Relação professor-aluno(s) em sala de aula: alguns aspectos que
promovem a interação.
Ana Paula Dias
Universidade do Sagrado Coração, Bauru\SP
e-mail: [email protected]
Comunicação Oral
Trabalho concluído
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Introdução
Trabalhando com ensino superior, pudemos notar a constante comparação
dos alunos no que diz respeito à maneira como os professores conduzem o
relacionamento com os alunos. Durante os semestres letivos, sempre nos
deparamos com comentários que analisam a metodologia de ensino dos
professores, o relacionamento destes com seus alunos, o clima que a aula acaba
tendo e, inevitavelmente, com uma classificação dada pelos alunos para cada tipo
de aula, que corresponde, basicamente, em dizer se a aula é boa, produtiva,
dinâmica e fácil de entender.
Perante tais comentários, surgiu a ideia de se estudar o funcionamento de
aulas universitárias de diversas áreas de conhecimento e construir uma análise de
como se dá a interação entre professores e alunos e, assim, justificar possíveis
comentários feitos pelos alunos, através de elementos de análise encontrados em
cada aula. Esses comentários são importantes, pois é por meio deles que
professores e coordenadores do curso recebem um retorno avaliativo em relação ao
andamento e construção do curso. Dessa maneira, a presente pesquisa vem ao
encontro de muitos questionamentos de pesquisadores sobre a educação como uma
tentativa de explicar melhor o uso de alguns elementos que promovem interação em
sala de aula.
Nesse ponto, nos deparamos com a Análise da Conversação, linha de
pesquisa etnometodológica que surgiu a partir dos estudos de Harvey Sacks e seus
colaboradores, com um enfoque em direção ao estudo da organização social da
conduta cotidiana. Pomerantz e Fehr (2000) afirmam que, quando Sacks era aluno
de Erving Goffman na Universidade de Berkeley, chegou a conhecer Harold
Garfinkel em 1959. Sacks encontrou alguns pontos comuns entres seus estudos e
os de Garfinkel e passou a manter contatos com ele, surgindo, assim, os estudos da
Análise da Conversação.
Metodologia
As aulas, a serem analisadas, foram gravadas entre fevereiro e junho de 2007
em uma universidade privada da cidade de Bauru, interior de São Paulo, no período
noturno. A duração das aulas varia entre 50 e 110 minutos. Os alunos de todos os
cursos, de acordo com dados fornecidos pela secretaria da universidade, são
formados, em sua maioria, por pessoas de classe média e trabalhadores. Entre os
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alunos, há alguns que acabaram o ensino médio e já ingressaram no curso, mas há
também um grande número de alunos maiores de 25 anos, que ficaram cerca de 7
anos sem estudar e estão retornando agora à sala de aula, por possuírem no
momento condições financeiras de estudar, o que não ocorrera antes. Observamos
também que a maior parte vem da rede pública de ensino e trabalha em período
integral para poder pagar seus estudos.
Todas as gravações foram realizadas apenas por meio de áudio, pois os
professores demonstraram certo receio em permitir que esse processo fosse feito, e
exigiram que fosse mantido sigilo quanto às suas identidades, o que mostrou que
uma gravação por vídeo seria impossível. O momento de início e término das
gravações também foi por eles determinado, o que explica a ausência de registro da
etapa em que eles entram na sala de aula, cumprimentam os alunos para apenas
depois iniciarem suas aulas, assim como a finalização, quando se despediam dos
alunos.
Resultados e discussão
A interação conversacional é organizada de acordo com certos padrões
sociais e pode ser analisada como uma organização estrutural, independentemente
do perfil psicológico das pessoas envolvidas no processo. Temos uma vinculação
situacional com o caráter pragmático da conversação, que é reflexiva, pois seu
contexto será o emulador do contexto seguinte. Dessa forma, não são aceitas
construções teóricas prematuras, nem a idealização de materiais investigados, mas
sim estudos empíricos, mediante exaustivas análises dos fenômenos abordados.
Notamos que o turno do professor é sempre maior do que os turnos dos
alunos. Esse fato é justificável pelo professor ser o detentor do poder em sala de
aula, e caber a ele a distribuição dos turnos para os alunos. É ele quem decide se os
alunos podem intervir em sua fala e qual o melhor momento, pois ele,
institucionalmente, é o detentor do conhecimento e precisa transmiti-lo à sala,
fazendo com que todos os alunos adquiram esse conhecimento que, induz-se, não
possuem.
É fato também que, quando um aluno quer intervir na aula, nem mesmo o
professor consegue impedi-lo, pois o aluno pode fazer tal ato por meio de um assalto
ao turno. Mas, mesmo recorrendo a essa estratégia, o professor, logo após o
assalto, ainda tem em mãos o poder de decidir se permitirá que o tópico (turno)
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iniciado pelo aluno terá continuidade ou não. Então, de uma forma ou de outra,
mesmo sofrendo assaltos e intervenções em sua fala, o professor ainda é aquele
que controla o desenvolvimento da aula da forma como acreditar ser melhor, mesmo
que para isso coloque em risco sua face. A essa imagem os estudiosos atribuem o
nome de persona (Jung) e face (Goffman).
Desta forma, percebemos que todas as aulas que foram rotuladas pelos
alunos como mais produtivas, ou ainda, os professores que eram considerados mais
eficientes, construíam um tipo de aula mais dinâmica, em que havia maior interação
entre professor e alunos. Enquanto que as aulas e conteúdos considerados de maior
dificuldade eram aqueles em que o professor preservava mais sua face, não abrindo
a oportunidade dos alunos interagirem e participarem no decorrer das explanações.
Considerações finais
Percebemos que todo indivíduo está exposto a ameaças interacionais e que,
para construírem, preservarem ou restaurarem a face (e as dos demais participantes
do processo interacional), utilizam determinados elementos em processos de
figuração ou negociação da imagem. Esses processos mostram que os participantes
sabem negociar as relações, que eles conseguem lidar de forma proveitosa consigo
mesmos e com os outros. Com os professores não é diferente. Por meio do uso de
marcadores discursivos, atenuadores, repostas de confirmação ou de negação,
questionamentos, eles tentam preservar ou recuperar a face perante os alunos, com
a finalidade de manter a posição de prestígio da qual usufruem.
Referências
GARFINKEL, H. Studies in ethnometodology. Englewood Cliffs: Prentice Hall,
1967.
GOFFMAN, E. Ritual de la interacción. Buenos Aires: Tiempo Contemporâneo,
1970.
JUNG, C. G. Psicologia do Inconsciente. In: CAMPEBELL, A. et al. (Orgs.)
Estudos sobre Psicologia Analítica. 2. ed. Petrópolis: Vozes, p. 1-110. trad. Maria
Luiza Appy. (obras completas de C. G. Jung, 7), 1981.
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POMERANTZ, A.; FEHR, B. J. Análisis de la conversación: enfoque del estúdio de
la acción social como prácticas de la producción de sentido. In: DIJK, T. A. (Org.). El
discurso
como
interacción
social.
Estúdios
del
discurso:
introducción
multidisciplinaria. Barcelona: Limpergraf, p. 101-140, 2000.
SACKS, H.; SCHGLOFF, E. A.; JEFFERSON, G. A simlest systematics for the
organization of turn-taking for conversation. In: Language, 50: p. 696-735, 1974.
Palavras-chave: interação; professor; aluno; face; poder
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