Ongs ambientais: Um estudo acerca da comunicação e construção de novos atores
sociais a partir da sensibilização do público sobre a temática do meio ambiente 1
Autora: Cristiane Leite Pereira2
Co-autora: Waléria Santos Wenceslau3
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia
Resumo
O Terceiro Setor começou a ganhar expressividade em países da América Latina
nas décadas de 1960 e 1970, como oposição ao autoritarismo e na defesa de valores
democráticos. No Brasil dos anos 70?80 as ongs militantes lideraram a luta pela igualdade
com justiça social, partindo do princípio de que o indivíduo é responsável e capaz de
produzir as mudanças que julgar necessárias na sociedade. Já nos anos 90 surgem as ongs
propositivas, que passam a atuar em projetos específicos e mensuráveis pela lógica
mercadológica. Diante disso, este trabalho busca analisar até que ponto tais transformações
no modelo de atuação interferem na comunicação com os públicos-alvo, tomando como
objetos de estud o duas Ongs – a ARCA e o IBRACE.
Palavras-chave:
Ongs;
comunicação;
ambientalismo;
conscientização;
subjetividade.
Terceiro Setor e suas transformações
O Terceiro Setor trata de uma ordem social ao lado do Estado (primeiro
setor) e do mercado (segundo setor), cujas organizações são definidas por Maria
da Glória Gohn (2000) como organizações sem fins lucrativos, que visam fins
1
Trabalho apresentado à sessão de Eventos Especiais III – Intercom Júnior.
Graduanda do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da UFG, pesquisadora do
Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica do CNPq no Projeto Terceiro Setor, Comunicação e
Subjetividade, sob orientação da Profª Drª Maria Luisa Martins de Mendonça.
3
Graduanda do curso de Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas da UFG, pesquisadora do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq no Projeto Terceiro Setor, Comunicação e
Subjetividade, sob orientação da Profª Drª Maria Luisa Martins de Mendonça.
2
públicos, têm o objetivo de promover o desenvolvimento econômico local e tentam
promover uma formação consciente de cidadania e a construção de uma nova
subjetividade.
Atualmente, tal setor vem passando por profundas alterações em suas
esferas de atuação, sobretudo a partir dos anos 90, quando, de acordo com Gohn
(2001), as agências patrocinadoras ligadas às Igrejas redirecionaram-se à
redemocratização do Leste europeu, forçando as ONGs a buscar a autosuficiência financeira por meio de atividades produtivas e da economia informal.
Tal fato ampliou o universo de participação das organizações e desenvolveu
várias novas formas de associativismo, chegando a autora a afirmar que
atualmente o terceiro setor caminha para uma
articulação conjunta, em termos de frente de trabalho, entre movimentos sociais,
as modernas ONGs (“empresas -cidadãs” organizadas ao redor de temas sociais e
voltadas para o mercado com justiça social), determinadas associações comunitárias,
fundações sem fins lucrativos e algumas entidades tradicionais filantrópicas. (2001,
p.83)
Seguindo esse novo parâmetro de atuação, o Terceiro Setor cada vez mais
dedica parte de seus esforços nos processos e meios de comunicação para
alcançarem a consolidação de seu discurso junto ao público. No caso das
organizações ambientalistas, a comunicação com o público assume papel
primordial na medida em que somente a partir da conscientização, sensibilização
e mobilização deste é que as questões ambientais podem ser melhor disutidas e
defendidas.
O presente trabalho dialoga no roll dos processos comunicacionais de duas
organizações ambientalistas de grande atuação em Goiânia, a Associação para
Recuperação e Conservação do Ambiente e o Instituto Brasil Central, visando
conhecer como elas se comunicam com seu público e contribuem para a
construção de novas subjetividades autônomas, no que se refere à sensibilização
às questões ambientais difundidas pelas mesmas.
O ambientalismo e a hipótese do agenda-setting
Para o entendimento adequado do processo comunicacional das ongs
selecionadas, considerou-se pertinente adotar o embasamento teórico acerca de
temas como ambientalismo e agenda-setting, na medida em que tais elementos
conceituais respondem pela área de atuação e do enfoque da comunicação das
entidades, bem como pela influência dos discursos divulgados junto ao públicoalvo.
O ambientalismo ganha destaque a partir da década de 1960 (com
características mais definidas na Europa e nos Estados Unidos), e vem crescendo
consideravelmente nos últimos anos, sobretudo graças à articulação de seus
integrantes nas redes digitais. Este movimento é definido pelo cientista político
Eduardo Viola (1992) como sendo a abordagem das iniciativas da sociedade no
que
diz
respeito
ao
meio
ambiente,
compreendendo
os
movimentos
conservacionistas (uso racional dos recursos naturais), os preservacionistas
(prevenção da flora e fauna), os ambientalistas (luta contra a poluição urbana e
rural) e os ecológicos ou ecologistas (que consideram seus valores mais
profundos e contestatórios que o ambientalistas).
Com a Conferência do Rio em 1992, as questões ambientais passam a
despertar maior interesse no Brasil, criando um terreno propício ao crescimento
das organizações ambientalistas, mas também da mobilização social na defesa do
meio ambiente. Rabelo (2003) defende a participação democrática da população
na construção da sustentabilidade local, destacando o papel da comunicação
como meio fundamental de mobilização social. Outros autores, como Henrique &
Braga (2000), também concordam que a mobilização social é um processo que se
constrói por meio da intervenção da comunicação.
A irrefutável importância do processo de comunicação na difusão e
consolidação das idéias ambientalistas perpassa o poder de agendamento que a
mídia detém junto à sociedade. Tal hipótese de agenda-setting foi apresentada por
McCombs e Shaw (1972) e destaca que os meios de comunicação têm a
capacidade de pautar os temas que são objetos de debate público. Assim,
segundo Pereira (2004, p. 10), “quanto maior fosse a ênfase dos media sobre um
tema e quanto mais continuada fosse a abordagem desse tema maior seria a
importância que o público lhe atribuiria na sua agenda”.
Apenas a partir desses pressupostos teóricos é que se pôde iniciar o estudo
sobre a ARCA e o IBRACE, por meio de materiais como Construindo o Cerrado
Sustentável: Experiências e Contribuições das ONG’s , uma publicação da Rede
Cerrado de Organizações Não-Governamentais (à qual são filiadas as duas
entidades escolhidas), que trata do perfil e das experiências das organizações
filiadas, suas áreas de atuação e outras características.
Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente
A ARCA é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos
cujos objetivos sociais, conforme artigo segundo de seu estatuto, são promover o
conhecimento e a compreensão das leis que regem a sociedade; contribuir para a
recuperação e a conservação do ambiente, assim como para o uso adequado dos
recursos naturais; e apoiar iniciativas que tendam a assegurar uma qualidade de
vida satisfatória para as comunidades.
A Associação foi criada no dia 21 de setembro de 1978 na sede do Instituto
de Arquitetura de Brasília por um pequeno grupo de técnicos, acadêmicos de
Arquitetura e pessoas da comunidade local, atuando junto às comunidades de
baixa renda, buscando melhorar as péssimas condições de saneamento e
organização espacial das áreas de posse e articulando com segmentos
profissionais, propostas de conservação do patrimônio natural de nossa região.
Dois anos mais tarde a ARCA instalou-se em Goiás.
Inicialmente firmou convênio com a Universidade Católica de Goiás (UCG)
para a estruturação do Programa de Habitação Popular (PHAP), a fim de trazer
contribuições à solução da questão da habitação nas periferias urbanas, nas áreas
de posse, de risco e de áreas verdes ocupadas irregularmente. Em sua fase mais
recente, a ARCA vem atuando na elaboração de Planos Diretores, de ocupação
urbana, de regularização fundiária, planos ambientais e zoneamentos agroecológicos, além de ações de Educação Ambiental e regularização de Áreas de
Proteção Ambiental.
Outra de suas atuações é a participação na definição de políticas públicas,
sendo que atualmente tem assento no Conselho Municipal do Meio Ambiente de
Goiânia (COMMAM), Conselho Municipal de Política Urbana, Conselho Técnicocientífico do Jardim Botânico de Goiânia, e Conselho Estadual do Meio Ambiente
de Goiás (CEMAM), além de representar as organizações ambientalistas nãogovernamentais do Estado e fazer parte da Rede Cerrado de ONGs, formada na
ECO-92.
A ARCA atua em projetos específicos, elaborados em parceria com órgãos
governamentais
ou
entidades
privadas
que
financiam cada
projeto.
Tal
característica reflete o modelo de associativismo do Terceiro Setor retratado por
Maria da Glória Gohn, e mencionado anteriormente.
Tal entidade tem como meio de comunicação e divulgação principal a
publicação trimestral do Jornal Arca Viva, com tiragem média de 5000 exemplares
e distribuição gratuita.
Instituto Brasil Central – IBRACE
O IBRACE é uma organização não-governamental fundada em 1984,
fruto de reflexões das organizações vinculadas à Arquidiocese de Goiânia nos
anos de 1983 e 1984. Entidade de assessoria e apoio a movimentos populares e
para preservação ambiental, possui três áreas de atuação: direitos humanos
(esfera norteadora de seu trabalho), educação popular e meio ambiente. Para a
presente estudo, importa o trabalho realizado pela instituição referente às
questões ambientais.
A partir dessas vertentes, desenvolve atividades nas seguintes áreas:
Difusão de tecnologia por meio de cursos, palestras, experimentação
agrícola e diagnósticos;
Assessoria às associações de pequenos agricultores na produção,
beneficiamento e comercialização;
Assessoria à organização de associações, e à gestão financeira e
administrativa destas.
Na agroecologia, desenvolve experimentos com rotação de culturas com
adubação verde (mucuna preta, gandu e feijão de porco); produz sementes e
mudas de variedades adaptadas num campo de produção de sementes de milho
tradicional e viveiro de pantas nativas; resgata variedades de milho tradicional ou
crioulo; e realiza práticas de manejo e conservação da água e do solo com o uso
de curvas de nível, adubação verde e orgânica, cobertura morta, recuperação de
áreasdegradadas e construção de cordões vegetativos.
Entre as entidades com as quais o IBRACE realiza parcerias (aqui são
relevantes as parcerias em atividades ambientais), estão o Simpósio Ambientalista
Brasileiro no Cerrado,
universidades, Comisão de Educação Ambiental de
Goiânia, Prefeitura e Arquidiocese de Goiânia. Foi ainda uma das fundadoras da
Rede Cerrado de ONGs, respondendo por sua secretaria executiva. A Rede
congrega entidades da sociedade civil envolvidas com a conservação e
desenvolvimento sustentável do bioma Cerrado, visando promover a troca de
experiências e informações entre elas.
Seus
projetos
são
apoiados
principalmente
por
instituições
não-
governamentais do exterior, como a alemã Misereor – vide anexo II –, mas
também recebe apoio do governo federal para atividades na área de direitos
humanos. Sua forma de atuação baseia-se mais na assessoria, articulação e
apoio a grupos e organizações populares, e
menos em projetos pontuais
característicos do Terceiro Setor a partir dos anos 90.
Entrevistas
Após conhecer a história e a estrutura de cada uma das duas instituições
selecionadas, buscou-se, por meio de entrevistas, analisar de forma empírica o
processo de comunicação das mesmas com seus respectivos públicos-alvo, com
base no depoimento de integrantes das entidades sobre sua realidade e formas de
atuação.
No caso da ARCA, a entrevista foi concedida por Isabel Barea Pastore,
tesoureira, e Maria Teresa Ferreira, educadora ambiental, na sede administrativa
da instituição, no dia 14 de Janeiro de 2005. As perguntas que mais elucidaram o
tema do trabalho foram:
Cristiane – Vocês trabalham com projetos de ação como Plano de
Habitação Urbana, Plano Diretor. Como vocês conciliam esse caráter mais prático,
mais pragmático com o caráter de debate e conscientização da população quanto
à questão ambiental ?
Maria Teresa – Quando você fala em projetos como o Plano Diretor, a
população tem as reuniões públicas, nas quais nós a chamamos para debater e
ouvir o que elas querem. Acontece muito no interior essas audiências públicas, em
que as pessoas podem opinar e falar o que acham. Sempre que se envolve a
população você tem que ouví-la, porque é para ela. Agora, quanto a essa questão
de conscientização, eu particularmente não gosto desse termo, porque acho que
as pessoas são conscientes, elas não são sensíveis. Eu trabalho com Educação
Ambiental, e nós trabalhamos sempre visando isso: a sensibilização, mas sempre
respeitando a história de vida daquelas pessoas e não impondo uma solução que
fuja à vida delas, porque senão não faz sentido, não é para elas.
Cristiane – E qual é o principal público-alvo da ARCA?
Maria Teresa – Na verdade é a sociedade em geral, porque quando você
fala de Plano Diretor você está falando dos moradores de uma cidade. No caso de
outro projeto, o AJA, que é Alfabetização de Jovens e Adultos, aí são jovens,
adultos e professores, já é um público mais específico. No caso do Vale Vivo, você
tem produtores rurais, alunos, professores, uma comunidade. Então na você tem
produtores rurais, alunos, professores, uma comunidade. Então na verdade é a
sociedade em geral.
Cristiane – A parceria com órgão público limita o caráter de uma instituição
que não seja atrelada ao poder público, ou não, no caso da ARCA?
Isabel – A maior dificuldade que nós temos com os órgãos públicos é que
primeiro eles são muito lentos para a parte burocrática: você faz um projeto para
um órgão público, começa o projeto, faz o projeto, termina e você não recebe. Às
vezes você recebe um ano depois que o projeto acabou. E a ARCA tem sempre
posturas éticas, e às vezes a postura da ARCA não condiz com a postura do
órgão em relação a algum tema que está acontecendo na cidade, como a
construção de alguma coisa, a ocupação de alguma área. Também em algum
momento em que a gente é parceiro de um órgão para fazer um projeto legal, a
gente é inimigo do órgão em outro assunto, né? Então isso às vezes gera uma
certa polêmica.
Cristiane – Quais os meios de comunicação que vocês utilizam?
Isabel – Nós temos o jornal, que normalmente é bimensal, e sempre tem
algo num jornal, televisão; sempre que estoura qualquer coisa sobre meio
ambiente, a imprensa liga e a gente dá entrevista, fala...
Cristiane – Vocês têm um clipping, a junção de todas as notícias que saem
da ARCA?
Isabel – Nós temos algumas guardadas, e o jornal nós temos as edições
de todos os jornais. Cada jornal tem um tema, que geralmente é o tema que a
gente está trabalhando naquela época, como o último que foi sobre o Plano
Diretor de Anápolis, que é um trabalho que a gente fez; o penúltimo foi sobre
Goiás, distrito de Goiás. Conforme a gente vai trabalhando, a gente vai noticiar
nossos projetos ou alguma coisa que está acontecendo de importante pelo jornal.
Cristiane – No seu jornal vocês trabalham o debate de uma questão
ambiental, para trabalhar a construção de uma ideologia?
Isabel – Normalmente tem um pedaço do jornal em que a gente lança a
notícia, entrevista algumas pessoas da ARCA sobre aquela notícia, entrevista
algumas pessoas técnicas do município sobre a notícia, entrevista o construtor ou
executor do projeto, enfim, todas as versões para as pessoa poderem avaliar. Não
é um jornal de mão única. Então quando fomos fazer sobre o metrô, nós
entrevistamos o governo, os técnicos e os ambientalistas, e aí as pessoa têm
como formar uma opinião.
Cristiane – Então o processo de comunicação de vocês é feito pelo jornal,
por folders, e também pelo que sai na imprensa sobre a ARCA. Quais são os
principais objetivos desse jornal de vocês (ARCA VIVA)?
Isabel – Noticiar o que está acontecendo de importante sobre meio
ambiente. Você vai construir, por exemplo, uma represa em Goiás; é um assunto
polêmico que todo mundo está discutindo. Então a gente deve colocar opiniões
técnicas, verdadeiras, para que as pessoas possam avaliar se aquilo é ganho ou
não é ganho, quais são as consequências.
Já em relação ao IBRACE, a entrevista foi concedida por Irene Maria dos
Santos, coordenadora do Instituto, no dia 15 de fevereiro de 2005, em sua Sede
Administrativa. Algumas perguntas foram:
Cristiane – Originalmente qual era a ideologia defendida pelo IBRACE?
Irene – A ideologia do início é a mesma que defendemos até hoje. Nós não
chamamos de ideologia, mas de missão; a nossa missão é a promoção da vida
em busca do exercício da cidadania plena e da dignidade humana. Isso é o que
norteia o nosso trabalho desde o início até hoje.
Cristiane – E a partir do exercício da cidadania plena vocês consideraram
fundamental tratar a questão ambiental...
Irene – Sim, até porque, embora muitos não achem assim, a questão
ambiental está inserida nos Direitos Humanos. Quando se fala nos Direitos
Humanos, fala-se nos Direitos Civis, os Direitos Políticos – que são os mais
conhecidos, como o direito de ir e vir, o direito de votar, o direitos dos presos, a
questão da segurança etc. Os Direitos Ambientais estão inseridos nos Direitos
Sociais, porque quando você não tem uma qualidade de vida no planeta você não
tem vida.
Cristiane – Então vocês buscam justamente fazer com que a população se
articule e vocês dão a assessoria...
Irene – Exatamente, para que os grupos possam trabalhar e caminhar com
as próprias pernas. Fazemos o acompanhamento, damos a assessoria e vamos
junto aos grupos. Nós não somos uma entidade de ir e executar a tarefa; a gente
vai junto, fazendo com que os grupos por si deslanchem. Na área de Direitos
Humanos, nós trabalhamos o acampamento da Rio Vermelho, no Município de
Goiás, um dos primeiros assentamentos que começou com aquele acampamento
da BR 153, e hoje tem suas cooperativas organizadas, já se dividiram em vários
assentamentos e hoje tomam conta da vida deles. Trabalhamos também com a
Associação dos Pequenos Produtores de Caldazinha, que hoje têm sua
cooperativa e estão com outras entidades. Então a gente começou com toda a
assessoria sobre como se organiza, como se faz o estatuto, como registra
juridicamente, qual a missão de cada grupo, para que o grupo mesmo descubra
quais o seu interesse, e não copie e adeque o estatuto de outro, porque os
grupos, e portanto os interesses, são diferentes. Hoje nós temos um projeto em
que nós fazemos um trabalho em dois lugares: um nas escolas municipais da
região noroeste, que se chama Construtores da Paz, que é para levar a noção da
cidadania e dos direitos para dentro das escolas, no sentido de reduzir o índice de
violência escolar. Nós vamos ficar um período por lá e queremos criar um número
de multiplicadores da idéia, para que o trabalho continue depois de nossa saída.
Além desse, começamos o ano passado e agora daremos continuidade a um
trabalho de políticas públicas à luz dos direitos humanos na Diocese de Goiás.
Pretendemos atender 21 municípios, mas não fazendo o trabalho, e sim fazendo
um levantamento das potencialidades do município e fortalecendo o papel de
todos os conselhos.
Cristiane – Na área de meio ambiente, quais as suas principais atividades?
Irene – Nós trabalhamos exatamente com todas as entidades que
trabalham em prol do desenvolvimento sustentável do Cerrado. Hoje fazemos
parte de um colegiado da Rede, dentre 21 entidades. Em Goiás somos três
entidades envolvidas no colegiado, o Instituto de Assessoria Sindical (IFAS), a
Agrotec, que é uma entidade que trabalha a criação de animais silvestres e
plantas medicinais no município de Diorama, e o IBRACE. E em todos os Estados
em que existe o Bioma Cerrado tem um grupo de entidades desse colegiado.
Então o nosso trabalho é na área do desenvolvimento sustentável, no
fortalecimento
das
comunidades
tradicionais
como
as
remanescentes
quilombolas, grupos de mulheres, enfim, toda uma articulação com o universo
dessas instituições e parceria com as entidades que são referências nesses
locais, como no Maranhão, no norte de Minas com o Centro de Agricultura
Alternativa; no Mato Grosso do Sul temos o ECOA, que trabalha com o
assentamento Andaluzia dentro do desenvolvimento sustentável. Ao todo,
estamos envolvidos com cerca de 300 dessas entidades.
Cristiane – Quais os meios que vocês utilizam para comunicar seus
trabalhos?
Irene – Nossa comunicação é muito direta; é através de cartas, de folhetos,
do próprio trabalho que a comunidade passa a descobrir, da participação em
conselhos, seminário, conferências, palestras, e-mails. Agora nós vamos ter uma
página na Internet, mas até agora é assim, porque não temos um profissional de
comunicação. Temos algumas publicações muito periódicas, geralmente como
levantamento de dados que realizamos.
Considerações finais
Com base nas informações obtidas por meio das leituras de textos e das
entrevistas com integrantes das duas organizações selecionadas, bem como da
leitura de materiais como estatutos internos e publicações da ARCA e do IBRACE,
puderam-se detectar duas realidades bastante distintas quanto à atuação e
organização. Tais diferenças refletem as transformações sofridas pelo Terceiro
Setor nos últimos anos, brevemente explicitadas no presente trabalho.
A ARCA é uma organização composta por técnicos em sua maioria, com
uma atuação baseada em projetos específicos e mensuráveis, como a elaboração
de Planos Diretores. O financiamento para suas atividades é conseguido por cada
projeto pontual, realizado em parceria com entidades privadas ou governamentais
que financiam o trabalho, não contando portanto com nenhum financiador
permanente.
Tal
organização
retrata
com
clareza
o
modelo
do
novo
associativismo do Terceiro Setor, analisado pela autora Maria da Glória Gohn
como uma atuação mais emergencial voltada à prestação de serviços, visando
resultados mensuráveis: “ os financiamentos destinam-se a projetos pontuais, com
duração planejada e renováveis mediante avaliação” (2000, p.69).
A
estrutura
Conservação
do
organizacional
Ambiente
da
conta
Associação
para
predominantemente
Recuperação
com
e
pessoas
profissionalizadas, como técnicos ou alunos de curso superior sobre Planejamento
Urbano, possuindo uma área técnica destinada aos equipamentos e ao
planejamento de seus projetos.
O Instituto Brasil Central atua principalmente na articulação e assessoria na
organização de entidades civis, realizando em menor número trabalhos pontuais
típicos do novo associativismo. Busca incentivar e colaborar para que grupos
sociais se articulem, dando o suporte para que eles próprios desenvolvam seus
trabalhos. O IBRACE conta com financiadores permanentes, como a organização
internacional alemã Misereor, mantendo as características das ONGs dos anos
80. Não possui uma estrutura para manter profissionais especializados, nem
cursos de capacitação para seu corpo de voluntários e funcionários.
Além dessas diferenças de estrutura das duas entidades, foi observada
uma gestão comunicativa bastante distinta entre as duas: a ARCA publica
bimestralmente o Jornal Arca Viva, veiculando-o em universidades, escolas e
órgãos públicos. Já o IBRACE possui uma estrutura de comunicação bem menor,
realizando sua comunicação com as entidades filiadas ou parceiras por meio bem
mais direto: cartas, telefonemas, e-mails e outras ações comunicativas mais
pessoais. Apresenta dificuldades em divulgar seus trabalhos.
Como se pode observar, as diferenças na estrutura organizacional e na
esfera de atuação das duas instituições do Terceiro Setor analisadas são
claramente refletidas em suas práticas comunicativas, e na maneira segundo a
qual elas colaboram, mediante a interação com seu público-alvo, para a
sensibilização deste em relação às questões ambientais e participação ativa na
defesa do meio ambiente .
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