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MENSAGEM FINAL DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DA
ORDENAÇÃO EPISCOPAL E POSSE CANÔNICA DE
DOM JOSÉ CARLOS DE SOUZA CAMPOS,
5º BISPO DA IGREJA QUE ESTÁ NA DIOCESE DE DIVINÓPOLIS-MG
“Fostes Vós, Senhor, que me formastes as entranhas e no seio de minha
mãe me tecestes. Ainda informe, vossos olhos me olharam, e por Vós foram
previstos os meus dias”.
Se Deus foi buscar do fim do mundo o Bispo de Roma, ele apenas cruzou
algumas montanhas e rios para chamar o Bispo de Divinópolis. E nem gritou alto
para se fazer ouvido, pois encontrou-o bem perto da Sede que queria confiarlhe. Mas este que agora fora plantado como Bispo desta Igreja, tirado dela
mesma e posto como Pastor dela, nasceu ali, na próxima e bucólica Itaúna.
Nasci no que se podia chamar, naquele tempo, de periferia da cidade, a Galiléia
de Itaúna, num bairro sem nome bonito, definido pelo que certamente havia lá
em tempos mais remotos: Cerrado. Cerrado, batizado mais tarde de Bairro da
Piedade, certamente por causa da rústica igreja construída aos poucos ali e
dedicada à Virgem da Piedade. Nasci menino para o mundo e José Carlos para
Deus, nas fontes batismais da Igreja de Sant’Ana, patrona daquelas terras. Filho
de José, não do carpinteiro, mas do pedreiro, que ajudou inclusive a levantar a
Igreja onde mais tarde o filho primogênito conheceria mais e melhor as coisas
do alto e seria ordenado padre. Ler e escrever ele não sabe, mas sabe construir
casas para os homens e para Deus. E nunca soube que lhe tivesse faltado
trabalho! Filho de Maria, não de Nazaré, mas da Piedade, duplamente Piedade,
de nome e de endereço. Maria Piedade, do bairro da Piedade. Mulher simples e
batalhadora, religiosa e mariana. Estes são meus pais, a quem devo, depois de
Deus, o que sou e o como sou! Família pobre e grande. Normalmente vêm
juntas as duas coisas: pobreza e generosidade. Sete filhos: seis nascidos da
carne e um levado pelo coração lá para casa com pouco mais de um ano. Um
morreu na tenra infância e outro na fecunda juventude, atormentada pelo vício.
Kátia, Ronaldo, Júlio e Kleber, irmãos que me acompanham de baixo; Leonardo
e João Paulo, irmãos que me acompanham do alto. Dons preciosos na minha
vida. A eles se ajuntaram outras pessoas boas e nasceram rebentos: um
cunhado, que nos assiste do céu, e cunhadas que enfeitam nossa casa no tempo
das festas e das angústias. E sobrinhos de todas as idades, desde o robusto
Felipe até a criaturinha guardada ainda no ventre da Regina. Deste ninho
humano e familiar é que Deus chamou o Bispo desta Igreja. São eles que mais
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uma vez, na generosidade de gente simples, entregam o filho e o irmão para o
serviço do Senhor na Ordem Episcopal. Sei que sempre me pouparam de muitas
situações pessoais e familiares para não me roubarem a paz, e isso desde o
seminário. Por parte deles, nunca me vi obrigado a fazer menos para a Igreja
para poder fazer mais para eles. Sempre se contentaram com a minha medida
oferecida a eles. E sempre me deram muito. Deus soube me formatar os
sentimentos, o coração, a fé, a índole, o caráter, a vocação... no coração desta
família. O Senhor seja louvado por eles.
“Dar-vos-ei pastores segundo meu coração, diz o Senhor Deus”.
Louvo ao Bom e Belo Pastor Jesus, pela presença aqui entre nós, de
muitos bons e belos pastores. Penso primeiramente nos senhores bispos aqui
presentes, alguns vindos de tão longe, para se fazerem próximos, para imporem
as mãos sobre a cabeça ainda informe deste jovem pastor, chamado como eles
a ser bom e belo como Cristo. Vieram para expressar-me generosa
solidariedade orante e a comunhão na solicitude pelas Igrejas. Agradeço a cada
um, que certamente se desocupou de compromissos já agendados com outros
para que pudessem estar aqui comigo. Quero lhes ser também sempre solícito e
próximo, nos bons e nos maus tempos. Não posso deixar de mencionar e
expressar um carinho especial pelos três que tomaram lugar litúrgico especial
nesta celebração: o ordenante principal, Dom Walmor, e os dois co-ordenantes,
Dom Belvino e Dom Tarcisio. A Dom Walmor, minha gratidão pela solicitude e
prontidão com que se dispôs a estar conosco nesta data, a primeira e a única
que lhe havia sugerido. Era preciso que fosse maio: mês da diocese, que celebra
seus 55 anos de instalação, e mês de Maria, nossa padroeira. Também agradeço
a delicadeza e a atenção com que sempre me tratou. A Dom Tarcisio, que me
tendo sempre perto de si, enquanto bispo desta Igreja, ensinou-me muito mais
que ele possa imaginar. E não só teorias e princípios, conceitos e fórmulas, mas
sobretudo e principalmente um zelo e um justo ciúme pela Igreja, uma bonita
fidelidade ao Papa, um senso de cuidado e seriedade diante do depósito da fé a
ser crido e transmitido. A Dom Belvino, que me ordenou diácono, presbítero e
agora bispo, minha gratidão por tudo de bom e positivo que vindo dele tocou
minha alma: suas palavras, seu jeito, seus conselhos e correções, seus
silêncios... Acho que somos bem mais próximos agora que outrora. E esta
proximidade vem num tempo em que preciso mais dele e da sua longa
experiência episcopal, sobretudo aquela vivida e construída entre nós. Ele
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conhece bem o rebanho! Um outro olhar sobre o mesmo rebanho será muito
oportuno àquele que é feito bispo, mesmo que tenha saído do rebanho que o
acolhe como pastor. Estes três, escolhidos com amor, fazem-me recordar e
suplicar a Deus as três virtudes teologais, que devem resplandecer na vida de
todo discípulo, e de forma ainda mais reluzente na vida do bispo: a fé (Da fé
para a fé, é o lema de Dom Belvino), a esperança (Salvos na esperança, é o lema
de Dom Tarcisio) e o amor (Para curar os feridos no coração, é o lema de Dom
Walmor). “Com os olhos fitos em Jesus”, haverei de suplicar estes dons do alto,
em medida generosa e transbordante, para os seus e o meu coração. Muito
obrigado, irmãos bispos, pela presença!!
Louvo a Deus também pelos inúmeros sacerdotes, diáconos, religiosos e
religiosas, pastores e pastoras de vidas, que acorreram a esta celebração.
Penso, neste momento, sobretudo naqueles e aquelas que vieram de outras
dioceses. Alguns bem de longe. Amigos de longa data e sempre presentes nas
muitas formas hoje de presença, mesmo à distância. Agradeço a cada um pelo
empenho e pela fadiga que fez superar as distâncias para que pudéssemos viver
na proximidade e no encontro este momento gracioso para esta Igreja
Particular. Voltem em paz e lembrem-se do amigo que fica com a missão de ser
pastor nestes tempos de grandes desafios. Que a oração nos una e fecunde
nossa amizade.
“Vede como é bom, como é suave, os irmãos viverem juntos, bem
unidos. A eles o Senhor dá sua benção e a vida”.
Dirijo-me agora à família diocesana, aos irmãos presbíteros, diáconos (um
aqui e outro nos acompanhando de Roma pela internet), religiosos e religiosas,
leigos e leigas, seminaristas, membros das novas comunidades existentes entre
nós. Confesso que diante das reações tão favoráveis e acolhedoras à minha
eleição como Bispo desta nossa amada Igreja, senti-me, antes e por primeiro,
escolhido por vocês e por esta Igreja que agora presido no amor, antes de ter
sido escolhido pelo admirável Papa Francisco. Sinto que me elegeram no
coração e na prece, como muitos me disseram, e o Papa me escolheu depois,
pelo “sensus fidelium”, escutando ao longe, no mistério da fé, o coração de
vocês, o sentimento dos fiéis. Creio que aí Deus mostra sua soberania e seu
modo misterioso e criativo de agir. Vi e vivi minha escolha, primeiro a partir de
baixo, depois a partir do alto, mas reconheço que todo dom e toda dádiva vêm
do alto e têm Deus como único autor e doador.
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Ser daqui, ter crescido com vocês, ter aprendido entre vocês as coisas, os
mistérios, os caminhos de Deus, ter escutado, como vocês e entre vocês, o
chamado de Deus para o serviço da Igreja, que está em toda parte, mas que é
mais nossa aqui e mais confiada a nós aqui, isso é uma graça e um desafio!
Graça porque amamos, desde há muito, a Igreja que nos acolheu como filhos e
ministros. Não tenho que suscitar ou construir em mim nem em vocês este
amor pela Igreja ou fazê-la amada por ofício. Nós a amamos por origem e por
missão. Nascemos nela, dela e para ela. Amamo-la por estar nela e por
estarmos revestidos de missão dentro dela.
Por onde começar, então, nosso caminho, agora como rebanho e pastor?
Retomo aqui algumas intuições da minha última mensagem para nosso site e
nosso jornal diocesano.
Deus quis que continuássemos juntos, em graus diferentes de missão,
neste chão que é a Diocese de Divinópolis. Então é preciso organizar o caminho,
os carismas, as competências, os horizontes... Não é tão fácil fazer planos
quando achamos que tudo está velho e que nada serve; ou quando esquecemos
o mais próprio da nossa missão. Este, creio, não é o nosso olhar.
A natureza do nosso ser Igreja não muda quando se muda o bispo ou
outro personagem no organograma da comunidade eclesial. Quando olhamos a
Igreja, algumas coisas nela não ficam velhas ou obsoletas. Assim, não é
necessário plano de pastoral ou decreto episcopal para nos motivarem a
celebrar bem o mistério da fé, sobretudo a Eucaristia. Não é necessário um
plano ou rubricas que nos levem a nos empenhar, com o nosso melhor, no
processo catequético de aprofundamento da fé e do conhecimento de Deus.
Não é necessária uma legislação pastoral para nos motivar a cuidar das pessoas
(sobretudo as mais fragilizadas e vulnerabilizadas), das famílias (também
aquelas especiais), dos pobres (de bens e de espiritualidade), da natureza...
Tudo isso e muito mais é da ordem do dia. Isso brota espontâneo das letras do
Evangelho, sem nenhum esforço de exegese. Aquilo que fizemos até aqui, com
ou sem planos de pastoral, foi exatamente o esforço da nossa Igreja local de ser
fiel a Jesus e ao Evangelho.
Com isso, não quero invalidar ou desconsiderar os planejamentos
pastorais diocesanos. Eles são importantes e precisaremos de um ou de alguns,
se o caminho for longo, mas a letra do texto não obriga as consciências
(infelizmente!). Planos não fazem dioceses ou igrejas. A motivação não vem
primariamente de fora, mas de dentro, do coração, da fé, do entusiasmo por
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Jesus e pela missão. Precisaremos de um bispo, de padres, de leigos e leigas,
lideranças e agentes, comunidades e pessoas, que apaixonados por Jesus e
pelas suas causas e seus prediletos, e “com os olhos fitos nele”, levem a Igreja
ao seu Mestre. Já tivemos muitos planos, cujos frutos não apareceram na
medida da beleza ou detalhamento de suas palavras. Plano não funciona se
falta elã, se falta espírito vocacional e missionário, se falta vontade e
criatividade, se falta colegialidade e comunhão. Plano não faz o bispo ser bom, o
padre ser bom, o leigo ser bom! O que faz cada um ser bom é a consciência da
missão, do seguimento, do lugar e do dom próprio de cada um. Se cada um
assume bem e com amor seu lugar na Igreja, ninguém vai ficar desocupado
esperando planejamentos pastorais amplos. “Um bispo que não está a serviço
da comunidade não faz bem. Um sacerdote, um padre que não está a serviço da
sua comunidade não faz bem, erra” (palavras do Papa Francisco na audiência
geral de 26 de março de 2014). Há sempre o que fazer! E há de se fazer com
capricho!
Por onde começar então? Comecemos pela Eucaristia. Ela faz a Igreja.
Celebremos bem. Quem preside, quem prega, quem proclama a Palavra, quem
canta, que toma parte nela, faça isso como “o primeiro necessário”, como “a
melhor parte”. Quem se dedica à catequese, aquela semanal com crianças,
jovens e adultos, mas também aquela catequese que acontece nos grupos e
encontros na comunidade, nas escolas de formação e nas reciclagens, nos
grupos de reflexão e nas reuniões, faça isso como quem quer ajudar a construir
a identidade religiosa dos irmãos, ajudando-os a construir e a dar as razões da
sua fé e da sua esperança, como nos ensina o fragmento da primeira carta de
Pedro, lida como segunda leitura na liturgia deste 6º domingo da Páscoa.
Façamos isso como “o mais urgente”. Quem olha para o mundo, para fora dos
espaços da Igreja, olhe com os olhos de Jesus, cheios de compaixão e
misericórdia, e enxergue as grandes feridas humanas, os grupos esquecidos, os
mais periféricos, os sem Deus (ricos e pobres!)... E faça isso como “o inadiável”.
Por aí passa nossa missão, nosso começo, nosso recomeço, nosso todo dia!
Quando chegar a hora de fazer planos amplos e diocesanos, vamos
apenas tentar pôr ordem no muito que já se faz ou se deveria estar fazendo.
Ninguém pode se dar ao direito de estar à toa ou de recesso, esperando planos.
O Evangelho se encarrega de esboçar o único plano necessário: o de Jesus, o
Reino de Deus. “Ide, fazei discípulos meus entre todas as gentes, ensinando-lhes
a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28,19-20). É preciso descobrir hoje e
entre nós, como Igreja diocesana e como comunidades locais, onde estão as
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grandes lacunas, ausências e desafios da nossa presença cristã em nosso
entorno. Os planos ajudarão nisso. Por isso, eles são necessários. Teremos de
nos sentar, as várias instâncias, os muitos agentes da ação evangelizadora da
nossa diocese, as novas comunidades, as pessoas de bem que queiram ser
nossos parceiros, mesmo sem serem dos nossos, teremos de nos sentar para
esboçar caminhos que nos permitam ir juntos e olhando para a mesma direção
e para o mesmo Jesus. Haveremos de fazer isso! E realmente no plural: nós. Não
serão planos de um para os demais, mas planos de todo um corpo sobre si e
para si mesmo.
Eu os convido, irmãos, a conjugar bem a tarefa de todos e a de cada um,
para o bem do Corpo, que é a Igreja. Busquemos o que serve e o que é
necessário às realidades locais e particulares, mas sem perder o conjunto e o
orgânico. Avancemos para o novo e para as renovações necessárias e urgentes
de que nosso modelo atual de Igreja e de organização precisa. Não haverá
renovação pastoral sem renovação pessoal. E essa renovação tem de começar
no coração dos pastores. Não permitamos que o Maligno roube nossos sonhos e
nossa disposição de pensar e construir o novo. Não nos deixemos envenenar
pelo veneno da manutenção estéril e envelhecida de muitas de nossas
estruturas e esquemas. Nosso tempo tem demandas novas, perguntas novas,
desafios novos, novos formatos de tempo, de espaço, de pertença. Temos de
ousar, temos de ser corajosos, na palavra do Papa Francisco. Saibamos cuidar da
parte e do lugar que nos cabe na missão e na estrutura da Igreja sem nos
esquecer do Corpo inteiro. A comunhão de preocupações, de bens, de
interesses e compromissos, a responsabilidade de fazer e de entregar o que é
devido, a mútua solicitude entre nós, vencendo o individualismo eclesial e
paroquial e abrindo-nos uma expressão de Igreja mais articulada e orgânica, isso
deve ser empenho pastoral e eclesial de todos e cada um, nas diversas
instâncias de missão e serviço.
Sinto, queridos irmãos presbíteros, que devo, como bispo, cuidar dos
irmãos que cuidam dos demais, isto é, cuidar de vocês e reacender sempre em
cada um o encantamento e a paixão pelo Mestre e pela missão. Isso implicará
num cuidado que terá como eixo a via espiritual, via capaz de reorganizar
nossos afetos, nossos desajustes, nossas pobrezas, nossas misérias humanas, e
capaz de preenchê-los com um amor sempre novo e gracioso, que vem de uma
experiência fecunda e revigorante de Deus, e que nos capacite para começar
sempre de novo, sem perder o vigor, a criatividade, o elã, o encanto do nosso
chamamento e do nosso primeiro amor posto na direção de Deus.
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Permitam-me agora, irmãos e irmãs, já que caminharemos juntos,
solícitos e responsáveis pela mesma Igreja, expressar alguns sentimentos diante
da missão a mim confiada, bem como expressar e pedir as consolações que
podem vir de vocês.
Primeiro, quero que me ajudem a encontrar e a me ocupar sempre do
que interessa à Igreja mais que a mim. Nas palavras de Agostinho, expresso meu
temor: “Desde que este encargo, do qual tenho de dar tão apertadas contas, me
foi posto sobre os ombros, sempre me perturba a preocupação com esta
dignidade. Que se há de temer neste cargo a não ser que eu goste mais daquilo
que é arriscado para minha honra do que daquilo que é frutuoso para a vossa
salvação? Aterroriza-me o que sou para vós; consola-me o que sou convosco.
Pois, se para vós sou bispo; convosco, sou cristão. Bispo é nome do ofício
recebido; cristão é o nome da graça recebida. Ser bispo é um perigo. Ser cristão,
a minha salvação. [...] Se, portanto, mais me alegra ter sido remido convosco do
que ser vosso bispo, então, como o Senhor ordenou, serei ainda mais vosso
servo, para não me mostrar ingrato diante do preço pelo qual mereci ser vosso
companheiro de serviço. [...] Ajudai-me não só rezando, mas obedecendo; para
que me alegre não tanto estar à vossa frente quanto vos ser útil.” Ajudem-me a
fazer o que devo. Ajudem-me a cuidar da nossa Igreja, nossa por origem e
missão, da nossa Casa da Palavra, do Pão e da Caridade.
Outro desejo e pedido é que me ajudem a encontrar o meu lugar, a saber
a hora de o Bispo-Pastor estar na frente, no meio ou atrás do rebanho, como o
admoesta o Papa Francisco. Não importa quem vai à frente, desde que, quem
vá, esteja agindo e pensando como Cristo. O que importa é que estejamos em
comunhão, em recíproca solicitude de uns pelos outros, com os olhos fitos em
Jesus. Não importa o lugar que ocupemos dentro do rebanho. O importante é
que sejamos de Cristo, estejamos com Ele, deixemo-nos conduzir, Pastor e
rebanho, pelo Divino Paráclito, nosso defensor e advogado, Espírito da verdade
e da unidade, que permanece junto de nós e está dentro de nós, fazendo-nos
permanecer no amor do Belo Pastor Jesus e, por Ele, unidos ao Pai. O rebanho é
capaz de achar seu próprio caminho diante de si, diz o Papa, enquanto o Pastor
se dedica aos que estão ficando para trás ou enquanto se detém entre as
ovelhas do meio.
Queria ainda pedir, e não poderia deixar de pedir isso depois de ouvir
Dom Bruno Forte, no retiro durante a Assembleia dos Bispos, em Aparecida, há
poucas semanas, nem de ter passado pelos exercícios espirituais inacianos,
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nestes últimos dias. Quero aprender “a não ser nada”, como Simão Pedro. O
bispo tem de aprender a não ser nada, dizia-nos então Dom Bruno Forte. E dizia
mais: “Crer significa entregar-se perdidamente ao Deus que chama,
abandonando os próprios sonhos, os desejos, as esperanças, para deixar-se
amar por Ele e deixar-nos levar por Ele para onde talvez não quereríamos ou
não pensaríamos, mas onde seu amor preparou para nós a estrada da vida”.
Confesso de coração: eu tinha outros sonhos! Sei que ser bispo será muito mais
difícil que ser padre em uma de nossas paróquias. Mas vou onde seu amor
preparou-me a estrada da vida. “O caminho vivido por Pedro – dizia Dom Forte
– dos primeiros entusiasmos até a experiência dolorosa da negação, até o choro
da conversão e ao acolhimento de Jesus que se “converte” a Pedro, aceitando
sua medida pequena e possível de amor, faz deste apóstolo alguém que
aprendeu a não ser nada”. Pedro aprendeu a não ser nada, a reconhecer-se um
nada diante de Deus, sabendo que seria o amor de Jesus, maior e mais bonito,
que faria dele, o apóstolo, o protagonista de uma humilde e bela história de
amor e de fé, até à cruz, como o Mestre. Quero oferecer a Jesus minha medida
miseravelmente humana e pequena de amor, dizendo a ele: Tu sabes tudo, meu
Divino Amado, tudo sabes que te amo. Toma minha pequena medida, ama-me
mais do que eu te amo e ajuda-me a ir até ao fim!
E, com Santo Inácio de Loyola, quero aprender a viver na completa
indiferença espiritual, na suma pobreza espiritual, isto é, aprender a depender
radicalmente de Jesus, a aceitar o que me venha dele, na medida dele e na hora
dele, e jamais ousar ir sem ele. Não chegaremos, sozinhos ou juntos, a nenhum
lugar que preste sem Jesus. Com os olhos fitos nele, não vacilaremos (cf. Sl
15,8), não cairemos nas armadilhas do mundo e do “príncipe deste mundo” (cf.
Sl 25,15). Fitos nele, autor e consumador da nossa fé, “corramos com
perseverança a corrida que nos espera”, como diz hoje a carta aos Hebreus (cf.
Hb 12,1).
Queridos irmãos e irmãs desta nossa amada Mãe, que é nossa Igreja
Particular de Divinópolis, minha mãe até aqui (e continuará sempre a sê-lo) e,
doravante, minha esposa espiritual (e não estou interessado em outra senão
esta, como quer o Papa!), no múnus de Pastor não quero decidir nem governar
sozinho, mesmo sabendo que sou eu quem tem de “dar apertadas contas”
diante de Deus por esta Igreja. Quero condividir decisões e responsabilidades, e
temos lugares e instâncias eclesiais para fazer isso, não quero decidir tudo
sozinho, mas... quero saber de tudo, quero ter e dar ciência da “minha casa” a
todos os que me perguntem sobre ela, suas grandezas e suas misérias! Não me
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escondam nada, irmãos e irmãs, nada de que eu precise saber, sobre tudo e
sobre todos que fazem parte desta nossa grande família. E diante de tarefa tão
ousada e infinita, conhecer e ajudar a cada um, na sua história, nas suas
grandezas e misérias, peço que rezem pelo seu bispo. Deus haverá de responder
a uma Igreja que reza... Deus haverá de responder a uma Igreja que reza pelo
seu Pastor. A oração da comunidade formata o coração do Pastor, seja ele o
bispo ou o padre... Deus haverá de responder a uma Igreja que reza...
Por fim, quero fazer menção reverente a uma mulher:
Eia, pois, advogada nossa, cujos olhos misericordiosos estão voltados
para nós!
Eu quis que esta ordenação fosse no mês de maio e, se possível numa
festa mariana, eis-nos num final de semana mariano: ontem, 24, celebramos a
Virgem Auxiliadora; hoje, 25, a Virgem do Sagrado Coração (sem esquecer São
Padre Pio!). A presença de Maria marcou, como um refrão, meu caminho de fé:
batizado na Igreja de Sant’Ana, sob o olhar da menina Maria que se deixa,
atenta, catequizar pela mãe Ana; catequizado para a plenitude da iniciação
cristã na Igreja da Virgem da Piedade, e lá também ordenado presbítero, tendo
sido antes ordenado diácono na Igreja da Virgem de Fátima; chamado ao
episcopado na festa de Nossa Senhora de Lourdes! Sem contar minha devoção
de longa data à Virgem de Guadalupe! Foi ela quem ouviu muitas de minhas
súplicas e angústias! E me amparou em muitas adversidades! Que eu a amo,
tenho certeza; que ela me ame, não posso duvidar! Ela me deu muitos sinais
disso! Com Dom Bosco, com quem aprendi a amar mais a Maria, aprendi
também a confiar tudo a ela. “Foi ela quem tudo fez!”, exclamou Dom Bosco
contemplando sua obra. A ela tudo confio, digo eu, ela tudo fará por nós, eu
creio! Não foi em vão minha passagem pela comunidade salesiana de formação!
Neste tempo pascal e mariano em que nos encontramos, peçamos ao
Senhor Vivente que ponha graça abundante e transbordante nos nossos
corações pascalizados pela sua presença nova. Assim, e só assim, seremos
capazes de ser a Igreja do Ressuscitado, que dá vida ao mundo e à nossa gente.
A todas as equipes de serviço: logística, estrutura, comunicação e
imagem, hospedagem, imprensa, acolhida e recepção, canto, liturgia e
cerimonial, minha imensa gratidão. Tudo ficou muito bonito! Saúdo e agradeço
a todos que nos acompanharam pela grande mídia, as nossas rádios diocesanas
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e outras, a TV Candidés, a Rede Vida e a TVI, que fizeram ecoar para o mundo
este evento, bem como aos internautas em toda parte. Um agradecimento
especial ao Pe. Carlos Henrique Alves de Resende, que, nestes últimos três
meses, privou-me de muitas preocupações e fadigas, puxando-as para si, e
dedicando-me um tempo excepcionalmente largo, entre seus muitos afazeres
na paróquia e seus estudos. Minha gratidão, amizade e apreço às lideranças
religiosas e irmãos não católicos aqui presentes, bem como a todas as
autoridades políticas, civis e militares, vindas de muitas cidades de nossa
diocese.
Voltem todos felizes para casa pelo que o Senhor fez por nós. Vivemos
como irmãos momentos que nossos corações jamais esquecerão! Que a
Santíssima Virgem nos acompanhe e nos guarde, e ensine-nos a ser sempre
mais dóceis ao Espírito que a inundou e que preside nossa Igreja diocesana.
Minha alma glorifica o Senhor por tudo aquilo que Ele fez em meu e nosso
favor! Amém!
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mensagem final de dom josé carlos