Contribuições da Psicologia e da Pedagogia para o Ensino a Distância em
Cursos do Exército Brasileiro
CAROLINE CUNHA DA SILVA, NÁRPIA MARIA DE ARAÚJO SILVA, PAOLO ROSI D'AVILA1
Resumo. O Ensino a Distância vem sendo muito utilizado em Instituições de Ensino, pelas
inúmeras vantagens que oferece, e atualmente, Exército Brasileiro investe no
aprimoramento profissional de seus militares, através de cursos e estágios nessa
modalidade de ensino.O presente trabalho tem por finalidade o estudo das contribuições
teóricas da Psicologia e da Pedagogia relevantes ao aperfeiçoamento da modalidade
de Ensino a Distância no âmbito do Exército Brasileiro, contextualizando este ensino no
cenário educacional atual e sua utilização no contexto do Exército Brasileiro. No
desenvolvimento do trabalho será feita análise dos temas: aprendizagem autônoma,
aprendizagem segundo a Teoria do Desenvolvimento de Vygotsky, motivação, o papel do
professor no Ensino a Distância e avaliação no Ensino a Distância. Dentro dos aspectos
estudados, verificou-se que a mediação pedagógica, o construtivismo e a motivação são
fatores contribuintes para o sucesso do Ensino a Distância. As contribuições deste trabalho
poderão servir de base para um futuro aperfeiçoamento no processo de ensinoaprendizagem em cursos a distância no Exército Brasileiro.
Palavras-chave: Psicologia, Pedagogia, Ensino à Distância, Exército Brasileiro.
Abstract. The Distance teaching has been used quite a lot by teaching institutions due to
the great amount of advantages that it offers. The Brazilian Army has invested in the
qualification of the military, through courses and trainee programs centred on this way of
teaching. This work aims to study the theorical contributions of psychology and pedagogy to
the improvement of the distance teaching in the Brazilian Army, as well as to consider this
tipe of teaching in the context of the present day education and also in the context of the
Brazilian Army. In the development of the work, it will be done the analysis of the following
subjects: independent learning, learning according the Development Theory by Vygotsky,
motivation, and the role of the teacher and the evaluation in Distance Teaching. Witin the
aspects considered, it was observed that pedagogical mediation, constructivism and
motivation are factors that contribute to the success of distance teaching. The contributions
of this cientific article will serve as basis to a future improvement in the teatching-learning
process in distance courses in the scope of the Brazilian Army. ...
Key-words: Psychology, Pedagogy, Distance Teaching, Brazilian Army.
1 Introdução
A Educação a Distância (EAD) apresentase como uma modalidade de educação
adequada para atender às novas demandas
educacionais decorrentes das mudanças
científicas e tecnológicas do século XXI.
A utilização dessa nova modalidade de
ensino, decorrente do novo panorama
mundial, relaciona-se diretamente com as
novas tecnologias da informação e
comunicação (TIC’s). Segundo Burnham
(2004), há a existência de dois mundos, um
real virtual e outro real concreto, sendo estes
mundos espaços onde o indivíduo pósmoderno flexibiliza-se e adapta-se a essas
1
novas tecnologias, condicionando novas
formas de atuar, ser e pensar do indivíduo.
O ensino a distância oferece um ambiente
virtual onde o discente re-elabora o
significado do conhecimento, através dos
objetos técnicos e artificiais que são por ele
criados (Bairon & Petry, 2000). As TICs
permitem simulações em realidade virtual,
possibilitando autoconhecimento e autoaprendizagem. As vantagens encontram-se
na autonomia do aluno em construir seu
próprio conhecimento e de se autogerenciar,
deixando de ser aquele que somente
reproduz o que é ensinado pelo professor.
Professor e aluno trabalham de forma
EsAEx - Escola de Administração do Exército, Rua Território do Amapá, Nº 455, Pituba, Salvador – BA,
Brasil. [email protected], [email protected], [email protected]
interativa, em comunidades e espaços
simultâneos de aprendizagem.
O Exército Brasileiro vem empregando
esta modalidade com sucesso e possui como
órgão
responsável
pela
execução,
planejamento, implementação e avaliação
dos cursos e estágios a distância o
Departamento de Ensino e Pesquisa (DEP).
Os cursos desenvolvidos no âmbito do
Exército devem ser bem planejados e
adaptados às normas da instituição e do
Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Isso fornece aos cursos maior fidedignidade,
credibilidade e reconhecimento perante a
sociedade e o próprio Ministério.
Frente a essa demanda de se empregar
essas novas tecnologias no ensino e por uma
constante avaliação destas, vê-se a
necessidade de aperfeiçoar o processo
ensino-aprendizagem no âmbito do Exército
Brasileiro em todas as modalidades de
ensino. É necessária uma avaliação
corretiva, objetiva e crítica da realidade
pedagógica existente.
No presente trabalho serão estudadas
contribuições teóricas da Psicologia e da
Pedagogia relevantes ao aperfeiçoamento da
modalidade de Ensino a Distância no
âmbito do Exército Brasileiro.
A Psicologia, com as contribuições
teóricas que abrangem as áreas da Psicologia
da Educação, do Desenvolvimento e da
Aprendizagem,
oferece
fundamentos
teóricos úteis para a estruturação de
programas de Ensino a Distância.
A Pedagogia, com conhecimentos que
permeiam o campo do processo ensinoaprendizagem, passando pela abordagem
construtivista e pelos fundamentos da
didática no ensino também favorecem o
aperfeiçoamento do EAD no Exército
Brasileiro.
No desenvolvimento (parte 3 e 4) deste
trabalho serão feitas análises sobre os temas:
aprendizagem autônoma, aprendizagem
segundo a Teoria do Desenvolvimento de
Vygotsky, motivação, o papel do professor
no Ensino a Distância e a avaliação no
Ensino a Distância.
A metodologia utilizada para a
elaboração do presente trabalho foi a
pesquisa bibliográfica acerca da utilização
do EAD, das práticas pedagógicas adotadas
nesta modalidade, das contribuições da
Psicologia para otimização dessas práticas,
bem como um estudo sobre o contexto do
Ensino a Distância no Exército Brasileiro.
Os objetivos
deste
artigo
são:
contextualizar a Educação a Distância no
cenário educacional atual e sua utilização no
contexto do Exército Brasileiro; descrever as
contribuições da Psicologia e Pedagogia
para elaboração de programas e cursos a
distância no âmbito do Exército Brasileiro.
A relevância deste estudo está pautada na
produção de conhecimento científico
próprio para ser aplicado no ensino do
Exército Brasileiro, fazendo-se valer das
peculiridades encontradas nessa Instituição.
2. O Contexto da Educação a Distância
no cenário educacional atual.
Segundo Gonzalez (2005), a modalidade de
Ensino a Distância vem sendo muito
utilizada pelas Instituições de Ensino, pelas
inúmeras vantagens que oferece, tais como:
diminuir as distâncias geográficas, possuir
maior flexibilidade e maior rapidez na
transmissão de informações, reduzir os
custos, atingir maior número de brasileiros
nas partes mais remotas do país e acelerar a
preparação de profissionais da área de
ensino.
Essa preparação de profissionais de
ensino, de acordo com Perrenoud (2000), é
necessária devido à transferência do
impresso para os suportes digitais, que
supõe que o professor saiba o que está
disponível nesse campo, obrigando-o a uma
constante atualização. Há a passagem de um
universo documental limitado (dentro da
sala de aula), para um ilimitado, o do
hipertexto.
Burnham & Mattos (2004), também
argumentam sobre esse tópico, descrevendo
que a EAD impõe a necessidade de uma
nova forma de aprendizagem por parte de
quem planeja, desenvolve e avalia, e
também requer a construção de uma nova
maneira de compreender o processo de
ensino-aprendizagem. Alguns dos aspectos
relevantes nos cursos em EAD são o
contexto de ensino, ou seja, a separação
física de quem ensina e de quem aprende; a
relação
aluno/professor,
sendo
esta
diferenciada do ensino presencial justamente
pela questão espaço/tempo; e a metodologia
utilizada, em que há a necessidade de se
buscar
estratégias
de
ensino
contextualizadas para esse novo ambiente,
visando a redução da distância interpessoal.
Com base nessa diferenciação entre a
modalidade de ensino presencial e a
modalidade a Distância, procurou-se pensar
em uma regulamentação da prática desta
última. A Educação a Distância foi
oficializada no Brasil em 1996 pela lei de
Diretrizes e Bases da Educação NacionalLDB (lei nº9394, de 20 de dezembro de
1996). Após esse fato e com o advento da
internet,
os antigos cursos por
correspondência
se
modernizaram,
utilizando novos recursos técnicos de
comunicação, como CD-ROMs, tele e
videocoferências interativas, DVDs, e-mail,
hipertextos (HTML), dentre outros.
A oferta de programas de pós-graduação
stricto sensu, mestrado e doutorado a
distância,
ainda
será
objeto
de
regulamentação específica, onde os critérios
de reconhecimento ainda estão em fase de
definição
pela
Coordenação
de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior-Capes/MEC. Os cursos de pósgraduação lato sensu, chamados de
“especialização” também necessitam de
regulamentação para que seus certificados
tenham validade .
Como o Ensino a Distância é algo novo,
segundo Gonzalez (2005),existem alguns
problemas observados com essa modalidade
de
ensino
no
Brasil.
Há
uma
descontinuidade dos programas oferecidos,
sem prestação de contas à sociedade,
inexistência de estruturas institucionalizadas
para a gerência de projetos, programas
pouco adaptados às reais necessidades do
país e ausência de critérios de avaliação
destes programas.
Já Neves (1998) e Barbastefano & cols.
(2002), discorrem sobre a atuação do MEC
voltada para a avaliação da qualidade dos
cursos oferecidos nesta modalidade de
ensino, ainda que de forma incipiente. Os
fatores avaliados referem-se a planejamento
pedagógico e curricular, material didático,
interação
docentes-discentes,
gestão
acadêmico-administrativa e infra-estrutura .
3. O Contexto da Educação a Distância
no Exército Brasileiro.
O Exército Brasileiro vem ao longo dos
anos
investindo
no
aprimoramento
profissional de seus militares, através de
cursos, estágios e do melhoramento do
ensino. A fim de aprimorar esse processo, de
acordo com Faria, (2000), o Exército conta
com um Plano de Estruturação que visa
manter a Instituição ajustada à estatura
político-estratégica da Nação.
Para atingir esse objetivo, o Exército vem
oferecendo cursos de Ensino a Distância
(CEAD), através do Colégio Militar de
Manaus (CMM) e do Centro de Estudo de
Pessoal do Exército (CEP), em parceria com
Universidades do Rio de Janeiro. Os cursos
desenvolvidos possuem respaldo legal de
acordo com a legislação de ensino no
Exército Brasileiro, conforme a Lei Nr 9786,
de 8 de fevereiro de 1999 e o decreto nº
3182, de 23 de setembro de 1999.
O CEP, por intermédio do Núcleo de
Ensino a Distância (NuEAD), presta
consultoria às iniciativas de se montar
cursos a distância nas escolas militares.
Existe a intenção de se criar um laboratório
onde profissionais da área de Pedagogia,
Informática e Webdesigners trabalharão
juntos em prol do desenvolvimeto de
conhecimentos
necessários
para
o
aprimoramento desses cursos.
Existem quase 8000 alunos matriculados
em cursos a distância de língua estrangeira
no EB, através do sistema telensino. Devido
às diferentes localizações geográficas de tais
alunos, verifica-se a necessidade de
mudanças nos modelos e práticas em vigor,
lembrando das dificuldades de comunicação
daqueles que se encontram em longínquas
guarnições.
De acordo com a Normas Internas de
Avaliação do Ensino e da Diretoria de
Ensino Preparatório e Assistencial (NIAE)(DEPA)-(2004), o ensino a distância dentro
dos Estabelecimentos de Ensino do Exército
Brasileiro, deve ser participativo, apesar da
distância, partir da realidade e fundamentarse na prática do estudante. Assim como a
modalidade presencial, o EAD deve
desenvolver nos discentes comportamentos
pró-ativos, como atitudes críticas e criativas,
deve propiciar um ambiente reforçador e
acolhedor, abrindo caminho para a
expressão e a comunicação, promover
processos, obter resultados, fundamentar-se
na produção de conhecimentos e,
finalmente, desenvolver uma atitude
pesquisadora.
Essa prática em EAD, de acordo com
Faria
(2000),
é
consequência
da
implementação, em 1995, pelo DEP, do
Grupo de Trabalho para Estudo da
Modernização do Ensino (GTEME), com
objetivo de trilhar um caminho para a
melhoria do ensino.
O GTEME através de seus estudos
concluiu que o modelo pedagógico antes
aplicado no EB possuía uma postura
tradicional, privilegiando a transmissão do
saber de forma passiva, a ênfase na
memorização, primazia da quantidade de
conteúdo nos currículos em detrimento da
qualidade e verificações de aprendizagem
como centro do processo. Em 1996 o grupo
de estudo elaborou o documento
“Fundamentos para a Modernização do
Ensino”, que propunha ações voltadas à
modernização (Júnior, J.A.2005).
Algumas modificações foram feitas na
legislação de ensino, destacando-se a
compatibilização e integração do ensino no
Exército ao Sistema de Educação Nacional
(LDB).
Foram alvo de avaliação os currículos
dos estabelecimentos de ensino do Exército
Brasileiro, sendo eliminado o excesso de
conteúdo, e incluídos objetivos da área
afetiva e atividades complementares de
ensino. As aulas passaram a contar com
tempos não presenciais. Outro fator
importante foi a adoção de técnicas mais
dinâmicas, com maior participação do aluno
e busca ativa de conhecimento.
Essas modificações aplicam-se também à
modalidade de Ensino a Distância, de
acordo com a diretriz para o Ensino a
Distância no Exército Brasileiro (EAD/EB –
Port Nr 062/EME, de 31 Out 1994).
A avaliação dessa modalidade de ensino
no Exército Brasileiro é feita com base nas
Normas Internas de Avaliação do Ensino e
da Diretoria de Ensino Preparatório e
Assistencial (NIAE-DEPA), observando-se
a atuação do discente (cognitiva); atuação da
tutoria e da orientação aos discentes;
condução do curso de ensino a distância e
nível de atualização dos documentos de
currículos;
adequação
do
material
pedagógico à realidade do discente
considerando a faixa etária, bem como à
modalidade do curso, com emprego da
linguagem dialógica; e condições da infraestrutura da Seção de Ensino a Distância
(SEAD), em atendimento às diretrizes e
normas de funcionamento do Curso de
Ensino a Distância (CEAD).
4. Contribuições da Pedagogia e da
Psicologia para o EAD
O ensino a distância, pelas suas
peculiaridades já citadas, exige mudanças na
forma de ensinar-aprender. As modificações
se dão tanto na forma do professor conduzir
sua aula como no acompanhamento da aula
pelo aluno. O aluno que estuda a distância se
diferencia do aluno de cursos presenciais,
principalmente
pela
autonomia
proporcionada por esta modalidade de
ensino tanto para administrar seu tempo
como para realizar pesquisas por conta
própria e não ficar restrito apenas ao
conteúdo disponibilizado pelo professor.
Tendo em vista estas características do
ensino a distância descreveremos algumas
contribuições da Pedagogia e da Psicologia
para o processo ensino-aprendizagem,
abordando temas como aprendizagem,
motivação, o papel do professor no EAD e
avaliação no EAD.
4.1. Aprendizagem Autônoma
O aprendizado no ensino a distância é autodirigido, o que significa que o próprio aluno
controla sua aprendizagem, estabelecendo
seu ritmo de aprendizagem, horário de
estudo, uso de ferramentas auxiliares;
atuando como sujeito ativo em sua
formação, estudando e pesquisando de modo
mais
independente
e
produzindo
conhecimento.
Esta atitude do aluno auto-gestor de seus
estudos fundamenta-se na teoria do
construtivismo*, na qual o indivíduo constrói
o seu conhecimento interagindo com seu
meio ambiente, e esse conhecimento não
está livre das influências sociais e culturais
desse meio. À medida que novos elementos
do meio interagem, o conhecimento é
modificado. Essa abordagem construtivista
como afirma Morais (2004, p.200),
“valoriza o processo de construção do
conhecimento ao reconhecer que não existe
um saber acabado, pronto, finalizado e que
estamos envolvidos num processo de
mudanças constantes no saber.”
Belloni (2001) fala da aprendizagem
autônoma como um processo de ensino e
aprendizagem centrado no estudante
(autônomo,
independente,
capaz
de
autogestão de seus estudos), que utiliza as
características deste estudante e o próprio
professor como recurso na busca e produção
de conhecimentos.
A autora diz ainda que a aprendizagem
autônoma
numa
perspectiva
de
aprendizagem ao longo da vida (lifelong
learning) será crucial para a competitividade
do indivíduo no mercado de trabalho,
assegurando igualdade de oportunidades e
também para o crescimento do país, que
*
O construtivismo tem como seus maiores
representantes Piaget e Vygotsky (Gonzalez,2005).
necessita de trabalhadores cada vez mais
qualificados.
Para que o estudante administre bem seu
aprendizado é fundamental a mudança de
postura do professor. Segundo Belloni
(2001, p.81),o professor deve exercer um
novo papel, sendo “parceiro dos estudantes
no processo de construção do conhecimento,
isto é, em atividades de pesquisa e na busca
da inovação pedagógica.”
4.2. Aprendizagem segundo a Teoria do
Desenvolvimento de Vygotsky
De acordo com Bergmann (2002), a
educação de qualidade tem como alicerce
quatro pilares do conhecimento: Aprender a
conhecer; Aprender a fazer; Aprender a
viver com os outros e Aprender a ser.
Uma das teorias construtivistas que
aborda esses alicerces é a de Vygotsky.
(1984). Para ele o conhecimento é um
produto da interação social e da cultura. O
indivíduo é visto como um ser social e o
conhecimento como produto social. Há
ênfase no estudo da relação entre o
pensamento verbal e a linguagem.
Outro aspecto importante da teoria de
Vygotsky é a atribuição da origem dos
processos
de
aprendizagem
e
desenvolvimento a essas interações sociais.
O construtivismo coloca o centro da
produção no próprio sujeito. Em teorias
como a do inatismo ou do empirismo o
indivíduo se comporta de forma passiva,
enquanto no interacionismo o indivíduo é
ativo.
No Ensino a Distância, a existência de
um ambiente de aprendizagem participativo
ocorre através de um ambiente virtual,
seguindo o modelo construtivista, no qual o
docente busca pela troca de vivências,
resultando na construção do saber pelos
alunos, que acontece devido a esse
compartilhamento de vivências, informações
e conhecimentos entre os participantes
Para Vygotsky (1984), conforme citação
anterior, é através da interação social que o
sujeito se desenvolve cognitivamente. Os
educadores devem portanto, através de uma
associação daquilo que já é de conhecimento
do aprendiz à uma linguagem culta ou
científica, ampliar os conhecimentos dos
discentes, integrando o sujeito de forma
histórica e social no mundo.
De acordo com Moura; Azevedo &
Mehlecke (2005), a aprendizagem em
Ensino a Distância pode ser cooperativa, ao
realizar-se trabalhos em grupos, onde haja
interação entre os membros e participação
de todos com um propósito em comum.
Isso pode ser concretizado utilizando-se
ferramentas como Chat ou a utilização do
NetMeeting com o compartilhamento de
arquivos on-line, e caso seja presencial
através da troca verbal de informações e
expositiva.
A aprendizagem também pode ser
caracterizada como Colaborativa, sendo que
essa ocorre através da troca de materiais
encontrados, onde todos enriquecem o
trabalho com suas contribuições. Essas
contribuições podem ser feitas na etapa do
curso presencial ou
a distância. As
ferramentas utilizadas a distância são as
listas de discussão, o e-mail entre outros.
Já a aprendizagem Interativa ocorre
quando há integração das informações e
interação dos discentes. Ferramentas como
quadros de avisos (bulletin boards), listas de
discussão ou boletins de notícias servem
para esse fim.
A Teoria de Vygotsky reforça a prática
em Ensino à Distância voltada para uma
aprendizagem com ênfase nas relações
sociais, utilizando-se de ambientes de
aprendizagem cooperativo, colaborativo e
interativo.
Segundo
Gonzales
(2005),
as
dificuldades encontradas pelos discentes na
interação professor-aluno e aluno-aluno
acarretam a evasão destes alunos dos cursos
a distância.
Diante desta realidade faz-se necessário a
utilização dos conhecimetos advindos da
Teoria de Vygotsky e das estratégias de
trabalho descritas para a construção de
ambientes de aprendizagem, de fato,
participativos e estimulantes.
4.3. Motivação
O porquê do ser humano se interessar por
uma área em detrimento de outra, ou por um
assunto, lugar, pessoa ou escolhas em
detrimento de outras, faz parte de um busca
constante de cientistas do comportamento
Michael (1993).
Resultados de pesquisas apontam que o
desempenho de discentes em cursos a
distância está correlacionado com o grau de
motivação destes alunos (Gonzalez, 2005).
Segundo Neves e Boruchovitch (2004), a
motivação pode influenciar no modo como o
indivíduo utiliza suas capacidades, além de
afetar sua percepção, atenção, memória,
pensamento,
comportamento
social,
emocional, aprendizagem e desempenho.
Hoje conhecemos inúmeras teorias que
tentam explicar esse fenômeno.
Uma delas é a teoria de Abraham
Maslow, que identifica categorias de
necessidades básicas que precisam ser
satisfeitas, que é disposta em uma
hierarquia, sendo estas; necessidades
fisiológicas, segurança (física e econômica),
aceitação social (afiliação), auto-estima
(reconhecimento)
e
auto-realização
(desenvolvimento de potencialidades). Essas
necessidades são apresentadas por todos os
indivíduos ao longo da vida e elas evoluem
à medida que a anterior é satisfeita.
De acordo com a teoria motivacional de
Maslow, correlacionada com a teoria de
desenvolvimento de Erickson, nota-se que o
indivíduo que se encontre, por exemplo, na
fase adulta apresenta uma tendência a voltarse a tarefas de auto-realização, apresentando
comportamentos de iniciativa, criatividade e
independência. Ele preza pela participação
em grupos, tendo comportamentos de
participação
que
o
encorajem
à
camaradagem e solidariedade e para o
desenvolvimento de valores éticos que
ultrapassam a mera obediência (CóriaSabini, 1986). É interessante pensar no tipo
de metodologia de ensino mais adequada a
esse indivíduo, já que esses fatores estão
presentes.
O
uso
da
abordagem
construtivista nesse caso é extremamente
interessante e eficaz. Atividades que
propiciem maior liberdade de ação e
pensamento criativo, terão melhores
resultados.
Neves & Boruchovitch (2004) falam que
as abordagens sociocognitivistas mostram a
existência
de
duas
orientações
motivacionais: a intrínseca e a extrínseca. O
objeto de estudo das abordagens sóciocognitivistas têm sido o estudo das crenças,
pensamentos, expectativas e sentimentos
relacionados ao processo de aprender.
A motivação intrínseca está relacionada
com a característica da tarefa, sendo que o
indivíduo se mobiliza pela causa em si,
pelos desafios e atratividade da tarefa.
Relaciona-se com a autonomia e autoregulação do aluno em seu processo de
aprendizagem.
Já a Motivação extrínseca tem sido
definida como a orientação a trabalhar
devido a algum fator externo, como
recompensas materiais ou sociais, ou
também atender a expectativas sociais,
demonstrar habilidades e bons desempenhos
ao grupo.
No contexto escolar os alunos orientados
pela motivação intrínseca têm mostrado
melhores resultados em termos de
aprendizagem e desempenho acadêmico. De
acordo com Neves & Boruchovitch (2004),
estudos sobre a teoria da autodeterminação
falam
que
os
comportamentos
extrinsecamente motivados podem ser
autodeterminados,
não
sendo
necessariamente
negativos
para
a
aprendizagem.
Outra teoria importante sobre motivação
é a teoria comportamental. De acordo com
Michael (1993), a motivação no senso
comum é atribuída a um desejo interno,
como se o “querer” do indivíduo só
dependesse
de
variáveis
internas
(comportamentos encobertos). Entretanto,
segundo o autor, na análise do
comportamento, a motivação é entendida
com base na história de reforçamento,
privação e saciação ou estimulação aversiva
do indivíduo. De acordo com essa teoria a
motivação intrínseca não seria inata ao
indivíduo, ou ele tem ou não tem, mas sim
conseqüência da história de aprendizagem
de cada um e passível de ser desenvolvida.
Para isso deveria ocorrer a manipulação de
varáveis externas, como por exemplo,
assuntos interessantes e contextualizados.
Segundo Gonzalez (2005), o que motiva
um aluno pelos estudos a distância, são as
prováveis recompensas resultantes de suas
ações, reforçadores sociais, como conseguir
aprovação em um curso, aprimorar seus
conhecimentos, ter ascensão profissional, ou
conseguir
evitar
uma
conseqüência
negativa, como desaprovação ou punições
diversas.
Gonzalez (2000) descreve as razões pelas
quais os alunos abandonam cursos a
distâncias, sendo estas: conteúdos confusos,
com linguagem inadequada ao nível do
aluno; interface com poucos recursos ou
extremamente
complexa;
falta
de
acompanhamento
sistemático
dos
professores-tutores; excesso de atividades
solicitadas;
pouco
tempo
para
o
cumprimento das tarefas propostas; falta de
condições financeiras para prosseguir o
curso e mudança de foco pessoal ou
profissional por parte do aluno. Todas essas
razões
operam
como
fatores
desmotivacionais.
4.4. O Papel do Professor no Ensino a
Distância
A figura do professor no ensino a distância
não é mais de detentor e transmissor de
conhecimentos,
mas
de
facilitador,
orientador da aprendizagem (Moran, 2003).
A essa atitude do professor que se coloca
como um facilitador, incentivador ou
motivador da aprendizagem denomina-se
mediação pedagógica (Masetto, 2003, p.
144): “É a forma de se apresentar e tratar um
conteúdo ou tema que ajuda o aprendiz a
coletar informações, relacioná-las, organizálas, manipulá-las, discuti-las e debatê-las
com seus colegas, com o professor e com
outras pessoas (interaprendizagem), até
chegar a produzir um conhecimento que seja
significativo para ele, conhecimento que se
incorpore ao seu mundo intelectual e
vivencial, e que o ajude a compreender sua
realidade humana e social, e mesmo a
interferir nela.”
Segundo Gonzalez (2005), é importante
que o professor
apresente alguns
comportamentos como facilidade de
comunicação, dinamismo, criatividade,
liderança e iniciativa para ser um facilitador
junto ao grupo de alunos sob sua tutoria. O
professor-tutor é o responsável por
responder a todas as dúvidas dos alunos, no
que diz respeito ao conteúdo das disciplinas.
Gonzalez (2005) também afirma que é o
tutor o responsável pela ligação entre os
extremos do sistema, ou seja, a instituição e
o aluno. Ele deverá valorizar as
necessidades do aluno tanto quanto os
conteúdos de ensino.O autor descreve que o
tutor deve ser capaz de auxiliar o aluno no
planejamento das atividades programadas,
ajudando a atingir os objetivos da formação
e a capacidade de analisar problemas e
raciocinar criticamente.
O tutor para captar a atenção dos
aprendizes deve demonstrar saber manejar
as ferramentas que estarão a sua disposição,
interesse pela melhoria do processo ensinoaprendizagem e estar à disposição para o
exercício da tutoria. Deve também valorizar
diferentes idéias, manter sigilo dessas e ser
empático para com seus aprendizes. A falta
de confiança no tutor e o desamparo sofrido
pelo aprendiz, em geral causam evasão
definitiva
e
desapontamento
pelos
envolvidos no sistema educacional.
4.5 Avaliação no Ensino a Distância
As funções docentes dividem-se em três
grandes grupos no ensino a distância: o
primeiro, responsável pela concepção e
realização do curso e materiais utilizados; o
segundo, que cuida do planejamento,
organização e administração do curso; e o
terceiro, responsável pelo acompanhamento
do estudante durante o processo de
aprendizagem - tutoria, aconselhamento e
avaliação. (Belloni, 2001). Todas essas
funções devem focar o aluno, que deixa de
ser o receptor passivo de informações para
tornar-se responsável pela construção de seu
conhecimento de forma reflexiva e crítica,
na busca da aprendizagem constante.
Assim como no ensino presencial, o
planejamento e o acompanhamento no
ensino a distância revestem-se de grande
importância para o sucesso do processo
ensino-aprendizagem, devendo ter como um
objetivo a ser perseguido incessantemente a
promoção da interação entre todos os
envolvidos neste processo.
O processo de avaliação no ensino a
distância deve ser encarado como um
processo integrado ao processo de
aprendizagem, motivando e incentivando o
aluno a aprender. Segundo Moran (2003,
p.164), a avaliação deve ser vista como “um
processo de feedback ou de retroalimentação
que traga ao aprendiz informações
necessárias, oportunas e no momento em
que ele precisa para que desenvolva sua
aprendizagem”. Isso significa que é preciso
romper com a prática da avaliação
“estanque”, como meio de se receber ou
atribuir uma nota para passar, que em pouco
ou nada contribui para a aprendizagem. O
feedback deve ser contínuo, colocado de
forma clara, direta para que seja motivador
da aprendizagem. Outra prática na avaliação
muito importante para o enriquecimento do
processo ensino-aprendizagem é atitude do
professor em abrir espaço para que os alunos
opinem a respeito do curso, das atividades
que estão sendo realizadas, dos objetivos do
curso (se estão sendo alcançados), do
desempenho do professor, suas ações e
comportamentos, da interação professoraluno, aluno-aluno.
5. Conclusão
O Ensino a Distância vem se consolidando
como uma modalidade de ensino capaz de
atender às novas demandas educacionais,
democratizando o acesso ao conhecimento e
desenvolvendo nos alunos comportamentos
de autonomia e auto-gestão de seus estudos.
Essa nova modalidade de ensino deve
oportunizar aos alunos ambientes de
aprendizagem estimulantes e atraentes e ter
como princípio norteador de suas ações
educativas a interação entre professor-aluno
e aluno-aluno. As contribuições da
Pedagogia e da Psicologia descritas servem
como respaldo teórico para a aplicação desse
princípio.
Para que ocorra a interação entre
professor-aluno e aluno-aluno é necessária a
mudança de postura dos docentes, sendo
esses
mediadores,
facilitadores
da
aprendizagem, fomentando a busca do saber
(aprender a aprender), compartilhamento e
integração de experiências e a autoavaliação.
O docente deverá promover um ambiente
acolhedor e estimulante a seus aprendizes.
Elogios diante do esforço, do desempenho
dos alunos, implicarão sentimentos de
confiança, valorização e satisfação diante da
realização da tarefa, aumentando a autoestima, e promovendo
uma maior
autonomia desses discentes.
A Teoria de Vygotsky destaca a
importância das interações sociais para a
aprendizagem, e o Ensino a Distância, assim
como o presencial, utiliza-se de muitos
meios didáticos que trabalham com o
relacionamento
interpessoal.
Nesta
modalidade de ensino trabalha-se distante
fisicamente, o que representa uma
dificuldade para os alunos. Caso essa
dificuldade não seja bem trabalhada, há
risco de desistências por parte destes alunos.
Portanto, no planejamento do curso, deve-se
enfatizar o uso de ferramentas que
promovam a interatividade, facilitando esse
processo relacional.
Os aspectos motivacionais também
contribuem para o engajamento ou a evasão
de alunos em cursos a distância. Discentes
orientados pela motivação intrínseca, como
exposto anteriormente, apresentam maior
desempenho. A motivação intrínseca
relaciona-se com a natureza da tarefa, com o
quanto ela atende às expectativas e
necessidades do aluno, com a forma como é
apresentada e conduzida, e com a forma
como a assimilação do conteúdo dessa tarefa
é avaliada. Diante disso, o indivíduo poderá
não encontrar-se sempre motivado, havendo
a necessidade de elaborar-se meios para que
esse “querer” aprender do aluno seja
despertado. Assim sendo, os cursos
oferecidos devem ser estimulantes, atrativos
e adequados ao seu público-alvo.
A implementação de cursos a distância
que primem por favorecer em seus discentes
comportamentos motivados, cooperativos,
colaborativos e interativos, vem ao encontro
da modernização do ensino implementada
em 1995 no Exército Brasileiro.
O Exército Brasileiro ao investir no
Ensino a Distância, considerou as
características e demandas de seus
integrantes, adequando e flexibilizando o
ensino oferecido. Há uma preocupação com
o aperfeiçoamento profissional de seus
militares, sendo desenvolvidos variados
cursos na modalidade a distância. Percebe-se
ainda a necessidade de pesquisas referentes
ao uso das Tecnologias de Informação e
comunicação no Ensino a Distância no
âmbito da Instituição.
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