ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL: INOVAÇÃO TERRITORIAL E
INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL
CALÇADISTA DE BIRIGUI-SP, NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
Andréia de Alcântara Cerizza
Doutoranda em Ciências Sociais - Universidade Estadual Paulista - UNESP campus Marília
Docente - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de SP - IFSP campus Birigui.
Rua Pedro Cavalo, 709, Portal da Pérola II, Birigui-SP. CEP: 16201-407. +55 18 3643-1177,
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Luís Antônio Paulino
Doutor em Ciências Econômicas – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Docente, Universidade Estadual Paulista - UNESP campus Marília.
Av. Hygino Muzzi Filho, 737. Bairro: Mirante 17.525-000 - Marília, SP. +55 14 3402-1336, [email protected].
RESUMO
O objetivo central do trabalho foi verificar, a partir da abertura econômica ocorrida na década
de 90 no Brasil, como a cidade de Birigui-SP respondeu a competividade global, por meio de
análise da assimilação de elementos condutores/potencializadores de desenvolvimento, tais
como inovação territorial e internacionalização de empresas, na perspectiva do
desenvolvimento local. Dentre os objetivos específicos, procurou-se (a) desenvolver
referencial teórico sobre Globalização, Desenvolvimento Local, Arranjos e Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais, Inovação Territorial e Internacionalização de Empresas e (b)
verificar como se dá as dinâmicas de Inovação Territorial e Internacionalização de Empresas
na localidade. As hipóteses levantadas foram de que a globalização determina os
parâmetros no âmbito concorrencial, e o local e sua territorialidade passa a ter papel reativo
neste processo e os arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais dinamizam outros
setores produtivos, que não fazem parte da cadeia produtiva, mas que assimilam os modos
de gestão e as relações exercidas pelos agentes do arranjo diante da competitividade
global.
Palavras-chave: Desenvolvimento Local, Inovação Territorial, Internacionalização de
Empresas, Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais.
1.INTRODUÇÃO
Dois momentos históricos, as grandes navegações e a revolução industrial, são
considerados marcos do processo global, com distintas funções e estratégias na perspectiva
de seus períodos históricos, mas com o mesmo intuito de acumulação de capital. Mas foi na
década de 50, precisamente no pós-guerra, que se intensifica a internacionalização do
capital produtivo, no caso, pelas multinacionais. Os países centrais iniciam um movimento
de acumulação de capital pelas remessas de lucros de suas multinacionais, que atuavam
em países periféricos, e pela administração das dívidas externas que esses países
contraiam, em virtude das políticas desenvolvimentistas de incentivo à industrialização.
Após a década de 70, desenvolvimento começa a ser associado com maior frequência a
adjetivos tais como humano, social, ecológico e sustentável, reconfigurando mais uma vez o
conceito e estabelecendo relações até então ignoradas, como a relação entre
desenvolvimento e meio ambiente, desenvolvimento e a governança global, ou ainda,
desenvolvimento e os modelos de médio alcance. Em função disso, o termo voltou a ocupar
um lugar de destaque nas políticas públicas, na academia, na mídia e em projetos de
diferentes grupos e organizações (SIEDENBERG, 2004).
Na década de 90, a palavra sustentabilidade denota uma mudança radical na forma de
pensar o desenvolvimento, pois imprime uma questão de legado às futuras gerações, ou
seja, de como se apropriar do território, mas de forma a mantê-lo em condições de futuro
uso ou reutilização, de garantir a vida futura. A questão endógena também fortaleceu o
debate, com concepções de desenvolvimento que privilegiam a ação do local, sua
territorialidade, como força política na condução da vida social perante os imperativos
globais de crescimento econômico. Esta modificação de modo de racionalizar o
desenvolvimento trouxe também uma nova forma de estudar o desenvolvimento, ou seja, os
critérios são multidimensionais: o local, o ambiente, a política, a economia, a cultura, a
sociedade.
Atualmente, a discussão sobre o desenvolvimento e globalização é norteada pela questão
da governança, pela preocupação política de como regular as transações econômicas, pelas
assimilações e adaptações culturais, políticas, ambientais entre outras realizadas
aceleradamente no cotidiano vivido, por intermédio da ruptura espaço-tempo das relações
humanas, baseadas nas tecnologias de informação e comunicação. A complexidade das
mudanças territoriais decorrentes da globalização e do desenvolvimento, a valorização de
técnicas mais inovadoras para a competitividade global, aliadas a dimensão política, o papel
do Estado, a governança, práticas institucionais e sociedade civil, faz parte da proposta de
desenvolvimento que se vincula ao estudo do tipo de desenvolvimento tratado
especificamente no trabalho.
Para o desenvolvimento do estudo, foi adotada uma pesquisa exploratória, pois envolve
coleta de dados no campo. A análise de caráter exploratório, de acordo com Richardson
(1999, p.17), visa descobrir as semelhanças entre fenômenos, quando “os pressupostos
teóricos não estão claros, ou são difíceis de encontrar. Nessa situação, faz-se uma pesquisa
não apenas para conhecer o tipo de relação existente, sobretudo para determinar a
existência de relação”. Foram realizadas pesquisas: bibliográfica e entrevistas.
As concepções teóricas e os elementos de análise do estudo são Globalização,
Desenvolvimento Local, Inovação Territorial, Internacionalização de Empresas, Cidade de
Birigui - SP e Análise de elementos para competitividade global: Inovação territorial e
internacionalização de empresas no arranjo produtivo local calçadista de Birigui- SP.
Os entrevistados são organizações representativas existentes na cidade ou na região do
poder público, patronato, sociedade civil e trabalhadores, valorizando a composição social
da localidade. A elaboração trabalho foi realizada na perspectiva de objetivos específicos.
Após o levantamento de dados do poder público, empresas e sociedade civil, por meio de
referenciais, entrevistas e observações, foi desenvolvida análise consolidada de dados
coletados: poder público, empresas e sociedade civil e comparativa das informações:
compreensão da realidade frente aos referenciais e o relatório final.
O trabalho foi desenvolvido em 7 seções, sendo: 1 – Introdução; 2 - Globalização e potencial
endógeno dos territórios, demonstrando a importância de estudos relacionados às
dinâmicas territoriais e as possibilidades de desenvolvimento a partir da localidade, como
ação local em interação com o global; 3 – Desenvolvimento na perspectiva da localidade –
Desenvolvimento Local; 4 - Arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais – conceito e
especificidades; 5 - Elementos para competitividade global: inovação territorial e
internacionalização de empresas – conceitos.
Para contextualização histórica e análise, foram desenvolvidas as seções 6 - Birigui – SP:
Formação histórica, caracterização e o impacto da abertura econômica da década de 90 e 7
- Análise de elementos para competitividade global: Inovação territorial e internacionalização
de empresas no arranjo produtivo local calçadista de Birigui - SP, na perspectiva do
desenvolvimento local: ações ou reações/respostas ao processo de globalização,
estruturadas ou condicionadas ao determinismo concorrencial - Inovação territorial e
internacionalização de empresas em âmbito local no enfrentamento da competitividade
global.
2.GLOBALIZAÇÃO E O POTENCIAL ENDÓGENO DOS TERRITÓRIOS
O termo global foi adjetivado na década de 80, em escolas americanas de administração de
empresas, e em pouco tempo foi absorvido pelo discurso político.
Fatores tais como
desregulamentação financeira e o desenvolvimento da globalização financeira; as tecnologias, que
possuem duplo papel: permitir e intensificar o processo, fora as possibilidades de internacionalização
do capital produtivo, pela mobilidade de se adequar de acordo com suas necessidades, dinamizaram
as relações sociais e econômicas em escala global (CHESNAIS, 1996).
São diversas as possibilidades de estudo sobre a globalização, dada à complexidade das relações e
as contradições produzidas enquanto processo histórico-social multidimensional, que modifica,
reconstrói, rompe, recria formas de interação social. Consequentemente modelos conceituais e
modos de compreensão até então estabelecidos, perdem ou adquirem outro significado, e “se
recoloca a dialética parte e todo, tanto quanto singular e universal” (IANNI, 2011). Os estudos sobre
globalização preconizados por Ianni (2011) reforçam a dificuldade metodológica de compreender
aspectos tão disformes e complexos que compõem esta dualidade.
A globalização, enquanto processo, pode ser entendida como mundialização do capitalismo, bem
como fenômeno social em escala global que abarca todas as esferas de ação humana: política,
econômica, social, ambiental, tecnológica, cultural entre outras. Esta possibilidade global foi/ é
dinamizada pelas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e percebida como propulsora de
mudanças nas nações, territórios e pessoas, devido à virtualização sistêmica contida no vivido global:
Estado e sociedade, tradição e modernidade, a ciência, tecnologia e inovação, nas políticas de
desenvolvimento, inclusive das localidades (CHESNAIS, 1996, IANNI, 2011, SANTOS, 2000).
Milton Santos, em vários trabalhos desenvolvidos sobre a temática, desseca a questão global como
perversa e afirma que o mercado dito global é avassalador, capaz de homogeneizar o planeta e
aprofundar as diferenças locais (SANTOS, 2000). Santos tece sua reflexão observando a
globalização como fábula, como perversidade e como possibilidade. A globalização é posta como
ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, entendido pelo estado das técnicas e
o estado da política. O olhar de Santos é realista, mas vislumbra também uma esperança,
determinada pelo uso político que poderia ser feito do mercado global e do sistema de técnicas.
A globalização pode também ser definida como a dinâmica intensa das relações sociais em
âmbito mundial, ligando de tal forma as localidades, que acontecimentos locais são
moldados por eventos distantes (GIDDENS, 1999). Em seu trabalho intitulado “As
consequências da modernidade”, Giddens discute o distanciamento tempo-espaço, pelo
alongamento de complexas relações e contextos sociais e situações locais e distantes, e
afirma que globalização diz respeito a este alongamento, determinado por conexões entre
diversas regiões e realidades sociais, numa perspectiva planetária. Na relação entre o
indivíduo (individualmente ou em grupo) e seu referencial territorial (localidade, região, país),
é exercida a territorialidade, que é e que contempla as ações dos indivíduos e os
sentimentos de pertencimento no território determinado (ALBAGLI, 2004).
O território se delimita/define a partir das relações de poder em suas múltiplas dimensões,
reforçando que território também é um campo de forças, teia ou rede de relações sociais,
valorizando assim os aspectos imateriais de seu uso/apropriação (RAFESTIN, 1993). As
várias dimensões observadas sobre o território são relacionadas à dinamicidade, a distinção
e a sua formação: Física - observando as características naturais, bem como os resultados
advindos da utilização e vivência dos agentes sociais num dado território; Econômica –
modos de relações sociais relacionados aos processos produtivos; Simbólica – relacionada
à identidade, as relações culturais e afetivas de um grupo em determinado local e Sóciopolítica – relações de poder (dominação, influência) e interações sociais (SOUZA, 1995
apud ALBAGLI, 2004).
Na visão de desenvolvimento endógeno, o território age como promotor de recursos e
consequentemente agente do desenvolvimento, e não meramente suporte geográfico das ações
sócio - econômicas (PIRES et al., 2006). O desenvolvimento da localidade é considerado endógeno
quando a comunidade é capaz de dispor de uma estratégia própria e de exercer controle sobre a
dinâmica de transformação local, garantindo que o território não seja um receptor passivo das
estratégias das grandes corporações e organizações externas (ALBAGLI E MACIEL, 2002).
3. DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA DA LOCALIDADE: DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Sobre o prisma do desenvolvimento local, o território tem um papel transformador, onde se
manifesta, por meio dos vários agentes (econômicos, sociais e políticos), novas formas de
cooperação, solidariedade e parceria, observando assim sua territorialidade, ou seja, o
modo de apropriação de cada grupo em um determinado território. No caso específico da
territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel
(2002) estas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da
população incidem diretamente sobre a atividade produtiva.
Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações
entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias
locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem
empresas, agentes locais, organismos de pesquisa, educação e treinamento (ALBAGLI &
MACIEL, 2002, p. 16). Abrange no termo “competitividade sistêmica” um sentido altamente
territorializado, configurado pelas redes que difundem o conhecimento tácito e a
competência, estando associadas a um tecido de atores que estruturam pela proximidade
uma rede de serviços em torno de um produto (BOISIER, 2001). O território age como
promotor de recursos e consequentemente agente do desenvolvimento, e não meramente
suporte geográfico das ações sócio econômicas (PIRES et al., 2006).
As localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais,
ambientais e culturais, além de economias de escalas não exploradas, que constituem seu
potencial de desenvolvimento (BRITO & ZAPATA, 2004). Ao conceber uma referência
sobre a dinâmica do desenvolvimento local, deve-se enfatizar a promoção da melhoria da
qualidade de vida, ressaltando outros objetivos, tais como a elevação dos níveis de
autoconfiança e organização. Para tais concretizações, os autores propõem a possibilidade
das comunidades terem uma visão de futuro num território, de modo comum e flexível,
realizando ações que possam ajudar à construção e reconstrução desse futuro (ÁVILA,
2000; FRAGOSO, 2005).
Para Ávila (2000), o desenvolvimento local implica em observar tanto as potencialidades
locais de desenvolvimento, o que cada comunidade possui/pretende, quanto de condições
ou meios endógenos (de dentro para fora) e exógenos (de fora para dentro), que dinamizem
seus objetivos, suas intenções. É por meio da comunidade - interagindo, trocando,
assimilando, renovando que se dará o autêntico DL, a promoção das pessoas, da
capacidade local para o autodesenvolvimento.
Ávila enfatiza o que não pode ser considerado Desenvolvimento Local Endógeno, no caso, o
Desenvolvimento no Local (DnL), que constitui desenvolvimento, em termos econômicos, e
local, em termos físicos. Ocorre geralmente quando grandes conglomerados econômicos se
apropriam do local para fins lucrativos e permanecem ali enquanto for vantajoso. É
considerado um desenvolvimento restritivo, pois não leva em conta as necessidades da
comunidade presente (ÁVILA, 2003).
4. ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS LOCAIS – CONCEITOS E
ESPECIFICIDADES
Os Arranjos Produtivos Locais - APILs, são aglomerações de empresas situadas em um
mesmo território, que apresentam uma produção específica e mantêm vínculos de
articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais
(SEBRAE, 2003). Segundo a definição da REDESIST, os Sistemas Produtivos e Inovativos
Locais, ou SPILs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais que se
constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e congruentes, que
apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os APILs diferem dos
SPILs pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem significativo vínculo entre os
agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005).
Alguns aspectos que caracterizam os APILs são (LASTRES e CASSIOLATO, 2005):
Dimensão Territorial - a troca de informações, de valores, por meio de uma proximidade
geográfica; Diversidade de atividades e atores econômicos, políticos e sociais – participação
e interação de diversas instituições, públicas e privadas, tais como universidades, órgãos
públicos, organizações da sociedade civil, empresas de consultoria, entre outros e
Conhecimento Tácito – considerado uma vantagem competitiva, pois este tipo de
conhecimento é especificamente do local, do território vivido, não estando explícito para os
agentes externos. Governança – diferentes modos de coordenação entre os agentes para
os processos de produção e comercialização, bem como para aquisição e uso do
conhecimento. São várias formas de governança e hierarquias nos sistemas produtivos,
bem como distintas formas de campos de força na tomada de decisão.
Os autores também sinalizam como características o Grau de enraizamento – mensurado
pelas articulações, bem como o envolvimento dos diversos agentes dos APILs no tocante
aos recursos, com os outros agentes e com o mercado. Alguns elementos que determinam
o grau de enraizamento são o nível de agregação de valor, a origem e o controle (local,
nacional e estrangeiro) das organizações e o destino da produção, tecnologia e demais
insumos e a Inovação e aprendizado interativos como possibilidade de absorver e criar
produtos, métodos e processos como fator de sobrevivência, crescimento e
desenvolvimento do arranjo. O aprendizado constitui fonte fundamental para a transmissão
de conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e
outras organizações.
Para o MDIC (2013), os APILs se apresentam como estratégias de desenvolvimento
baseado em atividades que levam à expansão da renda, do emprego e da inovação.
Espaços econômicos renovados, em que as pequenas empresas podem se desenvolver
usufruindo as vantagens da localização, a partir da utilização dos princípios de organização
industrial como alavanca para o desenvolvimento local. Os APILs permitem estratégias de
aprendizagem coletiva direcionada à inovação e ao crescimento descentralizado, enraizado
em capacidades locais.
Os estudos relacionados aos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
preconizados por Albagli evidenciam, dentre outros ganhos de escala, atividades
correlacionadas do sistema produtivo e inovativo, observando grupos de agentes (empresas
e organizações de P&D, educação, treinamento, promoção, financiamento, entre outros). A
cobertura do espaço onde se desenvolve a dinâmica do aprendizado ocorre a partir da
observação dos conhecimentos tácitos, que não estão explicitados, espaço este onde são
criadas as condições para a inovação e a capacitação produtiva. A verificação do estágio
onde a efetivação de políticas de promoção do aprendizado, inovação e criação de
capacitações se concretizem em ações, enfatizando a participação e coordenação dos
agentes, sejam eles locais, regionais ou nacionais.
Os arranjos e sistemas produtivos locais, embora, de pronto, tenham conotação
economicista por abarcar a questão produtiva e econômica, extrapola essas dimensões pela
proximidade, pelas trocas estabelecidas entre os vários agentes no território e pelo
constante aprendizado que a interação propicia. Para Porter (1999), a proximidade é um
elemento de reforço para a inovação, pois com similaridades de circunstâncias básicas,
como custos de mão de obra e instalações, o destaque é a criatividade. Percebe-se, na
caracterização dos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, o papel da inovação
como potencializador de competitividade entre o arranjo para com os concorrentes externos.
5. ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL:
INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – CONCEITOS
INOVAÇÃO
TERRITORIAL
E
5.1 Inovação territorial
Fernández concebe a inovação territorial como coletiva e realizada em um determinado território,
numa perspectiva integradora em termos econômicos, sociais, políticos e ambientais e da relação
entre os atores/agentes. A inovação territorial coletiva então é entendida como um sistema dinâmico
de reprodução territorial fundado em inovações permanentes, resultado de relações de cooperação
entre os atores-públicos e privados, individuais e coletivos - de determinada região/território
(FERNÁNDEZ, 2004). Deve ser realizada comumente, para a absorção de novos conhecimentos que
podem resultar em inovação, tanto empresarial, quanto pública, e potencializar o processo de
desenvolvimento territorial local.
No processo de desenvolvimento, não há linearidade e sequência, por isso é único, e dependente de
questões políticas, econômicas, históricas e culturais de uma dada localidade. O desenvolvimento
ocorre a partir de modificações estruturais de longo prazo, que geram mudanças de padrões
estabelecidos historicamente. Tanto a teoria, quanto as recomendações de política são altamente
dependentes de cada contexto particular (CASSIOLATO e LASTRES, 2005).
Portanto, para Cassiolato e Lastres, as relações entre os agentes econômicos, políticos e
sociais possibilitam a capacidade inovativa de um país ou região, inclusive refletindo suas
condições culturais e institucionais. A inovação é um processo cumulativo, contextualizado,
portanto de conhecimento e capacitações intensas para poder gerar ciclos virtuosos de
desenvolvimento num sistema nacional (CASSIOLATO e LASTRES, 2005). Para Crevoisier
(2003), a falta de desenvolvimento de uma dada localidade deve-se a falta de um meio
inovador, que possibilita entender a maneira pela qual o local apresenta sua forma ao
global.
Crevoisier (2003) discorre sobre a questão dos meio inovadores e pontua a década de 80, como
início dos estudos do grupo suíço – Grupo Europeu de Pesquisas sobre Meios Inovadores - GREMI,
valorizando as dimensões tempo e espaço, na tentativa de compreensão de mecanismos econômicos
no contexto de um dado território. As pesquisas mais recentes do grupo valorizam os aspectos
espaciais das transformações econômicas, ou seja, a abordagem estabelecida sobre os estudos dos
meios inovadores atualmente é verificar a evolução da tecnologia e das interações entre os atores.
O meio inovador, enquanto conceito integrador, compreende três aspectos fundantes e
paradigmáticos: a dinâmica territorial, a transformação dos territórios e as mudanças organizacionais.
O autor confere ao paradigma tecnológico a reflexão sobre inovação, aqui como processo de
diferenciação do setor econômico ou produtivo, da empresa, não somente em pesquisa e
desenvolvimento ou pedido de patentes, mas diferenciação progressiva do meio, e o papel relevante
das técnicas, savoir-faire, aumentando a competitividade desse espaço (CREVOISIER, 2003).
Já Carvalho trabalha com a concepção de modelo de capacidade inovadora local, constituído de três
elementos: estratégia, cooperação e concentração. Estratégia – neste elemento há a analise dos
elementos ligados à competição que se baseia na criação de valor pela inovação. Já a Cooperação
enfatiza a importância das redes e comunidades que se conectam para cooperar pela inovação.
Nesse elemento são analisados os elementos às ações realizadas em conjunto (joint action),
aprendizagem e interação (formais e informais), conectando as organizações e ao sistema de Ciência
& Tecnologia. O terceiro elemento – Concentração – valoriza a localidade, suas especificidades, que
ladeiam a organização, geograficamente (CARVALHO, 2009).
5.2 Internacionalização de empresas
Outro elemento indutivo de competitividade global contemplado no estudo exposto é a
internacionalização de empresas, cujo estudo começou a tomar forma nos anos 60, com o
surgimento de uma ontologia própria. Na fase inicial de desenvolvimento, os estudos tinham
como base os fundamentos teóricos provenientes da economia, da sociologia, da
antropologia, e um pouco de marketing. Recentemente, o campo tem como pilares o
marketing, o comportamento organizacional e, de forma crescente, os negócios
internacionais (KOVACS et all,2007).
Pode ser classificada em Internacionalização para Dentro (inward) – processo de
importação, obtenção de licenças ou franquias e aquisição de tecnologia e
Internacionalização para Fora (outward) – denominação estabelecida às atividades de
exportação, concessão de licenças ou franquias e investimento direto no exterior
(BARRETO, ROCHA, 2002). Os motivos que Ricupero e Barreto (2007) destacam para a
tendência de internacionalização de empresas são: a busca por recursos, mercados e
tecnologia; a concorrência em escala mundial e unificada; para manter mercados internos;
expansão internacional dos negócios, fortalecimento das possibilidades de competição pela
proximidade com o mercado consumidor; por poder usufruir das vantagens oriundas dos
blocos econômicos das fontes internacionais de financiamento; transpor barreiras
protecionistas e acessibilidade junto às redes de fornecedores.
Segundo MIDC (2009), as motivações para internacionalização são a necessidade de
absorver novas tecnologias a produtos e processos; ter acesso a recursos naturais; novos
mercados, para se beneficiar das economias de escala; redução dos riscos do negócio por
meio da diversificação de mercados fornecedores e consumidores; verificação das
necessidades dos consumidores internacionais; ter competitividade em custos e
diferenciação de produtos; ter proximidade com o cliente final; entre outros. Há outros
exemplos de fatores influenciadores nas decisões de expansão internacional de uma
empresa, tais como a concorrência global, oscilações do mercado doméstico e as políticas
governamentais.
6. BIRIGUI – SP: FORMAÇÃO HISTÓRICA, CARACTERIZAÇÃO E O IMPACTO DA
ABERTURA ECONÔMICA DA DÉCADA DE 90
Em 1958, os irmãos Assumpção iniciaram a produção de calçado infantil em Birigui,
contando com 10 empregados e fabricando 20 pares por dia (SOUZA, 2006; VEDOVOTTO,
1996). Segundo Zampiere (1976), a escolha pela fabricação de calçado infantil se deu em
razão do conhecimento sobre a fabricação desse tipo de calçados e do mercado
consumidor, adquirido em São Paulo pelos irmãos Assumpção. Os irmãos Assumpção
sabiam da existência das atividades de produção de calçados masculinos em Franca e
feminino em Jaú, a pouca concorrência no segmento infantil e a necessidade de menor
investimento em relação aos sapatos masculino e feminino.
Dentre os vários problemas enfrentados pelo pioneirismo, destaca-se a falta de mão de obra
especializada. Este problema foi contornado por meio da manutenção de uma banca
particular na capital (São Paulo), que cortava e pespontava o cabedal (parte superior do
calçado), restando então a montagem e o acabamento efetuados em Birigui (VEDOVOTTO,
1996). De acordo com Souza (2006) até a metade da década de 60 a cidade tinha quatro
empresas produtoras de calçados. Em 1965, as empresas produziram 316.000 pares e
contavam com 211 empregados. Na década sequente, 35 fábricas se instalaram e o elevado
número de novas empresas suscitou o aparecimento de empresas fornecedoras de
insumos, componentes e máquinas, num total de 12 empresas (SOUZA, 2006).
O crescimento nos anos setenta foi contínuo. Foi instalado um centro de treinamento para a
formação de trabalhadores especializados, pela necessidade e pelas frequentes discórdias
entre os empresários em virtude de mão de obra especializada escassa. Os confrontos
entre os empresários se davam pelo recrutamento desleal, onde eram oferecidos vários
benefícios para os empregados especializados em produção, para mudarem de empresa.
As fábricas de calçados de Birigui empregavam 347 trabalhadores em 1966, aumentando
para 1.575, em 1972 e chegando a empregar no final da década de setenta 3.500 pessoas.
A partir desse período Birigui se tornou referência nacional em produção de calçados
infantis, fato percebido por meio de divulgação do Jornal Exclusivo (SOUZA, 2006).
Souza (2006) salienta que no começo dos anos 80, as empresas locais buscavam uma
inserção no mercado internacional. O intuito era desenvolver uma marca (uma
característica) que chamasse a atenção dos compradores internacionais e projetasse a
especialidade das empresas locais. Em 1989, havia 211 empresas, contra 49 em 1981. No
mesmo período foram instaladas 41 empresas, entre fornecedoras e representantes. Outro
fator determinante para o crescimento do arranjo, segundo Souza (2006), foi à utilização de
materiais alternativos na fabricação de calçados, em detrimento da utilização do couro. O
encarecimento do couro, os ganhos de produção decorrentes das facilidades em usar os
materiais alternativos e a consequente diminuição dos custos são considerados alguns
motivos da substituição desta matéria-prima, que tem expressiva representatividade junto ao
custo total do calçado.
Na década de 90, o setor vivenciou uma crise decorrente do Plano Collor (1990) e do Plano
Real (1994). Neste processo de liberalização comercial nacional, observado por uma nova
política industrial e de comércio exterior, caracterizado fortemente entre 1988 e 1995, pela
diminuição de barreiras não tarifárias e consequentemente diminuição da proteção da
indústria local. O impacto no setor calçadista, particularmente o calçado infantil, foi
evidenciado principalmente pelo aumento das importações de calçados advindos da China.
Muitas empresas locais fecharam, outras se tornaram subcontratadas. Ocorreram
demissões em massa e nesse contexto foi observada a atuação do SINBI. O sindicato
entregou um manifesto à FIESP em 1995, expressando a maior dificuldade já enfrentada
pelo arranjo até o momento. Neste mesmo ano, a igreja católica se prontificou a ceder um
salão da matriz para que os empresários, juntamente com a Prefeitura, pudessem realizar
duas feiras, intituladas Feirão das Indústrias do Calçado de Birigui (I e II FIBI).
Em 1996, o sindicato desenvolveu junto aos empresários o “Programa Biriguiense de
Qualidade Total”, considerado pelos associados o gatilho motivador para estratégias
conjuntas do APL. Uma parceria entre o sindicato, o SEBRAE e a prefeitura viabilizou a
realização de uma palestra com um consultor renomado. 32 empresas participaram durante
2 anos de um programa oferecido pela Fundação Christiano Ottoni (RIZZO, 2005). Em 1999
foi organizado um consórcio para exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e
desenvolveram uma associação, nomeada APEMEBI, que obteve apoio da APEX – Agência
de Promoção de Exportação, órgão do governo instituído com o intuito de estimular as
exportações (SOUZA, 2006).
Verifica-se, por algumas ações articuladas e desenvolvidas pelos agentes locais, que a
concepção de arranjo produtivo se materializa segundo a definição da REDESIST, em que
os Sistemas Produtivos Locais, ou SPLs, são conjuntos de agentes econômicos, políticos e
sociais que se constituem num dado território, desenvolvendo atividades similares e
congruentes, que apresentam articulações de produção, cooperação e aprendizagem. Os
APL(s) diferem dos SPL(s) pelo fato de não serem solidificados e não apresentarem
significativo vínculo entre os agentes (LASTRES e CASSIOLATO, 2005). No caso específico
da territorialidade observada pelas empresas em arranjos produtivos, para Albagli & Maciel
(2002) essas constituem o meio pelo qual as relações sociais, a cultura e os códigos da
população incidem diretamente sobre a atividade produtiva.
Os autores acrescentam que na concepção do desenvolvimento endógeno, “as relações
entre empresas constituem ainda um mecanismo fundamental de dinamismo das economias
locais e regionais” e reforçam, numa observação sistêmica, que esses arranjos envolvem
empresas e agentes locais, citando os organismos de pesquisa, educação e treinamento
(ALBAGLI & MACIEL, 2002, p. 16). O Arranjo Produtivo Local de Birigui destaca-se em
tamanho e importância, sendo considerado o maior produtor de calçados infantis do Brasil e
da América latina. Em 2012, segundo dados levantados pelo sindicato patronal local, o
arranjo possuía mais de 350 empresas que produziam 59.108 milhões de pares de calçados
por ano.
As micro e pequenas empresas representam juntas, segundo o SINBI, mais de 70% das
empresas locais do setor calçadista. Comumente, são micro e pequenas empresas
independentes, que criam seus negócios mediante necessidade ou oportunidade de
negócios, ou são vinculadas às médias e grandes empresas, por meio de subcontratação. A
participação da produção de calçados infantis de Birigui frente ao cenário nacional
representa 52%. O APL possui uma produção significativa com relação ao calçado feminino,
evidenciado pelo Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui - SINBI.
Segundo o sindicato patronal, em 2012, 17,4% da produção diária de calçados
correspondeu a calçados femininos.
A cidade recebe diariamente trabalhadores de vários municípios vizinhos, que fazem parte
do arranjo: Bilac, Braúna, Buritama, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Glicério,
Penápolis, Rinópolis, Brejo Alegre, entre outros e emprega 21.986 pessoas na atividade
econômica em destaque (SINBI, 2013). A estrutura produtiva local conta com uma gama de
empresas fornecedoras de matérias-primas, insumos, componentes, máquinas e
equipamentos e com um conjunto de agentes formalizados tais como sindicatos, centro de
capacitação técnica, juntamente com instituições informais tecem uma rede de relações,
ditando estratégias para o crescimento e competitividade do arranjo.
7. ANÁLISE DE ELEMENTOS PARA COMPETITIVIDADE GLOBAL: INOVAÇÃO
TERRITORIAL E INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS NO ARRANJO PRODUTIVO
LOCAL CALÇADISTA DE BIRIGUI- SP, NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Na análise efetivada, foi verificada a importância do estudo dos processos de inovação
como elemento para um desenvolvimento local/territorial, fundamental para ampliação da
capacitação produtiva e inovativa das empresas e outras organizações. Na localidade, a
sustentabilidade dos sistemas produtivos se dá pela criação e recriação de produtos e
serviços, bem como modos relacionais, que somente e especificamente aquela comunidade
pode ofertar, levando ao vívido econômico o que no vívido social se manifesta, que é a
exclusividade de modos de vida, de empoderamento, de relações de poder/campo de
forças, de cultura, que todo território possui, mas com suas particularidades de formação
social, de identidade construída, de territorialidade.
Pelos resultados parciais, na pesquisa de doutorado em andamento, na dimensão técnicacientífica, no que tange ao calçado, há poucas iniciativas voltadas à inovação tecnológica e
o setor calçadista exporta apenas 3% de sua produção, houve a criação de uma associação
nomeada APEMEBI - Associação de Pequenos e Médios Exportadores de Birigui, cujas
atividades foram cessadas em 2006, porém há uma lacuna no que tange aos dados sobre
importação de materiais e produtos acabados realizados e também a dimensão da estrutura
local para a internacionalização em si, entre outros dados que serão analisados no decorrer
da pesquisa.
Ao verificar a tecnologia no âmbito calçadista, é perceptível um fortalecimento em sistemas
de tecnologia da informação e automação. O setor de serviços de informática cresceu
significativamente. A parte de automação é uma realidade vivenciada pelas grandes
empresas, porém em algumas etapas do processo produtivo. As iniciativas de capacitação
tecnológica são notadas principalmente no desenvolvimento de produtos. As grandes
empresas do APL de Birigui detêm o acesso rápido às tendências e as pesquisas de
mercado e influenciam empresas de menor porte sobre os modelos que efetivamente serão
utilizados na próxima estação.
Apesar da influencia das grandes empresas sobre algumas de porte menor, muitas
empresas obtêm também acesso às tendências de moda pelo Fórum de Design e
Tecnologia, da Assintecal e do SEBRAE, e pelo Caderno de Tendências do SENAI. Essas
organizações trabalham unificadas no evento Fórum de Inspirações, realizado no SINBI
anualmente. Outro meio de acesso às tendências efetua-se por uma empresa prestadora de
serviço, a Pesquisa e Produto, que realiza pesquisas do mercado e das tendências da
moda. Esses canais de informações são importantes para as pequenas empresas, pois
permitem diminuir suas dependências para com as grandes empresas.
Outro elemento indutivo de competitividade global contemplado no estudo exposto é a
internacionalização de empresas, classificada em Internacionalização para Dentro (inward) –
processo de importação, obtenção de licenças ou franquias e aquisição de tecnologia e
Internacionalização para Fora (outward) – denominação estabelecida às atividades de
exportação, concessão de licenças ou franquias e investimento direto no exterior
(BARRETO, ROCHA, 2003). Os motivos que Ricupero e Barreto (2007) destacam para a
tendência de internacionalização de empresas são: a busca por recursos, mercados e
tecnologia; a concorrência em escala mundial e unificada; para manter mercados internos;
expansão internacional dos negócios, fortalecimento das possibilidades de competição pela
proximidade com o mercado consumidor; por poder usufruir das vantagens oriundas dos
blocos econômicos das fontes internacionais de financiamento; transpor barreiras
protecionistas e acessibilidade junto às redes de fornecedores.
Conforme Rocha (2002), a internacionalização de empresas brasileiras intensificou-se a
partir de 1990, influenciado por fatores como o aumento da concorrência do mercado interno
e a globalização. No APL em questão, em 1999 foi organizado um consórcio para
exportação. Algumas MPEs aderiram à ideia e desenvolveram uma associação, nomeada
APEMEBI - Associação de Pequenos e Médios Exportadores de Birigui, que obteve apoio
da APEX – Agência de Promoção de Exportação, órgão do governo instituído com o intuito
de estimular as exportações, porém a associação finalizou suas atividades em 2006
(SOUZA, 2006).
Pelos resultados parciais, foi identificada a consolidação do Arranjo Produtivo Local de
Birigui na década de 90, paradoxalmente pelo enfrentamento de sucessivas crises advindas
principalmente da abertura econômica, forçando a localidade a responder mediante uma
reestruturação produtiva (terceirização, movimento pela qualidade total entre outros) e
empresarial, criação de associações de aporte, como exemplo a Associação de Pequenas e
Médias Empresas Exportadoras de Birigui - APEMEBI. No que tange aos trabalhadores –
intensa profissionalização e contratação de mão de obra especializada em outras cidades e
regiões, Demanda de novos agentes na rede de empresas, cooperação entre empresas,
crescimento do setor de serviços, falta de mão de obra, reivindicações trabalhistas.
A partir de 2000, outras respostas foram evidenciadas pelo arranjo produtivo local diante da
competitividade global: fortalecimento das governanças territoriais, formação de alianças
regionais, nacionais e internacionais, maiores investimentos em tecnologia: informática e
automação, fortalecimento de outros setores: comércio, serviços, setor sucroalcooleiro,
moveleiro, metalúrgico, confecção, agrícola; ascensão da produção de calçados femininos;
intensa escassez de mão de obra na indústria, fortalecendo as políticas de recursos
humanos das grandes empresas, no sentido de manter e angariar novos colaboradores. O
enfrentamento da crise capitalista mundial de 2008, com crescimento de quase 3% no ano
respectivo. O equilíbrio alcançado pela alíquota antidumping, aplicada às importações
chinesas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A globalização aqui estudada reforça o discurso crítico: a ênfase está na competividade
global, que direciona os mercados, as nações, as empresas, os setores produtivos a se
estabelecerem de acordo com as normas, as regras do capitalismo global. As nações
necessitam de mercados e tecnologia, e o acesso se dá pela inovação e internacionalização
de empresas. A importância de um meio inovador para a manutenção e desenvolvimento
territorial tornou-se tão significativa, quanto institucionalizada, da mesma forma que os
estudos dos sistemas produtivos de uma dada localidade.
Segundo o Manual de Oslo, “uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo
ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo
método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações
externas” (MANUAL DE OSLO, 2005, p.55). Além da inovação, a internacionalização de empresas
brasileiras intensificou-se a partir de 1990, influenciado por fatores como o aumento da concorrência
do mercado interno e a globalização (ROCHA, 2002).
A pesquisa valorizou os condicionantes particulares ligados à cultura oriunda do local, a
unicidade das relações humanas, num contexto sócio econômico exclusivo, organizado em
uma teia de relações e interações em forma de rede. Observou-se a territorialização
ocorrida no Município e a evolução da atividade econômica de maior destaque, o calçado
infantil. Ao longo das décadas, o arranjo foi se consolidando por meio de ações estruturais
que geraram oportunidades de abertura de novos negócios. O arranjo caracteriza-se pelo
empreendedorismo dos empresários e a articulação do SINBI, representando os interesses
do setor.
As interações entre as empresas e os agentes de apoio do APL de Birigui dinamizam, por
meio de políticas e ações realizadas, as atividades relacionadas à produção e
comercialização de calçados infantis. As organizações de apoio, tais como associações de
classe, clarificam os rumos do arranjo, numa abordagem democrática, assim como algumas
empresas, influenciam as relações de troca e poder entre os agentes existentes no arranjo.
O SINBI destaca-se pelas ações em diferentes esferas, atuando como articulador e parceiro
de muitas atividades executadas e principalmente como provedor de um sistema de
governança equilibrado para o arranjo. As relações entre os agentes foram fortalecidas no
decorrer das décadas, passando por acréscimos significativos em cenários de extrema
dificuldade econômica para o setor, por meio de mobilização e coordenação do SINBI.
Houve também o fortalecimento de outros setores tais como comércio, inclusive lojas de
fábrica (em torno de 25), serviços, setor sucroalcooleiro, moveleiro, metalúrgico, têxtil
(confecções, mais de 80 empresas). A cidade tem participação significativa no setor
agrícola, responsável pela produção de 37,5% do milho, 30,8% do arroz, 30% da soja, 28%
do sorgo entre outras culturas (PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGUI, 2013). Muitos
desses setores estão se mobilizando institucionalmente para obter representatividade no
APL.
As ações do APL são desenvolvidas e executadas coletivamente através dos órgãos de
apoio e da comunidade empresarial. A quantidade de projetos e as intensas manifestações
de cooperação entre os organismos de apoio e a comunidade empresarial, que
compreendem melhorias efetivas para a comunidade, são alicerçadas no sentimento de
pertença da comunidade empresarial que se identifica com as necessidades da população,
não negligenciando ou negando suas raízes.
Na perspectiva do desenvolvimento local, a cidade de Birigui tem apresentado respostas à
globalização por meio da inovação e da internacionalização de empresas. São iniciativas tímidas,
mas consideráveis, pois compreendem a mobilização dos agentes locais em torno da sobrevivência e
desenvolvimento da localidade. Há um movimento evidente entre os agentes locais, intensificado a
partir de 2013, com eventos realizados em conjunto, no intuito de potencializar ações de inovação, o
incentivo ao empreendedorismo, bem como a preocupação latente em sistematiza-las em torno de
um eixo gestor, que integre políticas de gestão pública com a participação da sociedade.
Para trabalhos futuros, a partir das questões observadas no que tange a inovação e
internacionalização de empresas, verificar a estrutura e a agência, em escala nacional e local,
analisando o possível papel do Estado no enfrentamento da dinâmica concorrencial global, pelas
políticas públicas de promoção e apoio a pesquisa, desenvolvimento e inovação de produtos,
serviços, processos e internacionalização das empresas dos setores produtivos. As estratégias do
Estado vinculadas a incremento e adensamento tecnológicos dos setores produtivos. O estudo de um
outro desenvolvimento, enquanto potencializador das capacidades de um dado território, entendido
como “(...) chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo
que nos pertence” (SANTOS, 2000, p.96), esta sim como tentativa de enxergar, mesmo que de modo
reativo à estrutura social imposta, o também possível papel dos agentes no território estudado diante
da realidade globalizada.
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