo, segundo Gonzalez (2005),existem alguns problemas observados com essa modalidade de ensino no Brasil. Há uma descontinuidade dos programas oferecidos, sem prestação de contas à sociedade, inexistência de estruturas institucionalizadas para a gerência de projetos, programas pouco adaptados às reais necessidades do país e ausência de critérios de avaliação destes programas. Já Neves (1998) e Barbastefano & cols. (2002), discorrem sobre a atuação do MEC voltada para a avaliação da qualidade dos cursos oferecidos nesta modalidade de ensino, ainda que de forma incipiente. Os fatores avaliados referem-se a planejamento pedagógico e curricular, material didático, interação docentes-discentes, gestão acadêmico-administrativa e infra-estrutura . 3. O Contexto da Educação a Distância no Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro vem ao longo dos anos investindo no aprimoramento profissional de seus militares, através de cursos, estágios e do melhoramento do ensino. A fim de aprimorar esse processo, de acordo com Faria, (2000), o Exército conta com um Plano de Estruturação que visa manter a Instituição ajustada à estatura político-estratégica da Nação. Para atingir esse objetivo, o Exército vem oferecendo cursos de Ensino a Distância (CEAD), através do Colégio Militar de Manaus (CMM) e do Centro de Estudo de Pessoal do Exército (CEP), em parceria com Universidades do Rio de Janeiro. Os cursos desenvolvidos possuem respaldo legal de acordo com a legislação de ensino no Exército Brasileiro, conforme a Lei Nr 9786, de 8 de fevereiro de 1999 e o decreto nº 3182, de 23 de setembro de 1999. O CEP, por intermédio do Núcleo de Ensino a Distância (NuEAD), presta consultoria às iniciativas de se montar cursos a distância nas escolas militares. Existe a intenção de se criar um laboratório onde profissionais da área de Pedagogia, Informática e Webdesigners trabalharão juntos em prol do desenvolvimeto de conhecimentos necessários para o aprimoramento desses cursos. Existem quase 8000 alunos matriculados em cursos a distância de língua estrangeira no EB, através do sistema telensino. Devido às diferentes localizações geográficas de tais alunos, verifica-se a necessidade de mudanças nos modelos e práticas em vigor, lembrando das dificuldades de comunicação daqueles que se encontram em longínquas guarnições. De acordo com a Normas Internas de Avaliação do Ensino e da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (NIAE)(DEPA)-(2004), o ensino a distância dentro dos Estabelecimentos de Ensino do Exército Brasileiro, deve ser participativo, apesar da distância, partir da realidade e fundamentarse na prática do estudante. Assim como a modalidade presencial, o EAD deve desenvolver nos discentes comportamentos pró-ativos, como atitudes críticas e criativas, deve propiciar um ambiente reforçador e acolhedor, abrindo caminho para a expressão e a comunicação, promover processos, obter resultados, fundamentar-se na produção de conhecimentos e, finalmente, desenvolver uma atitude pesquisadora. Essa prática em EAD, de acordo com Faria (2000), é consequência da implementação, em 1995, pelo DEP, do Grupo de Trabalho para Estudo da Modernização do Ensino (GTEME), com objetivo de trilhar um caminho para a melhoria do ensino. O GTEME através de seus estudos concluiu que o modelo pedagógico antes aplicado no EB possuía uma postura tradicional, privilegiando a transmissão do saber de forma passiva, a ênfase na memorização, primazia da quantidade de conteúdo nos currículos em detrimento da qualidade e verificações de aprendizagem como centro do processo. Em 1996 o grupo de estudo elaborou o documento “Fundamentos para a Modernização do Ensino”, que propunha ações voltadas à modernização (Júnior, J.A.2005). Algumas modificações foram feitas na legislação de ensino, destacando-se a compatibilização e integração do ensino no Exército ao Sistema de Educação Nacional (LDB). Foram alvo de avaliação os currículos dos estabelecimentos de ensino do Exército Brasileiro, sendo eliminado o excesso de conteúdo, e incluídos objetivos da área afetiva e atividades complementares de ensino. As aulas passaram a contar com tempos não presenciais. Outro fator importante foi a adoção de técnicas mais dinâmicas, com maior participação do aluno e busca ativa de conhecimento. Essas modificações aplicam-se também à modalidade de Ensino a Distância, de acordo com a diretriz para o Ensino a Distância no Exército Brasileiro (EAD/EB – Port Nr 062/EME, de 31 Out 1994). A avaliação dessa modalidade de ensino no Exército Brasileiro é feita com base nas Normas Internas de Avaliação do Ensino e da Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (NIAE-DEPA), observando-se a atuação do discente (cognitiva); atuação da tutoria e da orientação aos discentes; condução do curso de ensino a distância e nível de atualização dos documentos de currículos; adequação do material pedagógico à realidade do discente considerando a faixa etária, bem como à modalidade do curso, com emprego da linguagem dialógica; e condições da infraestrutura da Seção de Ensino a Distância (SEAD), em atendimento às diretrizes e normas de funcionamento do Curso de Ensino a Distância (CEAD). 4. Contribuições da Pedagogia e da Psicologia para o EAD O ensino a distância, pelas suas peculiaridades já citadas, exige mudanças na forma de ensinar-aprender. As modificações se dão tanto na forma do professor conduzir sua aula como no acompanhamento da aula pelo aluno. O aluno que estuda a distância se diferencia do aluno de cursos presenciais, principalmente pela autonomia proporcionada por esta modalidade de ensino tanto para administrar seu tempo como para realizar pesquisas por conta própria e não ficar restrito apenas ao conteúdo disponibilizado pelo professor. Tendo em vista estas características do ensino a distância descreveremos algumas contribuições da Pedagogia e da Psicologia para o processo ensino-aprendizagem, abordando temas como aprendizagem, motivação, o papel do professor no EAD e avaliação no EAD. 4.1. Aprendizagem Autônoma O aprendizado no ensino a distância é autodirigido, o que significa que o próprio aluno controla sua aprendizagem, estabelecendo seu ritmo de aprendizagem, horário de estudo, uso de ferramentas auxiliares; atuando como sujeito ativo em sua formação, estudando e pesquisando de modo mais independente e produzindo conhecimento. Esta atitude do aluno auto-gestor de seus estudos fundamenta-se na teoria do construtivismo*, na qual o indivíduo constrói o seu conhecimento interagindo com seu meio ambiente, e esse conhecimento não está livre das influências sociais e culturais desse meio. À medida que novos elementos do meio interagem, o conhecimento é modificado. Essa abordagem construtivista como afirma Morais (2004, p.200), “valoriza o processo de construção do conhecimento ao reconhecer que não existe um saber acabado, pronto, finalizado e que estamos envolvidos num processo de mudanças constantes no saber.” Belloni (2001) fala da aprendizagem autônoma como um processo de ensino e aprendizagem centrado no estudante (autônomo, independente, capaz de autogestão de seus estudos), que utiliza as características deste estudante e o próprio professor como recurso na busca e produção de conhecimentos. A autora diz ainda que a aprendizagem autônoma numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) será crucial para a competitividade do indivíduo no mercado de trabalho, assegurando igualdade de oportunidades e também para o crescimento do país, que * O construtivismo tem como seus maiores representantes Piaget e Vygotsky (Gonzalez,2005). necessita de trabalhadores cada vez mais qualificados. Para que o estudante administre bem seu aprendizado é fundamental a mudança de postura do professor. Segundo Belloni (2001, p.81),o professor deve exercer um novo papel, sendo “parceiro dos estudantes no processo de construção do conhecimento, isto é, em atividades de pesquisa e na busca da inovação pedagógica.” 4.2. Aprendizagem segundo a Teoria do Desenvolvimento de Vygotsky De acordo com Bergmann (2002), a educação de qualidade tem como alicerce quatro pilares do conhecimento: Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a viver com os outros e Aprender a ser. Uma das teorias construtivistas que aborda esses alicerces é a de Vygotsky. (1984). Para ele o conhecimento é um produto da interação social e da cultura. O indivíduo é visto como um ser social e o conhecimento como produto social. Há ênfase no estudo da relação entre o pensamento verbal e a linguagem. Outro aspecto importante da teoria de Vygotsky é a atribuição da origem dos processos de aprendizagem e desenvolvimento a essas interações sociais. O construtivismo coloca o centro da produção no próprio sujeito. Em teorias como a do inatismo ou do empirismo o indivíduo se comporta de forma passiva, enquanto no interacionismo o indivíduo é ativo. No Ensino a Distância, a existência de um ambiente de aprendizagem participativo ocorre através de um ambiente virtual, seguindo o modelo construtivista, no qual o docente busca pela troca de vivências, resultando na construção do saber pelos alunos, que acontece devido a esse compartilhamento de vivências, informações e conhecimentos entre os participantes Para Vygotsky (1984), conforme citação anterior, é através da interação social que o sujeito se desenvolve cognitivamente. Os educadores devem portanto, através de uma associação daquilo que já é de conhecimento do aprendiz à uma linguagem culta ou científica, ampliar os conhecimentos dos discentes, integrando o sujeito de forma histórica e social no mundo. De acordo com Moura; Azevedo & Mehlecke (2005), a aprendizagem em Ensino a Distância pode ser cooperativa, ao realizar-se trabalhos em grupos, onde haja interação entre os membros e participação de todos com um propósito em comum. Isso pode ser concretizado utilizando-se ferramentas como Chat ou a utilização do NetMeeting com o compartilhamento de arquivos on-line, e caso seja presencial através da troca verbal de informações e expositiva. A aprendizagem também pode ser caracterizada como Colaborativa, sendo que essa ocorre através da troca de materiais encontrados, onde todos enriquecem o trabalho com suas contribuições. Essas contribuições podem ser feitas na etapa do curso presencial ou a distância. As ferramentas utilizadas a distância são as listas de discussão, o e-mail entre outros. Já a aprendizagem Interativa ocorre quando há integração das informações e interação dos discentes. Ferramentas como quadros de avisos (bulletin boards), listas de discussão ou boletins de notícias servem para esse fim. A Teoria de Vygotsky reforça a prática em Ensino à Distância voltada para uma aprendizagem com ênfase nas relações sociais, utilizando-se de ambientes de aprendizagem cooperativo, colaborativo e interativo. Segundo Gonzales (2005), as dificuldades encontradas pelos discentes na interação professor-aluno e aluno-aluno acarretam a evasão destes alunos dos cursos a distância. Diante desta realidade faz-se necessário a utilização dos conhecimetos advindos da Teoria de Vygotsky e das estratégias de trabalho descritas para a construção de ambientes de aprendizagem, de fato, participativos e estimulantes. 4.3. Motivação O porquê do ser humano se interessar por uma área em detrimento de outra, ou por um assunto, lugar, pessoa ou escolhas em detrimento de outras, faz parte de um busca constante de cientistas do comportamento Michael (1993). Resultados de pesquisas apontam que o desempenho de discentes em cursos a distância está correlacionado com o grau de motivação destes alunos (Gonzalez, 2005). Segundo Neves e Boruchovitch (2004), a motivação pode influenciar no modo como o indivíduo utiliza suas capacidades, além de afetar sua percepção, atenção, memória, pensamento, comportamento social, emocional, aprendizagem e desempenho. Hoje conhecemos inúmeras teorias que tentam explicar esse fenômeno. Uma delas é a teoria de Abraham Maslow, que identifica categorias de necessidades básicas que precisam ser satisfeitas, que é disposta em uma hierarquia, sendo estas; necessidades fisiológicas, segurança (física e econômica), aceitação social (afiliação), auto-estima (reconhecimento) e auto-realização (desenvolvimento de potencialidades). Essas necessidades são apresentadas por todos os indivíduos ao longo da vida e elas evoluem à medida que a anterior é satisfeita. De acordo com a teoria motivacional de Maslow, correlacionada com a teoria de desenvolvimento de Erickson, nota-se que o indivíduo que se encontre, por exemplo, na fase adulta apresenta uma tendência a voltarse a tarefas de auto-realização, apresentando comportamentos de iniciativa, criatividade e independência. Ele preza pela participação em grupos, tendo comportamentos de participação que o encorajem à camaradagem e solidariedade e para o desenvolvimento de valores éticos que ultrapassam a mera obediência (CóriaSabini, 1986). É interessante pensar no tipo de metodologia de ensino mais adequada a esse indivíduo, já que esses fatores estão presentes. O uso da abordagem construtivista nesse caso é extremamente interessante e eficaz. Atividades que propiciem maior liberdade de ação e pensamento criativo, terão melhores resultados. Neves & Boruchovitch (2004) falam que as abordagens sociocognitivistas mostram a existência de duas orientações motivacionais: a intrínseca e a extrínseca. O objeto de estudo das abordagens sóciocognitivistas têm sido o estudo das crenças, pensamentos, expectativas e sentimentos relacionados ao processo de aprender. A motivação intrínseca está relacionada com a característica da tarefa, sendo que o indivíduo se mobiliza pela causa em si, pelos desafios e atratividade da tarefa. Relaciona-se com a autonomia e autoregulação do aluno em seu processo de aprendizagem. Já a Motivação extrínseca tem sido definida como a orientação a trabalhar devido a algum fator externo, como recompensas materiais ou sociais, ou também atender a expectativas sociais, demonstrar habilidades e bons desempenhos ao grupo. No contexto escolar os alunos orientados pela motivação intrínseca têm mostrado melhores resultados em termos de aprendizagem e desempenho acadêmico. De acordo com Neves & Boruchovitch (2004), estudos sobre a teoria da autodeterminação falam que os comportamentos extrinsecamente motivados podem ser autodeterminados, não sendo necessariamente negativos para a aprendizagem. Outra teoria importante sobre motivação é a teoria comportamental. De acordo com Michael (1993), a motivação no senso comum é atribuída a um desejo interno, como se o “querer” do indivíduo só dependesse de variáveis internas (comportamentos encobertos). Entretanto, segundo o autor, na análise do comportamento, a motivação é entendida com base na história de reforçamento, privação e saciação ou estimulação aversiva do indivíduo. De acordo com essa teoria a motivação intrínseca não seria inata ao indivíduo, ou ele tem ou não tem, mas sim conseqüência da história de aprendizagem de cada um e passível de ser desenvolvida. Para isso deveria ocorrer a manipulação de varáveis externas, como por exemplo, assuntos interessantes e contextualizados. Segundo Gonzalez (2005), o que motiva um aluno pelos estudos a distância, são as prováveis recompensas resultantes de suas ações, reforçadores sociais, como conseguir aprovação em um curso, aprimorar seus conhecimentos, ter ascensão profissional, ou conseguir evitar uma conseqüência negativa, como desaprovação ou punições diversas. Gonzalez (2000) descreve as razões pelas quais os alunos abandonam cursos a distâncias, sendo estas: conteúdos confusos, com linguagem inadequada ao nível do aluno; interface com poucos recursos ou extremamente complexa; falta de acompanhamento sistemático dos professores-tutores; excesso de atividades solicitadas; pouco tempo para o cumprimento das tarefas propostas; falta de condições financeiras para prosseguir o curso e mudança de foco pessoal ou profissional por parte do aluno. Todas essas razões operam como fatores desmotivacionais. 4.4. O Papel do Professor no Ensino a Distância A figura do professor no ensino a distância não é mais de detentor e transmissor de conhecimentos, mas de facilitador, orientador da aprendizagem (Moran, 2003). A essa atitude do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem denomina-se mediação pedagógica (Masetto, 2003, p. 144): “É a forma de se apresentar e tratar um conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-las, organizálas, manipulá-las, discuti-las e debatê-las com seus colegas, com o professor e com outras pessoas (interaprendizagem), até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele, conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude a compreender sua realidade humana e social, e mesmo a interferir nela.” Segundo Gonzalez (2005), é importante que o professor apresente alguns comportamentos como facilidade de comunicação, dinamismo, criatividade, liderança e iniciativa para ser um facilitador junto ao grupo de alunos sob sua tutoria. O professor-tutor é o responsável por responder a todas as dúvidas dos alunos, no que diz respeito ao conteúdo das disciplinas. Gonzalez (2005) também afirma que é o tutor o responsável pela ligação entre os extremos do sistema, ou seja, a instituição e o aluno. Ele deverá valorizar as necessidades do aluno tanto quanto os conteúdos de ensino.O autor descreve que o tutor deve ser capaz de auxiliar o aluno no planejamento das atividades programadas, ajudando a atingir os objetivos da formação e a capacidade de analisar problemas e raciocinar criticamente. O tutor para captar a atenção dos aprendizes deve demonstrar saber manejar as ferramentas que estarão a sua disposição, interesse pela melhoria do processo ensinoaprendizagem e estar à disposição para o exercício da tutoria. Deve também valorizar diferentes idéias, manter sigilo dessas e ser empático para com seus aprendizes. A falta de confiança no tutor e o desamparo sofrido pelo aprendiz, em geral causam evasão definitiva e desapontamento pelos envolvidos no sistema educacional. 4.5 Avaliação no Ensino a Distância As funções docentes dividem-se em três grandes grupos no ensino a distância: o primeiro, responsável pela concepção e realização do curso e materiais utilizados; o segundo, que cuida do planejamento, organização e administração do curso; e o terceiro, responsável pelo acompanhamento do estudante durante o processo de aprendizagem - tutoria, aconselhamento e avaliação. (Belloni, 2001). Todas essas funções devem focar o aluno, que deixa de ser o receptor passivo de informações para tornar-se responsável pela construção de seu conhecimento de forma reflexiva e crítica, na busca da aprendizagem constante. Assim como no ensino presencial, o planejamento e o acompanhamento no ensino a distância revestem-se de grande importância para o sucesso do processo ensino-aprendizagem, devendo ter como um objetivo a ser perseguido incessantemente a promoção da interação entre todos os envolvidos neste processo. O processo de avaliação no ensino a distância deve ser encarado como um processo integrado ao processo de aprendizagem, motivando e incentivando o aluno a aprender. Segundo Moran (2003, p.164), a avaliação deve ser vista como “um processo de feedback ou de retroalimentação que traga ao aprendiz informações necessárias, oportunas e no momento em que ele precisa para que desenvolva sua aprendizagem”. Isso significa que é preciso romper com a prática da avaliação “estanque”, como meio de se receber ou atribuir uma nota para passar, que em pouco ou nada contribui para a aprendizagem. O feedback deve ser contínuo, colocado de forma clara, direta para que seja motivador da aprendizagem. Outra prática na avaliação muito importante para o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem é atitude do professor em abrir espaço para que os alunos opinem a respeito do curso, das atividades que estão sendo realizadas, dos objetivos do curso (se estão sendo alcançados), do desempenho do professor, suas ações e comportamentos, da interação professoraluno, aluno-aluno. 5. Conclusão O Ensino a Distância vem se consolidando como uma modalidade de ensino capaz de atender às novas demandas educacionais, democratizando o acesso ao conhecimento e desenvolvendo nos alunos comportamentos de autonomia e auto-gestão de seus estudos. Essa nova modalidade de ensino deve oportunizar aos alunos ambientes de aprendizagem estimulantes e atraentes e ter como princípio norteador de suas ações educativas a interação entre professor-aluno e aluno-aluno. As contribuições da Pedagogia e da Psicologia descritas servem como respaldo teórico para a aplicação desse princípio. Para que ocorra a interação entre professor-aluno e aluno-aluno é necessária a mudança de postura dos docentes, sendo esses mediadores, facilitadores da aprendizagem, fomentando a busca do saber (aprender a aprender), compartilhamento e integração de experiências e a autoavaliação. O docente deverá promover um ambiente acolhedor e estimulante a seus aprendizes. Elogios diante do esforço, do desempenho dos alunos, implicarão sentimentos de confiança, valorização e satisfação diante da realização da tarefa, aumentando a autoestima, e promovendo uma maior autonomia desses discentes. A Teoria de Vygotsky destaca a importância das interações sociais para a aprendizagem, e o Ensino a Distância, assim como o presencial, utiliza-se de muitos meios didáticos que trabalham com o relacionamento interpessoal. Nesta modalidade de ensino trabalha-se distante fisicamente, o que representa uma dificuldade para os alunos. Caso essa dificuldade não seja bem trabalhada, há risco de desistências por parte destes alunos. Portanto, no planejamento do curso, deve-se enfatizar o uso de ferramentas que promovam a interatividade, facilitando esse processo relacional. Os aspectos motivacionais também contribuem para o engajamento ou a evasão de alunos em cursos a distância. Discentes orientados pela motivação intrínseca, como exposto anteriormente, apresentam maior desempenho. A motivação intrínseca relaciona-se com a natureza da tarefa, com o quanto ela atende às expectativas e necessidades do aluno, com a forma como é apresentada e conduzida, e com a forma como a assimilação do conteúdo dessa tarefa é avaliada. Diante disso, o indivíduo poderá não encontrar-se sempre motivado, havendo a necessidade de elaborar-se meios para que esse “querer” aprender do aluno seja despertado. Assim sendo, os cursos oferecidos devem ser estimulantes, atrativos e adequados ao seu público-alvo. A implementação de cursos a distância que primem por favorecer em seus discentes comportamentos motivados, cooperativos, colaborativos e interativos, vem ao encontro da modernização do ensino implementada em 1995 no Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro ao investir no Ensino a Distância, considerou as características e demandas de seus integrantes, adequando e flexibilizando o ensino oferecido. Há uma preocupação com o aperfeiçoamento profissional de seus militares, sendo desenvolvidos variados cursos na modalidade a distância. Percebe-se ainda a necessidade de pesquisas referentes ao uso das Tecnologias de Informação e comunicação no Ensino a Distância no âmbito da Instituição. 6. Referências Bibliográficas Belloni, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. Biaggio, A.M.B. Psicologia do Desenvolvimento. 15º ed. Petrópolis: Vozes, 2001. Burnham, Teresinha Froés & Mattos, Maria Lídia Pereira. Tecnologias da Informação e Educação à Distância. 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