5326 APRENDIZADO AGRÍCOLA “GUSTAVO DUTRA”: SEU PAPEL E IMPORTÂNCIA NO CONTEXTO AGRÍCOLA DE MATO GROSSO Abimael Antunes Marques CEFET Cuiabá Ana Paula da Silva Xavier Universidade Federal do Mato Grosso RESUMO Mato Grosso, estado essencialmente agrícola, tem, no estabelecimento escolar intitulado Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”, os germens dessa vocação, prenunciada pelo governo de Getúlio Vargas, nos idos de 1943. Criado oficialmente a 14 de abril do citado ano (Decreto-Lei No 5.409), esse estabelecimento de ensino – situado numa zona rural e sob o regime de internato –, representou uma inovadora oportunidade para educar, instruir e capacitar tecnicamente, na área agrícola, os filhos das famílias mato-grossenses, ligadas às lides rurais, assim como prover o Estado de trabalhadores especializados na mesma área. Na pesquisa, fez-se a historicização da agricultura brasileira ao longo dos séculos, inserindo Mato Grosso em seu interior, seguido da análise das atividades agrícolas específicas do Estado – antes e depois da existência dessa escola –, visto que, no início da gestão Vargas, Mato Grosso foi intensamente afetado pelo poder paralelo dos “coronéis”, desmantelado vigorosamente pela era Getulista. Analisou-se também o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” no conjunto do sistema educacional de Mato Grosso, entre 1943 e 1947, destacando sua especificidade enquanto escola federal, de cunho rural, enfatizando sua colaboração enquanto diferencial na formação do trabalhador matogrossense. Ao final, foram analisadas as questões mais pontuais referentes à cultura escolar local com base nos estudos realizados por Julia. Para tanto, foi realizado um contraponto entre as propostas educacionais e as práticas escolares desenvolvidas no interior da instituição. Para o desenvolvimento dessa pesquisa, a Legislação Federal e Estadual foi importante ponto de partida, procedendo-se também ao levantamento de fontes documentais geradas pela própria escola, assim como daquelas depositadas no Arquivo Público de Mato Grosso, não desprezando as informações que circularam nos mais diversos periódicos regionais e no interior das Assembléias Legislativas estadual e federal e também no âmbito dos Ministérios da Agricultura e Educação. Fontes orais foram coletadas para embasar e aclarar pontos nebulosos da pesquisa documental, a exemplo de entrevistas com professores e egressos da mesma escola, sujeitos de uma práxis pedagógico-administrativa, muitas vezes encoberta ou até mesmo omitida pela documentação oficial. Pôde-se perceber, com o desenvolvimento da pesquisa, que o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” foi, por um longo tempo, a instituição que procurou fazer o diferencial na formação do trabalhador agrícola mato-grossense, uma vez que era a única escola agrícola federal no Estado de Mato Grosso, pois além de disponibilizar de instrumentos que o qualificava profissionalmente ainda o contemplava com um certificado e/ou diploma ao final dos cursos que oferecia. Constatou-se, ainda, que a escola foi o divisor de duas épocas para o Estado de Mato Grosso. A primeira, sem a escola, a agricultura desenvolvida no Estado era de caráter rudimentar e a segunda, com a escola, a agricultura passou a ser desenvolvida com mais critérios e baseada em pesquisas. Verificou-se o retorno social do projeto, no âmbito familiar – visto que as famílias colocavam seus filhos nesse estabelecimento de ensino para, futuramente, ver sua produção agrícola melhorada – e também no circuito da sociedade mais abrangente, que acolheu os profissionais egressos do Aprendizado, empregando-os nos mais variados ramos do serviço público e técnico-empresarial. 5327 TRABALHO COMPLETO Mato Grosso, Estado essencialmente agrícola, tem, no estabelecimento escolar intitulado Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”, os germens dessa vocação, prenunciados pelo governo de Getúlio Vargas, nos idos de 1943. A instalação do Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” em Mato Grosso foi considerada como o grande marco da agricultura mato-grossense, à época. Pretende-se analisar este estabelecimento de ensino no conjunto do sistema educacional de Mato Grosso, entre 1943, época de sua criação, e 1947, momento em que adquiriu a denominação de Escola de Iniciação Agrícola “Gustavo Dutra”. A idéia que veiculava a respeito do Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”, no momento de sua institucionalização, com destaque especial à difundida pelo jornal “O Estado de Mato Grosso”, era a de que o Aprendizado se constituiu no grande divisor de duas épocas da agricultura mato-grossense: a primeira, sem a escola, quando a agricultura era implementada de forma extensiva, empírica, extrativista, e a segunda, com a escola, quando ela ganhou um outro formato, mais racional, experimental e científico, pois produzia “alvissareiras transformações nas atividades rurais”, tendo em vista que a produção organizada e sistematizada se constituía em fator de geração de riquezas. A escola foi criada com o intuito de alavancar a agricultura mato-grossense através da introdução de novas técnicas de produção no campo. No entanto, como se verá, o Aprendizado Agrícola encontrou enormes dificuldades para desempenhar essa função, pois, segundo depoimentos de egressos da época, ela serviu, principalmente, como trampolim para a continuidade dos estudos de alunos egressos em outros Estados da federação. A partir dessa consideração, a problemática deste trabalho estará centrada na compreensão dos determinantes históricos das diferentes significações imputadas ao Aprendizado, tenham sido elas advindas de fontes escritas ou orais, do discurso oficial ou aquele expresso pelos egressos entrevistados e, também, o proferido pela primeira professora do mesmo Aprendizado. É importante esclarecer que os egressos entrevistados foram escolhidos pelo critério de antiguidade, pois, com freqüência, participam dos Encontros de Egressos promovidos pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Cuiabá, antigo Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”. A professora entrevistada foi escolhida por oferecer um quadro daquela real época, pois, além de estar viva e lúcida, foi a primeira professora do Aprendizado. Ainda dentro dessa mesma perspectiva problematizadora, cabe a seguinte pergunta: o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” contribuiu para a formação do trabalhador agrícola mato-grossense? Ao longo deste trabalho procurar-se-á responder a esta indagação. O Brasil, desde o seu descobrimento, sempre encontrou no setor agropecuário o grande sustentáculo para o amparo do seu desenvolvimento. Embora tivesse usufruído todas as benesses oferecidas pela grande extensão de terras férteis e produtivas, o país pouca ou nenhuma importância deu ao ensino agrícola. Foram necessários mais de trezentos anos para que a primeira iniciativa concreta de criação de uma escola agrícola viesse contemplar a sociedade brasileira, ainda assim de modo bastante precário. O presente trabalho faz um minucioso levantamento de fontes emitidas pelos governos federal e estadual desde a primeira manifestação pela criação da Escola Agrícola da Bahia até o ano de 1947, quando o Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, em mensagem dirigida ao Congresso Nacional, evidenciava a necessidade premente de investimentos da União, Estados e Municípios, visando ao fortalecimento do ensino agrícola, pois a agricultura praticada no país era ainda muito rudimentar. De acordo com Freitag (1986, p. 32), o modelo agroexportador da agricultura nacional, baseado na monocultura latifundiária e no trabalho escravo, “exigia um mínimo de qualificação e diversificação da força de trabalho”. Ainda segundo a mesma autora, “não havia nenhuma função de reprodução da força de trabalho a ser preenchida pela escola”. A reprodução das relações de dominação e da ideologia dominante eram satisfatoriamente preenchidas pelas escolas então existentes (ibidem, p. 47), não se justificando, nessa medida, esforços para a criação de escolas agrícolas. Além das razões apontadas, havia outras que corroboravam para distanciar o ensino agrícola dos brasileiros, pois o país possuía terras abundantes e férteis, o que dispensava esforços especiais ou utilização de métodos e técnicas para o aumento da produtividade. Assim que uma área agricultável se esgotava, derrubavam-se novas, limpavam-se os terrenos utilizando fogo, após o que semeava-se novamente. Mato Grosso figura no campo educacional agrícola em 1943. Nesse ano, mais precisamente no dia 14 de abril de 1943, através do Decreto-Lei no 5.409, o governo federal cria, no local denominado 5328 São Vicente, município de Cuiabá, Estado de Mato Grosso, um Aprendizado Agrícola subordinado à Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura. O ensino ministrado, não só no Aprendizado Agrícola de Mato Grosso, mas em todos os demais existentes no país, era destinado aos menores desvalidos, aqueles que careciam de escolas, pois as famílias não dispunham de condições financeiras para ampará-los em uma unidade escolar. Os menores, que deveriam oscilar na faixa etária entre 10 e 16 anos, não podiam ser delinqüentes e nem portadores de doenças contagiosas ou, ainda, que tivessem alguma deficiência física que os impossibilitassem de praticar os serviços agrícolas ou da indústria rural. O trabalhador praticava uma agricultura rudimentar, desprovida de quaisquer técnicas que pudessem aumentar a produtividade das lavouras. A tecnologia encontrava-se distante dos campos produtivos e só com a implementação de estabelecimentos de ensino modernos e bem - equipados é que se poderia vencer o desafio da transformação da agricultura nacional. Não se têm dúvidas de que os aprendizados agrícolas deixaram significativa parcela de contribuição no desenvolvimento da agricultura brasileira. Quando se trata da história de instituições educacionais, os esforços implementados na produção de conhecimentos, em âmbito nacional, servem de base para o presente estudo, a exemplo das análises produzidas por Magalhães1, Gatti Jr.2, Buffa e Nosella3, dentre outros. Para proceder a esse levantamento histórico da Instituição, lançamos mão dos documentos depositados em seu arquivo. Verificamos estar, hoje, esse acervo bastante diminuto e em estado precário de conservação. Pelos muitos silêncios projetados pela documentação institucional, recorremos a fontes de outra natureza, a exemplo dos periódicos e da legislação. O cotidiano escolar, por sua vez, foi analisado tendo por base a História Oral. O arquivo do aprendizado, embora incompleto, foi uma das fontes mais utilizadas. Ao se esboçar a história de uma instituição educacional, é necessário situar o seu comprometimento no contexto histórico local. O discurso oficial traz o Aprendizado como a escola ideal e aquela que solucionaria o problema maior da agricultura mato-grossense: a ausência de técnicas apropriadas para o aumento da produção e, conseqüentemente, do vigor econômico do Estado. Ao arremedo do que foram intitulados os primeiros Grupos Escolares de Mato Grosso, criados nas primeiras décadas do Século XX, o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” foi representado como “palácio”, local onde alunos, professores e servidores administrativos fixariam suas residências, e instituição onde as “luzes” do saber seriam capazes de transformar filhos de rudes fazendeiros em “príncipes” de um novo tempo que se anunciava. Os seus professores representariam os antigos preceptores, homens e mulheres dotados de cultura e espírito de desprendimento. Os funcionários da instituição, abnegados servidores que, com seu diligente trabalho, manteriam a ordem e rigor necessários ao bom andamento de todas as instalações constitutivas do “palácio”. Assim adjetivado, o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” deixaria de ser visto como uma escola rural de grande porte, mas passaria a representar local de primeira grandeza, tal qual os “palácios” edificados na zona urbana da Capital. (REIS, 2003, p. 87) Como o Aprendizado situava-se na zona rural e o transporte e estradas à época eram bastante precários, a permanência dos servidores na localidade era quase obrigatória. Visando resolver este problema, o Governo Federal construiu várias casas para que os servidores pudessem ali permanecer com seus familiares. O Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” dispunha de várias outras instalações para dar suporte aos cursos que oferecia, várias delas caracterizadas como oficinas didáticas, a exemplo: a) Carpintaria/Fábrica de móveis: local onde trabalhava o carpinteiro / marceneiro na confecção de móveis para o próprio Aprendizado e onde os alunos recebiam noções do trabalho em carpintaria/marcenaria, fabricando móveis para uso da escola; 1 MAGALHÃES, Justino, Breve Apontamento para a História das Instituições Educativas e Contributo para a História das Instituições Educativas; 2 GATTI Jr., Décio. A pesquisa histórico-educacional sobre as instituições educacionais brasileiras: reflexões teórico-metodológicas; 3 BUFFA, Ester & NOSELLA, Paolo. Schola mater: a antiga Escola Normal de São Carlos – 19111933, Industrialização e educação: a Escola Profissional de São Carlos 1932-1971 e Escola de Engenharia de São Carlos – 1948-1971. 5329 b) Sapataria/Confecção de sapatos e arreios: nesse local trabalhava o sapateiro, que recebia alunos e os orientava para fazer o conserto dos próprios calçados e artigos de selaria para uso do Aprendizado; c) Oficina Mecânica: local de trabalho de mecânico, professores e alunos. Ali estavam colocados veículos como tratores e implementos agrícolas do Aprendizado. Todas as aulas práticas referentes à manutenção das máquinas agrícolas eram emanadas desse local. d) Cavalariça: local para guarda e alimentação dos cavalos do Aprendizado. As aulas práticas sobre os eqüinos, muares e asininos, muitas vezes, eram ministradas nesse local. e) Estábulo: local destinado ao aleitamento das vacas e às aulas práticas da área de bovinocultura. Os alunos faziam a sua manutenção diária, através do arraçoamento dos animais, tirando leite, fazendo curativos, apartando animais etc. O estábulo era dotado de ordenhadeira mecânica, tecnologia inovadora para a época, o que demonstra a preocupação do governo em prover o estabelecimento escolar de instrumentos da mais alta tecnologia; f) Aviário: destinado à criação de frangos, galinhas e marrecos. O ambiente era provido de incubadeira, outra tecnologia introduzida na época, e onde se desenvolviam aulas práticas da disciplina Noções de Zootecnia; g) Apiário: local reservado à criação de abelhas e produção de mel, cera, própolis e geléia real. Lugar onde se realizavam aulas práticas da disciplina Noções de Zootecnia; h) Pocilga: espaço reservado à criação de porcos. Os alunos faziam diariamente a manutenção de suas instalações e dos animais, assim como recebiam aulas práticas da disciplina Noções de Zootecnia; i) Paiol: local destinado à guarda dos cereais produzidos no Aprendizado, como milho, arroz e feijão; j) Silo: eram verticais e destinavam-se ao armazenamento da silagem, que era preparada com o auxílio dos alunos, para ser servida ao gado no período da estiagem; l) Estrumeira: espaço destinado ao armazenamento do esterco produzido pelo gado, cavalos, porcos, galinhas e outros animais, associado à palha e serragem advindas do estábulo e aviário. Depois de curtido, esse material era utilizado para a fertilização do solo, principalmente na horta da escola; m) Horta: onde eram cultivadas pequenas plantações como tomate, alface, beterraba, cenoura, couve, cebolinha, salsa e muitas outras culturas de pequeno porte. Os alunos faziam a manutenção diária do local, a exemplo do plantio, colheita, tratos culturais, irrigação e todos os outros trabalhos feitos em uma horta. Os alunos recebiam, ali, aulas práticas da disciplina Noções de Agricultura; n) Lavoura: pouco mecanizada, a lavoura era o local destinado ao plantio do arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora, cana-de-açúcar e banana. Os alunos participavam de todo o ciclo produtivo das plantações e faziam a manutenção diária da lavoura, realizando o plantio, capina, colheita, tratos culturais etc. Nesse local recebiam ainda aulas práticas da disciplina Noções de Agricultura; o) Pomar: destinado ao plantio das mais diversas espécies frutíferas, principalmente citrus, como laranja, limão, lima, mexerica e poncã. A unidade servia também para se ministrarem aulas práticas e contava com aproximadamente 1.000 plantas; p) Indústrias Rurais: local reservado à industrialização do que era produzido no campo, como derivados do leite, rapadura, licor de laranja, extrato de tomate, melado e caldo de cana, doces, vinagre, massas etc. Todos esses produtos eram fabricados de maneira artesanal. Local destinado também às aulas práticas da disciplina Indústrias Rurais. O número de animais existente no estabelecimento de ensino não era muito significativo. A razão maior da sua existência era a de servir como material de aprendizagem aos estudantes. Esses animais também eram destinados ao refeitório do estabelecimento e, quando verificado o seu excesso, a própria comunidade os adquiria, para consumo. O quadro de semoventes, no ano de 1947, era composto de: a) rebanho leiteiro, com 78 cabeças; b) Rebanho suíno, com 84 cabeças; e c) Rebanho eqüino, com 18 cabeças. Ao procurar recriar a trajetória do Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”, faz-se necessário conhecer e caracterizar os órgãos de gestão existentes, à época, tornando-se imperativo conhecer tanto sua área didática quanto administrativa. A administração do Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” estava a cargo de um Diretor nomeado pelo Ministro da Agricultura. Internamente, recebia ele o apoio de outros órgãos componentes da estrutura do próprio Aprendizado: 5330 a) Núcleo de Agricultura (N.A.); b) Núcleo de Zootecnia (N.Z.); c) Núcleo de Indústrias Rurais (N.I.R.); d) Turma de Administração (T.A.). A normativa que regulamentou os Aprendizados Agrícolas foi o Decreto no 14.252, de 10 de dezembro de 1943. Segundo essa legislação, tinham por finalidade: a) cooperar na educação das populações rurais, realizando cursos regulares técnicos primários e cursos supletivos de diferentes modalidades sobre agricultura, zootecnia e indústrias agrícolas; b) complementar a educação especializada com as práticas de trabalhos em madeira, ferro e couro; O trabalho dos alunos nos cursos e nas oficinas era considerado como aula prática, ministrada pelos respectivos instrutores. Os instrutores eram professores ou até mesmo servidores administrativos que detinham o domínio do ofício. A Portaria Ministerial no 708, de 27 de dezembro de 1943, foi o documento que normatizou os cursos a serem oferecidos pelas Escolas Agrícolas e pelos Aprendizados. À primeira vista, o Aprendizado Agrícola mato-grossense estava autorizado a funcionar com apenas dois cursos, ou seja, o rural e o de adaptação. No entanto, não foi isso que aconteceu. Provavelmente utilizando-se de uma brecha na própria portaria, esse Aprendizado oferecia os cursos de adaptação, rural e básico. O curso de Adaptação era destinado a dar ao trabalhador em geral, jovem ou adulto, não habilitado ou diplomado, uma qualificação profissional. Para isso, eram organizados, em épocas determinadas, cursos práticos. Ao aluno concluinte era oferecido um certificado de Habilitação Profissional, com indicação da especialidade. O Curso de Ensino Rural tinha a duração de dois anos e destinava-se à formação de trabalhadores rurais. Ao concluir o curso de Ensino Rural, o estudante era contemplado com um certificado de Trabalhador Rural, com a indicação da especialidade freqüentada. O Ensino Agrícola Básico tinha a duração de 3 anos e destinava-se à formação de capatazes rurais. Após a conclusão do curso de Ensino Básico, o aluno era agraciado com um diploma de Capataz Rural, com a indicação da especialidade cursada. Para acessar os bancos escolares do Aprendizado era necessário passar por um processo seletivo, por sinal bastante exigente. Quando de sua aplicação, os mais pobres e necessitados eram, naturalmente, eliminados, pois não conseguiam acompanhar o nível das provas aplicadas. Percebe-se que há uma contradição na afirmação acima, pois a escola era, teoricamente, destinada aos “desvalidos”. Por que, então, eram eles eliminados pela seleção? O que se nota é que a escola não conseguia disponibilizar vagas para atender à demanda existente, havendo a necessidade de eliminação de alguns candidatos. O sistema de avaliação mantinha estreita articulação entre teoria e prática, onde o aluno demonstrava a sua aprendizagem na prática fazendo castração de animais, aplicação de vermífugos, inseticidas e fungicidas, ordenha de vacas etc., e até mesmo ministrando aulas para os colegas de turma. A avaliação adotada pelo Aprendizado era bastante intensa e austera, uma vez que aplicada semanalmente e constava de provas teóricas, práticas e entrevistas, uma associação que procurava explorar, ao máximo, o desempenho intelectual dos alunos. O corpo docente do Aprendizado era extremamente capacitado. Além de contar com professores qualificados, dispunha do auxílio de “práticos”, ou seja, servidores administrativos que auxiliavam na orientação dos alunos durante a realização das aulas práticas. A clientela do Aprendizado era proveniente da maioria dos municípios do Estado, com destaque para os de Poxoréo, Cuiabá, Rosário Oeste, Alto Araguaia, Santo Antônio do Rio Abaixo, Nossa Senhora do Livramento, Várzea Grande, São Lourenço, Jaciara, Nobres, Guiratinga, Diamantino, Alto Paraguai, Pedra Preta, Barra do Garças etc. Nota-se que alguns desses municípios tinham na atividade garimpeira a sua base econômica, o que, ao lado de jovens oriundos de famílias que tinham outra base de produção, proporcionava uma clientela bastante diversificada. Co-habitavam no Aprendizado filhos de garimpeiros, pecuaristas, agricultores, motoristas, pescadores, boiadeiros, dentre outros. A maioria desses jovens era 5331 proveniente de famílias pobres atraídas pela qualidade e gratuidade do ensino oferecidas pelo Aprendizado. Apenas um documento foi encontrado que trouxesse à luz sanções disciplinares aplicadas aos alunos: um Aviso aos alunos, datado de 25 de fevereiro de 1947, que estabelecia o que os alunos não podiam fazer e as respectivas sanções disciplinares pelo seu não-cumprimento. Embora o Aprendizado não dispusesse de um código disciplinar que estabelecesse parâmetros para a avaliação do comportamento dos alunos, percebe-se que o controle era rígido. Ao mesmo tempo em que punia, a escola recompensava o “bom aluno” que servia de exemplo aos demais. Por outro lado, o “mau aluno” era severamente punido, às vezes, humilhado na presença dos colegas. O Aprendizado mantinha um controle minucioso de todos os passos dos alunos, a fim de que pudesse classificá-los e julgá-los. Destacava-se a vigilância hierárquica e a sanção normalizadora que, em conjunto, constituíam um terceiro elemento: a análise da própria conduta, onde os subservientes demonstram os efeitos do poder disciplinar, pois a análise da conduta é a própria ferramenta de alienação do poder. O horário estabelecido para as atividades escolares foi definido pela Portaria no 15, de 24 de abril de 1945, assinada pelo diretor do Aprendizado, Júlio Ferreira de Aguiar. Sendo o Aprendizado destinado teoricamente ao acolhimento de crianças pobres, tirando-as das ruas e dando-lhes alguma profissionalização através do ensino de ofícios e do trabalho no campo, nada mais justo que lhes ensinar, também, o caminho da ordem, da pontualidade e da regularidade. Nesse sentido, a organização disciplinar do Aprendizado parece lógica, pois fixa uma nova economia de tempo, a que necessitava ser absorvida pela cultura popular, às vezes, discriminada e tida como ociosa, à medida que nela predominava a concepção do tempo cíclico e mais voltado para um andamento natural, onde os fatores da natureza falavam mais alto. O item 6 da Portaria no 708 trata do Ano Escolar. Para aqueles que freqüentavam os cursos rural e básico, este era diferenciado. Abrangia um período que não podia ser superior a dez meses. As aulas tinham início no primeiro dia de fevereiro e seu término no dia 15 de novembro. O restante do mês de novembro estava reservado aos exames finais e a outros trabalhos escolares. Os meses de dezembro e janeiro eram destinados às férias escolares. O egresso de 1947, Luiz Gama de Oliveira, em entrevista, faz alusão a essa situação. Não se pode esquecer de que o aluno Luiz Gama freqüentou o Aprendizado entre os anos de 1947 e 1948, apenas dois anos. “A gente ia pra lá e só vinha no período de férias. Ficava o tempo todo lá. Não tinha sábado nem domingo. Inclusive, no primeiro ano, não tivemos nem férias de julho, porque houve um atraso. Não me lembro bem o que houve. [...] então, nós tivemos que ficar lá no mês de julho. No período de férias, não tivemos férias. Ficamos estudando. Só voltamos pra cá em dezembro”. O culto cívico era obrigatório no aprendizado. O tipo de civismo apregoado nos primeiros anos do Aprendizado tinha como referência o extremado culto à Pátria, tão caro a Getúlio Vargas, e externado em todo o país através das concorridas passeatas. Se todos os estabelecimentos escolares do país deveriam adotar essa prática, independentemente de sua vinculação (municipal, estadual), as escolas federais, por sua vez, deveriam ser ainda mais exemplares nestas práticas. Mesmo se constituindo em um estabelecimento de ensino rural, o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” não deixava de se movimentar nas datas cívicas, onde se observava desde o hasteamento da bandeira, entoação de hinos, seguido de desfile, discursos de ocasião, arreamento do pavilhão nacional, encerrando-se com baile, a cargo da Agremiação Estudantil da escola. O Aprendizado dispunha de um centro cívico intitulado Centro Social “Gustavo Dutra”, e as suas atividades eram realizadas em estreita consonância com a direção da escola. Perguntado sobre que tipos de atividades eram organizadas pelo Centro Social, o senhor Audinor, egresso de 1946, deixou claro: “Ele promovia recreações, inclusive bailes. Geralmente no domingo à tarde tinha o matinê. Nós ficávamos ali dançando, treinando antes. Treinando pra dançar, porque a gente era novo [...] treinava um com o outro. Assim, meio de longe, mas treinando. Para não passar vergonha, porque depois chegava a moçada. Ali era tudo alto astral. Parece que a gente era até mais evoluído. [...] toda tarde tinha o arriamento da bandeira, de manhã tinha o hasteamento. Todos perfilados, cantávamos o Hino à Bandeira”. O Aprendizado Agrícola de Mato Grosso teve, desde seus primórdios, um papel extremamente significativo para a população rural do Estado. O jornal O Estado de Mato Grosso, no ano de 1944, traz 5332 várias reportagens sobre o Aprendizado. Em uma delas, de autoria desconhecida, a escola era considerada um divisor de duas épocas na vida rural de Mato Grosso. Alegava o periódico que, sem o Aprendizado, a agricultura era considerada extensiva, empírica e extrativa. A segunda, com ele, tornarase racional, experimental e científica, pois produzia “alvissareiras transformações nas nossas atividades rurais”, tendo em vista que a produção organizada e sistematizada vai tornar-se um fator de geração de riquezas. (JORNAL O ESTADO DE MATO GROSSO. A maior dádiva do Estado Novo a Mato Grosso: a função do grande educandário como fator de criação de riquezas, 1944, p. 1-8) Assim, os dois pressupostos básicos da escola – nascidos no Século XX (SIQUEIRA, 2002, p. 190) – Instruir e Educar, ainda se constituíam nos dois pilares sustentatórios do Aprendizado. A segunda atribuição – educar – ainda se revestia de maior significação no caso, pois se nos demais estabelecimentos públicos escolares os alunos conviviam regularmente com suas famílias, no Aprendizado se apartavam delas por muitos meses seguidos, cabendo à escola suprir a falta e fazer as vezes do núcleo familiar. Por conseguinte, o discurso oficial atribuía ao Aprendizado um outro importante papel a desempenhar, isso possivelmente devido ao estágio em que se encontrava a agricultura mato-grossense, onde qualquer domínio teórico ou prático a respeito de novas tecnologias a serem empregadas no campo, por mais elementares que fossem, seriam muito significativas. As impressões propaladas pelo discurso oficial induzem a pensar que o Aprendizado era uma instituição voltada para a formação de técnicos para atuar no setor agropecuário, quando ele, na verdade, oferecia apenas noções incipientes na área agropecuária, pois se propunha a formar apenas o trabalhador e o capataz rural. Assim, os alunos que passavam pelo aprendizado, entre 70% e 80% deles, transferiam-se para outras escolas do país, a exemplo das de Pinheiral (Rio de Janeiro), Barbacena (Minas Gerais), Santa Tereza (Espírito Santo), Ouro Fino (Minas Gerais) e outras mais. A criação do Aprendizado, de acordo com o discurso oficial, veio trazer a dinâmica da aplicação das novas técnicas na agricultura, que a escola tinha dificuldades para levar ao homem do campo, pois não conseguia sequer realizar o trabalho de extensão rural, as comunidades do seu entorno eram distantes, o transporte era precário e a comunicação deficiente. Mas havia a necessidade de modernizar o campo. O ensino agrícola era o caminho para a disciplinarização do campesinato, pois trazia em seu bojo os atributos morais do trabalho: a percepção do sentido de propriedade. Isso nos dá a entender que a criação do Aprendizado veio, provavelmente, com o objetivo de camuflar a malversada concentração fundiária no país e, até mesmo, a necessidade de realização da reforma agrária. Por ser uma escola pública, o ensino no Aprendizado era gratuito, o que favorecia uma grande parcela da classe trabalhadora mato-grossense. Além da gratuidade do ensino, o estabelecimento oferecia aos seus alunos, também de forma gratuita, alimentação, roupa lavada, roupa de cama, calçados, materiais para higiene pessoal, serviços de saúde bucal, ambulatorial e hospitalar4, dentre outros. Para suprir esses gastos extras, o Aprendizado recebia orçamento do Governo Federal, o qual, além de ínfimo, demorava uma “eternidade” para transformar-se em financeiro. Devido a isso, a escola enfrentou sérios problemas com a aquisição de gêneros alimentícios, o que veio a prejudicar significativamente seu funcionamento. Segundo depoimentos de egressos, embora fossem enfrentados problemas com alimentação, saúde e lazer, o Aprendizado competia em igualdade de condições com as melhores escolas de seu nível no país, tal era o poderio da infra-estrutura existente e a capacitação do seu corpo docente. O egresso de 1946, Audinor Germano da Rosa, nascido em Cuiabá, a 18 de maio de 1931, administrador de empresas e fiscal de rendas aposentado, habitante da cidade de Alto Araguaia – MT, hoje com 74 anos de idade, afirma com clareza o que representava para o Estado de Mato Grosso o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra”. O senhor Audinor foi entrevistado em sua casa no dia 15 de janeiro de 2004. O senhor Audinor estudava em escola particular de Cuiabá. Perguntado sobre o porquê sair de uma escola particular para freqüentar uma escola pública de caráter agrícola e situada na zona rural, assim respondeu: 4 Alguns desses serviços eram prestados de maneira precária, pois o aprendizado não dispunha desses profissionais em seu quadro de servidores. 5333 “Porque tudo era novidade. A escola era muito famosa. A implantação dessa escola, aqui em Mato Grosso, chamou muito a atenção. Todo mundo queria ir pra lá. O regime de internato era muito bom. Vida farta. O ensino era satisfatório. Pela mocidade da gente naquela época, tudo era festa. Naquela época a gente falava que era a época de ouro, né? A época romântica. Então, tudo era novidade, tudo era festa e era uma outra realidade. Era uma outra coisa você entrar no mundo agrícola, todo mundo gostava, era aquela liberdade o regime de internato. A confraternização entre os colegas. Tudo ali era motivo de alegria”. O senhor Luiz Gama relata sobre a influência da escola no Estado de Mato Grosso. Fala, inclusive, sobre a alcunha de escola de caráter correcional que, por muitos anos, a entidade carregou. Pelo depoimento, nota-se, de forma bastante clara, o papel de extrema importância para o desenvolvimento agropecuário do Estado, levado a cabo pelo Aprendizado: “Ela começou com uma influência negativa, porque o regime era tido aqui em Cuiabá, nos primeiros anos, como escola correcional. Eu não sei o porquê. [...] Era até interessante. Você passava numa rua, a criança lá estava apanhando, e o pai, a mãe gritava: ano que vem você vai pra São Vicente! Sem vergonha! A escola era tida como correcional. Então, nos primeiros anos, teve muitas famílias até que não deixavam seus filhos irem pra lá. E dizem que os primeiros alunos de lá eram bem “levados”. Muito aluno, assim, incorrigível. ... Os alunos iam pra lá por vontade dos pais, a maioria. Pelo que eu sei era por vontade dos pais. Pra ficar livre, né? Pra ficar livre deles. Mas depois que a escola começou a mandar os alunos pra fora, aí cresceu o conceito da escola. Me contam, por exemplo, que a minha turma foi a primeira que venceu até chegar ao curso superior. Então a própria escola, os servidores, o “seu” Flávio, por exemplo, que foi guarda, ele falava para os alunos. Isso o Jonas Pinheiro que me conta: olha, essa escola aqui, boa no tempo de Gama, Carneiro etc., esse pessoal já está lá em Pinheiral! Olha, eles já estão lá em Barbacena! Lá é uma Escola Agrotécnica! E os alunos daqui então se sentiam entusiasmados com aquilo. Quando eu fui para o curso superior, então mais ainda. Olha, já tem aluno daqui no curso de agronomia, lá no Rio de Janeiro! Quando eu me formei, eu fui lá. Aí o diretor da escola mandou a turma entrar em forma, e eu conversei com eles. Depois, muitos desses alunos falaram: ah! Aquilo foi injeção de ânimo pra gente! Então, o próprio Bento Porto, por exemplo, que é ex-aluno de lá, com dificuldades, ele mesmo me contou. Ele falou assim: eu vou chegar lá aonde você chegou! Todo mundo tinha aquela vontade de chegar. O Jonas me escreve então e fala: Gama, você era como uma estrela! Lá, todo mundo queria chegar onde você estava! Então, isso criou outro nome para a escola”. Pelo depoimento do senhor Luiz Gama fica claro que o Aprendizado exerceu grande influência na formação do trabalhador agrícola mato-grossense, pois era a única instituição que desempenhava o papel de instruir os jovens do Estado para as lides inerentes ao trabalho a ser executado no campo da agricultura, da pecuária e das indústrias rurais. Aproveitando a categoria racial do senhor Luiz Gama (negro), foi-lhe perguntado se havia discriminação racial na escola. A resposta é interessante porque ele não afirma ter havido, mas, ao mesmo tempo, afirma que recebia uma carga maior de punições, quando de suas infrações, sendo que outros, não negros, mesmo praticando maior número de “faltas”, recebiam punição mais leve: “Eu sempre estava de castigo, mas ninguém me falava o porquê. Lá tinha alunos que faziam muito mais “artes” do que eu e não ficava de castigo. Eu notava a discriminação pelo tratamento que eu tinha, o tratamento que eu recebia. Eu estava sempre no castigo, mas eu não era aluno, assim, tão “arteiro”, como se diz. No primeiro ano, quase todo domingo, eu tava lá, de castigo. [...] Lá tinha poucos alunos de cor. Pra você ter uma idéia, eu me lembro que, uma vez, teve um aluno que brigou e a Dra Rosa veio separar e quase levou um soco no meio da cara, e ele não foi suspenso, não foi nada. Tinha aluno lá que era acusado de roubo e não foi suspenso, nem nada. Tinha aluno que tinha certos privilégios. Mas essa questão de discriminação, eu só vim a perceber isso depois que eu comecei a viver lá fora. Até então eu não percebia essas coisas. [...] Só depois eu vim a perceber que havia alguma coisa contra mim, quer dizer, com a minha pessoa”. Indagada sobre a existência de discriminação racial no Aprendizado, a professora Ana Luíza nega essa possibilidade: “Não. Eu não percebi. Porque eu dava as minhas aulas de manhã. Eu abria um horário para dar aulas à tarde. Eu ficava o dia inteiro no colégio e nunca percebi isso”. Dificilmente algum professor deixaria de notar a prática da discriminação racial. Percebe-se aqui a comodidade da ex-professora em reproduzir o discurso oficial. A professora Ana Luíza foi questionada a respeito da faixa etária dos alunos e sobre o modo como eram alojados. Eis o seu depoimento: 5334 “Lá tinha aluno de 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 anos. Tinha aluno mais velho do que eu. [...] Eles eram alojados em um dormitório grande, lá em cima. Eu me lembro que havia um dormitório grande. Mas tinha guarda, e guarda bom, guarda enérgico.[...]. O dormitório dos alunos situava-se no 2º piso do prédio central e não havia divisória entre as camas. Tratava-se de um grande salão. Todos os alunos eram alojados no mesmo ambiente, independentemente de idade. Os banheiros eram coletivos. A função do Aprendizado no interior do sistema educacional regional foi de grande importância, pois a clientela escolar deveria ser preparada tecnicamente para intervir no contexto rural e agrícola do Estado. Mesmo que muitos dos egressos não tenham imediatamente realizado esse intento, visto terem prosseguido nos estudos, após formados em nível superior, regressavam a Mato Grosso integrando-se nos quadros administrativos do Estado e, nessa medida, dando sua parcela de contribuição. Aqueles que terminavam o curso técnico e não prosseguiam nos estudos, certamente atuaram no contexto agrícola regional, colaborando para sua implementação. Criado em pleno período do Estado Novo, este estabelecimento de ensino colaborou para impulsionar o ensino técnico nacional, tendo sido considerado modelar no final da década de 40 e início de 50. Fez parte de um importante momento da história mato-grossense, período em que foram implementados esforços na modernização da Capital e circunvizinhanças, sob o comando do Interventor Júlio Müller que, perseguindo a política varguista que, regionalmente, objetivava criar condições para que o pequeno e médio agricultor não abandonasse a terra, mas, ao contrário, a transformasse através de tecnologia moderna. Assim, o Aprendizado Agrícola “Gustavo Dutra” se constituiu num dos carroschefes da nova política agrária para o Centro-Oeste, por vislumbrar a possibilidade de capacitar os nacionais no trato e manejo das artes rurais. Bibliografia BUFFA, Ester. História e filosofia das instituições escolares. In: SANFELICE, José Luís; SAVIANI, Dermeval & LOMBARDI, José Claudinei. (Orgs.). 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