RECURSOS E TECNOLOGIAS PARA O ENSINO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL HILDA TEIXEIRA GOMES VILMA GOMES SAMPAIO [email protected] INSTITUTO MUNICIPAL HELENA ANTIPOFF 1 INTRODUÇÃO Pensando em uma escola inclusiva organizada por professores que se mostram capazes de elaborar suas práticas pedagógicas com base em ações reflexivas, a presente oficina tem por objetivo construir recursos e tecnologias para o desenvolvimento do trabalho com o aluno deficiente visual, fazendo uma análise da importância destes recursos em sua vida escolar. Segundo Kenski (2007, p. 22) “estamos muito acostumados a nos referir à tecnologia como equipamentos e aparelhos. Na verdade, a expressão tecnologia diz respeito a muito além da máquina”. É tudo aquilo que dá suporte técnico-pedagógico para que a educação se efetive de forma verdadeira, que permite a participação nas atividades propostas em sala de aula. A resposta educativa satisfatória para alunos com deficiências envolve recursos e estratégias que possibilitem a este alunado aprender, se desenvolver, participar das atividades pedagógicas em pé de igualdade com seus colegas. A este conjunto de ações que abrange equipamentos, materiais adaptados, estratégias entre outros, fazem parte do que se considera tecnologia assistiva, conceituada por Lauand (2005) em citação de Manzini e Deliberato ( 2007): [...] No sentido amplo, o objeto da tecnologia assistiva é uma ampla variedade de recursos destinados a dar suporte (mecânico, elétrico, eletrônico, computadorizado, etc.) a pessoas com deficiência física, visual, auditiva, mental ou múltipla. Esses suportes podem ser, por exemplo, uma cadeira de rodas (...), uma prótese, uma órtese, e uma série infindável de adaptações, aparelhos e equipamentos nas mais diversas áreas de necessidade pessoal (comunicação, alimentação, transporte, educação, lazer, esporte, trabalho, elementos arquitetônicos e outras) (LAUAND, 2005, p.5, apud MANZINE e DELIBERATO, 2007, p.10). Na perspectiva da Educação Inclusiva, os recursos e tecnologias são de fundamental importância, sendo utilizados como instrumentos facilitadores da aprendizagem, permitindo que o aluno cego ou com baixa visão, construa novos conhecimentos. Para o desenvolvimento do trabalho com este alunado, é imprescindível realizar adequações que facilitem o processo de aquisição de 2 conhecimento, minimizando as barreiras para a inclusão no sistema familiar, escolar e social. DESENVOLVIMENTO Os participantes serão convidados a construir materiais pedagógicos especializados que permitam ao aluno deficiente visual acesso aos conteúdos da sala de aula. Segundo Silva (2006, p 150), a aprendizagem ocorre quando uma série de condições é satisfeita, tais como: quando o aluno é capaz de relacionar, de forma não arbitrária e substancial, a nova informação com os conhecimentos e experiências prévias e familiares que possui em sua estrutura de conhecimentos; quando os materiais e conteúdos de aprendizagem têm significado potencial lógico; quando existem materiais e instrumentos apropriados, assim como uma adequada organização de tipos específicos de atividades e estratégias de ensino oferecidas. Silva (2006, p 150) ainda acrescenta que o aluno precisa de motivação e disposição para aprender significativamente. Então, sendo o deficiente visual um aluno como outro qualquer, também precisa sentir-se incentivado a participar. É imprescindível perceber como ele aprende, reconhecendo que a deficiência não significa limitação, representa um desafio a mais na busca de caminhos ao encontro de novos conhecimentos (SAMPAIO, 2010). Como afirma Manzini e Deliberato (2007), o recurso pedagógico é construído com o objetivo de ser algo concreto para o aluno, que ele possa manipular, e que tenha alguma finalidade pedagógica. Então, avaliar se os recursos e tecnologias podem ser utilizados pelos alunos com deficiência visual em sua forma original é ponto de partida. Para (CERQUEIRA; FERREIRA, 1996) na seleção, adaptação ou elaboração de recursos didáticos para alunos deficientes visuais, o professor deverá levar em conta alguns critérios para alcançar a desejada eficiência na utilização destes recursos, tanto para alunos cegos como para os de visão subnormal. Torna-se necessário, portanto, elaborar adaptações que favoreçam a percepção e a construção de novas aprendizagens, promovendo o acesso às atividades realizadas em sala de aula. Desta 3 forma, as condições e objetivos pedagógicos são fundamentais para orientação do trabalho a ser desenvolvido com o aluno deficiente visual. Segundo este princípio, a dinâmica utilizada nesta oficina se encontra inserida na perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (2000), que enfatiza a formação do indivíduo a partir de suas experiências sociais, trazendo discussões acerca da relação entre a mediação de instrumentos técnicos e a mediação semiótica. Será abordado o uso do material pedagógico adaptado como instrumento técnico semiótico, e não simplesmente como um recurso didático a mais no ambiente escolar. Para Vygotsky (2000), o processo de interação constante entre o sujeito e o contexto onde está inserido é uma condição para que, juntos, possam encontrar diferentes alternativas e estratégias que viabilizem a construção de conhecimentos, valores e subjetividades. Neste processo de ensino-aprendizagem interativo, o autor ressalta o papel do professor como mediador, auxiliando o aluno a superar suas dificuldades em relação à formação de conceitos, socialização e comunicação, a partir das práticas pedagógicas e das relações que vivencia em sala de aula. As atividades da oficina serão desenvolvidas da seguinte forma: 1) Apresentação do trabalho desenvolvido no Centro de Transcrição a Braille através de recursos multimídia; 2) Apresentação do que é um material adaptado para alunos com deficiência visual, sua importância no contexto escolar e os cuidados a serem adotados antes de sua confecção; 3) apresentação da proposta da oficina e orientações quanto aos procedimentos a serem realizados pelo grupo; 4) os participantes serão convidados (em grupos) a construir materiais pedagógicos especializados tomando por base o que foi previamente apresentado. Estes materiais serão organizados nas seguintes áreas: leitura, escrita, alfabetização, matemática, geografia, ciências além de jogos diversos; 5) após a confecção dos materiais será realizada a apresentação e discussão no grupo, sobre a funcionalidade do que foi construído. Discutiremos as diferentes formas de utilização dos recursos produzidos e como adequá-los às necessidades específicas dos alunos com deficiência visual, levando em consideração que o aluno com baixa visão ou cego tem uma percepção fragmentada, não possuindo a visão do todo, como acontece com as pessoas que enxergam; 6) avaliação: a partir 4 do que foi vivenciado na oficina, será solicitado aos participantes, sintetizar em uma palavra, o que consideram importante para o ensino da pessoa com deficiência visual. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muito se tem discutido sobre igualdade e diferença em nossa sociedade, mas a compreensão e aceitação deste tema sempre foi um obstáculo a ser vencido. Ao lidarmos com o aluno cego ou com baixa visão, precisamos ter em mente a importância do material didático especializado na construção de conceitos e acessibilidade a novos conhecimentos. A falta ou a carência de experiência visual faz com que o cego perceba a realidade de forma diferente da pessoa vidente (OCHAITA e ROSA, apud COLL, PALÁCIOS E MARCHESI, 1995, p 184). Por outro lado, Lima, Silva at al.,(2007) afirmam que o reconhecimento tátil das figuras bidimensionais pelos deficientes visuais não acontece da forma esperada porque são utilizados relevos de desenhos visuais que não garantem a melhor representação tátil, e não devido a incapacidade do sistema tátil ou porque haja necessidade de mediação da visão. Portanto, não é a ausência da visão o fator impeditivo para a aquisição de conhecimento por parte do aluno, tampouco a exploração tátil um método ineficaz: é a adaptação inapropriada que acaba por atravancar resultados positivos e atrapalhar a cadeia de aprendizagem (SAMPAIO, 2010). De acordo com Silva (2006, p. 149): “inclusão é uma tarefa complexa, que exige do educador múltiplos saberes da prática educativa, principalmente porque pressupõe o respeito às diferenças existentes entre os educandos, independentemente de sua capacidade ou dificuldade [...]”. É necessário pensarmos em mudanças nas estruturas de acesso ao campo pedagógico. “Não se pode encaixar um projeto novo em uma velha matriz de concepção do ensino escolar” (MANTOAN, 2002). Torna-se fundamental uma proposta educacional que não apenas inclua, mas promova respostas educacionais adequadas a todos. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CERQUEIRA, Jonir Bechara, FERREIRA, Elise de Melo Borba. Recursos didáticos na educação especial. In: Instituto Benjamin Constant. Rio de janeiro: IBCENTRO, Número 5 – dezembro/1996. KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2007. LIMA, Francisco José de; LIMA, Rosângela A. Ferreira & SILVA, José Aparecido da. A preeminência da visão: crença, filosofia, ciência e o cego. Disponibilizado em: 23/08/2007. Disponível em: http://www.bengalalegal.com. Acesso em: 20/09/2014 MANZINI, E.J.; DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados II/SEESP. Brasília: Mec/Secretaria de Educação Especial, 2007. Fascículo 4, 72p. Il MANTOAN, M.T.E. Ensinando à turma todas as diferenças na escola. Pátio - Revista pedagógica, ano V, n° 20, fevereiro/ abril, p.18- 23, 2002. SILVA, Luzia Guacira dos Santos. Estratégias de ensino utilizadas, também, com um aluno cego, em classe regular. In: MARTINS, Lúcia de Araújo Ramos. et al. (Org.). Inclusão: compartilhando saberes. Petrópolis: Vozes, 2006. OCHAITA, Esperanza, ROSA, Alberto. Percepção, ação e conhecimentos em crianças cegas. In: COLL, César, PALACIOS, Jesús, MARCHESI, Álvaro. Desenvolvimento Psicológico e Educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. OLIVEIRA, J.V.G. (1998) Arte e Visualidade: A questão da cegueira. Revista Benjamin Constant 4 (10), 7-10. SAMPAIO, Vilma Gomes. Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação. Saberes e Fazeres de uma Estudante Cega: um estudo de caso escola do município do Rio de Janeiro. 2011. Especialização Lato Sensu SAMPAIO, Vilma Gomes. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação. A Exploração Tátil: um Estudo Sobre a sua Contribuição na Construção do Conhecimento e no Processo Ensino-Aprendizagem de Alunos Deficientes Visuais. 2010. Especialização Lato Sensu VYGOTSKI, L. S. Obras Escogidas – Tomos II e III. Madrid: Visor, 2000. 6