Enchentes, Alagamentos e Inundações: Causas, Consequências e Soluções José Camapum de Carvalho Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] Gilson de Farias Neves Gitirana Jr. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected] Eufrosina Terezinha Leão Carvalho Engenheira Civil, Consultora, Goiânia, Brasil, [email protected] Marta Pereira Luz Furnas e Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected] Joseleide Pereira da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] Cláudia Marcia Coutinho Gurjão Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, [email protected] RESUMO: Hoje as enchentes, alagamentos e inundações passaram a fazer parte do cotidiano do povo brasileiro nos períodos chuvosos seja diretamente ou por meio da imprensa. Muitas dessas ocorrências, apesar de atribuídas a eventos chuvosos extremos, na realidade não o são na sua totalidade, poderiam ser evitadas por meio de planejamento, estudos e execução de ações socioambientais apropriadas. Os desastres oriundos dos eventos chuvosos, nem sempre podem ser vistos como naturais. A falta de critérios em relação à ocupação e ao uso do solo nos meios rural e urbano acabam comprometendo a qualidade de vida, podendo gerar riscos para a própria vida. O ocupante das áreas por falta de informação pode acabar em risco e muitas vezes entrando em pânico em dias de chuvas intensas. A sociedade, geralmente por falta de informação, passa a gerar danos ao solo ocupado e sem consciência dos riscos, quase sempre fica indefesa e muitas vezes em pânico nos períodos chuvosos. Esse artigo apresenta os problemas oriundos das enchentes, alagamentos, inundações, erosões e assoreamento, apontando para suas consequências socioambientais e econômicas e em especial contribui com uma discussão de condutas filosóficas, apresentando tecnologias construtivas que podem viabilizar e até erradicar as ocorrências indesejáveis. Essas tecnologias tanto podem ser adotadas em áreas a serem ocupadas como pode mitigar os impactos sobre as áreas já habitadas. São discutidos nesse artigo aspectos sociais e educacionais e são mostradas técnicas para a infiltração de águas pluviais, indicando os riscos oriundos dessa prática de modo a promover o desenvolvimento sustentável. A abordagem colocará em discussão práticas rurais e urbanas evidenciando a importância dessas para a preservação dos mananciais e reservatórios naturais. Como técnicas mitigadoras ou mesmo de saneamento dos problemas serão apresentados o uso de pavimentos permeáveis, colchões drenantes, poços e trincheiras de infiltração e chamar-se-á a atenção para riscos como os de colapso estrutural do solo, erosão interna e contaminação do solo e da água subterrânea quando adotadas essas técnicas construtivas. O artigo discute os problemas aqui elencados, realçando aspectos tratados no livro “Tópicos sobre infiltração: teoria e pratica aplicadas a solos tropicais”. PALAVRAS-CHAVE: Uso do Solo, Poços, Trincheiras. 1 INTRODUÇÃO Em regiões de clima tropical a ocorrência de chuvas torrenciais aliada à presença de solos sem a proteção superficial natural removida, torna a crosta superficial impermeável erodindo e/ou gerando problemas socioambientais com importantes repercussões sociais e econômicas. Entre esses problemas estão as enchentes, inundações e assoreamento de cursos d’água e reservatórios. Somam-se a esses problemas a ocupação e o uso do solo muitas vezes inapropriados. Logo, faz-se necessárias ações que harmonizem o clima, as precipitações, a cobertura do solo e a seu uso e ocupação. Essas ações perpassam, como pode ser observado ao longo deste texto as questões de educação, técnicas e de legislação. Vários aspectos relevantes na análise dos problemas de alagamentos, inundações, enchentes e assoreamentos de cursos d’água e reservatórios são tratados no Livro “Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais”. Esse artigo, no entanto, limitarse-á a analisar algumas técnicas de infiltração objetivando a manutenção dos mananciais e a preservação de reservatórios e cursos d’água, em especial propiciar maior segurança à sociedade em relação a esses procedimentos. 2 ASPECTOS SOCIOEDUCACIONAIS Segundo Camapum de Carvalho et al (2012), no contexto das questões socioambientais como as tratadas nesse artigo “a Educação é sempre a base, o suporte na continuidade e o instrumento básico para o cumprimento de um fim”. Ainda segundo os mesmos autores em segundo lugar, vem a Engenharia, pois, “ao mesmo tempo em que é responsável por inúmeras obras e iniciativas que levam à impermeabilização da superfície do solo, constitui-se, enquanto engenharia, em caminho para resolver problemas que muitas vezes ela mesma gerou”. No tocante a legislação, mas representando mais que ela esses autores acrescentam que “finalmente vem o Direito, não por situar-se nessa sequência em grau de importância inferior aos demais aspectos, mas apenas porque o Direito deve ser visto como um instrumento de pacificação, um meio de suprir deficiências, buscando assegurar para a sociedade um desenvolvimento sustentável, impedindo rupturas do equilíbrio ambiental e riscos elevados à sua própria segurança”. Jesus (2013), por sua vez, com base em entrevistas realizadas junto à população afetada por processos erosivos na cidade de AnápolisGO, colocou em destaque que a ocupação e uso do solo de modo inapropriado e sem a infraestrutura necessária não só gera problemas socioambientais, como colocam a população em risco e a privam de serviços básicos essenciais como o da coleta de lixo. A autora verificou que a população passa a conviver com os problemas e nessa convivência ampliam os próprios riscos e os danos ao meio ambiente, por exemplo, jogando lixo nas incisões erosivas. Faz-se então necessário atuar educando a população e criando uma consciência socioambiental de modo a promover uma melhor e mais eficiente ocupação e uso do solo em meios rural e urbano. 3 OCUPAÇÃO E USO DO SOLO EM MEIO RURAL A ocupação e uso do solo em meio rural deve ocorrer observando-se o novo Código Florestal Brasileiro, Lei 12.651 de 25 de maio de 2012. No entanto, mesmo observando as restrições impostas por essa Lei vários problemas socioambientais são gerados e se apresentam em especial ligados à adoção de técnicas de manejo inapropriadas. O inciso I, parágrafo único, art. 1º-A dessa Lei estabelece como princípio: I - afirmação do compromisso soberano do Brasil com a preservação das suas florestas e demais formas de vegetação nativa, bem como da biodiversidade, do solo, dos recursos hídricos e da integridade do sistema climático, para o bem estar das gerações presentes e futuras; Ou seja, a ocupação e o uso do solo deve se dar voltado para a preservação ambiental. Cabe destacar que os diferentes elementos do compromisso firmado nesse inciso encontramse interligados e possuem certo grau de interdependência. Além da proteção legal às áreas de preservação, faz-se necessário adequar as técnicas de manejo às peculiaridades de cada região, tipo de solo, geomorfologia, clima e microclima para assegurar a capacidade de infiltração de água no solo e minimização das perdas de solo. A infiltração é fundamental para a recarga dos aquíferos e perenidade dos mananciais. A perda de solo pelos processos erosivos contribui para o assoreamento de cursos d’água e reservatórios. Cabe lembrar que o carreamento de sedimentos para os reservatórios termina contribuindo para a redução de sua vida tendo assim reflexos econômicos. Realçando-se a importância do manejo para a preservação ambiental cabe citar Oliveira et al. (2012) por mostrarem que as queimadas muito comuns nas regiões de cerrado, assim como o uso de insumos agrícolas afetam a capacidade de infiltração e influenciam o aumento do escoamento superficial. Para esses autores “o uso indiscriminado do solo e das técnicas de manejo e correção do solo, contribuem para a ocorrência de problemas, como a erosão e consequente assoreamento de cursos d’água e reservatórios. O mesmo pode-se dizer das enchentes e inundações, pois podem afetar a capacidade de infiltração e ampliar o escoamento superficial”. Portanto as técnicas de manejo devem se ajustar às peculiaridades regionais e mesmo locais como a climática e a geomorfológica. Jesus et al. (2012) colocou em evidencia a importância da geomorfologia para o processo de infiltração. A geomorfologia constitui-se em elemento relevante para a prevenção e controle de processos erosivos e para evitar alagamentos e inundações. Considerá-la é também de grande utilidade na otimização da vida útil dos reservatórios de água e contribui, nesse caso, para evitar problemas como os relativos as erosões de margem. Almeida et al. (2012) trabalhando na área do reservatório da usina hidrelétrica de Corumbá IV, área predominantemente rural, mostram ser possível adaptar os fatores componentes da EUPS (Equação Universal de Perdas de Solo) para se obter uma carta geotécnica preliminar, que represente cartograficamente a capacidade de infiltração da água pluvial em um solo. Fazendo-se a relação inversa ajustada aos fatores usados na avaliação da perda de solo, causada por processos erosivos laminares. No estudo fica claro o impacto do uso do solo na capacidade de infiltração. Portanto, estabelecer critérios de ocupação e uso do solo e definir técnicas de manejo apropriadas nas áreas rurais constituem-se elementos possíveis e essenciais para a prevenção e mitigação de problemas como: alagamentos, inundações, enchentes, erosão e assoreamento de cursos d’água e reservatórios. Cabe finalmente destacar que muitas vezes a ocupação e uso do solo se dá motivada por empreendimentos como rodovias e reservatórios sem que haja, no entanto, um planejamento prévio. Quando da implantação de um reservatório essa se dá em uma situação preliminar de ocupação e uso do solo. No entanto, faz-se necessário avaliar o impacto pós construção na ocupação e uso das áreas circunvizinhas ao mesmo. Por exemplo, se ele se localiza nas proximidades de cidades geralmente surgem formas de uso para o lazer que precisam ser disciplinadas. Se a localização se dá em área rural distante de cidades, a preocupação deve passar a ser com os desmatamentos e avanços das áreas de plantio ou da própria urbanização com a atração de pessoas para a beira dos lagos, formação de condomínio, chácaras entre outros. Tem-se então como indispensável o planejamento para o pós-implantação do empreendimento. 4 OCUPAÇÃO E USO DO SOLO EM MEIO URBANO E PERIURBANO Em meio urbano e periurbano a ocupação e uso do solo se dá quase sempre, como no caso do meio rural, sem o devido planejamento com realização dos estudos prévios necessários. Essa ocupação e uso se dá por dois tipos distintos de pressão, a social e a econômica, ambas, quase sempre perversas em relação ao meio ambiente e muitas vezes oferece riscos para a qualidade de vida e para a própria vida. Do ponto de vista legal o Estatuto da Cidade, Lei 10.257 de 10 de julho de 2001, regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana. O parágrafo único, art. 1º dessa lei estabelece: Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. As diretrizes contidas no art. 2º dessa lei estabelece em seu inciso IV: IV - planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; Já a alínea h do inciso VI, o qual dita que a ordenação e controle do uso do solo deve dar-se de forma a evitar “... h) a exposição da população a riscos de desastres”, deixa claro que o uso do solo urbano deve ocorrer de forma planejada e sem que gere efeitos negativos sobre o meio ambiente e para a população, ou seja, são inadmissíveis os alagamentos, inundações, erosões e assoreamento de cursos d’água e reservatórios, por simples falta de planejamento ou de controle da ocupação e uso do solo. No contexto socioambiental têm serias implicações o excesso de impermeabilização e a remoção de áreas verdes muitas vezes atentando contra a forma de ocupação prevista no Plano Diretor. As obras de engenharia são muitas vezes, sem necessidade, responsáveis por graves danos ao meio ambiente. Camapum de Carvalho et al. (2012) ao contextualizarem a infiltração de águas pluviais em relação aos planos urbanísticos, aos projetos paisagísticos e arquitetônico pontuam que graves problemas socioambientais podem ocorrer como erosões, enchentes, alagamentos e assoreamentos dos cursos d’água e dos reservatórios, decorrentes de deficiências ou não planejamento urbano acarretando o aumento do escoamento superficial consequência da redução da infiltração. Luiz (2012), ao estudar a evolução climática da cidade de Goiânia entre 1961 e 2008 verificou que a elevação de temperatura guardava estreita relação com o aumento populacional da cidade o que impacta os níveis e características da precipitação e interfere na capacidade de infiltração do solo e, portanto, na ocorrência de alagamentos, inundações e erosões (Luiz et al. 2013). Portanto, a ocupação e uso do solo urbano deve seguir os comandos contidos no Estatuto da Cidade e os Planos Diretores e esses devem ser elaborados com foco no desenvolvimento sustentável de modo a evitar os problemas socioambientais elencados, devendo ficar claro que é indispensável estabelecer critérios de ocupação, prevendo a infiltração compensatória das áreas impermeabilizadas pela ocupação. 5 TECNICAS CONSTRUTIVAS PARA INFILTRAÇÃO COMPENSATÓRIA 5.1 Poços de Infiltração Leão Carvalho (2013) estudou essa técnica de infiltração a partir de ensaios de laboratório e ensaios de campo realizados na cidade de Goiânia-GO em três perfis de solos tropicais com características distintas. A autora mostrou que o comportamento hidromecânico dos perfis de solo encontrava-se atrelado às suas propriedades físicas, mineralógicas e estruturais sendo ainda dependentes da condição de hidratação inicial, ou seja, da sucção/capilaridade atuante no solo. Ao analisar a influência do diâmetro do poço na infiltração a autora salienta que ela pode ser vista sob duas óticas “a do volume que se pretende infiltrar em relação à área disponível para infiltração e a das energias aplicada (carga hidráulica e/ou sucção) e da energia resistente (interação solo-água, porosidade e distribuição dos poros) envolvidas no fluxo”. Isso coloca em evidencia a importância do planejamento e da realização de estudos prévios para a implantação de sistemas de infiltração compensatórias eficientes e capazes de responder à demanda gerada e a necessidade de preservação do equilíbrio ambiental. Leão Carvalho et al. (2012) indicam que além do uso de poços de infiltração isolados eles podem ainda serem implantados em consócio com trincheiras gerando um sistema de infiltração mais amplo e eficiente (Figura 1). O uso dos poços ou dos sistemas poçostrincheira pode se dar de modo isolado ou coletivo e mesmo interligado às redes públicas. Quando um sistema é interligado à rede pública de drenagem torna a gestão ambiental compartilhada podendo reduz os gastos públicos com a ampliação dos sistemas convencionais. materiais de construção como brita, garrafas PET e tijolos em crivo. A autora verificou que ambientalmente o uso de garrafas PET oferece a vantagem de proporcionar maior volume de armazenamento além de permitir o uso desse material, muitas vezes, simplesmente descartado nos aterros sanitários. Silva et al. (2012) mostraram a partir de simulações numéricas que no caso das trincheiras o avanço da frente de saturação se dá em maior amplitude junto ao maior comprimento da trincheira e propõem que se leve em conta tal peculiaridade quando se avalia os riscos oriundos da infiltração, como o risco de colapso no solos profundamente intemperizados (Figura 2). (a) (b) (c) (d) Figura 2 - Grau de saturação: a) t = 0; b) t = 1 hora; c) t = 2 horas; d) t = 4 horas (Silva, 2012). Figura 1 – Poço de infiltração manilhado em consócio com trincheiras de infiltração. As trincheiras são sistemas versáteis que podem ser utilizadas consorciadas com os sistemas de drenagem convencionais e construídas em áreas públicas como ilustra a Figura 3. Nesse exemplo o poço foi construído com manilhas furadas revestidas com geotêxteis, mas ele podem ser construídos fazendo uso de outros materiais tais como pneus usados (Camapum de Carvalho e Lelis, 2010) e tijolos em crivo. Segundo Leão Carvalho et al. (2012) “o dimensionamento e a implantação de poços e trincheiras é relativamente simples, mas requer estudos de engenharia voltados para a definição de sistemas eficientes e para avaliação dos riscos oriundos da infiltração concentrada das águas pluviais”. 5.2 Trincheiras de Infiltração Silva (2012) estudou a técnica de infiltração por meio de trincheiras fazendo uso de diferentes Figura 3 - Disposição de trincheiras de infiltração (Camapum de Carvalho e Lelis, 2010). 5.3 Colchões Drenantes Os colchões drenantes são muito usados em obras rodoviárias compondo a base de aterros ou para a implantação de estruturas de pavimento em locais que requer drenagem, mas o seu uso pode ser estendido para áreas como estacionamentos e praças. A solução em colchão drenante para uso em drenagem é particularmente útil nos casos de lençol freático raso, caso em que é de difícil utilização as técnicas referentes aos poços e trincheiras. Em uma situação semelhante a essa foi feita na cidade de Boa Vista uma pesquisa sobre o uso do colchão drenante para infiltração de águas pluviais. O modelo analisado utilizando-se garrafas PET como material de enchimento e geotêxtil como envelopamento recebeu uma cobertura de 10 cm de areia grossa (Figura 4, Gurjão et al. 2012). Figura 4 – Colchão drenante (Gurjão et al. 2012). Para o modelo analisado Gurjão et al. (2012) concluíram, com base em ensaios duplo oedométricos, e no fato de que a sobrecarga induzida pelo colchão drenante era inferior à antes existente, devida ao peso próprio do solo natural, no caso de perda na capacidade de infiltração ao longo da vida útil do sistema. Segundo esses autores “o uso das garrafas PET no colchão drenante contempla aspectos ambientais, ao dar destinação às garrafas; sociais, ao valorizar o trabalho dos catadores, e técnico, ao possibilitar maior capacidade de acumulação de águas pluviais no colchão drenante e menor sobrecarga sobre o solo suporte”. Finalizando os colchões drenantes constituem uma técnica de infiltração a ser considerada na mitigação de problemas socioambientais em meio urbano e periurbano ao possibilitar a infiltração das águas pluviais. 5.4 Pavimentos Permeáveis O uso do termo pavimento nesse texto denota a estrutura suporte em calçadas, pistas de ciclismo, ruas, avenidas, rodovias, pistas de aeroportos e estacionamentos sendo que o termo estrutura de pavimento é usado para tratar do todo: revestimento e camadas suporte. Os pavimentos serão tratados apenas no que tange à questão da drenagem não se levando em conta a questão da rigidez do pavimento. Em relação à drenagem tem-se os pavimentos convencionais impermeáveis, os pavimentos drenantes e os pavimentos permeáveis. Os pavimentos drenantes são aqueles assentes sobre extrato impermeáveis e hoje são muito usados em países como o Japão para ampliar a segurança no tráfego. Nesse tipo de pavimento a água infiltrada através do pavimento drenante é geralmente coletada e levada a sistemas de drenagem convencionais ou lançadas em talvegues ou em cursos d’água (Figura 5). Portanto, sua contribuição para a solução de problemas como erosão, alagamentos e inundações termina sendo limitada. Figura 5 – Pavimento drenante (Camapum de Carvalho et al. 2012). Os pavimentos permeáveis são aqueles em que a água que se infiltra através do revestimento é drenada para o subleito sem maiores impedimentos. Esse tipo de pavimento é geralmente adotado no caso de tráfego leve, calçadas e ciclovias por estes não serem geralmente afetados pelo umedecimento e mesmo pela saturação das camadas que se encontram abaixo do revestimento. A Figura 6 ilustra esse tipo de pavimento (Camapum de Carvalho et al. (2012). Vala Meio fio ou Elemento de confinamento Revestimento Base ou colchão drenante Sub-Base Dreno Camada de assentamento Geotêxtil Subleito melhorado Figura 15 – Seção tipo de um pavimento drenante propriamente dito Figura 6 – Pavimento Permeável (Camapum de Carvalho et al. (2012). Apesar da importância socioambiental desse tipo de pavimento ele ainda é pouco utilizado mesmo em cidades que passam por problemas de alagamento e erosão como é o caso de Brasília. Atualmente no Distrito Federal vem sendo construídos quilômetros e quilômetros de ciclovias, e apesar dos constantes alagamentos que ocorrem nos viadutos, as ciclovias são construídas inteiramente com revestimento convencional impermeável. Os pavimentos permeáveis se bem concebidos e destinados a obras com pequena solicitação das camadas que se encontram abaixo do revestimento podem apresentar significativa contribuição para a redução de alagamentos, inundações e erosões. 6 VANTAGENS E RISCOS ORIUNDOS DA INFILTRAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS As obras e soluções de engenharia são propostas objetivando um ganho, uma melhoria, mas sempre comportam algum risco. Se bem estudadas, projetadas e executadas os riscos podem ser reduzidos ou mesmo eliminados. No que se refere à infiltração as vantagens do ponto de vista ambiental são importantes, pois permitem a recarga dos aquíferos, dão perenidade às nascentes e evitam problemas como os relativos aos alagamentos, inundações e erosões. Na área rural a infiltração pode ser assegurada por meio da adoção de técnicas de manejo apropriadas, e no meio urbano pela ocupação e uso apropriados do solo e pela adoção de soluções técnicas compensatórias. Os principais riscos oriundos da infiltração das águas pluviais são a contaminação do solo e lençol freático, a perda da capacidade de suporte do solo, a geração de colapso estrutural do solo e a ocorrência de erosão interna e/ou de esqueletização (eluviação) do maciço. Todos esses riscos são do ponto de vista da engenharia elimináveis ou pelo menos mitigáveis, daí a necessidade de estudos apropriados sobre as propriedades e comportamento dos solos e a concepção de sistemas de infiltração apropriados. 7 ASSOREAMENTO DE D’ÁGUA E RESERVATÓRIOS CURSOS O assoreamento de cursos d’água e reservatórios é consequência de processos erosivos que ocorrem em áreas rurais e urbanas. Nas áreas rurais muitas vezes o processo erosivo, por ser superficial e difuso é pouco percebido gerando, no entanto, a movimentação de grandes volumes de solo que contribui de modo significativo para o assoreamento de cursos d’água e reservatórios. Assim como o processo erosivo o assoreamento, em especial o dos reservatórios, é pouco percebido, pois muitas vezes o sedimento deposita-se em cotas inferiores ficando recoberto pela lâmina d’água, mas não raro nos períodos de estiagem eles emergem e ficam à vista. Como consequência da ocupação e uso do solo urbano o assoreamento é proveniente de processos erosivos laminares, mas em muitos casos eles se devem a importantes erosões dos tipos ravina e voçoroca que surgem em consequência da concentração do fluxo superficial, oriundo da impermeabilização excessiva. Para evitar o problema convencionalmente são adotados sistemas de drenagem que simplesmente afastam dos centros urbanos o excedente do escoamento superficial gerado. Essa técnica não tem, no entanto, se mostrado eficiente, pois termina transferindo o problema para áreas situadas a jusante. Mais recentemente tem-se buscado a implantação de sistemas compensatórios como os discutidos nesse artigo. Ao evitar o excedente de fluxo superficial com a implantação desses sistemas evita-se a erosão e por consequência o assoreamento dos cursos d’água e reservatórios. Muitas vezes se pensa que ao promover a infiltração das águas pluviais estará comprometendo a recarga dos reservatórios, mas essa percepção deve ser melhor avaliada, pois com a recarga do aquífero é garantida a perenidade dos cursos d’água com volume de água mais significativo, porém com uma água filtrada, limpa, sem riscos para o assoreamento dos próprios cursos d’água e dos reservatórios. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O artigo mostra a importância de se definir e adotar técnicas de manejo apropriadas no meio rural e da ocupação e uso do solo em meio urbano. Tal prática é fundamental para a preservação dos cursos d’água e dos reservatórios com mitigação ou eliminação de problemas socioambientais como alagamentos, inundações e erosões. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq, à CAPES e à Eletrobras Furnas pelo apoio que vem dando aos estudos sobre erosões. REFERÊNCIAS Almeida, W.S.; Souza, N.M.; Camapum de Carvalho, J. (2012). Produção de carta geotécnica preliminar de capacidade de infiltração de água no solo em uma área do entorno do reservatório da usina hidrelétrica Corumbá IV (GO). Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 30, p. 581-606. Camapum de Carvalho, J.; Farias, M.M.; Rezende, L.R. (2012). Infiltração em pavimento: problemas e soluções. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 31, p. 607620. Camapum de Carvalho, J.; Carvalho, J.T.C.; Leuzinger, M.D. (2012). A infiltração no contexto da Educação Ambiental, da Engenharia e do Direito. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 1, p. 1-23. Camapum de Carvalho, J. Lelis, A.C. (2010). Cartilha Infiltração. Serie Geotecnia, vol. 2, 36p. Camapum de Carvalho, J.; Luiz, G.C.; Gonçalves, T.D. (2012). A infiltração no contexto do plano urbanístico e dos projetos paisagístico e arquitetônico. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 2, p. 25-47. Gurjão, C.M.C.; Chrusciak, M.R.; Silva, J.P.; Camapum de Carvalho, J. (2012). Estruturas superficiais de infiltração: colchões drenantes. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 17, p. 331-352. Jesus, A. S. (2013). Degradação físico-química e mineralógica de maciços junto às voçorocas. Tese de Doutorado, Publicação G.T.D. 087/2013, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, 336 fl. Leão Carvalho, E.T. (2013). Avaliação geotécnica de poços de infiltração de águas pluviais. Brasília: UnB, Tese G.TD-084A/13, 284 fl. Leão Carvalho, E.T.; Camapum de Carvalho, J.; Gitirana Jr., G.F.N. (2012). Poços como estruturas de infiltração. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 19, p. 375400. Luiz, G. C. (2012). Relação solo/atmosfera no comportamento hidromecânico de solos tropicais não saturados: estudo de caso – município de Goiânia/GO. Tese de Doutorado, Programa de PósGraduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, 271 fl. Oliveira, M.C.; Fagg, C.W.; Camapum de Carvalho, J.; Correia, C.R.M.A. (2012). Queimadas, práticas agrícolas, recuperação de áreas degradadas e a infiltração no Cerrado. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 11, p. 207-234. Silva, J. P. (2012). Estruturas de infiltração com utilização de materiais alternativos no controle de alagamentos, inundações e prevenção de processos erosivos. Brasília: UnB, Tese G.TD-074A/12, 211 fl. Silva, J.P.; Camapum de Carvalho, J.; Palmeira, E.M. (2012). Trincheiras como estruturas de infiltração. Livro Tópicos sobre infiltração: teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Cap. 18, p. 353-374.