A construção da Ciência e Cultura por meio da internet Pesquisa e análise dos referenciais teóricos utilizados na internet em blogs, sites e jornais on line: a distância entre o espaço acadêmico e o senso comum Projeto apresentado para a constituição da linha de pesquisa História, Filosofia, Psicologia, Jornalismo e Biologia no programa de Iniciação Científica – PIC – do Centro Universitário Barão de Mauá, em junho de 2014. Pesquisadores responsáveis pela elaboração do projeto Prof. Dr. Carlo Guimarães Monti Prof. Dr. Daniel Fonseca de Andrade Prof. Dra. Gabriella Zauith Leite Lopes Prof. Me. Rodrigo de Andrade Calsani Prof. Me. Ricardo Alexandre Coimbra de Mendonça RIBEIRÃO PRETO/SP JUNHO 2014 Curso História Biologia Jornalismo Filosofia Psicologia INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O estudo sobre divulgação da ciência é de extrema importância para a sociedade atual, pois trata de uma área do saber da qual dependemos para promoção de pesquisas relacionadas a saúde e cura de doenças, discussões sobre temas em destaque na sociedade, tecnologias para o nosso cotidiano, progressos na computação e informática e nos meios de comunicação. A presente proposta de pesquisa visa identificar como a ciência e a cultura são apropriadas pelo público leigo e pela prática jornalística. A coleta de dados acontecerá em duas etapas. Na primeira serão coletadas informações em jornais, blogs e sites na web e na segunda será identificado o quadro conceitual, relacionada a sua área de conhecimento. O objetivo é verificar as temáticas relacionadas à ciência e cultura, bem como análise posterior de seus conceitos e paradigmas nas áreas do conhecimento indicadas pelo presente projeto: história, biologia, jornalismo, filosofia e psicologia. Robert Merton (1985) e Thomas Kuhn (2000) explicam ciência como prática que se define e se processa a partir de um conjunto de crenças, princípios e normas compartilhados por uma determinada coletividade. Jornalistas, cientistas e divulgadores científicos cumprem o papel de socializar o conhecimento científico por intermédio da imprensa, das escolas, de programas de rádio e televisão, e da internet principalmente. O avanço das tecnologias propiciou uma nova forma de construção e divulgação do conhecimento. O tempo da notícia passa a ser imediato, de alcance global, diferente do tempo da ciência atrelado às pesquisas, publicações e resultados. Outra característica é a possibilidade de autoria com a criação de blogs sobre os mais variados temas, entre eles temas de ciência, como parte da cultura de conhecimento. O interesse do conhecimento científico pela população já foi medido por meio de pesquisas. Os indicadores de percepção pública da ciência permitem verificar como a sociedade se relaciona com as descobertas científicas e os avanços tecnológicos. Os meios de comunicação de massa, ou a grande imprensa são um dos maiores responsáveis pela difusão de conceitos científicos e tecnológicos na sociedade (FUJIYOSHI e COSTA, 2005). Quanto a difusão científica, Pasquali (1978) preocupa-se em fazer a distinção: difusão é o envio de mensagens elaboradas em códigos ou linguagens universalmente compreensíveis para a totalidade das pessoas. O termo engloba a disseminação e divulgação científica e jornalismo científico. Já para Epstein (2002), a transmissão do conhecimento científico é também conhecida por um processo com produtores (da informação científica), divulgadores e o público, a partir da comunicação primária e secundária. Os produtores são os pesquisadores, cientistas e suas comunidades, as quais possuem regras e códigos próprios. A comunicação primária é aquela que se dirige aos colegas da mesma especialidade, com conceitos e linguagens específicas. E a comunicação secundária ou popularização do conhecimento científico pode ser efetuada através do divulgador, mediador entre o cientista e o público, como pelo próprio cientista, o qual assume o papel de divulgador. Marques de Melo (2006) faz uma crítica ao jornalismo científico praticado, como “limitado, moldado e conduzido por diretrizes ideológicas”, o qual cita algumas características funcionais: 1) mitologia da ciência - em que atua em função do poder científico e coloca o cientista no “topo do Olimpo”; 2) neutralidade da ciência - a ciência aparece como se fora independente e autônoma, deixando de mostrar que as decisões para sua existência são políticas; 3) preconceito de ciência - a ciência vista como geradora de tecnologia para a reprodução do capital; aqui o jornalismo científico é entendido e praticado como divulgador de fatos ligados às ciências básicas (física, química e biologia), e aplicadas (engenharia, medicina e agronomia), deixando de lado as ciências humanas, como sociologia, antropologia, política e história. Dentre uma variabilidade de publicações na internet, os blogs podem ser identificados como meios de comunicação, utilizados para estabelecer “fluxos de informação sobre questões relativas à ciência”. Os blogs podem ser considerados uma ferramenta de publicação como espaços de criação de comunidades on-line e ambientes de construção cooperativa de novos saberes (CAREGNATO, SOUZA, 2010, p.57). Da mesma forma Mangini (2013) considera que a internet se tornou um canal de atuação profissional para jornalistas que escrevem sobre ciência e demais temas de interesse do público. Blogs e sites especializados têm a vantagem de recuperar um espaço editorial perdido na mídia impressa ou na TV – fenômeno comum a vários países – e de ampliar as oportunidades de emprego, além de possibilitar aporte financeiro sem comprometer a independência editorial ou o bom jornalismo (MANGINI, 2013). De acordo com notícia divulgada pela Fapesp, o jornalismo científico atualmente passa por uma crise, favorecendo a criação de blogs científicos. “A fim de suplantar a perda de espaço editorial dedicado à ciência, especialmente na mídia impressa, e aumentar a divulgação de resultados de pesquisas realizadas por cientistas brasileiros, tem aumentado o número de blogs de ciência no Brasil” (ALISSON, 2014). A pesquisadora ressaltou, no entanto, que, apesar da importância dos blogs científicos para aumentar a difusão da comunicação de ciência, eles não devem substituir a cobertura jornalística de ciência pelas mídias tradicionais, como jornal, rádio e televisão. JUSTIFICATIVA Com a globalização e a interação entre as sociedades, a internet passou a ser um dos meios de comunicação de maior acesso, na qual existe uma latente democratização da informação e a popularização da ciência. Com a internet, as fontes e as leituras são diversificadas, com vários temas, proporcionando ao navegador – e leitor – múltiplas possibilidades de acesso na busca de informação e conhecimento. Por isso, se faz necessário uma pesquisa quantitativa e qualitativa na internet por meio de blogs, sites, entre outros, com a intenção de perceber as possibilidades viáveis na construção da ciência e da cultura no meio acadêmico, tendo em vista que a internet gera uma democratização do conhecimento e popularização da ciência. PROBLEMÁTICA O vasto conhecimento disponível na internet faz com que ela se torne uma fonte de pesquisa realizada indiscriminadamente por grande parte dos alunos. Conceitos e conhecimentos acabam sendo empregados de forma acrítica pelos alunos, de forma a prejudicar seu rendimento e o desenvolvimento do seu senso crítico. Será proposta uma análise comparativa, no sentido de verificar se há adequações, distorções e deslocamentos no modo como esses conceitos (oriundos do campo da ciência) estão sendo apresentados nas fontes selecionadas para os usuários da internet. OBJETIVOS Essa pesquisa surge da confluência de cinco áreas do conhecimento (história, jornalismo científico, filosofia, psicologia e biologia). Sabemos que cada uma dessas áreas lida com objetos distintos e se serve de métodos específicos na construção do conhecimento. No entanto, todas elas estão ligadas (direta ou indiretamente) ao campo das práticas científicas. Além de se constituir como um corpo de procedimentos metódicos e de construções teóricas, a ciência desempenha um papel fundamental na cultura contemporânea. Em grande medida, é no discurso científico que a sociedade ocidental espera encontrar as respostas para inúmeras inquietações e perguntas que emergem da nossa condição histórica atual. Nesse sentido, a ciência desenvolvida nas universidades ou institutos de pesquisa tem efeitos múltiplos e notáveis sobre o nosso estilo de vida. O modo como o público leigo da sociedade brasileira tem se apropriado do arsenal conceitual da ciência, no entanto, ainda não foi inteiramente mapeado. E é no registro dessa apropriação que essa pesquisa se coloca. Mais especificamente, ela tem os objetivos de: 1) Mapear, em termos quantitativos, os temas/conceitos/problemas científicos abordados com mais frequência no universo da internet. Evidentemente, delimitaremos o horizonte dessa investigação, selecionando alguns blogs e/ou sites de jornais on-line, ligados a divulgação científica ou vivência de conceitos científicos e disciplinas científicas com postagens com mais de 6 meses. 1) Realizar a análise do material selecionado, objetivando encontrar possíveis ressonâncias entre os temas mais frequentes e as demandas sociais direcionadas a alguns ramos específicos (biologia, psicologia, antropologia) da ciência. 3) A partir dessa análise comparativa, investigar os possíveis usos ideológicos dos conceitos científicos nesse movimento de divulgação. METODOLOGIA E MATERIAL DE PESQUISA 1ª. Etapa Seleção de blogs e sites ligados a disciplinas científicas ou abastecidos por pessoas que tenham vivência de uma carreira científica. O aluno deverá selecionar um conjunto de blogs e sites segundo critérios pré-estabelecidos pelas áreas que compõe o projeto em questão. 2ª. Etapa Criação de categorias e temas, a partir de um mapeamento dos conteúdos abordados em um período de dois meses. 3ª. Etapa Identificação, busca e análise dos principais referenciais teóricos que sustentam os conceitos mais empregados nas postagens, de acordo com cada área do conhecimento. 4ª. Etapa Mapeamento e articulação entre o material coletado por cada área. O objetivo é verificar como a ciência está sendo representada na esfera do jornalismo e do senso comum nos sites e blogs selecionados. E assim verificar as demandas dirigidas as áreas investigadas no projeto. RESULTADOS ESPERADOS Identificar e verificar como um determinado repertório conceitual está sendo apropriado e legitimado pelo pela sociedade, por meio de publicações na internet em sites e blogs. Espera-se gerar uma visão critica sobre as publicações e identificar o tipo de conhecimento gerado e veiculado, fazendo com que o aluno possa compreender as diferenças entre a linguagem científica e sua apropriação pelo senso comum, e desta forma contribuir para sua formação e para sua continuidade na pesquisa acadêmica. CRONOGRAMA 2015 Etapas do projeto Revisão da literatura (teórica e temática) Levantamento das fontes e dados Leitura e análise das fontes Relatórios anuais parciais Relatório final 1. Semestre 2. Semestre 2016 1. Semestre 2. Semestre REFERÊNCIAS ALISSON, E. Crise no jornalismo estimula aumento de blogs científicos. Agência Fapesp. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/19138. Acesso em 2 mai 2014. ALVES, R. Filosofia da Ciência. Edições Loyola: São Paulo, 2003. CAREGNATO, Sônia Elisa; SOUSA, Rodrigo Silva Caxias de. Blogs científicos.br? In: Inf. Inf., Londrina, v. 15, n. esp, p. 56 - 75, 2010. CHALMERS, Alan F. O que é Ciência afinal. São Paulo: Brasiliense, 1997. 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