PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIENCIAS DO DESPORTO FERNANDO VIANNA SANT’ANNA ANÁLISE DA VARIAÇÃO DO CONSUMO DE OXIGÊNIO E DA LACTATEMIA EM LUTADORES DE JIU-JITSU, DURANTE O TESTE DE ESFORÇO NA ESTEIRA E A SIMULAÇÃO DE LUTA Porto Alegre 2006 FERNANDO VIANNA SANT’ANNA ANÁLISE DA VARIAÇÃO DO CONSUMO DE OXIGÊNIO E DA LACTATEMIA EM LUTADORES DE JIU-JITSU, DURANTE O TESTE DE ESFORÇO NA ESTEIRA E A SIMULAÇÃO DE LUTA Trabalho de Conclusão de Curso, como requisito parcial à obtenção do grau de Licenciado Pleno, pela Faculdade de Educação Física e Ciências do Desporto da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Orientador: Prof. Me. Jonas Lírio Gurgel Porto Alegre 2006 (Folha de aprovação) AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer as duas pessoas mais importantes da minha vida: Fernando Arnt Sant’Anna, que é meu pai, e Yara Vianna Sant’Anna, que é minha mãe. Agradeço aos meus colegas e professores, que de alguma maneira, me ajudaram a passar por mais esta etapa da minha vida. Gostaria de agradecer aos meus professores e amigos Jonas Lírio Gurgel, Luciano Castro, Eduardo Merino e Paulo Porto, por terem me dado à oportunidade de aprendizado como monitor de suas respectivas disciplinas. Agradeço a todo o pessoal do LAPAFI por ter ajudado de alguma forma a minha pesquisa: Prof.ª Esp. Flávia Porto, Prof. Felipe Flores, Prof. Gustavo Sepúlveda, Prof. Fabiano Gonçalves, Prof.ª Hellen Hertz, Prof. Guilherme Tesser e Prof. Alessandro Fontoura. Gostaria de agradecer ao meu professor de Jiu-jitsu, amigo e irmão: Fernando Fagundes. E, por último, agradeço a todos meus colegas e aos meus alunos de Jiu-jitsu, pela colaboração e participação nesta pesquisa. RESUMO O lactato é o produto da “fermentação” do piruvato decorrente do processo da glicólise. A produção de lactato no organismo está diretamente relacionada à performance em atletas de provas de características anaeróbias, dentre elas o Jiu-jitsu. Hoje em dia, o Jiu-jitsu é um dos estilos de luta mais respeitados no meio das artes marciais, devido a sua eficiência nos eventos de artes marciais mistas. Mais conhecido como “Brazilian Jiu-jitsu”, esta arte marcial ainda demonstra uma grande lacuna a ser preenchida nas áreas da preparação física, técnica, táctica e psicológica. Uma maneira de se determinar com precisão o limiar anaeróbio do atleta é através do teste de esforço cardiorrespiratório (TECR), que por meio de captação de amostras gasosas expiradas pelo indivíduo, determina-se seu ponto de compensação respiratório (PCR), a sua capacidade máxima de utilização de oxigênio (VO2 máx), assim como seu limiar. Outros testes também podem determinar o limiar anaeróbio por meio de amostras de sangue arterializado coletadas do dedo, lóbulo da orelha ou diretamente da artéria do paciente por meio de um cateter. O presente estudo visa verificar as variações da concentração de lactato durante a simulação da luta, durante o teste de esforço utilizando o protocolo incremental em degraus de Bruce, assim como na fase de recuperação ativa a 65 a 75% do limiar anaeróbio. Essa pesquisa foi analítica e quantitativa, cuja amostra foi constituída de oito atletas de Jiu-jitsu com mais de dois anos de prática. Como instrumento de coleta de dados tivemos seis TECR, dois combates simulados sem aquecimento prévio e quatro combates simulados com aquecimento prévio. Foi utilizado o sistema metabólico portátil VO2000 para coleta direta de amostras de gases expirados, e também o lactímetro Accutrend para mensuração de lactato através das amostras sanguíneas. Os resultados apresentaram um percentual médio de gordura no valor de 17.61% da massa corporal total, utilizando o protocolo de Pollock de sete dobras para atletas. Foi possível perceber, nos atletas de Jiu-jitsu avaliados, a resistência às altas concentrações de lactato durante o teste de esforço e combate simulado. Os resultados do teste de esforço demonstram uma média no consumo de oxigênio máximo no valor de 42,9 ± 6,56 ml/kg.min e no consumo de oxigênio de limiar de 32,33 ± 7,30 ml/kg.min. Os resultados da recuperação ativa demonstram que até o décimo minuto as concentrações de lactato não tiveram uma diferença significativa, apresentando uma melhora na redução do lactato somente acima dos 10 minutos. No que se refere aos métodos de determinação de limiar anaeróbio, o limiar da lactatemia quando comparado com o limiar ventilatório possui uma ótima correlação, apresentando uma regressão linear fortíssima entre os métodos. Espera-se que os resultados deste estudo possam ajudar os treinadores e atletas de Jiu-jitsu a dar mais importância as avaliações físicas para a periodização do treinamento. Palavras-chave: Lactato. Limiar Anaeróbio. Jiu-jitsu. VO2. ABSTRACT Lactate is the product of the “fermentation” of the decurrent piruvato of the process of glicólise. The lactate production in the organism directly is related to the performance in athlete of tests of anaerobic characteristics, amongst them the Jiu-jitsu. Nowadays, the Jiujitsu is one of the styles of fight more respected in the way them martial arts, had its efficiency in the events of mixing martial arts. More known as “Brazilian Jiu-jitsu”, this martial art still demonstrates a great gap to be filled in the areas of the physical preparation, technique, psychological tactic and. A way of if determining with precision the anaerobic threshold of the athlete are through the test of cardiorespiratory effort (TECR), that by means of capitation of gaseous samples exhaled by the individual, its point of respiratory compensation is determined (PCR), its maximum capacity of oxygen use (VO2 máx), as well as its threshold. Other tests also can determine the anaerobic threshold by means of collected samples of arterialized blood of the finger, lobe of the ear or directly of the artery of the patient by means of a catheter. The present study it aims at to verify the variations of the lactate concentration during the simulation of the fight, during the effort test using the incremental protocol in steps of Bruce, as well as in the phase of active recovery the 65 75% of the anaerobic threshold. This research was analytical and quantitative, whose sample was constituted of eight athlete of Jiu-jitsu with more than two years of practical. As instrument of collection of data we had six TECR, two combats simulated without previous heating and four combats simulated with previous heating. Metabolic system portable VO2000 for direct collection of exhaled samples of gases was used, and also lactímetro Accutrend for measudement of lactate through the sanguineous samples. The results had presented an average percentage of fat in the value of 17.61% of the total corporal mass, using the protocol of Pollock of seven folds for athlete. It was possible to perceive, in the evaluated athletes of Jiu-jitsu, the resistance to the high lactate concentrations during the effort test and simulated combat. The results of the effort test demonstrate a average in the consumption of maximum oxygen in the value of 42,9 ± 6,56 ml/kg.min and in the consumption of oxygen of 7,30 32,33 threshold of ± ml/kg.min. The results of the active recovery demonstrate that until the tenth minute the lactate concentrations had not had a significant difference, presenting an improvement in the reduction of lactate only above of the 10 minutes. As for the methods of determination of anaerobic threshold, the threshold of the lactatemia when compared with the ventilator threshold it possess an excellent correlation, presenting a linear regression very strong between the methods. One expects that the results of this study can help to the trainers and athlete of Jiu-jitsu to give to more importance the physical evaluations for the periodizacion of the training. Word-key: Lactate. Anaerobic threshold. Jiu-jitsu. VO2. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Processo da glicólise. .............................................................................................. 22 Figura 2 – Estrutura muscular. ................................................................................................. 24 Figura 3 – Estrutura da fibra muscular. .................................................................................... 25 Figura 4 – Diferentes métodos de avaliação do lactato. ........................................................... 29 Figura 5 – Lactímetro Accutrend Lactate utilizado para mensurar a concentração de lactato sanguineo. ................................................................................................................................. 42 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Teste de esforço indivíduo 1. ................................................................................. 51 Gráfico 2 - Teste de esforço indivíduo 2. ................................................................................. 51 Gráfico 3 - Teste de esforço indivíduo 3. ................................................................................. 52 Gráfico 4 - Teste de esforço indivíduo 4. ................................................................................. 52 Gráfico 5 - Teste de esforço indivíduo 5. ................................................................................. 53 Gráfico 6 - Teste de esforço indivíduo 6. ................................................................................. 53 Gráfico 7 - Fase de recuperação indivíduo 1. ........................................................................... 54 Gráfico 8 - Fase de recuperação indivíduo 2. ........................................................................... 54 Gráfico 9 - Fase de recuperação indivíduo 3. ........................................................................... 55 Gráfico 10 - Fase de recuperação indivíduo 4. ......................................................................... 55 Gráfico 11 - ase de recuparação indivíduo 5. ........................................................................... 56 Gráfico 12 - Fase de recuperação indivíduo 6. ......................................................................... 56 Gráfico 13 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. ................................. 57 Gráfico 14 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. ................................. 57 Gráfico 15 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. ................................. 58 Gráfico 16 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. ................................. 58 Gráfico 17 - Lactatemia durante a simulação de luta sem aquecimento. ................................. 59 Gráfico 18 - Lactatemia durante a simulação de luta sem aquecimento. ................................. 59 Gráfico 19 - Regressão linear da freqüência cardíaca. ............................................................. 61 Gráfico 20 - Regressão linear do consumo de oxigênio. .......................................................... 61 Gráfico 21 - Regressão linear do tempo. .................................................................................. 62 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Divisão das categorias Adulto por massa corporal. ................................................ 37 Tabela 2 – Faixa e tempo de treino........................................................................................... 45 Tabela 3 – Dados antropométricos (etnia, idade, estatura e massa corporal). .......................... 45 Tabela 4 – Dados antropométricos (dobras cutâneas). ............................................................. 46 Tabela 5 – Dados antropométricos (dobras cutâneas). ............................................................. 46 Tabela 6 – Dados antropométricos (dobras cutâneas e perímetros). ........................................ 46 Tabela 7 – dados antropométricos (perímetros). ...................................................................... 47 Tabela 8 – Dados antropométricos (diâmetros)........................................................................ 47 Tabela 9 - Dados antropométricos (diâmetros). ....................................................................... 47 Tabela 10 - Dados antropométricos (densidade corporal e percentual de gordura). ................ 48 Tabela 11 - Dados antropométricos (densidade corporal e percentual de gordura) ................. 48 Tabela 12 – Resultados do teste de esforço. ............................................................................. 48 Tabela 13 - Resultados do Teste de esforço. ............................................................................ 49 Tabela 14 - Resultados da lactatemia do teste de esforço. ....................................................... 49 Tabela 15 - Resultados da lactatemia do teste de esforço. ....................................................... 50 Tabela 16 - Resultados da lactatemia da simulação de luta com aquecimento. ....................... 50 Tabela 17 - Resultados da lactatemia da simulação de luta sem aquecimento. ....................... 50 Tabela 18 - Resultados obtidos entre o método da lactatemia e ventilatório. .......................... 60 Tabela 19 - Resultados obtidos entre o método da lactatemia e ventilatório. .......................... 60 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13 2 PROBLEMA .................................................................................................................... 16 3 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 17 3.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 17 3.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 17 4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 18 5 RELEVÂNCIA................................................................................................................. 19 6 HIPÓTESES ..................................................................................................................... 20 7 LACTATO E VO2 ........................................................................................................... 21 7.2 Considerações fisiológicas do lactato ....................................................................... 21 7.2.1 Definição .......................................................................................................... 21 7.2.2 Processo de formação ....................................................................................... 21 7.2.3 Ácido lático e lactato ........................................................................................ 23 7.2.4 Processos de utilização ..................................................................................... 23 7.2.5 Adaptações fisiológicas com o treinamento ..................................................... 25 7.2.6 Análise do lactato ............................................................................................. 28 7.3 Considerações fisiológicas do VO2.......................................................................... 30 7.3.1 Consumo de oxigênio ....................................................................................... 30 7.3.2 Limiar ventilatório e de lactato ......................................................................... 31 7.3.3 VO2 máximo .................................................................................................... 32 7.3.4 Déficit de oxigênio, VO2 e lactato ................................................................... 32 8 CONSIDERAÇÕES SOBRE O JIU JITSU ..................................................................... 34 8.1 Características da luta ............................................................................................... 34 8.2 Divisão de faixas ...................................................................................................... 34 8.3 Tempo de luta ........................................................................................................... 35 8.4 Categorias por faixa etária ........................................................................................ 36 8.5 Categorias por massa corporal .................................................................................. 36 8.6 Via energética durante a luta .................................................................................... 37 8.7 Jiu-jitsu, lactato e VO2 ............................................................................................. 38 9 METODOLOGIA............................................................................................................. 40 9.1 Seleção da amostra ................................................................................................... 40 9.2 Fase de treinamento .................................................................................................. 40 9.3 Cuidado prè-teste ...................................................................................................... 40 9.4 Protocolo................................................................................................................... 41 9.5 Instrumentos ............................................................................................................. 42 9.6 Riscos ....................................................................................................................... 43 9.7 Análise estatística ..................................................................................................... 44 10 RESULTADOS ............................................................................................................ 45 10.1 Tabelas e gráficos ..................................................................................................... 45 11 DISCUSSÃO ................................................................................................................ 63 12 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 67 APÊNDICE A – Termo de consentimento. .............................................................................. 69 ANEXO A – Protocolo de Bruce ............................................................................................. 70 ANEXO B – Teste de esforço..................................................................................................71 13 1 INTRODUÇÃO Atualmente, busca-se cada vez mais uma melhor excelência no desempenho esportivo. Porém, ainda existem inúmeros atletas e treinadores que desconhecem ou apresentam conhecimento limitado na área do treinamento esportivo. Isto pode ser atribuído a vários fatores, com destaque para a pouca disponibilidade e interesse tanto de técnicos como de competidores, a escassez de dados científicos na área do treinamento, a falta de recursos e investimentos na área da pesquisa e a falta de padronização dos métodos de avaliação, para as diferentes faixas etárias e diferentes desportos. Segundo Souza e Souza (2005, p.34): O sucesso no esporte de alto nível depende da composição perfeitamente ajustada, na preparação do atleta, dos diferentes fatores intervenientes da performance humana, seja de origem fisiológica ou psicológica. O treinamento deve incluir o aspecto técnico, físico, tático e psicológico. Nas artes marciais, a falta de treinadores especializados e a falta de conhecimento científico nas áreas da preparação física, técnica, tática e psicológica, se agravam ainda mais. Por despertar menos interesse de patrocinadores e da mídia, o investimento em pesquisas na área do treinamento esportivo nas diferentes artes marciais se torna limitado. Esta escassez de conhecimento se torna mais evidente em lutas na qual não são desportos olímpicos. Até então sempre permanecia a pergunta: Em um confronto real, qual estilo de luta seria o mais eficiente? Conforme Gracie e Gracie (2003), os primeiros eventos de “vale-tudo” provocaram uma grande surpresa para a maioria dos admiradores e praticantes de artes marciais. A potência e velocidade dos socos e chutes não foram as “chaves” para a vitória, e sim a capacidade de colocar os oponentes no chão e através das imobilizações e estrangulamentos alcançar o primeiro lugar. Decorrente de seu sucesso em eventos de artes marciais mistas, um grande número de atletas passou a treiná-la. A partir daí o Jiu-jitsu começou a ser reconhecido mundialmente como o famoso “Brazilian Jiu-jitsu”. Não se sabe ao certo quando e como foi originado o Jiu jitsu. Existem algumas versões a respeito da sua origem, porém é considerado pela maioria dos pesquisadores (GURGEL, 2002a; GRACIE; GRACIE 2003; GRACIE, 2004; MACHADO; FRAGUAS, 2004; SOUZA; 14 SOUZA, 2005), que as técnicas especificamente asiáticas chegaram à China através da Índia e do Tibet, sendo que, neste último, eram utilizados pelos monges enclausurados em grandes mosteiros. Segundo Gracie (2004), os monges budistas de grande saber e perfeito conhecimento do corpo humano foram os criadores da mais completa e perfeita forma de defesa pessoal de todas as épocas, o pai de todas as lutas: o Jiu-Jitsu. A eficiência da luta de acordo com Gracie (2004), surgiu da necessidade dos Monges budistas se defenderem dos constantes assaltos que sofriam em suas jornadas. Já que, sem o uso de armas, atentatórios aos preceitos religiosos, a habilidade no uso do corpo era essencial para afastarem possíveis saqueadores. O Jiu jitsu acabou atravessando as fronteiras da China e indo para o arquipélago japonês, lá dando um grande salto, conhecido apenas por nobres e samurais (GRACIE; GRACIE 2003). Antigamente havia vários estilos de Jiu-jitsu, sendo conhecido por diferentes nomes, e cada lutador tendo seu estilo próprio. Cada estilo tinha características próprias, alguns davam mais ênfase às projeções ao solo, torções, estrangulamentos e outros enfatizavam ainda, golpes traumáticos como socos e chutes. A partir de então, cada estilo deu origem ao desenvolvimento de artes marciais conhecidas atualmente de acordo com suas características de luta, entre elas o Judô e Karate, por exemplo (GRACIE, 2004). Com a abertura dos portos japoneses para o ocidente, o Jiu-jitsu chegou a ser proibido durante certo período como crime de lesa pátria. Os japoneses tinham receio de que os ocidentais aprendessem sua eficaz forma de defesa e ataque, podendo ser utilizada contra eles próprios numa eventual guerra. Com a introdução da cultura ocidental no Japão promovida pelo imperador Mutsu Hito (1867 - 1912), as artes marciais ficaram esquecidas. Elas só foram valorizadas mais tarde, quando o ocidente também já apreciava esse tipo de luta (GRACIE; GRACIE, 2003). Assim nasceu o Jiu-Jitsu, impregnado pelo espírito de defesa, que é a sua essência. A aplicação de leis físicas (tais como sistema de alavancas, momento de força, equilíbrio, deslocamento do centro de gravidade), fez do Jiu-Jitsu a grande arte científica de luta de todos os tempos. Do Japão veio para o Brasil em 1914 através do lutador Mitsuyo Maeda. Carlos Graice que fora treinado por Maeda passa por Minas Gerais e São Paulo, mas sem o sucesso desejado se instala no Rio de Janeiro e na Capital começa a ensinar. Carlos começa também a ensinar a seus irmãos: George, Gastão, Hélio e Oswaldo. Tendo Hélio Gracie como o grande nome e 15 difusor do Jiu-Jitsu. Hélio Gracie aperfeiçoou o jiu-jitsu de tal forma que deu condições para que uma pessoa magra pudesse lutar contra uma pessoa grande e forte, tornando-se o pai da arte marcial mundialmente conhecida como “Brazilian Jiu jitsu” (GRACIE; GRACIE, 2003). O presente estudo terá como objetivo realizar uma análise do comportamento do consumo do volume de oxigênio, e de concentração de lactato em lutadores de Jiu-jitsu durante o exercício. Estando dividido em tópicos, nos quais constam o problema, os objetivos gerais e específicos, a justificativa, as hipóteses e a relevância. Posteriormente, são divididos em capítulos sobre características fisiológicas do lactato e VO2, considerações sobre o Jiu-jitsu, resultados, discussão e conclusão. 16 2 PROBLEMA Qual é o consumo máximo de VO2, limiar ventilatório e limiar de lactato em lutadores de Jiu-jitsu durante o teste de esforço, usando o protocolo de bruce, na esteira? E qual a variação da concentração de lactato durante a simulação da luta nos mesmos? 17 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Verificar as variações da lactatemia, assim como, o consumo máximo de oxigênio e de limiar ventilatório durante o teste de esforço, usando o protocolo de bruce, na esteira em lutadores de Jiu-jitsu. Verificar também os níveis de concentração de lactato durante a simulação da luta. 3.2 Objetivos específicos • Realizar revisão de literatura acerca da temática da origem do Jiu-jitsu, assim como as características da luta e suas regras. • Realizar revisão de literatura acerca da temática das funções e características bioquímicas e fisiológicas do lactato e VO2 no corpo humano. • Realizar revisão de literatura acerca dos instrumentos utilizados para verificar o consumo de oxigênio e de concentração de lactato. • Verificar as variações do lactato em lutadores de Jiu-jitsu durante a simulação da luta. • Verificar as variações do lactato em lutadores de Jiu-jitsu durante o teste de esforço na esteira. • Verificar o consumo máximo de oxigênio e de limiar ventilatório em lutadores de Jiujitsu durante o teste de esforço. 18 4 JUSTIFICATIVA A justificativa da pesquisa baseia-se no fato de haver pouca literatura científica na área da pesquisa do treinamento esportivo em artes marciais, dentre elas o Jiu-jitsu. O fato de o Brasil ser o criador do “Brazilian Jiu-jitsu”, com grande número de praticantes, nos faz avaliar os aspectos da variação de VO2 e lactato nos lutadores de Jiu-jitsu durante o exercício. O Brasil representa hoje em dia, a “potência mundial” nesta arte marcial, tendo supremacia absoluta em número de atletas campeões mundiais. 19 5 RELEVÂNCIA Acredita-se que os resultados deste estudo possam contribuir como ferramenta para os profissionais de educação física que lidam com treinamento desportivo, demonstrando o comportamento da concentração de lactato e do consumo de oxigênio em lutadores de Jiujitsu durante o exercício. Espera-se que este estudo venha a conscientizar professores e preparadores físicos, da área do treinamento em artes marciais, da importância de uma periodização individualizada, baseando-se em avaliações o mais próximo da especificidade da luta. 20 6 HIPÓTESES 1. O consumo máximo de oxigênio nos lutadores de Jiu-jitsu não apresentará um valor alto, tendo em média 40 ml/kg/min. 2. Os atletas de Jiu-jitsu atingem concentrações elevadas de lactato na luta e na esteira, atingindo em média a concentração de 6mmol/L logo aos três minutos ambos os exercícios. 3. Os atletas de Jiu-jitsu apresentaram resistência às concentrações elevadas de lactato durante o exercício, apresentando concentrações de lactatemia acima de 10 mmol/L. 4. Os atletas de Jiu-jitsu após o exercício, na fase de recuperação ativa, conseguem reduzir significativamente as concentrações de lactato. Alcançando a lactatemia de repouso após doze minutos de recuperação ativa. 21 7 LACTATO E VO2 7.2 Considerações fisiológicas do lactato 7.2.1 Definição Lactato é classificado um sal do ácido. É uma substância produzida pelo organismo através da glicólise (“queima” da glicose). Origina-se no sistema anaeróbio láctico, ou seja, sem a utilização de moléculas de oxigênio em seu processo. Sendo um mecanismo de emergência capaz de produzir sua maior quantidade de energia em períodos curtos (ROBERGS; ROBERTS, 2002). O lactato produzido através deste metabolismo pode ser encontrado tanto na corrente sangüínea como em músculos estriados esqueléticos (contração voluntária), lisos (contração involuntária) e cardíaco (contração involuntária). A presença do lactato em nosso organismo é necessária para que o mesmo funcione apropriadamente, e sua maior concentração se dará principalmente nos grupos musculares utilizados durante uma determinada atividade (NEDER; NERY, 2003). 7.2.2 Processo de formação A glicólise é o processo de degradação do glicogênio muscular (cadeia complexa de carboidratos), sendo a “quebra” de moléculas de carboidratos a principal fonte de produção do lactato. O processo da glicose ocorre no citosol celular, sendo a primeira via metabólica energética da glicose. A partir da degradação do glicogênio muscular ocorre a formação de duas moléculas piruvato (C3H4O3), duas moléculas de ATP e duas moléculas de NADH (utilizando como transportador de hidrogênios para a reação de desidrogenação), fornecendo energia ao organismo a partir da “quebra” da molécula de glicose (através da Via de Embden-Meyrhof). Com a “fermentação” do piruvato (sem utilização de oxigênio), normalmente, gera-se o acido 22 lático, que seqüencialmente é tamponado pelo bicarbonato de sódio (+NAHCO3) gerando o composto orgânico chamado lactato (WASSERMAN; HANSEN; SUE, 2005). A fermentação do piruvato (sem a presença de oxigênio) também pode gerar o etanol, um composto orgânico classificado como um álcool (hidroxila(s) ligado(s) a um átomo de carbono). Através da oxidação aeróbia (com utilização de oxigênio), o piruvado, gera o composto acetil coenzima a, no qual é utilizado no ciclo de Krebs para geração de energia aeróbia (processo que ocorre dentro das mitocôndrias) (NEDER; NERY, 2003). Segundo Neder e Nery (2003, p. 41): “Deve-se ressaltar, entretanto, que o lactato não é uma escória metabólica: na verdade, constitui importante fonte energética...” A Figura 1 ilustra a o processo da glicólise. Figura 1 – Processo da glicólise. Fonte: O autor (2006). 23 7.2.3 Ácido lático e lactato Durante uma atividade intensa, o pH muscular esquelético pode cair e variar entre 6,4 e 6,0, sendo o de repouso (homeostásia) igual a 7,0. Esta variação do pH muscular é provocada pela liberação de íons ou prótons de hidrogênio pelo ácido carboxílico (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Conforme Robergs e Roberts (2002, p. 117): “A força de um ácido é quantificada pela capacidade de liberar íons hidrogênio (ou prótons H+) quando em solução.” Com a diminuição do pH no organismo ocorre uma sensação de ‘queimação’ no ou nos grupos musculares mais utilizados em uma determinada atividade. Esta ‘queimação’ nada mais é que um mecanismo de defesa do organismo para evitar que o nível de acidez danifique as fibras musculares (WASSERMAN; HANSEN; SUE, 2005). O bicarbonato sanguíneo tem a capacidade de se ligar aos hidrogênios, para diminuir a acidez do meio, formando o ácido carbônico. Ou seja, os íons e prótons de hidrogênio são removidos das células musculares e ligam-se ao bicarbonato. Nas reações seqüenciais pode-se gerar eventualmente dióxido de carbono e água (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Segundo Robergs e Roberts (2002, p.117): “Quando um ácido perde prótons ele fica com carga negativa, atraindo e ligando-se a um íon de carga positiva (sódio ou potássio) e é denominado sal do ácido.” A produção do lactato é realizada através da reação catalisadora lactato desidrogenase, na qual envolve o processo de ‘fermentação’ do piruvato. Os elétrons e prótons desta reação são fornecidos pelo NADH e H+, tendo o piruvato como receptador dos mesmos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1991). 7.2.4 Processos de utilização Nas reações seqüências do piruvato, as fibras musculares, preferencialmente utilizamno como energia aeróbia. Mas o piruvato produzido não consegue ser totalmente utilizado como energia aeróbia (mesmo em repouso), transformando-se quimicamente em lactato. No músculo o lactato é metabolizado e transformado novamente em piruvato, para ser utilizado novamente como fonte de energia aeróbia. Com o treinamento ocorrem adaptações 24 fisiológicas nas fibras musculares melhorando a conversão de lactato em piruvato, assim como uma utilização e resistência mais eficaz (ROBERGS; ROBERTS, 2002). A melhora da capacidade de utilização e de transporte do lactato produzido diminui o problema de alta concentração do mesmo no mesmo músculo. Ou seja, o atleta será capaz de manter um alto nível de intensidade por mais tempo. As fibras musculares do tipo um, por serem mais oxidativas, possuem uma melhor utilização do piruvato como fonte de energia aeróbia, já as fibras do tipo dois possuem uma capacidade limitada nesta utilização. Isto pode ser explicado pelas características especificas de cada fibra, como por exemplo, o número de mitocôndrias no citoplasma celular, responsáveis pela utilização da acetil coenzima a (NEDER; NERY, 2003). A Figura 2 ilustra a estrutura muscular. Figura 2 – Estrutura muscular. Fonte: Rocha, 2006. A Figura 3 ilustra a estrutura da fibra muscular. 25 Figura 3 – Estrutura da fibra muscular. Fonte: Rocha, 2006. No coração, o lactato é utilizado diretamente como fonte de energia, sendo utilizado nas contrações do miocárdio (ROBERGS; ROBERTS, 2002). No fígado, o lactato é transformado novamente em glicose e glicogênio, sendo responsável pelo equilíbrio da produção de lactato via glicólise e sua remoção hepática (ROBERGS; ROBERTS, 2002). 7.2.5 Adaptações fisiológicas com o treinamento Com o treinamento ocorrem quatro principais adaptações fisiológicas do organismo ao lactato: A capacidade de produção, a capacidade de remoção, a capacidade de utilização e a capacidade de resistência à alta concentração. A capacidade de produção de lactato pelo organismo, comparando indivíduos atletas e não atletas em atividades de esforço máximo, aumentada de vinte a trinta por cento em indivíduos atletas. Uma hipótese para este aumente seria um percentual maior das enzimas envolvidas no processo da glicólise (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1991). 26 Numa atividade intensa, o piruvato produzido é utilizado como fonte de energia anaeróbia devido ao déficit de oxigênio, transformando-se quimicamente em lactato e dando continuidade a glicólise. De acordo com Neder e Nery (2003), a falta ou a presença de moléculas de oxigênio nas reações seqüências da glicólise é determinante para que o mesmo processo de produção continue ou não. Ou seja, na falta de oxigênio o piruvato fica responsável pela recepção de elétrons de hidrogênio (através da reação lactato desidrogenase), permitindo que a glicólise continue. O processo da glicólise se dará até que o nível máximo de tolerância ao lactato seja atingido. A partir daí o meio se tornará muito ácido, gerando uma forte sensação de ‘queimação’ e ‘enrijecimento’ muscular, impedindo a continuidade do exercício nesta intensidade elevada (NEDER; NERY, 2003). Segundo McArdle, Katch e Katch (1991), o maior acúmulo de concentração de lactato são alcançados em atividades sustentadas, de um a três minutos em intensidade alta. É importante ressaltar que a produção de lactato não é prejudicial à função muscular. O prejuízo fisiológico da produção de lactato é a liberação de íons de hidrogênio ao organismo, que se não for tamponado reduzirá o pH, tornando o meio muito ácido (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Conforme Robergs e Roberts (2002, p. 128): A acidose muscular e a recuperação dos estoques de creatina fosfato precisam ser discutidas juntas em razão do envolvimento de um próton livre (H+) na reação da creatina quinase (catalisadora da reação creatina fosfato para regeneração de ATP). Quanto maior e mais prolongada a acidose, maior será o tempo necessário para recuperação completa da creatina fosfato. O treinamento físico provoca mudanças da estrutura e da função corporal como conseqüência do estresse repetitivo sofrido pelo músculo. Segundo Robergs e Roberts (2002), a recuperação da acidose muscular é influenciada por dois fatores: pela troca de prótrons intracelulares e outras moléculas carregadas positivamente, ou negativamente e de íons entre compartimentos intra e extracelulares. A remoção de lactato do organismo esta ligada à capacidade de utilização do mesmo como fonte de energia e aos processos de tamponamento para sua formação. Estudos realizados como o do Taoutaou et al. (1996), indicam que as adaptações fisiológicas 27 provocadas pelo tipo de treinamento e recuperação alteram o tempo de remoção do lactato do organismo. De acordo com Taoutaou et al. (1996), no qual avaliaram dois grupos de atletas, sete treinados aerobiamente e sete treinados anaerobiamente após um exercício máximo em cicloergômero, constatou-se que após uma sessão de sessenta minutos de recuperação passiva, ambos os grupos ainda não se encontravam aos valores de lactatemia de repouso. Porém, quando submetidos a uma recuperação ativa os mesmos voltaram aos valores de lactatemia de repouso, com o grupo de atletas treinados aerobiamente recuperando-se mais rapidamente. Estas adaptações podem ser explicadas pelo recrutamento das fibras musculares. Conforme as características da atividade (intensidade, duração e etc.), ocorrerá à predominância de um sistema metabólico no organismo, podendo ser anaeróbio ou aeróbio. Atividades físicas com características aeróbias (intensidade baixa a moderada) desenvolvem mais as fibras musculares do tipo um por apresentarem características oxidativas, na qual são necessárias para realização da atividade. As fibras do tipo um utilizam predominantemente o piruvato para a formação de acetil coa, reduzindo a formação de lactato e acidez muscular e sangüínea (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Diversos autores (ROBERGS; ROBERTS, 2002; NEDER; NERY, 2003; ; HANSEN; SUE, 2005) ressaltam que não só a remoção e utilização do lactato são importantes para a performance física, mas também a capacidade de resistência das fibras musculares a acidose provocada pelas reações seqüências de ‘fermentação’ do piruvato. Segundo Robergs e Roberts (2002), é importante que o organismo se adapte e ‘resista’ a acidose muscular e sangüínea, assim como os fatores que o afetam positiva e negativamente neste processo. Com o treinamento anaeróbio ocorre um aumento nas reservas alcalinas de bicarbonato. Esta adaptação fisiológica gera um aumento na capacidade de tamponamento do ácido lático, produzindo mais lactato (utilizado como fonte de energia) e diminuindo a acidez do meio (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Em esportes tanto de características anaeróbias como aeróbias, quanto menos ácido o pH sangüíneo e muscular permanecerem melhor será a performance do atleta. Conforme Neder e Nery (2003), algumas das adaptações mais significativas que ocorrem em nosso organismo com o treinamento aeróbio são: O aumento das reservas de glicogênio, o aumento da densidade mitocondrial (nº e tamanho), o aumento da capilarização tecidual, o aumento das atividades das enzimas do ciclo de Krebs, o aumento no diâmetro dos vasos e o aumento da cavidade e da massa cardíaca. 28 7.2.6 Análise do lactato A análise do lactato é dada em concentração de milimols por litro de sangue. Uma pessoa em repouso tem em média de 1,4 mmol/L a 2,5 mmol/L, tendo esta concentração aumentada à medida que a atividade física se torna mais intensa (ÅSTRAND et al., 2003). A lactatemia sanguínea é uma ferramenta de grande importância para os treinadores hoje em dia, pois indica o sistema metabólico em que seu atleta se encontra, determinando seu limiar anaeróbio (capacidade funcional de utilização da oferta de oxigênio para as reações seqüências do piruvato). Hoje em dia utiliza-se como referência para determinação do sistema metabólico a concentração de 4,0 mmol/L, ou seja, até 4,0 mmol/L o indivíduo se encontra no sistema aeróbio e acima deste valor no sistema anaeróbio. Alguns programas de treinamento avaliam, de acordo com a intensidade do exercício, o tempo necessário para que o indivíduo atinja a concentração de 4,0 mmol/L. Tendo como análise para eficácia do treinamento o tempo que o mesmo demora em atingir a concentração de 4,0 mmol/L. De maneira em geral, quanto mais tempo um atleta demorar em atingir uma determinada concentração de lactato no sangue, mais tempo ele resistira na atividade na mesma intensidade. Pois através de adaptações fisiológicas ele ‘adiou’ a fase de resistência a lactatemia máxima suportada pelo organismo (NEDER; NERY, 2003). Porem, outros estudos realizados de comparação do limiar do lactato como o do McGehee, Tanner e Houmard (2005), mostram uma variação da lactatemia de limiar entre 3,7 a 4,5 mmol/L. McGehee, Tanner e Houmard (2005) comparou oito métodos diferentes para determinação do limiar anaeróbio, encontrando uma variação da lactatemia de limiar nos indivíduos avaliados. A Figura 4 ilustra diferentes métodos de avaliação do l 29 Figura 4 – Diferentes métodos de avaliação do lactato. Fonte: Neder e Nery (2003, p. 223). Esta variação pode ser explicada através do princípio da individualidade biológica, que explica a diversidade de elementos da mesma espécie. Sendo cada indivíduo único e reconhecendo que não existem pessoas iguais entre si (TUBINO; MORERA, 2003). Este princípio diz que para um mesmo estímulo (fator estressante ao organismo), o organismo terá adaptações fisiológicas diferenciadas (ROBERGS; ROBERTS, 2002). 30 7.3 Considerações fisiológicas do VO2 7.3.1 Consumo de oxigênio Segundo Levitzky (2004), o consumo de oxigênio é a capacidade do organismo em transportar e utilizar o oxigênio para a produção de energia. O consumo de oxigênio pode ser expresso através da equação de Fick, na qual explica que o débito cardíaco é igual ao consumo de oxigênio divididos pela diferença artério-venosa de oxigênio (ROBERGS; ROBERTS, 2002). De acordo com Wasserman, Hansen e Sue (2005), o consumo de oxigênio é dependente de três sistemas (cardíaco, respiratório e metabólico) com uma interdependência funcional entre eles. O sistema cardíaco ou débito cardíaco é o volume sistólico multiplicada pela freqüência cardíaca, o sistema respiratório é a relação das trocas gasosas realizadas pelos alvéolos pulmonares (inspiração de O2 e expiração de CO2) e o sistema metabólico é a capacidade de utilização e transporte de O2 pelos músculos. Conforme Levitzky (2004, p. 143): O oxigênio é transportado tanto fisicamente dissolvido no sangue como quimicamente combinado com a hemoglobina nos eritrócitos. Uma quantidade muito maior de oxigênio é normalmente transportada combinada com a hemoglobina que é fisicamente dissolvida no sangue. Sem hemoglobina, o sistema cardiovascular não poderia suprir oxigênio suficiente para satisfazer as necessidades dos tecidos. De acordo com Wasserman, Hansen e Sue (2005, p. 6): “Durante os exercícios com grandes grupos musculares, a fadiga ocorrerá relativamente cedo quando o requerimento de O2 dos músculos em contração não é suprido pelo sistema de transporte de O2.”. Segundo Levitzky (2004, p. 158): O dióxido de carbono é transportado no sangue fisicamente dissolvido, quimicamente combinado a aminoácidos de proteínas séricas, e como íons bicarbonato. Aproximadamente 200 a 250 mL de dióxido de carbono produzidos pelo metabolismo dos tecidos por minuto em um indivíduo com 70 kg em repouso devem ser transportados pelo sangue venoso aos pulmões e daí expelidos pelo corpo. Em um débito cardíaco de 5L/min, cada 100 mL de sangue que passa pelos pulmões deve, portanto, descarregar 4 a 5 mL de dióxido de carbono. 31 Com o treinamento uma das importantes adaptações que ocorre em nosso organismo é a capacidade de extração do oxigênio venoso através do sistema metabólico, já que o volume de oxigênio arterial é difícil de ser alterada, pois depende do sistema respiratório (WASSERMAN; HANSEN; SUE, 2005). 7.3.2 Limiar ventilatório e de lactato O limiar anaeróbio ou limiar de lactato VO2 é a capacidade mais alta que o organismo consegue utilizar oxigênio antes que o ácido láctico comece a acumular no organismo. Por isso, a capacidade de utilização e transporte de oxigênio mostra-se tão importante no desempenho esportivo. O limiar ventilatório pode ser expresso pelo aumento brusco de dióxido de carbono expirado, decorrente da reação do tamponamento do ácido lático pelo bicarbonato de sódio. A reação gera o lactato de sódio e ácido carbônico e nas reações seqüências produz água e dióxido de carbono (WASSERMAN; HANSEN; SUE, 2005). Conforme Robergs e Roberts (2002), a produção de dióxido de carbono através do tamponamento do ácido lático é catalisada pela reação anidrase carbônica. O aumento da produção de dióxido de carbono esta relacionada a um aumento da lactatemia sangüínea e provoca um aumento do R (razão de consumo de O2 e produção CO2). O aumento da razão de troca gasosa, provocada pelo aumento de dióxido de carbono expirado, serve para determinar o sistema metabólico que o indivíduo se encontra. Ou seja, normalmente o limiar anaeróbio é atingido em um R muito próximo a 1,0, significando que quanto mais alto for o valor de R mais intensa esta a atividade. A importância do limiar ventilatório para o atleta fica evidente no treinamento esportivo, pois além de identificar o sistema metabólico, ele é uma ferramenta para o cálculo da intensidade do exercício de recuperação ativa (de 65 a 75% do limiar). O cálculo para recuperação ativa pode ser feito a partir do VO2 de limiar ou do VO2 máximo, conforme Robergs e Roberts (2002), a recuperação ativa a partir do VO2 máx é calculada de 35 a 55% do VO2 máximo. De acordo com Fox e Mathews (1983), o tempo de remoção do lactato produzido pelo nosso organismo a partir de um exercício máximo ou próximo do máximo demora 25 minutos 32 para remover 50% e 75 minutos para remover 95% em recuperação passiva. Tornando-se este tempo de recuperação ineficaz para campeonatos de Jiu jitsu que tem em média de 20 minutos o intervalo entre as lutas. 7.3.3 VO2 máximo De acordo com Neder e Nery (2003, p. 81): “O VO2 máx constitui a maior taxa possível de utilização corporal do O2, a despeito da exposição do organismo a cargas de trabalho cada vez maiores.” Atualmente, estudos sobre a capacidade oxidativa mitocondrial, a redução artificial de O2 e a oferta artificial de O2 durante exercícios máximos com indivíduos treinados, sugerem que a capacidade VO2 máxima seja limitada pela oferta de oxigênio ao organismo (NEDER; NERY, 2003). Segundo Neder e Nery (2003, p.81): “[...] mesmo em indivíduos não-hipoxêmicos, o VO2 máx pode aumentar substancialmente com O2 suplementar, quanto mais O2 é oferecido no exercício máximo, o músculo é plenamente capaz de utilizá-lo.” De acordo com Wasserman, Hansen e Sue (2005), adaptações fisiológicas importantes ocorrem em nosso organismo com o treinamento, como por exemplo, o aumento da cavidade do ventrículo esquerdo, elevando o volume de ejeção e conseqüentemente melhorando a performance do atleta. Outras adaptações como as do sistema metabólico, propicia um menor consumo de oxigênio para uma mesma intensidade de exercício, apresentando um menor gasto energético e aumentando o consumo máximo de oxigênio. 7.3.4 Déficit de oxigênio, VO2 e lactato O déficit de oxigênio esta relacionada ao incremento de carga em um determinado exercício. Com a intensidade aumentada, o organismo tende a se adaptar a nova carga, ou seja, o VO2 aumenta e se estabiliza progressivamente (NEDER; NERY, 2003). O organismo utiliza normalmente a via aeróbia para o metabolismo energético, mas com o incremento de carga (aumento da intensidade), ocorre um débito de O2 no processo de 33 degradação da glicose, saindo da via aeróbia e passando a predominar a via anaeróbia, ocorrendo um aumento da produção de lactato (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Durante uma atividade física, cada vez que a intensidade aumenta, ocorre o déficit de oxigênio e aumenta a concentração de lactato no organismo. Com o VO2 estabilizado após o déficit, o organismo volta a utilizar predominantemente a via aeróbia, mas a concentração de lactato estará em uma concentração cada vez maior a cada incremento de carga. 34 8 CONSIDERAÇÕES SOBRE O JIU JITSU 8.1 Características da luta O Jiu-jitsu é uma arte marcial que utiliza os conhecimentos que regem as leis da física, biomecânica e anatomia, na aplicação de seus movimentos. Conhecimentos como o sistema de alavancas, momento da força, equilíbrio, centro de gravidade e o estudo do corpo humano. Estes conhecimentos, segundo Souza e Souza (2005), proporcionou ao Jiu-jitsu tornar-se uma arte científica de luta. O Jiu-jitsu é uma luta de origem japonesa cujo objetivo é dominar o adversário através de técnicas de imobilização, estrangulamento ou chave articular. As técnicas de estrangulamento e chave articular têm como finalidade fazer com que o adversário desista da luta. O Jiu-jitsu é uma luta que pode ocorrer em ‘pé’ e ou no ‘solo’, variando conforme as características dos lutadores. As técnicas de combate em ‘pé’ são baseadas e quase idênticas as do Judô, se diferenciando apenas no combate no ‘solo’. Um dos princípios do Jiu-jitsu é utilizar golpes que constituem alavancas mecânicas, e nesse sentido possibilitam que um indivíduo com menor força muscular consiga vencer um adversário mais forte (SOUZA; SOUZA, 2005). Podem-se observar posicionamentos durante a luta que exigem, além de um bom condicionamento físico, grandes amplitudes de movimentos, onde uma flexibilidade reduzida talvez possa influenciar como fator limitante do movimento durante a luta de Jiu-Jitsu. A flexibilidade, de acordo com Araújo (2004), interfere diretamente na amplitude de movimento e a carência da mesma em uma modalidade esportiva pode interferir na performance dos atletas. 8.2 Divisão de faixas A divisão de faixas no Jiu-jitsu, conforme a Confederação Brasileira de Jiu-jitsu é classificada através da divisão de cores e graus (colocados na ponta da faixa), tendo algumas restrições com a idade e tempo de prática. 35 Sua classificação feita da seguinte maneira: • Primeira: Faixa branca (qualquer idade); • Segunda: Faixa amarela (abaixo de dezoito anos); • Terceira: Faixa laranja (abaixo de dezoito anos); • Quarta: Faixa verde (abaixo de dezoito anos); • Quinta: Faixa azul (acima de dezessete anos); • Sexta: Faixa roxa (acima de dezessete anos); • Sétima: Faixa marrom (acima de dezessete anos); • Oitava: Faixa preta (acima de dezessete anos); • Nona: Faixa coral (preto com vermelho) (acima de dezessete anos); • Décima: Faixa vermelha (mais de quarenta anos de prática). 8.3 Tempo de luta Para as competições de Jiu-jitsu, segundo a Confederação Brasileira de Jiu-jitsu (2006), a duração dos combates é divida de acordo com as categorias. Sua classificação visa à preservação do atleta, respeitando as características morfofuncionais do indivíduo, se baseando na idade cronológica para isto. O tempo de luta é dividido da seguinte maneira: • Pré-mirim – 2 minutos; • Mirim – 3 minutos; • Infantil – 4 minutos; • Infanto-juvenil – 4 minutos; • Juvenil – 5 minutos; • Adulto faixa branca – 5 minutos; • Adulto faixa azul – 6 minutos; • Adulto faixa roxa – 7 minutos; • Adulto faixa marrom – 8 minutos; • Adulto faixa preta – 10 minutos; • Máster faixa branca e azul – 5 minutos; • Máster faixa roxa, marrom e preta – 6 minutos; • Sênior (todas as categorias e faixas) – 5 minutos. 36 8.4 Categorias por faixa etária As categorias por faixa etária, de acordo com a Confederação Brasileira de Jiu-jitsu (2006), são divididas em: • Pré-mirim – de 4,5 a 6 anos; • Mirim – de 7,8 a 9 anos; • Infantil – 10,11 a 12 anos; • Infanto-juvenil – 13,14 a 15 anos; • Juvenil – 16 a 17 anos; • Adulto – 18 a 29 anos; • Máster – 30 a 35 anos; • Sênior 1 – 36 a 35 anos; • Sênior 2 – 41 a 45 anos; • Sênior 3 – 46 a 50 anos; • Sênior 4 – 51 a 55 anos; • Sênior 5 – 56 anos em diante. 8.5 Categorias por massa corporal Segundo a Confederação Brasileira de Jiu-jitsu (2006), as categorias por massa corporal são classificadas pelo somatório da massa corporal mais a massa do quimono. As categorias estão classificadas em grupos distintos conforme o sexo e a faixa etária. A Tabela 1 ilustra a divisão das categorias adulto por massa corporal. 37 Tabela 1 – Divisão das categorias Adulto por massa corporal. Galo Pluma Pena Leve Médio Meio-Pesado Pesado Super-Pesado Pesadíssimo Absoluto Atleta (kg) 54,999 60,999 66,999 72,999 78,999 84,999 90,999 96,999 97 ADULTO Quimono 2,5 3,0 3,0 3,0 3,3 3,3 3,3 3,5 Total (kg) 57,50 64,00 70,00 76,00 82,30 88,30 94,30 100,50 Livre Fonte: CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JIU-JITSU. Disponível em: < http://www.cbjj.com.br/ >. Acesso em: 8 Jun. 2006. 8.6 Via energética durante a luta Para entendermos qual a via energética predominante em alguma modalidade esportiva específica, temos que compreender a intensidade e volume com que o mesmo é realizado. O Jiu-jitsu se caracteriza por ser um combate de grande explosão muscular, em virtude do tempo curto (máximo dez minutos) de luta em campeonatos oficiais. Historicamente o Jiu-jitsu foi originado para que uma pessoa, que sem grandes atributos físicos, como grande volume muscular e ou grande capacidade cárdio-respiratória, conseguisse derrotar um adversário mais forte. Grandes combates travados por lutadores de Jiu-jitsu, como de seu ‘criador’ Hélio Gracie, tiverem duração de horas, e isto foi possível apenas pela diferença de técnicas entre os lutadores. Em campeonatos oficiais, por apresentarem uma divisão de faixas, ou seja, não ocorrendo grande diferença técnica entre os lutadores, tornam-se inviáveis combates de longa duração, pois o desgaste físico se tornaria muito elevado (diminuição do pH, depleção das reservas de glicogênio, aumento de razão da troca gasosa e etc...) em virtude das técnicas se ‘anularem’. A via energética predominante em modalidades de intensidade elevada e curta duração é a rota metabólica glicolítica anaeróbia, em virtude do déficit de moléculas de oxigênio. As lutas de Jiu-jitsu, mesmo as de tempo ‘livre’, apresentam constantemente variações na 38 intensidade, ou seja, toda vez que a intensidade é aumentada, ocorrera o déficit e a via anaeróbia será predominante (ROBERGS; ROBERTS, 2002). Uma das principais características da rota metabólica anaeróbia é o aumento da concentração da lactatemia no organismo, decorrente do processo de ‘fermentação’ do piruvato. Este estudo mostrara a variação da lactatemia, durante testes de ergoespirometria na esteira e nas lutas de acordo com as regras da CBJJ, com lutadores de Jiu-jitsu. É importante ressaltar a respeito da via energética predominante durante os combates oficiais de Jiu-jitsu, que após a depleção de adenosina trifosfato (ATP) e da creatina fosfato (CP) no qual já estão previamente armazenados, a principal fonte energética será através da glicólise, processo no qual as moléculas de glicose são degradadas. Segundo Robergs e Roberts (2002), o aumento das reservas de glicogênio muscular (reservas de moléculas de glicose), decorrente das adaptações fisiológicas ocasionadas pelo exercício, assim como a melhoria na degradação e utilização da mesma, tornam-se de grande importância no exercício. Pois, ocorre uma melhora na geração de energia através das rotas metabólicas. 8.7 Jiu-jitsu, lactato e VO2 A produção de lactato e subseqüentemente o aumento da acidose muscular e sangüínea, esta diretamente associada às contrações rápidas e intensas ocasionadas durante a luta. Concentrações elevadas de lactato, juntamente com a baixa oferta de oxigênio nas fibras musculares, são as principais responsáveis pela fadiga nessas modalidades esportivas (NEDER; NERY, 2003). Estudos realizados por Chmura, Nassar e Kaciuba (1994), demonstraram que concentrações elevadas de lactato (acima do limar anaeróbio) no organismo geram um maior tempo de reação e de escolha pelo atleta mediante alguma situação específica. Os combates de Jiu-jitsu caracterizam-se por tomadas de decisões rápidas com o objetivo de ganhar alguma vantagem na luta, forçando um ‘erro’ do adversário e / ou buscando uma ‘finalização’ no mesmo (MACHADO; FRAGUAS, 2004). Ou seja, conforme os estudos realizados por Chmura, Nassar e Kaciuba (1994), a produção de lactato irá interferir diretamente no tempo de escolha das técnicas para se opor às impostas pelo 39 adversário. Esta demora na reação de escolha, certamente irá implicar em uma perda da performance na luta. Diversos autores (ROBERGS; ROBERTS, 2002; NEDER; NERY, 2003; LEVITZKY, 2004; WASSERMAN; HANSEN; SUE, 2005) relacionam a importância de um bom condicionamento cárdio-respiratório e metabólico para um melhor desempenho esportivo. Segundo Neder e Nery (2003), enquanto houver oferta de oxigênio, mesmo com as concentrações elevadas da lactatemia, as fibras musculares são capazes de utilizá-lo. Porém, é importante ressaltar que mesmo com a oferta aumentada de oxigênio durante o exercício, o aumento da acidose muscular decorrente do processo de geração de energia, poderá provocar danos às células musculares, provocando lesões. Daí a importância de um treinamento não só para melhorar a remoção do lactato, mas também para um aumento na resistência a acidose muscular e sangüínea. 40 9 METODOLOGIA 9.1 Seleção da amostra A amostra contou com oito (n=8) atletas de Jiu-jitsu do sexo masculino, sendo seis faixas azuis (n=6), um faixa roxa (n=1) e um faixa preta (n=1), com mais de dois anos de prática e com uma carga semanal de treino de no mínimo cinco horas, todos membros da acedemia CEJUC (Centro de Ensino de Judô de Canoas que é uma filial da Academia Sul Jiujitsu). Os testes foram realizados no Laboratório de Pesquisa e Avaliação em Atividade Física (LAPAFI) e na Academia CEJUC. Para o processo de seleção dos atletas foram determinados alguns pré-requisitos: 75% da amostra se encontrar na faixa azul, todos serem do sexo masculino e todos estarem treinando Jiu-jitsu sem interrupções a mais de dois anos. O fator de exclusão se estabeleceu à resposta negativa aos pré-requisitos. Cada indivíduo da amostra assinou um termo de consentimento (APÊNDICE A), com todas informações da realização dos testes e possíveis riscos dos procedimentos. 9.2 Fase de treinamento Não houve fase de treinamento para a realização dos testes. 9.3 Cuidado prè-teste Os indivíduos avaliados, ao serem convidados para a realização do experimento, foram informados de todos os procedimentos realizados, bem como os riscos na participação. Receberam um termo de consentimento (APÊNDICE A), no qual todas as informações pertinentes aos testes e a publicação da pesquisa estarão disponíveis. 41 Foi pedido aos atletas que não realizassem atividade física vinte e quatro horas antes do teste, para assegurar que os níveis de concentração de lactato se encontrassem o mais próximo do repouso. Todos os procedimentos envolvidos na coleta de dados durante os testes foram explicados aos sujeitos, desta maneira evitando acidentes na realização dos mesmos. Outro aspecto fundamental para realização deste estudo foi à calibração e o controle de qualidade dos aparelhos. Para o sistema metabólico portátil VO2000 á calibração utilizada foi automática, como proposta pelo fabricante, necessitando apenas dos dados locais de pressão barométrica e temperatura. No período anterior ao teste, desde a hora em que o comando para calibração foi dado, tomou-se o cuidado que todas as pessoas que participaram do teste permanecessem no local, evitando variações significativas nas concentrações gasosas. Para o teste de ergoespirometria na esteira, limitou-se o número de avaliadores para três pessoas no local da realização do mesmo. 9.4 Protocolo Foram cinco dias usados para a realização dos testes e coleta de dados, com uma semana de separação entre eles. Onde seis atletas realizaram um TECR (teste de esforço cárdio-respiratório) com protocolo incremental em degraus de Bruce (ANEXO A), dois atletas simularam um combate sem aquecimento prévio, e quatro atletas simularam um combate com aquecimento prévio. Nos dias dos testes no Laboratório de Pesquisa em Atividade Física, foram aferidas a massa corporal, estatura, dobras cutâneas e pressão arterial. Todas as informações pertinentes á realização dos testes foram passadas ao atleta, explicando como proceder em qualquer situação de risco ou desconforto. Foi monitorado por eletrocardiograma (ECG) de esforço de três derivações durante toda a atividade, inclusive na fase de recuperação ativa. Para isso os atletas foram submetidos a uma tricotomia realizada com lâminas descartáveis em cinco pontos, para posteriormente a colocação de cinco eletrodos (Blue Sensor) descartáveis de cloreto de prata com pasta eletrolítica (NEDER; NERY, 2003). Os atletas permaneceram parados, aproximadamente cinco minutos, para serem estabilizadas e registradas suas taxas respiratórias de repouso, para dar procedimento ao início do teste. 42 Amostras sanguíneas foram retiradas no repouso e no final de cada estágio do teste, com a utilização do lancetador para a perfuração do dedo e de uma fita para a coleta do sangue. Está fita foi utilizada para a mensuração do lactato sangüíneo por meio do aparelho lactímetro Accutrend – Roche (Figura 5), servindo para determinação do lactato. No dia de teste na Academia CEJUC (Centro de Ensino de Judô de Canoas), foram coletadas amostras sanguíneas no início da luta, aos três minutos e aos seis minutos com a utilização do lancetador, fita e lactímetro, determinando a concentração de lactato. Figura 5 – Lactímetro Accutrend Lactate utilizado para mensurar a concentração de lactato sanguineo. O teste iniciou-se com uma velocidade de 1,7 mph e inclinação de 10%. A cada três minutos, antes da velocidade e da inclinação aumentar, foi coletado uma amostra de sangue arterializado do dedo do indivíduo. O teste acabava quando o atleta não conseguisse mais manter a corrida na esteira, neste momento realizava-se uma recuperação ativa, com uma caminhada com intensidade de 65 a 75% do VO2 do limiar anaeróbio, durante um período de 10 a 14 minutos, onde foram coletadas amostras sangüíneas a cada 2 minutos. 9.5 Instrumentos 1. Algodão; 2. Aparelho de pressão aneróide; 3. Balança Cauduro; 43 4. Barômetro; 5. Computador Pentium 4 – 2.4 Ghz; 6. Disfibrilador – Instramed – HS01; 7. Eletrodos Meditrace; 8. Estadiômetro – Sanny; 9. Esteira – Inbrasport – Super ATL; 10. Estetoscópio – Bic; 11. Fitas para lactímetro – BM Lactate – Roche Diagnostics; 12. Grampo nasal; 13. Lactímetro – Accutrend lactate – Roche Diagnostics; 14. Lacetas para lactímetro – Soft Clix – Roche Diagnostics; 15. Lâmina descartável; 16. Lancetador – Soft Clix – Roche Diagnostics; 17. Tatame de lona; 18. Luvas cirúrgivas de látex – Mucambo; 19. Adipômetro Sanny; 20. VO2000 – Medical Graphs Corporation; 21. Software para análise de dados – Ergo pc elite; 22. Termômetro. 9.6 Riscos Existe a possibilidade de certas alterações durante o teste, como o aumento ou diminuição da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, dores no peito e, muito raramente, isquemia, arritmias e infarto agudo do miocárdio. Para tanto, o indivíduo foi constantemente monitorado por ECG. Além do acompanhamento, qualquer problema maior poderá ser solucionado com agilidade por nossa equipe, dado que o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) localiza-se a aproximadamente 100 metros do laboratório onde foram realizados os testes de ergoespirometria. Estando um médico sempre presente nos dias do teste. 44 9.7 Análise estatística Neste estudo, para análise dos dados, foi utilizado software Excel para a construção de tabelas e gráficos. Foi feita a regressão linear do tempo, dos batimentos cardíacos e consumo de oxigênio, entre os métodos do limiar de lactato e limiar ventilatório do teste de esforço. 45 10 RESULTADOS 10.1 Tabelas e gráficos As tabelas abaixo ilustram os resultados. Tabela 2 – Faixa e tempo de treino. Atleta Faixa Tempo de treino (anos) Indivíduo 1 Azul 3 Indivíduo 2 Roxa 7 Indivíduo 3 Azul 3 Indivíduo 4 Preta 14 Indivíduo 5 Azul 3 Indivíduo 6 Azul 2 Indivíduo 7 Azul 3 Indivíduo 8 Azul 2 Fonte: O autor (2006). Tabela 3 – Dados antropométricos (etnia, idade, estatura e massa corporal). Atleta Etnia Idade Estatura Massa Corporal Indivíduo 3 0 25 1,76 77 Indivíduo 6 0 20 1,77 80 Indivíduo 5 0 30 1,77 85 Indivíduo 4 1,1 36 1,7 66 Indivíduo 1 0 32 1,83 96 Indivíduo 2 0 26 1,74 73 Fonte: O autor (2006). 46 Tabela 4 – Dados antropométricos (dobras cutâneas). Atleta Dobra Tríceps Dobra Subescapular Dobra Bíceps 15,8 15 3,5 Indivíduo 3 20 17 7 Indivíduo 6 23 22,1 4,8 Indivíduo 5 14,3 12,8 3,5 Indivíduo 4 Indivíduo 1 29 38,7 11 12,8 12,2 3,3 Indivíduo 2 Fonte: O autor (2006). Dobra Peitoral 4,6 13 7,2 7,4 18 3,6 Tabela 5 – Dados antropométricos (dobras cutâneas). Atleta Dobra Crista Dobra Dobra Ilíaca Supraespinhal Abdominal Indivíduo 3 18,3 12 12,5 Indivíduo 6 35,7 30 27,5 Indivíduo 5 27 16,3 19,9 Indivíduo 4 18,9 9,1 17,8 Indivíduo 1 36 34,5 39,5 Indivíduo 2 11,1 7,8 10,5 Fonte: O autor (2006). Dobra Coxa 10,5 23 23,7 8,7 18,2 11,6 Tabela 6 – Dados antropométricos (dobras cutâneas e perímetros). Atleta Dobra Perímetro Braço Perímetro Braço Perímetro Panturrilha Relaxado Contraido Torax Indivíduo 3 5 35,2 36,1 98,7 Indivíduo 6 10,2 34,6 34,5 99,2 Indivíduo 5 7,3 37,3 40,5 100,7 Indivíduo 4 6 29,3 31 94,9 Indivíduo 1 14 39,5 42,1 100,16 Indivíduo 2 7,2 35,2 38,1 99,2 Fonte: O autor (2006). 47 Tabela 7 – dados antropométricos (perímetros). Atleta Perímetro Perímetro Perímetro Abdominal Quadril Coxa Indivíduo 3 84 96,3 57,7 Indivíduo 6 94,7 105 67,2 Indivíduo 5 83,7 62,5 Indivíduo 4 81,2 93,2 54,5 Indivíduo 1 100,2 100,3 65,2 Indivíduo 2 81,2 97 58,2 Fonte: O autor (2006). Perímetro Panturrilha 36 35,7 38 34 41 39 Tabela 8 – Dados antropométricos (diâmetros). Atleta Diâmetro Diâmetro Diâmetro Biacromial Biestiloide Umeral Indivíduo 3 42,6 7,5 8 Indivíduo 6 40,3 6 7 Indivíduo 5 39 6,4 6,9 Indivíduo 4 36,4 5,5 6,6 Indivíduo 1 38,2 6,1 7,4 Indivíduo 2 38,4 5,7 7,1 Fonte: O autor (2006). Tabela 9 - Dados antropométricos (diâmetros). Atleta Diâmetro Femural Diâmetro Bimaleolar Indivíduo 3 9,5 7,6 Indivíduo 6 9,9 7,7 Indivíduo 5 10 7,2 Indivíduo 4 8,7 7 Indivíduo 1 9,5 7,2 Indivíduo 2 9,9 7,1 Fonte: O autor (2006). 48 Tabela 10 - Dados antropométricos (densidade corporal e percentual de gordura). Atleta DC Pollock %G Pollock DC Pollock %G Pollock Atletas Atletas Adultos Adultos Indivíduo 3 1,0717931 11,84286874 1,081346896 7,762445919 Indivíduo 6 1,051577057 20,72156714 1,05818815 17,78070611 Indivíduo 5 1,053741164 19,75482871 1,063790664 15,31711243 Indivíduo 4 Indivíduo 1 1,036842372 27,41104469 1,047730794 22,44960522 Indivíduo 2 1,07718132 9,532662523 1,082498194 7,27558969 Fonte: O autor (2006). Tabela 11 - Dados antropométricos (densidade corporal e percentual de gordura) Atleta DC Pollock Negros %G Pollock Negros Indivíduo 3 Indivíduo 6 Indivíduo 5 Indivíduo 4 1,06733252 16,43191724 Indivíduo 1 Indivíduo 2 Fonte: O autor (2006). Atleta Tabela 12 – Resultados do teste de esforço. VO2 Limiar FC Limiar VO2 Máx (ml/kg.min) (bpm) (ml/kg.min) Indivíduo 1 32.92 Indivíduo 2 33.7 Indivíduo 3 24.55 Indivíduo 4 45.61 Indivíduo 5 28.47 Indivíduo 6 28.76 Média 32.335 Desvio 7.304192632 Padrão Fonte: O autor (2006). 165 148 126 165 174 176 159 18.95257238 38.85 42.33 41.56 55.91 40.59 38.19 42.905 6.56205989 FC Máx (bpm) 187 183 183 191 195 197 189.3333333 5.988878582 49 Tabela 13 - Resultados do Teste de esforço. Atleta % Limiar % FC Máx Indivíduo 1 Indivíduo 2 Indivíduo 3 Indivíduo 4 Indivíduo 5 Indivíduo 6 Média Desvio Padrão 84.7 79.6 59.1 81.6 70.1 77.9 75.5 9.40786905 88.2 80.9 66.3 86.4 89.2 89.3 83.383333 8.9347449 Fonte: O autor (2006). Tabela 14 - Resultados da lactatemia do teste de esforço. Fase Ativa Indivíduo 1 Indivíduo 2 Indivíduo 3 Tempo (Minutos) Lactato (mmol/L) Lactato (mmol/L) Lactato (mmol/L) 0 2 1.6 2.4 3 2.5 2.5 2.4 6 2.1 2.5 2 9 3.9 3.3 3 12 10.5 4.5 6.6 15 Fase de Recuperação Tempo (Minutos) 2 4 6 8 10 12 14 Fonte: O autor (2006). 13.7 14 9.5 8.5 8 7.3 6.7 5.8 5.2 14.6 15.2 13.7 13.4 12.2 10.5 10.5 50 Tabela 15 - Resultados da lactatemia do teste de esforço. Fase Ativa Indivíduo 4 Indivíduo 5 Indivíduo 6 Tempo (Minutos) Lactato (mmol/L) Lactato (mmol/L) Lactato (mmol/L) 0 2 1.6 2.5 3 2.6 2.2 3.1 6 2.6 1.7 2.3 9 3.3 3.9 3 12 4.7 9.4 10.2 15 8 Fase de Recuperação Tempo (Minutos) 2 4 6 8 10 12 14 Fonte: O autor (2006). 12.2 10.5 8.2 9.6 5.7 4.5 12.5 8.6 10.9 10.7 9.1 10.8 6.3 9.7 14.2 14.1 8.3 8 7.7 Tabela 16 - Resultados da lactatemia da simulação de luta com aquecimento. Simulação de luta Indivíduo 1 Indivíduo 5 Indivíduo 8 Indivíduo 7 Tempo (Minutos) Lactato Lactato Lactato Lactato (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) 0 5.5 3.3 6.7 2.9 6 10.2 5.5 11.2 5.8 12 13.6 13.7 12 8.6 18 13.7 9.4 Média 9.766666667 7.5 10.9 6.675 Fonte: O autor (2006). Tabela 17 - Resultados da lactatemia da simulação de luta sem aquecimento. Simulação de luta Indivíduo 3 Indivíduo 6 Tempo (Minutos) Lactato (mmol/L) Lactato (mmol/L) 0 3 3.5 3 6.7 6.5 6 7.1 8.3 Fonte: O autor (2006). 51 Os gráficos abaixo ilustram os resultados. Teste de Esforço - Fase Ativa 12 11 10 9 Lactatemia (mmol/L) 8 7 6 Indivíduo 1 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tempo (min.) Gráfico 1 - Teste de esforço indivíduo 1. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 2,8 mmol/L. VO2 de limiar: 29,79 ml/kg.min. Tempo: 7 minutos e 45 segundos. Teste de Esforço - Fase Ativa 5 Lactatemia (mmol/L) 4 3 Indivíduo 2 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Tempo (min.) Gráfico 2 - Teste de esforço indivíduo 2. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 2,8 mmol/L VO2 de limiar: 28,49 ml/kg.min. Tempo: 7 minutos e 12 segundos. 12 13 52 Teste de Esforço - Fase Ativa 7 6 Lactatemia (mmol/L) 5 4 Indivíduo 3 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tempo (min.) Gráfico 3 - Teste de esforço indivíduo 3. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 2,4 mmol/L. VO2 de limiar: 27,01 ml/kg.min. Tempo: 7 minutos e 45 segundos. Teste de Esforço - Fase Ativa 9 8 Lactatemia (mmol/L) 7 6 5 Indivíduo 4 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Tempo (min.) Gráfico 4 - Teste de esforço indivíduo 4. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 3,8 mmol/L. VO2 de limiar: 43,79 ml/kg.min. Tempo: 10 minutos e 38 segundos. 15 16 53 Teste de Esforço - Fase Ativa 10 9 8 Lactatemia (mmol/L) 7 6 5 Indivíduo 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tempo (min.) Gráfico 5 - Teste de esforço indivíduo 5. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 2,4 mmol/L VO2 de limiar: 26,59 ml/kg.min. Tempo: 7 minutos e 24 segundos. Teste de Esforço - Fase Ativa 11 10 9 Lactatemia (mmol/L) 8 7 6 Indivíduo 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Tempo (min.) Gráfico 6 - Teste de esforço indivíduo 6. Fonte: O autor (2006). Lactatemia de limiar: 2,5 mmol/L VO2 de limiar: 32,1 ml/kg.min. Tempo: 8 minutos e 12 segundos. 12 13 54 Teste de Esforço - Fase de Recuperação Lactatemia (mmol/L) 15 14 Indivíduo 1 13 0 1 2 3 4 5 Tempo (min.) Gráfico 7 - Fase de recuperação indivíduo 1. Fonte: O autor (2006). Teste de Esforço - Fase de Recuparação 10 9 8 Lactatemia (mmol/L) 7 6 5 Indivíduo 2 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Tempo (min.) Gráfico 8 - Fase de recuperação indivíduo 2. Fonte: O autor (2006). 13 14 15 55 Teste de Esforço - Fase de Recuperação 16 15 14 13 Lactatemia (mmol/L) 12 11 10 9 8 Indivíduo 3 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Tempo (min.) Gráfico 9 - Fase de recuperação indivíduo 3. Fonte: O autor (2006). Teste de Esforço - Fase de Recuperação 13 12 11 Lactatemia (mmol/L) 10 9 8 7 Indivíduo 4 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Tempo (min.) Gráfico 10 - Fase de recuperação indivíduo 4. Fonte: O autor (2006). 12 13 56 Teste de Esforço - Fase de Recuperação 14 13 12 11 Lactatemia (mmol/L) 10 9 8 7 Indivíduo 5 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Tempo (min.) Gráfico 11 - ase de recuparação indivíduo 5. Fonte: O autor (2006). Teste de Esforço - Fase de Recuperação 15 14 13 12 Lactatemia (mmol/L) 11 10 9 8 Indivíduo 6 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Tempo (min.) Gráfico 12 - Fase de recuperação indivíduo 6. Fonte: O autor (2006). 12 13 57 Simulação de Luta - Com Aquecimento 15 14 13 12 Lactatemia (mmol/L) 11 10 9 8 Indivíduo 1 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tempo (min.) Gráfico 13 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. Fonte: O autor (2006). Simulação de Luta - Com Aquecimento 15 14 13 12 Lactatemia (mmol/L) 11 10 9 8 Indivíduo 5 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tempo Gráfico 14 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. Fonte: O autor (2006). 58 Simulação de Luta - Com Aquecimento 10 9 8 Lactatemia (mmol/L) 7 6 5 Indivíduo 7 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Tempo (min.) Gráfico 15 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. Fonte: O autor (2006). Simulação de Luta - Com Aquecimento 15 14 13 12 Lactatemia (mmol/L) 11 10 9 8 Indivíduo 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Tempo (min.) Gráfico 16 - Lactatemia durante a simulação de luta com aquecimento. Fonte: O autor (2006). 59 Simulação de Luta - Sem Aquecimento 8 7 Lactatemia (mmol/L) 6 5 4 Indivíduo 3 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (min.) Gráfico 17 - Lactatemia durante a simulação de luta sem aquecimento. Fonte: O autor (2006). Simulação de Luta - Sem Aquecimento 9 8 Lactatemia (mmol/L) 7 6 5 Indivíduo 6 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo (min.) Gráfico 18 - Lactatemia durante a simulação de luta sem aquecimento. Fonte: O autor (2006). 60 A tabela abaixo demonstra os resultados obtidos entre o método da lactatemia e ventilatório. Tabela 18 - Resultados obtidos entre o método da lactatemia e ventilatório. Atleta Freq. Cárd. Lact. Freq. Cárd. VO2 VO2 Limiar VO2 Lact. Limiar Limiar Limiar (bpm) (bpm) (ml/kg.min) (ml/kg.min) Indivíduo 1 165 165 32,92 28,75 Indivíduo 2 137 148 33,7 31,78 Indivíduo 3 133 126 24,55 27,01 Indivíduo 4 165 165 45,61 43,79 Indivíduo 5 174 174 28,47 28,12 Indivíduo 6 177 176 28,76 28,02 Média 158,5 159 32,335 31,245 Fonte: O autor (2006). Tabela 19 - Resultados obtidos entre o método da lactatemia e ventilatório. Atleta Tempo Lact. Limiar Tempo VO2 Limiar (min.) (min.) Indivíduo 1 7,8 7,5 Indivíduo 2 7,2 8,95 Indivíduo 3 7,8 7,4 Indivíduo 4 10,6 10,71 Indivíduo 5 7,2 7,3 Indivíduo 6 8,2 7,8 Média 8,133333333 8,276666667 Fonte: O autor (2006). 61 Os gráficos abaixo ilustram as regressões lineares entre os métodos. Regressão Linear da Freqüência Cardíaca 190 Freqüência Cardíaca de Limiar de Lactato 180 y = 0,9482x + 7,7333 R2 = 0,9075 170 160 150 Seqüência1 Linear (Seqüência1) 140 130 120 110 100 100 110 120 130 140 150 160 170 180 Freqüência Cardíaca de Limiar Ventilatório Gráfico 19 - Regressão linear da freqüência cardíaca. Fonte: O autor (2006). Regressão Linear do Consumo de Oxigênio 50 45 y = 0,8337x + 4,2888 R2 = 0,9178 VO2 do Limiar de Lactato 40 35 Seqüência1 Linear (Seqüência1) 30 25 20 15 10 10 15 20 25 30 35 40 45 VO2 do Limiar Ventilatório Gráfico 20 - Regressão linear do consumo de oxigênio. Fonte: O autor (2006). 50 62 Regressão Linear do Tempo 11 Tempo (min.) do Limiar de Lactato 10,5 y = 0,7622x + 1,8246 R2 = 0,644 10 9,5 9 Seqüência1 Linear (Seqüência1) 8,5 8 7,5 7 6,5 6 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9 9,5 10 10,5 Tempo (min.) do Limiar Ventilatório Gráfico 21 - Regressão linear do tempo. Fonte: O autor (2006). 11 63 11 DISCUSSÃO Este estudo teve como objetivo analisar a variação do consumo de oxigênio e da lactatemia durante o teste de esforço, assim como, a variação da lactatemia durante o combate simulado. Os atletas avaliados apresentaram um percentual médio de gordura no valor de 17.61% da massa corporal total, utilizando o protocolo de Pollock de sete dobras para atletas (Tabelas 10 e 11). Como o Jiu-jitsu é dividido em categorias de peso, faixa, idade e sexo, é importante saber quanto o atleta possui de gordura corporal, massa muscular, massa óssea e massa residual. O conhecimento da composição corporal de cada categoria específica do Jiujitsu, principalmente o percentual de gordura e massa muscular, permite saber se é possível para um atleta reduzir seu peso com finalidade de lutar em uma categoria mais leve ou mais pesada sem que ocorra perda de massa muscular e de performance. Por ser uma luta de características anaeróbia, sugere-se, baseado nos resultados obtidos de composição corporal e lactatemia durante a luta, que indivíduos com mais massa muscular e o percentual de gordura mais baixo, apresentarão uma performance melhor durante luta. Com base nos resultados (Tabelas 14 e 15) é possível perceber, nos atletas de Jiu-jitsu avaliados, a resistência às altas concentrações de lactato durante o teste de esforço e combate simulado, comprovando a hipótese 3. As hipóteses 1, 2 e 4 levantadas não foram confirmadas no decorrer da pesquisa, por não termos talvez um número de amostra suficiente. A média da concentração máxima de lactatemia atingida pelos atletas de Jiu-jitsu durante a simulação de luta com aquecimento (Tabela 16) encontra-se num valor de 12,6 mmol/L em uma média de tempo de luta de 15 minutos. A média da concentração máxima de lactatemia durante a simulação de sem aquecimento prévio (Tabela 17) encontro-se num valor de 7,7 mmol/L em uma média de tempo de luta de 6 minutos. Estes dados obtidos sugerem que o atleta mais condicionado para a luta de Jiu-jitsu especificamente, ou seja, aumento do tempo para atingir o limiar anaeróbio para uma mesma intensidade e um maior tempo de resistência às concentrações elevadas de lactatemia durante a luta, conseguirão lutar por mais tempo. Os resultados do teste de esforço (Tabela 12) demonstram uma média no consumo de oxigênio máximo no valor de 42,9 ± 6,56 ml/kg.min e no consumo de oxigênio de limiar de 32,33 ± 7,30 ml/kg.min. Ou seja, comparando os resultados com a classificação de aptidão 64 cardiorespiratória para homens da American Heart Association (2006), os atletas de Jiu-jitsu encontram-se na classificação regular. Os resultados também sugerem que a capacidade anaeróbia e aeróbia podem influenciar a estratégia do combate. As altas concentrações de lactato encontradas no organismo dos atletas, durante a simulação de luta e teste de esforço, e de acordo com os estudos realizados por Chmura, Nassar e Kaciuba (1994), mostram que o atleta com maior capacidade anaeróbia podem adotar uma estratégia mais ofensiva desde o início da luta, conseqüentemente gerando um acumulo de lactatemia não suportável pelo seu adversário. Já atletas com características mais aeróbias preferencialmente devem adotar uma estratégia de luta mais defensiva, evitando o acumulo, ou seja, um brusco aumento da lactatemia, e atacando apenas no final da luta. Sugere-se, através deste estudo, uma maior importância da realização de recuperação ativa para esta população, pois, conforme Neder e Nery (2003), a performance esta diretamente associada às concentrações de lactato sangüíneo e muscular no organismo. Esportes com características anaeróbias, a importância de manter as concentrações de lactato baixas fica ainda mais evidenciada. Com resultados da recuperação ativa (Tabela 12), foi possível perceber que os atletas de Jiu-jitsu conseguiram reduzir significativamente os níveis de lactatemia entre 10 e 12 minutos, sendo em média de 20 minutos o intervalo das lutas em campeonatos gaúchos de Jiu-jitsu . Conforme Neder e Nery (2003), o processo de tamponamento do ácido lático, assim como, a utilização de lactato pelo músculo, fígado e coração, na recuperação ativa é mais acelerada do que na passiva. Ou seja, segundo o mesmo e os resultados obtidos, a recuperação ativa mostra-se muito mais eficiente do que a passiva para o Jiu-jitsu. Os resultados da recuperação ativa demonstram que até o décimo minuto as concentrações de lactato não tiveram uma diferença significativa, apresentando uma melhora na redução do lactato somente acima dos 10 minutos. Com base dos resultados da regressão linear do tempo (Gráfico 21), da freqüência cardíaca (Gráfico 19) e consumo de oxigênio (Gráfico 20), entre os métodos da lactatemia e ventilatório, sugere-se que ambos os métodos servem como forma de medida para a prescrição do treinamento. Estando, os resultados da lactatemia de limiar e freqüência cardíaca de lactatemia de limiar, muito próximos aos resultados do limiar ventilatório e freqüência cardíca de limiar ventilatório. O consumo de oxigênio da lactatemia de limiar apresenta um valor de média 31,24 ml/kg.min, sendo o consumo de oxigênio ventilatório 32.33 ml/kg.min. O valor obtido de 65 freqüência cardíaca de lactatemia de limiar apresenta uma média da amostra no valor de 158,5 bpm, sendo o valor da freqüência cardíca de limiar ventilatório 159 bpm. O valor médio do tempo da lactatemia de limiar é 8,13 minutos, sendo o de limiar ventilatório 8,27 minutos. De acordo com a classificação de regressão linear, o valor obtido da regressão linear do volume de oxigênio de limiar encontra-se na classificação fortíssima, sendo o valor de regressão 0,9178. A regressão linear de freqüência cardíaca de limiar encontra-se na classificação fortíssima, sendo o valor de regressão 0,9075. A regressão linear do tempo de limiar encontra-se na classificação forte, sendo o valor de regressão 0,644. 66 12 CONCLUSÃO O estudo sugeriu a importância do controle das concentrações de lactato durante a fase treinamento, para os lutadores de Jiu-jitsu, visando a melhoria da performance na luta. No presente estudo, como na literatura especializada, ainda vemos um grande vão a ser explorado quanto aos efeitos do treinamento de Jiu-jitsu nos processos fisiológicos e metabólicos. No que se refere aos métodos de determinação de limiar anaeróbio, o limiar da lactatemia quando comparado com o limiar ventilatório possui uma ótima correlação, apresentando uma regressão linear fortíssima entre os métodos. A técnica de detecção de limiar anaeróbio por lactatemia, por ser um método mais simples e mais barato, pode vir a ser uma importante ferramenta para a detecção de limiar anaeróbio tanto em atletas de rendimento, atletas amadores e jovens em etapa de formação, porém ainda é pouco utilizada em nosso meio. Devido ao baixo número da amostra (n=8), sugere-se mais estudos com um número maior de indivíduos, que abordem esta temática. Espera-se que os resultados deste estudo possam ajudar os treinadores e atletas de Jiu-jitsu a dar mais importância as avaliações físicas para a periodização do treinamento. 67 REFERÊNCIAS AMERICAN HEART ASSOCIATION. Disponível em: < http://www.american heart association.com/ >. Acesso em 07 Jun. 2006. ARAÚJO, C. G. Flexiteste: um método completo para avaliar a flexibilidade. Rio de Janeiro, RJ: Manole, 2004. 252 p. ÅSTRAND, O. et al. Textbook of work physiology: physiological bases of exercise. California: Human Kinetics, 2003. 656 p. CHMURA, J.; NASSAR, K.; KACIUBA, H. Choice reaction time during graded exercises in relation to blood lactate and plasma catecholamine threshold. International Journal of Sports Medicine, v.15, n. 4, p. 172-6, 1994. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JIU-JITSU. Disponível em: < http://www.cbjj.com.br/ >. Acesso em: 08 Jun. 2006. FOX, E. L.; MATHEWS, D. K. Bases fisiológicas da educação física e dos desportos. Rio de Janeiro, RJ: Interamericana, 1983. 350 p. 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Rio de Janeiro, RJ: Revinter, 2005. 576 p. 69 APÊNDICE A – Termo de consentimento Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ANÁLISE DO CONSUMO DE OXIGÊNIO E DA LACTATEMIA DURANTE O TESTE DE ESFORÇO E NO COMBATE SIMULADO O Sr fará um teste de exercício em esteira que serve para estudar a variação do consumo de oxigênio, para isso o Sr deverá chegar ao laboratório com uma hora de antecedência para as instruções do teste. Os testes iniciarão com esforço leve e, progressivamente, o exercício se tornará mais intenso. O teste só serve quando há um esforço máximo, ou seja, o Sr só deverá parar de correr quando não houver mais fôlego, força nas pernas ou se houver dor no peito. O Sr tem toda liberdade de interromper o teste a qualquer momento. Existe a possibilidade de certas alterações durante o teste: de pressão arterial, dos batimentos cardíacos, dores no peito e, muito raramente, arritmias e ataques cardíacos. Para tanto, o Sr será constantemente monitorado por eletrocardiograma e acompanhado por um médico. Dentro de nosso laboratório, há equipamento e pessoal treinado para todas as situações anormais que possam ocorrer. As informações obtidas no teste servirão para o estudo da variação do consumo de oxigênio e da lactatemia em teste de esforço cardiorrespiratório, o que auxiliará técnicos e atletas no entendimento da variação do VO2 e lactato. Fico aqui afirmado que o Senhor não receberá quaisquer benefícios financeiros, autorizando a realização do teste e a sua publicação. Eu, ....................................................................... fui informado dos objetivos da pesquisa de maneira clara e detalhada. O professor Jonas Gurgel certificou-me de que todos os dados desta pesquisa referentes a mim serão confidenciais e terei liberdade de retirar meu consentimento de participação na pesquisa, face a estas informações. ______________________ Asssinatura do atleta ____________________ Identidade n° _______________________ ______________________ Assinatura do médico Assinatura de testemunha Porto Alegre,______de_________________de 2006 70 ANEXO A – Protocolo de Bruce Protocolo de Bruce Tempo do teste em minutos Inclinação (%) Velocidade (mph) 1 10 1,7 2 10 1,7 3 10 1,7 4 12 2,5 5 12 2,5 6 12 2,5 7 14 3,4 8 14 3,4 9 14 3,4 10 16 4,2 11 16 4,2 12 16 4,2 13 18 5,0 14 18 5,0 15 18 5,0 16 20 5,5 17 20 5,5 18 20 5,5 19 22 6,0 20 22 6,0