ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL: INOVAÇÃO TERRITORIAL E INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL CALÇADISTA DE BIRIGUI-SP, NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL Andréia de Alcântara Cerizza Doutoranda em Ciências Sociais - Universidade Estadual Paulista - UNESP campus Marília Docente - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de SP - IFSP campus Birigui. Rua Pedro Cavalo, 709, Portal da Pérola II, Birigui-SP. CEP: 16201-407. +55 18 3643-1177, [email protected]. Luís Antônio Paulino Doutor em Ciências Econômicas – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Docente, Universidade Estadual Paulista - UNESP campus Marília. Av. Hygino Muzzi Filho, 737. Bairro: Mirante 17.525-000 - Marília, SP. +55 14 3402-1336, [email protected]. RESUMO O objetivo central do trabalho foi verificar, a partir da abertura econômica ocorrida na década de 90 no Brasil, como a cidade de Birigui-SP respondeu a competividade global, por meio de análise da assimilação de elementos condutores/potencializadores de desenvolvimento, tais como inovação territorial e internacionalização de empresas, na perspectiva do desenvolvimento local. Dentre os objetivos específicos, procurou-se (a) desenvolver referencial teórico sobre Globalização, Desenvolvimento Local, Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, Inovação Territorial e Internacionalização de Empresas e (b) verificar como se dá as dinâmicas de Inovação Territorial e Internacionalização de Empresas na localidade. As hipóteses levantadas foram de que a globalização determina os parâmetros no âmbito concorrencial, e o local e sua territorialidade passa a ter papel reativo neste processo e os arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais dinamizam outros setores produtivos, que não fazem parte da cadeia produtiva, mas que assimilam os modos de gestão e as relações exercidas pelos agentes do arranjo diante da competitividade global. Palavras-chave: Desenvolvimento Local, Inovação Territorial, Internacionalização de Empresas, Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. 1.INTRODUÇÃO Dois momentos históricos, as grandes navegações e a revolução industrial, são considerados marcos do processo global, com distintas funções e estratégias na perspectiva de seus períodos históricos, mas com o mesmo intuito de acumulação de capital. Mas foi na década de 50, precisamente no pós-guerra, que se intensifica a internacionalização do capital produtivo, no caso, pelas multinacionais. Os países centrais iniciam um movimento de acumulação de capital pelas remessas de lucros de suas multinacionais, que atuavam em países periféricos, e pela administração das dívidas externas que esses países contraiam, em virtude das políticas desenvolvimentistas de incentivo à industrialização. Após a década de 70, desenvolvimento começa a ser associado com maior frequência a adjetivos tais como humano, social, ecológico e sustentável, reconfigurando mais uma vez o conceito e estabelecendo relações até então ignoradas, como a relação entre desenvolvimento e meio ambiente, desenvolvimento e a governança global, ou ainda, desenvolvimento e os modelos de médio alcance. Em função disso, o termo voltou a ocupar um lugar de destaque nas políticas públicas, na academia, na mídia e em projetos de diferentes grupos e organizações (SIEDENBERG, 2004). Na década de 90, a palavra sustentabilidade denota uma mudança radical na forma de pensar o desenvolvimento, pois imprime uma questão de legado às futuras gerações, ou seja, de como se apropriar do território, mas de forma a mantê-lo em condições de futuro uso ou reutilização, de garantir a vida futura. A questão endógena também fortaleceu o debate, com concepções de desenvolvimento que privilegiam a ação do local, sua territorialidade, como força política na condução da vida social perante os imperativos globais de crescimento econômico. Esta modificação de modo de racionalizar o desenvolvimento trouxe também uma nova forma de estudar o desenvolvimento, ou seja, os critérios são multidimensionais: o local, o ambiente, a política, a economia, a cultura, a sociedade. Atualmente, a discussão sobre o desenvolvimento e globalização é norteada pela questão da governança, pela preocupação política de como regular as transações econômicas, pelas assimilações e adaptações culturais, políticas, ambientais entre outras realizadas aceleradamente no cotidiano vivido, por intermédio da ruptura espaço-tempo das relações humanas, baseadas nas tecnologias de informação e comunicação. A complexidade das mudanças territoriais decorrentes da globalização e do desenvolvimento, a valorização de técnicas mais inovadoras para a competitividade global, aliadas a dimensão política, o papel do Estado, a governança, práticas institucionais e sociedade civil, faz parte da proposta de desenvolvimento que se vincula ao estudo do tipo de desenvolvimento tratado especificamente no trabalho. Para o desenvolvimento do estudo, foi adotada uma pesquisa exploratória, pois envolve coleta de dados no campo. A análise de caráter exploratório, de acordo com Richardson (1999, p.17), visa descobrir as semelhanças entre fenômenos, quando “os pressupostos teóricos não estão claros, ou são difíceis de encontrar. Nessa situação, faz-se uma pesquisa não apenas para conhecer o tipo de relação existente, sobretudo para determinar a existência de relação”. Foram realizadas pesquisas: bibliográfica e entrevistas. As concepções teóricas e os elementos de análise do estudo são Globalização, Desenvolvimento Local, Inovação Territorial, Internacionalização de Empresas, Cidade de Birigui - SP e Análise de elementos para competitividade global: Inovação territorial e internacionalização de empresas no arranjo produtivo local calçadista de Birigui- SP. Os entrevistados são organizações representativas existentes na cidade ou na região do poder público, patronato, sociedade civil e trabalhadores, valorizando a composição social da localidade. A elaboração trabalho foi realizada na perspectiva de objetivos específicos. Após o levantamento de dados do poder público, empresas e sociedade civil, por meio de referenciais, entrevistas e observações, foi desenvolvida análise consolidada de dados coletados: poder público, empresas e sociedade civil e comparativa das informações: compreensão da realidade frente aos referenciais e o relatório final. O trabalho foi desenvolvido em 7 seções, sendo: 1 – Introdução; 2 - Globalização e potencial endógeno dos territórios, demonstrando a importância de estudos relacionados às dinâmicas territoriais e as possibilidades de desenvolvimento a partir da localidade, como ação local em interação com o global; 3 – Desenvolvimento na perspectiva da localidade – Desenvolvimento Local; 4 - Arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais – conceito e especificidades; 5 - Elementos para competitividade global: inovação territorial e internacionalização de empresas – conceitos. Para contextualização histórica e análise, foram desenvolvidas as seções 6 - Birigui – SP: Formação histórica, caracterização e o impacto da abertura econômica da década de 90 e 7 - Análise de elementos para competitividade global: Inovação territorial e internacionalização de empresas no arranjo produtivo local calçadista de Birigui - SP, na perspectiva do desenvolvimento local: ações ou reações/respostas ao processo de globalização, estruturadas ou condicionadas ao determinismo concorrencial - Inovação territorial e internacionalização de empresas em âmbito local no enfrentamento da competitividade global. 2.GLOBALIZAÇÃO E O POTENCIAL ENDÓGENO DOS TERRITÓRIOS O termo global foi adjetivado na década de 80, em escolas americanas de administração de empresas, e em pouco tempo foi absorvido pelo discurso político. Fatores tais como desregulamentação financeira e o desenvolvimento da globalização financeira; as tecnologias, que possuem duplo papel: permitir e intensificar o processo, fora as possibilidades de internacionalização do capital produtivo, pela mobilidade de se adequar de acordo com suas necessidades, dinamizaram as relações sociais e econômicas em escala global (CHESNAIS, 1996). São diversas as possibilidades de estudo sobre a globalização, dada à complexidade das relações e as contradições produzidas enquanto processo histórico-social multidimensional, que modifica, reconstrói, rompe, recria formas de interação social. Consequentemente modelos conceituais e modos de compreensão até então estabelecidos, perdem ou adquirem outro significado, e “se recoloca a dialética parte e todo, tanto quanto singular e universal” (IANNI, 2011). Os estudos sobre globalização preconizados por Ianni (2011) reforçam a dificuldade metodológica de compreender aspectos tão disformes e complexos que compõem esta dualidade. A globalização, enquanto processo, pode ser entendida como mundialização do capitalismo, bem como fenômeno social em escala global que abarca todas as esferas de ação humana: política, econômica, social, ambiental, tecnológica, cultural entre outras. Esta possibilidade global foi/ é dinamizada pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e percebida como propulsora de mudanças nas nações, territórios e pessoas, devido à virtualização sistêmica contida no vivido global: Estado e sociedade, tradição e modernidade, a ciência, tecnologia e inovação, nas políticas de desenvolvimento, inclusive das localidades (CHESNAIS, 1996, IANNI, 2011, SANTOS, 2000). Milton Santos, em vários trabalhos desenvolvidos sobre a temática, desseca a questão global como perversa e afirma que o mercado dito global é avassalador, capaz de homogeneizar o planeta e aprofundar as diferenças locais (SANTOS, 2000). Santos tece sua reflexão observando a globalização como fábula, como perversidade e como possibilidade. A globalização é posta como ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, entendido pelo estado das técnicas e o estado da política. O olhar de Santos é realista, mas vislumbra também uma esperança, determinada pelo uso político que poderia ser feito do mercado global e do sistema de técnicas. A globalização pode também ser definida como a dinâmica intensa das relações sociais em âmbito mundial, ligando de tal forma as localidades, que acontecimentos locais são moldados por eventos distantes (GIDDENS, 1999). Em seu trabalho intitulado “As consequências da modernidade”, Giddens discute o distanciamento tempo-espaço, pelo alongamento de complexas relações e contextos sociais e situações locais e distantes, e afirma que globalização diz respeito a este alongamento, determinado por conexões entre diversas regiões e realidades sociais, numa perspectiva planetária. Na relação entre o indivíduo (individualmente ou em grupo) e seu referencial territorial (localidade, região, país), é exercida a territorialidade, que é e que contempla as ações dos indivíduos e os sentimentos de pertencimento no território determinado (ALBAGLI, 2004). O território se delimita/define a partir das relações de poder em suas múltiplas dimensões, reforçando que território também é um campo de forças, teia ou rede de relações sociais, valorizando assim os aspectos imateriais de seu uso/apropriação (RAFESTIN, 1993). As várias dimensões observadas sobre o território são relacionadas à dinamicidade, a distinção e a sua formação: Física - observando as características naturais, bem como os resultados advindos da utilização e vivência dos agentes sociais num dado território; Econômica – modos de relações sociais relacionados aos processos produtivos; Simbólica – relacionada à identidade, as relações culturais e afetivas de um grupo em determinado local e Sóciopolítica – relações de poder (dominação, influência) e interações sociais (SOUZA, 1995 apud ALBAGLI, 2004). Na visão de desenvolvimento endógeno, o território age como promotor de recursos e consequentemente agente do desenvolvimento, e não meramente suporte geográfico das ações sócio - econômicas (PIRES et al., 2006). O desenvolvimento da localidade é considerado endógeno quando a comunidade é capaz de dispor de uma estratégia própria e de exercer controle sobre a dinâmica de transformação local, garantindo que o território não seja um receptor passivo das estratégias das grandes corporações e organizações externas (ALBAGLI E MACIEL, 2002). 3. DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA DA LOCALIDADE: DESENVOLVIMENTO LOCAL Sobre o prisma do desenvolvimento local, o território tem um papel transformador, onde se manifesta, por meio dos vários agentes (econômicos, sociais e políticos), novas formas de cooperação, solidariedade e parceria, observando assim sua territorialidade, ou seja, o modo de apropriação de cada grupo em um determinado território. No caso específico da territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel (2002) estas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da população incidem diretamente sobre a atividade produtiva. Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem empresas, agentes locais, organismos de pesquisa, educação e treinamento (ALBAGLI & MACIEL, 2002, p. 16). Abrange no termo “competitividade sistêmica” um sentido altamente territorializado, configurado pelas redes que difundem o conhecimento tácito e a competência, estando associadas a um tecido de atores que estruturam pela proximidade uma rede de serviços em torno de um produto (BOISIER, 2001). O território age como promotor de recursos e consequentemente agente do desenvolvimento, e não meramente suporte geográfico das ações sócio econômicas (PIRES et al., 2006). As localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, além de economias de escalas não exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento (BRITO & ZAPATA, 2004). Ao conceber uma referência sobre a dinâmica do desenvolvimento local, deve-se enfatizar a promoção da melhoria da qualidade de vida, ressaltando outros objetivos, tais como a elevação dos níveis de autoconfiança e organização. Para tais concretizações, os autores propõem a possibilidade das comunidades terem uma visão de futuro num território, de modo comum e flexível, realizando ações que possam ajudar à construção e reconstrução desse futuro (ÁVILA, 2000; FRAGOSO, 2005). Para Ávila (2000), o desenvolvimento local implica em observar tanto as potencialidades locais de desenvolvimento, o que cada comunidade possui/pretende, quanto de condições ou meios endógenos (de dentro para fora) e exógenos (de fora para dentro), que dinamizem seus objetivos, suas intenções. É por meio da comunidade - interagindo, trocando, assimilando, renovando que se dará o autêntico DL, a promoção das pessoas, da capacidade local para o autodesenvolvimento. Ávila enfatiza o que não pode ser considerado Desenvolvimento Local Endógeno, no caso, o Desenvolvimento no Local (DnL), que constitui desenvolvimento, em termos econômicos, e local, em termos físicos. Ocorre geralmente quando grandes conglomerados econômicos se apropriam do local para fins lucrativos e permanecem ali enquanto for vantajoso. É considerado um desenvolvimento restritivo, pois não leva em conta as necessidades da comunidade presente (ÁVILA, 2003). 4. ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS – CONCEITOS E ESPECIFICIDADES Os Arranjos Produtivos Locais - APILs, são aglomerações de empresas situadas em um mesmo território, que apresentam uma produção específica e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais (SEBRAE, 2003). Segundo a definição da REDESIST, os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, ou SPILs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais que se constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e congruentes, que apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os APILs diferem dos SPILs pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem significativo vínculo entre os agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005). Alguns aspectos que caracterizam os APILs são (LASTRES e CASSIOLATO, 2005): Dimensão Territorial - a troca de informações, de valores, por meio de uma proximidade geográfica; Diversidade de atividades e atores econômicos, políticos e sociais – participação e interação de diversas instituições, públicas e privadas, tais como universidades, órgãos públicos, organizações da sociedade civil, empresas de consultoria, entre outros e Conhecimento Tácito – considerado uma vantagem competitiva, pois este tipo de conhecimento é especificamente do local, do território vivido, não estando explícito para os agentes externos. Governança – diferentes modos de coordenação entre os agentes para os processos de produção e comercialização, bem como para aquisição e uso do conhecimento. São várias formas de governança e hierarquias nos sistemas produtivos, bem como distintas formas de campos de força na tomada de decisão. Os autores também sinalizam como características o Grau de enraizamento – mensurado pelas articulações, bem como o envolvimento dos diversos agentes dos APILs no tocante aos recursos, com os outros agentes e com o mercado. Alguns elementos que determinam o grau de enraizamento são o nível de agregação de valor, a origem e o controle (local, nacional e estrangeiro) das organizações e o destino da produção, tecnologia e demais insumos e a Inovação e aprendizado interativos como possibilidade de absorver e criar produtos, métodos e processos como fator de sobrevivência, crescimento e desenvolvimento do arranjo. O aprendizado constitui fonte fundamental para a transmissão de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e outras organizações. Para o MDIC (2013), os APILs se apresentam como estratégias de desenvolvimento baseado em atividades que levam à expansão da renda, do emprego e da inovação. Espaços econômicos renovados, em que as pequenas empresas podem se desenvolver usufruindo as vantagens da localização, a partir da utilização dos princípios de organização industrial como alavanca para o desenvolvimento local. Os APILs permitem estratégias de aprendizagem coletiva direcionada à inovação e ao crescimento descentralizado, enraizado em capacidades locais. Os estudos relacionados aos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais preconizados por Albagli evidenciam, dentre outros ganhos de escala, atividades correlacionadas do sistema produtivo e inovativo, observando grupos de agentes (empresas e organizações de P&D, educação, treinamento, promoção, financiamento, entre outros). A cobertura do espaço onde se desenvolve a dinâmica do aprendizado ocorre a partir da observação dos conhecimentos tácitos, que não estão explicitados, espaço este onde são criadas as condições para a inovação e a capacitação produtiva. A verificação do estágio onde a efetivação de políticas de promoção do aprendizado, inovação e criação de capacitações se concretizem em ações, enfatizando a participação e coordenação dos agentes, sejam eles locais, regionais ou nacionais. Os arranjos e sistemas produtivos locais, embora, de pronto, tenham conotação economicista por abarcar a questão produtiva e econômica, extrapola essas dimensões pela proximidade, pelas trocas estabelecidas entre os vários agentes no território e pelo constante aprendizado que a interação propicia. Para Porter (1999), a proximidade é um elemento de reforço para a inovação, pois com similaridades de circunstâncias básicas, como custos de mão de obra e instalações, o destaque é a criatividade. Percebe-se, na caracterização dos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, o papel da inovação como potencializador de competitividade entre o arranjo para com os concorrentes externos. 5. ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – CONCEITOS INOVAÇÃO TERRITORIAL E 5.1 Inovação territorial Fernández concebe a inovação territorial como coletiva e realizada em um determinado território, numa perspectiva integradora em termos econômicos, sociais, políticos e ambientais e da relação entre os atores/agentes. A inovação territorial coletiva então é entendida como um sistema dinâmico de reprodução territorial fundado em inovações permanentes, resultado de relações de cooperação entre os atores-públicos e privados, individuais e coletivos - de determinada região/território (FERNÁNDEZ, 2004). Deve ser realizada comumente, para a absorção de novos conhecimentos que podem resultar em inovação, tanto empresarial, quanto pública, e potencializar o processo de desenvolvimento territorial local. No processo de desenvolvimento, não há linearidade e sequência, por isso é único, e dependente de questões políticas, econômicas, históricas e culturais de uma dada localidade. O desenvolvimento ocorre a partir de modificações estruturais de longo prazo, que geram mudanças de padrões estabelecidos historicamente. Tanto a teoria, quanto as recomendações de política são altamente dependentes de cada contexto particular (CASSIOLATO e LASTRES, 2005). Portanto, para Cassiolato e Lastres, as relações entre os agentes econômicos, políticos e sociais possibilitam a capacidade inovativa de um país ou região, inclusive refletindo suas condições culturais e institucionais. A inovação é um processo cumulativo, contextualizado, portanto de conhecimento e capacitações intensas para poder gerar ciclos virtuosos de desenvolvimento num sistema nacional (CASSIOLATO e LASTRES, 2005). Para Crevoisier (2003), a falta de desenvolvimento de uma dada localidade deve-se a falta de um meio inovador, que possibilita entender a maneira pela qual o local apresenta sua forma ao global. Crevoisier (2003) discorre sobre a questão dos meio inovadores e pontua a década de 80, como início dos estudos do grupo suíço – Grupo Europeu de Pesquisas sobre Meios Inovadores - GREMI, valorizando as dimensões tempo e espaço, na tentativa de compreensão de mecanismos econômicos no contexto de um dado território. As pesquisas mais recentes do grupo valorizam os aspectos espaciais das transformações econômicas, ou seja, a abordagem estabelecida sobre os estudos dos meios inovadores atualmente é verificar a evolução da tecnologia e das interações entre os atores. O meio inovador, enquanto conceito integrador, compreende três aspectos fundantes e paradigmáticos: a dinâmica territorial, a transformação dos territórios e as mudanças organizacionais. O autor confere ao paradigma tecnológico a reflexão sobre inovação, aqui como processo de diferenciação do setor econômico ou produtivo, da empresa, não somente em pesquisa e desenvolvimento ou pedido de patentes, mas diferenciação progressiva do meio, e o papel relevante das técnicas, savoir-faire, aumentando a competitividade desse espaço (CREVOISIER, 2003). Já Carvalho trabalha com a concepção de modelo de capacidade inovadora local, constituído de três elementos: estratégia, cooperação e concentração. Estratégia – neste elemento há a analise dos elementos ligados à competição que se baseia na criação de valor pela inovação. Já a Cooperação enfatiza a importância das redes e comunidades que se conectam para cooperar pela inovação. Nesse elemento são analisados os elementos às ações realizadas em conjunto (joint action), aprendizagem e interação (formais e informais), conectando as organizações e ao sistema de Ciência & Tecnologia. O terceiro elemento – Concentração – valoriza a localidade, suas especificidades, que ladeiam a organização, geograficamente (CARVALHO, 2009). 5.2 Internacionalização de empresas Outro elemento indutivo de competitividade global contemplado no estudo exposto é a internacionalização de empresas, cujo estudo começou a tomar forma nos anos 60, com o surgimento de uma ontologia própria. Na fase inicial de desenvolvimento, os estudos tinham como base os fundamentos teóricos provenientes da economia, da sociologia, da antropologia, e um pouco de marketing. Recentemente, o campo tem como pilares o marketing, o comportamento organizacional e, de forma crescente, os negócios internacionais (KOVACS et all,2007). Pode ser classificada em Internacionalização para Dentro (inward) – processo de importação, obtenção de licenças ou franquias e aquisição de tecnologia e Internacionalização para Fora (outward) – denominação estabelecida às atividades de exportação, concessão de licenças ou franquias e investimento direto no exterior (BARRETO, ROCHA, 2002). Os motivos que Ricupero e Barreto (2007) destacam para a tendência de internacionalização de empresas são: a busca por recursos, mercados e tecnologia; a concorrência em escala mundial e unificada; para manter mercados internos; expansão internacional dos negócios, fortalecimento das possibilidades de competição pela proximidade com o mercado consumidor; por poder usufruir das vantagens oriundas dos blocos econômicos das fontes internacionais de financiamento; transpor barreiras protecionistas e acessibilidade junto às redes de fornecedores. Segundo MIDC (2009), as motivações para internacionalização são a necessidade de absorver novas tecnologias a produtos e processos; ter acesso a recursos naturais; novos mercados, para se beneficiar das economias de escala; redução dos riscos do negócio por meio da diversificação de mercados fornecedores e consumidores; verificação das necessidades dos consumidores internacionais; ter competitividade em custos e diferenciação de produtos; ter proximidade com o cliente final; entre outros. Há outros exemplos de fatores influenciadores nas decisões de expansão internacional de uma empresa, tais como a concorrência global, oscilações do mercado doméstico e as políticas governamentais. 6. BIRIGUI – SP: FORMAÇÃO HISTÓRICA, CARACTERIZAÇÃO E O IMPACTO DA ABERTURA ECONÔMICA DA DÉCADA DE 90 Em 1958, os irmãos Assumpção iniciaram a produção de calçado infantil em Birigui, contando com 10 empregados e fabricando 20 pares por dia (SOUZA, 2006; VEDOVOTTO, 1996). Segundo Zampiere (1976), a escolha pela fabricação de calçado infantil se deu em razão do conhecimento sobre a fabricação desse tipo de calçados e do mercado consumidor, adquirido em São Paulo pelos irmãos Assumpção. Os irmãos Assumpção sabiam da existência das atividades de produção de calçados masculinos em Franca e feminino em Jaú, a pouca concorrência no segmento infantil e a necessidade de menor investimento em relação aos sapatos masculino e feminino. Dentre os vários problemas enfrentados pelo pioneirismo, destaca-se a falta de mão de obra especializada. Este problema foi contornado por meio da manutenção de uma banca particular na capital (São Paulo), que cortava e pespontava o cabedal (parte superior do calçado), restando então a montagem e o acabamento efetuados em Birigui (VEDOVOTTO, 1996). De acordo com Souza (2006) até a metade da década de 60 a cidade tinha quatro empresas produtoras de calçados. Em 1965, as empresas produziram 316.000 pares e contavam com 211 empregados. Na década sequente, 35 fábricas se instalaram e o elevado número de novas empresas suscitou o aparecimento de empresas fornecedoras de insumos, componentes e máquinas, num total de 12 empresas (SOUZA, 2006). O crescimento nos anos setenta foi contínuo. Foi instalado um centro de treinamento para a formação de trabalhadores especializados, pela necessidade e pelas frequentes discórdias entre os empresários em virtude de mão de obra especializada escassa. Os confrontos entre os empresários se davam pelo recrutamento desleal, onde eram oferecidos vários benefícios para os empregados especializados em produção, para mudarem de empresa. As fábricas de calçados de Birigui empregavam 347 trabalhadores em 1966, aumentando para 1.575, em 1972 e chegando a empregar no final da década de setenta 3.500 pessoas. A partir desse período Birigui se tornou referência nacional em produção de calçados infantis, fato percebido por meio de divulgação do Jornal Exclusivo (SOUZA, 2006). Souza (2006) salienta que no começo dos anos 80, as empresas locais buscavam uma inserção no mercado internacional. O intuito era desenvolver uma marca (uma característica) que chamasse a atenção dos compradores internacionais e projetasse a especialidade das empresas locais. Em 1989, havia 211 empresas, contra 49 em 1981. No mesmo período foram instaladas 41 empresas, entre fornecedoras e representantes. Outro fator determinante para o crescimento do arranjo, segundo Souza (2006), foi à utilização de materiais alternativos na fabricação de calçados, em detrimento da utilização do couro. O encarecimento do couro, os ganhos de produção decorrentes das facilidades em usar os materiais alternativos e a consequente diminuição dos custos são considerados alguns motivos da substituição desta matéria-prima, que tem expressiva representatividade junto ao custo total do calçado. Na década de 90, o setor vivenciou uma crise decorrente do Plano Collor (1990) e do Plano Real (1994). Neste processo de liberalização comercial nacional, observado por uma nova política industrial e de comércio exterior, caracterizado fortemente entre 1988 e 1995, pela diminuição de barreiras não tarifárias e consequentemente diminuição da proteção da indústria local. O impacto no setor calçadista, particularmente o calçado infantil, foi evidenciado principalmente pelo aumento das importações de calçados advindos da China. Muitas empresas locais fecharam, outras se tornaram subcontratadas. Ocorreram demissões em massa e nesse contexto foi observada a atuação do SINBI. O sindicato entregou um manifesto à FIESP em 1995, expressando a maior dificuldade já enfrentada pelo arranjo até o momento. Neste mesmo ano, a igreja católica se prontificou a ceder um salão da matriz para que os empresários, juntamente com a Prefeitura, pudessem realizar duas feiras, intituladas Feirão das Indústrias do Calçado de Birigui (I e II FIBI). Em 1996, o sindicato desenvolveu junto aos empresários o “Programa Biriguiense de Qualidade Total”, considerado pelos associados o gatilho motivador para estratégias conjuntas do APL. Uma parceria entre o sindicato, o SEBRAE e a prefeitura viabilizou a realização de uma palestra com um consultor renomado. 32 empresas participaram durante 2 anos de um programa oferecido pela Fundação Christiano Ottoni (RIZZO, 2005). Em 1999 foi organizado um consórcio para exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e desenvolveram uma associação, nomeada APEMEBI, que obteve apoio da APEX – Agência de Promoção de Exportação, órgão do governo instituído com o intuito de estimular as exportações (SOUZA, 2006). Verifica-se, por algumas ações articuladas e desenvolvidas pelos agentes locais, que a concepção de arranjo produtivo se materializa segundo a definição da REDESIST, em que os Sistemas Produtivos Locais, ou SPLs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais que se constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e congruentes, que apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os APL(s) diferem dos SPL(s) pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem significativo vínculo entre os agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005). No caso específico da territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel (2002) essas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da população incidem diretamente sobre a atividade produtiva. Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem empresas e agentes locais, citando os organismos de pesquisa, educação e treinamento (ALBAGLI & MACIEL, 2002, p. 16). O Arranjo Produtivo Local de Birigui destaca-se em tamanho e importância, sendo considerado o maior produtor de calçados infantis do Brasil e da América latina. Em 2012, segundo dados levantados pelo sindicato patronal local, o arranjo possuía mais de 350 empresas que produziam 59.108 milhões de pares de calçados por ano. As micro e pequenas empresas representam juntas, segundo o SINBI, mais de 70% das empresas locais do setor calçadista. Comumente, são micro e pequenas empresas independentes, que criam seus negócios mediante necessidade ou oportunidade de negócios, ou são vinculadas às médias e grandes empresas, por meio de subcontratação. A participação da produção de calçados infantis de Birigui frente ao cenário nacional representa 52%. O APL possui uma produção significativa com relação ao calçado feminino, evidenciado pelo Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui - SINBI. Segundo o sindicato patronal, em 2012, 17,4% da produção diária de calçados correspondeu a calçados femininos. A cidade recebe diariamente trabalhadores de vários municípios vizinhos, que fazem parte do arranjo: Bilac, Braúna, Buritama, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério, Penápolis, Rinópolis, Brejo Alegre, entre outros e emprega 21.986 pessoas na atividade econômica em destaque (SINBI, 2013). A estrutura produtiva local conta com uma gama de empresas fornecedoras de matérias-primas, insumos, componentes, máquinas e equipamentos e com um conjunto de agentes formalizados tais como sindicatos, centro de capacitação técnica, juntamente com instituições informais tecem uma rede de relações, ditando estratégias para o crescimento e competitividade do arranjo. 7. ANÁLISE DE ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL: INOVAÇÃO TERRITORIAL E INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL CALÇADISTA DE BIRIGUI- SP, NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL Na análise efetivada, foi verificada a importância do estudo dos processos de inovação como elemento para um desenvolvimento local/territorial, fundamental para ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e outras organizações. Na localidade, a sustentabilidade dos sistemas produtivos se dá pela criação e recriação de produtos e serviços, bem como modos relacionais, que somente e especificamente aquela comunidade pode ofertar, levando ao vívido econômico o que no vívido social se manifesta, que é a exclusividade de modos de vida, de empoderamento, de relações de poder/campo de forças, de cultura, que todo território possui, mas com suas particularidades de formação social, de identidade construída, de territorialidade. Pelos resultados parciais, na pesquisa de doutorado em andamento, na dimensão técnicacientífica, no que tange ao calçado, há poucas iniciativas voltadas à inovação tecnológica e o setor calçadista exporta apenas 3% de sua produção, houve a criação de uma associação nomeada APEMEBI - Associação de Pequenos e Médios Exportadores de Birigui, cujas atividades foram cessadas em 2006, porém há uma lacuna no que tange aos dados sobre importação de materiais e produtos acabados realizados e também a dimensão da estrutura local para a internacionalização em si, entre outros dados que serão analisados no decorrer da pesquisa. Ao verificar a tecnologia no âmbito calçadista, é perceptível um fortalecimento em sistemas de tecnologia da informação e automação. O setor de serviços de informática cresceu significativamente. A parte de automação é uma realidade vivenciada pelas grandes empresas, porém em algumas etapas do processo produtivo. As iniciativas de capacitação tecnológica são notadas principalmente no desenvolvimento de produtos. As grandes empresas do APL de Birigui detêm o acesso rápido às tendências e as pesquisas de mercado e influenciam empresas de menor porte sobre os modelos que efetivamente serão utilizados na próxima estação. Apesar da influencia das grandes empresas sobre algumas de porte menor, muitas empresas obtêm também acesso às tendências de moda pelo Fórum de Design e Tecnologia, da Assintecal e do SEBRAE, e pelo Caderno de Tendências do SENAI. Essas organizações trabalham unificadas no evento Fórum de Inspirações, realizado no SINBI anualmente. Outro meio de acesso às tendências efetua-se por uma empresa prestadora de serviço, a Pesquisa e Produto, que realiza pesquisas do mercado e das tendências da moda. Esses canais de informações são importantes para as pequenas empresas, pois permitem diminuir suas dependências para com as grandes empresas. Outro elemento indutivo de competitividade global contemplado no estudo exposto é a internacionalização de empresas, classificada em Internacionalização para Dentro (inward) – processo de importação, obtenção de licenças ou franquias e aquisição de tecnologia e Internacionalização para Fora (outward) – denominação estabelecida às atividades de exportação, concessão de licenças ou franquias e investimento direto no exterior (BARRETO, ROCHA, 2003). Os motivos que Ricupero e Barreto (2007) destacam para a tendência de internacionalização de empresas são: a busca por recursos, mercados e tecnologia; a concorrência em escala mundial e unificada; para manter mercados internos; expansão internacional dos negócios, fortalecimento das possibilidades de competição pela proximidade com o mercado consumidor; por poder usufruir das vantagens oriundas dos blocos econômicos das fontes internacionais de financiamento; transpor barreiras protecionistas e acessibilidade junto às redes de fornecedores. Conforme Rocha (2002), a internacionalização de empresas brasileiras intensificou-se a partir de 1990, influenciado por fatores como o aumento da concorrência do mercado interno e a globalização. No APL em questão, em 1999 foi organizado um consórcio para exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e desenvolveram uma associação, nomeada APEMEBI - Associação de Pequenos e Médios Exportadores de Birigui, que obteve apoio da APEX – Agência de Promoção de Exportação, órgão do governo instituído com o intuito de estimular as exportações, porém a associação finalizou suas atividades em 2006 (SOUZA, 2006). Pelos resultados parciais, foi identificada a consolidação do Arranjo Produtivo Local de Birigui na década de 90, paradoxalmente pelo enfrentamento de sucessivas crises advindas principalmente da abertura econômica, forçando a localidade a responder mediante uma reestruturação produtiva (terceirização, movimento pela qualidade total entre outros) e empresarial, criação de associações de aporte, como exemplo a Associação de Pequenas e Médias Empresas Exportadoras de Birigui - APEMEBI. No que tange aos trabalhadores – intensa profissionalização e contratação de mão de obra especializada em outras cidades e regiões, Demanda de novos agentes na rede de empresas, cooperação entre empresas, crescimento do setor de serviços, falta de mão de obra, reivindicações trabalhistas. A partir de 2000, outras respostas foram evidenciadas pelo arranjo produtivo local diante da competitividade global: fortalecimento das governanças territoriais, formação de alianças regionais, nacionais e internacionais, maiores investimentos em tecnologia: informática e automação, fortalecimento de outros setores: comércio, serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, confecção, agrícola; ascensão da produção de calçados femininos; intensa escassez de mão de obra na indústria, fortalecendo as políticas de recursos humanos das grandes empresas, no sentido de manter e angariar novos colaboradores. O enfrentamento da crise capitalista mundial de 2008, com crescimento de quase 3% no ano respectivo. O equilíbrio alcançado pela alíquota antidumping, aplicada às importações chinesas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A globalização aqui estudada reforça o discurso crítico: a ênfase está na competividade global, que direciona os mercados, as nações, as empresas, os setores produtivos a se estabelecerem de acordo com as normas, as regras do capitalismo global. As nações necessitam de mercados e tecnologia, e o acesso se dá pela inovação e internacionalização de empresas. A importância de um meio inovador para a manutenção e desenvolvimento territorial tornou-se tão significativa, quanto institucionalizada, da mesma forma que os estudos dos sistemas produtivos de uma dada localidade. Segundo o Manual de Oslo, “uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas” (MANUAL DE OSLO, 2005, p.55). Além da inovação, a internacionalização de empresas brasileiras intensificou-se a partir de 1990, influenciado por fatores como o aumento da concorrência do mercado interno e a globalização (ROCHA, 2002). A pesquisa valorizou os condicionantes particulares ligados à cultura oriunda do local, a unicidade das relações humanas, num contexto sócio econômico exclusivo, organizado em uma teia de relações e interações em forma de rede. Observou-se a territorialização ocorrida no Município e a evolução da atividade econômica de maior destaque, o calçado infantil. Ao longo das décadas, o arranjo foi se consolidando por meio de ações estruturais que geraram oportunidades de abertura de novos negócios. O arranjo caracteriza-se pelo empreendedorismo dos empresários e a articulação do SINBI, representando os interesses do setor. As interações entre as empresas e os agentes de apoio do APL de Birigui dinamizam, por meio de políticas e ações realizadas, as atividades relacionadas à produção e comercialização de calçados infantis. As organizações de apoio, tais como associações de classe, clarificam os rumos do arranjo, numa abordagem democrática, assim como algumas empresas, influenciam as relações de troca e poder entre os agentes existentes no arranjo. O SINBI destaca-se pelas ações em diferentes esferas, atuando como articulador e parceiro de muitas atividades executadas e principalmente como provedor de um sistema de governança equilibrado para o arranjo. As relações entre os agentes foram fortalecidas no decorrer das décadas, passando por acréscimos significativos em cenários de extrema dificuldade econômica para o setor, por meio de mobilização e coordenação do SINBI. Houve também o fortalecimento de outros setores tais como comércio, inclusive lojas de fábrica (em torno de 25), serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, têxtil (confecções, mais de 80 empresas). A cidade tem participação significativa no setor agrícola, responsável pela produção de 37,5% do milho, 30,8% do arroz, 30% da soja, 28% do sorgo entre outras culturas (PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGUI, 2013). Muitos desses setores estão se mobilizando institucionalmente para obter representatividade no APL. As ações do APL são desenvolvidas e executadas coletivamente através dos órgãos de apoio e da comunidade empresarial. A quantidade de projetos e as intensas manifestações de cooperação entre os organismos de apoio e a comunidade empresarial, que compreendem melhorias efetivas para a comunidade, são alicerçadas no sentimento de pertença da comunidade empresarial que se identifica com as necessidades da população, não negligenciando ou negando suas raízes. Na perspectiva do desenvolvimento local, a cidade de Birigui tem apresentado respostas à globalização por meio da inovação e da internacionalização de empresas. São iniciativas tímidas, mas consideráveis, pois compreendem a mobilização dos agentes locais em torno da sobrevivência e desenvolvimento da localidade. Há um movimento evidente entre os agentes locais, intensificado a partir de 2013, com eventos realizados em conjunto, no intuito de potencializar ações de inovação, o incentivo ao empreendedorismo, bem como a preocupação latente em sistematiza-las em torno de um eixo gestor, que integre políticas de gestão pública com a participação da sociedade. Para trabalhos futuros, a partir das questões observadas no que tange a inovação e internacionalização de empresas, verificar a estrutura e a agência, em escala nacional e local, analisando o possível papel do Estado no enfrentamento da dinâmica concorrencial global, pelas políticas públicas de promoção e apoio a pesquisa, desenvolvimento e inovação de produtos, serviços, processos e internacionalização das empresas dos setores produtivos. As estratégias do Estado vinculadas a incremento e adensamento tecnológicos dos setores produtivos. O estudo de um outro desenvolvimento, enquanto potencializador das capacidades de um dado território, entendido como “(...) chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence” (SANTOS, 2000, p.96), esta sim como tentativa de enxergar, mesmo que de modo reativo à estrutura social imposta, o também possível papel dos agentes no território estudado diante da realidade globalizada. REFERÊNCIAS ALBAGLI, S. Território e Territorialidade. (2004). in: LAGES, V; BRAGA, C; MORELLI, G. (org). Territórios em movimento: Cultura e Identidade com Estratégia de Inserção Competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará/ Brasília, DF: SEBRAE, 2004. Recuperado em 20 de maio de 2013, de http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/304869CC2D5D5FBF0325713F004CC682 /$File/NT000A61AE.pdf. ALBAGLI, S; MACIEL, M.L. (2002). Capital Social e Empreendedorismo Local. in: LASTRES et al. (coord.)Proposição de políticas para a promoção de sistemas produtivos locais de micro, pequenas e médias empresas. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de http://www.redesist.ie.ufrj.br. AMARAL FILHO, J. (2002). É negócio ser pequeno, mas em grupo. Desenvolvimento em debate, painéis do desenvolvimento brasileiro-II, Rio de Janeiro: BNDES. AMARAL FILHO, J. A. (2001). Endogeneização no Desenvolvimento Regional e Local. Planejamento e Políticas Públicas, n. 23, jun. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp23/Parte7.pdf. AMARAL FILHO, J. Conceitos de APLs. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de http://www.cidades.ce.gov.br/categoria4/conceitos-de-apls. . AMATO NETO, J. (2000). Redes de cooperação produtiva e clusters regionais: oportunidades para as pequenas e médias empresas. São Paulo: Atlas. ÁVILA, V. F. Cultura, desenvolvimento local, solidariedade e educação. (2003). Campo Grande-MS: UCDB. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de www.ucdb.br/coloquio. ÁVILA, V. F. et al. (2000). Formação educacional em desenvolvimento local: relato de estudo em grupo e análise de conceitos. Campo Grande: Ed. UCDB. ÁVILA, V. F. Pressupostos para formação educacional em desenvolvimento local. (2000). In Interações - Revista Internacional de Desenvolvimento Local (1), set., p.63 a 75. BARRETO, ROCHA, A. (2003). A expansão das fronteiras: brasileiros no exterior. In: ROCHA, A. (Org.). As novas fronteiras: a multinacionalização das empresas brasileiras. Coleção Estudos COPPEAD. Rio de Janeiro: Mauad. BECATTINI, G. (1999). Os Distritos Industriais na Itália. In: COCCO. G. (org) Empresários e empregos nos novos territórios produtivos: o caso da terceira Itália. Rio de Janeiro: DP&A. BNDES, Arranjos Produtivos Locais e Desenvolvimento. (2004). Versão Preliminar. BOISIER, S. (2001). Sociedad del conocimiento, conocimiento social y gestión territorial. Interações - Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 2, n. 3, p.9-28. BRITO, J. Redes de cooperação entre empresas. (2002). In: KUPFER, D. Economia Industrial: Fundamentos teóricos e práticos no Brasil. Rio de Janeiro: Campus. BRITO, S. ZAPATA, T. (2004). Equidade de gênero e desenvolvimento local: reflexões e Orientações para a Prática. Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de <www.iadh.org.br>. CARVALHO, M. M. (2009) Inovação: estratégias e comunidades de conhecimento. São Paulo: Atlas. CASSAROTTO FILHO, N;PIRES, L. H. (2001) Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. 2ed. São Paulo: Atlas. CASSIOLATO, J. E; LASTRES, H. M. M (2005). Sistemas de inovação e desenvolvimento: as implicações de política. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 1, Mar. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v19n1/v19n1a03.pdf. Acesso em 20/01/2014. CASSIOLATO, J.E.; SZAPIRO, M.. (2003) Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In: CASSIOLATO et al.(orgs). Pequena Empresa: cooperação e desenvolvimento local. Rio de Janeiro: Relume Dumará. CHESNAIS, F. (1996). A mundialização do Capital. São Paulo: Xamã. COCCO, G.; Urani, A.; Galvão, A. P. (org). (1999). Os Distritos Industriais na Itália. In: COCCO. G. (org) Empresários e empregos nos novos territórios produtivos: o caso da terceira Itália. Rio de Janeiro: DP&A. CREVOISIER. O. (2003). A abordagem dos meios inovadores: avanços e perspectivas. In: Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local, n.7 Campo Grande: UCDB. FERNÁNDEZ, V. R. (2004) Densidad Institucional, Inovación Colectiva y Desarrollo de las cadenas de valor local: un triángulo estratégico en la evolución de los enfoques regionalistas durante los ´90s. In: Revista Redes.Santa Cruz do Sul: v.9, nº1, jan/abr. FRAGOSO, A. (2005). Contributos para o debate local sobre o desenvolvimento. Revista Lusófona de Educação. Campo Grande: Edições Universitárias Lusófanas. GIDDENS, A. (1999). As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP. GIDDENS, A. (2011).A constituição da sociedade. São Paulo: Martins Fontes. IANNI, O. (2011). A sociologia e o mundo moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. KOVACS, E. P; MORAES, W. F.A; OLIVEIRA, B.R.B. (2007). Redefinindo Conceitos: Um ensaio teórico sobre os conceitos-chave das Teorias de Internacionalização. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 14, n. especial, p. 17-29. LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. (2005) Arranjos Produtivos Locais: Uma Nova Estratégia de Ação para o SEBRAE. Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos Locais- 5ª Revisão. Disponível em: Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de www.ie.ufrj.br/redesist. MANUAL DE OSLO.(2003).Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação. 3ª Ed. Publicação conjunta da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Eurotast (Gabinete Estatístico das Comunidades Européias) e FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), Brasília-DF. MARSHALL, A. (1982). Princípios da Economia. Coleção “Os Economistas” (vol. 1), São Paulo: Abril Cultural. MAXIMIANO, A . C. A . (2006). Teoria Geral da Administração: Da revolução urbana à revolução digital. São Paulo, Atlas. MDIC. (2009) Termo de referência: internacionalização de empresas brasileiras. Brasília (DF). Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. (2002) Manual de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais. Elaborado pelo Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais. Recuperado em 15 de dezembro de 2013, de http://www.mdic.gov.br/portalmdic/arquivos/dwnl_1199885181.pdf. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Fórum de Competitividade. Glossário. Disponível em http://www.desenvolvimento.gov.br/arquivo/secex/desproducao/forcompetitividade/forumglos sario.pdf. Acesso em 12/06/13. OLAVE, M.E.L; AMATO NETO, J. (2001) Redes de cooperação produtiva: uma estratégia de competitividade e sobrevivência para pequenas e médias empresas. Revista Gestão e Produção (USP), v.8, n.3, p.289-303. OLIVEIRA, M. F; MARTINELLI, D. P. (2003). A internacionalização de pequenas empresas através de consórcios de exportação inseridos em clusters industriais: uma relação recíproca de contribuição. Campo Grande-MS: UCDB/ www.ucdb.br/coloquio. PIRES, E.L.S; MULLER, G; VERDI, A . R. (2006). Instituições, Territórios e Desenvolvimento Local: Delineamento Preliminar dos Aspectos Teóricos e Morfológicos. Revista GEOGRAFIA, v.31, n.03, p. 437-454, Rio Claro. Recuperado em 20 de agosto de 2013, de http://www.usp.br/prolam/downloads/sem_elson.pdf. PORTER, M. E. (1999). Competição – On Competition: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus. RICHARDSON, R. J. (1999) Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas. RICUPERO, R. BARRETO, F. M. (2007). A importância do investimento direto estrangeiro no exterior para o desenvolvimento sócio-econômico do país. In: ALMEIDA, A. (Org.). Internacionalização de empresas brasileiras: perspectivas e riscos. Rio de Janeiro: Elsevier. RIZZO, R. M. (2005) A Evolução da Indústria Calçadista de Birigui: um estudo sobre a capital brasileira do calçado infantil. São Paulo: Boreal. ROCHA, A. (2002). A Internacionalização de Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Mauad. SANTOS. M. (2000) Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Pauto: Record. SIEDENBERG, D. R. (2004) Desenvolvimento – ambiguidades de um conceito difuso. Desenvolvimento em Questão: revista do programa de Pós Graduação em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, Ijuí, ano 2, nº3, p. 9-26. SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE CALÇADOS E VESTUÁRIO DE BIRIGÜI (SINBI), Disponível em http://www.sindicato.org.br/cpub/pt/site/index.php. Acesso em: 20/12/13. SOUZA, M. A . B. (2006) Aglomeração calçadista de Birigüi: origem e desenvolvimento (1958-2004). Editora do Escritor. VEDOVOTTO, N. M. (1996) Birigui: a revolução que começou pelos pés. São Paulo: Saga. ZAMPIERE, H. (1976) Birigui, cidade industrial do Oeste Paulista. São Paulo, Dissertação de Mestrado, USP-FFLCH.