INTERAÇÕES EM SALA DE AULA: UM ESTUDO SOBRE PRÁTICAS DE ENSINO Marília da Piedade Marinho Silva Doutora em Lingüística Aplicada Universidade Estadual de Campinas – IEL Centro Universitário Uni-BH RESUMO: Este artigo faz parte de nossa pesquisa de doutorado em que problematizamos as interações em sala de aula de uma professora surda com alunos ouvintes, através de suas práticas de ensino. Baseado em um estudo sobre a escola e a aula, observamos como o professor surdo interage com seus alunos através da linguagem oral/fala e leitura labial e gestos convencionais (tocar, apontar) para se comunicar. Em suma, este artigo procura apontar através de aportes teóricos, as interações em sala de aula através das práticas de ensino do professor, expressas nas suas práticas de trabalho. PALAVRAS CHAVE: Sala de aula; Práticas de Ensino; Professora surda. 1. Introdução A questão específica a ser focalizada neste estudo, faz parte de um estudo maior de nossa pesquisa de doutorado através de um estudo etnográfico em sala de aula sobre o processo de aquisição da escrita inserida em práticas sociais mais amplas, denominadas por nós como estratégias pedagógicas no processo de interação. A pesquisa etnográfica tem como propósito, documentar o que acontece num dado grupo social, no que se estabelece entre a vida cotidiana, seus modos de fala, composto por uma pluralidade, um dado polissêmico: aquele que permite uma combinação, uma multiplicidade de referências e de fontes de inspiração, uma necessidade de pluralidade de abordagens e modos de descrição e análise; visando chegar à “verossimilhança de um espetáculo colorido da vida cotidiana” ou, vendo a interação social diária como um texto mutivocal e assim aberto a uma variedade de leituras (ERICKSON, 1990, p.208). Dessa forma, este estudo apresenta as seguintes questões: - como o professor surdo interage com os alunos e como os alunos interagem com o professor? - como o professor surdo lida com o processo de ensino da escrita? Tendo isso em vista e com o propósito de entender essa problemática, estamos adotando a noção de interação proposta por Goffman, (1983, p. 51); “a influência recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos outros, quando em presença imediata se constitui como uma situação social”, ou seja, em uma determinada situação o indivíduo desempenha um papel especificado, diante de determinado grupo, exercendo algumas influências sobre esses sujeitos, no caso de nossa pesquisa, em relação aos surdos. O papel que representa terá conseqüências apesar dos indivíduos terem referências anteriores veiculadas por outras instâncias. No caso dos alunos e professores, há todo um referencial de influências, tanto discursivas como certamente das estratégias utilizadas como referências teóricas - metodológicas de ensino. Na interação face a face, as pessoas regulam suas ações de acordo com o contexto. Um contexto caracteriza-se por ser dinâmico, pois fazem parte dele não só o ambiente material e espaço físico, mas também as pessoas o que elas estão fazendo naquele momento, suas expectativas e intenções (ERICKSON, 1986, p.6). O interagir com os outros, face a face, é construído continuamente, é uma aprendizagem, um processo complexo e inacabado. Na sala de aula, isso se torna visível, quando alunos e professores constroem uma dinâmica própria, marcada pelo conjunto de ações do professor, pelo conjunto de ações dos alunos, cada um (re) definindo seus atos, ações e língua (gem). Para investigar as questões apontadas, estamos entendendo que, para aprender escrever uma língua é, pois necessário aprender a pensar sobre ela (OLSON, 1977, p.23). Dessa mesma forma, SIGNORINI (2001, p.97) afirma: “(...) a dificuldade de encontrar uma relação possível entre a língua do aluno e a do modelo ideal de escrita, acaba sendo a questão pedagógica por excelência; uma vez que na hierarquia dos tipos textuais os modelos de escrita estão no pólo oposto ao da escrita informal a de menos status nessa hierarquia tida como menos monitorada, menos autônomo, mas próxima da fala, e portanto como a mais distante da escrita”. No intuito de compreender melhor a complexidade interativa da sala de aula entre professor surdo/aluno ouvinte e as bases estratégicas pedagógicas construídas pelo professor informante, apresentamos nossa discussão da seguinte maneira: apontamos inicialmente as fontes do trabalho dessa pesquisa; em seguida apontamos o seu contexto e sua caracterização; apresentamos, então, a aula a analisada; concluímos com as considerações finais. Dessa forma, estamos refletindo sobre “dados” de nossa pesquisa de tese, pontuando algumas práticas sobre as interações em sala de aula no ensino da aquisição da escrita. 2. Contexto da Pesquisa e Caracterização dos Informantes Estamos entendendo a aula como um evento que faz parte de uma organização complexa (instituição – escola), onde existe a multiplicidade de elementos estruturados e estruturantes que interagem no tempo, espaço no cotidiano da sala, interferindo nas ações do professor/aluno. Dessa forma, e a partir desses elementos, pretendemos reconhecer outros elementos presentes nas aulas de alfabetização do professor surdo/alunos ouvintes. MATÊNCIO (2001, p.161), aponta que o tipo de gerenciamento no evento (sala de aula), as abordagens e as estratégias didático discursivas propostas intervêm no processo ensino-aprendizagem, ou seja, a organização de uma aula inclui dimensão cognitiva e sócio-institucional, ligadas tanto ao conhecimento sobre o objeto de estudo e o saber fazer, como o conhecimento sobre esse tipo de interação e o saber dizer que orientam efetivamente o procedimento de planejamento e execução. Dessa forma, o desenvolvimento da organização de uma aula é feito por intermédio de ações didático-discursivas: o professor visa ao objeto didático, realizando ao mesmo tempo uma estratégia didática de verbalização. E, para isso, se apóia nas intervenções dos alunos, em termos de conteúdos, do saber e do dizer. Esses dois movimentos presentes na interação discursiva em sala de aula – saber e dizer e definidos pela interação discursiva e definidos pela intenção didática entre interlocutores produzem uma unidade maior, a troca que produz a seqüência, que é por sua vez uma constituinte das etapas de uma aula. Com base no que foi apontado, é possível entender a complexidade da sala de aula, a articulação discursiva e as estratégias mobilizadas pelos professores. Para caracterização dos dados dessa discussão estamos considerando o contexto de uma escola de ensino regular. A escola situa-se em município próximo a Belo Horizonte na zona rural. Os 10 alunos que nos serviram de informantes são 4 do sexo feminino e 6 do sexo masculino. A faixa etária dessas crianças estava entre 7 a 14 anos, sendo que apenas 3 repetiam a 1a série/ 2o ciclo. De acordo com os dados, as crianças iniciavam a escolarização com um atraso de faixa etária. Os pais são lavradores, em sua maioria, e não são alfabetizados. A professora caracteriza-se pela sua larga experiência na regência em ensino público como alfabetizadora, sendo portadora de surdez profunda, perda entre 80 e 90 decibéis. Perdeu a audição aos 6 anos de idade de forma gradativa, sem um diagnóstico fidedigno de acordo com as informações da família. Por opção própria, ADR, (estamos caracterizando como ADR – nossa professora informante surda), nunca aprendeu os sinais, fazendo uso da leitura labial. ADR tem uma fala compreensível, sendo que o que evidencia sua surdez à primeira vista é o uso do aparelho de audição. Graduada em Pedagogia / habilitação em Supervisão Pedagógica, mora na mesma região de seus alunos com sua família. Dessa forma, para discussão desse artigo, estamos considerando uma aula de alfabetização, com duração de 4 horas, ministrada pela professora informante. O tema, Folclore, fez parte de um Projeto maior da professora. Para análise, identificamos como a professora introduz e desenvolve suas aulas para atingir seus objetivos, ou seja, como se processa o ensino e as referências teórico - metodológico – discursivo, mobilizadas, observando os modos de participação dos alunos nos processos de interação (MATÊNCIO, 2001, p, 163). Para o desenvolvimento do seu trabalho, a professora informante utilizava um planejamento diário organizado por ela. O plano de aula sempre tinha a mesma característica: 1. Objetivos - o trabalho com a linguagem oral e escrita. 2. Estratégias a atividade a ser desenvolvida e os modos de mediação. “Caderno de Plano de ADR (1º semestre de 2002)”. De acordo com o planejamento diário, ADR organizava suas aulas observando um Projeto que era sempre elaborado por ela, mediante datas significativas. Os Projetos objetivavam segundo ADR, inserir o conteúdo, permitindo ao aluno a construção do sentido de sua aprendizagem com responsabilidades e atribuições, revelando desejos, conflitos, experimentações e atitudes para o desenvolvimento de sua convivência grupal. De acordo com nossas observações e com as características do planejamento diário da professora a aula seguia uma estrutura de gerenciamento conforme mostramos no quadro 1. (Cf. Quadro 1). QUADRO 1 PREPARAÇÃO: - Apresentação das atividades do dia, conversas informais sobre o trabalho do dia, organização das carteiras em sala de aula, organização das atividades no pátio (sentar em círculo, ouvir em silêncio). DESENVOLVIMENTO - Leitura da história em quadrinho, participação dos alunos na interpretação do tema dia, exercícios oral (reconhecer palavras no texto que não tem uma fala usual), exercícios escrito em relação às palavras apontadas. CONCLUSÃO - Avaliar a capacidade de o aluno expressar-se oralmente, avaliar a organização do pensamento do aluno, avaliar a linguagem oral e escrita. Nesse mesmo viés MATÊNCIO (2001, p. 163), afirma que: “(...) esse tipo de gerenciamento no evento inclui abordagens didático-discursivas no processo ensino-aprendizagem, e a própria organização lógica dos conteúdos, direta ou indiretamente vinculados às fontes de referência nas atividades propostas, em sua hierarquização e na seleção de instrumentos de ensino e aprendizagem.” Dessa forma, apontamos, através da discussão apresentada, a organização geral de uma aula com base nos agrupamentos de seqüências didático-discursivas e nos focos discursivos privilegiados. Matêncio propõe cinco etapas de uma aula: 1- abertura, 2etapa que não visa o objeto de estudo, ela é primordial na interação e tem a função inicial em relação às atividades didáticas, 3 - preparação, são a atividades do dia, ou seja, à abertura da aula, visando aos objetivos didáticos, 4 - desenvolvimento da(s) atividades, 5 - conclusão, a etapa do encerramento das atividades em termos de interação. Evidenciamos a proposta de Matêncio para apresentar a organização global das aulas, pois entendemos que os dados apresentados privilegiam essa organização. Procuramos focalizá-los em três etapas: Organização, Análise, Conclusão (APARÍCIO, 1999, p.15). No modelo proposto de análise, essas etapas são dividas em seqüências e as tarefas se materializam como atividades de uma aula. 2.2 Organização e Análise da Aula Partindo das noções de atividade e tarefa de acordo com MATÊNCIO (2001, p. 22), podemos indicar a atividade dessa aula como de linguagem oral e escrita, cujo tema é sobre o Folclore, em que professor/aluno interage trocando informações, contextualizando a linguagem oral, informações adequadas para fundamentar a temática a ser trabalhada. EXEMPLO 1 1P: boa tarde... 2AS: ((todos))... boa tarde... profeSSORA... 3P: como foi o fim de semana... brincaram... passearam... 4SPD: ((vários)) eu paSSEI... 5P: vamos organizar as carteiras para a aula de hoje... ((as carteiras eram organizadas em 6P: círculos de acordo que o professor ficasse no centro da sala, para que pudesse fazer a leitura 7P labial))... fizeram o para casa... deixem o caderno aberto que vou dar o visto... 8AS: ((todos))... abrem o caderno colocando em cima da carteira... 9P: muito bEM... alguns precisam ter mais cuidado... ((a professora ia de carteira em 10: carteira, fazendo observações orais e escritas no caderno das crianças))... muito 11: bem... sei que você é capaz de melhorar... te adoro... 12: ((terminando a correção)) ... hoje eu vou ler uma historinha ... mas primeiro quero 13: ouvir vocês... vamos para o pátio... 14P: vamos... em silêncio... para não atrapalhar seus colegas que estão na outra sala... 15: vamos sentar em rodinha... pois assim... todos podem dar sua opinião... 16 AS: ((alunos sentam e ficam atentos ao professor))... No trecho acima, podemos observar que o tópico, ou seja, o tema da tarefa (Folclore) se transforma em atividade didática e passa a ser o núcleo do trabalho do dia. Essa tarefa foi discutida aproximadamente 25 minutos. Na contextualização desse tópico é interessante observar o professor criando outro ambiente de escuta fora da sala de aula para desenvolver atividades de ensino, experimentar situações que envolvam uma perspectiva crítica de língua (gem). No que diz ao desenvolvimento linear dos tópicos da aula, verificamos a abrangência em relação ao desenvolvimento da tarefa, ou seja, o professor, para atingir seus objetivos, procura manter uma organização seqüencial conforme o próximo tópico a seguir. EXEMPLO 2 17P: quando vocês dormem... vocês... costumam sonhar... vocês dormem sozinhos... 18EG: eu sonho tem vez professora... eu já sonhei que fui à casa de minha tia... e estava 19: brincando... e depois caí no burACO... 20AS: ((risos))... 21DM: eu já dormi com gato... 22AS: ((risos)) 23P: com gATO... pode dormir com gato... 24AS: ((todos))... N A O... 25P: será que dormi com gato não pode... ou é... uma superstição... ou... porque causa 26: alguma doença... 27RP: não sei... o que é superstiÇÃO... 27P: bem... vou explicar... não podemos dormir com gato, pois é um animal que pode 28: causar doenças... por causa do seu pelo muito fino... que solta... observem quando 29: pegar em um gato... também se o animal 30: estiver sujo é falta de higiene... mas superstição... são várias credencies... coisas que 31: as pessoas acreditam... que nossos avós contam... nossos pais... entenderam... 32AM: que coisas professora... 33P: bem... vou ler a história e vocês prestem bastante atenção para entender... a história 34: é uma lenda... 35P: lendo... 36: “lENDA”... faz parte do que chamamos de superstição... a história é sobre As SOM 37: BRA: ÇÃO... um diálogo entre dois personagens... diálogo é a conversa entre duas 38: pessoaS”. 39P: Tião, ocê iscuitô o que a fessora falo da lenda?... Iscuitei. Já penso se a gente 40: incontrá o Saci-Pererê 41: fumando cachimbo e assustando tudo nóis?... Eu hein? Queria só vê tudo mundo 42: correndo se aparecesse argúem com os pés pra trás, o Curupira... AI, ai! Num posso 43: é pensá na Mula – Sem – Cabeça furiosa que arrepia tudo... Bom mesmo era iscuitá 44: a voz da Iara, a sereia linda que canta música pros pescador... Sério? Ocê queria 45: incontrá ela: de verdade?...É, querdite se quiser: mas imagino ela tão linda que só 46: vendo! ... 47: Agora me lembrei do Lobisomem... Quanta história de horror, né?... É, mas se a 48: Iara: fosse di verdade eu ia conquistá ela seu coração... Eh, Zeca! Ocê num tem 49: jeito. Fica sonhando até com mulhé de lenda” ... 50AS: ((os alunos escutavam com atenção))... 51P: gostaram... 52AS: G O S T A M O S.. 53P: se gostaram... quero ver quem entendeu... mas ... levante a mão...que outro título 54: poderia ser dado a 55: história... 56WS: história e lenda... 57EG: história equisita... ((risos)) 58RO: superstição e lenda... 59P: muito bem... quem são os personagens da história...personagens são as pessoas que 60: fazem parte da história... nós já estudamos... 61VP: ((pensando)) tião... zeca.. saci-pererê... mula- sem- cabeça... iara a sereia... 62P: muito bem... está certo... falta alguém... 63AS: ((todos))... N Ã O... 64P: vamos voltar à sala de aula...abram os cadernos... e... copiem o que eu vou 65: escreve no quadro de giz... copie no 66: caderno as palavras da história pronunciadas pelos personagens de maneira 67: diferente e as escreva corretamente... océ... fessora... querdite... mullé... iscutó... 68: argúem... 69: alembrei... 70AS: ((as crianças soletravam para escrever as palavras))... 71RO: VVVVvvv.... você... pLofessora.... não... P R O F E S S O R A... Arquedite... A 72: CRE DI TE... IScutou...: EScutou... AUguem... ((não consegui escrever)) 73:.alembrei... 74: ((minha mãe fala alembrei... conversa com o colega do lado... ))... mas é lembrei... 75: incontra... acho que ´´e assim que escreve... será que não é... 76P: ((a professora observava a escrita doas crianças indo de carteira em carteira, sem 77: fazer a correção no caderno))... RO... venha ao quadro... quero que todos prestem 78: atenção... leia a primeira palavra... ocê... 79:RO: ocê...vou colocar o v... 80P: certo... faça e escreve a palavra certa no quadro)) P R O F E S S O R A... 81: QUERDITE... 82P: o que é esquisito na escrita e fala dessa palavra... 83RO: a gente não fala é assim... é ... A C R E D I T E... e escreve acredite... a outra 84: palavra... posso fazer ... iscutou... escutou.... AUGUEM... não sei...((pensando)) ... 85: já sei... escutou... 86P: quem quer vir ao quadro.. 87FS: eu... 88P: como escreve... apontando o dedo para a palavra auguem... 89: olha para a minha boca aLguém.... ( sonorizando))... 90FS: alembrei... tiro o A... professora... 91P: sim... muito bem... e a próxima...Incontrá... ((pergunta dirigindo para o coletivo 92: alunos)) ... 93AS: ((todo)) ENcontrar... 94P: muito bem... todos vão olhar para as palavras que escreveram e fazer a correção no 95: caderno, escrevendo novamente a palavrinha... as palavras que for acertando 96: coloque um certo... como eu faço.. 97 ... Neste trecho, conforme observado vemos a professora interagindo com os alunos, lançando mão de diversas línguas (gens), e estratégias. Podemos analisar esse fragmento em dois momentos: linhas 17 a 90 e linhas 90 a 97 Observa-se nas linhas 17 a 91 a professora interagindo com os alunos através da linguagem oral, localizando aspectos interpretativos na história, caracterizando o conteúdo da história, ou seja, incorporado na temática da aula, as superstições, a lenda apontada na história contada. Dessa forma a professora adota como prática pedagógica as trocas de língua (gem) entre professor e aluno, buscando justificar o cultural e o social através do aspecto discursivo do texto selecionado. De acordo com a tarefa, linhas 91 a 97, a professora concebe a relação oral e escrita como observa Cagliari, “uma representação gráfica dos sons propriamente dita e de outro o da convenção ortográfica, momento em que a representação passa a dialogar com seus próprios limites, em cujo termo está a institucionalização de uma ortografia oficial”. Dessa forma, verifica-se a complexidade de uma aula de ensino da escrita, onde subjaz uma heterogeneidade de formas híbridas desse processo. No fragmento a seguir, a professora retoma a temática, concluindo e apontando atividades para a continuação do trabalho. EXEMPLO 3 97P: gostaram da história... 98AM: sim pois.... eu aprendi o que é lenda...eu achei legal... 99DM: eu gostei foi da sereia... 100P: bem... vou passar a tarefa de casa... conte para a mamãe o que vocês aprenderam 101: hoje...sobre as lendas... traga para a próxima aula ... anotando no caderno... 102: adivinhações...outras superstições que a mamãe 103: conhece... peça ajuda... para a mamãe... papai..; ou quem vocês acham que possa 104: ajudar... Neste fragmento, uma questão interessante é a preocupação do professor em não perder de vista o interesse dos alunos frente à temática apresentada, linhas 97, 98, 99,100,101,102,103,104, ou seja, as estratégias pedagógicas de ensino estariam respondendo aos questionamentos do conteúdo apresentado. Esse episódio também privilegia o social, o cultural numa dimensão interativa (linhas 102,103,104), em momentos estratégicos de aquisição da linguagem oral e escrita. 3. Considerações finais Na discussão apresentada procurei apontar, vários modos pelos quais o processo interativo em sala de aula, as estratégias de ensino, a heterogeneidade da aquisição da escrita, podem ser observados através das práticas de ensino. Dizendo de outra forma, na análise das práticas percebeu-se que, além de contribuírem decisivamente para o ensino e a interação do sujeito, corroboraram para o aparecimento de poder envolvendo práticas de controle, ou seja, a cultura veiculada pela instituição escolar perpassa pela preocupação marcante em controlar programas curriculares, atitudes, alunos e professor, pois o controle é uma condição indispensável de uma prática de qualidade, conforme fizemos observações através do Quadro 1, a respeito da prática do trabalho do dia. Entendemos que as estratégias pedagógicas e o processo interativo na aquisição da escrita do professor trazem vários modos de heterogeneidade nas práticas sociais conforme observamos na aula citada. Outra questão interessante nessa situação de ensino é a articulação entre o professor e os alunos em todas as situações da aula. Quanto ao processo de avaliação, os alunos fizeram a correção sozinhos, mobilizando uma autoconfiança e criando uma independência no processo. Dessa forma, é possível afirmar que as práticas pedagógicas de ensino e os modos de interação são fruto de articulações e das condições objetivas do trabalho em sala de aula, isto é, características pessoais e a formação da professora , ou seja, de todo trabalho docente. REFERÊNCIAS APARÍCIO, A.S.M. A renovação do ensino e gramática no primeiro grau no Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. IEL, Campinas: Unicamp, 1999. ERICKSON, F. Qualite Methods in research on teaching. In WITTROCK, M.C. (org.) Handbook of research on the teaching. Nova York: Mac. Milan. 1986. GOFFMAN, E. A representação do Eu na vida cotidiana, trad. Maria Célia Santos Raposo, Petrópolis: Editora Vozes, 1983. MATÊNCIO, M.L.M. 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