A EDUCAÇÃO E O EMPREGO PARA OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO:
UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS DOS JOVENS DE PARANAGUÁ-PR
Priscila Portz (Universidade Federal do Paraná- UFPR)
[email protected]
Adriano Ribeiro(Universidade Federal do Paraná- UFPR)
[email protected]
Mayra Taiza Sulzbach (Universidade Federal do Paraná- UFPR)
[email protected]
RESUMO
O presente artigo trata de uma aproximação teórica e empírica sobre as perspectivas de
futuro dos jovens do ensino médio de escolas públicas no município de Paranaguá-PR. Para
tanto, a metodologia aplicada, além de referencial teórico sobre os temas juventude,
educação e emprego, a pesquisa possui um mergulho empírico através do levantamento de
dados realizados com o público-alvo no Município, nas quais foi aplicado questionário com
1505 estudantes do segundo e do terceiro ano. Através dos dados obtidos no questionário,
pode-se afirmar que as expectativas dos jovens desse Município são consideradas
tradicionais, devido ao elevado número de estudantes que optam por cursos como
engenharia e medicina, mas deve ser avaliado com cuidado em decorrência que estes
cursos não são ofertados na Região e poucos jovens manifestaram interesse em mudar-se
do Litoral.
Palavras-chave: Educação, Emprego, Juventude, Paranaguá – PR.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é fruto de um trabalho coletivo, desenvolvido no interior das
atividades do Programa de Educação Tutorial (PET) Litoral Social do setor litoral da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), no projeto “Perspectivas de futuro de
jovens do ensino médio das escolas públicas dos municípios do Litoral do Paraná”,
de forma a compreender a baixa demanda do público residente nos cursos de
graduação do setor, objetivando identificar as perspectivas profissionais e de futuro
da população jovem local.
75
No entanto, de forma a garantir as especificidades de cada município, o
projeto foi dividido entre os integrantes do grupo PET, onde cada município e as
ilhas ganharam uma análise individualizada.
O presente artigo revela a análise dos resultados da pesquisa sobre as
perspectivas dos estudantes do ensino médio das escolas públicas no município de
Paranaguá – PR. Inicialmente apresenta-se a metodologia que orientou a pesquisa
exploratória sobre os jovens do Litoral, após os dados conjunturais do local
(Paranaguá) onde vive o público pesquisado, são apresentados. Posteriormente,
busca-se compreender como é esta fase da vida humana: onde a juventude é
compreendida, e como esta está relacionada, no campo bibliográfico, com a
educação e emprego. A análise dos dados quantitativos e qualitativos oriundos da
aplicação de questionários é apresentada, demonstrando os espaços profissionais
almejados pelos jovens, bem como a possibilidade de ingresso desses jovens nos
cursos ofertados pelo Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná.
METODOLOGIA
Além da pesquisa bibliográfica sobre os temas juventude, educação e
emprego, a pesquisa possui um mergulho empírico baseado em um questionário
semiestruturado com questões fechadas e abertas, totalizando dezoito questões. A
tabulação dos dados ocorreu no Programa Sphinx Léxica 20001.
A área de abrangência da pesquisa teve o universo de estudantes dos dois
últimos anos do ensino médio, nos três períodos (manhã, tarde e noite) em doze
colégios públicos estaduais do município de Paranaguá, durante os meses de
novembro e dezembro de 2013. Dos 1.505 estudantes pesquisados, 16,9% são do
colégio Alberto Gomes Veiga, 16,6% Caetano Munhoz da Rocha, 11,2% Helena
Viana Sundin, 9,4% Maria de L.R. Morozowski, 8,9% Carmen Costa Adriano, 8,4%
Arthur M. Ramos, 8,7% José Bonifácio, 5,6% Zilah dos Santos Batista, 3,3% Cidália
Rebello Gomes, 3,8% São Francisco, e com 2,7% os colégios Dídio A. de Viana e
Bento Munhoz da Rocha Neto.
1
O Sphinx Léxica 2000 é um software que permite ao usuário elaborar questionários e tabulá-los
(coleta de dados, tratamento e comunicação dos resultados), produzindo gráficos e tabelas.
76
CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ
Paranaguá, situado na região litorânea do Paraná, é referência para os
demais municípios em seu entorno, pela oferta de serviços essenciais, tais como: o
Hospital Regional, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Núcleo Regional
de Educação (NRE). Outra referência no município é o Porto de Dom Pedro II, um
dos maiores prestadores de serviço de comércio exterior de grãos da América Latina
e apoiador da economia do estado do Paraná.
De acordo com os Censos de 1991, 2000 e 2010, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de crescimento populacional de Paranaguá foi
de 56,11%. A população de Paranaguá na década de 1990 era composta por
87,42% na área urbana, sendo um total de 102.098 habitantes. No ano de 2000
houve um aumento na população do município de 12% em relação ao ano de 1991.
Em 2010, a população urbana de Paranaguá atingiu 96,41%. (Tabela 01)
TABELA 01 - POPULAÇÃO TOTAL DE PARANAGUÁ E PARTICIPAÇÃO RELATIVA POR
LOCAL DE RESIDÊNCIA URBANO/RURAL - 1991, 2000 e 2010
ANO
PARANAGUÁ
URBANA (%)
RURAL (%)
1991
102.098
87,42
12,58
2000
121.098
87,48
12,52
2010
140.450
96,41
3,59
Fonte: IBGE (2014)
No período entre 1991 a 2010 a População Economicamente Ativa (PEA) do
Município registrou aumentos gradativos: em 1991 o total PEA era aproximadamente
40% da população, em 2000 44% e em 2010 48% (tabela 02 e gráfico 01). Apesar
da população rural em 2000 ter se mantido constante em relação a 1991 a PEA
desta população já registrava queda significativa de participação, de 11,91% para
4,04%, mantendo-se em 2010. A participação das mulheres na PEA em Paranaguá
eleva-se em aproximadamente 10%. Estas informações sugerem que as alterações
77
no mercado de trabalho do Município se devem a redução da população
trabalhadora na área rural e a inserção das mulheres no mercado de trabalho.
TABELA 02 – TOTAL POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA NOS ANOS 1991,
2000 E 2010
VARIÁVEL
PEA –
Total
1991
40.475
2000
52.762
2010
66.849
Fonte: IBGE (2014).
PEA –
Urbana
(%)
88,08
95,96
96,17
PEA –
Rural
(%)
11,91
4,04
3,83
PEA –
Masculina
(%)
69,39
63,43
58,72
PEA –
Feminina
(%)
30,61
36,57
40,98
GRÁFICO 01 - POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA NOS ANOS DE 1991,
2000 E 2010
Fonte: IBGE (2014)
A população jovem de Paranaguá (tabela 03), público-alvo desta pesquisa,
apresenta taxa de crescimento médio anual de 9,79% no período de 1991 a 2010.
Apesar do crescimento anual a participação relativa em relação a outras faixas
etárias esta em queda; os jovens no ano de 1991 representavam 29,15% da
população do Município, em 2000 27,73% e em 2010 26,18%. A população jovem
quando distribuída por faixa etária apresenta um envelhecimento desta. A população
jovem na faixa etária entre 15 a 19 anos perde participação relativa ao longo dos
78
anos: 35% em 1991 e 27% em 2010. Os jovens na faixa etária entre 25 a 29 anos
passam de 30% para 33% no mesmo período. A distribuição da população por
gênero não apresenta participação relativa de um dos gêneros que mereça atenção.
TABELA 03 - POPULAÇÃO JOVEM DE PARANAGUÁ - PR.
1991
2000
2010
Faixa Etária
Total
Masc.
Fem.
Total
Masc.
Fem.
Total
Masc.
Fem.
De 15 a 19
10.435
49,52
50,48
12.085
50,50
49,50
13.029
50,33
49,67
% da faixa sobre total
35,15
17,40
17,75
36,06
18,21
17,85
35,48
17,86
17,62
De 20 a 24
9.985
49,28
50,72
11.092
49,78
50,22
11.753
49,65
50,35
% dos Jovens
33,63
16,57
17,06
33,09
16,47
16,62
32,01
15,89
16,12
De 25 a 29
9.271
49,23
50,77
10.340
50,00
50,00
11.934
49,15
50,85
% dos Jovens
31,22
15,37
15,85
30,85
15,43
15,42
32,51
15,98
16,53
Total de jovens
29.760
49,34
50,66
33.586
50,09
49,91
36.773
49,71
50,29
Total Pop
% jovens/pop
102.098 50.701 51.397 121.098 60.318 60.780 140.450 69.306 71.144
29,08
14,35
14,73
27,68
13,86
16,38
26,14
13,00
13,14
Fonte: IBGE (2014)
Dados selecionados pelo autor.
Segundo dados da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em um total
de 6.833 matriculados nos três anos do ensino médio no Município em 2012,
participaram da pesquisa 1.505 estudantes dos dois últimos anos, onde 52,59% do
sexo feminino e 46,82% masculino, 0,42% se identificaram como outro e 0,17% não
responderam. 53,27% frequentavam o segundo ano, 45,62% o terceiro ano e 1,11%
não responderam a questão. Foram identificados estudantes de 14 anos a mais 24
anos, em maior número com faixa etária de 16 a 18 anos, 14,70% estavam com 18
anos de idade, 37,04% 17 anos de idade e 31,18% 16 anos.
A relação dos jovens na faixa etária entre 15 a 17 anos com o ensino
fundamental completo em 1991 era de 23,04%, em 2000 52,89% e em 2010
79
69,20%. Na faixa etária de 18 a 20 anos, com ensino médio completo em 1991 eram
11,24%, 2000 26,26% e em 2010 41,86%. (SEED, 2014)
Na tentativa de explicar a desistência dos jovens na formação de ensino
básico e médio recorreu-se a observá-los nas atividades produtivas, onde a taxa de
ocupação dos jovens em Paranaguá, no ano de 2000 foi de 62,45% já em 2010,
67,82%. O grau de formalização passou, respectivamente, de 60,80% para 67,86%
no mesmo período. Em 2010, das pessoas ocupadas com mais de 18 anos, apenas
3,11% trabalhavam no setor agropecuário, 0,49% na indústria extrativa, 8,62% na
indústria de transformação, 6,77% no setor de construção, 0,90% nos setores de
utilidade pública, 18,73% no comércio e 54,36% no setor de serviços.
No entanto, as perspectivas de emprego e renda no município de Paranaguá
são limitadas, pois as atividades portuárias, nas últimas décadas, estiveram em
processo crescente de tecnicização e, consequentemente, a demanda relativa de
mão de obra tornou-se cada vez menor e cada vez mais especializada.
Segundo dados do retirados do Caderno Estatístico Municipal do Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2014), o Produto
Interno Bruto (PIB) per capita e as receitas municipais totais de Paranaguá se
mantiveram aproximados desde 2006, tendo média de 47.425,00. Apesar da baixa
deste indicativo em 2009 de 23,95%, no ano seguinte ele superou 24,36% e em
2011 acresceu mais 18,59%.
Segundo o IPARDES (2014), no ano de 2010 o município de Paranaguá
possuía 60.828 pessoas ocupadas, principalmente: no Comércio, reparação de
veículos automotores e motocicletas com 12.362 ocupados, nos Transportes,
armazenagem e correio com 8.412; na Indústria de transformação com 5.166, na
Construção com 4.177, na Educação com 3.535, nos Serviços de Alojamento e
alimentação com 3.309, nos Serviços domésticos com 3.218 pessoas ocupadas.
Já quando se observa o número de empregos formais no Município estes são
pouco acima da metade, em 2011 33.578 empregos. Estes empregos estavam
relacionados a 2.760 empresas registradas. Esta diferença de número de pessoas
ocupadas e o número de empresa e emprego acabam impactado na sociedade de
forma distinta. Economicamente as pessoas empregadas possuem garantias
previdenciárias, salários, descanso e férias remuneradas, ou seja, são para o local o
fluxo de renda garantida. As ocupações apesar de poderem ser de longo prazo não
80
expressam garantias de fluxo monetário no local. Igualmente nas ocupações, até
mesmo por elas incluírem as vinculações formais, o maior número de vinculação do
trabalho formal ocorre: no Comércio varejista, com 6.966 empregadas em 1.055
estabelecimentos, no Setor de transporte e comunicação, com 6.668 em 355
estabelecimentos, nos Serviços de alojamento, alimentação, reparos, manutenção,
radiodifusão e televisores com 4.715 empregados em 466 estabelecimentos, na
Administração
pública
direta
e
indireta
com
4.681
empregados
em
8
estabelecimentos, na Indústria química, produção farmacêutica, veterinária,
perfumaria, sabões, velas e materiais plásticos com 2.612 empregados em 28
estabelecimentos, na Administração de imóveis, valores mobiliários, serviços
técnicos profissionalizantes, auxiliar de atividades econômicas com 2.160 empregos
em 316 estabelecimentos, na Construção civil com 966 empregados em 97
estabelecimentos e, no Comércio atacadista com 783 empregados em 91
estabelecimentos.
REVISÃO DE LITERATURA
A JUVENTUDE NA ATUALIDADE
De acordo com a Lei nº 12.852, de 05 de agosto de 2013, que institui o
Estatuto da Juventude, jovem é uma pessoa com idade entre 15 e 29 anos, sendo
os jovens de 15 a 18 anos também considerados adolescentes, de acordo com a Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA).
A juventude é uma fase onde o indivíduo está se descobrindo, conhecendo
por si sua identidade, traçando gostos e uma personalidade. Conceituar a juventude
na atualidade é um desafio enfrentado por diversos escritores, visto que o jovem não
é mais uma criança e nem é ainda um adulto. Sposito (2005) baseada em Galland
(1996)2 e Singly (2000)3, diz que:
22
GALLAND, Olivier, “L´entrée dans la vie adulte en France”, Sociologie et sociétés, vol. 28, núm. 1,
1996.
81
A juventude é vivida como um processo definido a de uma inegável
singularidade: é a fase de vida em que se inicia a busca dessa
autonomia, marcada tanto pela construção de elementos da
identidade – pessoal e coletiva – como por uma atitude de
experimentação. (SPOSITO, 2005, p. 3)
Definir jovem isoladamente então se torna um desafio, visto que este é único
em seu modo de ser. Conforme Pais (19934, apud RAITZ e PETTERS, 2008),
existem diferentes juventudes e diferentes olhares, diferentes teorias que explicam a
juventude, de acordo com suas abordagens. É mergulhando nessa perspectiva de
incompletude que a corrente geracional concebe a fase da juventude, o jovem, um
sujeito incompleto, que depende do futuro, ou melhor, de seu ingresso na vida adulta
para ser reconhecido socialmente.
De acordo com Carrano (20005, apud RAITZ e PETTERS, 2008), a juventude
deve ser compreendida como uma complexidade variável: os jovens são diferentes
porque diferentes são seus modos de viver, diferentes são seus espaços e tempos
sociais, diferentes são suas identidades.
Raitz e Petters (2008, p. 410), ressaltam que ainda que “a juventude deve ser
compreendida como uma complexidade variável: os jovens são diferentes porque
diferentes são seus modos de viver, diferentes são seus espaços e tempos sociais,
diferentes são suas identidades.” O espaço e tempo contemplam as possibilidades a
ele ofertadas e as responsabilidades a ele delegadas entre outros.
Saviani (2007) salienta o drama vivenciado pelos jovens após terminar a
formação da educação básica, diante das novas oportunidades proporcionadas
pelas políticas educacionais brasileiras, o sistema produtivo e as exigências
estabelecidas pela própria sociedade.
Cada pessoa possui um ritmo e tempo próprio, por esse motivo nem todos
optam pelas mesmas coisas ao mesmo tempo ou no momento que esperam que ele
o faça. Raitz e Petters (2008, p. 408) lembram que “os jovens se deparam com
grandes impasses ao buscarem seu direito de trabalhar, de estudar, de realizar seus
3
SINGLY, François de, Sociologie de la famille contemporaine, Nathan, París, 1993.
______, “Penser autrement la jeunesse”, Lien social et politiques – RIAC, 43, 2000, pp. 921.
4
Pais, J. M. (1993). Culturas juvenis. Porto: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
5
Carrano, P. C. R. (2000). Juventude: as identidades são múltiplas. Juventude, Educação e
Sociedade, n.º 1, 52-72.
82
sonhos e projetos de vida”, assim como acreditam que a fase da juventude é
incompleta e que apenas o ingresso à fase adulta pode fazê-lo ser compreendido na
sociedade (idem, p. 410).
A EDUCAÇÃO E O TRABALHO PARA O JOVEM
Qual o papel da educação escolar na sociedade atual? Bem, não é uma
tarefa fácil responder a esta questão, visto que muitas vezes a própria escola
desconhece o seu papel. Nas palavras de Dermeval Saviani, em seu artigo “O
trabalho como princípio educativo frente as novas tecnologias” (1994, p. 8) “Parece
que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, de instruir.” Saviani (idem, p.1)
esclarece que a educação confundida com escola tem relação direta com o nãotrabalho. Salienta ainda que a educação potencializa o trabalho, na perspectiva de
que a educação é funcional para o sistema capitalista.
A tendência dominante é a de situar a educação no âmbito do não
trabalho. Daí o caráter improdutivo da educação, isto é, o seu
entendimento como um bem de consumo, objeto de fruição.
Essa situação tendeu a se alterar a partir da década de 60 com o
surgimento da "teoria do capital
humano",
passando
a
educação a ser entendida como algo não meramente
ornamental mas decisivo para o desenvolvimento econômico,
pois é funcional
ao
sistema
capitalista,
não
apenas
ideologicamente,
mas
também
economicamente, enquanto
qualificadora da mão de obra (força de trabalho).[...] Assim é que,
desde suas origens, a escola foi posta do lado do
trabalho
intelectual, constituindo-se num instrumento para a
preparação dos futuros dirigentes que se exercitavam não apenas
nas funções da guerra (liderança militar), mas também nas funções
de mando (liderança política), através do domínio da arte da
palavra e do conhecimento dos fenômenos naturais e das
regras de convivência social. (SAVIANI, 1994. p.10)
Segundo SILVA e PUZIOL (2013), foi através da Teoria do Capital Humano
e da Teoria do Capital Social aplicados nas políticas educacionais que se
materializaram no sistema educacional brasileiro por meio das ações do Estado,
dos programas e projetos educacionais, leis e documentos oficiais.
A teoria do Capital Humano e a Teoria do Capital Social,
principal foco de estudo, se encaixam perfeitamente no contexto
83
neoliberal em que estão inseridas as políticas educacionais, nas
quais se tem a priorização do ensino voltado e organizado para
o trabalho, ou seja, para a produção e formação de trabalhadores
e/ou de novas medidas transplantadas no trabalho produtivo da
sociedade capitalista. (SILVA e PUZIOL, 2013, p.02)
Pereira (2011, p.5) ressalta que o papel da educação é formar para o ofício e
preparar os jovens para trabalhos diferentes à medida que evoluem as formas de
produção.
Souza (2012, p. 87), baseada em Tanguy (1986)6 e Segnini (2000)7 destaca
que se com estudo não há garantia de trabalho, sem ele o exercício profissional
pode ser de forma precária: “o diploma não garante nem inserção profissional, nem
segurança no trabalho” ao mesmo tempo em que “a saída da escola se traduz por
desemprego, estágios, empregos precários, entre outras”.
Segundo o estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2009) 70% dos jovens na faixa etária entre 16
a 24 anos que trabalhavam no setor do comércio e estavam longe das escolas, 60%
deles tinham o ensino médio completo ou o superior incompleto, 25% tinham o
ensino fundamental completo ou médio incompleto, 15% não possuía nenhuma
escolaridade ou possuía o superior completo.
O tema do jovem comerciário ultrapassa o mundo do trabalho, pelo
fato de ser neste período da vida que o indivíduo completa sua
formação, intelectual, moral, física etc. Assim, há que se pensar
numa agenda que dê conta das necessidades de estudo, de acesso
à cultura, de participação política, além das condições de trabalho
(desenvolvimento físico) e de emprego (salário, tipo de vínculo etc.).
(DIEESE, 2009, p 7)
Conciliar trabalho e estudo é um desafio para o jovem comerciário, mas não é
um problema que diz respeito apenas a ele, mas sim a toda sociedade e ao Estado.
É nessa fase que os jovens perdem, assim, muitas vezes, a ideia de que são
responsáveis pela sua própria história, faltam-lhes perspectivas para o futuro.
6
TANGUY, L. L´introuvable relation formation/emploi: un etat de recherches en France.
Paris: La Documentation Francaise, 1986.
7
SEGNINI, L. Educacao e trabalho: uma relacao tao necessaria quanto insufi ciente.
Sao Paulo em Perspectiva, Sao Paulo, v. 14, n. 2, p. 72-81, abr./jun. 2000.
84
ANÁLISE DE DADOS
Dos jovens entrevistados 17,10% não pertencem aos municípios do Litoral:
2,7% nasceram em Morretes, 5,15% em Guaraqueçaba, 2,75% em Antonina, 1,37%
em Matinhos e Guaratuba.
GRÁFICO 02 - CIDADES DE ORIGEM DOS JOVENS
Fonte: Autor (2014)
Em relação ao tempo de residência em Paranaguá dos não nascidos, mais de
95% declaram residir no local, tempo superior ao inicio do ensino médio, ou seja,
mais de três anos.
Esses jovens em sua maioria residiam com pai e mãe, 56,8%, com a mãe
10%, com mãe e irmãos 7,5%, com mãe e padrasto 4,2%, com o marido ou esposa
3,6%, com o pai 3,5%, com avôs 4,6%, os demais com outros graus de parentesco.
Quanto à escolaridade dos pais 3,65% declararam que estes possuía o
ensino fundamental I incompleto, 3,91% o fundamental I completo, 12,40% o
fundamental II incompleto, 10,28% o fundamental II completo, 9,17% o ensino médio
incompleto, 28,46% o médio completo, 1,44% o ensino superior incompleto, 6,97% o
superior completo, 0,59% pós-graduação e 8,07% desconheciam a escolaridade dos
pais. Como parte significativa dos jovens residem com os pais, os elementos destes
espaços de socialização tornam-se importante para relaciona-los com as
perspectivas de educação dos jovens.
Os estudantes reconhecem tanto o nível de escolaridade dos pais quanto a
profissão deles. A profissão do pai foi destacada como de maior recorrência as
85
atividades de: caminhoneiro ou motorista 7,6%, portuário ou estivador 5,4%,
construção civil 5,1%, autônomos 4,6%, aposentados 4,2%, operador de máquina
3,1%, vigilante/segurança 2,4% e vendedor/ representante de vendas 1,5%. Já a
profissão da mãe destacaram-se as atividades de: dona de casa, 24,6%, autonomia
5,1%, professora 4,6%, empregada doméstica 4,3%, cozinheira 3,7%, vendedora
3,1%, empresária 2,3%, funcionária pública e comerciante 2,0% cada.
Apesar de apenas 3,6% dos estudantes já constituírem sua própria família
como chefes mais de 9% necessitavam da renda obtida pelo trabalho para sua
manutenção e mais de 30% dos estudantes trabalhavam: 15,1% com carteira
registrada, 11,1% sem registro, 8,2% eram estagiários.
A profissão exercida foi identificada para apenas 3,74% do total dos
entrevistados. Entre as profissões exercidas pelos jovens estão: dona de casa
professora, doméstica, diarista e balconista pelas mulheres e construção civil e
enfermeiro homens.
Apesar de não trabalharem 33,22% dos jovens afirmavam saber desenvolver
alguma atividade produtiva, entre elas: informática 7,0%, auxiliar administrativo
6,0%, estagiário e vendedor 2,7%, eletrônica 2,0%, secretária 1,6%, técnico em
mecânica de automóveis 1,3% e caixa 0,9%.
Por se tratar de uma parcela da população que além de jovem podem ser
adolescente, a qual o exercício de atividade laboral somente pode ser exercido em
nível de aprendiz e a educação estarem condicionada ao recebimento de
transferência de renda para as famílias de baixa renda, os alunos foram
questionados se faziam parte de um de programas deste cunho, 16,99% afirmaram
pertencer a famílias beneficiárias.
Entre as profissões de maior interesse, almejadas pelas estudantes,
destacam-se as Administração 23,0%, Advocacia 27,7%, Arquiteto 8,5%, Biologia
11,8%, Ciências Contábeis 5,3%, Engenheiro, 9,9%, Enfermagem 12, 2%,
Fisioterapia 11,4%, Medicina 25,3%, Medicina Veterinária 15,3%, Militar 7,0%,
Odontologia 7,2%, Professor 21,0% e Psicologia 14,8%. Já as profissões de maior
interesse do público masculino, destacam-se as: Administração 23,7%, Advogado
19,0%, Arquiteto 6,1%, Biólogo 4,6%, Bombeiro 6,3%, Engenheiro 21,1%, Médico
14,6%, Militar 13,4%, Policial 5,6% e Professor 11,7%. Dos cursos ofertados no
Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná, foram citados pelos pesquisados:
86
Gestão
Pública
0,2%,
Artes
0,4%,
Serviço
Social
0,6%,
Gestão
e
Empreendedorismo 0,7%, Gestão Ambiental 1,5% e Turismo 2,0%.
Nem todos os jovens após terminar o ensino médio pretendem ingressar no
ensino superior: os jovens que desejam trabalhar 67,5%, 68% desejam continuar
estudando, 16,9% pretendem mudar de cidade, 9,1% almejam constituir família e
7,2% planejam continuar no Litoral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas possibilidades estão presentes nas análises e no tratamento dos dados em
relação aos caminhos que os jovens pretendem seguir após concluírem o ensino
médio. Havia um número elevado de estudantes que optavam por cursos mais
tradicionais como engenharia e medicina, no entanto isto deve ser avaliado com
cuidado em decorrência que estes cursos não são ofertados na Região e poucos
jovens manifestaram interesse em mudar-se da Região.
Em contrapartida, onze dos cursos de ensino superior, são ofertados nas IES
do litoral: Professor, Direito, Administração, Engenharia Ambiental, Biologia,
Oceanografia, Serviço Social, Gestão Pública, Gestão e empreendedorismo,
Turismo e Artes.
De acordo com a literatura específica sobre a educação e o trabalho observase que a educação superior não garante um melhor posicionamento no mundo do
trabalho, mas a não realização deste pode promover ocupações precárias, neste
sentido salienta-se que as ocupações precárias já existem em grande número no
município de Paranaguá, especialmente pela parcela de jovens que não realizaram
nem o ensino médio. A entrada ainda jovem no mundo de trabalho sem a ampliação
ou profissionalização tende a elevar a oferta e a precariedade nas ocupações dos
jovens no Município.
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REFERÊNCIAS
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a educacao e o emprego para os estudantes do ensino medio