UM
BALANÇO ENTRE O PERCENTIL 50 E AS CARACTERÍSTICAS
ANTROPOMÉTRICAS E ERGONÓMICAS DOS INDIVÍDUOS IDOSOS
A balance between the 50th percentile and the anthropometric and ergonomic features of
elderly
Dare, Ana; Mphil; Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa
[email protected]
Caramelo Gomes, Cristina; PhD; Faculdade de Arquitectura e Artes – Universidade Lusíada
de Lisboa
[email protected]
Resumo
A Europa, Portugal em particular, apresenta uma sociedade envelhecida e dependente
económica e socialmente. O ambiente construído no qual o individuo actua diariamente e
interage com o seu semelhante apresenta soluções mais direccionadas para a circulação do
automóvel ou a especulação imobiliária do que para indivíduo. O idoso é avaliado como um
recurso biológico a ser reposto assim que o custo da sua manutenção seja demasiado elevado.
Este estudo evidencia a importância do Design numa investigação aprofundada sobre este
segmento da população, especialmente o contributo do design inclusivo para a humanização
do ambiente construído, nomeadamente o doméstico, na garantia da igualdade de
oportunidade de uso, independentemente de singularidades da cultura, características
biológicas e cronológicas, objectivando a participação activa na comunidade e a sua inclusão
social.
Palavras-chave: Ergonomia, Idosos, Inclusividade, Envelhecimento activo
Abstract
Europe, Portugal particularly, presents a matured society, depressed and economic as
socially dependent. Built environment, where human being develops quotidian activities and
interact with other beings reveals solution motivated by car circulation or real estate
speculation rather than human being. The matured creature is frequently assumed as a
biological resource to replace whenever its maintenance expenses grow. This study aims to
emerge the need of a deep research about this segment of population and demonstrate the
importance of inclusive design to the built environment humanisation, special the domestic
one, to guaranty the equal opportunity of use, independently cultural, chronological and
biological features, to achieve the active participation within community and his/her social
inclusion.
Keywords:
Ergonomics,
elderly,
Inclusive
Design,
Active
elderly
Factor Humano: Um balanço entre o percentil 50 e as características antropométricas e ergonómicas dos
indivíduos idosos
Introdução
Porquê idosos?
O processo de envelhecimento do ser humano, que tem na velhice a sua consequência
natural, tem sido, desde o início da civilização, um motivo de preocupação para a
humanidade, sendo que no final do séc. XX e início do séc. XXI, marcou definitivamente a
importância desse tema, devido à tendência para o aumento do número de indivíduos idosos
no mundo (DARÉ, 2008).
Nascer, crescer, desenvolver, reproduzir e morrer, esta é uma imagem possível para o ser
humano, sendo esta imagem associada a uma noção de “tempo biológico”, na qual as etapas
da vida evoluem linearmente e aparecem como algo natural.
A questão relativa ao envelhecimento pode ser analisada sob duas perspectivas: a
perspectiva da individualidade, onde o envelhecimento está assente numa maior longevidade
dos indivíduos, consequência de um aumento da esperança média de vida e pela perspectiva
demográfica, definida pelo aumento de pessoas idosas na população total. O agravamento da
população idosa é conseguido em detrimento da população jovem e/ou em detrimento da
população activa.
Fig. 1 – Evolução da proporção da população idosa, Portugal 1960 – 2000.
(Fonte: INE/DECP, Estimativas e Recenseamento Gerais da População)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a população idosa como sendo os
indivíduos – homens e mulheres – com idade igual ou superior a 65 anos, quando se trata de
países desenvolvidos e 60 ou mais anos, quando se trata de países em desenvolvimento
(IBGE, 2002).
Dentro de uma perspectiva defendida pela Organização das Nações Unidas (ONU), a
criação de uma sociedade para todas as idades, fundamento da justiça social, não pode ser
constituída sem que se observe a velhice como uma construção social necessariamente plural
e heterogénea.
O envelhecimento activo é o processo que permite aperfeiçoar a optimização das
oportunidades de saúde, participação e segurança, promovendo uma melhor qualidade de vida
à medida que as pessoas vão envelhecendo (WHO, 2002: 12). A expressão activa refere-se à
participação do indivíduo a nível social, económico e cultural, de acordo com as suas
necessidades, desejos e capacidades, independente das suas aptidões físicas e da participação
no mercado de trabalho, compatibilizando o envelhecimento e a qualidade de vida.
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Factor Humano: Um balanço entre o percentil 50 e as características antropométricas e ergonómicas dos
indivíduos idosos
Fig. 2– The determinants of active ageging
(Fonte: Active Ageing: A Policy Framework)
A manutenção da autonomia e da independência durante o processo de envelhecimento
são premissas importantes tanto para os indivíduos como para as políticas sociais. Devido à
descoberta de um mercado de consumo direccionado para esse público-alvo, há uma
tendência crescente em considerar as suas potencialidades, permitindo uma associação entre o
aumento da esperança de vida e a boa qualidade dessa mesma vida, com a autonomia e
integração/participação na família e na sociedade, usufruindo das capacidades individuais
desses mesmos indivíduos (RIBEIRINHO, 2005).
O Ser Humano e o Envelhecer
A perspectiva do envelhecimento é uma realidade intolerável para o homem
contemporâneo, face a um sistema personalizado onde só resta ao indivíduo durar e conservar,
aumentar a fiabilidade do corpo, ganhar tempo e ganhar contra o tempo (LIPOVESTSKY,
1989).
Todos os indivíduos que vivem muito tempo não escapam à velhice. É um fenómeno
inevitável e irreversível que se inicia na fase de desenvolvimento, sendo que a grande maioria
das alterações são compensadas e ultrapassadas até uma idade muito avançada (BEAUVOIR,
1990).
Quantos anos você teria se não soubesse quantos anos tem? Satchel
Paige (HAYFLICK, 1996: 3)
Fig. 3 – Casal de idosos (Fotografia de Ana Cristina Daré)
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indivíduos idosos
Embora seja esta uma fase previsível da vida dos indivíduos, o envelhecimento não é
geneticamente programado. Não existem genes que determinam como e quando envelhecer,
mas genes variantes cuja expressão favorece a longevidade ou redução da duração do ciclo da
vida.
Na grande maioria das vezes, apercebe-se que um determinado indivíduo apresenta
sinais de envelhecimento biológico menos profundo que a sua idade cronológica,
comprovando, dessa forma, que não há uma sistematização relativa às mudanças funcionais
associadas à idade. A transição entre a idade adulta e a velhice é muito ténue, sendo
determinada pela cultura e história de cada país. Na contemporaneidade, existe um ritual de
transição – à passagem para a reforma, onde o indivíduo deixa de ser um trabalhador activo,
assalariado, para ser inactivo ou pertencente à terceira idade, sendo que muitos indivíduos a
consideram como a morte social, uma vez que emerge um sentimento de inutilidade
(FONTAINE, 2000).
Fig. 4 – La Vida (Pablo Picasso)
(Fonte: http://www.spanisharts.com/history/del_impres_s.XX/arte_sXX/imagenes/picasso_vida.jpg)
A imagem da velhice associa-se, frequentemente, a uma série de crenças e estereótipos
negativos, relacionados com uma infinidade de défices, deteriorações e diminuições físicas,
psicológicas e sociais; no entanto, é crucial perceber que os idosos pertencem a um grupo
heterogéneo e que a diversidade individual se acentua com a idade. Esta diversidade pessoal
revela-se, portanto, como uma característica marcante do processo de envelhecimento, que
apresenta características biológicas dissemelhantes, em comparação com os jovens, que
apresentam características biológicas mais similares. De um modo geral, os indivíduos sofrem
na habilidade de reconhecimento, integração e reacção às informações captadas pelos cinco
sentidos – visão, audição, olfacto, paladar e tacto, levando a alterações dos hábitos diários
(ROCHA, 2006). As perdas funcionais mencionadas ocorrem nos sistemas vitais devido ao
envelhecimento, sendo consideradas normais e não estados de doença. As doenças associadas
à velhice não fazem parte do processo normal do envelhecimento. O cancro, as doenças
cardíacas, mal de Alzheimer, doença de Parkinson e os derrames ocorrem à medida que o
organismo se torna mais vulnerável, e os mecanismos de defesa menos eficientes
(HOFFMAN, 2006). A perspectiva frente às fases constituintes do ciclo de vida humano
reconhece que o grupo dos indivíduos idosos não é um grupo homogéneo e que apresenta
diversidades individuais que tendem a aumentar com o avançar da idade.
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indivíduos idosos
O Design Ergonómico Direccionado para o Idoso, Privilegiando uma Melhor Qualidade
de Vida
Na comunidade académica constata-se frequentemente a heterogeneidade na definição
de conceitos, identificando-se por vezes a diferença significativa da abordagem ou
entendimento do tema e particularmente a diferenciação específica em que o cerne da questão
é coeso e geral variando em particularidades próprias de culturas espácio-temporais e
metodologias de estudo. Nesta realidade a definição de conceitos como design e ergonomia
são exemplos significativos para o tema em estudo.
De acordo com Moraes (in Couto e Oliveira, 1999:170), o Design apresenta-se como
uma ferramenta de projecto cujo objectivo se centra no desenvolvimento de produtos de
configuração definida, com vista à sua produção em série, e que deve contemplar as questões
de uso, significado, desempenho, função, custos, produção e comercialização, mercado,
qualidade formal e estética e o respectivo impacto urbano e ecológico. Para Couto e Oliveira
(1999:9) o design deve ser compreendido não como um modo de dar forma aos objectos, mas
como uma estrutura coesa da qual fazem parte o utilizador, o designer, a forma, o desejo e o
modo de ser e estar no mundo de cada um de nós. A definição do International Council of
Societies of Industrial Design, afirma que o design é uma actividade criativa cujo objectivo é
estabelecer qualidades multifacetadas dos objectos, processos, serviços e respectivos sistemas
em ciclos de via completos. (ICSID, 2010). Nos exemplos apresentados, não é possível
afirmar a existência de diferenças incompatíveis antes a particularidade que permite uma
abordagem holística ao tema a partir de distintas definições que se complementam entre si.
Talvez o modo mais simples de definir o que é o design seja: a concepção de ambientes,
produtos e sistemas de comunicação com recurso a um processo metodológico e criativo com
vista a resolver um problema de interacção entre o homem e o mundo espácio-temporal em
que vive e interage. Muitas vezes estes processos caracterizam-se pelo recurso excessivo à
forma e à estética dedicando diminuta atenção ao processo metodológico. Poderíamos citar
diferentes autores que comportam na sua carreira profissional conceituada soluções
arquitectónicas e de design, que ao longo do percurso esqueceram e negaram a participação
do possível público-alvo. Algumas destas produções tornaram-se produtos iconográficos, e
apesar de merecido título, ficaram resguardadas de qualquer análise ou avaliação pósutilização. O reconhecimento académico e social das soluções apresentadas levaram os seus
pares a adoptar uma atitude egocêntrica expondo a sua opinião ou a sua ideia de partida como
o conceito gerador de ambientes, produtos e sistemas de comunicação esquecendo, por vezes
com consequências significativas, os requisitos próprios do contexto, da função e do públicoalvo a quem se dirigem.
O design não deve existir enquanto conceito, se não contemplar o contributo significante
e indispensável de áreas científicas como a antropometria e a ergonomia. Esta contribuição
deve ser pensada considerando o contexto, o desempenho da função e a capacidade humana,
de acordo com a realidade actual, evitando a consideração de dados, que embora credíveis e
válidos, são genéricos no sentido de nem sempre corresponderem às especificidades da
realidade ou do público-alvo em estudo.
A Antropometria é o ramo das ciências humanas, que lida com as medidas do corpo:
particularmente com a medição do tamanho do corpo, forma, força e capacidade de trabalho.
Etimologicamente ergonomia vem do Grego: ergos, trabalho; nomos, regra conhecimento,
saber (LACOMBLEZ, SILVA, FREITAS, 1996). Podemos considerar que esta seja apenas
uma primeira aproximação do vocábulo, mas que não especifica o objecto dessa disciplina,
visto existirem várias definições, sendo que todas procuram ressaltar o carácter
interdisciplinar e o objecto de estudo, que é a interacção entre o homem e o trabalho, no
sistema homem-máquina-ambiente, ou seja, as interfaces de um sistema onde ocorrem troca
de informações e de energia entre o homem, máquina e ambiente, resultando na realização de
trabalho (IIDA, 2005:2).
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indivíduos idosos
No entanto, a palavra trabalho admite uma variedade de significados. No seu sentido
restrito, trabalho é o que fazemos para viver, usado desta forma, a actividade em questão,
sendo definida pelo contexto em que ela é executada e não pelo seu conteúdo. A menos que
tenhamos algum motivo especial na abordagem dos aspectos socioeconómicos do trabalho.
No sentido mais amplo, entretanto, o termo trabalho pode ser aplicado a qualquer tipo
de actividade humana, planeada ou intencional, sobretudo quando houver o envolvimento de
um grau de habilidade ou de esforço. Quando se define a ergonomia como uma ciência
preocupada com o trabalho humano, está-se a utilizar o termo no seu sentido mais amplo,
sendo verdadeiro dizer que o foco principal da ciência da ergonomia é nesse sentido.
A ergonomia quando da abordagem do projecto pode ser sintetizada no princípio do
design centrado no utilizador. O modo pelo qual os indivíduos vivenciam o quotidiano, é
traduzido num sentimento de bem-estar físico, mental, social e espiritual. É importante que
essas vivências sejam qualificadas na promoção da acomodação das necessidades do
utilizador dentro do conjunto dos diferentes tipos de espaço, dando o seu contributo para uma
melhor qualidade de vida (REBELO, 2004). Vários autores construíram modelos conceptuais
para a conceptualização da metodologia de projecto. Por vezes estes modelos são muito
direccionados para a respectiva área de trabalho, como é o caso das Leis de Usabilidade de
Nielsen (NIELSEN, 1999), por vezes são modelos conceptuais cuja flexibilidade permite a
sua adaptação às diferentes problemáticas em estudo. Após o debruçar sobre alguns
arquétipos metodológicos, como os exemplos de Ergonomi Design Gruppen, 1997 (in
PASCHOARELLI e DA SILVA, 2006), Product Safety and Testing Group, 1997 (Norris and
Wilson in PASCHOARELLI e DA SILVA, 2006) ou Ergodesign, Brasil, 2001 (Frisoni e
Moraes in PASCHOARELLI e DA SILVA, 2006), propõe-se uma consideração especial
sobre duas etapas que apesar de enunciadas merecem uma maior evidência: a participação do
utilizador e a avaliação pós utilização.
A insistência na consideração de um processo metodológico de concepção projectual
centra-se na realidade experienciada por toda uma sociedade envelhecida, europeia em geral e
portuguesa em particular, que encontra no meio construído, nos produtos da vida quotidiana e
nos sistemas com os quais interage a limitação da igualdade de oportunidade, o desconforto e
a insegurança ilustradas pela informação estatística constante do estudo ADELIA e sobretudo
à segregação social que obriga à inactividade e solidão dentro da comunidade onde pertencem
e na qual ainda é necessária a sua actividade e participação. Nesta sociedade descartável, o
velho, enquanto indivíduo, aparece como um recurso biológico renovável a repor sempre que
se verifique a alteração do custo da sua manutenção.
Ilustração 5 – A passividade dos dias (fotografia de Ana Cristina Daré)
O espaço urbano e o edifício de habitação pensados para o indivíduo jovem/adulto, sadio
e activo, emergem como cenários (des)orientadores e segregadores da independência
económica, social e cultural de indivíduos com requisitos especiais como os idosos.
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indivíduos idosos
Durante o período medieval, o ambiente doméstico caracterizou-se por apresentar um
carácter público e não privado. O espaço era contido e abrigava um número significativo de
indivíduos, com as mais diferentes relações entre si, (familiares, sociais, laborais) que
dividiam o mesmo espaço e por vezes a mesma cama. As alterações económicas, sociais e
culturais, dos séculos XVII e XVIII permitiram uma nova concepção do ambiente doméstico,
a tipologia burguesa, cuja influência se verifica até aos nossos dias e que se baseia na trilogia
das áreas social, privada e serviços. Os espaços gerados são específicos para as funções a que
se destinam, os objectos existem para personalizar o ambiente e constata-se uma
predominância do carácter estático e mono funcional (FRANCESCHI, NASCIMENTO,
2010: 267). Se a configuração burguesa do espaço doméstico influencia ainda a tipologia
habitacional tal como hoje a conhecemos, é de salientar que os seus utilizadores, se afastam
da ideia da casa cheia de gente, emergindo o conceito de núcleo familiar, família de menor
dimensão, bem como diferentes composições como as estruturas monoparentais ou indivíduos
que por (im)possibilidade de escolha própria vivem sozinhos.
Ilustração 6 – A (Im)possibilidade da escolha de estar só (Fotografia de Ana Cristina Daré)
Com o avanço da idade, o tempo de permanência e o uso da habitação tornam-se mais
intenso para os indivíduos mais velhos, mas sem, contudo, se privarem do convívio social ao
qual estão habituados, necessitando, por isso, de ambientes que sejam seguros, para o
exercício do controlo pessoal (DARÉ, 2008). Actualmente privilegia-se um envelhecimento
activo, o que significa a manutenção e o fortalecimento das capacidades funcionais, que só irá
ocorrer se os idosos tiverem o controlo da sua própria vida. O ambiente construído tem o seu
contributo nessa perspectiva, desde que seja planeado e construído para atender aos seus
utilizadores em todo o seu ciclo de vida.
A questão importante é a definição do ponto de equilíbrio entre o ciclos de vida do
edifico e de seus utilizadores, sejam estes públicos ou privados. Se os novos estilos de vida
privilegiam os edifícios inclusivos, a questão mais crítica é o facto de que os indivíduos
idosos vivem sozinhos, e em alojamentos de precárias condições habitacionais e de conforto.
Em vista da natureza da vida contemporânea, é importante definir-se os utilizadores, as
dimensões antropométricas e ergonómicas e o seu estilo de vida. Se a percentagem de pessoas
com doenças físicas ou sensoriais/deficiência não é considerada significativa (quando
comparado com toda a população), a proporção de idosos é, não causando prejuízos por suas
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indivíduos idosos
exigências particulares, mas pelo ambiente, actividades, funções, produtos ou sistemas
disponíveis (DARÉ; CARAMELO GOMES, 2009).
A idade avançada é acompanhada por alterações biológicas, que desafiam a inter-relação
dos indivíduos com o ambiente doméstico.
A habitação concebida para o indivíduo Mítico, não considera as alterações das
capacidades funcionais às quais estes indivíduos estão sujeitos durante o seu ciclo de vida,
estimulando um desequilíbrio no uso da habitação e, consequentemente afectando
negativamente o modo de vida, os hábitos quotidianos e a sua harmonia. Os projectos
habitacionais geralmente não equilibram o ciclo de vida do indivíduo com o ciclo de vida do
ambiente edificado (DARÉ, 2008). As dimensões corporais, das quais se tem plena
consciência, servem como parâmetro de medidas para a percepção e apropriação do espaço
habitacional. O corpo deveria ser a medida base para edificar um sistema tridimensional,
numa escala de relações no espaço finito (CÍRICO, 2001). A qualidade do acto de habitar
volta a ser (ou deverá ser) o cerne do design (FRANCESCHI, NASCIMENTO, 2010: 261).
Os princípios dos fundamentos organizacionais do espaço têm como base os resultados
obtidos através da experiência da relação do homem com o seu próprio corpo e da sua
interacção com os outros indivíduos, confrontando deste modo as necessidades biológicas e as
relações sociais.
O dimensionamento humano torna-se, portanto, fundamental na concepção de projectos
de espaços físicos, tais como: a altura e os comprimentos dos membros superiores – do braço
e antebraço, e dos membros inferiores – da coxa e da perna. As mais importantes diferenças
entre as medidas do corpo são ditadas pelo sexo, idade e por factores de origem étnica. Com a
idade, diminuem as medidas de comprimento, porquanto o peso e a circunferência do corpo
aumentam (CÍRICO, 2001).
O envelhecimento biológico é uma variável crítica e relevante ao factor humano e que
deve ser considerada e fundamentada em três factores básicos:
1.
O crescimento do número de indivíduos idosos nos países desenvolvidos e nos
países em desenvolvimento, em função do aumento da esperança média de vida;
2.
A constituição de diferenças relevantes entre os indivíduos jovens e os
indivíduos idosos quanto às necessidades específicas;
3.
O reconhecimento dos indivíduos idosos como força de trabalho e como
utilizadores de produtos e sistemas (PHEASANT, 1996?).
Independentemente da falta de informação representativa da população idosa, deve-se
considerar que esses indivíduos podem ser qualificados como um grupo no qual algumas
medidas antropométricas e capacidades funcionais estão em declínio, ocorrendo diferenças de
indivíduo para indivíduo, não se devendo projectar para uma média, mas permitindo uma
flexibilidade na adaptação, de acordo com as necessidades de cada um. Por exemplo, as
medidas antropométricas disponíveis relativamente a esse público-alvo são limitadas às
medidas estáticas. A resposta para os problemas relativos a usabilidade dos ambientes não é
aplicada apenas para as medidas estáticas, mas sim para as medidas relativas ao corpo em
movimento ou seja de antropometria dinâmica e funcional. Portanto, essas questões devem ser
consideradas no projecto de ambientes, de modo a evitar e/ou minimizar que esses indivíduos
se comportem como deficientes (CARLI, 2004).
Os Designers devem privilegiar, quando da sua actividade, o pleno conhecimento dos
indivíduos ao qual estão a projectar, ou seja, seguir o princípio do design centrado no
utilizador, não significando que, no caso dos idosos, o envelhecimento constitua um processo
linear/ou padrão, sendo um grupo que apresenta uma maior diversidade, por ser esta uma fase
em que muitas alterações ocorrem no organismo. Esse público-alvo é precisamente o mais
esquecido e/ou mais insuficientemente servido pela industria e os respectivos designers
(PAPANECK, 1995). Na maioria dos casos, as soluções encontradas de usabilidade dos
espaços, produtos e sistemas de comunicação voltados aos indivíduos idosos, também o serão
para outros grupos de utilizadores. Os idosos transformam-se, dessa forma, numa ferramenta
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de auxílio ao designers quando da rápida identificação das dificuldades de interacção que
possam surgir em outros grupos, e que apresentem a mesma similaridade (FISK [et al], 2009).
Conclusões
O modo como experienciamos a realidade construída ilustra a necessidade urgente de
contextualizar o Design na dimensão espácio-temporal em que se insere. A cultura da
participação pública deve ser incentivada desde os bancos de escola para que o indivíduo
tenha uma intervenção sustentada, construtiva e voluntária na comunidade em que se insere.
A aproximação entre academia e a indústria deve ser mais que um cliché. A Academia
deve estar receptiva aos ensinamentos emergentes da prática, e a prática deve igualmente
compreender a academia enquanto entidade do saber e cooperação. O respectivo desempenho
pode ser aperfeiçoado significativamente pela análise e reflexão sobre teorias e práticas de
outros criativos, de outras realidades e de outras culturas.
A disseminação de boas práticas, para que possam ser analisadas, interpretadas e
adaptadas (sempre que desejáveis e possíveis) a outras realidades. Compreender que criar um
ambiente construído humanizado, implica dar igualdade de oportunidade de uso para o maior
número de indivíduos que apresentam características individuais de acordo com a sua cultura
e com o seu envelhecimento biológico e cronológico. Toda e qualquer medida que permita a
participação na comunidade e a inclusão social do indivíduo idoso deve ser valorizada e
disseminada.
A associação do idoso aos indivíduos com mobilidade condicionada é no mínimo
perversa, não facilitando, a vida desses indivíduos, que apresentam outro tipo de limitações,
estimulando e enfatizando o preconceito já existente.
Há uma grande diferença entre o indivíduo idoso e o indivíduo com mobilidade
condicionada, principalmente no que toca ao ambiente doméstico. O portador de mobilidade
condicionada tem uma situação bem definida com relação à sua deficiência, enquanto o idoso
está sujeito a constantes alterações nas suas habilidades, sendo inclusivamente, difícil de
prever quando, o quê e em que grau acontecerá uma debilidade que afectará o uso do
ambiente construído. Enquanto o portador de mobilidade condicionada necessita de um
ambiente com características específicas, que atenda as suas limitações, o idoso necessita de
um ambiente não específico, mas flexível e adaptável às mudanças das suas habilidades,
mudanças essas que podem ocorrer durante o seu ciclo de vida (CARLI, 2004).
A flexibilidade e a possibilidade de ajustes no ambiente construído em geral e no
ambiente doméstico em particular poderão ser alcançadas quando da concepção de espaços,
produtos e sistemas de comunicação a serem utilizados pelo mais amplo espectro de
indivíduos, sendo contempladas as questões relativas ao fácil entendimento sobre o uso
(legibilidade), a segurança e o conforto e a integração de todos.
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