Análise cinemática da técnica de Judo: Yoko-tomoe-nage Dissertação apresentada com vista à obtenção do grau de mestre em Ciências do Desporto, área de especialização de Treino de Alto Rendimento, conforme o decreto-lei n.º 216/92 de 13 de Outubro. Orientador: Professor Doutor Leandro Machado Francinildo da Costa Bernardes Porto, 2007 Bernardes, F.C. (2007) Análise cinemática da técnica de Judo: Yoko-tomoenage. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto, especialização em Treino de Alto Rendimento Desportivo. Porto, 2007. PALAVRAS-CHAVE: JUDO, YOKO-TOMOE-NAGE, BIOMECÃNICA, ANÁLISE CINEMÁTICA. _____________________________________________________________________________________ Agradecimentos Para a conclusão deste trabalho, tive que ultrapassar vários obstáculos, os quais so foram possíveis, graça as ajuda de vários pessoas. Alguns destes já os conhecia, outras vieram com as dificuldades. Sendo assim o mínimo que posso fazer é agradece-los por todo carinho e atenção. Desde já peço minhas humildes desculpas se por ventura houver um esquecimento de alguém: - Ao Professor Dr. Leandro Machado, o qual é o meu orientador, que aceitou esse trabalho e me ajudou nos momentos que eu mais precisei, sem o seu consentimento não teria conseguido finalizar este trabalho, não tenho palavras para agradecer; - Ao Exmo. Sr. Professror. Dr. e coordenador do Curso João Paulo Vilas Boas, os sinceros agradecimentos pela sua atenção para com as minhas dificuldades, pois se não fosse o seu consentimento também não teria continuado esta fase; - Ao Exmo. Sr. Engenheiro Pedro Gonçalves, o qual foi quem me acompanhou em todo processo cinemático desde a captura das imagens, até analise de dos dados, jamais esquecerei a vossa atenção; - A Professora Dra. Filipa, a qual também faz parte do gabinete de biomecânica, os meus agradecimentos pela atenção; - A todos os colegas que fazem parte do Gabinete: em especial para a Gláucia, por ter sacrificado o vosso precioso tempo e ter me ajudado nos estudos pilotos e no momento de captura das imagens, como também na fase de digitalização; as irmãs Carla e Kely, muito obrigado pela atenção em vários momentos, ao João pela grande ajuda no processo de gravação dos vídeos; - Um carinho em especial para o Professor e Mestre em Judo e em ciência do desporto “Guerreiro”, pois graças a sua dissertação me fez despertar o interesse por este trabalho, como também a sua notável ajuda em disponibilizar os livros de Judo, os quais sem eles não sei se teria chegado até a fase final; - Aos meus professores de Judo, os quais foram eles que me mostraram a importância e a riqueza desta maravilhosa arte: Professor Marcos Antônio de Castro Barreto, com o qual eu aprendi essa maravilhosa Técnica, ao seu Irmão _____________________________________________________________________________________ meu Grande mestre Carlos Alberto de Castro Barreto, pela grande ajuda desde a fase de graduação até o fim desta etapa. E ao Prof. Hebert Luiz “em memória”, o qual foi com quem aprendi o meu primeiro Ukemi. E aos professores Ronaldo Lourenço e Geovane Paiva; - Aos amigos de curso e futuros parceiros em publicações científicas. Especial para Paulo Carrara, que sempre me apoiou desde o primeiro ano desta pósgraduação até as correcções finais desta dissertação, e ao meu também amigo de residência e futuro mestre Pedro Martins, valeu a força nos momentos difíceis; - Meu muito obrigado a tia Vivi pelos conselhos e ajuda no meu fortalecimento espiritual; - A todos aqueles amigos que fazem parte da área do Fitness, os quais me acompanharam quando vim para Portugal: Glauciano Soares, Edlene Dantas; ao João valente e esposa Inês obrigado pelas correcções do meu Português, e ao colega de trabalho e amigo pessoal Ângelo Hernandez, gracias pela vuestra ajuda; - A tia Fernanda e família, não tenho palavras para agradecer pelo carinho e atenção, jamais esquecerei a vossa ajuda; - Não posso esquecer da minha grande amiga do Brasil Pollyana Lima, por toda ajuda na fase inicial deste processo, o meu muitíssimo obrigado. - A todos que fazem parte da secretaria desta faculdade em especial para Dra. Rosa, a qual foi como uma mãe para mim desde o primeiro dia de inscrição até a fase final deste trabalho. Também não posso esquecer da Susana, a qual trabalha nesta repartição e que me ajudou bastante; - Os meus agradecimentos a todos os que fazem parte da cantina desta universidade; - Muito obrigado também para Dora Maria da Costa pela grande ajuda neste último ano de trabalho. - E para finalizar, esta dissertação é para a minha família, pois só eles sabem o quanto sofri para chegar até aqui, em especial à minha Guerreira mãe, Maria Ângela da Costa, meu pai Francisco Bernardes e meu Irmão Francisco Bernardes Filho. Índice Índice Índice de Figuras.............................................................................................. VII Índice de Quadros ............................................................................................. XI RESUMO ........................................................................................................ XIII ABSTRACT ......................................................................................................XV RÉSUMÉ........................................................................................................XVII Lista de Abreviaturas.......................................................................................XIX 1. Introdução ...................................................................................................... 3 2. Revisão da Literatura ..................................................................................... 7 2.1. Histórico das artes marciais ........................................................................ 7 2.1.1. Histórico do Judo...................................................................................... 7 2.1.2. Caracterização do Judo ........................................................................... 9 2.1.3. Classificação das Técnicas de Judo ...................................................... 10 2.1.4. Judo e competição ................................................................................. 11 2.1.4.1 Pontuações .......................................................................................... 11 2.1.4.2 Dimensões do Judo-gi.......................................................................... 13 2.1.4.3 Tempo de luta de competição .............................................................. 14 2.1.4.4 Área de competição ............................................................................. 14 2.2. Factores técnicos, tácticos, fisiológicos e psicológicos ............................. 15 2.3. Biomecânica.............................................................................................. 18 2.3.1 Posição ................................................................................................... 20 2.3.2 Movimento............................................................................................... 21 2.3.3. Equilíbrio ................................................................................................ 21 2.3.3.1. Equilíbrio estático ................................................................................ 22 2.3.3.2. Equilíbrio dinâmico .............................................................................. 23 2.3.3.3. Equilíbrio estável ................................................................................. 23 2.3.3.4. Equilíbrio Instável ................................................................................ 23 2.3.3.5. Equilíbrio Neutro ou Indiferente........................................................... 24 2.3.4 Factores que interferem na estabilidade do corpo .................................. 24 2.3.4.1 Projecção do Centro de Massa ............................................................ 24 III Índice _ 2.3.4.2. A altura da localização do CG ............................................................. 25 2.3.4.3. Inércia ................................................................................................. 25 2.3.4.4. Tamanho da base de sustentação ...................................................... 26 2.3.4.5. Coeficiente de atrito ............................................................................ 28 2.3.4.6 Factores neuromusculares, fisiológicos, psicológicos .......................... 28 2.3.5. Alavancas............................................................................................... 29 2.3.5.1. Classificação ....................................................................................... 30 2.4. Biomecânica aplicada ao Judo.................................................................. 31 2.4.1. Binários de forças e alavancas aplicados no Judo................................. 35 2.4.1.1. Classificação das Técnicas de Binário ................................................ 37 2.4.1.2. Técnicas de alavanca.......................................................................... 38 2.4.2. Quantidade de movimento ..................................................................... 40 2.5. Técnica em estudo neste trabalho – “Yoko-tomoe-nage”.......................... 41 2.5.1. Descrição da técnica .............................................................................. 43 2.5.2. Principais combinações com estas técnicas .......................................... 44 3. Objectivos .................................................................................................... 49 4. Metodologia.................................................................................................. 53 4.1. Caracterização da amostra ....................................................................... 53 4.2 Procedimentos para colecta dos dados ..................................................... 53 4.2.1. A estrutura.............................................................................................. 53 4.2.2. Preparação do sujeito ............................................................................ 54 4.2.3. Análise cinemática do movimento .......................................................... 55 4.2.3.1. Análise de dados cinemáticos ............................................................. 57 4.3. Procedimentos Estatísticos ....................................................................... 60 5. Apresentação e Discussão dos Resultados ................................................. 63 5.1 Variável Tempo .......................................................................................... 63 5.2 Variável Ângulo. ......................................................................................... 64 5.2.1 Ângulo entre o braço direito e o tronco do Tori. ...................................... 64 5.2.2 Ângulo entre o braço esquerdo e o tronco do Tori. ................................. 65 5.2.3 Ângulo entre o braço e o antebraço direito do Tori ................................. 67 5.2.4 Ângulo entre o braço e o antebraço esquerdo do Tori. ........................... 68 5.2.5 Ângulo entre a coxa e a perna direitas do Tori........................................ 69 IV Índice 5.2.6 Ângulo entre a coxa e a perna esquerdas do Tori................................... 71 5.2.7 Ângulo entre o tronco inferior e a coxa direita do Tori............................. 72 5.3 Variável Velocidade.................................................................................... 74 5.3.1 Velocidade do punho direito do Tori........................................................ 74 5.3.2 Velocidade do punho esquerdo do Tori................................................... 75 5.3.3 Velocidade do pé de ataque.................................................................... 76 5.4 Resultados quanto à variável Distância. .................................................... 77 5.4.1 Distância entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito ..... 78 5.4.2 Distância entre a anca lado direito do Tori e o pé esquerdo do Uke. ...... 79 5.4.3 Distância entre a anca e o pé do Tori, ambos do lado esquerdo. ........... 81 5.4.4 Distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke ............ 82 5.4.5 Distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito... 84 5.4.6 Distância entre o cotovelo e a crista ilíaca do Tori, ambos do lado direito ......................................................................................................................... 85 5.4.7 Distância entre a ponta do pé de ataque do Tori e o CM do Uke............ 87 5.4.8 Distância horizontal do CM ao pé esquerdo, ambos do Uke................... 88 6. Conclusões .................................................................................................. 91 7. Bibliografia ................................................................................................... 97 V Índice Índice de Figuras Figura 2.1: Vestimenta utilizada na prática do Judo ( Judogui) (FPJ, 2004). ... 13 Figura 2.2: Área de Competição – foto do campeonato europeu 2008. ........... 15 Figura 2. 3: Organograma – Mecânica. Adaptação de EEFE, 2008................. 20 Figura 2. 4: Projecção do centro de massa do corpo na área da base de sustentação. ..................................................................................................... 25 Figura 2. 5: Tamanho da base de sustentação e influência na ........................ 27 Figura 2. 6: Alavanca Interfixa.......................................................................... 30 Figura 2. 7: Alavanca Inter-resistente............................................................... 30 Figura 2. 8: Alavanca Interpotente. .................................................................. 31 Figura 2. 9: Somatório de forças dos Judocas (Watanabe e Avakian, 2001). .. 32 Figura 2. 10: “hapo-no-Kuzushi”, o desequilíbrio no Judo, ............................... 33 Figura 2. 11: Torque no eixo de base (Potierj, 2003). ...................................... 34 Figura 2. 12: Binários de forças (Potierj, 2003). ............................................... 35 Figura 2.13: Rotação no plano horizontal e frontal (Sacripanti, 1987).............. 36 Figura 2.14: Rotação no plano sagital (Sacripanti, 1987)................................. 36 Figura 2.15: Binário de braço e perna (Sacripanti, 1987) ................................. 37 Figura 2.16: Binário de tronco e braço (Sacripanti, 1987). ............................... 37 Figura 2.17: Binário de tronco e perna (Sacripanti, 1987). ............................... 38 Figura 2.18: Binário com os braços (Sacripanti, 1987)..................................... 38 Figura 2.19: Braço de alavanca médio. ............................................................ 39 Figura 2.20: Braço de alavanca máximo. ......................................................... 40 Figura 2.21: Braço de alavanca variável. ......................................................... 40 Figura 2. 22: Técnica “tai-otoshi” (Watanabe e Avakian, 2001)........................ 40 Figura 2.23: Técnica Tomoe-nague (Inman, 1988). ......................................... 41 Figura 2. 24: “yoko-tomoe-nage” fase kuzushi ................................................ 43 Figura 2. 25: “yoko-tomoe-nage” fase tsukuri.................................................. 43 Figura 2. 26: Técnica “Yuko-tomoe-nage” fase kake....................................... 44 Figura 2. 27: Combinação: uchi-mata para yuko-tomoe-nage (Kashiwazaki ,1992) ............................................................................................................... 45 VII Índice _ Figura 2. 28: Combinação ko-uchi-gare para yuko-tomoe-nage (Kashiwazaki,1992) .......................................................................................... 45 Figura 2. 29: Combinação Yuko-Tomoe-Nage para juji-gatame (Kashiwazaki,1992) .......................................................................................... 45 Figura 4. 1: Sistema de referência – Gaiola de calibração. .............................. 54 Figura 4. 2: Marcação dos pontos anatómicos através .................................... 54 Figura 4. 3: Posicionamentos das pegas nos Judogis com pegadas opostas. 55 Figura 4. 4: Representação esquemática do posicionamento das câmaras .... 56 Figura 5.1: Tempo de cada fase da técnica. .................................................... 63 Figura 5.2: Ângulos entre o braço direito e Tronco do Tori .............................. 64 Figura 5.3: Ângulo entre o Braço direito e Tronco do Tori................................ 65 Figura 5.4: Ângulos médios entre o braço esquerdo e o tronco do Tori........... 66 Figura 5.5: Ângulo entre o braço esquerdo e o tronco do Tori, na repetição 4. 66 Figura 5.6: Ângulos médios do braço e antebraço direito do Tori .................... 67 Figura 5.7: Variação angular entre o braço e antebraço direito do Tori. .......... 67 Figura 5.8: Ângulo entre o braço e antebraço esquerdos do Tori .................... 68 Figura 5.9: Amplitude angular entre o braço e o antebraço esquerdo do Tori. 69 Figura 5.10: Ângulo entre a coxa e a perna direitas do Tori............................. 70 Figura 5.11: Variação angular entre a coxa e perna direita do Tori.................. 70 Figura 5.12: Ângulo entre a coxa e perna esquerda do Tori. ........................... 71 Figura 5.13: Amplitude angular entre a coxa e a perna esquerdas do Tori. ..... 72 Figura 5.14: Ângulo médio entre o tronco inferior e a coxa direita ................... 73 Figura 5.15: Amplitude angular entre o tronco inferior e coxa direita do Tori. .. 73 Figura 5.16: Velocidade do punho direito do Tori............................................. 74 Figura 5.17: Variação da velocidade do punho direito do Tori. ........................ 75 Figura 5.18: Velocidade média do punho esquerdo do Tori. ............................ 75 Figura 5. 19: Velocidade punho esquerdo do Tori............................................ 76 Figura 5.20 Velocidade média do pé de ataque do Tori................................... 77 Figura 5.21: Variação da velocidade do pé de ataque do Tori ......................... 77 Figura 5.22: Distância média entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambas do lado direito........................................................................................................ 78 VIII Índice Figura 5.23: Variação da distância entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito................................................................................................... 79 Figura 5.24: Distância média entre a anca do lado direito do Tori e o pé esquerdo do Uke .............................................................................................. 80 Figura 5.25: Variação da Distância da anca do lado direito do Tori ao pé esquerdo do Uke. ............................................................................................. 80 Figura 5.26: Distância média entre a anca e o pé do Tori, ambos lado esquerdo ......................................................................................................................... 81 Figura 5.27: Variação da Distância entre a anca e o pé do Tori, ambos lado esquerdo .......................................................................................................... 82 Figura 5.28: Distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke . 83 Figura 5.29: Variação da distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke .............................................................................................. 83 Figura 5.30: Distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos lado direito. ......................................................................................................................... 84 Figura 5.31: Variação da distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos lado direito........................................................................................................ 85 Figura 5.32: Distância entre o cotovelo e crista ilíaca do Tori, ambos lado direito ......................................................................................................................... 86 Figura 5.33: Variação da distância entre o cotovelo e a crista ilíaca do Tori, ambos do lado direito. ...................................................................................... 86 Figura 5.34: Distância entre o pé de ataque do Tori e o CM do Uke................ 87 Figura 5.35: Variação da distância entre o pé de ataque do Tori e o CM do Uke ......................................................................................................................... 88 Figura 5.36: Distância horizontal entre o CM do Uke e o seu pé esquerdo ..... 89 Figura 5.37: Variação da distância horizontal entre o CM e o Pé esquerdo, ambos do Uke. ................................................................................................. 90 IX Índice Índice de Quadros Quadro 2. 1: Grupo de técnicas e suas divisões (Lasserre, 1975)................... 11 Quadro 2. 2: Técnicas de aplicação de alavanca............................................. 39 Quadro 4.1: Pontos anatómicos de referência digitalizados............................. 59 XI Resumo RESUMO Este trabalho tem como objectivo fazer uma análise cinemática da técnica de Judo “Yoko-tomoe-nage”, tendo sido analisadas as seguintes componentes cinemáticas: tempo de duração das fases, ângulos, velocidade e distâncias de diferentes segmentos anatómicos. Para isso foi efectuada uma recolha de imagens em que participaram como amostra, dois Judocas cinturão negro com experiência internacional. Das várias execuções, foram seleccionadas as melhores e em seguida avaliadas por juízes peritos, membros do quadro de arbitragem da federação internacional de judo categoria “A”. Em seguida foi feita uma reconstrução tridimensional das técnicas através da digitalização de 24 pontos anatómico segundo o modelo antropométrico de Zatsiorsky. A quantificação dos dados obtidos foi feita através do software de análise tridimensional de movimento “Ariel Performance Analysis System” (APAS). Em seguida foi feita uma estatística descritiva para obtenção das médias e desvio padrão das variáveis mencionadas. Sendo assim foi obtido o modelo da técnica estudada, de acordo com a literatura: A fase de Kuzushi, é a mais importante, corresponde a 50% do tempo total da técnica, com uma predominância do Kuzushi Sode (“manga”) em relação ao Eri (“gola”). Na Fase de Tsukuri, o posicionamento do pé de ataque é logo abaixo do centro de massa, próximo a crista ilíaca direita e à linha do cinturão do Uke, em média 16 cm, voltado para o lado direito e para baixo, com a perna de ataque ligeiramente flectida em média a 105º. A velocidade do pé de ataque na fase de Kusushi era sempre crescente, porém ao aproximar-se da fase de Tsukuri, houve uma diminuição da velocidade; a menor a distância ente o ombro direito do Tori e o Pé esquerdo do Uke foi em média de 33 cm. Na fase de Kake, o Uke cai com o dorso lateral direito no tatame, ficando a sua cabeça posicionada próxima à do Tori. PALAVRAS-CHAVE: JUDO, YOKO-TOMOE-NAGE, BIOMECÂNICA, ANÁLISE CINEMÁTICA. XIII Abstract ABSTRACT This work has the purpose to make a kinematic analysis of the "YokoTomoe-nage" Judo technique, through the analysis of the following kinematics components: time interval of the phases, angles, speeds and distances of different anatomic segments. To do this, images captions were captured with two Judokas of black brace with international experience as participants. From the set of executions, the best ones had been selected and then evaluated by expert judges, members of International Judo Federation, “A” category. After that a threedimensional reconstruction of the techniques was done through the anatomic digitalization of 24 points, following Zatsiorsky model. The data quantification was made through the three-dimensional motion analysis software "Ariel Performance Analysis System" (APAS). After that a descriptive statistics was made to obtain the averages and standard deviations of the mentioned variables. Doing this, the model from the studied techniques was obtained, according to the literature: the Kuzushi phase is the most important, corresponding to 50% of the total technique time, with predominance of kumikata Sode (“arm”) in relation to Eri (“neck”). In the Tsukuri phase, the attack foot positioned under the center of mass, next to the right iliac and under the Uke belt line 16 cm average, turned to the right side and down, with the attack leg slightly flexed average 105º. The attack foot has increasing velocity in the Kuzushi phase, but with a decrease when close to this phase; the smaller distance between the Tori right shoulder and the Uke left foot was 33cm on average. In the Kake phase, the Uke fall with the lateral torso on tatame, being his head positioned next to Tori head. Keywords: JUDO, YOKO-TOMOE-NAGE, ANALYSIS. XV BIOMECHANICS, KINEMATIC Résumé RÉSUMÉ Le sujet de cet exposé est faire une analyse cinématique de la technique du judo “Yoko-tomo-nage”, ayant été analysés les suivantes composantes cinématiques : temps de duration de chaque phase, angles, vitesse et distances de différents segments anatomiques. Pour cela une collecte d’images a été faite où ont participés comme échantillon, deux judokas de ceinturon noir avec expérience international. Des plusieurs exécutions, les meilleurs ont été sélectionnés et ont été évalues par des juges membres du cadre de la fédération international d’arbitrage de la catégorie «A». Ensuite une reconstruction tridimensionnelle des techniques a été effectuée par la digitalisation de 24 points anatomiques selon le modèle anthropométrique de Zatsiorsky. La comptabilisation des donnés obtenue a été faite par un software d’analyse tridimensionnelle du mouvement “Ariel Performance Analysis System” (APAS). Par la suite une statistique descriptif a été réaliser pour obtenir les moyennes et le détour étalon des variables mentionnées. Ainsi suit le modèle de la technique, suivant la litérature: Phase de Kuzushi, étant la partie la plus importante de la technique, qui correspond à 50% du temps total de la technique. Il y a une prédominance de Kuzushi Sode (manche) relativement à Eri (collet). Dans la phase Tsukuri, le positionnement du pied d’attaque est au dessous du centre de masse, étant proche de la ligne du ceinturon d’Uke, en moyenne 16 cm, et retourné vers le coté droit et en bas, prés de la crête iliathique droite de l’Uke. La jambe d’attaque est légèrement pliée, en moyenne de 105º. La vitesse du pied d’attaque dans la phase de Kuzushi étant toujours croissante, par contre en s’approchant de la phase de Tsukuri, il y eu une diminution. Concernant la distance entre l’épaule droite du Tori et le pied gauche de l’Uke la distance minimale a atteint des valeurs moyennes de 33 cm. Dans la phase de Kake, l’Uke tombe avec le torse latérale droit dans le tatame restant ça tête positionné prés de cele du Tori. Mots-clés: JUDO, YOKO-TOMOE-NAGE, BIOMECANIQUE, CINEMATIQUE ANALYSES. XVII Abreviaturas Lista de Abreviaturas CM: Centro de Massa cm: centímetros m: metros m/s: metros por segundo s: segundos v: velocidade XIX 1. Introdução Introdução 1. Introdução O Judo é um desporto de combate que consiste em dominar as acções tácticas do adversário, e que para isso utiliza técnicas de projecção e técnicas de solo (Franchini, 2001). Para Guerreiro (2003) o Judo é uma modalidade desportiva de estrutura complexa. É um desporto de situação, já que o desenrolar da acção não tem um princípio e fim previsíveis, antes depende da oposição e das suas características mais defensivas ou ofensivas, mais ou menos dinâmicas, mais ou menos tácticas (Buttcher, 2003; Guerreiro, 2003). O judo tem como objectivo principal a vitória pela projecção do adversário de uma forma que se enquadre nos parâmetros técnicos regulamentares: com força, velocidade, controlo e para além disso, de modo a que a projecção finalize com mais de metade das costas do Uke1 no tapete (Robert, 1980; Rodrigues, 1999). Para Birod (1982), esta arte marcial teve como criador o mestre Jigoro Kano. Ele era praticante jiu-jitsu, por volta 1880, altura em que esta arte não estava a ser bem aceite. Sendo assim começou a repensar nas técnicas de jiujitsu que ele aprendera. Percebeu que não poderia deixar esta arte cair em desuso, sendo assim ele precisava de mudar esse contexto, precisava de criar algo mais educacional. Portanto ele fez uma selecção das técnicas dos vários estilos desta arte e colocou-a num só sistema. Ele percebeu que poderia criar um programa de educação física que iria incorporar simultaneamente habilidades físicas e mentais. Para Birod (1982), Jigoro Kano acreditava que o jiu-jitsu poderia ser praticado como um desporto competitivo se as técnicas mais perigosas fossem retiradas. Kano seleccionou as melhores técnicas de Jiu-jitsu com base em factores físicos, como por exemplo: binários de forças, sistemas de alavancas e pontos de equilíbrio. Criou novas técnicas, aperfeiçoou a maneira de cair, criou 1 Uke: aquele que sofre o técnica ou a projecção. 3 3 Introdução _ uma vestimenta especial de treino (o Judogi), pois não havia um traje específico para a prática do Jiu-jitsu, e dedicou-se particularmente aos métodos de projecção e combate no solo. Jigoro Kano, ao criar o Judo teve por base algumas áreas de estudos para dar suporte à sua nova arte, entre elas: a anatomia, a fisiologia, a psicologia, a filosofia e a biomecânica. Esta última é aquela que será investigada neste trabalho, uma vez que através desta área de conhecimento pode-se tentar descrever, interpretar, explicar, modelar, simular, transformar ou optimizar o movimento desportivo (técnica desportiva), optimizando assim a performance (eficiência da transformação de energia em trabalho) e prevenindo lesões (Amadio, 1999). Este trabalho analisa uma técnica de Judo que está inserida no grupo das técnicas de sacrifício, em que o executante para projectar o Uke, sacrifica o seu próprio equilíbrio, ou seja o Tori2, projecta-se primeiro ao solo para depois efectuar a técnica em questão (Virgílio, 1996). Esta técnica chama-se “yoko-tomoe-nage”, que de acordo com Kashiwazaki (1992) significa “projecção em círculo para o lado.” Pelo facto de haver poucos estudos sobre “o Judo e a biomecânica”, e mesmo considerando que é um estudo de caso, este torna-se relevante. Portanto, este trabalho tem como objectivo observar o comportamento cinemático da técnica “yoko-tomoe-nage”. 2 Tori: Aquele que executa o golpe. 4 2. Revisão da Literatura Revisão da Literatura 2. Revisão da Literatura 2.1. Histórico das artes marciais Segundo Duncan (1979) existem mais de mil formas diferentes de artes marciais espalhadas pelo mundo e muitas delas já existem há mais de dois mil anos. Ninguém sabe realmente quando e onde as artes marciais começaram. Para Deliberador (1997) o surgimento das artes marciais orientais é ainda mais obscuro. Aceita-se geralmente que as artes marciais desenvolveram-se na China antiga, no entanto outros afirmam que foi na Índia, onde os monges usavam técnicas de combate sem armas para se protegerem, uma vez que a sua filosofia era contra a violência, e não permitia a utilização de armas. Não se sabe que tipo de técnicas inicialmente foram usadas, mas sabe-se que já existia a especialização das formas de lutas. Através do comércio e da migração, as artes marciais espalharam-se por todo o oriente no período antes de Cristo. Desde então, as artes marciais desenvolveram-se numa variedade de sistemas que foram precursores das artes marciais modernas. Não se sabe ao certo, mas existem evidências de que uma das mais antigas artes de combate sem armas era o jiu-jitsu, no qual existiam vários estilos de escolas, estas por sua vez influenciaram as mais variadas formas de artes marciais modernas entre elas o Judo (Virgílio, 1996). 2.1.1. Histórico do Judo Segundo Rodrigues (1999) o jiu-jitsu foi durante muito tempo a luta mais praticada no Japão, até ao surgimento do Judo, em 1882. O jiu-jitsu era tratado como uma das jóias mais preciosas do Oriente. Era tão importante na sociedade japonesa que chegou a ser, por decreto imperial, proibido de ser ensinado fora do Japão aos não japoneses, proibição que atravessou os séculos até à primeira metade do século XX. Era considerado crime de lesa - 7 Revisão da Literatura _ pátria ensiná-lo aos não japoneses. Quem o fizesse era considerado traidor do Japão, condenado à morte, a sua família perdia todos os bens que tivesse e a sua moradia era incendiada. Segundo Glesson (1975) nesta arte não existia um carácter muito educacional, não existia uma metodologia de ensino bem definida. Por exemplo, uma criança aprendia desde tenra idade golpes estritamente traumáticos, sendo que a escola que ensinava essa modalidade não era responsabilizada por alguma lesão severa que porventura algum aluno pudesse sofrer. Sendo assim, com o passar dos tempos, o jiu-jitsu começou a perder a sua popularidade. Com a introdução da cultura ocidental no Japão, promovida pelo Imperador Meiji (1867-1912), as artes marciais caíram em relativo desuso em função do advento das armas de fogo, que ofereciam a possibilidade de eliminação rápida do adversário sem o esforço da luta corporal (Vírgilio, 1986). Ainda o mesmo autor afirma que com a baixa popularidade das artes marciais, os seus conceitos e princípios começaram e perder-se, pois com a abertura dos portos, provocado por esta nova era, as pessoas começavam cada vez mais a ter resistência a este tipo de arte de combate, não queriam praticar uma arte que pusesse em causa a sua própria saúde. Para Rodrigues (1999) por volta de 1880, Jigoro Kano começou a repensar as técnicas de jiu-jitsu que aprendera. Percebeu que não deveria deixar esta arte cair em desuso, precisava de criar algo mais educacional. Foi então que ele seleccionou várias técnicas dos mais variados estilos desta arte e colocou num só sistema, criando um programa de educação física que iria incorporar habilidades mentais e físicas. Para Birod (1982), Jigoro Kano acreditava que as técnicas de jiu-jitsu poderiam ser praticadas como um desporto competitivo, se as técnicas mais perigosas fossem retiradas. Kano seleccionou as melhores técnicas de Jiujitsu, criou outras, aperfeiçoou a maneira de cair, criou uma vestimenta especial de treino (o Judogi), pois não havia um traje específico para a prática do Jiu- 8 Revisão da Literatura jitsu, e dedicou-se particularmente aos métodos de projecção e combates no solo. Kano pensou que a sua nova arte marcial deveria ter outro nome, pois a sua prática era diferente do Jiu-jitsu. Tendo em conta a sua essência, a não resistência e o aproveitamento da força do oponente, chamou a esta nova arte “Judo” e criou regras para um confronto desportivo baseado no espírito do ippon-shobu (“luta pelo ponto completo”). Sendo assim em 1882 surge um novo conceito de jiu-jitsu, “Judo”, palavra japonesa composta por duas apartes: JUSuave, Flexível, fácil, e DO- caminho, via, meio; portanto podemos dizer que o Judo é o “caminho da suavidade” (Suarez, 2002). Deliberador (1997) refere que em 1886, o Judo foi oficialmente aceite pelo governo japonês. Para difundir o desporto, Kano iniciou em 1889 uma série de apresentações e palestras em outros países. Na década de 1930 o Judo já era conhecido em quase todas as nações do mundo. Esta nova forma de desporto de combate, com regras bem definidas e princípios morais e éticos pré-estabelecidos, alcançou um nível de educação moral e intelectual, e desta forma passou a ser considerado como desporto olímpico, desde 1964, nos jogos olímpicos de Tóquio (Pulkkinen, 2001; Virgílio, 1990) 2.1.2. Caracterização do Judo Segundo Glesson (1975) o Judo caracteriza-se por derrubar o oponente, colocando-o de costas para o solo através de técnicas de projecção, podendo a luta ser definida de imediato ou ser desenvolvida no solo. Se a técnica for perfeita, o combate é encerrado de imediato sendo marcada uma pontuação que é chamada de Ippon. Caso a técnica não seja perfeita, podem ser marcadas pontuações gradativamente inferiores, chamadas Wazari, Yoko ou Koka, dando continuidade ao combate no solo, onde o objectivo é controlar 9 Revisão da Literatura _ todas as acções do adversário com chaves de braço (kansetsu-waza), imobilizações (osae-komi-waza) ou estrangulamentos (shime-waza). Para Birod (1982), o Judo é uma luta entre dois combatentes que se baseia em cada um deles tentar vencer o outro, utilizando para esse fim uma das técnicas que corresponde às regras de competição. Para Virgílio (1990), o Judo é um desporto que tem como finalidade a projecção do oponente ao solo com a utilização de uma técnica de projecção “nague-waza”, como também poderá utiliza técnicas no solo “ne-waza”. 2.1.3. Classificação das Técnicas de Judo Especificamente no âmbito do Judo, a técnica refere-se à habilidade motora que, desenvolvida pela prática, é utilizada para derrotar o opositor, através de uma projecção, imobilização, estrangulamento ou luxação (Mieth, 1981, citado por Carvalho, 2001). Jigoro Kano, após a criação do Judo, dividiu a sua actividade em três grupos de técnicas: Nague-waza (técnica de projecção), Katame-waza (técnica de imobilização) e Atemi-waza (técnica de atacar os pontos vitais do corpo), esta ultima não é válida no Judo de competição (Lasserre, 1975). Ainda o mesmo autor, para dar um carácter pedagógico e facilitar ainda mais o aprendizado, subdividiu as técnicas de Nage-waza em (Quadro 2.1): A) Tachi-waza (técnica de projecção em pé), que seria executada sob três aspectos: 1) Te-waza: técnica de projecção com os braços. 2) Koshi-waza: técnica de projecção com o quadril. 3) Ashi-waza: técnica de projecção com pernas e pés. B) Sutemi-waza (técnica de projecção com sacrifício do corpo), ou seja para aplicar uma projecção, o executante põe em risco o seu próprio equilíbrio, podendo às vezes ficar vulnerável a receber um contra-ataque no solo. Este 10 Revisão da Literatura grupo de técnicas divide-se em: 1) Ma-sutemi-waza (sacrifício com queda para trás). 2) Yoko-sutemi-waza (sacrifício com queda para o lado). É no grupo de técnicas Yoko-sutemi-waza que se encontra o “yokotomoe-nage”, a técnica em estudo. O grupo de técnicas Katame-waza subdivide-se em três outros grupos: 1) Ossae-waza: imobilização no solo. 2) Shime-waza: técnica de estrangulamento. 3) Kansetsu-waza: técnicas de chaves nas articulações do cotovelo. Quadro 2. 1: Grupo de técnicas e suas divisões (Lasserre, 1975). Grupos Divisões Subdivisões Técnica (exemplo) Te-waza Tai-otoshi Tachi-waza Koshi-waza O-goshi Nague-waza Ashi-waza O-uchi-gare Ma-sutemi-waza Tomoe-nage Sutemi-waza Yoko-sutemi-waza Yoko-tomoe-nage Ossae-waza Hon-keza-gatame Katame-waza Shime-waza Sankaku-gatame Kansetsu-waza Juji-gatame Não válida no judo Atemi-waza de competição 2.1.4. Judo e competição Segundo Deliberador (1997), o Judo além da componente do desporto de participação, também está inserido no desporto de alta competição, sendo que para isso, como em qualquer outro desporto, existem regras que possibilitam a sua prática de forma coerente e segura. 2.1.4.1 Pontuações Segundo o manual de arbitragem da federação internacional de Judo (FPJ, 2004), no combate de Judo o objectivo é tentar derrubar o adversário, e 11 Revisão da Literatura _ para isso são levados em consideração alguns aspectos, tais como força, velocidade e controle da técnica aplicada. Desta forma o árbitro aplicará pontuações, de acordo com os critérios abaixo: IPPON: a) Quando um competidor, projecta com controlo o adversário, claramente de costas com considerável força e velocidade. b) Quando um competidor mantém o adversário em Osae-komi-waza e este último é incapaz de sair da imobilização durante 25 segundos, após o anúncio de Osae-komi. c) Quando um competidor desiste, batendo 2 ou mais vezes com a mão ou pé ou dizendo Maitta (desisto!). Também é atribuído o ippon, caso um dos combatentes receba uma penalização, conhecida como “shido”, tendo este já três penalizações anteriores (FPJ, 2004). WAZA-ARI: O Árbitro anunciará Waza-ari quando, na sua opinião, a técnica aplicada corresponde aos seguintes critérios: a) Quando um competidor projecta com controlo o seu adversário, mas a técnica carece parcialmente de um dos três elementos necessários para Ippon; b) Quando um competidor imobiliza o seu adversário com Osaekomi-waza e este último é incapaz de sair da imobilização durante 20-24 segundos, ou ainda se um competidor tiver sido penalizado com três Shidos, será atribuído imediatamente um Waza-ari ao adversário. YUKO: a) Quando um competidor projecta com controlo o adversário, mas a técnica carece parcialmente de dois dos três outros elementos necessários para Ippon. Exemplos: 1) Faltando parcialmente o elemento “claramente de costas” e faltando também um dos outros dois elementos, “força” e “velocidade”; 2) Claramente de lado mas faltando parcialmente os outros dois elementos, “velocidade” e “força”. b) Quando um competidor imobiliza o seu adversário com Osae-komi-waza e este último é incapaz de sair da imobilização durante 15-19 segundos. Equivalência: Se um competidor tiver sido penalizado com dois Shidos, será atribuído imediatamente um Yuko ao adversário. 12 Revisão da Literatura KOKA: a) Quando um competidor projecta com controlo o seu adversário sobre um ombro ou nádegas, com velocidade e força. b) Quando um competidor imobiliza o seu adversário com Ossaekomi-waza e este último é incapaz de sair da imobilização durante 10-14 segundos. Equivalência: Se um competidor tiver sido penalizado com um Shido, será atribuído imediatamente um Koka ao adversário. 2.1.4.2 Dimensões do Judo-gi Judogi ou keigo-gi é o nome atribuído à roupa utilizada na prática do Judo (Butcher, 2003). Os atletas no início de cada combate, dependendo da natureza do evento, são feitas aferições, a fim de verificar se os respectivos Judogis estão dentro das normas preestabelecidas pela Federação Internacional de Judo (FIJ), que podem ser observadas na Figura 2.1. Figura 2.1: Vestimenta utilizada na prática do Judo ( Judogui) (FPJ, 2004). 13 Revisão da Literatura _ 2.1.4.3 Tempo de luta de competição Para Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos a duração do combate da categoria Sénior Masculino e Feminino é de 5 minutos de tempo real de combate; na categoria Júnior Masculino e Feminino é de 4 minutos de tempo real de combate. Porém, caso o combate termine com um empate, o combate é reiniciado com mais um tempo que irá no máximo até 5 minutos, ou até um dos Judocas marcar uma pontuação, este combate extra é conhecido como “Golden score”. Caso não haja nenhuma pontuação, a decisão do combate é estabelecida pelos juízes, os quais irão analisar qual dos atletas obteve um melhor desempenho ao longo do combate. Para as demais competições, a entidade que organiza o evento pode seguir este padrão ou adaptá-lo, de acordo com a disponibilidade do tempo, ou para faixas etárias inferior a 15 anos. 2.1.4.4 Área de competição A área de competição de acordo com o manual de arbitragem da Federação Internacional de Judo (FPJ, 2004) tem dimensões no mínimo de 14x14m e no máximo de 16x16m, sendo que a área é formada por duas partes de cores distintas, a área de combate, neste caso a de cor amarela, e a área de segurança de cor azul, (Figura 2.2). 14 Revisão da Literatura Figura 2.2: Área de Competição – foto do campeonato europeu 2008. 2.2. Factores técnicos, tácticos, fisiológicos e psicológicos As lutas desportivas pertencem ao grupo das modalidades, que exigem muitas capacidades físicas. De acordo com Ide e Padilha (2005) e Nowoisky, (2005) a performance geral do Judo envolve capacidades e competências físicas, tais como força máxima, força explosiva, resistência de força, coordenação motora grossa e fina, e equilíbrio. Todas elas actuam de maneira conjunta e são directamente influenciadas pelo estado emocional e preparação psicológica do atleta (Barreto, 2003). Ainda o mesmo autor afirma que os componentes técnicos e tácticos também representam factores essenciais e determinantes na performance final. Nesta modalidade, o resultado competitivo nunca pode ser atribuído à elevada performance apenas numa variável, mas sim ao conjunto dos factores mencionados . Segundo Riera (1985, citado por Farré, 1997), os desportos de combate, entre eles o Judo, possuem habilidades acíclicas, ou seja abertas, permitindo assim uma grande variabilidade de gestos técnicos complexos, exigindo desta forma uma elevada coordenação na sua execução. A aplicação destes gestos 15 Revisão da Literatura _ técnicos é realizada em função das seguintes variáveis: espaço, tempo e perfil do adversário. Existe uma grande dificuldade em saber qual a solicitação energética requerida pelas distintas fases do combate de Judo, no entanto é importante conhecer estes aspectos, dado influenciarem o comportamento técnico-táctico do Judoca ao longo do combate (Monteiro, 1997). Para Muller-Deck (1987) a participação com sucesso em competições de Judo depende de um elevado nível técnico-táctico, tendo como suporte capacidades físicas já citadas como: a resistência aeróbia e anaeróbia, a potência e a flexibilidade. Para Muller-Deck (1987) os esforços realizados durante o combate, são intermitentes e de alta intensidade, levando à produção de lactato. Os intervalos de descanso entre os combates às vezes são curtos, e como consequência, a recuperação da fadiga neuromuscular é incompleta (Drigo et al, 1995a; Franchini, 1999). Por apresentar esforço em movimentação acíclica, o componente físico serve apenas de suporte para aplicação do componente táctico e técnico (Schmidt, 1993; Franchini, 1999). Sendo assim a metodologia do treino deverá estar voltada à especificidade da competição. Vários autores acreditam que a aplicação de situações específicas promovem maior motivação na execução do programa de exercícios, deste modo, a captação das reservas energéticas do organismo é maior, o que aumenta a capacidade de trabalho. O propósito da especificidade do treino é promover maior adaptação do organismo às exigências técnico-táctico e psicológicas da competição (Forteza, 2001). Segundo Pulkkinen (2001) as técnicas de Judo, durante o combate, são executadas à velocidade máxima e com grande força muscular. Esta última expressa-se nas formas dinâmica e estática, sem que haja predomínio significativo de uma delas. Durante a competição os esforços são máximos e potentes, repetidos à custa de acelerações e arranques, com trabalho de curta duração e intensivo. As cargas físicas intensas, são caracterizadas por mudanças rápidas e bruscas da estrutura de coordenação e ritmo de 16 Revisão da Literatura movimentos, e desta forma conduzem a adaptações consideráveis dos processos metabólicos do organismo, como a actividade dos sistemas cardiovascular, nervoso e respiratório (Drigo et al, 1995b). A grande excitação emocional durante tais cargas contribuirá para a perturbação das funções fisiológicas e psicológicas. A manutenção da eficiência dos movimentos é garantida pelo alto nível de precisão espacial (Farré, 1997; Lehman, 1987). Para Forteza (2001) durante o combate, o Judoca deve desenvolver a capacidade de antecipar as acções do adversário por meio de mudanças de acção da situação de defesa para a de ataque ou vice-versa a qualquer momento. A manutenção desta eficiência em situação de fadiga láctica é um factor decisivo para a vitória (Silva, 1988). Segundo Weineck (1999), a capacidade de coordenação táctica possibilita ao atleta dominar acções motoras tanto em situações previstas como imprevistas. Segundo Silva (1988), para a elaboração do treino táctico, tem que se levar em consideração vários factores: diferença entre categorias de pesos, repertório técnico de cada atleta, níveis de activação psicológica précompetitiva, lateralidade dominante, posturas que cada Judoca costuma adoptar em situação de combate, preferências por lutas em pé ou no solo, atletas agressivos, atletas oportunistas. Em suma, com tantos factores envolvidos é um desafio para um treinador montar uma estrutura de treino que se adapte a cada um destes contextos. Como já referimos, Jigoro Kano, ao criar o Judo teve por base: a Anatomia, a Fisiologia, a Psicologia, a Filosofia e a Biomecânica (Virgílio, 1996). Portanto todas estas áreas dão um contributo para o Judo, porém neste trabalho iremos dar ênfase aos aspectos biomecânicos presentes neste desporto. Para tal devemos conhecer termos referente a esta área. 17 Revisão da Literatura _ 2.3. Biomecânica A Biomecânica trata de analisar, quantificar e compreender as relações básicas entre forças actuantes e movimentos (Riehle, 2003). Para Amadio (1999), a biomecânica é uma área de conhecimento que se preocupa em analisar e explicar todos os factores físicos relacionados com o movimento humano. Movimentos esses que são estudados por meios de leis e padrões mecânicos, sendo consideradas a técnica de execução do movimento e as características morfológicas e anatómicas do executante. Ainda o mesmo autor afirma que o corpo humano é definido como um complexo sistema de segmentos articulados, que se encontram em equilíbrio estático ou dinâmico. O movimento é produzido pelo resultado de forças internas e externas actuando fora do eixo articular, provocando deslocamentos angulares dos segmentos corporais (Amadio e Duarte, 1996). Segundo Duarte (2001) o movimento de um segmento corporal ocorre devido às forças internas oriundas das contracções musculares, que exercem tracção nos ossos, através dos ligamentos e tendões; porém só ocorre movimento de um segmento quando estas forças internas são maiores do que as forças externas que possivelmente poderiam se opor ao movimento, desde que este movimento esteja sendo executado contra a acção da gravidade e não a favor. A área de actuação da biomecânica é muito ampla, mas podemos subdividir a Biomecânica em áreas fundamentais, tais como: a Biomecânica Ergonómica (do trabalho ou ocupacional), a Biomecânica Clínica (ortopédica e traumatológica) e a Biomecânica Desportiva. Em todas estas áreas estão sempre presentes elementos como: eficiência da transformação de energia em trabalho, braço de alavanca, centro de gravidade, inércia, momento de força e aceleração angular (Hay, 1998). 18 Revisão da Literatura Ainda o mesmo autor afirma que do ponto de vista físico a mecânica está dividida em três ramos: Mecânica dos Corpos Rígidos, Mecânica dos Fluidos e Mecânica dos Corpos Deformáveis. A Mecânica dos Corpos Rígidos comporta a Estática e a Dinâmica, sendo que esta última ainda se divide em Cinemática e Cinética (Duarte, 2001). Para Hall (2000) a Mecânica pode ser considerada a “Ciência que trata das leis dos equilíbrios e do Movimento”. A Dinâmica é o ramo da Mecânica que estuda os corpos em movimento e as forças que agem sobre eles. Segundo Vilas Boas & Sousa (2001) cinemática e a cinética são partes da dinâmica. Cinemática refere-se ao deslocamento de todo o corpo em relação a um referencial absoluto e aos deslocamentos relativos de cada segmento em relação ao respectivo apoio, ou a outro ponto do corpo. Ainda acrescenta que é o estudo da geometria do movimento, ou seja ocupa-se com a descrição matemática do movimento, e não se preocupam com as forças que causam ou são resultantes deste movimento. Já a cinética refere-se as causas deste movimento, isto é as forças actuantes neste processo. Em outras palavras, a diferença básica entre Cinemática e Cinética é que a primeira faz a descrição de movimentos, sem considerar a força que produz o movimento, sendo que na segunda, a importância dada à força é fundamental (Hall, 2000). Na Figura 2.3 temos uma noção detalhada de como a mecânica está dividida. 19 Revisão da Literatura _ MECANICA Mecânica dos Corpos Rígidos Mecânica dos Fluidos Estática Mecânica dos Corpos Deformáveis Dinâmica Cinemática Cinética Linear Angular Linear Angular Posição, Velocidade Aceleração Posição, Velocidade Aceleração Força Torque Figura 2. 3: Organograma – Mecânica. Adaptação de EEFE, 2008. Quando falamos de biomecânica, particularmente em análises dinâmicas dos corpos, não podemos deixar de mencionar termos que estão intimamente relacionados com este processo. São vários os aspectos envolvidos, porém descrevermos apenas alguns deles mais relevantes para este trabalho: posição, movimento, equilíbrio, alavancas. 2.3.1 Posição Segundo Vilas-Boas & Sousa (2001), a posição do objecto está relacionado com a sua localização no espaço levando em consideração um sistema referencial. Ou seja para darmos as coordenadas da posição de um certo objecto, temos que levar em consideração qual é referencial que está a ser adoptado. 20 Revisão da Literatura 2.3.2 Movimento Segundo Vilas-Boas & Sousa (2001), o movimento de um corpo é um evento que ocorre sempre num espaço de tempo, está portanto relacionado com a mudança de posição em função do tempo. Ou seja, é a comparação entre a posição de um objecto num determinado instante de tempo e a sua posição noutro instante. 2.3.3. Equilíbrio De acordo com Fernandes et al. (1993), o termo “equilíbrio” é oriundo do latim “aequilibriu” e, em seu sentido literal, significa “Estado de um corpo solicitado por duas ou mais forças que se anulam entre si”. Sendo referido em diversas situações e áreas de conhecimento, o equilíbrio quase sempre está relacionado a uma condição de estabilização, meio-termo, balanceamento, moderação. Carr (1998) coloca o equilíbrio como sendo a capacidade de neutralizar forças que poderiam perturbar o estado de um corpo, o qual requer coordenação e controle. De acordo com Hay (1993), embora o equilíbrio seja dado como equivalente à estabilidade de um corpo, esta significa a quantidade de resistência que os indivíduos colocam contra o distúrbio de seu equilíbrio. Segundo Enoka (2000), o equilíbrio mecânico existe quando o somatório de forças que agem sobre determinado sistema é zero. Hay e Reid (1985), e Hall (2000) concordam que a estabilidade corporal tem a ver com o estado de equilíbrio do corpo. A resistência à aceleração angular ou linear e a capacidade do indivíduo em assumir e manter uma determinada posição refere-se ao equilíbrio corporal do sujeito. Tratando mais especificamente da postura do corpo, seja aquela ideal em posição bípede ou aquela mantida em situações de desportos, temos que o controle postural é algo bastante complexo e que depende da interacção de 21 Revisão da Literatura _ diversos sistemas orgânicos. Segundo Enoka (2000), o objectivo da actividade postural é manter a estabilidade do sistema músculo-esquelético. Duarte (2000) complementa com a afirmação de que a manutenção do equilíbrio corporal e postural humano é uma tarefa bastante complexa, principalmente pelo facto de termos assumido uma nova postura ao longo da evolução da espécie. A mudança do apoio quadrúpede para o bípede, solicitou do organismo humano um esforço maior para manutenção desta postura, em virtude da acção das diversas forças que o corpo humano sofre, constantemente. Para Duarte (2000) o equilíbrio mecânico do corpo é desejável em diversas situações no âmbito da actividade e educação física. Algumas situações pedem que o indivíduo esteja menos estável que normalmente, como acontece na saída de bloco das corridas de Atletismo, na saída de bloco da Natação ou no arremesso de lance livre do Basquetebol. Em outras, uma estabilidade maior é necessária, por exemplo em algumas posições de defesa e ataque em lutas como o Judo. Segundo Hay (1993) existem as seguintes formas de equilíbrio: (i) estático, (ii) dinâmico, (iii) estável, (iv) instável e (v) neutro. 2.3.3.1. Equilíbrio estático Equilíbrio estático é garantido quando o somatório de todas as forças actuantes no corpo – verticais e horizontais – é igual a zero, e quando a soma de todos os torques é igual a zero (Hay e Reid, 1985; Hall, 2000). Quando uma dessas condições é violada, o equilíbrio estático deixa de existir, interferindo na resistência linear e angular que o objecto possuía (Hamill e Knutzen, 1999). 22 Revisão da Literatura A questão do equilíbrio, bem como toda a complexidade envolvida na obtenção e manutenção deste, é notada quando assumimos a posição erecta. A tarefa de manter o equilíbrio torna-se extremamente difícil quando a capacidade de manter a postura erecta se deteriora (Duarte, 2000). 2.3.3.2. Equilíbrio dinâmico Identificado originalmente pelo matemático francês Jean Le Rond D’Alembert, este conceito (princípio de D’Alembert) é aplicado a corpos em movimento a uma velocidade constante, seja angular ou linear. O equilíbrio está entre as forças que estão a ser aplicadas no corpo (Hall, 2000). 2.3.3.3. Equilíbrio estável O equilíbrio diz-se estável quando um corpo volta à posição original logo após receber a acção de uma força perturbadora, partindo de uma posição de equilíbrio estático (Hay, 1993; Hamill e Knutzen, 1999; Zatsiorsky, 2002). O objecto possui estabilidade quando, após uma perturbação, volta à sua posição de equilíbrio (Enoka, 2000; Watkins, 2001). 2.3.3.4. Equilíbrio Instável É quando um corpo tende a mover-se, partindo de uma posição de equilíbrio, sem que consiga voltar à sua posição de origem (Hay, 1993). Segundo Zatsiorsky (2002), um objecto está em equilíbrio instável quando, após uma perturbação, o mesmo não volta à sua posição de equilíbrio. Pode haver equilíbrio em situações extremamente instáveis, por exemplo um bailarino que se equilibra na ponta dos seus pés (Carr, 1998). 23 Revisão da Literatura _ 2.3.3.5. Equilíbrio Neutro ou Indiferente Segundo Hay (1993) um corpo em equilíbrio neutro é aquele que recebe aplicação de forças e muda o seu posicionamento sobre uma superfície, continuando em equilíbrio nesta nova posição. Uma situação em que o equilíbrio neutro ou indiferente está presente é por exemplo quando nos encontramos em decúbito dorsal e, após uma perturbação/aplicação de força, passamos ao decúbito ventral (ou o contrário). Nas duas posições, o nosso corpo permanece em equilíbrio. 2.3.4 Factores que interferem na estabilidade do corpo Existem vários factores que influenciam a estabilidade dos corpos, entre estes podemos destacar os seguintes: projecção do centro de gravidade, distância do CM até ao solo, inércia, tamanho da base de sustentação, força de atrito, e além destes também existem factores neuromusculares e fisiológicos que devem ser levados em consideração (Carr 1998). 2.3.4.1 Projecção do Centro de Massa O Centro de gravidade (CG) é o ponto por onde passa o suporte do vector resultante do somatório das forças peso do corpo. É um ponto virtual, e é equivalente ao centro de massa de um corpo, local onde a massa deste corpo se supõe concentrada (Hay, 1993). A estabilidade do corpo está relacionada, mais especificamente, à projecção do CM na base de sustentação. Esta base delimita a área que suporta o restante do corpo em qualquer posição. Geralmente, é a área do solo englobada pelos pontos de contacto com o objecto. Pode acontecer, entretanto, que a base de sustentação do corpo não esteja abaixo deste (Carr, 1998). Ainda o mesmo autor acrescenta que a estabilidade do objecto é mais 24 Revisão da Literatura garantida se a projecção do centro de gravidade se faz no centro geométrico da sua base de sustentação. Isto quer dizer que, quando a projecção do CM do indivíduo se afasta do centro geométrico de seu polígono de suporte, o corpo em questão fica mais vulnerável à instabilidade (Figura 2.4). Figura 2. 4: Projecção do centro de massa do corpo na área da base de sustentação. Na primeira situação o centro de massa está próximo do centro da base de sustentação. Já na segunda este encontra-se nos limites da área desta base, sendo portanto mais fácil movê-lo para fora desta. 2.3.4.2. A altura da localização do CG A altura da localização do CM em relação aos limites da sua base de sustentação interfere na estabilidade de um corpo. Quanto mais baixa, é a sua posição, mais estável estará o corpo (Carr, 1998; Hay, 1993). 2.3.4.3. Inércia A inércia pode ser definida como a propriedade que todo o corpo material tem de manter o seu estado, quer seja de repouso ou movimento uniforme, (Donskoi e Zatsiorsky, 1988). Sendo assim, a estabilidade do corpo dá-se pela sua resistência à aceleração linear e angular, logo um corpo muito 25 Revisão da Literatura _ maciço, que apresente maior momento de inércia (massa), possui maior estabilidade em manter o seu estado de movimento quando comparado com outro menos maciço (Carr, 1998). Neste caso, não somente a massa é importante, mas também a sua distribuição no corpo em relação ao eixo de movimento é crucial para determinar a resistência à alteração do estado de movimento de um objecto. O momento de inércia, que é mensurável, é uma medida de resistência a movimentos de rotação. É uma quantidade modificável porque há muitos outros eixos pelos quais o objecto pode girar (Carr, 1998). A equação a seguir mostra como calcular o momento de inércia de um corpo: (I= Σ M. d² ), sendo (I) o momento de inércia, (m) é a massa do objecto, (d) a distância do centro de massa de cada elemento ao eixo de rotação (Vilas-Boas e Sousa, 2000). Sendo d elevado ao quadrado, torna-se evidente que a distribuição da massa do corpo em relação ao eixo do movimento é muito mais importante que a quantidade total de massa do corpo. Relativamente aos momentos de inércia presentes no corpo humano, torna-se ainda mais complicado já que, em qualquer movimento que o indivíduo venha a fazer, o eixo de movimento muda, alterando a quantidade de momento de inércia daquele instante. Desta forma o princípio da inércia é utilizado na divisão de categorias de lutas, quando, além de dividir os atletas por idade, a instituição que organiza as lutas leva em consideração a massa do sujeito, já que sujeitos mais pesados oferecem maior resistência às alterações do seu estado de movimento, quando comparados com os mais leves (Franchini, 2001). 2.3.4.4. Tamanho da base de sustentação O tamanho da base de sustentação também interfere na estabilidade do corpo. Quanto maior for o seu polígono de sustentação, maior será a capacidade do indivíduo em resistir à acção de forças desestabilizadoras. Isto quando a projecção do centro de gravidade do indivíduo se faz no centro da 26 Revisão da Literatura sua base de suporte. Uma área aumentada dificulta a saída da projecção do CM para fora dos limites da base (Carr, 1998; Hamill e Knutzen, 1999). A Figura 2.5 mostra duas situações em que de acordo com o posicionamento dos nossos pés, há um aumento da base de sustentação, o que faz com que o corpo tenda a responder de maneira distinta a uma mesma força. Na primeira situação, como a base é menor, este fica mais propício ao desequilíbrio quando comparado com a segunda situação. Figura 2. 5: Tamanho da base de sustentação e influência na instabilidade do corpo. É importante notar que o aumento da base de suporte pode garantir maior estabilidade em alguns planos e, noutros, não. Quando o indivíduo, em pé, aumenta a sua base sustentação afastando os seus pés lateralmente, provoca maior resistência às forças externas (Watkins, 2001). O afastamento dos pés, independentemente do sentido e direcção que venham a tomar, deve ser adequado às características do sujeito e ao que se pretende fazer, pois, pode não atender a estas necessidades e a afirmação citada não se tornar verdadeira (Carr, 1998). 27 Revisão da Literatura _ O artifício de se ampliar a base de sustentação para garantir maior estabilidade é frequente no desporto. Nas acções defensivas das lutas, em geral, o lutador aumenta a sua base para dificultar a sua queda pelo oponente. Já em posições de ataque, o mesmo pode acontecer justamente para que o lutador em vantagem mantenha a sua estabilidade numa determinada posição (Franchini, 2001). No entanto nem sempre uma grande estabilidade é desejada, principalmente quando se trata dos desportos, uma vez que em muitas situações, os atletas tendem a ficar menos estáveis, afim de vencer mais facilmente a inércia e efectuar um ataque, como é o caso do Judo. 2.3.4.5. Coeficiente de atrito A força de atrito é uma força de contacto que indica a facilidade ou dificuldade de movimento entre dois corpos em contacto. A sua acção é paralela à interface de duas superfícies que estejam em contacto, durante o 88movimento, ou na eminência do movimento, de uma superfície sobre a outra. Sendo assim, um factor importante na garantia de estabilidade do corpo é o atrito presente entre os corpos em contacto (Hamill e Knutzen, 1999). 2.3.4.6 Factores neuromusculares, fisiológicos, psicológicos Os factores neuromusculares, fisiológicos e psicológicos fazem parte ou afectam o sistema sensorial, sistema que é responsável pelo controle postural e fornece informações acerca das posições relativas dos segmentos do corpo, bem como da magnitude das forças aplicadas sobre o mesmo. Estes sistemas actuam de forma complexa, integrada, redundante e diferenciada, para cada perturbação sobre o corpo humano (Duarte, 2001). Os factores fisiológicos estão inseridos no próprio funcionamento dos sistemas sensoriais que afectam o equilíbrio humano (vestibular, somático, sensorial e auditivo), além de transformações bioquímicas no organismo. A fadiga é um estado que pode afectar consideravelmente o estado de equilíbrio 28 Revisão da Literatura do corpo, afectando também outros aspectos do indivíduo, como a capacidade de concentração para a execução de determinada tarefa motora. Entre os factores psicológicos, temos o stress que desencadeia uma série de outros distúrbios no corpo, dificultando também a concentração do indivíduo (Duarte, 2000). Este trabalho trata de uma investigação na área do Judo, modalidade esta que se caracteriza pela utilização de golpes a fim de provocar desequilíbrio no Judoca e posteriormente leva-lo ao solo. Para que esse desequilíbrio ocorra de maneira satisfatória, é necessária a ajuda de um instrumento físico chamado “Alavanca”. 2.3.5. Alavancas As alavancas são máquinas simples, compostas, basicamente, por uma haste rígida e um fulcro. As distâncias do fulcro ao ponto de aplicação da força determinam a qualidade das alavancas (Carr, 1998; Hay, 1993). A liberdade de movimentos articulares no corpo humano é limitada por alguns factores de ordem mecânica. Assim, os nossos movimentos fazem-se, dentre outros princípios, a partir do funcionamento da alavanca. A distância entre o fulcro e o ponto de aplicação da força resistente (a resistência) denomina-se braço de resistência (Carr, 1998; Hay, 1993). As alavancas são consideradas máquinas simples por serem constituídas na maioria das vezes por uma única peça e a vantagem da sua utilização está na capacidade de realizar trabalho, gastando um mínimo de energia. As alavancas possuem duas funções básicas: a) podem aumentar o efeito gerado por uma força aplicada sobre um corpo, força esta, consideravelmente, menor que o peso do corpo; b) podem aumentar a velocidade com a qual um corpo pode ser movido (Hay, 1993). As alavancas não são necessariamente longas, finas ou tal como barras. São materiais 29 Revisão da Literatura _ rígidos, rectos ou curvos, móveis em torno de um eixo. É importante a ressaltar é que as duas funções combinadas dependem apenas das distâncias entre as linhas de acção da força motora e a força de resistência. Fazendo um paralelo com a estrutura do corpo humano, considera-se as articulações como o eixo das alavancas e braço de alavanca é a distância do eixo da articulação ao ponto de aplicação da força, que pode ser de natureza interna ou externa. 2.3.5.1. Classificação A classificação das alavancas é feita de acordo com a localização relativa do eixo de rotação (fulcro) e os pontos de acção da força motora e da força de resistência (Carr, 1998; Hay, 1993). Estão classificadas em: 1) Primeira classe ou (interfixa): O fulcro está posicionado entre os pontos de aplicação da força e da resistência (Figura 2.6). Figura 2. 6: Alavanca Interfixa. 2) Segunda classe (ou Inter-resistente): O fulcro está posicionado no fim do braço de movimento (ou na ponta), e a resistência é aplicada mais próxima dele que a força (Figura 2.7). Figura 2. 7: Alavanca Inter-resistente. 3) Terceira classe (ou Interpotente): O fulcro está posicionado no fim do braço do movimento (ou na ponta), a força está entre a resistência e o eixo de rotação (Figura 2.8). 30 Revisão da Literatura Figura 2. 8: Alavanca Interpotente. 2.4. Biomecânica aplicada ao Judo Como já referimos Jigoro Kano, ao criar o Judo teve como por base algumas áreas de estudos para dar suporte à sua nova arte. Neste trabalho iremos dar ênfase aos aspectos biomecânicos presentes no Judo (Virgílio, 1996). São inúmeros os contributos da biomecânica para o desporto. Sendo assim, através desta área de conhecimento, pode-se tentar descrever, interpretar, explicar, modelar, simular, transformar ou optimizar o movimento desportivo (técnica desportiva) com a finalidade de optimizar equipamentos e materiais desportivos, optimizando assim a performance (eficiência da transformação de energia em trabalho) e prevenindo lesões (Amadio, 1999). Portanto podemos utilizar as técnicas de avaliação biomecânica, para melhor controlarmos um determinado gesto técnico, do Judo por exemplo, desta forma podemos minimizar os gastos de energia para obter uma melhor performance nos resultados dos Judocas. Segundo Hay (1998) força é a capacidade de gerar trabalho ou seja, é uma acção interna ou externa de um corpo com a tentativa de vencer a inércia de um sistema. A projecção do adversário no Judo para ser eficaz tem que resultar de uma força mínima a fim de provocar um desequilíbrio satisfatório no adversário. Conseguir desequilibrar o adversário é regra fundamental na primeira fase das técnicas de projecção (Nowoisky, 2005). Porém, mais importante que a quantidade de força empregada para gerar o movimento é saber utilizar esta 31 Revisão da Literatura _ força nos pontos e momentos óptimos (Robert, 1980). O mesmo autor diz ainda que para a aplicação de uma técnica há duas possibilidades: (i) preparar o adversário para receber a técnica, puxando-o ou empurrando-o de acordo com a direcção onde se pretende projectar o oponente; (ii) aproveitar um desequilíbrio oriundo de uma acção mal sucedida e então aplicar a técnica mais conveniente à oportunidade. É aqui nesta variável força, que os Judocas mais experientes utilizam o antigo principio de “ceder para vencer”, em que é utilizada a força do adversário contra ele mesmo, ou seja o Judoca recebe a força do seu oponente, aproveita a inércia e somando-a com a sua força aplicada em um momento e ponto óptimo tem êxito na sua projecção (Franchini, 2001). Podemos observar melhor este conceito na Figura 2.9. 1) 2) 3) Figura 2. 9: Somatório de forças dos Judocas (Watanabe e Avakian, 2001). Lasserre (1975) ainda reforça que quando um adversário não se encontra numa posição desequilibrada para que se tome proveito desta situação, há duas possibilidades: esperar que a oportunidade apareça ou criarmos a oportunidade. Ainda para o mesmo autor, o desequilíbrio no Judo pode ser executado em oito sentidos distintos. Para Mifune (1958) e Virgílio (1996) a essas diferentes formas de desequilíbrio chama-se o “hapo-noKuzushi” que significa “desequilíbrio em oito situações”: 1) À frente; 2) Atrás; 3) Ao lado direito 4) Ao lado esquerdo; 5) À frente e lado direito; 6) À frente e lado esquerdo; 7) Atrás e lado direito; 8) Atrás e lado esquerdo. 32 Revisão da Literatura A Figura 2.10 representa as diferentes posições do desequilíbrio. O lado escuro representa o ponto onde o Tori tenta fazer com que o Uke esteja a aplicar todo o seu peso, desta forma ficando desequilibrado. Em seguida o Tori vai tentar aplicar a técnica que se adapte melhor a essa situação. 7 2 8 4 3 5 1 6 Figura 2. 10: “hapo-no-Kuzushi”, o desequilíbrio no Judo, realizado em oito sentidos (Watanabe e Avakian, 2001). Partindo deste princípio, Segundo (Virgílio, 1998), a projecção do Judo ocorre em três fases: a) Kuzushi, que é o desequilíbrio do oponente, compreende à fase inicial da técnica, corresponde à principal etapa da projecção (Harter e Bates, 1985; Imamura et al, 2007). Segundo Mifune (1958), significa quebrar a postura do adversário, fazer com que o mesmo diminua a sua capacidade de reacção a um eventual ataque. Já Okano (1976), afirma que esta fase serve para fazer com que seja deslocado o centro de massa do adversário, para fora da sua 33 Revisão da Literatura _ base se sustentação, para desta forma ficar mais fácil de ser vencida a sua inércia; b) Tsukuri, que é o aspecto mecânico da técnica (Harter e Bates, 1985), compreende a entrada do golpe, o encaixe; fase desde o início da técnica propriamente dita até à perda de contacto do pé do Uke com o tronco, perna ou pé de ataque do tori. Para Imamura et al (2007) saber com exactidão o fim da fase de Kuzushi e o início da fase Tsukuri pode ser um tanto subjectivo. c) Kake, que é o ponto de máxima aplicação da força na projecção (Harter e Bates, 1985), compreende na projecção propriamente dita, a finalização. Corresponde à fase desde o fim da fase anterior até à queda completa do Uke. Segundo Lassere (1975) para uma boa realização da projecção é necessário um Kuzushi eficaz, energético e em tempo preciso. Para deslocarmos o nosso oponente para fora do eixo de sua base de sustentação, é necessário que haja um “torque” ou um “binário de força”. Adrian e Cooper (1995) definem torque como sendo a capacidade de produzir rotação de um sistema, sendo expresso pela fórmula: T= F.R.Sen γ, onde T é o torque, F é a força, R é a distância de aplicação da força ao eixo de rotação e Sen γ é o seno do ângulo de acção da força (Figura 2.11). Figura 2. 11: Torque no eixo de base (Potierj, 2003). Quanto maior for a distância da linha de acção da força ao ponto fixo (pólo ou fulcro), melhor será a vantagem mecânica. Se a linha de acção da força passar pelo ponto fixo, não haverá rotação no sistema, pois o braço de 34 Revisão da Literatura alavanca será igual a zero (d = 0). É por esse motivo que Robert (1980) afirma que a força tem que ser aplicada em locais óptimos e precisos. Já binários de forças para Hay (1993), são duas forças, actuando em sentidos contrários, com linhas de forças de acção distintas, que por sua vez provocam rotação a um sistema (Figura 2.12). Figura 2. 12: Binários de forças (Potierj, 2003). 2.4.1. Binários de forças e alavancas aplicados no Judo Sacripanti (1987) introduz uma classificação biomecânica das técnicas de projecção do Judo, segundo dois grandes grupos: A) Técnicas de binários de forças; B) Técnicas de alavancas ou momento de forças. As técnicas de binário de forças são aquelas em que o atacante utiliza um binário de forças para projectar o adversário. Para Sacripanti (1987) muitas técnicas de binário (as que são aplicadas pelo Tori só com uma perna de apoio) podem ser descritas, a partir de uma só acção base do Tori: a rotação do corpo sobre a articulação coxo-femural nos seus três graus de liberdade (Figura 2.13 e 2.14). 35 Revisão da Literatura _ Figura 2.13: Rotação no plano horizontal e frontal (Sacripanti, 1987). Figura 2.14: Rotação no plano sagital (Sacripanti, 1987). Sacripanti (1987) afirma que o êxito da sua aplicação no Uke está fortemente relacionado com a amplitude de movimento desta articulação. De facto, os Judocas com um “tokui-waza” (técnica preferida) pertencente ao grupo “ashi-waza” (técnica de pernas, associada a binários de forças), caracterizam-se por possuir uma amplitude de movimento superior na articulação coxo-femural. Por outro lado, aqueles com elevada eficácia em técnicas do grupo “koshi-waza” (técnicas de anca, associadas a uma alavanca) revelam índices superiores de amplitude de movimentos de rotação do tronco e também do quadril, nomeadamente na zona sacro-lombar da coluna vertebral. 36 Revisão da Literatura 2.4.1.1. Classificação das Técnicas de Binário Segundo Sacripanti (1987), as técnicas de binário podem ser classificadas em (i) binário de braço e perna; (ii) binário de tronco e braço; (iii) binário de tronco e perna; e (iv) binário só com os braços. As técnicas que utilizam binário com braço e perna são como exemplo: “ko-uchi-gake”; “harai-tsuri-komi-ashi”; “o-soto-gake”, etc. (Figura 2.15). Figura 2.15: Binário de braço e perna (Sacripanti, 1987) A técnica que utiliza binário de tronco e braço é a técnica “morote-gare” (Figura 2.16). Figura 2.16: Binário de tronco e braço (Sacripanti, 1987). As técnicas que utilizam binário de tronco e perna são: “o-soto-otoshi”, o “hane-makikomi”, etc. (Figura 2.17). 37 Revisão da Literatura _ Figura 2.17: Binário de tronco e perna (Sacripanti, 1987). As técnicas que utilizam binário só com os braços são: “kuchiki-daoshi”, “te-guruma”, “kibisu-gaeshi”, etc. (Figura 2.18). Figura 2.18: Binário com os braços (Sacripanti, 1987). 2.4.1.2. Técnicas de alavanca Segundo Franchini (2001) no Judo são utilizadas algumas técnicas baseadas em sistemas de alavancas, sendo a localização do fulcro dependente das características tácticas e também da constituição física do Tori. Segundo Sacripanti (1987), neste grupo de técnicas o atacante utiliza uma alavanca física para projectar o seu adversário, fazendo-o girar sobre um ponto de bloqueio (fulcro). As técnicas do grupo de alavanca podem ser caracterizadas 38 Revisão da Literatura com base no comprimento do braço de alavanca, ou seja, a distância entre o fulcro e o ponto de aplicação da força. O Quadro 2.2 mostra a classificação das técnicas de alavancas segundo a distância entre o ponto de aplicação da força e o ponto de apoio (Sacripanti, 1987). Quadro 2. 2: Técnicas de aplicação de alavanca Braço de Alavanca BRAÇO MÉDIO BRAÇO MÁXIMO Ponto de aplicação (fulcro) fulcro no joelho fulcro junto aos maléolos Técnica hiza-guruma ashi-guruma tomoe-nage sumii-otoshi hiki-komigaeshi BRAÇO VARIÁVEL Ponto de bloqueio em movimento entre a cintura pélvica e os joelhos tsuri-goshi sode-tsuri-komigoshi uki-Goshi B1 – BRAÇO DE ALAVANCA MÉDIO – FULCRO NO JOELHO (Figura 2.19) Figura 2.19: Braço de alavanca médio. B2 – BRAÇO DE ALAVANCA MÁXIMO – FULCRO JUNTO AO MALEOLO (Figura 2.20). 39 Revisão da Literatura _ Figura 2.20: Braço de alavanca máximo. B3 – BRAÇO DE ALAVANCA VARIÁVEL – FULCRO VARIÁVEL DA CINTURA AO JOELHO (Figura 2.21). Figura 2.21: Braço de alavanca variável. 2.4.2. Quantidade de movimento Quantidade de movimento, pode ser entendida como a força produzida por todo corpo em movimento. É o resultado do produto da massa corporal pela velocidade, sendo também proporcional ao impulso da força. Sendo assim um Judoca ao iniciar a execução de uma técnica de Judo, transfere a sua quantidade de movimento para o adversário (Imamura et al, 2006; Watanabe e Avakian, 2001). Essa transferência facilita o desequilíbrio, tendo como consequência a queda do Uke (Figura 2.22). Figura 2. 22: Técnica “tai-otoshi” (Watanabe e Avakian, 2001). Podemos observar que a força de rotação que o Judoca de branco exerce, é transmitida para o adversário, sendo assim, quanto maior for a velocidade e a massa do Judoca que efectua um movimento deste tipo, maior 40 Revisão da Literatura será a força produzida. Ocorre então um maior desequilíbrio do oponente, aumentando de forma significativa a probabilidade de êxito. 2.5. Técnica em estudo neste trabalho – “Yoko-tomoe-nage” Antes de mencionar a técnica investigada, precisamos de conhecer a técnica que promoveu a sua origem: O “Tomoe-nage”. Segundo Kashiwazaki (1992) esta técnica, é sem dúvida uma das mais conhecidas nos desportos de combate. “Tomoe-nage” significa “projecção em círculo”, ou seja, o Tori avança apoiando o seu pé esquerdo entre as pernas do Uke, em seguida, atira-se de costas para o solo, colocando o pé na linha do cinturão do adversário e projecta-o por cima da sua cabeça (Figura 2.23). Figura 2.23: Técnica Tomoe-nague (Inman, 1988). Essa técnica, segundo um dos documentários do History Channel, era utilizada pelos guerreiros samurais, pois achavam que quanto mais forte e mais rápida fosse a projecção, mais alto o adversário iria, tendo como consequência uma maior velocidade de queda. Como os samurais utilizavam armaduras muito pesadas, com o impacto da queda estes sofriam danos severos provocados pela pressão desta no tórax. Segundo Kashiwazaki (1992), Jigoro Kano, estudou em várias escolas de jiu-jitsu, ente elas a Shinyo Ryu, que se baseava no trabalho de solo, e a Kito Ryu, onde teve acesso aos estudos das técnicas de projecções. O mesmo autor refere que outras escolas também praticavam técnicas de projectar o 41 Revisão da Literatura _ oponente; era comum a maioria delas utilizarem o “tomoe-nage”, porém com outros nomes como “ke-gaeshi” que significa “giro com patadas”, “ke-age” que significa “giro com suspensão ou levantamento”, também existia o “shimetomoe” e o “juji-tomoe”, sendo que estas duas últimas faziam com que o adversário desistisse do combate, pois ficava impossibilitado de defender-se. Jigoro Kano, observando que essa técnica era muito utilizada incluiu-a no Gokyu, que é o conjunto das quarenta principais técnicas do Judo. Naquela época, segundo Kashiwazaki (1992), um dos Judocas que mais utilizava esta técnica, com precisão, era o lendário Nakamura. Kashiwazaki (1992) afirma que esta técnica teve resultados significativos nos primeiros campeonatos japoneses, e que as categorias que mais utilizam este tipo de técnica são as de peso ligeiro, uma vez que estes judocas são muito rápidos e a qualquer momento podem surpreender os seus adversários, mesmo que não consigam a projecção, podem utilizar esta técnica para dar sequencia a outra técnica no solo. É por este motivo que a maioria dos judocas que a utilizam, dominam também a técnica de Ne-waza (combate no solo). Uma prova disso é o lendário mestre Kyuso Mifune que não pesava mais que 50kg, mas conseguia vencer a grande maioria dos seus combates com atletas bem mais pesado que ele (Kashiwazaki, 1992). Durante os anos 60 surgiu uma nova forma de tomoe-nage, que se caracteriza por ser aplicado de lado, sendo conhecido como “yoko-tomoenage”. Segundo Inman (1988) esta técnica surgiu pela necessidade de adaptação, pois quando aplicavam o Tomoe-nage, os atletas que sofriam esta técnica passavam muito tempo no ar, sendo assim, aqueles mais ágeis e com uma boa habilidade em ginástica, conseguiam girar facilmente e cair de frente ou em pé, sendo assim a pontuação não era consolidada, pelo que se começou a tentar encontrar uma forma desta técnica ser mais rápida e que o adversário não tivesse tempo de reacção, foi então que surgiu a técnica “ yokotomoe-nage”. 42 Revisão da Literatura 2.5.1. Descrição da técnica Segundo Kashiwazaki (1992) esta variação tem aspectos muito similares ao “tomoe-nague”, pois o Tori projecta-se para o solo, não de costas mas sim de lado, e na fase de ataque, faz uma aproximação abduzindo os seus braços, para facilitar esta aproximação. Em seguida ele descreve uma trajectória lateral oblíqua colocando o pé na linha do cinturão do adversário, exercendo uma força (Figura 2.24), a fim de projectar o seu adversário não por cima da cabeça mas sim para o lado (Figura 2.25), que pode ser para o lado da gola ou da manga. Desta forma, o Uke, perde o sentido espaço-temporal, não sabendo para que lado vai cair, e na maioria das vezes o Uke não tem tempo suficiente para girar e defender-se da técnica em questão (Figura 2.26). Para Inman (1988) a maioria dos yoko-tomoe-nages é projectado pelo lado da manga e não da gola. Figura 2. 24: “yoko-tomoe-nage” fase kuzushi Figura 2. 25: “yoko-tomoe-nage” fase tsukuri 43 Revisão da Literatura _ Figura 2. 26: “Yoko-tomoe-nage” fase kake. Segundo Kashiwazaki (1992) não demorou muito para que esta variação de técnica ficasse famosa, pois nos jogos Olímpicos de Munique em 1972, esta técnica foi utilizada pelo judoca Taka Kawaguchi, o qual venceu na categoria de peso ligeiro. Outro grande apreciador desta técnica foi Kiyou Minami, campeão do mundo nos pesos ligeiro nos anos de 1973 e 1975, utilizando esta mesma técnica. É conveniente destacar, que existe uma semelhança entre os praticantes de yoko-tomoe-nage e tomoe-nage, de épocas passadas quando comparamos com os actuais, pois segundo o mesmo autor, a maioria deles, são de estatura baixa, categoria de peso inferiores, são muito rápidos e são especialistas no combate no solo. Esta técnica permite a um atleta de menor porte físico, tanto em estatura, como em peso, vencer adversários mais fortes, utilizando o verdadeiro princípio do Judo, que é o mínimo de esforço para o máximo de eficiência (Imamura et al, 2006). 2.5.2. Principais combinações com estas técnicas Segundo Guerreiro (2003) o Judo é uma modalidade de estrutura complexa, os atletas têm que conseguir meios para distrair o adversário afim de conseguir o seu objectivo, e para isto utilizam técnicas conjugadas. Segundo Crespin (2003), esse tipo de combinação chama-se “hemhaku-henkawaza”. Para Kashiwazaki (1992), antes de realizar esta técnica, podemos fazer uma acção prévia para desta forma quebrar melhor a postura do adversário e 44 Revisão da Literatura em seguida aplicar a técnica em questão. Outra possibilidade é, após um ataque mal sucedido do yoko-tomoe-nage, aproveitar a situação, como já foi relatado anteriormente e aplicar uma técnica específica de solo. Algumas destas combinações mais comuns são: uchi-mata e yokotomoe-nage (Figura 2.27); ko-uchi-gare e yoko-tomoe-nage (Figura 2.28); yokotomoe-nage e juji-gatame (Figura 2.29). Figura 2. 27: Combinação: uchi-mata para yuko-tomoe-nage (Kashiwazaki ,1992) Figura 2. 28: Combinação ko-uchi-gare para yuko-tomoe-nage (Kashiwazaki,1992) Figura 2. 29: Combinação Yuko-tomoe-nage para juji-gatame (Kashiwazaki,1992) 45 3. Objectivos Objectivos 3. Objectivos Pretende-se efectuar um estudo de caso, através de uma análise cinemática da técnica de projecção de Judo, yoko-tomoe-nage (“projecção em circulo para o lado”). Como elementos analíticos e diagnósticos de avaliação técnica, é utilizado um método descritivo qualitativo, baseado num modelo cinemático. O trabalho tem como objectivos específicos: fazer a analise cinemática tendo como referência as seguintes variáveis: Tempo, Ângulo, Distância e Velocidade. Quanto ao “Tempo” pretende-se analisar: 1 - Duração média de execução da técnica. 2 - Duração parcial de cada fase, “ Kuzushi”, “Tsukuri”, Kake” Quanto aos “Ângulos”, pretende-se analisar as seguintes situações tendo como referencia o Tori: 1) Ângulo entre o braço esquerdo e o tronco; 2) Ângulo entre o braço direito e o tronco; 3) Ângulo entre o braço e antebraço direitos; 4) Ângulo entre o braço e antebraço esquerdos; 5) Ângulo entre o tronco inferior e coxa lado direito; 6) Ângulo entre a coxa e perna direitas; 7) Ângulo entre a coxa e perna esquerdas. A escolha dos ângulos entre o braço e o tronco e também entre o braço e o antebraço de ambos os lados deu-se pela importância em se obter um bom controlo da técnica. Também os ângulos formados entre a coxa e o tronco inferior e a coxa e a perna de ambos os lados são relevantes dado a sua influência na precisão do local de posicionamento do pé de ataque. Salientamos que estes parâmetros são analisados ao longo de toda a 49 Objectivos ________________________________________________________________________ ___ trajectória da execução técnica, destacando-se o preciso momento do início do Tsukuri, tendo como referencia o Tori: Quanto à “Distância”, pretende-se analisar as seguintes situações: 1) Distância entre a Anca do lado direito do Tori e o pé direito do Uke; 2) Distância entre a Anca do lado direito do Tori e o pé esquerdo do Uke; 3) Distância entre o Ombro direito do Tori e o pé direito do Uke; 4) Distância entre o Ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke; 5) Distância entre a Anca e o calcanhar, ambos do lado esquerdo do Tori; 6) Distância entre o Cotovelo e a crista ilíaca, ambos lado direito do Uke; 7) Distância entre o Pé de ataque Tori e o Centro de massa (CM) do Uke; 8) Distância horizontal do (CM) e o pé esquerdo, ambos do Uke. A importância de sabermos as distâncias numeradas de 1 a 7 dá-se pelo facto de estas reflectirem um bom posicionamento do Tori em relação ao Uke, pois caso não haja uma boa aproximação a técnica poderá não ser eficaz. Já a distância número 8, informa o quanto o CM se deslocou da sua base de sustentação. Quanto à “Velocidade” pretende-se verificar: 1 -Velocidade do pé de ataque, comparando as fases de Kuzushi e de Tsukuri; 2 -Velocidade do Punho esquerdo e direito do Tori, e fazer uma comparação entre eles. Saber-se a velocidade do pé de ataque ao longo de toda a trajectória, permite-nos saber em que momento há uma maior impulsão deste segmento. E Já o comportamento das velocidades de ambos os punhos, permite-nos saber se há uma solicitação ao mesmo tempo de ambos os kumi-katas (“pegadas no judogi”) com a intenção de promover um maior desequilíbrio, ou se há uma predominância de um em relação ao outro, quando correlacionamos com as diversas fases da técnica. 50 4. Metodologia Metodologia 4. Metodologia 4.1. Caracterização da amostra A amostra foi constituída por dois praticantes de Judo, federados na Federação Portuguesa de Judo (FPJ). O Tori tem 31 anos de idade e 23 anos de prática, possui cinturão Negro de terceiro grau e vários títulos em competições nacionais e internacionais, a maioria destes obtidos com a utilização da técnica em estudo. O Uke tem 23 anos de idade e 17 anos de prática, é cinturão Negro de segundo grau e tem vários títulos em competições nacionais. Salienta-se que ambos têm uma massa corporal de 65kg. 4.2 Procedimentos para colecta dos dados A presente recolha de dados foi realizada em momentos distintos. Primeiro foram realizados vários estudos piloto, para definir e verificar procedimentos, como: distância e posicionamento das câmaras de vídeo, ajustes do Judogi para uma melhor visualização dos pontos a serem digitalizados e validação dos resultados da recolha, com vista a esquematizar e optimizar o processo laboratorial no presente estudo. Após este estudo prévio, foi realizada a recolha de dados a seguir descrita. 4.2.1. A estrutura Antes de iniciar a filmagem, de maneira a permitir a calibração e a reconstrução tridimensional das coordenadas dos pontos marcados no atleta, foi feito uma calibração, através da filmagem de uma estrutura metálica (sistema de referência - cubo) com altura de 2m, 1,5m de extensão e de 1,00m de profundidade (Figura 4.1). 53 Metodologia ________________________________________________________________________ ___ Figura 4. 1: Sistema de referência – Gaiola de calibração. 4.2.2. Preparação do sujeito Antes de iniciar a filmagem, foi necessário proceder-se às marcações dos pontos anatómicos, com marcadores postos na pele e nos Judogis do Tori e do Uke. Para uma melhor precisão de identificação destes pontos, após os estudos pilotos, foi necessário fazer uma adaptação no Judogi de ambos os atletas: casaco curto e ausência da calça (Figura 4.2). Figura 4. 2: Marcação dos pontos anatómicos através de fita cola e adaptação do Judogi. 54 Metodologia Para uma melhor segurança, com o intuito de prevenir lesões, os Judocas executaram um aquecimento prévio. Foi pedido aos Judocas que simulassem um início de uma situação de combate, desta forma haveria uma pequena oposição por parte do Uke. Foi efectuado uma kumi-kata3 inicial da seguinte forma: Tori “Mão esquerda na gola direita do Uke, mão direita na manga esquerda do Uke”. Para o Uke o kumi-kata foi realizado de forma inversa. Seguindo este posicionamento o Tori efectuou todas as tentativas com a mesma pegada, em que a perna direita era a de ataque (Figura 4.3). Figura 4. 3: Posicionamentos das pegas nos Judogis com pegadas opostas. O atleta realizou dez projecções, com um pequeno intervalo entre as repetições, de forma a ser instruído sobre a sua actuação e de realizar pequenos ajustes, como por exemplo ajustes nos respectivos Judogis 4.2.3. Análise cinemática do movimento A partir do momento em que se procedeu à calibração das câmaras, as mesmas permaneceram exactamente no mesmo local até ao final da recolha de imagens. Para a recolha de imagens foram utilizadas 3 câmaras de vídeo Sony, registando 50 imagens por segundo. Uma câmara foi colocada 3 Pegadas no Judogui do oponente. 55 Metodologia ________________________________________________________________________ ___ frontalmente ao par de atletas com o eixo óptico perpendicular à linha de projecção, as outras duas câmaras foram colocadas lateral e diagonal tendo como referencias à linha da projecção, formando uma estrutura triangular, conforme a Figura 4.4. Para uma maior fidedignidade no tratamento dos resultados, foi necessário que as câmaras estivessem previamente sincronizadas através de um operador de sincronismo. O sincronismo foi feito através de um disparo eléctrico sincrónico manual, desenvolvido no Laboratório de Biomecânica da FADE-UP. 2 3 2m y z 1m 1m 1,5 m x 1,5 m x Cubo de calibração z 1 Figura 4. 4: Representação esquemática do posicionamento das câmaras para a recolha de dados cinemáticos. O atleta efectuava a projecção após um sinal acústico, procedendo a um deslocamento no eixo antero-posterior para promover um balanço e reduzir a inércia do atleta projectado. 56 Metodologia A estrutura temporal das três fases (Kusushi, Tsukure e Kake) das projecções foi estimada da seguinte forma: 1. Kuzushi: Desde o início da técnica até ao contacto da ponta do pé do Tori com o tronco, mais precisamente na linha do cinturão do Uke. 2. Tsukure: Desde o fim do momento anterior, até à perda de contacto do pé de ataque direito com o tronco do Uke. 3. Kake: Desde o final do momento anterior até o contacto do dorso do Uke no tatami. Os dados cinemáticos foram determinados a partir do registo por vídeo obtido numa sessão realizada no pavilhão desportivo da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. As imagens foram registadas desde o início da abordagem ao balanço ântero-posterior, até ao contacto total do Uke com o tatami. 4.2.3.1. Análise de dados cinemáticos Para a análise de dados cinemáticos foi utilizado o sistema de análise tridimensional de movimento “Ariel Performance Analysis System” (APAS) da Ariel Dynamics Inc. Os procedimentos metodológicos efectuados para análise das imagens recolhidas, através do APAS, para cada câmara foram: 1. Recolha e registo da projecção: Consistiu na conversão das imagens registadas em fita magnética, para formato avi. 2. Definição do Modelo Espacial: Foi utilizado o modelo de Zatsiorsky citado por De Leva (1996), que se compõe de 24 pontos anatómicos de referência. Este modelo antropométrico compõe-se de 16 segmentos, considerando a cabeça, os segmentos pé, perna, coxa, mão, antebraço e braço para os dois lados, e o tronco dividido em parte superior, médio e inferior. A 57 Metodologia ________________________________________________________________________ ___ opção da divisão do tronco em três partes, resultou da discussão com o orientador e a verificação de torções e rotações do tronco a velocidades diferenciadas, pelo que se poderia tornar importante, registar o movimento particular das partes. Por outro lado, este modelo diferencia as posições dos centros de massa dos diversos segmentos e define as conexões que cada segmento tem com segmentos vizinhos. Foram também estabelecidas as ligações determinantes para que o sistema pudesse construir o "stick figure" (conforme Quadro 4.1). Após a introdução das coordenadas de posição (x, y, z) do sistema de referência utilizado iniciou-se a digitalização dos pontos anatómicos e do ponto de controlo, em cada fotograma. Os sistemas de análise que necessitam de digitalização manual dos dados, são sujeitos a erros associados às identificações visuais dos centros articulares (centros anatómicos). Quando a digitalização é feita automaticamente, presumivelmente reduz-se uma das fontes de erro. No nosso estudo não foi possível efectuar a digitalização automática devido ao carácter intrínseco do movimento de projecção, bem como ao uso do Judogi. Após terem sido efectuados os procedimentos previamente descritos para todas as imagens a analisar, realizou-se a reconstrução tridimensional das imagens a partir do procedimento “Direct Linear Transformation” (DLT). Para a utilização do DLT são necessários, no mínimo, seis pontos de referência para tornar a calibração da câmara possível. Estes pontos devem ter coordenadas espaciais conhecidas, não podem ser coplanares e devem envolver todo o espaço a ser ocupado pelo objecto durante o estudo. É imprescindível que os pontos sejam fixos e visíveis por todas as câmaras utilizadas. 58 Metodologia Nº Quadro 4.1: Pontos anatómicos de referência digitalizados. Pontos anatómicos Ligações Segmento 1 Vertex 2 7ª vértebra cervical 3 Ombro direito 4 Vertex Cabeça Cotovelo direito Ombro direito Braço direito 5 Punho direito Cotovelo direito Antebraço direito 6 Dedo médio Direito Punho direito Mão direita 7 Xifóide direito Ombro direito Tronco superior direito 8 Ilíaco direito Xifóide direito Tronco médio direito 9 Trocanter direito Ilíaco direito Tronco inferior direito 10 Joelho direito Trocanter direito Coxa direita 11 Maléolo direito Joelho direito Perna direita 12 Calcaneo direito Metatarso direito Planta do pé 13 Metatarso direito Maleolo direito Dorso do Pé direito 14 Ombro esquerdo Ombro direito 15 Xifóide esquerdo Ombro esquerdo Tronco superior esquerdo Xifóide direito 16 17 Ilíaco esquerdo Trocanter esquerdo Xifóide esquerdo Tronco médio Ilíaco direito esquerdo Ilíaco esquerdo Tronco inferior Trocanter direito esquerdo 18 Joelho esquerdo Trocanter esquerdo Coxa esquerda 19 Maléolo esquerdo Joelho esquerdo Perna esquerda 20 Calcaneo esquerdo Metatarso esquerdo Planta do Pé esquerdo 21 Metatarso esquerdo Maleolo esquerdo Dorso do pé esquerdo 22 Cotovelo esquerdo Ombro esquerdo Braço esquerdo 23 Estiloíde esquerdo Cotovelo esquerdo Antebraço esquerdo 24 Dedo esquerdo Estiloide esquerdo Mão esquerda 25 CM Para suavizar as curvas referentes às posições, utilizou-se um filtro digital, com frequências de corte de 7 Hz para o eixo dos X, 7 Hz para o eixo dos Y e 7 Hz para o eixo dos Z, já que este filtro remove ou atenua o ruído 59 Metodologia ________________________________________________________________________ ___ acima das frequências mencionadas, retendo a informação com frequência inferior. Na concepção, aplicação experimental e processamento dos dados deste estudo, foram considerados os seguintes pressupostos: 1. Foi pressuposto não alterar o padrão de execução técnica pelo atleta. 2. Foi pressuposto que o atleta executasse a técnica com padrões próximos aos utilizados em competições. 3. Foi pressuposto que o atleta estaria em excelente condição física. 4. A execução da técnica foi efectuada sem oposição, mas sem a cooperação facilitadora do opositor. 5. A execução da técnica foi analisada e validada por três juízes internacionais categoria “A”. Para uma maior fidedignidade do estudo, foram seleccionadas três tentativas e em seguida analisadas por três juízes internacionais de categoria A, em que só seria seleccionada a técnica que fosse classificada como Ippon, de acordo com os parâmetros mencionados em capítulos anteriores. Neste caso foram estudadas as tentativas números 2, 4 e 5 as quais foram compatíveis com os requisitos preestabelecidos 4.3. Procedimentos Estatísticos Foi utilizada estatística descritiva dos tempos, ângulos, distâncias e velocidades entre os segmentos corporais através do programa “SPSS 15”. 60 5. Apresentação e Discussão dos Resultados Apresentação e Discussão dos Resultados 5. Apresentação e Discussão dos Resultados 5.1 Variável Tempo Foi calculada a média de duração das 3 melhores tentativas. A técnica teve uma duração média de 1,8 segundos, sendo que esse tempo foi distribuído pelas fases, da seguinte forma: Kuzushi cerca de 51%, Kake cerca de 27% e Tsukuri cerca de 22% (Figura 5.1). Figura 5.1: Tempo de cada fase da técnica. Como podemos observar, a fase de maior significância foi a fase inicial, a Kuzushi. Este resultado é corroborado pelos autores Mifune (1958) e Okano (1976), os quais afirmam que é nesta fase inicial de qualquer técnica que é definida a maior ou menor probabilidade de êxito resultante da sua aplicação. Infelizmente não temos estudos semelhantes à técnica investigada, para desta forma confrontarmos as fases em questão. No entanto, por comparação com um estudo elaborado por (Imamura et al, 2006; Guerreiro, 2003), os valores médios obtidos para as fases foram muito próximos aos deste trabalho, a 50% do tempo total da técnica ser na fase de kuzushi. Como podemos verificar, a grande importância da fase inicial desta, e de qualquer outra técnica, deixa os treinadores com a obrigação de na fase de processo ensino 63 Apresentação e Discussão dos Resultados _ aprendizagem, terem atenção para que esta fase seja bem executada, para desta forma os judocas terem êxito na técnica em questão. 5.2 Variável Ângulo. Serão apresentadas médias calculadas das fases para as três melhores repetições, como também a curva do movimento realizado na técnica 4, considerada a técnica de melhor execução. 5.2.1 Ângulo entre o braço direito e o tronco do Tori. O gráfico de barras (Figura 5.2) mostra os valores médios, em graus, do ângulo entre o braço direito e o tronco do Tori separados pelos 3 momentos do golpe: do Kuzushi (83º ±19º), do Tsukuri (32º ± 8º) e do Kake (57º ± 11º). 120 Ângulo (◦) 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.2: Ângulos entre o braço direito e Tronco do Tori Na Figura 5.3, vemos que no início houve um aumento gradual, seguido por uma diminuição significativa, e logo após voltou a subir. Uma possível explicação para tal, é que no início, na fase de Kuzushi, há uma necessidade de aproximação, sendo assim o aumento inicial deve-se à tentativa de facilitação desta aproximação. Logo após, na fase de Tsukuri, esta diminuição é provocada pela necessidade natural de ter o maior controlo possível da 64 Apresentação e Discussão dos Resultados técnica e do adversário. Já na fase seguinte este ângulo aumenta pela necessidade de acompanhar a finalização da técnica (Figura 5.3). 120 100 Ângulo ◦ _ 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.3: Ângulo entre o Braço direito e Tronco do Tori. 5.2.2 Ângulo entre o braço esquerdo e o tronco do Tori. A Figura 5.4 mostra os valores médios, em graus, do ângulo entre o braço esquerdo e o tronco do Tori, separados pelos 3 momentos do golpe: do Kuzushi (85º ± 9º), do Tsukuri (72º ± 8º), e do Kake (97 º ± 9º). Verifica-se que existe uma pequena variação deste ângulo ao longo de todo o movimento. No início da aplicação da técnica, em todas as tentativas, há um aumento e ao aproximar-se da fase de contacto este começa a diminuir. Logo depois volta a aumentar, na fase do Kake (Figura 5.5). Esta diminuição na fase do Tsukuri pode ser explicada pela necessidade de haver um maior controlo da técnica nesta fase. Se observarmos os valores médios deste ângulo do lado esquerdo (Figura 5.4) e relacionarmos com os do lado direito (Figura 5.2), verifica-se que do lado esquerdo o ângulo médio é um pouco maior, uma vez que neste lado dá-se a pegada da gola, que nesta fase o Tori está a empurrar este lado do kumi-kata, enquanto que do lado direito (manga) está a puxar. Sendo assim, ao puxar há uma aproximação do braço ao tronco. 65 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 120 100 Ângulo (◦) _ 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.4: Ângulos médios entre o braço esquerdo e o tronco do Tori. 140 120 Ângulo (◦) _ 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.5: Ângulo entre o braço esquerdo e o tronco do Tori, na repetição 4. Verifica-se que existe variação deste ângulo ao longo de todo o movimento. No início, há um aumento, provocado pela necessidade de afastar os braços do adversário e conseguir espaço para uma boa aproximação. Em seguida ao aproximar-se da fase de contacto este ângulo começa a diminuir, e logo depois volta a aumentar na fase do Kake. A diminuição na fase do Tsukuri, pode ser explicado pela necessidade de haver um maior controlo da técnica nesta fase, estando assim de acordo com Kashiwazaki (1992). 66 Apresentação e Discussão dos Resultados 5.2.3 Ângulo entre o braço e o antebraço direito do Tori O gráfico de barras da Figura 5.6 mostra os valores médios, em graus, do ângulo entre o braço e o antebraço direitos do Tori, separados pelos 3 momentos do golpe: do Kuzushi (85º ± 18º), do Tsukuri (85º ±11) º e do Kake (85º ± 8º). 120 110 100 90 Ângulo (◦) _ 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.6: Ângulos médios do braço e antebraço direito do Tori Podemos observar que os valores médios obtidos em todas as fases foram muito próximos entre si (Figura 5.6). 140 120 Ângulo(◦) _ 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.7: Variação angular entre o braço e antebraço direito do Tori. Já quando analisamos o comportamento desta variável ao longo de todo o movimento (Figura 5.7) verifica-se que no início o ângulo diminui e quando se 67 Apresentação e Discussão dos Resultados _ aproxima da fase do Tsukuri aumenta. Esta diminuição é provocada pela aproximação natural da fase de ataque e o aumento é provocado pela necessidade de obter espaço entre os dois segmentos (braço e antebraço) facilitando assim um melhor Kuzushi. 5.2.4 Ângulo entre o braço e o antebraço esquerdo do Tori. A Figura 5.8 mostra os valores médios, em graus, do ângulo formado entre o braço e o antebraço esquerdos do Tori separados pelos 3 momentos da técnica: do kuzushi (88º ± 18º), do Tsukuri (88º ± 7º) e do Kake (103º ± 9º). 120 110 100 90 Ângulo (◦) _ 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.8: Ângulo entre o braço e antebraço esquerdos do Tori Verifica-se que o comportamento do lado esquerdo tem uma certa similaridade com o lado oposto, uma vez que houve uma diminuição deste até à aproximação da fase de Tsukuri, devido à necessidade de puxar, para favorecer um maior desequilíbrio. Depois voltou a aumentar, pela necessidade de acompanhar a finalização da técnica. Quando se aproximou do início da fase de Tsukuri o ângulo começou a aumentar (Figura 5.9). 68 Apresentação e Discussão dos Resultados 140 120 Ângulo (◦) _ 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.9: Amplitude angular entre o braço e o antebraço esquerdo do Tori. Este aumento deve-se à tentativa de forçar o Uke à mudança de plano, sendo assim este lado do kumi-kata exerce a função de empurrar, que combinado com a acção do kumi-kata esquerdo, fará a rotação do Uke no plano transverso. É esta rotação que faz com que o Uke perca o sentido de orientação, evitando assim que o mesmo possa virar-se e defender-se da técnica (Kashiwazaki, 1992). O ângulo na fase do Kake formado entre o braço e o antebraço direito é diferenciado do esquerdo, o que mostra a lateralidade do movimento, comparado as Figuras 5.6 e 5.8. 5.2.5 Ângulo entre a coxa e a perna direitas do Tori. O Gráfico de barras (Figura 5.10) mostra os valores médios, em graus, do ângulo entre a coxa e a perna do lado direito do Tori, separados pelos 3 momentos do golpe: do Kuzushi (116º ± 42º), do Tsukuri (118º ± 18º) e do Kake (165º ± 3º). 69 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 200 180 160 140 Ângulo (◦) 120 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.10: Ângulo entre a coxa e a perna direitas do Tori Verificamos que no início há uma diminuição muito brusca desta variável, até se aproximar a fase do Tsukuri, logo em seguida há um aumento considerável, cujo acréscimo corresponde à necessidade de extensão do joelho, para desta forma impulsionar o adversário para trás (Figura 5.11). 200 180 160 Ângulo (◦)_ 140 120 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.11: Variação angular entre a coxa e perna direita do Tori. Este aumento deve-se ao facto de ser a perna de ataque, sendo assim essa extensão fará com que haja um impulso, transferindo energia do pé de ataque para o ponto de contacto (Watanabe e Avakian, 2001). Desta forma a força que neste momento está a ser exercida para cima, combinada com a puxada do kumi-kata esquerdo, fará uma rotação do sistema, que por sua vez fará com que o Uke seja projectado ao solo. 70 Apresentação e Discussão dos Resultados Segundo Kashiwazaki (1992) este ângulo do joelho não deve chegar aos seus valores máximos antes que o adversário esteja no ar. Este aumento tem que ser gradativo, tal como vemos na Figura 5.11. 5.2.6 Ângulo entre a coxa e a perna esquerdas do Tori. O gráfico de barras (Figura 5.12) mostra os valores médios, em graus, do ângulo entre a coxa e a perna do lado esquerdo do Tori, separados pelos 3 momentos do golpe: Kuzushi (111º ± 21º), Tsukuri (83º ± 13º) e Kake (78º ± 8º). 140 120 100 Ângulo (◦) 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.12: Ângulo entre a coxa e perna esquerda do Tori. Como podemos observar na Figura 5.13, dá-se uma diminuição deste ângulo provocado pela tentativa de aproximar o quadril do calcanhar deste lado, mostrando uma boa flexão do joelho no momento inicial da fase de ataque, favorecendo um melhor posicionamento do pé de ataque, para posteriormente haver um Kake bem sucedido. 71 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 160 140 Ângulo (◦) __ 120 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.13: Amplitude angular entre a coxa e a perna esquerdas do Tori. Observa-se uma diminuição natural da variável em questão, dado que se trata de uma técnica de sutemi-waza, na qual o Tori vai em direcção ao solo afim de executar a projecção (Lassere, 1975). Dando-se a queda de forma controlada, havendo uma aproximação da anca ao calcanhar esquerdo do Tori. 5.2.7 Ângulo entre o tronco inferior e a coxa direita do Tori. O gráfico de barras (Figura 5.14) mostra os valores médios em graus do ângulo em questão separados pelos 3 momentos do golpe: do Kuzushi (115º ± 34º), do Tsukuri (64º ± 10º) e do Kake (73º ± 6º). 72 Apresentação e Discussão dos Resultados 160 140 120 Ângulo (◦) 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.14: Ângulo médio entre o tronco inferior e a coxa direita Ao analisarmos a Figura 5.15, observa-se que há uma diminuição deste ângulo até a fase de Tsukuri. Isto ocorre pelo facto de haver uma aproximação do tronco à coxa, para favorecer uma boa aproximação ao Uke. Sendo assim, o valor médio obtido no momento inicial da fase do Tsukuri é um valor aparentemente baixo, mas significando uma boa aproximação do tronco inferior à coxa. Logo em seguida há um ligeiro aumento desta variável provocado agora pela acção da perna de ataque (perna direita), que neste início da fase do Tsukuri, irá impulsionar o Uke para cima (Kashiwazaki, 1992). 180 160 140 Ângulo ◦ _ 120 100 80 60 40 20 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.15: Amplitude angular entre o tronco inferior e coxa direita do Tori. 73 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 5.3 Variável Velocidade Os valores apresentados nesta secção estão expressos em metros por segundo (m/s). 5.3.1 Velocidade do punho direito do Tori. Quando analisamos o comportamento da velocidade nas Figura 5.16 e 5.17, é notória uma grande oscilação desta variável. 3 2.5 (m/s) 2 Velocidade 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.16: Velocidade do punho direito do Tori. Observa-se um aumento muito significativo da velocidade, atingindo um pico antes da fase do Tsukuri, e ao aproximar-se desta fase a velocidade começa a diminuir. 74 Apresentação e Discussão dos Resultados 5 4.5 4 Velocidade (m/s) 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.17: Variação da velocidade do punho direito do Tori. 5.3.2 Velocidade do punho esquerdo do Tori. Observa-se que este punho (Figuras 5.18 e 5.19) tem um comportamento parecido com o punho do lado oposto. Porém a velocidade máxima obtida acontece no início da fase do Tsukuri, enquanto que o pico máximo do lado direito máximo ocorreu na fase anterior (Figura 5.17). 3 (m/s) 2 Velocidade 2.5 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.18: Velocidade média do punho esquerdo do Tori. 75 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 4 3.5 Velocidade (m/s) 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5. 19: Velocidade do punho esquerdo do Tori 5.3.3 Velocidade do pé de ataque. Em todas as tentativas houve um acréscimo gradual da Velocidade, e pouco antes do início da fase de Tsukuri, por volta de 0.2s, a velocidade diminuiu consideravelmente, passando de 5m/s para 1,8m/s (Figura 5.21). Esta diminuição pode ser explicada pela necessidade de se ter maior precisão do ponto de contacto do pé de ataque no tronco inferior do Uke, uma vez que este não pode ser colocado demasiado cedo, pois torna-se fácil uma acção defensiva de contra-ataque; nem demasiado tarde pois neste caso aumentam as hipóteses de fuga do Uke (Kashiwazaki, 1992). 76 Apresentação e Discussão dos Resultados 4.5 4 3.5 Velocidade (m/s) 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.20 Velocidade média do pé de ataque do Tori. 6 Velocidade (m/s) 5 4 3 2 1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.21: Variação da velocidade do pé de ataque do Tori 5.4 Resultados quanto à variável Distância. Os valores apresentados nas figuras desta secção estão expressos em metros (m). 77 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 5.4.1 Distância entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito Quando analisamos a distância entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito, e comparamos a média por fase, (Figura 5.22) verificase que a fase de maior distância é a fase de Kake. E que a menor distância encontra-se no início do Tsukuri (Figura 5.23). 2 1.8 1.6 Distância (m) 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.22: Distância média entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambas do lado direito. Observa-se que há uma diminuição da distância entre estes dois pontos até a fase de Tsukuri, chegando a um valor médio no momento inicial de Tsukuri de 60 cm. Quando comparamos esse valor com o pé esquerdo do Uke (Figura 5.25), observa-se que esta distancia até ao pé do lado direito do Uke é um pouco maior, isso deve-se ao facto de o pé esquerdo do Tori, neste momento, estar à frente do direito, mais próximo da anca direita do Tori. 78 Apresentação e Discussão dos Resultados 2.5 Distância (m) _ 2 1.5 1 0.5 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.23: Variação da distância entre a anca do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito Na fase Kake esta distância aumenta, devido ao facto de nesta fase o Uke começa a perder o contacto com o solo. 5.4.2 Distância entre a anca lado direito do Tori e o pé esquerdo do Uke. Pode-se verificar que há uma aproximação das duas estruturas anatómicas, chegando aos valores mínimos na fase do Tsukuri. Na fase de Kake, esta distância tende a aumentar (Figuras 5.24 e 5.25). 79 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 1.8 1.6 1.4 (m) _ 1 Distância 1.2 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.24: Distância média entre a anca do lado direito do Tori e o pé esquerdo do Uke 2 1.8 1.6 Distância (m) _ 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.25: Variação da Distância da anca do lado direito do Tori ao pé esquerdo do Uke. Esta diminuição inicial está de acordo com Inman (1988) e Robert (1980), ao referirem que para uma boa execução da técnica, deve haver uma 80 Apresentação e Discussão dos Resultados boa aproximação destes dois pontos, sendo assim, naturalmente o Tori aproxima-se do Uke, favorecendo uma colocação precisa do pé de ataque. 5.4.3 Distância entre a anca e o pé do Tori, ambos do lado esquerdo. Observa-se uma diminuição da distância entre a anca e o pé do Tori, ambos do lado esquerdo, porém com oscilações (Figuras 5.26 e 5.27). Ao comparar o ângulo correspondente a estes pontos (Figura 5.13), observa-se o mesmo comportamento. Essa diminuição dá-se pela necessidade de aproximação da anca do Tori ao pé do Uke. 0.9 0.8 0.7 Distância (m) _ 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.26: Distância média entre a anca e o pé do Tori, ambos lado esquerdo 81 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 0.9 0.8 0.7 Distância (m 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.27: Variação da distância entre a anca e o pé do Tori, ambos do lado esquerdo 5.4.4 Distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke A distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke no início da fase de Tsukuri, foi em média de 51cm. Verifica-se que há uma aproximação destes pontos desde o início da técnica, até instantes depois do contacto do pé de ataque com o tronco inferior do Uke. Isto leva-nos a perceber que mesmo após o contacto do pé de ataque, ainda há uma tentativa de aproximação de todo o tronco do tori até o pé esquerdo do Uke (Figuras 5.28 e 5.29). 82 Apresentação e Discussão dos Resultados 1.6 1.4 (m) _ 1 Distância 1.2 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.28: Distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke 2 1.8 1.6 Distância (m) _ 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake o Figura 5.29: Variação da distância entre o ombro direito do Tori e o pé esquerdo do Uke Segundo Robert (1980), Inman (1988) e Kashiwazaki (1992) quanto mais próxima for a aproximação do Tori em relação ao Uke, melhor será a execução da técnica. Isto pode ser explicado através dos momentos de força: quanto menor for a distância do braço de resistência, menor será a força que será empregada para vencer a inércia do sistema (Hay, 1993). 83 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 5.4.5 Distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito Observa-se que não há uma aproximação significativa entre estes pontos anatómicos (Figura 5.30 e 5.31). Quando comparamos o ombro direito do Tori, com o pé esquerdo do Uke (Figura 5.29) verifica-se que o esquerdo fica mais próximo. Isto deve-se ao facto de que neste momento de contacto o pé esquerdo encontrar-se à frente do pé direito, tendo como referencial o ombro direito do Tori, enquanto que a direcção e sentido da queda, são direccionados para o pé esquerdo do Tori. Por esta razão não encontramos aproximação entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito. 1.8 1.6 Distância (m) 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake se Figura 5.30: Distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito. 84 Apresentação e Discussão dos Resultados 2 1.8 1.6 Distância (m) _ 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.31: Variação da distância entre o ombro do Tori e o pé do Uke, ambos do lado direito. 5.4.6 Distância entre o cotovelo e a crista ilíaca do Tori, ambos do lado direito Observa-se que no início há um ligeiro aumento, com a tentativa de abrir mais espaço para uma aproximação eficaz (Figura 5.33). Instantes depois essa variável volta a diminuir de forma marcante, que corresponde ao momento inicial da fase do Tsukuri. Logo depois quando o Uke começa a perder o contacto bípede com o solo, esta volta a aumentar. 85 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 0.7 0.6 Distância (m) __ 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.32: Distância entre o cotovelo e a crista ilíaca do Tori, ambos do lado direito Podemos observar que no início da técnica, como já foi discutido em itens anteriores, na fase Kuzushi, o Tori tende a abrir espaço, fazendo a abdução dos dois braços, isto ratifica o que foi referido por Kashiwazaki (1992), justificando assim este aumento inicial. Em seguida começa uma aproximação destes pontos, mostrando assim a grande participação deste lado do Kumikata, para favorecer um óptimo Kuzushi, chegando aos valores mínimos no início da fase Tsukuri. Em seguida estes pontos começam a afastar-se. 0.7 0.6 Distância (m) _ 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake o Figura 5.33: Variação da distância entre o cotovelo e a crista ilíaca do Tori, ambos do lado direito. 86 Apresentação e Discussão dos Resultados 5.4.7 Distância entre a ponta do pé de ataque do Tori e o CM do Uke Podemos verificar que há uma aproximação entre estes dois pontos, à medida que se inicia a técnica, o pé tende a se aproximar do CM do Uke, chegando a valores mínimos na fase de Tsukuri (Figuras 5.34 e 5.35). Deve referir-se que nesta fase de Tsukuri, o CM está localizado próximo da linha do processo xifóide, enquanto que o pé de ataque está localizado próximo da crista ilíaca do lado direito do Tori. Sabe-se que quanto maior for o comprimento do raio de rotação, maior será o torque, como consequência disto melhor será rotação do sistema (Hay, 1993). Desta forma verifica-se o princípio do mínimo esforço e máximo de eficiência. Por essa razão o pé de ataque deve ser colocado o mais abaixo possível da linha do centro de massa do Uke. 1.8 1.6 1.4 (m) 1.2 Distância _ 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.34: Distância entre o pé de ataque do Tori e o CM do Uke 87 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 1.8 1.6 1.4 Distância (m) 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.35: Variação da distância entre o pé de ataque do Tori e o CM do Uke No caso do combate ou em situações de treino, não há forma de localizar exactamente o CM do Uke. Sendo assim, Segundo Inman (1988) e Kashiwazaki (1992), o pé de ataque deve ser colocado, um pouco abaixo da linha da faixa do Uke. Neste trabalho o pé de ataque ficou à distância de 16cm do CM do Uke e voltado para lado direito, tendo como referencia o Uke. 5.4.8 Distância horizontal do CM ao pé esquerdo, ambos do Uke Apenas no início da fase de Tsukuri esta distância começou a aumentar (Figura 5.36 e 5.37). Isto leva-nos a concluir que até ao início do Tsukuri, não houve desequilíbrio satisfatório, uma vez que o centro de massa não se afastou dos limites geométricos da sua base de sustentação, que neste momento era o pé de apoio esquerdo. Mesmo assim não podemos concluir que isso interfere na execução da técnica, uma vez que segundo Mifune (1958), a importância do Kuzushi não é 88 Apresentação e Discussão dos Resultados só deslocar o CM, mas também quebrar a postura do opositor, deixando-o numa posição que impossibilite a fuga ou um eventual contra-ataque. A explicação para ao facto de no início não haver deslocamento significativo do ponto mencionado, talvez possa ser atribuído à reacção já automatizada do Uke em tentar manter a sua inércia, uma vez que era suposto que o Uke fizesse uma pequena resistência ao ataque. 0.9 0.8 0.7 (m) 0.6 Distância __ 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.36: Distância horizontal entre o CM do Uke e o seu pé esquerdo 89 Apresentação e Discussão dos Resultados _ 0.9 0.8 Distância (m) _ 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 Kuzushi Tsukuri Kake Figura 5.37: Variação da distância horizontal entre o CM e o Pé esquerdo, ambos do Uke. 90 6. Conclusões Conclusões 6. Conclusões Neste trabalho, mesmo não Tendo uma amostra diversificada, que nos permitisse melhorar o modelo biomecânico para a técnica em análise, ficamos com uma melhor percepção do que acontece nas diferentes variáveis investigadas, o que pode servir de referência a futuros trabalhos relacionados com este. Concluímos que a técnica em questão está dentro do modelo descrito pela literatura, mesmo não podendo ser comparados directamente com anteriores estudos científicos de campo para esta técnica em particular. Relativamente à sua classificação, segundo o modelo biomecânico descrito por Sacripante (1987), esta técnica está classificada como “momento de força”, porém quando comparamos com autores como Kashiwazaki (1992) mesmo não referindo directamente que a técnica está classificado como “binário de força”, mas afirmando que há forças conjugadas entre o braço e a perna, a primeira a puxar e a segunda a empurrar, fazendo o corpo do Uke girar. Sendo assim sugerimos que o golpe pode ser classificado como um “binário de forças”. Porém como este trabalho não é de carácter cinético mas sim cinemático deixamos este assunto para futuros trabalhos. De forma conclusiva segue a forma de aplicação da técnica, seguido o modelo técnico, táctico e morfológico do autor: - Fase de aproximação: fase que compreende o Kuzushi, sendo a parte mais importante, correspondendo a 50% do tempo total da técnica. Há um avanço do pé esquerdo do Tori, acompanhado por uma abdução de ambos os braços afim de facilitar essa aproximação. Começa a fase de queda do Tori com a intenção de posicionar a cabeça próximo ao pé do Uke, neste caso o pé esquerdo. É observado que há uma predominância do kumi-kata do Sode (manga) em relação ao Eri (gola), sendo de direcção oblíqua e com a intenção de aproximar os cotovelos do Tori. Em relação ao deslocamento horizontal do CM do Uke, observou-se que não houve um deslocamento satisfatório ao ponto 93 Conclusões _ de se distanciar muito dos limites da base de apoio, que no fim desta fase passou a ser somente o pé esquerdo. - Fase de encaixe: mencionada no trabalho como Tsukuri. O posicionamento do pé de ataque situa-se logo abaixo do centro de massa, mais precisamente próximo à linha do cinturão do Uke, em média 16 cm, e voltado para o lado direito e para baixo, próximo da crista ilíaca direita do Uke. A perna de ataque está ligeiramente flectida, chegando ao valor médio de 105º na articulação do joelho. A velocidade do pé de ataque na fase anterior que era sempre crescente chegando ao valor máximo de 5m/s, próximo ao início da fase de Tsukuri, passa a haver uma diminuição desta chegando ao valor de 1,8m/s, voltando novamente a aumentar até atingir o pico no momento inicial desta fase. Observou-se aqui uma inversão na predominância do kumi-kata do Eri em relação ao Sode, ao contrário da fase anterior. Podemos observar também uma boa aproximação do Tori em relação ao Uke, quando analisamos as várias distâncias entre eles. - Fase de finalização: mencionada no trabalho como Kake. O Uke cai com o dorso lateral direito no tatame, ficando a sua cabeça posicionada próxima da do Tori, sendo a orientação dos corpos invertida. Apresentamos agora algumas sugestões para trabalhos futuros: - Para complementar este estudo seria interessante realizar um estudo de natureza cinética com vista a perceber as forças envolvidas na aplicação desta técnica; - No sentido de dar mais consistência ao estudo, para traçar um perfil biomecânico da técnica estudada, sugere-se que seja usada uma amostra mais significativa e não com apenas um estudo de caso; - Outra proposta seria realizar o estudo da mesma técnica “ yoko-tomoenage”, não iniciando a técnica de maneira fixa, mas sim em deslocamento, ou 94 Conclusões seja os atletas ao iniciar a técnica, efectuavam algum deslocamento lateral por exemplo, a fim de fazermos um estudo comparativo destas duas situações; - Fazer uma comparação de carácter cinemático entre as duas técnicas: “Yoko-Tomoe-nage”, com o “Tomoe-nage”, a fim de verificar as diferenças biomecânicas existentes entre as duas técnicas. 95 7. Bibliografia Bibliografia 7. 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